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Direito Coletivo do Trabalho Prof. Felipe Fernandes Descrição Abordagem do Direito Coletivo do Trabalho como subsistema do Direito do Trabalho, com enfoque em liberdade e organização sindical, conflitos coletivos de trabalho, bem como o exercício do direito de greve. Propósito Compreender as bases e o funcionamento do Direito Coletivo do Trabalho possibilita que estudantes e operadores do Direito tenham autonomia para analisar criticamente e escrutinar as relações coletivas em âmbito laboral, seus efeitos jurídicos e possíveis descumprimentos. Preparação Antes de iniciar o estudo, pesquise e acesse a Consolidação das Leis do Trabalho, com foco no Título V, que trata da organização sindical (artigos 511 a 610), e no Título VI, que versa sobre as convenções coletivas de trabalho (artigos 611 a 625), disponíveis no site do Planalto, a fim de obter uma visão inicial da normatização básica do tema. Objetivos Módulo 1 Liberdade sindical e organização Analisar a liberdade sindical e organização. Módulo 2 Con�itos coletivos de trabalho Identificar as principais características dos conflitos coletivos de trabalho. Módulo 3 Greve Reconhecer os requisitos da greve. Introdução O Direito Coletivo do Trabalho pode ser considerado um ramo do Direito do Trabalho. Apesar de possuir princípios próprios, a doutrina majoritária não reconhece a sua autonomia. No entanto, é fato que ele possui uma lógica diferente daquela relacionada ao Direito Individual do Trabalho. Isso porque, neste ramo, existe uma equivalência entre as partes: os principais atores são os sindicatos (dos empregados e dos empregadores), que se equivalem, razão pela qual se afasta o princípio protetor. Assim, a doutrina que vigora no âmbito do Direito Coletivo do Trabalho reconhece o princípio do equilíbrio entre os entes coletivos. Dito isso, é importante analisar o Direito Coletivo a partir da figura dos sindicatos para, em um segundo momento, estudar sua atuação, por meio do escrutínio dos conflitos coletivos de trabalho e, por fim, verificarmos fenômeno bem peculiar das relações de agrupamentos laborais, qual seja a greve. 1 - Liberdade sindical e organização Ao �nal deste módulo, esperamos que você analise a liberdade sindical e organização. Princípios próprios Os sindicatos são figuras centrais do Direito Coletivo do Trabalho. A fim de assegurar sua autonomia, o art. 8º da Constituição da República garantiu ser livre a associação profissional ou sindical, cabendo ao sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Dessa forma, o Estado não poderá intervir em sua atuação, sendo eles livres “quanto a sua fundação, organização e filiação” (CORREIA, 2021, p. 1316). Não obstante, não se trata de garantia absoluta, existindo regulamentação legal específica acerca da organização e funcionamento dessas agremiações. Dito isso, passemos a analisar, primeiramente, os contornos da liberdade sindical para, na sequência, estudarmos a organização sindical brasileira. O Direito Coletivo do Trabalho no Ordenamento Jurídico brasileiro, apesar de não ser dotado de autonomia, possui princípios próprios, que lhe conferem a lógica e a tônica das relações jurídicas travadas em seu interior. Assim, é fundamental o princípio da liberdade sindical, cujos contornos são analisados na sequência. Liberdade sindical O que é a liberdade sindical? Neste vídeo, o professor discorre sobre a liberdade sindical e seus variados contornos. Conforme art. 5º, XVII, da Constituição da República: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, sendo plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. No que tange especificamente à associação sindical, o art. 8º da Carta Magna dispõe que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical, não podendo, ainda, ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato. Dessas disposições, em interpretação sistemática com outras que serão analisadas na sequência, a doutrina extrai o princípio da liberdade sindical. Esse princípio é uma norma de extrema importância não só para os trabalhadores diretamente ligados à categoria daquela agremiação, mas a toda a sociedade, pois um eventual desarranjo nas relações coletivas de trabalho pode levar a efeitos sistêmicos que impactarão toda a sociedade. Assim, garantir uma atuação livre e autônoma dos sindicatos é pressuposto da própria democracia e da ordem social almejada pela Constituição da República de 1988. A liberdade sindical é, portanto, a “espinha dorsal” do Direito Coletivo a ser desenvolvido num Estado social e democrático de direito (CASSAR, 2020). Fixada essa premissa, apontamos que a doutrina subdivide o princípio da liberdade sindical em três (CORREIA, 2021): Liberdade de fundação ou criação do sindicato. Liberdade de administração ou organização. Liberdade de filiação. Analisemos cada um deles na sequência. Liberdade na fundação ou criação do sindicato Conforme já mencionado, segundo o art. 8º, I, da Constituição da República de 1988, é livre a associação profissional ou sindical, observando-se que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, e que são vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical. Assim, a princípio, é livre a criação de sindicatos. No entanto, essa garantia não é absoluta, pois existem algumas regulamentações impostas ao seu exercício. Apesar de serem pessoas jurídicas de direito privado, para que obtenham personalidade sindical, os sindicatos devem registrar-se no órgão ministerial, o que não é exigido das pessoas jurídicas privadas em geral. Assim, a criação de um sindicato passará por duas etapas (SCHIAVI, 2021): Registro de seus estatutos no Cartório de Títulos e Documentos Quando ele adquirirá personalidade jurídica. Registro de seus estatutos no Ministério do Trabalho Quando ele adquirirá personalidade sindical. O registro no Ministério do Trabalho tem a finalidade de zelar pela unicidade sindical, determinação pela qual é proibida a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial: “[...] é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município” (art. 8º, II, CF). Digna de nota é a Súmula nº 677 do STF, que operacionaliza tal imposição ao afirmar que, até a existência de uma lei que disponha a respeito, cabe ao Ministério do Trabalho realizar o registro das entidades sindicais e respeitar o princípio da unicidade. Ainda nesse sentido, acerca das mitigações à liberdade de criação de sindicatos, vale lembrar o teor da Orientação Jurisprudencial nº 15 da Seção de Dissídios Coletivos (SDC) do Tribunal Superior do Trabalho (TST), pelo qual a comprovação da legitimidade ad processum da entidade sindical se faz por seu registro no órgão competente do Ministério do Trabalho, mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Diante do exposto, verificamos que existe um princípio de liberdade na criação de sindicatos, mas esse sofre algumas mitigações, identificadas, por exemplo, na necessidade de registro no Ministério do Trabalho e da imposição de uma unicidade sindical. Liberdade de administração ou organização Segundo o princípio da liberdade de administração ou organização, os sindicatos têm o poder de auto-organização,nos termos de seus estatutos. Em outras palavras, “a administração interna será de acordo com o estatuto do sindicato” (CORREIA, 2021, p. 1318). Contudo, é válido que a lei imponha alguns parâmetros. Nesse sentido, é possível observar certas interferências legislativas no funcionamento das agremiações. É o caso, por exemplo, do artigo 522 da CLT, que confere a administração do sindicato a uma diretoria constituída por no máximo