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13/05/2023, 16:19 Copy of FE_BL2_EDU_IDLICU_19_E_2_APR
https://ambienteacademico.com.br/mod/url/view.php?id=787138 1/17
Unidade 2 - Aspectos sócio-
culturais
Carolina Berbet
Iniciar
Introdução
O ser humano, é, por natureza, um ser social, o qual percebeu que necessitava da
interação com os demais seres para promover a sobrevivência e a continuação da
espécie. Sendo assim, a formação da identidade de um indivíduo percorre os
aspectos culturais e linguísticos? É possível que ocorra a formação de uma identidade
nacional sem que haja correlação com alguma cultura e/ou língua?
A língua é um dos principais meios de expressão e comunicação entre indivíduos.
Dessa forma, a língua pode ser considerada uma manifestação cultural? Ao pensar
na língua como marca de um povo, seria um instrumento capaz de transformar e
in�uenciar a visão de um sujeito sobre o mundo e seu entorno?
O fato é que língua, cultura e identidade são elementos intrinsecamente ligados e a
conexão existente será objeto da nossa atenção nesta unidade.
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Bons estudos!
1. Culturas nacionais
O conceito de cultura nacional é muito amplo e gera algumas inquietações. Segundo
Stuart Hall (2014), o conceito que, antigamente, era vinculado às tribos, religiões ou
grupos de uma região, caracterizados por uma identi�cação em comum dos
indivíduos envolvidos, nas sociedades ocidentais, foi de�nido como cultura nacional.
A formação de uma cultura nacional pode ser representada pelas instituições
nacionais, os costumes, as tradições ou na construção de uma só língua veiculando
por todo o território de um povo, caracterizando-se como uma comunicação padrão,
capaz de expressar as particularidades do grupo de indivíduos que a usam.  A cultura
nacional tornou-se objeto característico da industrialização e das sociedades
modernas. Entretanto, no momento sócio-histórico em que vivemos, a cultura não
tem sido pensada como algo local, mas tem integrado questões mundiais, já que
traços da cultura de um país podem ser vistos em outro, devido a globalização, ao
capitalismo, a comunicação em massa e aos �uxos migratórios.
1.1 Comunidades imaginadas
As culturas nacionais são representadas pelas instituições que compõem as nações e
por símbolos e representações. Essas culturas, ao produzirem re�exões e sentidos
com os quais os indivíduos podem se identi�car, formam identidades que são
reconhecidas.  Para Hall, as identidades nacionais seriam “comunidades imaginadas”.
Segundo Stuart (2014), a cultura nacional é um discurso contado de diversas formas,
que organiza e in�uencia a forma como os indivíduos agem e a concepção que criam
de si mesmos, dos seus antepassados e de suas nações. Há a narrativa da nação,
comumente evidenciada nas literaturas nacionais, na cultura conhecida como
popular e nas mídias. São contadas séries de histórias, marcadas por imagens,
eventos históricos, símbolos, rituais, costumes nacionais e representam a história
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nacional, marcada por suas vitórias, derrotas, desastres, conquistas e mudanças. O
indivíduo, ao ter contato com essa gama de informação cultural, constrói uma
identidade com a nação a qual ele nasceu ou reside e passa a fazer parte dessa
comunidade imaginada, que é o modo pelo qual a nação é visualizada através da sua
narrativa, que fornece signi�cado e sentido à sua existência.
Há a narrativa evidenciada pela ênfase nas origens e nas tradições de um povo.
Sendo assim, é considerada como uma “natureza”, de maneira que a forma de viver
dos indivíduos dessa nação sempre existiu de tal forma e é representada pelos seus
costumes. Seria a herança de uma continuidade, de maneira que tudo que se
manifesta na sociedade é originado por tradições anteriormente vivenciadas e
construídas.
Outra narrativa seria a “invenção da tradição”, de maneira que alguns
comportamentos ou práticas são guiados por costumes antigas ou recentes que se
apresentam como antigas ou algumas inventadas, que passam a fazer parte do
quadro cultural e que se manifestam por meio da repetição. Um exemplo atual seria
a monarquia britânica, de forma que algumas práticas são antigas e outras foram
adaptadas pela modernidade.
O mito fundacional é outro exemplo de relato da cultura nacional, de forma que as
estórias nacionais são contadas e repetidas durante anos e tornam-se parte de um
passado que, muitas vezes, não é real, mas é um passado inventado, ou seja, mítico.
