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RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA SP 3.2 – DE UMA HORA PARA OUTRA... – ABDOME AGUDO MÓDULO DE GASTRO 1. COMPREENDER A SEMIOLOGIA DO ABDOME AGUDO SEMIOLOGIA CLÍNICA DO ABDOME ANAMNESE - INTERROGATÓRIO COMPLEMENTAR Ao tentar determinar a etiologia da dor abdominal de um paciente, é importante considerar a idade, sexo, histórico médico e cirúrgico, medicamentos em uso, além de caracterizar a dor da maneira mais precisa possível. ____________________________________________ Sexo e idade: muito importante a faixa etária do paciente, pois várias patologias cirúrgicas são mais comuns no jovem ou no idoso. Por exemplo, a apendicite aguda, principal causa de abdome agudo, tem o pico de incidência entre a 2ª e 3ª décadas de vida. Já a diverticulite aguda, obstrução intestinal por neoplasia colorretal e volvo de sigmoide são mais comuns no paciente idoso. ____________________________________________ HDA: dados relevantes, como início dos sinais e sintomas, características semiológicas de dor (localização, irradiação, duração, intensidade, fator de melhora e piora), sintomas associados, como febre, náuseas, vômitos, distensão abdominal, ruídos hidroaéreos intestinais, hematêmese e/ou melena, entre outros, são de vital importância. A dor é o principal sintoma na síndrome do abdome agudo. A investigação das características da dor pode, muitas vezes, orientar a etiologia do quadro. É possível classificar a dor em três tipos: visceral, somática e referida. A dor visceral normalmente é mal localizada, ao longo da linha média, causada por distensão ou estiramento dos órgãos, e costuma ser a primeira manifestação das afecções intra-abdominais, principalmente no abdome agudo inflamatório. A dor somática é mediada por receptores ligados a nervos somáticos existentes no peritônio parietal e na raiz do mesentério, sendo responsável por sinais propedêuticos, como a contratura involuntária e o abdome “em tábua”. A dor referida é decorrente da convergência no corno posterior da medula, de nervos provenientes das vísceras e da pele, o que explica a sensação dolorosa superficial nesses quadros. ____________________________________________ Antecedentes pessoais: são de grande importância, e não devem ser relegados a um segundo plano. Frequentemente, uma doença no passado poderá ser a causa direta ou indireta da atual. Além de investigar diabete melito, hipertensão arterial, tabagismo, alcoolismo e hábitos de vida ____________________________________________ Cirurgia e procedimentos prévios: cirurgia abdominal prévia é um fator de risco para obstrução intestinal por bridas (principal causa de abdome agudo obstrutivo), CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica) pode complicar com pancreatite, colangite, hemorragia digestiva alta e perfuração duodenal. ____________________________________________ Uso de medicamentos: são inúmeras as medicações que podem estar correlacionadas à dor abdominal. O médico sempre deverá levar em consideração as possíveis interações medicamentosas. Como exemplos, temos: • Anti-inflamatórios: predisponentes à doença ulcerosa péptica; • Opioides e antidepressivos: podem causar constipação; • Uso crônico de corticoides e imunossupressores: podem diminuir a resposta inflamatória e consequentemente a dor do paciente; RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA • Pancreatite: pode ter origem medicamentosa, por exemplo, com o uso de sulfonamidas, metronidazol, tetraciclina, diuréticos etc. • Anticoagulantes: podem predispor a sangramentos. ____________________________________________ Álcool: tem relação com a pancreatite, doenças hepáticas. Drogas ilícitas: cocaína pode causar espasmo arterial e isquemia cardíaca e mesentérica. Histórico de viagens: gastroenterites, colites. História familiar: Doenças com caráter hereditário poderão manifestar-se em qualquer época da vida. Diabete melito, hipertensão arterial, neoplasias e doença inflamatória intestinal, por exemplo. ____________________________________________ DIVISÃO TOPOGRÁFICA DO ABDOME Nesse caso, a divisão topográfica do abdome é realizada por três linhas transversais, três verticais, os rebordos costais e a arcada inguinal. ➢ As linhas horizontais são traçadas, umas paralelas às outras, na altura do apêndice xifóide, extremidade da 10a costela e altura das espinhas ilíacas anteriores e superiores; ➢ As linhas verticais são ligeiramente oblíquas de cima para baixo e de fora para dentro, partindo da extremidade da 10a costela e vindo a atingir as extremidades direita e esquerda do ramo horizontal do púbis. O limite inferior é dado pela arcada ilíaca e ramo horizontal do púbis Usando as linhas anteriormente mencionadas, dividiremos o abdome em três andares distintos: superior, médio e inferior. Cada um desses andares poderá ser subdividido em três sub-regiões, uma central e duas periféricas. Assim delimitadas teremos as seguintes regiões: • 1º Andar superior: a) epigástrio, b) e c) hipocôndrios, direito e esquerdo, respectivamente; • 2º Andar médio: a) região umbilical, b) e c) regiões laterais ou flancos, direito e esquerdo, respectivamente; • 3º Andar inferior: a) região hipogástrica, b) e c) fossas ilíacas ou regiões inguinais, direita e esquerda, respectivamente. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ INSPEÇÃO: • FORMA: PLANO, GLOBOSO, ESCAVADO • SIMÉTRICO OU ASSIMÉTRICO • DISTRIBUIÇÃO DE PELOS (CIRROSE PODE AFETAR) • ABAULAMENTO • RETRAÇÃO • HÉRNIA - MANOBRA DE VALSAVIA • LESÕES • CICATRIZES • CICATRIZ UMBILICAL • ONDAS PERISTÁLTICAS • CIRCULAÇÃO COLATERAL (HIPERTENSÃO PORTA - CABEÇA DE MEDUSA) ____________________________________________ AUSCULTA: • MOTILIDADE INTESTINAL • RUÍDOS HIDROAÉREOS • SOPROS (AORTA ABDOMINAL, ARTÉRIAS RENAIS DIRETA E ESQUERDA, ARTÉRIA ILÍACA DIREITA E ESQUERDA E ARTÉRIAS FEMORAIS DIREITA E ESQUERDA) *Paciente hipertenso: sempre se ausculta artéria renal para procurar estenose da artéria renal • ATRITOS • AUSCULTAR OS 4 QUADRANTES. ____________________________________________ PERCUSSÃO: • SOM TIMPÂNICO – ÓRGÃOS OCOS (INTESTINO) • SOM MACIÇO – ÓRGÃOS MACIÇOS (FÍGADO E BAÇO) • PERCUTIR TODO O ABDOME PARA AVALIAR A DISTRIBUIÇÃO DOS GASES. • HEPATIMETRIA Borda superior do fígado: percutir desde o espaço subclavicular na linha hemiclavicular até sentir o som saindo um som claro pulmonar (timpânico) para um som maciço. Borda inferior do fígado: percutir desde a linha da borda da fossa ilíaca até sentir o som saindo de timpânico para maciço. *Descrever que a hepatometria foi realizada na linha hemiclavicular *Se for encontrado som timpânico no meio do fígado indica pneumoperitoneo • ESPAÇO DE TRAUBE Percutir entre a linha axilar média e anterior logo após a reborda costal. ** O normal é um som timpânico, sim maciço em espaço de traube indica esplenomegalia ____________________________________________ PALPAÇÃO: • PALPAÇÃO SUPERICIAL • PALPAÇÃO PROFUNDA • FÍGAGO (LEMOS-TORRES) • MANOBRAS: GIORDANO (RINS) BLUMBERG (PERITONITE, APENDICITE) ROVSING (APENDICITE) PSOAS (APENDICITE) OBTURADOR (APENDICITE) MURPHY (COLECISTITE) PIPAROTE (ASCITE) SEMICÍRCULO DE SKODA (ASCITE) RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA 1. Superficial: Com a mão espalmada e sempre nas nove regiões anatômicas • Sempre deixar o local que a pessoa referir dor por último • Pontos de sensibilidade • Relaxamento do abdome • Reflexo cutâneo abdominal (usado para identificar lesões na coluna) 2. Profunda: Usar as duas mãos • Palpar a BORDA do fígado:- 2 técnicas: a de garra (Mathieu) e a de apoiar a mão direita abaixo da cintura para empurrar o fígado para cima (lemos torres) - Analisar a superfície dessa borda • Palpar a aorta abdominal e artéria renal (procurar ondulações: indicativos de estenose e aneurisma); • Busca por ascite (em caso de suspeita): - Grave: Piparote com a mão do paciente no meio do abdome impedimento a transmissão da onda pela pele - Média: maciez móvel (virar o paciente dos dois lados e observar se o som maciço acompanha a gravidade) - Pequena: levantar o paciente (difícil diagnóstico) - Semicírculo de Skoda: no meio perto do umbigo o som será timpânico e ao redor para baixo será maciço • Palpação de baço: Palpar o baço não é normal, utiliza-se a mesma técnica usada no fígado (pode usar o paciente em posição de Schuert); MANOBRAS E SINAIS: Sinal de Blumberg: dor a descompressão Pode ser feito em todo o abdome e indica PERITONITE (sinal de Blumberg positivo no ponto McBurney indica APENDICITE). Sinal de Rovsing: dói do lado oposto ao que foi palpado quando o ar é comprimido e forçado a voltar (indica também inflamação no peritônio e pode apontar uma APENDICITE). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Sinal de Murphy: interrupção da inspiração em resposta a dor quando a vesícula é palpada (palpa-se e pede ao paciente para expirar e inspirar, o examinador aprofunda e permanece com o dedo, depois pede de novo para inspirar profundamente e ele vai interromper essa inspiração por conta do toque da mão a ponta da vesícula) (indica COLECISTITE AGUDA). Sinal de psoas: indica inflamação do músculo psoas. (APENDICITE) Sinal de obturador: inflamação próximo ao músculo obturador. (APENDICITE) 2- ENTENDER ABDOME AGUDO E SEUS TIPOS (FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS, TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES) Define-se abdome agudo como uma síndrome dolorosa aguda de intensidade variável, que leva o paciente a procurar a Urgência e requer tratamento imediato, clínico ou cirúrgico. Não tratado, evolui para piora dos sintomas e progressiva deterioração do estado geral. É um grande quadro clínico abdominal variável que pode ser dividido em síndromes, sendo cada uma delas caracterizada por diferentes formas de instalação e progressão a depender da sua etiologia. A necessidade de diagnóstico e tratamento imediatos é o que define o quadro. Esse cenário clínico desafiador requer uma avaliação completa e rápida para determinar se há necessidade de intervenção cirúrgica e para dar início à terapia adequada. A maioria dos casos requer encaminhamento cirúrgico. As características semiológicas, observadas no exame clínico por meio da anamnese e do exame físico, são os principais fatores que conduzirão o médico ao diagnóstico e à possível conduta. As condições clínicas que simulam um abdome agudo devem ser afastadas para que haja a correta abordagem terapêutica. Nos casos de dor abdominal, dois objetivos se impõem: definir se se trata ou não de abdome agudo e o diagnóstico específico do paciente. Nem sempre o diagnóstico definitivo é possível antes do tratamento e o diagnóstico sindrômico é essencial. É mais importante acertar a conduta que o diagnóstico. Depois de concluído o diagnóstico de abdome agudo, é necessário classificá-lo em um de seus subtipos: inflamatório, perfurativo, obstrutivo, hemorrágico ou vascular (isquêmico). ____________________________________________ Nem toda dor abdominal é um quadro de abdome agudo. Pode tratar-se de um falso abdome agudo, e isso ocorre quando o paciente tem dor abdominal, mas a origem do problema é extra-abdominal. Muitas doenças, algumas das quais não são cirúrgicas ou mesmo intra-abdominais, podem produzir dor abdominal aguda. Causas não cirúrgicas de abdome agudo podem ser divididas em três categorias, endócrinas e metabólicas, hematológicas e toxinas ou drogas. • Causas endócrinas e metabólicas incluem uremia, crises diabéticas, crises addisonianas, porfiria intermitente aguda, hiperlipoproteinemia aguda e febre hereditária do Mediterrâneo. • Os distúrbios hematológicos são crises de célula falciforme, leucemia aguda e outras discrasias sanguíneas. • As toxinas e substâncias que provocam abdome agudo incluem envenenamento por chumbo e por outros metais pesados, abstinência de narcótico e envenenamento por picada da aranha viúva-negra. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A cavidade peritoneal é revestida pelo peritônio, uma membrana serosa derivada do mesênquima que possui uma extensa rede capilar sanguínea e linfática, com função protetora por meio da exsudação, absorção e formação de aderências. Topograficamente, a membrana peritoneal divide-se em visceral e parietal. A dor abdominal é dividida em componentes viscerais e parietais. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA ➢ O peritônio visceral é inervado pelo sistema nervoso autônomo. Ela tende a ser vaga e imprecisamente localizada no epigástrio, região periumbilical ou hipogástrio, dependendo de sua origem do intestino embrionário anterior, médio e posterior. A dor abdominal secundária à irritação do peritônio visceral (autônoma) é mal localizada e origina- se pela distensão e contração das vísceras ➢ O peritônio parietal, pelo sistema nervoso cerebroespinal, o mesmo da musculatura da parede abdominal. A dor na parede abdominal depende do comportamento das raízes dos nervos segmentar que inervam o peritônio e tendem a ser mais agudas e mais bem- localizadas. A dor que segue a irritação do peritônio parietal (cerebroespinal) é contínua, progressiva, piorando com a movimentação e sendo também mais localizada. A dor referida é a dor percebida em um local distante da fonte do estímulo. Por exemplo, a irritação do diafragma pode produzir dor no ombro. A peritonite pode afetar toda a cavidade abdominal ou parte do peritônio visceral ou parietal. A peritonite é uma inflamação peritoneal de qualquer causa. Em geral, é reconhecida no exame físico por sensibilidade intensa à palpação, com ou sem descompressão brusca positiva e retração abdominal à compressão. A peritonite é geralmente secundária a uma agressão inflamatória, mais frequentemente uma infecção Gram-negativa por um organismo entérico ou anaeróbio. Pode resultar de inflamação não infecciosa, sendo um exemplo comum a pancreatite. A peritonite primária ocorre mais comumente em crianças e é mais frequentemente causada por Pneumococcus ou Streptococcus spp hemolítico. Adultos com doença renal terminal em diálise peritoneal podem desenvolver infecções do líquido peritoneal, os organismos mais comuns são os cocos Gram-positivos. Adultos com cirrose e ascite podem desenvolver peritonite primária e, nesses casos, os organismos são geralmente Escherichia coli e Klebsiella spp. ____________________________________________ ETIOLOGIAS As causas mais comuns de abdome agudo são apendicite aguda, gastroenterite aguda, síndrome do intestino irritável, várias cólicas e dor na ovulação. O abdome agudo pode ser dividido em grandes síndromes: ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO Pode ser definido como quadro de dor abdominal súbito e inesperado, originado de um processo inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade abdominal, órgãos ou estruturas adjacentes. Em algumas situações, o quadro apresenta-se com peritonite, sendo mandatório o manejo cirúrgico nesses casos. Peritonite é uma inflamação da serosa que recobre as paredes internas e as vísceras abdominais, independente da causa, intensidade ou extensão. Pode ocorrer por infecção, substâncias químicas irritantes ou presença de corpos estranhos. Alguns sinais de peritonite são: sensibilidade abdominal, distensão/rigidez muscular,náuseas e vômitos. Existem diversas causas de Abdome Agudo Inflamatório (AAI), mas suas principais etiologias são: apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda e diverticulite aguda O diagnóstico de um abdome agudo inflamatório pode ser inferido através de anamnese e exame físico. Exames de imagem e laboratório são uteis para estabelecer o diagnóstico etiológico. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA A apendicite é a causa mais comum de abdome agudo cirúrgico no mundo, podendo ocorrer em qualquer faixa etária, embora seja mais comum em adolescentes e adultos jovens. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA • Colecistite: Jovens e idosos - Sexo feminino. • Pancreatite: Causa biliar: sexo feminino Causa alcoólica: sexo masculino • Apendicite: 10-20 anos - Sexo masculino • Diverticulite > 50 anos ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia do AAI baseia-se na extensão do processo inflamatório/infeccioso ao peritônio e às modificações do funcionamento do trânsito intestinal. Todo agente inflamatório ou infeccioso, ao atingir o peritônio, acarreta irritação do mesmo, cuja intensidade é diretamente proporcional ao estádio do processo etiológico. Após instalada a peritonite, a deterioração clínica do indivíduo pode ser rápida, constituindo sinal de gravidade e mau prognóstico. Segue-se a instalação progressiva de íleo paralítico localizado ou generalizado. Esse fenômeno é justificado pela lei de Stokes que diz: “Toda vez que a serosa que envolve uma musculatura lisa sofre irritação, esta entra em paresia ou paralisia.” Por outro lado, a resposta do peritônio parietal exterioriza-se clinicamente por dor mais bem localizada e contratura da musculatura abdominal localizada ou generalizada, dependendo da evolução do processo. É importante salientar que a contratura muscular pode ser voluntária ou, mesmo, determinada por doença extra-abdominal. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA A dor abdominal é o sintoma preponderante no AAI, podendo ser decorrente de um processo recente, como na apendicite aguda, ou crônico agudizado tal qual nos casos de colecistite aguda por litíase biliar ou diverticulite por doença diverticular do cólon. Costuma ser progressiva e quando evolui com piora progressiva uma conduta cirúrgica é necessária na maioria das vezes. Dor exacerbada a movimentação é comum em abdome agudo inflamatório e indica peritonite Náuseas e vômitos podem ocorrer na evolução do AAI, podendo ser resultado do quadro álgico intenso ou até mesmo de estase intestinal secundária à irritação do peritônio visceral. A febre é um sintoma comumente observado, podendo surgir já nas fases iniciais do processo, com temperaturas mais brandas, piorando com a evolução do quadro, sobretudo quando há processo supurativo instalado. Obstipação comumente ocorre secundária à paralisia das alças intestinais. Entretanto, diarreia pode estar presente, sobretudo em casos de abscessos pélvicos. _________________________________ TRATAMENTO O tratamento do AAI baseia-se em tratamento de suporte e específico: 1. Analgesia; 2. Reposição volêmica; 3. Correção de distúrbios eletrolíticos; 4. Tratamento do íleo adinâmico → jejum, sonda nasogástrica nos casos de distensão gástrica e intestino delgado considerável ou vômitos incoercíveis; 5. Antibioticoterapia ou antibioticoprofilaxia; 6. Tratamento de falência orgânica se houver → internamento em UTI (mais comumente observado na pancreatite aguda grave). ____________________________________________ DIAGNÓSTICOS ETIOLÓGICOS 1. Apendicite Aguda A apendicite aguda se dá por obstrução do lume apendicular por corpo estranho ou processo inflamatório. • Dor abdominal: Contínua, cólica • Localização: Epigástrica/ Periumbilical • Fossa ilíaca direita (ponto de McBurney) • Náuseas e vômitos • Febre Baixa – moderada (38°C) *Pode estar ausente nas fases iniciais Habitualmente encontra-se o indivíduo em posição antálgica e com um bom estado geral. Pode haver sinais de irritação peritoneal, com contratura da musculatura abdominal e/ou defesa voluntária à palpação. Sinais de Blumberg, Rovsing, Psoas e Obturador positivos. Tratamento: A apendicectomia é o tratamento padrão da apendicite complicada e não complicada. ____________________________________________ 2. Colecistite Aguda Inflamação química e/ou bacteriana da vesícula biliar. Causas comuns são litíase vesicular ou colelitíase. Normalmente se dá por impactação de um cálculo, gerando estase do conteúdo biliar e, consequentemente, um fluxo retrógrado. A estase desse conteúdo gera fenômenos vasculares e inflamatórios. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA • Dor abdominal: cólica, relacionada a ingestão de alimentos (secreção de colecistocinina > contração da vesícula biliar) • Localização: Hipocôndrio direito > epigástrio > dorso. *Pode se tornar difusa • Náuseas e vômitos • Febre > 38°C O estado geral costuma estar preservado, podendo apresentar com prometimento na dependência da intensidade do processo inflamatório. Pode haver irritação peritoneal e icterícia por impactação de cálculo no infundíbulo – essa impactação ocasiona edema e obstrução do ducto hepático comum, a chamada Síndrome de Mirizzi, e consequentemente, colestase. Sinal de Murphy positivo. Tratamento: Antibioticoterapia empírica: cefazolina, cefuroxima ou ceftriaxona nos casos leves a moderado. Nos casos mais graves podem ser usados carbapenêmicos, betalactâmicos com inibidores de betalactamase, fluoroquinolonas com metronidazol. Colecistectomia de emergência em pacientes com instabilidade hemodinâmica ou dor intratável e para aqueles com complicações. Para os indivíduos estáveis, a colecistectomia deve ser realizada no mesmo internamento, dentro de três dias após o início dos sintomas – pacientes ASA I ou II. Pacientes ASA III, IV ou V, sem indicação de colecistectomia de emergência, pode ser feito tratamento não cirúrgico inicialmente antibioticoterapia e drenagem da vesícula biliar. Caso não respondam, tratamento cirúrgico deve ser instituído. Prefere-se cirurgia laparoscópica à laparotomia. ____________________________________________ 3. Pancreatite aguda Processo inflamatório do pâncreas por ativação enzimática inadequada. Apresenta um quadro menos bem caracterizado. 80% dos casos estão relacionados à doença biliar litiásica ou ingestão de álcool, mas outras causas podem ser apresentadas, como trauma e infecções. • Dor: intensa e difusa • Localização: região epigástrica com irradiação para dorso (dor em faixa) • Náuseas e vômitos precoces e volumosos • Íleo paralítico: parada de eliminação de fezes e flatos e redução dos ruídos hidroaéreos • 80 a 90% dos casos tratam-se de casos leves com a presença de um estado geral regular e posição antálgica, sinais de desidratação e hipovolemia. • Nos casos de pancreatite grave (10 a 20%) pode-se encontrar um indivíduo com comprometimento do estado geral, taquicárdico, taquidispneico, hipotenso e com abdome distendido apresentando sinais de peritonite. • Se associado à litíase biliar, pode apresentar icterícia. Sinal de Cullen e de Grey Turner positivos. Esses sinais são apresentados em casos severos e após quadro mais tardio e são evidências de hemorragia retroperitoneal. A elevação da amilase sérica ocorre de forma mais precoce, normalizando após 48h, enquanto a lipase eleva-se mais tardiamente, porém os níveis permanecem altos por mais tempo. Portanto, a amilase é mais sensível. Os achados de clínicos e laboratoriais, assim como os achados de imagem, podem serutilizados para classificação prognóstica, pelas escalas de Apache II e classificação de Balthazar. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Tratamento: • Ressucitação volêmica agressiva nas primeiras 24 horas; • Nutrição enteral após o quinto dia caso não tolere dieta oral; • Antibioticoterapia em caso de infecção documentada a partir da segunda semana de suporte clínico; • Estão indicadas terapias minimamente invasivas nos casos de complicações a partir da quarta semana, como a ultrassonografia endoscópica em vigência de pseudocisto pancreático; • CPRE nos casos de pancreatite secundária a colelitíase com evidência de colangite sobreposta. ____________________________________________ ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO Abdome agudo obstrutivo (AAO) é uma situação de emergência na qual se encontra um fator obstrutivo em trato gastro intestinal (TGI) responsável pelo quadro clínico. Apresenta gravidade variável e caráter evolutivo necessitando de rápida intervenção, em sua maioria, cirúrgica. As causas de AAO podem ser divididas em mecânicas e funcionais, originadas no intestino delgado ou grosso. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA É a segunda síndrome abdominal aguda mais frequente, ficando entre Abdome Agudo Inflamatório (1º) e Perfurativo (3º). Apresenta alta morbimortalidade quando há retardo no diagnóstico e/ ou manejo inapropriado, podendo alcançar taxas tão elevadas quanto 20%, sendo o sofrimento de alças intestinais um importante contribuinte para esse desfecho. Cerca de 80% dos casos de abdome agudo obstrutivo envolvem o intestino delgado, sendo as aderências (bridas) secundárias a cirurgias prévias na cavidade abdominal o fator etiológico mais comum em países desenvolvidos (PD). Nos países em desenvolvimento (PED), as hérnias compõem a primeira causa (30 a 40%) seguida por bridas (30%), tuberculose e doença de Crohn (10%). Câncer de cólon representa a principal causa de obstrução no intestino grosso, além de volvo de sigmoide que se apresenta como frequente causa de obstrução intestinal baixa em nosso meio. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA • Obstrução do intestino delgado: ➢ Distúrbios hidroeletrolíticos ➢ Distensão abdominal ➢ Oligúria ➢ Ausência de ruídos hidroaéreos RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA • Obstrução do intestino grosso: ➢ Incompetência da válvula Ileocecal (VIC) ➢ Rotação do volvo intestinal ➢ Sofrimento vascular ➢ Translocação bacteriana • Obstrução funcional: ➢ Distúrbios metabólicos ➢ Síndrome de Ogilvie ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO O quadro clínico é variável e depende de alguns fatores, como: • local e tempo da obstrução; • presença de complicações, como sofrimento vascular e perfurações; • grau de contaminação; • status clínico do paciente. Habitualmente os pacientes com AAO apresentam: • dor abdominal de início súbito • evoluindo com náuseas • vômitos • parada de eliminação de gazes e fezes • distensão abdominal comumente encontra-se disposta centralmente na obstrução do intestino delgado e em flancos ou em abdome superior nas obstruções baixas (“em moldura”) De forma didática, podem-se dividir os sinais e sintomas de acordo com o sítio da obstrução: OBSTRUÇÃO INTESTINAL ALTA (INTESTINO DELGADO) Dor abdominal (cólica) de localização periumbilical. Vômitos precoces. Distensão abdominal. Os RHA podem estar aumentados inicialmente na tentativa de vencer o fator obstrutivo, a chamada peristalse de luta, apresentando aumento do timbre, conhecido caracteristicamente como som metálico, e gradualmente podem desaparecer devido à fadiga da musculatura lisa. Dor constante, de início súbito e com aumento da intensidade pode sugerir comprometimento vascular. A parada de eliminação de fezes e gases é um sinal que ocorre tardiamente durante a evolução da obstrução, uma vez que o conteúdo colônico é esvaziado normalmente nas fases iniciais. ---------------------------------------------------------- OBSTRUÇÃO INTESTINAL BAIXA (TRANSIÇÃO ILEOCECAL E INTESTINO GROSSO) Na obstrução do cólon, normalmente há parada de eliminação de fezes e flatos precocemente associada à distensão abdominal importante. A dilatação severa dos segmentos intestinais pode levar a comprometimento vascular com isquemia, necrose e perfuração. A perfuração ocorre principalmente em pacientes com VIC competente (75%), gerando obstrução em “alça fechada”, habitualmente na presença de tumores obstrutivos do cólon esquerdo ou sigmoide. Náuseas e vômitos tardios de aspecto fecalóide. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA DIAGNÓSTICO O diagnóstico de abdome agudo obstrutivo pode ser feito a partir de anamnese e exame físico minucioso. Além disso, é necessário avaliar o estado geral do paciente, confirmar o diagnóstico e identificar a condição subjacente ao quadro obstrutivo. Exames complementares auxiliam no diagnóstico diferencial e na diferenciação entre obstrução funcional ou mecânica, sítio da obstrução e identificação de complicações Exames laboratoriais: ____________________________________________ TRATAMENTO Os objetivos do tratamento do abdome agudo obstrutivo são: • Reposição hidroeletrolítica • Analgesia • Descompressão gastrointestinal • Terapêutica definitiva Conduta conservadora pode ser escolhida em alguns casos, como em bolo de áscaris, invaginação intestinal, volvo de sigmoide, fecaloma e aderências. Em casos de aderências, acima de 75% dos casos a obstrução apresenta resolução apenas com tratamento conservador, caso não haja sinais de estrangulamento de alça. Obstruções do intestino delgado dificilmente se resolverão sem cirurgia caso não apresentem resolução dentro de 48 horas de tratamento conservador. ------------------------------------------------------------------------ Tratamento conservador Volvo de sigmoide pode ser manejado clinicamente através da descompressão por retossigmoidoscopia. Intussuscepção intestinal pode ser corrigida a partir do uso de enema opaco quando o contraste consegue vencer o fator obstrutivo, desfazendo a invaginação. Na síndrome de Olgivie, colonoscopia pode ser usada para descompressão dos cólons direito e transverso, mais tratamento com neostigmina. Na vigência de distúrbios de motilidade sem, no entanto, apresentar fator mecânico obstrutivo, deve-se prosseguir à reposição hidroeletrolítica, à colocação de sonda nasogástrica e tratamento da causa subjacente. ------------------------------------------------------------------------ Tratamento cirúrgico A cirurgia é indicada se existir uma causa subjacente que necessita de tratamento, a exemplo de tumor ou hérnias, mediante falha no tratamento conservador ou quando houver sinais de irritação peritoneal. O procedimento de escolha depende da causa da obstrução, da existência de comprometimento vascular e da condição clínica do paciente. Pacientes com obstruções do intestino delgado sem história sugestiva de aderências devem ser submetidos à laparotomia exploradora precocemente. Deve-se sempre melhorar a condição clínica do paciente antes da cirurgia com o intuito de reduzir a morbimortalidade associada ao quadro obstrutivo. Quando há estrangulamento, após liberação de aderências, o cirurgião deve avaliar a viabilidade da alça acometida, analisando critérios como a RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA integralidade da camada serosa, peristaltismo e pulsação de vasos mesentéricos. Nos casos de inviabilidade da alça deve-se proceder à ressecção do segmento com anastomose primária ou confecção de orifício dependendo da condição clínica dopaciente. Nas obstruções colônicas o primeiro passo é a descompressão, sendo necessária cirurgia na maioria das obstruções mecânicas. A lesão obstrutiva deve ser removida sempre que possível. ____________________________________________ ABDOME AGUDO PERFURATIVO Como se trata de um abdome agudo, a principal característica dessa síndrome clínica é a dor abdominal, não traumática, de início súbito. Diferentemente do abdome agudo inflamatório, ocorre por perfuração de uma víscera oca. Importante lembrar que pode haver um quadro infeccioso após a perfuração por instalação de uma peritonite química com posterior proliferação bacteriana. As perfurações podem ainda ser classificadas como altas ou baixas, tendo como referência o Ligamento de Treitz. ➢ Nas perfurações altas geralmente se inicia por uma peritonite química, por liberação de sucos digestivos, que culmina com proliferação bacteriana e posterior processo infeccioso. ➢ Nas perfurações baixas, é esperado início por peritonite infecciosa de região já colonizada com evolução para um quadro sistêmico, podendo manifestar sinais de septicemia. ____________________________________________ ETIOLOGIA É a terceira síndrome abdominal aguda mais frequente. A taxa de mortalidade varia entre 8 a 10% se não tratada, dependendo a etiologia, como veremos adiante. Dentre as principais etiologias, a úlcera péptica evolui com perfuração em 10% dos casos, havendo uma prevalência do duodeno em relação ao estômago (14:1). Possíveis causas: ➢ Trauma ➢ Infecção ➢ Neoplasia ➢ Ingestão de corpo estranho ➢ Doenças inflamatórias ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A gênese dessa síndrome se dá pela perfuração de uma viscera oca. Essa perfuração pode ser decorrente de diversas causas, como: processo inflamatório, neoplásico, obstrutivo e infeccioso. Geralmente, a evolução se dá da seguinte forma: com o extravasamento de secreção luminal na cavidade temos uma inflamação peritoneal de natureza química de intensidade variável, seguida de invasão bacteriana secundária e progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e sistêmicas As bactérias comumente encontradas são: • Pseudomonas aeruginosa • Kleibisiella sp • E. coli ------------------------------------------------------------------------ Estômago e duodeno As etiologias mais comuns são as úlceras agudas e crônicas, sendo essa perfuração geralmente associada à ingestão de álcool, corticoides e AINES. Neoplasias e corpos estranhos são causas importantes que podem também aparecer em outros segmentos. ------------------------------------------------------------------------ Intestino delgado Etiologias mais comuns: • Progressão de outros processos inflamatórios (diverticulite e apendicite) • Volvos de ceco e sigmoide • Megacólon tóxico • Neoplasias • Síndrome de Ogilvie RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA As perfurações proximais geram peritonite química inicialmente, já que há extravasamento de enzimas ativas, e as perfurações mais distais são acompanhadas de peritonite