sete e no mínimo três membros e um Conselho Fiscal composto por três membros, eleitos pela Assembleia Geral. Essa limitação ao número de dirigentes foi questionada, pois parte da comunidade jurídica entende que ela feriria a liberdade de administração dos sindicatos. Em outras palavras, eles é quem deveriam estabelecer seus números de diretores. No entanto, tal entendimento não foi acolhido pelo Supremo Tribunal Federal que, no bojo da ADPF 276, julgou que a liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não é dotada de caráter absoluto. Dessa maneira, considerou a Suprema Corte que a previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia essa liberdade, que se preserva para cumprir a finalidade de autonomia da entidade sindical, não para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada sem se conciliar com a razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Liberdade de �liação O terceiro subprincípio se refere à liberdade de filiação. Esse se encontra consagrado no inciso V do art. 8º da Constituição da República, segundo o qual ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato. Pontua a doutrina que o princípio em questão engloba dois aspectos (CORREIA, 2021): Aspecto positivo Referente ao direito de filiar-se e manter-se filiado. Aspecto negativo Atinente à liberdade de não se filiar ou de retirar-se. Princípios gerais Princípio da autorregulamentação Pelo princípio da autorregulamentação, observamos a possibilidade do estabelecimento de normas (coletivas) pelos sindicatos. Essas, concretizadas por meio de acordos ou convenções coletivas, são frutos de negociações coletivas e representam fontes formais autônomas do Direito do Trabalho (CORREIA, 2021). Nesse sentido, lembramos que o art. 7º, XXVI da Constituição Federal assegura que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social, o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho. Além disso, o art. 8º do Texto Maior, em seu inciso VI, impõe ser obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. Assim, vemos que os sindicatos têm a prerrogativa de criar normas cogentes. Nessa toada, a doutrina identifica dois subprincípios no princípio da autorregulamentação: a preponderância do direito coletivo sobre o individual e a participação obrigatória dos sindicatos na negociação coletiva (CORREIA, 2021). Sobre esses, fazemos duas observações. A primeira se refere à tônica adotada pela Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017), que alterou a CLT e, entre outras medidas, fortaleceu a percepção da prevalência do “negociado sobre o legislado”. Essa ideia ganhou forma no artigo 611-A da CLT, que traz matérias nas quais a convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho terão prevalência sobre a lei. São elas: Pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais. Banco de horas anual. Intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de 30 minutos para jornadas maiores que 6 horas. Adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei nº 13.189, de 19 de novembro de 2015. Plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança. Regulamento empresarial. Representante dos trabalhadores no local de trabalho. T/eletrabalho, regime de sobreaviso e trabalho intermitente. Remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual. Modalidade de registro de jornada de trabalho. Troca do dia de feriado. Enquadramento do grau de insalubridade. Prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho. Prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo. Participação nos lucros ou resultados da empresa. A segunda ressalva diz respeito à participação obrigatória dos sindicatos, que apenas se refere aos sindicatos dos trabalhadores (categorias profissionais). As empresas poderão, por exemplo, firmar acordos coletivos sem o intermédio de suas agremiações (CORREIA, 2021). Princípio da adequação setorial negociada O princípio da adequação setorial negociada está ligado às negociações coletivas “estabelecendo as possibilidades e limites da negociação, em face dos direitos trabalhistas que podem ser objetivo de disposição e os direitos indisponíveis” (SCHIAVI, 2021, p. 658). Assim, é possível fazer negociações coletivas e essas possuem preponderância sobre os instrumentos legais. No entanto, isso não é absoluto. Conforme lembra Mauricio Godinho Delgado (2018), elas prevalecerão nas seguintes hipóteses: Quando as normas autônomas juscoletivas implementam um padrão setorial de direitos superior ao padrão geral oriundo da legislação heterônoma aplicável. Quando as normas autônomas juscoletivas transacionam setorialmente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade relativa. Sobre este ponto, digno de menção é o conteúdo do art. 611-B da CLT, que define constituírem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: Normas de identificação profissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social. Ceguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário. Valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Salário mínimo. Valor nominal do décimo terceiro salário. Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno. Proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa. Salário-família. Repouso semanal remunerado. Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% à remuneração do serviço normal. Número de dias de férias devidas ao empregado. Gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. Licença-maternidade com a duração mínima de 120 dias. Licença-paternidade nos termos fixados em lei. Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de 30 dias, nos termos da lei. Normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas. Aposentadoria. Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador. Ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de 5 anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de 2 anos após a extinção do contrato de trabalho. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência. Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. Medidas de proteção legal de crianças e adolescentes. Igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidosem convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. Definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve (incluído pela Lei nº 13.467, de 2017). Tributos e outros créditos de terceiros. As disposições previstas nos artigos 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 da CLT. Princípio da boa-fé Dado o grande poder e relevância que possuem os sindicatos, é razoável que esses se portem de acordo com os preceitos da boa-fé. Nesse sentido, “os entes coletivos devem agir com boa-fé objetiva (que é comportamental), antes, durante e após os procedimentos de negociação para a criação de normas coletivas (acordos e convenções coletivas de trabalho)” (SCHIAVI, 2021, p. 657-658). Sendo assim, as partes devem se portar de maneira transparente e leal (DELGADO, 2018), não se valendo de subterfúgios para o posterior descumprimento da norma coletiva ou faltando com lealdade nas negociações. Organização sindical O sistema confederativo brasileiro é composto por sindicatos e entidades de grau superior, as federações e confederações (CORREIA, 2021). Além desses, existem as centrais sindicais, que possuem natureza jurídica e abrangência nacional. Veja detalhadamente na sequência os principais aspectos desse sistema. Categorias pro�ssional, econômica e diferenciada Conforme ensina a doutrina, “a categoria é o pressuposto para o surgimento de uma entidade sindical” (SCHIAVI, 2021, p. 660). Nesse sentido, a Constituição Federal manteve