É uma narrativa que, muitas vezes, considera mitos inventados pelos próprios
indivíduos e realiza a conexão de fatos inventados com histórias reais, como uma
maneira de transformar a desordem das ideias ilusórias em parte da verdade das
histórias reais. Essa realidade inventada é comum em países africanos, que foram
colonizados brutalmente, mas ainda mantém suas raízes com as tribos e grupos
existentes antes do período colonial e sustentam a conexão com mitos e contos
�ctícios que são representações e resultados das crenças, costumes e formas de
viver e se organizar dos seus povos primitivos.
Por �m, existe a narrativa com a ideia de uma identidade nacional construída por um
povo puro ou considerado original, o qual foi responsável pela formação,
sustentação e construção da sociedade atualmente conhecida. Entretanto, muitas
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vezes esses indivíduos não são aqueles que persistem e se conservam em posições
de autoridade.
A cultura nacional é construída por identidades existentes entre o passado e o futuro
e se equilibra entre reforçar conquistas passadas e guiar para o futuro. É, portanto,
uma fonte de signi�cados e um conjunto de representação da história e das
tradições nacionais. Como comunidade imaginada, perpetua a herança e memórias
do passado e o desejo de vida em conjunto.
1.2 Identidades e diferenças
A cultura nacional busca uni�car seus membros em uma identidade cultural,
suprimindo suas diferenças relacionadas à classe, gênero ou raça. Entretanto,
também se apresenta como uma forma de poder estrutural.
A maioria das nações que conhecemos hoje, tem um histórico de culturas que foram
separadas e afetadas por períodos de lutas e conquistas violentas. Muitas vezes, os
países colonizadores buscavam impor sua cultura aos povos colonizados e países
que foram colonizados por mais de uma nação, apresentam características culturais
originadas de mais de um local. Entretanto, os indivíduos que residem nessas regiões
se veem com a necessidade de esquecer esse passado e considerar uma cultura
nacional que é resultado da fusão e da supressão de outras culturas.
A identidade nacional não deve ser pensada como resultado de uma cultura
uni�cada, mas como uma narrativa que representa as diferenças como uma unidade
ou identidade, ou seja, as culturas são marcadas por divisões, con�itos, contrastes,
diferentes classes sociais, grupos étnicos e de gênero, mas que une as distinções por
meio do poder cultural, de maneira que os indivíduos, mesmo que opostos,
identi�cam-se com uma identidade nacional que retrata as suas particularidades.
1.3 Etnias e raças
A cultura, como vimos, é uma forma de uni�car e representar as diferenças que
formam um único povo. A etnia é um conceito utilizado para se referir a um grupo
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que compartilha das mesmas particularidades culturais, ou seja, indivíduos que
apresentam certa uniformidade cultural, com os mesmos costumes e tradições.
Contudo, os países são formados por diversos grupos étnicos, de maneira que a
identidade nacional é representada pelo conjunto de etnias na mesma nação.
A identidade nacional também nãopode ser uni�cada em termos de raça, visto que
os indivíduos são originados e se apresentam como descendentes e participantes de
raças distintas. A de�nição de raça, segundo Stuart Hall (2014), não é originada de
fontes biológicas ou genéticas, mas seria uma categoria discursiva.
Dessa forma, Hall (2014) acredita que a raça se vincula mais a uma linguagem do que
a biologia e que o seu conceito é relacional, já que passa constantemente por
processos de rede�nição. As raças seriam produzidas culturalmente, de acordo com
os momentos históricos e as lutas políticas enfrentadas pelos movimentos sociais.
As noções biológicas sobre raça, as quais a de�nem como a distinção de espécies
têm sido substituídas por noções culturais, de maneira que a raça participa dos
debates sobre nação e identidade nacional. Para Hall (2014), as ideias de raça se
vinculam com relações de poder e as mídias in�uenciavam na construção e na visão
sobre as raças. Dessa maneira, o racismo teria uma signi�cação ampla e que possui
em sua estrutura mais do que um preconceito biológico, mas um preconceito
cultural. Nesse sentido, as identidades nacionais contemplam o processo dinâmico
de de�nições de raças, que perpetuam momentos históricos, dominações,
conquistas, classes sociais e manifestações culturais.
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Figura 1 - Indivíduos Karajá do Tocantins. Fonte: Portal Stylo 2019.
