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1Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS 3Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS SUMÁRIO PREFÁCIO 05 INTRODUÇÃO 06 ANATOMIA E FUNCIONAMENTO NORMAL 09 DIVISÃO ANATÔMICA DO SISTEMA NERVOSO 10 DIVISÃO FUNCIONAL DO SISTEMA NERVOSO 10 TECIDO NERVOSO 11 SINAPSES 13 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP) 15 SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) 17 VIAS MOTORAS - TRATOS 21 CONTROLE MOTOR 22 MOVIMENTO 22 TEORIAS DO CONTROLE MOTOR 24 APRENDIZAGEM E REAPRENDIZAGEM MOTORA 26 AVALIAÇÃO GERAL 30 PRINCIPAIS PATOLOGIAS 32 AVE 34 DEFINIÇÃO 34 EPIDEMIOLOGIA 34 FISIOPATOLOGIA / TIPO DE AVC 35 HEMIPLEGIA / HEMIPARESIA 37 AVALIAÇÃO 40 CONDUTA GERAL / MEDICAMENTOSA 43 CONDUTA BASEADA NO MÉTODO PILATES 43 DOENÇA DE PARKINSON 46 PATOLOGIA / FISIOLOGIA 47 4Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS ETIOLOGIA / EPIDEMIOLOGIA 47 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 49 DIAGNÓSTICO 51 CONDUTA GERAL / MEDICAMENTOSA 51 AVALIAÇÃO 52 CONDUTA BASEADA NO MÉTODO PILATES 53 DOENÇA DE ALZHEIMER 56 PATOLOGIA / FISIOLOGIA 56 ETIOLOGIA / EPIDEMIOLOGIA 57 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 57 DIAGNÓSTICO 58 CONDUTA GERAL / MEDICAMENTOSA 58 AVALIAÇÃO 59 CONDUTA BASEADA NO MÉTODO PILATES 60 ESCLEROSE MÚLTIPLA 62 PATOLOGIA / FISIOLOGIA 62 ETIOLOGIA / EPIDEMIOLOGIA 62 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 63 DIAGNÓSTICO 64 CONDUTA GERAL / MEDICAMENTOSA 65 AVALIAÇÃO 66 CONDUTA BASEADA NO MÉTODO PILATES 67 CONSIDERAÇÕES FINAIS 73 A PRÁTICA DO MÉTODO PILATES – EXERCÍCIOS 74 SOLO 74 BOLA 96 REFORMER 122 CADILLAC 153 BARREL 188 CHAIR 197 5Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Este livro foi elaborado com o intuito de fornecer informações claras e precisas a respeito do funcionamento normal do corpo humano no que diz respeito ao controle motor e a biomecânica normal do movimento. Alguns conceitos básicos de neurologia e como os sistemas podem ser afetados por patologias neurológicas também são explanados. E por fim, como o método pilates pode ser usado como recurso terapêutico e de reabilitação nesses casos em específico. Serão abordadas 4 (quatro) patologias neurológicas: Acidente vascular encefálico (AVE); Doença de Parkinson (DP); Doença de Alzheimer (DA); e a esclerose múltipla (EM); Exercícios baseados no método pilates foram elaborados e direcionados para cada patologia em questão. Não significa que sejam os únicos exercícios que podem ser utilizados em cada caso, mas já é um começo e uma luz para nortear as aulas de pilates para esta população. Cada capítulo do livro tem sua particularidade e seu valor no contexto geral, estabelecendo interações entre os temas, comparações entre os métodos de avaliação, tratamento e patologias, dissertando sobre pormenores neurológicos e expondo tendências, idéias e soluções que o método pilates pode apresentar. É um livro de extrema utilidade e que irá agradar ao leitor. PREFÁCIO 6Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS A população brasileira tem ficado cada vez mais velha com o passar dos anos. Desde a década de 1940, o Brasil experimenta um aumento na expectativa de vida, de 45,5 anos para 75,2 anos, em 2014, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O que é preocupante, porém, é que este aumento não esta, necessariamente, ligado ao crescimento da qualidade de vida. Em um estudo publicado pelo The Lancet, em 2014, mostra um levantamento feito em 188 países, relatando o aumento da expectativa de vida mundial. Além disso, o periódico destaca que o número de pessoas que morreram em função de condições como doenças do coração ou neurológias aumentou de acordo com o crescimento populacional, porém, esse número diminuiu entre as faixas etárias específicas, mais suscetíveis à essas enfermidades. Essas doenças então entre as dez principais causas de morte mundiais, sendo os acidentes vasculares cerebrais ( AVC’s) como a segunda maior cauda e a Doença de Alzheimer (DA) como a quinta maior causa de morte. O fato dessas duas patologias citadas estarem entra as que mais levam à óbito na população em geral, mas estarem diminuindo sua incidência entre as faixas etárias que nas quais compete sua maior incidência, pode ser vista como uma evolução na área de prevenção e tratamento dessas patologias. Mesmo assim, não podemos deixar de perceber a relevância que estas doenças têm nos dias de hoje e todo o impacto social e econômico que elas causam em nosso país, seja pelo óbito ou pelas complicações e/ou sequelas consequências dessas patologias instaladas. Entre as patologias neurológicas que mais acometem a geração mais velha, o AVC apresenta a primeira causa de morte e incapacidade no Brasil. A Doença de INTRODUÇÃO 7Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Parkinson também entra nas estatísticas, atingindo 1% da população com mais de 65 anos, com sua etiologia ainda desconhecida, está é ainda mais difícil diagnosticar e prevenir. Outra doença