a regra da filiação por categoria: a rigor, só pode haver um sindicato para cada categoria em uma dada base territorial (princípio da unicidade sindical). Dito isso, lembramos que o ordenamento jurídico consagra três categorias: Pro�ssionais Sã l à i tã li d Sindicato Os sindicatos são figuras centrais para o Direito Coletivo. Eles possuem grande poder de atuação e se prestam à defesa dos interesses de determinada categoria. Em termos gerais, são “entidades associativas e São aquelas às quais estão ligados os trabalhadores. Elas congregam obreiros que exercem a mesma profissão/atividade ou estão ligados ao mesmo empregador (SCHIAVI, 2021). Em termos legais, segundo o §2º do art. 511 da CLT, a similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional. Econômicas Referem-se aos empregadores, abarcando aqueles que realizam a mesma atividade econômica, conexa ou similar (SCHIAVI, 2021). Seu conceito está insculpido no §1º do art. 511 da CLT, segundo o qual a solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas, constitui o vínculo social básico que se denomina categoria econômica. Diferenciadas São aquelas que se formam dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares. É o caso, por exemplo, dos advogados e engenheiros. permanentes que representam interesses de trabalhadores e empregadores, visando a defesa dos interesses coletivos de seus representados” (CORREIA, 2021, p. 1330). Sobretudo a atuação sindicatos profissionais, que representam os empregados, reveste-se de grande importância, pois seria difícil cogitar que os trabalhadores pudessem pleitear melhoras de condições de trabalho, de forma mais aguda, sem uma organização coletiva. No plano constitucional, reconhece a Carta Magna, em seu art. 8º, III, que ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Sob aspectos constitutivos, os sindicatos são pessoas jurídicas de direito privado, que adquirem personalidade jurídica com o registro dos estatutos em cartório e personalidade sindical com o registro no Ministério do Trabalho. Nos termos vistos anteriormente, no Direito Coletivo do Trabalho vigora o princípio da liberdade sindical, mas isso não quer dizer que essa seja total e absoluta. Nesse sentido, as agremiações em questão devem respeitar a unicidade sindical, vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um município. Conforme artigo 513 da CLT, são prerrogativas dos sindicatos: 1. Representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos associados relativos à atividade ou profissão exercida. 2. Celebrar contratos coletivos de trabalho. 3. Eleger ou designar os representantes da respectiva categoria ou profissão liberal. 4. Colaborar com o Estado, como órgãos técnicos e consultivos, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a respectiva categoria ou profissão liberal. 5. Impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas. Em contrapartida, o art. 514 do texto consolidado impõe os seguintes deveres a esses entes coletivos: 1. Colaborar com os poderes públicos no desenvolvimento da solidariedade social. 2. Manter serviços de assistência judiciária para os associados. 3. Promover a conciliação nos dissídios de trabalho. 4. Sempre que possível, e de acordo com as suas possibilidades, manter no seu quadro de pessoal, em convênio com entidades assistenciais ou por conta própria, um assistente social com as atribuições específicas de promover a cooperação operacional na empresa e a integração profissional na classe. Entidades sindicais de nível superior As entidades de nível superior são as federações e confederações. Federações são reuniões de sindicatos e confederações são reuniões de federações. Trata-se de um sistema piramidal, que tem o sindicato na base, a federação no meio e a confederação na cúpula (DELGADO, 2018). O art. 534 da CLT impõe que as federações sejam formadas por, pelo menos, cinco sindicatos da mesma categoria, ao passo que as confederações devem ser compostas por, pelo menos, três federações (art. 535, CLT). Centrais sindicais As centrais sindicais possuem âmbito nacional e são formadas por entidades sindicais de diversas categorias e os diversos níveis de representação, tendo por finalidade “coordenar a representação sindical geral dos trabalhadores em âmbito nacional” (SCHIAVI, 2021, p. 673). Segundo corrente majoritária, elas não integram o sistema confederativo. Apesar disso, elas possuem grande relevância, eis que “não apenas fixam linhas gerais de atuação para o sindicalismo em contextos geográficos e sociais mais amplos, como podem erigir instrumentos culturais e logísticos de grande significado para as respectivas bases envolvidas” (DELGADO, 2018, p. 1593). Conforme o art. 1º da Lei nº 11.648/2018, a central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas: 1. Coordenar a representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas. 2. Participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores. São requisitos para o exercício de suas atribuições e prerrogativas: 1. Filiação de, no mínimo, 100 sindicatos distribuídos nas 5 regiões do país. 2. Filiação em pelo menos 3 regiões do paísde, no mínimo, 20 sindicatos em cada uma. 3. Filiação de sindicatos em, no mínimo, 5 setores de atividade econômica. 4. Filiação de sindicatos que representem, no mínimo, 7% do total de empregados sindicalizados em âmbito nacional. Receitas sindicais Para o exercício de suas atribuições, os sindicatos carecem de recursos. Esses advêm das chamadas receitas sindicais. São elas: Contribuição sindical Contribuição confederativa Contribuição assistencial Mensalidade sindical Nos aprofundaremos em cada uma dessas receitas a seguir: Contribuição sindical Prevista no art. 578 da CLT, que dispõe ser ela devida aos sindicatos pelos participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades. As contribuições sindicais serão pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida na CLT, desde que prévia e expressamente autorizadas. Há um ponto sobre a contribuição sindical que deve ser ressaltado. Antes da Reforma Trabalhista, (Lei nº 13.467/2017) o desconto dela — também chamada de imposta sindical — não dependia da autorização dos integrantes da categoria. Ela era compulsória e devida por todos os empregados, sindicalizados ou não. No entanto, o texto consolidado foi alterado e, desde então, o desconto da contribuição sindical passou a ser condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal. Esse condicionamento foi levado ao Supremo Tribunal Federal, que, no bojo da ADI 5794, decidiu que a supressão do caráter compulsório das contribuições sindicais não vulnera o princípio constitucional da autonomia da organização sindical, nem configura retrocesso social e violação aos direitos básicos de proteção ao trabalhador. Supremo Tribunal Federal Igualmente, decidiu o TST que essa autorização deve ser prévia, expressa e individual, de modo que não é válida a autorização meramente assemblear, inserta em norma coletiva, por violação ao princípio constitucional da liberdade de associação. Diante disso, a contribuição sindical existe e é válida no ordenamento jurídico brasileiro, mas seu desconto depende de autorização prévia, expressa e individual. Contribuição confederativa Presta-se ao custeio do sistema confederativo, ou seja, dos sindicatos, federações e confederações (CORREIA, 2021). A contribuição confederativa deve ser paga nos termos do art. 8º, IV, CF, segundo o qual a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei. Atenção! Conforme Súmula Vinculante nº 40 do STF, a contribuição confederativa só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo, nos