2. O aspecto social da
linguagem
A linguagem corresponde a um sistema de códigos utilizado pelos indivíduos para
que possam se interagir e comunicar. Para que isso ocorra, os indivíduos presentes
na comunicação realizam a organização de pensamentos e a ordenação e seleção
das palavras correspondentes ao código em que se encontram e esse código se
manifesta pelas regras gramaticais, além do uso dos sinais psicomotores para
produzir efetivamente a fala.
Há indivíduos que não possuem a capacidade de fala e realizam o mesmo processo,
porém o �nal se modi�ca, de forma que não produzem a fala, mas produzem sinais e
formas de se expressar que conseguem evidenciar o que desejam comunicar e o
sistema a que pertencem, mesmo que não se con�gure na fonologia, mas numa
linguagem de sinais, que permitem a comunicação e possibilitam a interação social.
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É importante diferenciar a linguagem da língua, de maneira que a linguagem é a
capacidade que o ser humano tem de se fazer compreendido, por meio do uso da
língua ou de outras manifestações, como sinais, pinturas, músicas e danças.
2.1 A língua como fato social
Os linguistas que defendem a ideia da língua como fato social, acreditam que o
sistema de regras convencionais da língua obriga que os indivíduos falantes
obedeçam a sua regulamentação, já que, caso não queiram atender às suas
prescrições, sofrerá as consequências da sua escolha. Essas consequências estariam
vinculadas com a falta de compreensão dos ouvintes quanto ao que o falante
comunica, além de ser repreendido pelos outros participantes da interação, para que
dialogue corretamente.
Dessa forma, as vontades individuais são suprimidas pelas normas coletivas, de
maneira que o indivíduo não consegue con�gurar uma fala particular, mas precisa se
fazer compreendido por meio de uma língua coletiva, regida por regras que são
conhecidas e respeitadas pela sociedade que a detém. Entretanto, isso não exclui a
possibilidade de modi�cações na língua, como adaptações de certas palavras,
inclusão de gírias e novas expressões, que podem ser resultado de interações e
criações por certos grupos especí�cos.
Durkheim (1995), sociológico, foi quem primeiro de�niu os fatos sociais e os tornou
objetos de estudo da Sociologia. Segundo ele, os fatos sociais são exteriores aos
indivíduos e possuem certo mecanismo de força coercitiva, de maneira que os
envolvidos precisam atentar-se ao seu regimento. Durkheim apresentou uma
ruptura com a concepção �losó�ca existente que buscava compreender os
acontecimentos sociais como resultantes de comportamentos individuais.
A Linguística, que surgiu no século XX, tinha como objeto de estudo as interações
entre os indivíduos e com as instituições e os fenômenos resultantes dessas ações.
William Dwight Whitney (1827-1894), Ferdinand de Saussure (1857-1913), Antoine
Meillet (1866-1936) e William Labov (1927-) são cientistas que iniciaram a
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conceituação da língua como fato social e se apresentaram como in�uenciadores de
uma abordagem social conectada a manifestação da linguagem.
Para Whitney (MARRA; MILANI, 2013), a língua é considerada uma instituição social,
de maneira que seria uma criação humana e como todas as criações advindas dos
seres humanos, é constantemente adaptada para suprir as necessidades e as
vontades dos indivíduos. A língua seria, portanto, passível de mudanças relacionadas
às mudanças dos próprios seres humanos, ou seja, se o ser humano é detentor da
língua como instituição, ao mudar sua forma de pensar, viver ou se organizar,
também realiza mudanças na própria língua, para que possa atender aos seus novos
paradigmas. E, segundo o autor, o �uxo contrário também ocorre, pois as mudanças
linguísticas também são capazes de provocar mudanças nos indivíduos.
O �lósofo rompe com o pensamento �lósofo clássico, que acreditava que a língua era
inata ao indivíduo e a�rma que o ser humano não nasce com a posse de uma língua,
mas aprende a usá-la e adquiri-la por meio do aprendizado e da interação com os
demais membros da sociedade em que vive.
Sendo assim, ao evidenciar que a língua já precede o nascimento do indivíduo, ela se
comporta de forma exterior a ele, assim como a lei, a religião e a política vigentes na
sociedade em que o ser humano nasce. Nesse sentido, o ser cresce e incorpora em
sua vida as normas e os regimentos sociais existentes, assim como os códigos e as
regras que compõem a língua e os seus fenômenos. O indivíduo se torna membro da
sociedade e se apropria de mecanismos pré-existentes.
