Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFAVIP | WYDEN PSICOLOGIA: FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE PROFESSORA: DEYSIANE MACÊDO 05 MAI. 2020 ANA CAROLINY ARAÚJO DOS SANTOS ESTHER LARISSA SILVA DE LIMA JOYCE FERREIRA SILVA LÍVIA CAROLINE DE OLIVEIRA ALBINO MARIA ELISA MENEZES DA SILVA MARIA GABRIELA NASCIMENTO SANTOS MAYARA RODRIGUES DE LIMA TAYNÁ LEITE DOS SANTOS RESENHA CRÍTICA “O QUARTO DE JACK” Nesse texto, é apresentada a análise do filme "O Quarto de Jack". Essa obra, levou o diretor Lenny Abrahamson à indicação ao prêmio Oscar na categoria de melhor roteiro adaptado, pois, o filme é baseado em uma história real. Ele foi lançado em 04 de fevereiro de 2016 no Brasil. No entanto, escolhemos a abordagem da psicanálise para aplicação de estudo e compreensão da história do filme na vida real. Nesse contexto, os principais personagens do filme são Joy e Jack (mãe e filho). Na história, Joy sofre vários abusos, inclusive sexuais, o que acaba resultando na gravi- dez de Jack. Ao começar uma relação mãe e filho, Joy deposita toda sua força para cui- dar de Jack, tornando esse ambiente o mais suportável possível até os 5 anos do garoto. A infância foi marcada pela personalização de seres inanimados, solidão e uma rotina monótona constante. Até então essa criança vive num imaginário criado e passado para ele, tendo um choque de realidade quando escuta sobre um mundo diferente além das pa- redes do quarto. Cansada de sua situação Joy elabora um plano de fuga. O filme será analisado por meio do conceito da psicanálise dos Três Tempos do Com- plexo de Édipo, segundo as ideias do psicanalista Jacques Lacan. Na primeira cena do filme, escutamos a narração de Jack sobre seu nascimento: “Era uma vez… antes de eu chegar... você só chorava e via TV o dia inteiro… até virar zumbi. Mas eu desci do céu pela claraboia até o quarto. E eu estava te chutando por dentro, bum, bum, e daí eu sai no tapete com os olhos bem abertos e você cortou o cordão e dis- se: Olá, Jack” uma narrativa que trás a tona que nos dois anos que Joy passou sequestra- da, sozinha, lhe faltava algo, no caso seu "falo", quando Jack chegou essa falta foi supri- da, tornando Joy a mãe fálica. Inicia-se assim o Primeiro tempo do Complexo de Édipo (Psicose), no qual para Joy a vida era triste e vazia, não só devido a situação que vivenciava, mas também devido a falta de algo em sua vida. Quando seu filho chegou trouxe consigo um novo significado, dando a ela uma outra razão para viver. Essa relação mãe e filho traduz uma realidade de- lirante de dualismo com ela, da parte de Jack, onde para ele Joy está sempre disponível no sentido de seus desejos e tudo que ele quer e precisa é suprido, fazendo que para o garoto tudo em sua volta pareça perfeito e harmônico, como pode se observar na maneira que ele narra as situações. Segundo Lacan, nesse primeiro tempo a criança ainda não está situada em uma posi- ção de sujeito, pois sua vida é assujeitada à de sua mãe, o que podemos claramente ver no filme, visto que Jack não apresenta resistência em realizar o que Joy pede, responde de forma positiva aos seus cuidados. Nesse contexto, vale destacar uma cena que deixa claro que a relação entre eles se configura em mutua completude, sendo essa a em que Joy amamenta Jack com seu seio até que ele durma. Podemos perceber ainda em Joy a referência da mãe suficientemente boa, conceito trazido por D. Winnicott. Segundo a teoria, uma mãe suficientemente boa é aquela que consegue suprir as necessidades do filho, dando a ele a ilusão de que o mundo é criado por ele, ou seja, que ele é onipresente. ”Ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de “energia vital”, que