mesmos termos do Precedente Normativo nº 119 do TST. Contribuição assistencial Encontra respaldo legal no art. 513, e, da CLT, pelo qual são prerrogativas dos sindicatos impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas. Essa contribuição tem como finalidade “compensar os custos decorrentes da participação nas negociações coletivas e, ainda, em razão da conquista de condições mais benéficas aos trabalhadores” (CORREIA, 2021, p. 1377-1378). Conforme lembra a doutrina, ela não tem caráter compulsório, ou seja, assim como a contribuição confederativa, ela é devida apenas pelos empregados sindicalizados (SCHIAVI, 2021). Nesses termos, vale citar o Precedente Normativo nº 119 do TST: A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados. (Nº 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS – INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS – (mantido) –- DEJT divulgado em 25.08.2014) Mensalidade sindical Por derradeiro, as mensalidades sindicais também não têm caráter compulsório e representam “parcelas mensais previstas nos estatutos do sindicato, pagas exclusivamente pelos empregados filiados ao sindicato” (SCHIAVI, 2021, p. 679). Encontram guarida no art. 548, b, da CLT, segundo o qual constituem o patrimônio das associações sindicais as contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas assembleias gerais. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (VUNESP – Prefeitura de São Roque – Advogado – 2020) Considerando a organização sindical brasileira, é possível afirmar que A as centrais sindicais ostentam personalidade sindical de grau superior, com função negocial em caráter supletivo. B a contribuição sindical é compulsória quando o empregado não se opõe expressamente ao desconto em folha de pagamento. C vigora no ordenamento jurídico pátrio o princípio da pluralidade sindical, tendo em vista as diversas categorias econômicas e profissionais devidamente organizadas. D vigora o princípio da unicidade sindical, em face de comando expresso na Constituição da República. E Parabéns! A alternativa D está correta. Segundo disposição expressa na Constituição Federal (art. 8º, II), é proibida a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial (“é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município”). Isso representa a chamada unicidade sindical consagrada em nosso sistema jurídico. Questão 2 (TRT 24ª Região– Juiz do Trabalho – 2012) É livre a associação profissional ou sindical, observados os seguintes parâmetros, à exceção de um, que deverá ser assinalado: a assistência jurídica prestada pelos sindicatos é direito exclusivo dos associados. A Ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato. B O aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais. C A assembleia geral fixará a contribuição que, em relação à categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei. D É facultada a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. Parabéns! A alternativa D está correta. Segundo o art. 8º da Constituição da República, em seu inciso VI, é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. 2 - Con�itos coletivos de trabalho Ao �nal deste módulo, esperamos que você identi�que as principais características dos con�itos coletivos de trabalho. Con�itos Inerente à existência humana, conflito seria, segundo a doutrina, um gênero marcado pela oposição entre partes. Ele teria como espécies a controvérsia, que representa um conflito em fase de solução, e o dissídio, um conflito sujeitado à análise do Judiciário (CORREIA, 2020). E A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao poder público a interferência e a intervenção na organização sindical. Lembramos que o Direito do Trabalho, por versar sobre as relações de exploração de mão de obra pelo capital, é ambiente muito propício para o surgimento de conflitos entre partes. A doutrina faz um primeiro corte para cindir os conflitos entre econômicos e jurídicos.Os primeiros teriam por objeto pleitos por condições de trabalho, ao passo que os últimos diriam respeito à interpretação ou à aplicação de normas preexistentes (CASSAR, 2020). A título do que é mais importante para nossa análise, podemos ainda dividir os conflitos entre individuais ou coletivos. Neste estudo, nos deteremos aos conflitos no âmbito coletivo ou, mais especificamente, às suas formas de solução. As principais delas são a autotutela, a autocomposição (que compreende conciliação e mediação, acordos e convenções coletivas) e a heterocomposição (subdividida em arbitragem e jurisdição). Veja cada uma delas a seguir. Autotutela A primeira forma de solução de conflitos, a autotutela, não é tão comum hodiernamente. Ela representa a resolução da contenda pela via unilateral, por meio do uso da própria força, caracterizada pela ausência de um juiz entre as partes e a imposição da decisão por uma das partes à outra (CASSAR, 2020). Comentário Conforme dito, não se trata de recurso tão utilizado, embora a doutrina aponte a greve e o lockout como espécies de autotutela. Autocomposição Representa a solução de conflitos em que as partes, por elas mesmas, chegam a uma resolução. Elas criam a norma que dará fim à contenda, representando, em suma, uma “forma de composição voluntária em que as partes fazem concessões recíprocas, mesmo que sob a intervenção de um terceiro” (CASSAR, 2020, p. 87). Como espécies dessa solução concertada no Direito Coletivo do Trabalho, apontamos a conciliação, a mediação e a negociação coletiva (subdividida entre acordos e convenções coletivas). Conciliação e mediação Primeiramente, ressalvamos que parte da doutrina não considera a conciliação e a mediação formas de autocomposição, haja vista a atuação de um terceiro entre as partes. A mediação consiste em forma de solução pela qual “o mediador se insere entre as partes, procurando aproximá-las para que elas cheguem a uma solução consensual do conflito”, ao passo que a conciliação compreende “o ingresso do conciliador entre as partes, o qual se aproximará buscando a solução dos conflitos mediante concessões recíprocas” (SCHIAVI, 2021, p. 692-693). O papel do mediador e do conciliador são levemente distintos: Conciliador Segundo o §2º do art. 165 do CPC, atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes e poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. Mediador Atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes e auxiliará os interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. Nos filiando à doutrina majoritária, entendemos ser a conciliação e a mediação formas de autocomposição, pois, embora haja a atuação de um terceiro, as partes chegam à solução do conflito pela composição entre elas acertada. Esses mecanismos têm a vantagem de evitar a judicialização e o desgaste de um processo judicial, de maneira que muitos órgãos públicos, como o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e a própria Advocacia Pública, vêm criando câmaras de conciliação e mediação, com o objetivo de solucionar os conflitos no seu nascedouro. Negociação coletiva No Direito Coletivo do Trabalho, impera o princípio da autorregulamentação, o qual compreende a possibilidade do estabelecimento de normas coletivas pelos sindicatos. Tais normas, concretizadas por meio de acordos ou convenções coletivas, são frutos de negociações coletivas e representam fontes formais autônomas do Direito do Trabalho. Verifique a seguir as principais características dos acordos e das convenções coletivas. Acordos coletivos Nos termos do artigo 611, §1º, da CLT, é facultado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar acordos coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. Observamos, assim, que o acordo coletivo é �rmado entre o sindicato e empresa(s). Importante notar que, segundo art. 620 da CLT, as condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho. Convenções coletivas Nos termos do art. 611 da CLT, é o acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho.Ou seja, trata-se de negociação firmada entre sindicatos. A legitimidade para celebrar acordos e convenções coletivas A princípio, a legitimidade para celebrar instrumentos coletivos é dos sindicatos. No entanto, a CLT traz duas exceções: Primeira exceção Encontra-se no art. 617 do texto consolidado, segundo o qual os empregados de uma ou mais empresas que decidirem celebrar acordo coletivo de trabalho com as respectivas empresas darão ciência de sua resolução, por escrito, ao sindicato representativo da categoria profissional, que terá o prazo de 8 dias para assumir a direção dos entendimentos entre os interessados, devendo igual procedimento ser observado pelas empresas interessadas com relação ao sindicato da respectiva categoria econômica. Expirado esse prazo sem que o sindicato tenha se desincumbido do encargo recebido, poderão os interessados dar conhecimento do fato à Federação a que estiver vinculado o sindicato e, em falta dessa, à correspondente confederação, para que, no mesmo prazo, assuma a direção dos entendimentos. Esgotado esse prazo, os interessados poderão prosseguir diretamente na negociação coletiva até final. Encartada no §2º do art. 611 da CLT, pelo qual as federações e, na falta desta, as confederações representativas de categorias econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em sindicatos, no âmbito de suas representações. Ou seja, trata-se de hipótese em que inexiste sindicato. Requisitos dos acordos e convenções coletivas Para a celebração de acordos ou convenções coletivas, a doutrina (CASSAR, 2020) apresenta alguns requisitos formais, quais sejam: Segunda exceção A avença deve ser instrumentalizada por escrito. Começando pelo último requisito, acerca do depósito, dispõe o art. 614 da CLT que os sindicatos convenentes ou as empresas acordantes promoverão, conjunta ou separadamente, dentro de 8 dias da assinatura da convenção ou acordo, o depósito de uma via do mesmo, para fins de registro e arquivo, no Departamento Nacional do Trabalho, em se tratando de instrumento de caráter nacional ou interestadual, ou nos órgãos regionais do Ministério do Trabalho e Previdência Social, nos demais casos. Nessa esteira, seu §1º reza que as convenções e os acordos entrarão em vigor 3 dias após a data da entrega de tais instrumentos nos órgãos indicados. A jurisprudência faz a ressalva de que a exigência de depósito do instrumento de convenções e acordos coletivos no órgão ministerial tem como finalidade dar publicidade a esses ajustes. A data da entrega do acordo coletivo no Ministério do Trabalho é irrelevante para a fixação da sua vigência, que independe de qualquer manifestação do Estado. O prazo de vigência deve ser estabelecido. Uma assembleia sindical deve ser realizada. O depósito de uma via deve ser feito no órgão competente. Com efeito, as normas e condições de trabalho negociadas de comum acordo entre as partes convenentes valem por si só, criando direitos e obrigações entre elas a partir do momento em que firmado o instrumento coletivo, na forma dalei (TST, Sétima Turma, RR 49024720115120035, relator Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, j. 05/10/2016, DEJT 07/10/2016). Assim, por respeito à liberdade sindical, não seria coerente com o texto constitucional condicionar a validade dos instrumentos ao seu depósito. Nesses termos, tal protocolo se presta apenas para fins de dar publicidade a eles. Para a celebração de instrumentos coletivos, deve ser realizada assembleia geral, respeitando o quórum estabelecido em lei: conforme art. 612 da CLT, os sindicatos só poderão celebrar convenções ou acordos coletivos de trabalho por deliberação de assembleia geral especialmente convocada para esse fim, consoante o disposto nos respectivos estatutos. Desse modo, o quórum legal funciona da seguinte forma: Convenção coletiva Acordo coletivo 1a convocação 2/3 dos associados 2/3 dos interessados (associados ou não). 2a convocação 1/3 dos associados 1/3 dos interessados (associados ou não). Comentário Se a entidade contar com mais de 5 mil associados, o quórum na segunda convocação será de 1/8 dos associados. Quanto à vigência das negociações coletivas, dispõe o art. 614, §3º da CLT que não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho superior a 2 anos, vedada a ultratividade. Por fim, destacamos oito elementos básicos que devem constar das negociações coletivas, nos termos do art. 613 da CLT: 1. Designação dos sindicatos convenentes ou dos sindicatos e empresas acordantes. 2. Prazo de vigência. 3. Categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelos respectivos dispositivos. 4. Condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante sua vigência. 5. Normas para a conciliação das divergências sugeridas entre os convenentes por motivos da aplicação de seus dispositivos. 6. Disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial de seus dispositivos. 7. Direitos e deveres dos empregados e empresas. 8. Penalidades para os sindicatos convenentes, os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos. Heterocomposição A heterocomposição representa forma de solução dos conflitos coletivos em que um terceiro se põe entre as partes e fixa a solução final para o caso concreto. Entre suas espécies, destacam-se a arbitragem e a jurisdição. Arbitragem Representa a hipótese de heterocomposição em que as partes escolhem um terceiro para agir como árbitro, que decidirá de forma imparcial e definitiva. Segundo o art. 1º da Lei nº 9.307/1996, as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Conforme art. 3º da Lei nº 9.307/1996, as partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Não se tata de meio tradicionalmente utilizado no Direito Coletivo do Trabalho brasileiro, mas representa uma alternativa às partes, que têm nela uma forma heterocompositiva não estatal para a solução de seus conflitos. Jurisdição O meio mais comum de heterocomposição é a submissão do conflito coletivo ao Poder Judiciário. Ou seja, havendo conflito entre as partes e não havendo solução consensual entre elas, elas podem submetê-lo à apreciação desse poder. O instrumento adequado a tanto é o dissídio coletivo. Vejamos mais sobre! Principais aspectos do dissídio coletivo Os dissídios coletivos Entenda melhor, neste vídeo, esse instrumento de jurisdição. Conforme o Regimento Interno do TST (art. 241), os dissídios coletivos podem ser classificados em: Servem para a instituição de normas e condições de trabalho. Visam à interpretação de cláusulas de sentenças normativas, de acordos ou convenções coletivas ou de disposições legais particulares da categoria profissional. Emitem declaração sobre a paralisação. Suscitados quando inexistentes ou em vigor normas e condições especiais de trabalho. Destinados a reavaliar normas e condições coletivas de trabalho preexistentes que se tornaram injustas ou ineficazes pela modificação das circunstâncias que as ditaram. Dissídios de natureza econômica Dissídios de natureza jurídica Dissídio de greve Dissídio originário Dissídio de revisão Requisitos São requisitos para a instauração de um dissídio coletivo: Tentativa de negociação prévia e comum acordo. Autorização em assembleia. Respeito à época própria de ajuizamento. Fundamentação das cláusulas reivindicadas. Cumprimento