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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA RENASCIMENTO ITALIANO Arquitetura TRATADOS A partir do século XV, o conhecimento arquitetônico passou a ser difundido através da publicação de livros que se espalharam por toda a Europa. Vários arquitetos começaram a escrever e publicar desenhos de suas obras em livros e tratados. Em sua maioria inspirados pelo Tratado de Vitruvio. Um dos textos mais famosos foi escrito por Leon Battista Alberti, De Re Aedificatoria, primeiro livro impresso sobre arquitetura, em 1485. Giorgio Vasari também foi um importante autor desse período, considerado o primeiro historiador da arte, escreveu a biografia de vários artistas de sua época, muitos dos quais com quem conviveu. Tratado de Vitruvio O manuscrito Architettura foi encontrado, em 1415, no convento de Saint Gall, e se tornou muito conhecido por sua publicação por Fra Giocondo (1511) e Cesarino (1521), o qual acrescentou comentários e desenhos ao texto original. Ambos foram alunos de Bramante. A descoberta dos textos de Vitruvio desvendou os sistemas das proporções da Antiguidade, seu estilo e ordens. Leon Battista Alberti (1404 - 1472) Considerado o maior arquiteto do Quattrocento. Escreveu uma série de tratados sobre pintura, escultura e arquitetura. Seus textos foram os primeiros a sistematizar teoricamente a nova experiência artística. A partir daí, vários artistas escreveram livros sobre seus trabalhos. Da Re Aedificatoria (1485): Coleção de dez livros inspirados em Vitruvio. Divulgou o estilo renascentista florentino no norte da Itália. Alberti era um aristocrata e erudito. Representava um novo tipo de arquiteto, o arquiteto-diletante, enquanto Brunelleschi e Michelangelo eram escultores-arquitetos e Giotto e Leonardo eram pintores-arquitetos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA Antes da Renascença, um aristocrata não se interessaria por arquitetura. Esse quadro muda a partir do momento em que a arquitetura passou a ser considerada uma filosofia regida pela matemática e pela arqueologia. Filippo Brunelleschi (1377 - 1446) Propôs um novo método de trabalho na arquitetura: - Separação das duas fases do trabalho: projeto e execução. O arquiteto deve definir, através de desenhos e modelos, a forma exata a ser construída, as decisões devem ser tomadas antes do início da construção. O arquiteto é responsável pelo projeto, se diferenciando dos operários que o executam. - Consideração dos caracteres que contribuem com a forma da obra na seguinte ordem: caracteres proporcionais (relação de escala e proporção dos elementos), métricos (medidas) e físicos (materiais e suas qualidades). - Elementos constituintes de um edifício devem possuir uma forma típica correspondente à Antiguidade Clássica, aos modelos romanos. Assim, a arquitetura muda seu significado, segundo Benevolo (2003: 403), “adquire um rigor intelectual e uma dignidade cultural que a distinguem do trabalho mecânico, e a tornam semelhante às artes liberais: a ciência e a literatura”. A primeira grande obra da arquitetura renascentista e a mais importante de Brunelleschi é o Duomo da Catedral de Florença (Santa Maria del Fiore), projetada para o concurso de 1418 e iniciada em 1423. Para construí-la, Brunelleschi criou todo um sistema construtivo capaz de realizar seu projeto. A grande cúpula finaliza o prédio iniciado no século XIII e se tornou um elemento de destaque dentro da estrutura hierárquica do espaço na cidade de Florença. Giorgio Vasari (apud BAETA, 2012: 57) escreveu, no século XVI, sobre a cúpula: E pode-se dizer, ao certo, que os antigos não chegaram nunca tão longe com as suas obras, nunca se colocaram à frente de um risco tão grande como se quisessem combater o céu, como na realidade a cúpula de Brunelleschi combate: vê-se ela se elevar a tamanha altura, que os montes em torno de Florença parecem similares a ela. E, na verdade, parece que o céu tem inveja da cúpula, que ele UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA sempre fica atormentado com a sua repercussão, parecendo ter a sua fama quase vencido a nobreza do ar. Brunelleschi foi autor de outras obras na cidade de Florença, mais modestas, mas ainda assim, importantes modelos para a arquitetura Renascentista