o faz progredir e amadurecer” é o que diz Winnicott, afirmando que es- te processo executado da maneira correta ajuda a formar a mente da criança. Em continuidade, Jack completa 5 anos de idade e sua mãe, com a ajuda dele, lhe faz um bolo de aniversário para comemorar, porém no mesmo faltam velas, Jack afirma que sem elas “O bolo de aniversário, não é de aniversário”, mas sua mãe tenta lhe convencer do contrário, explicando que não podia ter pedido as velas ao velho Nick, pois haviam coi- sas de maior prioridade a serem requisitadas, todavia essa explicação não foi suficiente para aplacar a decepção de Jack, que contesta sua mãe, além de chorar muito. Essa ce- na pode ser vista como o inicio do Segundo Tempo do Complexo de Édipo (Perver- são), onde começam a serem apresentadas novas necessidades nessa relação mãe e fi- lho, por Jack sentir que seus desejos não estão sendo plenamente supridos. Mais adiante no filme, ocorre uma confusão com o velho Nick, sendo causada por Jack que atrapalha uma das visitas recorrentes do sequestrador no pequeno quarto. A confu- são causa uma punição de alguns dias sem energia e com menos alimentos, a partir des- se momento Joy resolve apresentar a realidade ao garoto. A mãe de Jack começa a apre- sentar para o filho a existência de um mundo fora do quarto, uma realidade que foi tirada dela, mas Jack ainda se vê na identidade fálica, sendo o falo, apesar de sua situação de- sacordar dessa posição, visto que agora o menino percebe não ser o único objeto de de- sejo de sua mãe, já que aparentemente Joy não estava plenamente satisfeita com a vida dentro do quarto. Com isso, lembramos do papel do pai na psicanálise, que, segundo Freud é o de medi- ação entre o desejo da mãe e do filho, simbolizado como outro objeto de desejo da mãe, além do filho. Freud descreve essa relação como quebra da relação-uno vivida entre mãe e filho, enquanto um completava o desejo do outro, o pai chega e acaba com isso, pas- sando ao filho a constatação de que ele e sua mãe não podem mais suprir as necessida- des um do outro sem a interferência de terceiros, o que constitui a tríade (relação pai- mãe-filho). Além disso, o pai também representa a “lei” para o filho, ou seja, a imposição de novas regras que quebram os desejos do menino. Ressaltando, que esse conceito Freudiano, não engloba apenas o pai, como progenitor, e sim qualquer figura que possa romper essa relação-uno entre mãe e filho e se fazer representar uma “lei”, podendo ser outra pessoa, ou alguma instituição, situação, ou objeto que interfira no desejo mutuo den- tro da relação mãe e filho. Podemos voltar também ao princípio da mãe suficientemente boa. Essa mãe além de suprir as necessidades do filho e satisfazer seus desejos, consegue ainda permitir a entra- da da figura do “pai”, da lei, fazendo uma mediação entre suprir as necessidades da crian- ça e construir um alicerce para submissão a função paterna. No filme, o contexto citado vem através de Joy que diz para seu filho que por ele já ter cinco anos é capaz de compreender o mundo fora do quarto, o garoto não quer aceitar que a realidade construída pela mãe, de fantasia e histórias baseadas nos moveis e uten- sílios existentes no quarto, nas histórias de livros infantis e programas televisivos, não é a única. Ademais, o possível principal fator da não-aceitação do garoto para com a nova re- alidade, vem de que a mesma representa o conceito de “pai” (anteriormente explicado), pois percebe-se que a vida no quarto não satisfaz a mãe, e o desejo dela é viver nesse mundo lá fora. “Preferia continuar com quatro anos” foi o que disse o garoto, no filme, pa- ra demonstrar seu sofrimento e dor ao