Saussure (2012) acreditava que a linguagem possuía duas vertentes: social e
individual. A social se tratava da língua e a individual da fala. Dessa maneira,
primeiramente, o indivíduo tem o contato com a linguagem e aprende com os
demais falantes as suas regras e suas maneiras de comunicação. Em seguida,
posteriormente ao aprendizado da língua, há elementos que são internos ao falante,
de forma que ele pode escolher o que dizer, quando dizer e como dizer, por isso,
neste estágio, torna-se capaz de controlar a própria língua. Nesse sentido, a visão
saussuriana acredita que o indivíduo pode externar suas vontades por meio da
língua, no segundo estágio descrito, mas que, mesmo assim, é preciso obedecer às
regras existentes no sistema da língua, que regem a comunicação coletiva.
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Já Antoine Meillet (MARRA;MILANI, 2013b), realiza uma abordagem em que a�rma
que a língua é independente a existência de um indivíduo, mas não de vários, de
maneira que a realidade da língua é alcançada por meio da pluralidade de indivíduos
ou da pluralidade dos seus enunciados.
William Labov  aparece como �gura central no desenvolvimento de uma abordagem
social da linguagem, por meio da sua Teoria da Variação Linguística. O linguista
defendeu o estudo da língua e de suas mudanças e interações por meio da
observação direta do uso da língua pelos falantes nos seus cotidianos e não apenas
pela introspecção. Para Labov (MARRA;MILANI, 2013b), a estrutura social justi�ca as
variações e as mudanças linguísticas, de maneira que não é possível fornecer um
tratamento mecânico à língua e considerá-la como desvinculadado contexto social
dos indivíduos que a manejam. Sendo assim, perpetua uma sociolinguística
variacionista, que considera a língua como um fato social e em constante
transformação devido a dinâmica dos contextos sociais.
Ao desenvolver seus estudos sociolinguísticos baseados na observação das
mudanças ocorridas na sociedade que compunha, Labov (idem) acreditava que, ao
relacionar o padrão linguístico com os fenômenos da estrutura social, seria possível
separar os fatos sociais que incidem sobre a língua. O linguista desejava
compreender os fatos sociais capazes de transformar o processo linguístico. O uso
dos seus instrumentos de investigação social permitiu que Labov (idem) de�nisse
que a língua é um sistema heterogêneo, que possui ordenação e regras, mas que é
composto por elementos variáveis, que são afetados pelas realidades em que estão
inseridos.
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Figura 2  - William Labov. Fonte: Gramática e Cognição.
2.2 A identidade pela linguagem
Os estudos culturais da atualidade, como percebemos na Unidade 1, tem re�etido
uma certa crise identitária característica das sociedades atuais. Dessa forma, os
sujeitos pós-modernos se distanciam da concepção dos sujeitos cartesianos, que
eram conscientes e dotados de razão, de maneira que os sujeitos atuais não
possuem uma identidade �xa e única. A identidade é, portanto, dinâmica e
acompanha as mudanças e as construções sociais e históricas. Sendo assim, a
identidade do sujeito é construída por meio da sua interação com a sociedade e
perpassa os campos sociais, culturais, históricos e linguísticos.
Para Mikhail Bakhtin (2010), �lósofo russo, o discurso não se con�gura como uma
forma única, mas é constituído por uma pluralidade de vozes sociais, ou seja, todo
ato discursivo é direcionado a alguém, produzindo uma comunicação, e se situa em
um contexto social. Dessa maneira, analisar o discurso é analisar o ambiente social
ao qual ele se encontra e perceber as interações sociais existentes com o uso da
linguagem.
As identidades são construídas por meio dos contextos sociais e são produzidas
através do uso da linguagem. Sendo assim, os indivíduos utilizam a linguagem para
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externar e expressar as situações em que vivem, construindo signi�cações sobre
seus pensamentos, crenças e ações.
A linguagem é um sistema de signi�cação por meio do qual as identidades ganham
sentido. Já percebemos que as identidades estão em constante variação e são
formadas por fenômenos históricos, sociais e culturais. Há um �uxo duplo, já que, ao
possuir uma identidade, o indivíduo possui uma língua que a compõe e caracteriza,
mas também, por meio da língua, consegue exteriorizar e construir a sua identidade,
ao realizar interações que permitem que os indivíduos conheçam, dialoguem,
repassem e se adequem aos valores e às dinâmicas sociais existentes.