e posteriores. Como o primeiro edifício com formas renascentistas: o Ospedale degli Innocenti, em Florença, construído entre 1421 e 1445. E as igrejas S. Lorenzo e S. Spirito, a capela Pazzi em Santa Croce, o palácio do partido Guelfo, a capela Barbadori em S. Felicitá, a capela Ridolfi em S. Jacopo Soprarno. A fachada do Palazzo Pitti também é atribuída à Brunelleschi. Outra grande contribuição atribuída a Brunelleschi é a perspectiva matemática. ARQUITETURA RELIGIOSA Na Idade Média, a função principal da igreja era guiar o devoto até o altar. Nas igrejas de planta central da Renascença isso não é possível. O efeito da construção só pode ser observado de um determinado ponto, ali o espectador se torna “a medida de todas as coisas”. Dessa forma, o significado religioso da igreja é substituído por um significado humano. O homem dentro da igreja desfruta de sua beleza e da sensação de ser o centro dessa beleza, ele não procura por um motivo transcendental. Esse é o símbolo mais eloquente da nova atitude dos humanistas e seus patronos com relação ao homem e à religião. No Renascimento, não se desejava que a construção de uma igreja lembrasse o amanhã incerto, depois que a vida terminasse. A arquitetura deveria eternizar o presente. Assim, as igrejas e templos eram encomendados em glória do mecenas, que eternizava seu nome gravando-o na construção. A primeira igreja da Renascença com planta completamente central é a Santa Maria degli Angeli, projetada por Brunelleschi, a construção não foi terminada. Após três anos de construção, em 1437, as obras foram interrompidas. É uma edificação maciça, sólida, características da arquitetura romana, podendo ser resultado de uma longa estada de Brunelleschi em Roma, por volta de 1433. A planta redonda é circundada por oito capelas localizadas em nichos nas grossas paredes. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA ARQUITETURA CIVIL Mudança de comportamento no Renascimento, o homem passa a ter importância central nas obras artísticas, postura evidenciada pela assinatura das obras, valorização da escala humana e da construção de igrejas e templos em favor a nobres renascentistas que ali gravam seus nomes. A partir da Renascença, a arquitetura secular tornou-se tão importante quanto a arquitetura religiosa. No século XVIII, as arquiteturas residenciais e públicas superaram as igrejas. Essa postura levou os aristocratas de Florença e os cardeais de Roma a construírem seus palazzi. O primeiro deles foi o Palazzo dos Medici, iniciado por Michelozzo, em 1444. Segundo alguns autores, os Medici foram os primeiros a separarem a residência do local de trabalho. Esses palácios toscanos do Quattrocento são maciços, porém bem proporcionados e revestidos com blocos pesadamente rusticados e coroados por cornijas bastante salientes. Suas janelas simetricamente dispostas são divididas em dois por graciosas colunas (novamente um motivo românico). Aquilo que se espera da Renascença, em termos de delicadeza e articulação,pode ser visto principalmente nos pátios internos. Ali o andar térreo abre-se na forma de claustro através de graciosas arcadas (...); e os andares superiores também são animados por uma galeria aberta de pilastras que dividem as paredes em compartimentos ou algo assim. (PEVSNER, 2002: 192) O palazzo renascentista mais famoso é o Palazzo Pitti, em Florença. Não se sabe ao certo quem o projetou, alguns afirmam ser Brunelleschi, em 1446, outros que foi Alberti, em 1458. O palazzo foi ampliado um século mais tarde. Ele foi construído para o banqueiro Luca Pitti, o edifício ilustra bem a determinação de Pitti em superar a família Medici na ostentação de riqueza e poder. Os custos desse empreendimento levaram os herdeiros de Pitti à falência e o palazzo foi comprado pelos Medici, tornando-se a residência principal da família, por volta de 1550. A chamada Cancelleria (1486 – 1498), residência do Cardeal Riario, sobrinho de Sisto IV, é o primeiro edifício renascentista romano cuja importância não se limitava a UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA cidade. Quando ele foi terminado, Roma assumiu a liderança na arquitetura e nas artes, até então nas mãos de Florença. Dá-se então o início da Alta Renascença. O Palazzo Farnese, em Roma, foi projetado inicialmente, em 