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AULA 17 – DIARREIA AGUDA – DR. ANDRÉ ABISSAMRA DEFINIÇÃO: Diminuição da consistência das fezes com aumento de sua frequência (em geral, 3 ou mais evacuações por dia), as diarreias agudas tem duração de até 14 dias. Hábito intestinal normal é até 3 vezes na semana ou 2 vezes por dia. Algumas definições de diarreia utilizam o peso das fezes, considerando o volume fecal maior que 200-250 g/dia como compatível com quadro de diarreia, mas essa definição é pouco útil na prática. EPIDEMIOLOGIA: Nos EUA, 100 milhões de casos por ano – apenas 10% procuram atendimento médico (geralmente idosos). Custo estimado de 20 bilhões de dólares por ano. Mortalidade em torno de 1% (na cólera chegava a 50% antes do soro de rehidratação oral). CLASSIFICAÇÃO • Aguda – duração de até 14 dias • Persistente – 14 a 28 dias (mais comum na pediatria) • Crônica – mais de 4 semanas ETIOLOGIA: Em 90% dos casos a diarreia aguda apresenta uma causa infecciosa e a ingestão de água e alimentos contaminados com microrganismos patogênicos é a principal fonte de transmissão da doença. Mais de 80% dos casos são autolimitados, porém as diarreias agudas infecciosas ainda representam uma das 5 principais causas de mortalidade mundial, principalmente considerando os casos que ocorrem em países de poucos recursos. Entre as causas não infecciosas se destacam o uso de medicações com substâncias osmóticas, síndromes de má-absorção (raramente causa de diarreia aguda). Causas não infecciosas Vírus Bactérias Toxinas • Medicações ou uso de outras substâncias osmóticas • Substâncias contendo magnésio • Síndrome de má-absorção • Medicações que causam diarreia por outros meios (antibióticos como Clavulanato) • Calicivírus, entre eles os norovírus) • Rotavírus • Adenovírus • Astrovírus • Vibrio cholera • Escherichia coli • Shigella • Salmonella • Campylobacter • Yersínia enterocolítica • Clostridium perfringens • Klebsiella oxytoca • Estafilococos • Clostridium • Bacilus cereus • E. coli FISIOPATOLOGIA:É decorrente pelo aumento de secreção intestinal mediado por toxina estimulada pelos produtos bacterianos ou por lesão intestinal com diminuição da absorção (pelo patógeno ou por citotoxina). Nesses casos, a diarreia costuma ser precoce, podendo ocorrer em até poucos minutos após a ingestão. Assim, a instalação abrupta de quadro diarreico, de minutos até seis horas após a ingesta suspeita, sugere toxinas pré-formadas como causa mais provável, sendo S. aureus e Bacillus cereus as etiologias mais comuns. LOCALIZAÇÃO • Diarreia alta – proveniente do intestino delgado, os episódios diarreicos são mais volumosos, com restos alimentares e odor pútrido. Causa síndrome desabsortiva associada com esteatorreia. Cursa com diarreia não inflamatória. • Diarreia baixa – proveniente do cólon (absorve água) sendo evacuações em pouca quantidade, frequentes, associadas a tenesmo e urgência fecal. Associada principalmente a colites, quase sempre inflamatórias. Pode haver muco, pus ou sangue (diagnóstico diferencial com doenças inflamatórias intestinais). DIARREIA INFLAMATÓRIA X DIARREIA NÃO INFLAMATÓRIA:É a principal distinção a ser feita no pronto socorro! ▪ Diarreia não inflamatória – fezes em grande volume e aquosas, usualmente se produtos patógenos, pode ter febre baixa. Causada principalmente por infecções virais (60%), bactérias (20%) e protozoários (5%). Tende a ser autolimitada, em geral, a terapia de rehidratação oral é suficiente. ✓ Osmótica: fezes com GAP osmótico elevado (ex: manitol para fazer colonoscopia) ✓ Secretora: eletrólitos são secretados para o lúmen intestinal (ex: cólera) ✓ Motora: alteração na motilidade (ex: Síndrome do intestino irritável) ▪ Diarreia inflamatória (Disenteria) – caracterizada por evacuações frequentes, usualmente de menor volume, com presença de produtos patógenos nas fezes, como muco, pus ou sangue. Febre é frequente, com temperaturas em torno de 38,5°C, toxemia, dor abdominal intensa e tenesmo. As fezes apresentam uma grande quantidade de leucócitos e de sangue quando avaliadas em exame coprológico. As causas mais frequentes são bactérias enteroinvasivas (agressivas para a mucosa intestinal). Etiologia Incubação Duração da diarreia sem tratamento Diarreia com sangue Febre Vômitos Epidemiologia Shigella 1 a 2 d 4 a 7 d +++ +++ +++ Oral-fecal, aves e higiene inadequada Salmonella 8 a 24 h 2 a 5 d ++ +++ ++ Aves, ovos, leite, saladas e maioneses Yersinia 12 a 24 h 5 a 14 d + +++ + Oral-fecal, água e alimentos contaminados Campylobacter 2 a 5 d 5 a 14 d + +++ + Água e alimentos contaminados E. coli enterohemorrágica 0157:H7 3 a 8 d 5 a 10 d ++++ + +/++ Carne e hambúrguer pouco cozidos Vibrio parahaemolyticus 8 a 24 h 1 a 2 d + + + Alimentos do mar pouco cozidos E. coli enterotoxigênica 1 a 3 d 2 a 5 d - - + Água e alimentos contaminados S. aureus 1 a 8 h 1 a 2 d - - ++++ Ingestão de alimentos contaminados com toxina pré- formada termorresistente. B. cereus 1 a 8 h 1 a 2 d - - ++++ Arroz pouco cozido, vegetais e carnes C. perfringens 8 a 16 h 1 a 2 d - - + Carne pouco cozida Clostridium difficile Até 28 d 1 a 10 d + + - Associada ao uso de antibióticos Apresentação clínica da diarreia Germes mais frequentes Tratamento antibiótico empírico Aquosa (não inflamatória) Vírus, E. coli enterotoxigênica, E. coli enteropatogênica e Toxinas (S. aureus e B. cereus) Nenhum Inflamatória Shigella, Salmonella, Yersinia enterocolitica e Campylobacter jejuni Ciprofloxacina (500mg VO de 12/12h) Hemorrágica (sem inflamação) E. coli enterohemorrágica e Sorotipo O157:H7 Nenhum Aquosa grave (“água de arroz”) Vibrio cholerae (epidemia) e E. coli enterotoxigênica Se epidemia de cólera: ciprofloxacina (1g VO dose única) ou norfloxacina (400mg VO de 12//12h por 3 dias) Diarreia associada ao uso de antibióticos C. difficile A prioridade é suspender os antibióticos. Se diarreia grave, a escolha é metronidazol (500mg VO de 8/8h por 10 a 14 dias) Colono- vê placas com pseudomembranas Vancomicina-via oral também pode AVALIAÇÃO INICIA,História clínica: recordatório alimentar, histórico de viagens, contactantes. Avaliar gravidade da desidratação, se há queda do estado geral, toxemia e comorbidades.A maioria dos pacientes não tem necessidade de exames complementares. Pacientes com comorbidades, toxemiados, com hipotensão, diarreia inflamatória importante e imunodeprimidos têm indicação da realização de exames complementares que incluem: hemograma completo, eletrólitos e função renal. Pode-se considerar proteína C - reativa (apenas em pacientes graves). TRATAMENTO: Os distúrbios hidroeletrolíticos são as consequências mais graves da diarreia aguda (na cólera pode chegar a 20 L/dia).A Terapia de Rehidratação Oral é o método de escolha, eficaz em 90% dos pacientes com menores custos e menos complicações que a terapia parenteral (EV). ▪ Mecanismos de cotransporte glicose-sódio, em geral não é afetado pelas toxinas. ▪ Se vômitos, administrar antiemético (Metoclopramida, Bromoprida ou Ondansetrona) antes de iniciar a TRO. ▪ Quando a hidratação parenteral é indicada (hipotensão, taquicardia, desidratação grave, falência da TRO após 8 horas, vômitos intratáveis) fazer no modo de expansão volêmica de 20 ml/kg em 15 minutos (se mais de 3 vezes, investigar outras causas como sepse). ▪ Iniciar alimentação precoce constipante quando possível, pois ajuda a fisiologia intestinal voltar ao normal. DROGAS ANTI-MOTILIDADE E ANTI-SECRETORAS: • Evitar uso de anti-molíticos (Imosec – Loperamida) devido ao risco maior de complicações. Em casos selecionados pode prescrever em associação com antibiótico. • Racecadotril (Tiorfan) é um anti-secretor, pode ser utilizado 100 mg 8/8h em casos selecionados sem aumento das complicações. PROBIÓTICOS: Reforço da barreira mucosa intestinal; Sem contraindicações sérias; Podem ser utilizados mais com benefíciosquestionáveis. Ex: Floratil 200 mg VO 12/12h ANTIBIOTICOTERAPIA EMPÍRICA:A primeira escolha é o Ciprofloxacina 500 mg VO 12/12h por 5 dias. Apenas para pacientes com diarreia aguda mucossanguinolenta e queda do estado geral e/ou imunossuprimidos • Alternativa às quinolonas: Cefalosporinas de 2ª ou 3ª geração (gestantes) – Cefuroxima 250-500 mg 12/12h ou Ceftriaxone 2 g EV 1x/dia • EVITAR SEU USO: História recente de uso de antibióticos (colite pseudomembranosa, deve-se tratar inicialmente com metronidazol oral); Diarreia sanguinolenta com leucócitos ausentes nas fezes (E. coli enterohemorrágica O157:H7 – Síndrome hemolítica urêmica) Só usar em casos selecionados e se usar dar antibiótico por conta de bactérias invasivas
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