descobrir, inconscientemente, o fato de deixar de ser aquele que supre o desejo da mãe, ou seja, não ser mais o falo. Depois disso, Joy elabora um plano de fuga para Jack, que consiste em ele fingir-se de morto para que o velho Nick o tire da casa, nesse momento podemos passar pelo simbo- lismo de que Jack morreu para a vida dentro do quarto, e nasceu em uma nova vida no mundo exterior. Para convencer o garoto, sua mãe tentou passar a ideia de estar sempre na cabeça dele: “Sei que vai ser bem estranho você ir sozinho, mas estarei falando com você na sua cabeça a cada minuto, eu prometo. Lembra quando a Alice estava caindo, ca- indo, caindo, e conversou o tempo todo com sua gata Dinah na cabeça dela?” ,apesar de em um primeiro momento Jack não aceitar bem isso, ele consegue. Jack que além de conseguir escapar, consegue também indicar onde sua mãe está pa- ra que a mesma seja libertada. A partir da fuga inicia-se o Terceiro Tempo do Complexo de Édipo (Neurose), onde o foco do filme está no desafio de ambos para se situarem no mundo fora do quarto. Diante disso conseguimos perceber que mesmo Joy já conhecendo o mundo fora do quarto ela teve dificuldade na sua readaptação. Ao sair de lá, ela teve um choque de realidade por ver que todos seguiram suas vidas. Seus pais tinham se separa- do, suas amigas seguiram em frente, além de todo julgamento por parte dos reportes, a rejeição do seu pai para com seu filho, foram fatores que tornaram essa reinserção mais complicada. Resultando na sua tentativa de suicídio. Enquanto que para Jack, por mais que fosse confuso, lidou melhor com toda situação. Vendo o mundo como uma ampliação do cativeiro, conseguiu lidar com a realidade de uma forma mais leve, não percebendo as mesmas problemáticas que atormentavam sua mãe. Como é demonstrado no trecho: “Eu tô no mundo há 37 horas. Eu vi pessoas com rostos e tamanhos e cheiros diferentes falando todas juntas. Tem portas e mais portas, e atrás de todas as portas tem outra do lado de dentro e do lado de fora eas coisas aconte- cem acontecendo, nunca param. Quando eu era pequeno eu só sabia de coisas peque- nas, mas agora que tenho cinco, eu sei de tudo! [...] Tem muitos lugares nesse mundo e tem menos tempo...” Que nos remete a leveza que o menino lida com tudo isso. Porém, outros pontos foram difíceis para ele. Como por exemplo, a sua dificuldade em conviver com outras pessoas, aceitar o novo ambiente e até realizar atividades facéis como subir as escadas. Esses fatores, apesar de simples, eram complicados para Jack, por nunca ter convivido com isso antes. Ao final do filme, atendendo ao pedido do filho, Joy retorna ao cativeiro com ele, que percebe o quanto o quarto era pequeno diante do mundo real que acabara de conhecer: “A gente pode voltar pro quarto só pra visitar? [...] isso é o quarto? Ele foi encolhido? On- de tá tudo? Não pode ser o quarto se a porta tá aberta”. Joy pergunta se ele gostaria que ela a fechasse e Jack recusa. Percebe-se a partir desse fato que, estando do lado de fora da “caverna” e livre das limitações do quarto,o menino não queria e nem conseguiria vol- tar a viver naquele lugar. Uma vez conhecida a verdade, não é possível voltar atrás, como se não a conhecesse. Despedindo-se então dos objetos, ele deixa o quarto e segue em direção a novas descobertas que tomavam conta de sua imaginação. Já figurava para Jack um novo imaginário: “Quer que eu feche [a porta]? – Não! Tchau quarto!”. Com isso, podemos concluir que o filme em questão, O Quarto de Jack, tem uma grande base psica- nalítica, e muitas das teorias da área podem ser usadas para explicar e analisar o filme. “Mãe, dê tchau ao quarto” “Tchau, quarto” (O Quarto de Jack, 2015)
Compartilhar