1517, e reprojetado em escala maior, em 1534, por Antonio da Sangallo. Alguns autores o consideram o mais monumental dos palácios renascentistas romanos, apesar de apresentar ampliações no estilo maneirista. Foi encomendado a Antonio da Sangallo por Alessandro Farnese, após ser nomeado cardeal pelo Papa Alexandre VI. As obras foram interrompidas durante o saque de Roma, em 1527. Em 1534, o cardeal Farnese foi eleito Papa Paulo III. Com a morte de Sangallo, em 1546, Michelangelo foi chamado para finalizar suas obras, entre elas, o Palazzo Farnese, no qual empregou seu estilo nos andares superiores, já tendendo para o Maneirismo. A piazza em frente ao palazzo foi projetada para servir de átrio à edificação. ARQUITETOS Os três maiores arquitetos do Renascimento foram: Donato Bramante (1444-1514) Rafael Sanzio (1483-1520) Michelangelo Buonarroti (1475-1564) Há uma mudança de escala na passagem da Baixa para a Alta Renascença. Os objetivos continuam a ser harmonia e equilíbrio, somados a solenidade e grandiosidade. Bramante, nascido em Urbino, começou como pintor. Viveu e trabalhou em Milão por muitos anos, onde foi influenciado por Leonardo da Vinci que ali vivia desde 1482. Em Milão, realizou sua primeira construção, a igreja de Santa Maria presso San Satiro. Após a qual projetou Santa Maria delle Grazie, que teve sua construção iniciada em 1492. Esta igreja é famosa por conta do afresco A Última Ceia, pintado por Leonardo da Vinci na parede do refeitório do convento dominicano ao qual a igreja está vinculada. Em 1499, Bramante se mudou para Roma, o que levou a uma mudança decisiva em seu estilo, que adquiriu certa austeridade. Suas primeiras obras romanas foram o claustro de Santa Maria della Pace e o Tempietto de San Pietro in Montorio, primeiro monumento que opõe a Alta Renascença à Baixa Renascença. Construído para UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA marcar o suposto lugar onde São Pedro foi crucificado é mais uma escultura que uma arquitetura. Rafael Sanzio (1483-1520), poucos de seus trabalhos arquitetônicos se encontram documentados. Suas principais obras foram o Palazzo Vidoni-Caffarelli, em Roma, o Palazzo dall’Aquila (destruído), a Villa Madama e o projeto da nave longa da Basílica de São Pedro. O Palazzo Vidoni-Caffarelli atualmente, não se apresenta como Rafael o projetou, tendo sido ampliado tanto em largura quanto em altura. Em 1515, Rafael foi nomeado Superintendente das Antiguidades Romanas pelo papa Leão X, tendo defendido junto ao papa o levantamento exato das ruínas romanas, com plantas baixas, elevações, e detalhamento. Além de propor a intervenção de edifícios que pudessem ser restaurados. Michelangelo Buonarroti. (1475-1564), escultor e pintor, considerado renascentista até por volta de 1515. Era visto como gênio por seus pares e sua fama era tal, que teve duas biografias publicadas ainda em vida. Passou a trabalhar com arquitetura em sua maturidade, quando já possuía fama por seu trabalho como escultor. Segundo Pevsner (2002), foi o primeiro a transformar a arquitetura em instrumento de expressão pessoal. As obras mais importantes de Michelangelo em Florença são: projeto não realizado da fachada de San Lorenzo (1516-17), capela Medici (1521-1534) - primeiro trabalho de arquitetura realizado-, biblioteca Laurenziana (1524) e antecâmara da biblioteca (1526), a escadaria só foi proposta em 1557. Em 1534, mudou-se de Florença para Roma, onde foi nomeado pelo papa Paulo III Superintendente dos Edifícios do Vaticano. Sendo responsável pelas obras da Basílica de São Pedro de 1547 até sua morte. Em Roma, transformou as termas de Diocleciano na Igreja de Santa Maria degli Angeli. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAETA, Rodrigo Espina. O Barroco, a Arquitetura e a cidade nos séculos XVII e XVIII. Salvador: EDUFBA, 2012. BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2003. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA MUMFORD, Lewis. A Cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 2004. PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1994. WÖLFFLIN, Heinrich. Renascença e barroco: estudo sobre a essência do estilo barroco e sua origem na Itália. São Paulo: Perspectiva, 2000.
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