As mudanças identitárias, frequentemente percebidas no contexto global atual,
podem re�etir em mudanças linguísticas. A adaptação e incorporação de termos
estrangeiros a certas línguas, o uso de gírias cibernéticas e outros fenômenos que
representam a comunicação em nível mundial, a qual estamos vivendo, podem
resultar em mudanças culturais nos indivíduos envolvidos e, consequentemente,
re�etir em suas características identitárias.
3. Variação linguística
A língua é historicamente heterogênea e está sujeita a mudanças ocorridas no
espaço e no tempo. São diversas variáveis que passam por adaptações e mudanças
ao longo dos anos, acompanhando acontecimentos e tendências econômicas, sociais
e culturais.
A crença em uma língua estática e imutável é in�uenciada pelas normas da gramática
tradicional, vivenciada na Grécia Antiga, a qual os estudiosos buscavam manter
inalterada para evitar o mau uso. Já a linguística moderna entende que toda língua é
um conjunto diversi�cado que possui experiências históricas, culturais, sociais e
políticas que a modi�cam e in�uenciam na experiência linguística. A variação
linguística é inerente a toda língua existente no mundo e varia de acordo com o
tempo, espaço geográ�co, ambiente social e conjuntura dos falantes.
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3.1 Influências nas mutabilidades
linguísticas
A língua sofre variações advindas de diversos fenômenos geográ�cos, sociais,
estilísticos e contextuais.
As variações geográ�cas são facilmente perceptíveis no Brasil, pois o modo de falar é
adaptado a região do falante, seja ele carioca, mineiro, paulista, gaúcho, baiano, etc.
Cada local possui suas expressões, que acompanham a realidade social do falante.
Dessa forma, também podemos perceber diferenças linguísticas entre moradores
rurais e moradores urbanos. Portanto, quando o falante se comunica, facilmente
revela sua característica regional e social, demonstrando a qual região ou realidade
social pertence.
Figura 3 - Expressões regionais brasileiras. Fonte: Korn Traduções 2019.
As variações contextuais ou de registro se manifestam no dia-a-dia dos falantes, pois
se alteram de acordo com a situação em que os falantes se encontram. Há contextos
que exigem uma linguagem mais elaborada, que seria o registro formal e em outros
contextos, como situações familiares e ambientes descontraídos, a linguagem é mais
coloquial e, portanto, o registro é considerado informal.
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As situações de interação são compostas por graus de formalidade diferentes. As
variações estilísticas, por exemplo, relacionam-se com os locais em que as
comunicações sociais ocorrem, como escolas, igrejas, casas, clubes, ambientes de
trabalho; pelas relações sociais envolvidas, como professor e aluno, pai e �lho,
namorado e namorada, patrão e empregado; pelos assuntos, como religião,
brincadeiras, esportes. Portanto, as palavras utilizadas em um contexto de pai e �lho
interagindo em ambiente religioso se diferencia da forma como se comunicam
quando estão em casa ou frequentando algum clube.
Por �m, há variações diacrônicas, que são alteradas de acordo com a geração dos
falantes. No Brasil, por exemplo, o português primitivo utilizava a expressão “vossa
mercê”, com o tempo, sofreu simpli�cações e tornou-se “vosmecê”, posteriormente
“você” e em registros informais é utilizada apenas como “cê”, o que retrata a
mudança conforme o período histórico do falante que a utiliza.
As línguas se adequam às características culturais e revelam algumas variantes,
como estereótipos, marcadores e indicadores sociais, conforme a�rma Labov
(2013b). Existem comentários e pensamentos sociais estigmatizados, que se revelam
por meio dos estereótipos presentes na linguagem, como por exemplo, quando um
falante expressa uma palavra da maneira incorreta e, facilmente, é considerado
como de baixo nível escolar. Já os marcadores se revelam por meio de variações
regionais ou estilísticas, como o uso do “tu” no lugar do “você” em alguns locais do
Brasil e o uso variado de pronomes de tratamento, como “vossa excelência”, que
dependem do contexto em que estão sendo utilizados.
Há também os indicadores sociais, de maneira que alguns falantes mostram-se como
pertencentes de certas classes sociais pelas palavras que utiliza, pois é comumente
considerado que um falante que dispõe de expressões rebuscadas no seu discurso é
pertencente a uma classe social de alto poder aquisitivo, enquanto aquele que utiliza
expressões comumente utilizadas em contextos mais simples é pertencente a uma
classe social de baixo poder aquisitivo.