bacteriana. ------------------------------------------------------------------------ Intestino grosso A peritonite é bacteriana desde o início. Além disso, a perfuração no colón direito é mais grave que a do esquerdo, devido à alta virulência dos germes e pela consistência líquida das fezes. Etiologias possíveis: • Abdome agudo obstrutivo com necrose intestinal • Divertículo de Meckel • Infecção • Corpo estranho ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO Para discutir a clínica de cada síndrome, precisamos nos ater sempre à classificação principal, portanto, o sintoma invariável é a dor abdominal. A partir disso, as demais manifestações variam de acordo com local em que ocorreu a perfuração, o tempo decorrido entre o início do quadro e intervenção médica e o grau de distribuição dos líquidos extravasados. De um modo geral, temos: • Dor súbita, intensa e difusa • Abdome em tábua • Evolução rápida • Sinais de peritonite A clínica pode ser acompanhada de sinais de sepse, hipotensão ou choque a depender da gravidade do caso. O acúmulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmática resultando em desconforto respiratório. A dor pode ser lombar, nos casos de perfurações retroperitoneais, ou irradiarem para os ombros nos casos de perfuração em abdome superior que irritam o diafragma. Abdome em tábua é uma contratura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonite difusa. No exame físico podem encontrar também distensão abdominal e ausência de ruídos hidroaéreos. Lembrem sempre que os sinais e sintomas típicos ocorrem quando há peritônio livre – acometimento de toda cavidade abdominal com dor e peritonite generalizada. Avaliar SEMPRE: se a peritonite é química ou bacteriana, nível da perfuração e presença de comprometimento sistêmico. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO 1. Úlcera peptídica perfurada São úlceras perfuradas que se estendem através da parede muscular serosa, permitindo a comunicação entre a luz da víscera e a cavidade abdominal, com extravasamento de conteúdo. As perfurações geralmente ocorrem por desequilíbrio entre secreção de ácidos e a barreira mucosa gástrica. Esse conteúdo gástrico e duodenal na cavidade abdominal resulta em peritonite química. Essas úlceras podem ser complicações da Doença úlcerosa peptídica e a prevalência de H. Pylori no desenvolvimento nessa doença faz com que essa colonização esteja relacionada ao Abdome Agudo Perfurativo. Nesse caso, há aumento da secreção gástrica e diminuição da secreção de bicarbonato da mucosa. Tríade clássica: 1. Dor abdominal 2. Rigidez abdominal 3. Taquicardia ____________________________________________ Divertículos A perfuração espontânea de um divertículo em peritônio livre com consequente peritonite é rara, porém grave, podendo levar a óbito por sepse e falência de múltiplos órgãos. Surge por atividade cólica anormal, modificações da dieta ou fatores predisponentes constitucionais. Modificações na estrutura muscular dificultam o RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA esvaziamento do conteúdo fecal, provocando erosões da mucosa e processos inflamatórios. Além disso, se houver comprometimento da perfusão sanguínea dos divertículos, pode haver necrose e perfuração intramural. A pressão colônica força fezes e bactérias através da perfuração para dentro da cavidade abdominal, levando à peritonite generalizada e sepse. ____________________________________________ Corpo estranho Se um corpo estranho é ingerido por via oral ou retal é potencialmente capaz de causar um quadro de abdome agudo perfurativo. O esôfrago costuma ser o local mais acometido por sua anatomia e localização, mas só a partir da cárdia, a perfuração começa a manifestar sintomas abdominais. Outros locais acometidos são locais de estreitamento, como piloro, angulações duodenais e flexura duodenojejunal. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO O diagnóstico de um Abdome Agudo Perfurativo se baseia na história clínica minunciosa, exame físico criterioso e exames de imagem. Exames laboratoriais são inespecíficos, podendo nos ajudar a detectar apenas a presença de processos inflamatórios e infecciosos prévios. Assim, para confirmar a perfuração, métodos de imagem são os mais adequados. ____________________________________________ TRATAMENTO A abordagem inicial consiste em medidas de suporte com monitorização e manejo inicial dos casos de hipotensão e choque. A antibioticoterapia de amplo espectro pode ser feita antes do tratamento definitivo ou no intra-operatório, podendo manter-seposteriormente. O tratamento é cirúrgico com objetivo de rafia da perfuração, com ou sem epiplonplastia nos casos de úlcera péptica perfurada, ou a ressecção da área comprometida, podendo fazer ressecção com anastomose primária ou com ostomia na impossibilidade de se realizar a anastomose: imunossupressão, desnutrição, infecção. ____________________________________________ ABDOME AGUDO ISQUÊMICO Abdome agudo isquêmico é uma síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, não traumática, de início súbito ou intermitente, de intensidade variável, representado pela isquemia mesentérica ou intestinal por fornecimento inadequado de oxigênio para o intestino, que necessita de intervenção médica imediata por ser potencialmente fatal. A rapidez do diagnóstico está intrinsecamente ligada ao sucesso do tratamento e prognóstico. A taxa de mortalidade é elevada, com cerca de 30% nos casos de trombose e 75- 80% nos casos de obstrução arterial atribuído ao diagnóstico tardio. Fatores de risco: • Doenças crônicas (em especial IAM) • Medicações vasoconstritoras (opióides, imunomoduladores e cocaína) • Má formação arteriovenosa • Cirurgia cardiovascular • Hemodiálise ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A isquemia mesentérica pode ser aguda ou crônica, mesentérica (intestino delgado) ou colônica (intestino grosso). As três principais síndromes de isquemia intestinal são: • Isquemia colônica • Isquemia mesentérica aguda • Isquemia mesentérica crônica (isquemia não oclusiva, trombose, embolismo) Como esperado, as regiões mais propensas à isquemia são as áreas pobres em circulação colateral, por dificuldade de compensar a perfusão em caso de RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA obstrução na circulação principal, são áreas como a flexura esplênica e junção retossigmoide. Essa lesão intestinal pode se dar por dois mecanismos: ➢ Na hipoperfusão, o comprometimento da oferta de oxigênio se dá com uma redução do fluxo intestinal maior que 50%. De forma geral, o intestino consegue compensar até 75% de hipoperfusão por até 12h sem dano substancial, pelo aumento da extração de oxigênio e circulação colateral. Se houver manutenção da hipoperfusão, teremos vasoconstrição e redução do fluxo colateral. Em alguns casos, mesmo após restauração do fluxo, a vasoconstrição é mantida. ➢ Na reperfusão a lesão se dá por ação de espécies reativas de oxigênio. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO As formas de apresentação e gravidade dependem dos fatores a seguir: • Leito acometido (arterial ou venoso) • Grau de obstrução • Duração • Circulação colateral • Extensão das vísceras acometidas Pode variar desde um quadro súbito (infartos) a quadros de angina abdominal crônica, além de apresentar sintomas variáveis como: diarreia e constipação, náuseas e vômitos. Sangramentos podem ocorrem na isquemia mesentérica crônica e na isquemia colônica. No abdome agudo isquêmico, a principal característica da dor abdominal é a desproporção entre a intensidade referida e o exame físico. A tríade da isquemia mesentérica crônica consiste em: Dor abdominal pós-brandial Aversão a comida Perda de peso No exame físico inicialmente o abdome pode estar normal, com dor leve a moderada. A peristalse normal ou aumentada como reação inicial à hipóxia. Com a progressão da isquemia, temos distensão abdominal e timpanismo aumentado. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO O diagnóstico precoce depende de reconhecer população de risco e o alto índice de suspeita clínica. Exames laboratoriais Os exames laboratoriais são inespecíficos. Pode haver: leucocitose em 75% dos casos, hemoconcentração, acidose metabólica, elevação do lactato, fosfato e amilase sérica (elevações menos que na pancreatite). Se houver necrose há elevação de LDH, CPK, Fosfatase Alcalina (fração intestinal). RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ TRATAMENTO Tratamento clínico O manejo inicial inclui monitorização cardíaca e dos parâmetros ventilatórios, acesso venoso com reposição volêmica individualizada, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia e antibiótico venoso de amplo espectro. O uso de antibiótico venoso protege contra translocação bacteriana e reduz inflamação intestinal por reduzir a flora intestinal. Os anticoagulantes são utilizados nos casos de oclusão arterial ou venosa e em alguns casos de isquemia mesentérica não oclusiva para evitar a formação de trombos e sua propagação, com exceção de casos de sangramento ativo. É importante fazer a suspensão de drogas vasoconstrictoras de uso prévio. Na isquemia mesentérica crônica geralmente o tratamento é conservador visando a prevenção da progressão da aterosclerose com terapia antiplaquetária e anticoagulação nos casos de trombos. ------------------------------------------------------------------------ Tratamento cirúrgico O tratamento definitivo é cirúrgico e pode ser necessário ressecção das alças isquemiadas. A exploração cirúrgica está indicada nos casos de: • Sinais de irritação peritoneal • Sinais de infarto intestinal em imagem • Dúvida diagnóstica ____________________________________________ ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO ETIOLOGIAS Abdome Agudo Hemorrágico Vascular I. Ruptura de aneurisma de aorta abdominal O aneurisma da aorta abdominal (AAA) está presente em 5-7% dos indivíduos acima dos 60 anos de idade, predominando mais no sexo masculino tendo como principais fatores de risco para essa categoria a idade >65 anos, hipertensão arterial (HAS), tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), aterosclerose, e antecedente familiar da doença. Muitos pacientes com AAA são assintomáticos e o diagnóstico é suspeitado no exame físico pela palpação de massa pulsátil, distensão abdominal e dor à palpação. Nesses pacientes, o ultrassom ou a tomografia computadorizada confirma o diagnóstico. Em metade dos paciente com AAA, a manifestação clínica inicial é apenas referida como desconforto ou dor abdominal mal caracterizada, podendo apresentar também dor na região dorsal. Os sintomas associados à dor são vários, predominando náuseas e vômitos. Quando ocorre ruptura, a hipotensão arterial está presente em 25% dos casos no atendimento inicial. O tratamento inicial é direcionado para estabilização hemodinâmica do paciente, sendo o grau desse acometimento definidor da urgência necessária na avaliação radiológica e na indicação cirúrgica. Nos doentes instáveis hemodinamicamente, o diagnóstico da ruptura do AAA pode ser confirmado pelo ultrassom na sala de emergência, exame que detecta tanto a presença do AAA como de líquido livre na cavidade peritoneal. ------------------------------------------------------------------------ II. Ruptura de aneurisma das artérias viscerais abdominais A. Aneurisma da artéria esplênica: é mais comum no sexo feminino e é o aneurisma mais comum entre os vasos viscerais abdominais, correspondendo a cerca de 60% de todos os aneurismas de artérias viscerais. Tem como fatores de risco para ruptura desse aneurisma a hipertensão venosa portal, fibrodisplasia arterial e gravidez. O tratamento do paciente que é admitido no hospital com choque hipovolêmico em decorrência de sangramento por ruptura do aneurisma é a laparotomia exploradora imediata associada à reposição agressiva da volemia com soluções cristalóides e, quando necessário, com hemoderivados. Quando o aneurisma se situa distalmente, nas proximidades do baço, o tratamento consiste na ligadura proximal da artéria, seguida de esplenectomia. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA B. Aneurisma daartéria hepática: é predominante em homens acima de 60 anos de idade e corresponde ao segundo aneurisma de arterinal visceral mais comum. Atualmente, cerca de 38% ocorrem em decorrência de arteriosclerose, 21%, de degeneração da camada média, 18%, de traumatismo e apenas 16% são de origem micótica. Habitualmente é assintomático. Ao romper-se, manifesta dor no quadrante superior direito ou no epigástrio e mimetiza a colecistite e a pancreatite agudas. Dependendo da localização, o sangramento pode exteriorizar-se por hematêmese ou melena, por erosão dos ductos biliares ou do tubo digestivo. A ressecção, ou a obliteração, dos aneurismas da artéria hepática está indicada em todos os pacientes. C. Aneurisma da artéria mesentérica superior: é o terceiro mais comum. Ocorre em indivíduos abaixo de 50 anos e distribui-se igualmente entre os homens e as mulheres. Os fatores de risco são a endocardite, os traumatismos e a arteriosclerose. A maioria dos aneurismas da artéria mesentérica superior ocorrem em consequência de endocardite bacteriana. Os sintomas variam muito. Quando o aneurisma compromete a irrigação das alças intestinais, podem ocorrer cólicas abdominais após as refeições, sugestivas de claudicação intestinal. Quando há ruptura, a dor é intensa, dinfundida para todo o abdome e os sinais de choque tornam-se mais evidentes. Pode ser acompanhada de náuseas. O tratamento dessas lesões é muito variável. ------------------------------------------------------------------------ III. Ruptura de Gravidez Ectópica A gravidez ectópica (GE) ocorre entre 1-2% das gestações e corresponde a 10-15% das mortes maternas no 1º trimestre. Tem como principais fatores de risco cirurgias tubárias, gravidez ectópica prévia, uso de Dispositivo Intrauterino (DIU), tabagismo ≥ 20 cigarros por dia; técnicas de reprodução assistida e endometriose. Quando forma da cavidade endoetrial, o lugar mais frequente são as trompas, representando cerca de 95% dos casos. Contudo, também pode ocorrer nos ovários e na cavidade abdominal. Os sintomas de uma GE rota pode se apresentar como atraso menstrual, geralmente o útero é menor do que o esperado, além de dor abdominal intensa, súbita, inicialmente em baixo ventre, que pode irradiar para ombro (Sinal de Lafond). Instabilidade hemodinâmica, hipotensão, taquicardia e choque hipovolêmico. Durante o exame físico há presença de dor à palpação abdominal, dor aguda ao toque do fundo de saco de Douglas. Além disso, pode apresentar sinal de Cullen. Os sintomas da gravidez inicial normal também estão presentes: aumento da sensibilidade mamária, náuseas e polaciúria. O tratamento da GE rota consiste em avaliação da volemia materna, bem como reposição volêmica e tratamento do choque hipovolêmico. A abordagem cirúrgica de urgência, sendo realizado muitas vezes laparotomia exploratória com salpingectomia. Em casos eventuais admite-se a salpingostomia com microcuretagem tubária e reconstituição da trompa atingida. É conduta alternativa reservada a paciente em boas condições, que deseja filhos e que possui a outra trompa comprometida. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO A ultrasonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, tem permitido o diagnóstico na maioria dos casos, com a vantagem de não serem invasivos. A videolaparoscopia encontra sua indicação nos doentes com dor abdominal aguda cuja indicação cirúrgica é duvidosa e nas afecções cuja correção cirúrgica é viável por esse método de acesso. Na dúvida diagnóstica, a videolaparoscopia pode reduzir a realização de laparotomia desnecessária de 19% para 0%. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA 3) DESCREVER AS ALTERAÇÕES NOS EXAMES DE IMAGEM CARACTERÍSTICOS DOS QUADROS DE ABDOME AGUDO. , Exames laboratoriais • Hemograma: dá várias informações como leucocitose com desvio à esquerda nos processos infecciosos, anemia no abdome agudo hemorrágico, alteração das hemácias (anemia falciforme), pancitopenia (leucemia). Lembre-se que idosos e imunocomprometidos podem não ter alterações nos glóbulos brancos e que as gestantes apresentam uma leucocitose fisiológica. • Glicose, ânion-gap e cetonemia: cetoacidose diabética (causa de dor abdominal não cirúrgica). • Amilase: elevações nas concentrações séricas de amilase não são sensíveis nem específicas para pancreatite e podem indicar um processo mais ameaçador, como isquemia mesentérica ou perfuração intestinal. Valores normais de amilase não excluem o diagnóstico de pancreatite aguda, pois, em até 20% dos pacientes com pancreatite alcoólica, há uma incapacidade do parênquima em produzir amilase e, nos pacientes com hipertrigliceridemia, os triglicerídeos aumentados podem interferir no método laboratorial pelo qual a amilase é dosada (cerca de metade dos doentes). • Lipase: é mais sensível e específica que a amilase para pancreatite, principalmente se a elevação for três ou mais vezes o valor considerado normal. • Bilirrubinas, fosfatase alcalina e transaminases: aumentadas nas obstruções das vias biliares e doenças hepáticas. • Ureia, creatinina e eletrólitos: uremia e desidratação. • BHCG: deve ser solicitado para mulheres em idade fértil com dor abdominal. Sempre positivo na gravidez ectópica. • Urina I (EAS): avaliar leucocitúria, bacteriúria (infecções urinárias, mas pode estar presente nas apendicites pélvicas), hematúria (nefrolitíase). • Lactato e gasometria arterial: auxiliam no diagnóstico da isquemia mesentérica. RX simples de abdômen Radiografia de tórax póstero-anterior (PA) em pé (ortostase); Radiografia de abdome em pé e deitado (decúbito dorsal). • Podem mostrar a partir de 1ml de gás extraluminal • É um exame simples, barato e útil na avaliação do abdome agudo, principalmente quando RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA houver suspeita de OBSTRUÇÃO INTESTINAL e PERFURAÇÃO INTESTINAL. • Também pode identificar corpos estranhos e cálculos radiopacos. Mas lembre-se: radiografias normais não excluem essas patologias. ALTERALÕES: 1. ABDOME AGUDO PERFURATIVO: PNEUMOPERITÔNIO, visualizado como ar sob o diafragma, presente na perfuração de víscera oca, sendo a causa mais comum a úlcera péptica perfurada. 2. ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO: Obstrução intestinal alta: É possível ver a distensão gasosa intestinal e níveis hidroaéreos. A visualização das pregas coniventes, chamada de “empilhamento de moedas”, em uma distribuição mais centralizada no abdome, é típica de obstrução intestinal alta de intestino delgado. Geralmente, há pouco ar nos cólons. Clinicamente, o paciente apresenta vômitos precoces e biliosos. Obstrução intestinal baixa: Pode-se observar distensão colônica, com visualização das haustrações colônicas, em localização mais periférica no abdome, com ausência de ar na ampola retal. Quando a válvula ileocecal é competente, mais comum, a distensão gasosa limita-se ao cólon. Se a válvula for incompetente, haverá distensão de intestino delgado e provavelmente o paciente apresentará vômitos fecaloides tardios. No volvo de sigmoide, a imagem típica é chamada de “sinal do grão de café” ou “sinal do U invertido”. No fecaloma (obstrução por fezes endurecidas), geralmente tocável ao exame digital, vemos no raio X uma imagem de “miolo de pão”. 3. CALCIFICAÇÕES: A maioria dos cálculos renais são radiopacos, cerca de 85% a 90%. Aproximadamente 10% dos cálculos biliares são radiopacos e visíveis na radiografia simples de abdome. Inclusive, na obstrução intestinal por íleo biliar, pode ser visto o cálculo no quadrante inferior direito, associado a um padrão radiológico de obstrução intestinal e aerobilia (“tríadede Rigler”). 4. ENEMA: Pensando em um paciente com dor abdominal aguda, o enema não é um exame rotineiramente realizado, mas pode trazer algumas informações úteis em alguns casos. Algumas imagens contrastadas são típicas: • Neoplasia colorretal: sinal da “maçã mordida”; • Volvo colônico: sinal do “bico de pássaro”; • Doença diverticular: presença de divertículos no cólon, principalmente à esquerda. 5. OUTRAS ALTERAÇÕES: • Apendicite aguda: apendicolito (5% a 10% dos casos); alça sentinela em quadrante inferior direito; e apagamento do músculo psoas à direita; • Íleo biliar e colangite enfisematosa: aerobilia ou pneumobilia; • Sinal de amputação de cólon após (cut-off): consiste na dilatação do cólon transverso até a flexura esplênica, sugestivo de pancreatite aguda • Corpos estranhos; • Calcificações na pancreatite crônica. Ultrassonografia • É o primeiro exame de imagem a ser realizado • Exame não invasivo, sem radiação, de baixo custo, rápido • Pode ser realizado na beira do leito de pacientes graves e instáveis, geralmente • Excelente para vesícula biliar, espessura da parede e inflamação no entorno, calibre das vias biliares • Com o doppler torna excelente para cistos torcidos de ovários e testículos • Melhor acurácia por via transvaginal em patologias pélvicas • Notável importância no trauma - exame fast • Fundamental em gestantes • Ruim para órgãos retroperitoneais e nos casos de abdômen obstrutivo • É técnico dependente e isso dificulta o acesso • Dificuldade em paciente obeso Algumas alterações ultrassonográficas que podem ser encontradas no abdome agudo: RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA • Apendicite aguda: espessamento da parede do apêndice, fecalito, líquido e coleção periapendicular; • Colecistite e colangite aguda: cálculo impactado no infundíbulo, espessamento da parede vesicular, líquido perivesicular, sinal de Murphy ultrassonográfico, coledocolitíase, dilatação das vias biliares; • Causas ginecológicas: torção ovariana, abscesso tubo-ovariano, gravidez ectópica rota; • Litíase: litíase renal e ureteral, hidronefrose; • Líquido livre na cavidade: hemoperitônio, coleperitôneo, secreção purulenta; • Outros: aneurisma de aorta abdominal, trombose venos TC de abdome • Padrão ouro para a realidade atual • Alta sensibilidade em doenças inflamatórias, isquêmica, obstrutivas e no trauma • Contra indicado em pacientes instáveis, tempo de espera do lado, radiologista, irradiação 4- ESTUDAR APENDICITE (EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, FASES, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E CONDUTA/MANEJO) Cerca de 8% das pessoas nos países ocidentais têm apendicite em algum momento de suas vidas, com uma incidência máxima entre 10 e 30 anos de idade. A apendicite aguda é a emergência cirúrgica geral mais comum, e a intervenção cirúrgica precoce melhora os resultados. O diagnóstico de apendicite pode ser enganoso, sendo importante um alto grau de suspeição pa2ra evitar complicações graves dessa doença. Apendicite perfurada, em todo o mundo, é a principal causa cirúrgica geral de morte. ____________________________________________ EMBRIOLOGIA E ANATOMIA O apêndice, o íleo e o cólon ascendente derivam do intestino médio. Em adultos, o apêndice não tem nenhuma função conhecida. O comprimento do apêndice varia de 2 a 20 cm, e o tamanho médio é de 9 cm em adultos. A base do apêndice localiza-se na convergência da tênia ao longo da face inferior do ceco, e essa relação anatômica facilita a identificação do apêndice na operação. A ponta do apêndice pode estar em vários locais. A localização mais comum é retrocecal, mas dentro da cavidade peritoneal. Ela é pélvica em 30% e retroperitoneal em 7% da população. A variedade de localizações da ponta do apêndice provavelmente explica a miríade de sintomas que são atribuíveis ao apêndice inflamado. ____________________________________________ BACTERIOLOGIA A microbiota no apêndice normal é semelhante à do cólon, com várias bactérias aeróbicas e anaeróbicas facultativas. A natureza polimicrobiana da apendicite perfurada está bem estabelecida. Escherichia coli, Streptococcus viridans e espécies de Bacteroides e Pseudomonas são frequentemente isolados, e muitos outros micro-organismos podem ser cultivados. Entre os pacientes com apendicite não perfurada aguda, as culturas do líquido peritoneal em geral são negativas e têm uso limitado. Entre os pacientes com apendicite perfurada, as culturas do líquido peritoneal são mais suscetíveis de serem positivas, revelando bactérias colônicas com sensibilidades previsíveis. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO A apresentação típica começa com dor periumbilical, causada pela ativação dos neurônios aferentes viscerais, seguida por anorexia e náuseas. A dor localiza-se, então, no quadrante inferior direito conforme o processo inflamatório evolui para envolver o peritônio parietal sobrejacente do apêndice. Esse padrão clássico de dor migratória é o sintoma mais confiável de apendicite aguda. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Uma crise de vômito pode ocorrer, ao contrário dos acessos repetidos de vômito que tipicamente acompanham a gastroenterite viral ou a obstrução do intestino delgado. Surge febre, seguida pelo desenvolvimento de leucocitose. Essas características clínicas podem variar. Por exemplo, nem todos os pacientes tornam-se anoréxicos. Consequentemente, a sensação de fome no paciente adulto com suspeita de apendicite não deve necessariamente ser um obstáculo à intervenção cirúrgica. Pacientes ocasionais têm sintomas urinários ou hematúria microscópica, talvez devido à inflamação dos tecidos periapendiculares adjacentes ao ureter ou bexiga, e isso pode ser enganador. Embora a maioria dos pacientes com apendicite desenvolva um íleo adinâmico e ausência de movimentos intestinais no dia da apresentação, pacientes ocasionais podem ter diarreia. Outros podem apresentar-se com obstrução do intestino delgado relacionada com a inflamação regional contígua. Exame Físico • Os pacientes com apendicite aguda tipicamente parecem doentes e ficam deitados no leito. • Febre baixa é comum (≈ 38° C). • O exame do abdome em geral revela ruídos intestinais reduzidos e sensibilidade focal com retraimento voluntário. • A localização exata da sensibilidade é diretamente sobre o apêndice. Geralmente, isso ocorre no ponto de McBurney, entretanto, o apêndice normal é móvel, então pode se tornar inflamado em qualquer ponto em um círculo de 360 graus ao redor da base do ceco. • A irritação peritoneal pode ser desencadeada no exame físico pelos achados de retraimento voluntário e involuntário, percussão, ou sensibilidade de rebote. • Dor no quadrante inferior direito durante a palpação do quadrante inferior esquerdo (sinal de Rovsing). • Dor com rotação interna do quadril (sinal obturador, sugerindo um apêndice pélvico). • Dor na extensão do quadril direito (sinal do iliopsoas, típico de um apêndice retrocecal). • Entretanto, se o apêndice estiver localizado dentro da pelve, a sensibilidade no exame abdominal pode ser mínima, enquanto sensibilidade anterior pode ser provocada durante o exame retal conforme o peritônio pélvico é manipulado. Caso o apêndice perfure, a dor abdominal torna-se intensa e mais difusa, e o espasmo muscular abdominal aumenta, produzindo rigidez. A frequência cardíaca aumenta, com uma elevação de temperatura acima de 39°. O paciente pode parecer doente e exige um breve período de reposição com líquido e antibióticos antes da indução da anestesia. Ocasionalmente, a dor pode melhorar um pouco após a ruptura do apêndice por causa de alívioda distensão visceral, embora um verdadeiro intervalo livre de dor seja incomum. ____________________________________________ ESTUDOS LABORATORIAIS A contagem de leucócitos é elevada, com mais de 75% de neutrófilos na maioria dos pacientes. Uma contagem de leucócitos alta (> 20.000/mL) sugere apendicite complicada com gangrena ou perfuração. A urinálise pode também ser útil na exclusão de pielonefrite ou nefrolitíase. Piúria mínima, frequentemente observada em mulheres idosas, não exclui apendicite do diagnóstico diferencial porque o ureter pode estar irritado adjacente ao apêndice inflamado. Embora a hematúria microscópica seja comum na apendicite, a hematúria macroscópica é incomum e pode indicar a presença de um cálculo renal. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA ESTUDOS RADIOGRÁFICOS TC: A tomografia computadorizada (TC) é comumente usada na avaliação de pacientes adultos com suspeita de apendicite aguda. USG: ntre os pacientes com dor abdominal, a ultrassonografia tem uma sensibilidade de cerca de 85% e uma especificidade de mais de 90% para o diagnóstico de apendicite aguda. Os achados sonográficos compatíveis com apendicite aguda incluem um apêndice de 7 mm ou mais no diâmetro anteroposterior, uma estrutura luminal não compressível e de parede espessada vista em secção cruzada, referida como lesão-alvo, ou a presença de um apendicolito. Em casos mais adiantados, líquido periapendicular ou uma massa podem ser encontrados. RX: Embora elas sejam comumente utilizadas, o uso indiscriminado de radiografias simples do abdome na avaliação dos pacientes com dor abdominal aguda é injustificado. Em um estudo de 104 pacientes com início de dor aguda no quadrante inferior direito, a interpretação das radiografias simples alterou o tratamento de apenas seis pacientes (6%) e, em um caso, contribuiu para uma laparotomia desnecessária. Um apendicolito calcificado é visível em radiografias simples em apenas 10% a 15% dos pacientes com apendicite aguda. Laparoscopia Diagnóstica: um pequeno número no qual o diagnóstico permanece inconclusivo a laparoscopia diagnóstica pode proporcionar tanto um exame direto do apêndice como uma pesquisa da cavidade abdominal para outras possíveis causas da dor. Usamos essa técnica primariamente para mulheres em idade reprodutiva nas quais o ultrassom ou a TC pélvica pré-operatória falharam em estabelecer um diagnóstico. ____________________________________________ TRATAMENTO A maioria dos pacientes com apendicite aguda é tratada por remoção cirúrgica imediata do apêndice. Um breve período de reposição HE geralmente é suficiente para assegurar a indução segura da anestesia geral. Antibióticos pré-operatórios cobrem a flora colônica aeróbica e anaeróbica. Para pacientes com apendicite não perfurada, uma dose única pré-operatória de antibióticos reduz as infecções pós-operatórias da ferida e a formação de abscesso intra-abdominal. Os antibióticos orais pós-operatórios não reduzem adicionalmente a incidência de complicações infecciosas nesses pacientes. Para portadores de apendicites perfuradas ou gangrenosas, continuamos com antibióticos intravenosos no período pós-operatório até o paciente estar afebril. Vários estudos randomizados prospectivos têm comparado a apendicectomia laparoscópica e a aberta, e as diferenças globais nos resultados ainda são pequenas. 5) EXISTE PAPEL PARA ANTIBIOTICOTERAPIA ISOLADA PARA O TRATAMENTO DA APENDICITE? TEM ALGUMA INDICAÇÃO? Muitos estudos comparam o tratamento cirúrgico e conservador da apendicite não-complicada, com resultados diversos. Grande parte dos estudos demonstra que o uso isolado do antibiótico pode ser adequado para tratar a maioria dos quadros de apendicite não-complicada, apesar de haver alto risco de recorrência ou complicações que possam, em algum momento, requerer abordagem cirúrgica. Styrud et al. conduziram um ensaio clínico randomizado na Suécia, em 6 hospitais, investigando o uso da antibioticoterapia para tratar apendicite não complicada em homens de 18 a 50 anos. As mulheres não participaram por determinação do comitê de ética em pesquisa que orientou a execução do estudo. Foram utilizados cefotaxima e tinidazol intravenosos por 2 dias, seguidos de ofloxacino e tinidazol por 10 dias. O estudo mostrou que o tratamento é adequado, com curto tempo de internação e de dor. Ressalta-se que há risco de recorrência, mas esta ocorre com incidência próxima à de complicações pós-apendicectomia. Em 2017, uma meta-análise selecionou 10 estudos que investigaram o tratamento antibiótico e cirúrgico para apendicite não-complicada em 413 crianças, com 97% de efetividade, evitando cirurgia em 82% delas. Complicações e tempo de internação foram similares ao grupo submetido a apendicectomia. A taxa de recorrência foi de 14%. Outros estudos também já RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA consideram a antibioticoterapia uma escolha adequada para tratar a população pediátrica. O tratamento da apendicite aguda não sofre grandes mudanças desde a realização da primeira apendicectomia. A literatura médica já traz evidências da possibilidade de um tratamento menos invasivo, mais barato e que independe da especialidade do médico assistente. Apesar de dificilmente ser capaz de substituir a cirurgia em todos os pacientes, a antibioticoterapia pode ser de grande valia para pacientes de alto risco cirúrgico ou de difícil abordagem cirúrgica, como obesos graves. Também pode ser útil em locais onde não há infraestrutura e/ou recursos humanos para realizar a apendicectomia. Entretanto, é importante que sejam excluídas complicações e que se institua medidas de suporte adequado, como hidratação e controle álgico. Também deve-se observar o paciente e repetir o exame físico de modo sequencial, sendo indicada apendicectomia em caso de suspeita de complicação ou em caso de manutenção ou piora da dor em 24h. 6) POR QUE FOI CONTRAINDICADO O AMINOGLICOSIDEO NO CASO? Nefrotoxidade.
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