do estatuto. Sobre os requisitos, vejamos. Tentativa de conciliação prévia e comum acordo Primeiramente, é importante destacar que o sistema jurídico pátrio estabelece a tentativa de conciliação prévia ou arbitragem como um pressuposto à instauração de dissídio coletivo. Conforme §2º do art. 616 da CLT, é facultada aos sindicatos ou empresas interessadas a instauração de dissídio coletivo caso persista a recusa à negociação coletiva, pelo desatendimento às convocações feitas pelo Departamento Nacional do Trabalho ou órgãos regionais do Ministério de Trabalho e Previdência Social, ou se malograr a negociação entabulada. Além disso, o §2º do art. 114 da Constituição da República estabelece que, recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às partes, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. Ressalvamos, por fim, que a doutrina majoritária considera o comum acordo requisito específico apenas dos dissídios econômicos, e não dos demais. Autorização em assembleia Conforme art. 859 da CLT, a representação dos sindicatos para instauração da instância fica subordinada à aprovação de assembleia, da qual participem os associados interessados na solução do dissídio coletivo: Em primeira convocação Por maioria de dois terços. Em segunda convocação Por dois terços dos presentes. Esse requisito é compreensível, pois a verdadeira senhora dos destinos da carreira é ela própria, sendo o sindicato mero instrumento. Dessa maneira, é justificável que essa se manifeste em assembleia. Com efeito, nos termos da OJ 29 da SDC, o edital de convocação da categoria e a respectiva ata da assembleia geral constituem peças essenciais à instauração do processo de dissídio coletivo. Respeito à época própria de ajuizamento Se houver norma fruto de negociação coletiva ou de sentença normativa em vigor, o dissídio coletivo deverá ser instaurado no prazo de 60 dias anteriores ao termo final. Respeitado esse prazo, o novo instrumento terá vigência no dia imediatamente posterior ao final do anterior. Fundamentação das cláusulas reivindicadas Nos termos do artigo 858 da CLT, a representação será apresentada em tantas vias quantos forem os reclamados e deverá conter os motivos do dissídio e as bases da conciliação. Isso significa que o sindicato deverá apresentar os fundamentos do pleito e uma pauta reivindicatória, a fim de que a parte adversa possa sobre ela se manifestar. A OJ 32 da SDC do TST, que considera pressuposto indispensável à constituição válida e regular da ação coletiva a apresentação em forma clausulada e fundamentada das reivindicações da categoria. Cumprimento do estatuto Por derradeiro, além das imposições acima, o sindicato deve cumprir regularmente as demais exigências de seu estatuto. Nesse sentido, digna de nota é a OJ 35 da SDC do TST, pela qual, se os estatutos da entidade sindical contam com norma específica que estabeleça prazo mínimo entre a data de publicação do edital convocatório e a realização da assembleia correspondente, a validade desta última depende da observância desse intervalo. Competência Os dissídios coletivos deverão ser julgados pelos tribunais (TRT ou TST, a depender da abrangência). Casoa extensão do dissídio se restrinja ao âmbito de jurisdição de um tribunal regional do trabalho, a competência será desse respectivo TRT. Todavia, na hipótese de a controvérsia abranger trabalhadores submetidos à jurisdição de TRTs distintos, a competência será do TST. Por fim, cabe uma ressalva: caso o conflito se dê no âmbito do Estado de São Paulo, o único da federação atendido por dois TRTs (TRT-2 e TRT- 15), e o conflito se estenda pela jurisdição desses dois tribunais, a competência será do TRT-2, por expressa disposição legal, constante do art. 12 da Lei nº 7.520/1986. Legitimidade A princípio, os sindicatos são os legitimados para a instauração de dissídios coletivos. No entanto, conforme parágrafo único do art. 857 da CLT, quando não houver sindicato representativo da categoria econômica ou profissional, poderá a representação ser instaurada pelas federações correspondentes e, na falta destas, pelas confederações respectivas, no âmbito de sua representação. Outra hipótese de exceção se refere aos casos em que, frustrada a tentativa de celebrar acordo coletivo, será possível que os empregadores participem do dissídio sem a intervenção do seu sindicato (MIESSA, 2019). Em caso de greve, na falta de entidade sindical, a assembleia geral dos trabalhadores interessados deliberará acerca do movimento paredista, constituindo comissão de negociação. Nessa hipótese, a comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho. Por fim, no caso de greve em serviço essencial, é possível que o Ministério Público do Trabalho instaure dissídio. São considerados serviços ou atividades essenciais: Tratamento e abastecimento de água. Produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis. Assistência médica e hospitalar. Distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos. Funerários. Transporte coletivo. Captação e tratamento de esgoto e lixo. Telecomunicações. Guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares. Processamento de dados ligados a serviços essenciais. controle de tráfego aéreo e navegação aérea. Compensação bancária. Atividades médico-periciais relacionadas com o regime geral de previdência social e a assistência social. Atividades médico-periciais relacionadas com a caracterização do impedimento físico, mental, intelectual ou sensorial da pessoa com deficiência, por meio da integração de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, para fins de reconhecimento de direitos previstos em lei, em especial na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Outras prestações médico-periciais da carreira de perito médico federal indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. atividades portuárias. Procedimento Nos termos do art. 858 da CLT, a representação será apresentada em tantas vias quantos forem os reclamados e deverá conter: Designação e qualificação dos reclamantes e dos reclamados e a natureza do estabelecimento ou do serviço. Os motivos do dissídio e as bases da conciliação. Estando na devida forma, o Presidente do Tribunal designará a audiência de conciliação, dentro do prazo de 10 dias, determinando a notificação dos dissidentes. O empregador poderá fazer-se representar na audiência pelo gerente ou por qualquer outro preposto que tenha conhecimento do dissídio, e por cujas declarações será sempre responsável. Na audiência designada, comparecendo ambas as partes ou seus representantes, o Presidente do Tribunal as convidará para se pronunciarem sobre as bases da conciliação. Caso não sejam aceitas as bases propostas, o Presidente submeterá aos interessados a solução que lhe pareça capaz de resolver o dissídio. Havendo acordo, o Presidente o submeterá à homologação do Tribunal na primeira sessão. Não havendo acordo ou não comparecendo ambas as partes ou uma delas, o presidente submeterá o processo a julgamento, depois de realizadas as diligências que entender necessárias e ouvida a Procuradoria. Submetido o processo a julgamento, será proferida sentença normativa. Sentença normativa A sentença normativa é aquela proferida em dissídios coletivos. Ela pode conter os seguintes tipos de cláusulas (MIESSA, 2019): Econômicas Normas de conteúdo econômico-financeiro. Sociais Condições que não sejam de cunho econômico. Sindicais Relações entre sindicatos e entre sindicatos e empresas. Obrigacionais Impõem obrigações aos entes envolvidos (ex: multa). A decisão em questão terá prazo máximo de 4 anos. Nesses termos, conforme Precedente Normativo nº 120 do TST, a sentença normativa vigora, desde seu termo inicial até que sentença normativa, convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho superveniente produza sua revogação, expressa ou tácita, respeitado, porém, o prazo máximo legal de 4 anos de vigência. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (FGV – 2015 – PGE-RO – Analista da Procuradoria – Processual) O dissídio pode ser classificado como sendo de natureza econômica, jurídica ou de greve. Em relação ao dissídio coletivo de natureza jurídica, é correto afirmar que Parabéns! A alternativa B está correta. O §2º do art. 114 da Constituição da República estabelece que, recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. No entanto, a doutrina majoritária considera o comum acordo requisito específico apenas dos dissídios econômicos, e não dos demais. Desse modo, o dissídio jurídico prescinde (dispensa) do comum acordo. Questão 2 (FCC – 2014 – Prefeitura de Recife/PE – Procurador) Em relação aos instrumentos jurídicos que emanam na negociação coletiva de trabalho, considere: I. Se a negociação coletiva de trabalho for bem-sucedida poderá pacificar o conflito coletivo por meio de acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho. A suas cláusulas possuem extratividade. B prescinde do comum acordo. C serve para a criação de normas jurídicas para uma categoria. D seu prazo máximo de vigência é de 2 anos. E pode ser instaurado de ofício pelo Presidente do Tribunal. II. Se a negociação coletiva de trabalho for mal-sucedida poderá desaguar na greve, na arbitragem e no dissídio coletivo. III. A negociação coletiva de trabalho, se mal-sucedida, não poderá ser solucionada pela arbitragem, pois esse instituto não tem aplicação no Direito do Trabalho, uma vez que é utilizado tão somente para a resolução de conflitos que envolvam direitos patrimoniais disponíveis. IV. A negociação coletiva de trabalho no Brasil foi erigida a status constitucional, se posicionando como um dos meios de resolução de conflitos coletivos trabalhistas. Está correto o que se afirma apenas em Parabéns! A alternativa E está correta. Os acordos ou convenções coletivas são frutos da negociação coletiva de trabalho. Não chegando a um consenso, as partes podem se valer de meios mais drásticos (como a greve) ou a eleição de um terceiro imparcial para a apresentação de uma solução. Esse pode ser um árbitro ou mesmo o Poder Judiciário. Por derradeiro, de fato, o art. 7º, XXVI, CF, dispõe que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social e ao reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho. A I, III e IV. B I e III. C I e IV. D II e III. E I, II e IV. 3 - Greve Ao �nal deste módulo, esperamos que você reconheça os requisitos da greve. Conceituação de greve e suas características A greve é um fenômeno social. Registrada desde os primeiros grandes agrupamentos sociais da humanidade, representa a paralisação coletivade atividades pelos trabalhadores, com o objetivo de reivindicar melhores condições laborais. Não obstante, ela também possui efeitos jurídicos, razão pela qual a estudamos nesta disciplina. O direito de greve Neste vídeo, o professor discorre sobre o direito de greve e suas regras. Modalidades A paralisação de atividades pelos trabalhadores pode se dar de formas distintas, de modo que é possível identificar diferentes modalidades de movimentos paredistas. Veja as principais delas (CORREIA, 2021): Greve branca Os empregados param de trabalhar, mas permanecem em seus postos. Operação tartaruga Há apenas a redução do ritmo de trabalho. Greve trombose Paralisação de apenas um setor estratégico, que acarreta a paralisação dos demais. Greve relâmpago Paralisação por apenas alguns minutos ou horas. Greve política Não há uma reivindicação específica, mas são defendidos interesses políticos, partidários ou religiosos. Direito de greve da Constituição da República de 1988 O direito de greve se encontra consagrado na Constituição da República de 1988. Greve dos petroleiros em Maio de 2018. Com efeito, estabelece o art. 9º do Texto Maior que é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. Segundo seu §1º, a lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. E, por fim, estabelece o texto constitucional que os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. Atenção! Segundo art. 611-B da CLT, inserido pela Reforma Trabalhista, constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução do direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. Desse modo, não seria válido o estabelecimento de vedação do direito de greve a uma determinada categoria, por meio de acordo e convenção coletiva. Não obstante seu status constitucional, o exercício do direito de greve também compreende uma regulamentação inerente, que você verá a seguir. Pagamento de salários É importante lembrar que a greve é causa de suspensão do contrato de trabalho. Conforme art. 7º da Lei nº 7.783/1989, observadas as condições previstas na lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Como é causa de suspensão, os empregados não trabalharão, mas não receberão salários pelo período de paralisação. Apesar disso, segundo o parágrafo único do mesmo dispositivo, é vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos artigos 9º e 14. O artigo 9º aduz que, durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa durante a cessação do movimento. Avisos sobre a falta de combustível em posto em Porto Alegre, devido à paralisação dos caminhoneiros em Maio de 2018. Por sua vez, o artigo 14 lembra que constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na Lei de Greve, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho. Requisitos para o regular exercício do direito de greve Como vimos, é garantido o direito de greve aos trabalhadores. No entanto, não existem direitos absolutos, de maneira que, para o regular exercício do direito de greve, os empregados deverão atender a alguns requisitos. São eles: A greve deve ser pacífica. Deve haver a convocação de assembleia geral. Há necessidade de tentativa de negociação prévia. Deve existir comunicação prévia. Os serviços essenciais devem ser mantidos. Movimento pací�co Primeiramente, para que seja não abusivo, o movimento grevista deve ser pacífico. O art. 6º da Lei de Greve assegura aos grevistas, entre outros direitos, o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve, bem como a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento. Trabalhadores do setor de construção civil em greve na cidade de Eunápolis, Bahia, em abril de 2009. Contudo, em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem. É ainda vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento. Por fim, as manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa. Assim, os empregados poderão se manifestar pacificamente, mas não poderão agredir colegas ou depredar as dependências do empregador. Assembleia geral A verdadeira senhora sobre a decisão de greve é a própria categoria. Desse modo, ela deve ser consultada por meio de assembleia geral. Nos termos do art. 4º da Lei nº 7.783/1989, caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembleia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços. Tentativa de negociação prévia A paralisação de serviços é a última ratio de uma categoria, de maneira que só deve ser utilizada quando esgotados os outros meios compositivos. Ou seja, deve ter havido pelo menos uma tentativa de negociação prévia. Nesses termos, dispõe o art. 3º da Lei nº 7.783/1989 que, frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho. Elucidando a vontade do