As características linguísticas dos discursos pertencentes a falantes de baixo poder
aquisitivo são, constantemente, alvo decríticas e estigmatização, de maneira que
reforçam preconceitos e exclusões, ampliando os problemas sociais existentes. A
língua, portanto, não possui apenas a capacidade de unir os falantes, mas por meio
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das in�uências culturais e sociais também é capaz de isolar e afastar os participantes
de um discurso, além de afetar a forma como os falantes se visualizam.
Figura 4 - Linguagem coloquial. Fonte: Usos da Internet, 2018.
4. Conexão entre língua,
cultura e identidade
A relação existente entre os três elementos é imanente, visto que não há cultura sem
a presença da língua e que a identidade é formada por meio da língua e da cultura.
A língua é um produto cultural ou histórico, a qual é utilizada para externar os
pensamentos, emoções, percepções e sentimentos. Quando um indivíduo nasce, é
inserido a uma língua para que interaja e compreenda os fenômenos sociais a sua
volta. Dessa maneira, a língua possui o suporte de uma cultura, que auxiliou na sua
formação e também fornece suporte para a cultura, pois é uma manifestação da
sociedade em que o indivíduo pertence e é instrumento para que as normas e os
mecanismos culturais sejam difundidos entre os membros de um povo.
4.1 A visão de Bakhtin
Para Bakhtin (2010), há uma interrelação entre cultura, língua e identidade, pois a
cultura se constrói por meio da linguagem e necessita da língua para produzir seus
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signi�cados que, ao serem formados, constituem as identidades.  Segundo ele, a
cultura é dinâmica, assim como a língua e a identidade, que não são fenômenos
�xos, mas que estão em constante processo de constituição, visto que os seres
sociais que as produzem se encontram em processos comunicacionais ativos, além
de estarem inseridos em um contexto global repleto de transformações, sejam elas
sociais, políticas, econômicas, ideológicas ou culturais.
Para o autor, a palavra é que forma a cultura e é a língua que fornece a sustentação
necessária para existência da cultura. Dessa forma, não há língua que não pertença a
uma cultura nem cultura que exista sem ser manifestar por meio da língua e,
portanto, não se cria identidades desvinculadas dos aspectos culturais e linguísticos.
A lógica bakhtiniana a�rma que é visível o caráter social da linguagem e que, todo
discurso é dotado de um viés ideológico, pois todas as falas representam os falantes
que as utilizam e, esses seres sociais estão inseridos em realidades que in�uenciam
aquilo que comunicam. Os sujeitos são dotados de consciência, portanto, quem fala,
deseja produzir certos efeitos condizentes com seus pensamentos, in�uenciados por
suas características sociais e culturais e, aquele que ouve, formula uma avaliação a
partir daquilo que escutou e, essa avaliação também é constituída por questões de
origem social ou cultural, que fazem parte do contexto ou da realidade em que ele se
encontra.
Bakhtin (2010) a�rma que não há palavra neutra e que todo enunciado possui uma
natureza responsiva, portanto, os discursos são repletos de palavras que possuem
tons valorativos. A linguagem seria, portanto, agente social e histórico do ser
humano para com os outros. Para ele, nenhum texto existe isoladamente, mas
abarca outros textos e possui sentido ao serem vinculados. Toda enunciação é fruto
de uma ideologia formada pelo “eu” e pelo “nós”, pois o interlocutor possui
características individuais, mas que foram formadas dentro do sistema de
características sociais, que representam a sociedade na qual foi inserido.
Sendo assim, os indivíduos utilizam a linguagem para se comunicar e externar a
identidade que possuem, formada por diversos fatores culturais e composta por
ideologias e crenças construídas de acordo com a realidade social em que vivem.
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Síntese
Nesta unidade estudamos e assimilamos a in�uência dos fenômenos sociais no
desenvolvimento das línguas, culturas e identidades. Entendemos que as realidades
e experiências sociais podem in�uenciar na forma como o indivíduo se comunica e se
porta perante o mundo.
É importante re�etirmos que, em todos os momentos que utilizamos a linguagem,
estamos externando nossos aspectos de identidade.
Portanto, compreendemos que:
● As culturas nacionais têm se transformado em comunidades imaginadas devido às
mudanças da modernidade;
● A linguagem tem uma forte característica e in�uência social e pode ser multiplicada
por meio das variações;
● As identidades são formadas por meio dos fenômenos culturais e linguísticos;
● O uso da língua engloba um viés ideológico in�uenciado pela cultura e pelas
características identitárias do falante.
Na próxima unidade falaremos sobre fenômenos identitários e tempos líquidos. Nos
vemos lá!
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Bibliografia
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