sistema jurídico, a OJ 11 da SDC dispõe ser abusiva a greve levada a efeito sem que as partes hajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito que lhe constitui o objeto. Comunicação prévia Ainda, a categoria não pode simplesmente paralisar os serviços sem que antes faça uma comunicação ao seu empregador. O parágrafo único do art. 3º da Lei de Greve dispõe que a entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 horas da paralisação. Caso se dê em serviços essenciais, a lei estabelece o prazo de 72 horas para a comunicação prévia da decisão pela greve. Manutenção dos serviços essenciais Conforme artigo 9º da Lei nº 7.783/1989, durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento. Atenção! A OJ 38 da SDC dispõe que é abusiva a greve que se realiza em setores que a lei define como sendo essenciais à comunidade, se não é assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis dos usuários do serviço, na forma prevista na Lei nº 7.783/1989. Greve em serviços essenciais Requisitos Na greve em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 horas da paralisação. Nesses casos, os sindicatos, os empregadorese os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Com efeito, são necessidades inadiáveis da comunidade aquelas que, quando não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. No caso de inobservância dessa manutenção, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis. Outras modalidades de greve Greve no serviço público Lembramos que é assegurado o exercício de greve aos servidores públicos, como exposto no art. 37, VII, CF que dispõe que o direito de greve dos servidores estatais será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica. Embora ainda não tenha sido editada a lei em questão, conforme decidido pelo STF, no bojo dos Mandados de Injunção nº 670, 708 e 712, deve ser aplicada a Lei nº 7.783/1989 às paralisações no serviço público, com as devidas adaptações às peculiaridades do caso. Lockout Por fim, lembramos o lockout (ou locaute) é vedado pelo Ordenamento Jurídico brasileiro. Trata-se da paralisação do empregador com o objetivo de frustrar negociações. Segundo o art. 17 da Lei nº 7.783/1989, é vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout). Trata-se, portanto, de um ato ilícito. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (VUNESP – 2019 – Prefeitura da Estância Turística de Guaratinguetá – Procurador) Em relação à greve, assinale a alternativa correta. A Não se considera atividade essencial o transporte coletivo. B É proibida a contratação de trabalhadores substitutos para os trabalhadores em greve, salvo nos casos previstos em lei. Parabéns! A alternativa B está correta. Conforme o parágrafo único do art. 7º da Lei nº 7.783/1989, é vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos artigos 9º e 14. Desse modo, concluímos que, como regra, não é possível a contratação de trabalhadores substitutos, salvo naquelas hipóteses expressamente previstas em lei. Questão 2 (FCC – 2018 – TRT 15ª Região (SP) – Analista judiciário – Área Judiciária – Oficial de Justiça Avaliador Federal) O direito de greve, assegurado constitucionalmente, não é absoluto. Os serviços e atividades essenciais são definidos por lei, que também disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Nesse sentido, nos serviços e atividades essenciais, C A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 24 horas, da paralisação. D Em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 48 horas da paralisação. E O direito de greve será exercido na forma estabelecida em norma coletiva de trabalho. A caso empregadores e trabalhadores não cumpram a exigência de prestação, durante a greve, dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, o Poder Público deverá assegurar tal prestação. Parabéns! A alternativa A está correta. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Com efeito, são necessidades inadiáveis da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. Em complemento (sendo essa a resposta correta), no caso de inobservância essa manutenção, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis. B os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação de pelo menos 70% dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. C são necessidades inadiáveis da comunidade aquelas que, se não atendidas, trazem prejuízos financeiros às empresas e à população. D as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, ficam obrigados a comunicar a decisão de deflagração da greve aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 48 horas da paralisação. E as entidades sindicais são responsáveis por comunicar a decisão de deflagração da greve aos empregadores, aos usuários e ao Ministério do Trabalho com antecedência mínima de 72 horas da paralisação. Considerações �nais Conforme analisamos, o Direito Coletivo do Trabalho possui certas peculiaridades se comparado ao direito individual. Notadamente, observamos a presença de princípios próprios e de uma paridade entre seus atores, o que afasta o princípio protetivo. Nesse sentido, verificamos a liberdade sindical como princípio basilar da matéria, bem como todos os seus desdobramentos, essenciais para uma ordem social equilibrada. Analisamos o sistema confederativo brasileiro, que tem no sindicato sua figura central, mas também é composto por federações e confederações. Verificamos a importância desses atores e a relevância de sua manutenção para o desenvolvimento equânime das relações trabalhistas. Também observamos como a solução concertada de conflitos pode ser salutar para as relações sociais, razão pela qual se observa o patamar ao qual foram elevados os acordos e convenções coletivas pelo ordenamento jurídico pátrio. Ainda, analisamos a relevância dos dissídios coletivos e como esses podem se apresentar como saídas possíveis, na inexistência de consenso entre as partes. Por fim, vimos que os requisitos para o regular exercício das greves são: um movimento pacífico, deliberado em assembleia geral, de cujo resultado será previamente comunicado ao empregador. Além disso, como última ratio que é, o movimento paredista não abusivo pressupõe uma tentativa de negociação prévia. Além disso, os grevistas devem garantir a manutenção dos serviços essenciais à comunidade. Dessa forma, conclui-se a greve como meio de reivindicação de melhores condições de trabalho, mas, vislumbramos, em contraface, as obrigações que dela decorrem. Podcast Ouça mais sobre as negociações coletivas no processo do trabalho e sobre o dissídio coletivo. Explore + Confira as indicações que separamos para você! Leia os livros: História do Sindicalismo no Brasil, de Michel Zaidan. Negociação Coletiva de Trabalho, 2. ed, de Antonio Carlos Aguiar. Conflitos coletivos de trabalho – A arbitragem como método alternativo de resolução de lides, de Maria Cecília Weigert Lomelino de Freitas Ahrens. Assista ao filmes e documentário: Chão de fábrica - Um documentário sobre a história do sindicalismo, de Renato Tapajós (2018). Dias de greve, de Adirley Queiróz (2009). 1917, A Greve Geral, de Carlos Pronzato (2017). Referências CASSAR, V. B. Direito do Trabalho. 17. ed. Rio de Janeiro: Método, 2020. CORREIA, H. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. DELGADO, M. G. Curso de Direito do Trabalho. 17. ed. São Paulo: LTr, 2018. MIESSA, E. Processo do Trabalho. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2019. SCHIAVI, M. Manual Didático de Direito do Trabalho. Salvador: Juspodivm, 2021. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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