relacionada com o aumento da expectativa de vida é DA. Não há dados sobre a incidência desta doença em nosso país, porém, em um estudo, os autores encontraram uma prevalência de Doença de Alzheimer em 54% dos casos, em pessoas com demência, após 85 anos. Lembrando que a DA é a causa mais frequente de demência. Mas não podemos relacionar todas as patologias neurológicas com a velhice. Até porque num processo de envelhecimento natural nem sempre elas estarão relacionadas. No Brasil, em função de nossa história e do momento socioeconômico, é normal o processo de envelhecimento vir acompanhado de disfunções físicas e funcionais. Porém, esta visão já esta mudando. Estudos epidemiológicos recentes, como os relacionados com o crescimento do número de idosos saudáveis, estão forçando uma mudança nas hipóteses teóricas da velhice como sinônimo de doença. Outra patologia de grande impacto social e que não está diretamente relacionada com a velhice é a esclerose múltipla. A associação brasileira de esclerose múltipla (ABEM), estima que 35 mil brasileiros apresentem a doença. Em contrapartida, um fator que esta em constante crescente são os estudos relacionados a busca pela qualidade de vida. Para cada área de pesquisa existe diversos significados diferentes que giram em torno de uma possível definição para este tema. Pensando na área médica, muitas vezes, a qualidade de vida esta vinculada à relação custo/benefício no que diz respeito à manutenção da vida ou à capacidade funcional dos doentes. Algumas patologias podem ser prevenidas com hábitos saudáveis de vida. Porém, uma vez diagnosticadas, o tratamento deve ser inicializado o quanto antes. Além da terapia medicamentosa, psicológica e todo acompanhamento médico e de toda equipe multidisciplinar, temos diversas opções para tratar a parte muscular e cognitiva. O tratamento Neuroevolutivo - Bobath, a Facilitação neuromuscular 8Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS proprioceptiva - Kabat, fazem parte dessas opções e agora, utilizamos também, o Método Pilates. Sabemos que cada patologia neurológica acarreta alguma alteração específica e que os acometidos pode apresentar os mais diferentes sintomas. Mesmo assim,o que todas as patologias citadas tem em comum, além de serem problemas neurológicos é que todas apresentam em maior ou menor incidência, alterações motoras e cognitivas como: distúrbios de movimento, alterações no equilíbrio, fraqueza muscular, déficit de atenção, e que podem se beneficiar utilizando o Método Pilates. Tal método vem se mostrado benéfico para melhora desses inúmeros fatores. Iniciando pela utilização do princípio da concentração, o paciente se encontra necessitando dessa correlação, mente / corpo ao realizar os exercícios. Com isso, a melhora tanto cognitiva, quanto motora acaba acontecendo. Precisamos deixar claro, que, na maioria das vezes, as patologias neurológicas, são irreversíveis e algumas até progressivas, porém podemos nos beneficiar, com esses paciente de uma melhora na força muscular, no alongamento muscular, no alinhamento corporal, no equilíbrio estático e dinâmico, na capacidade pulmonar, entre outros benefícios. E em consequência disto, tal paciente melhora sua performance nas atividades de vida diárias (AVD’s), na melhoria ou manutenção da independência e da qualidade de vida. Como podemos proporcionar tudo isto a nosso paciente é o que veremos a seguir, na continuação teórica deste livro e toda parte prática do mesmo. 9Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS ANATOMIA E FUNCIONAMENTO NORMAL Este capítulo não tem como objetivo aprofundar-se em toda neuroanatomia e fisiologia do sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP), mas sim apresentar as características mais funcionais relacionados a ele, fornecendo ao leitor embasamento para compreender o funcionamento normal do sistema e, num segundo momento, as condições patológicas. Interagir com o meio, seja recebendo informações provenientes dele ou fornecendo à ele responsivamente, depende da integridade, mesmo que parcial, de nosso sistema nervoso (SN). Podemos dividir o SN relacionando sua estrutura ou função. Angelo Machado, 2010 cita a divisão desse sistema em quatro bases: em critérios anatômicos, embriológicos, funcionais e na segmentação (metameria). Duas dessas divisões são importantes relacionando os temas abordados neste livro, a baseada em critérios anatômicos e funcionais. Com relação as outras o leitor deve considerar a busca em literaturas mais específicas. 10Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS DIVISÃO ANATÔMICA DO SN Toda essa esquematização do SN é puramente didática, uma vez que existe uma comunicação entre os sistemas. Mesmo assim, separamos em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). No primeiro podemos citar como parte integrante o encéfalo, composto pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico, e a medula espinhal, envoltos pela proteção óssea do crânio e da coluna vertebral. No segundo, os nervos, gânglios e as terminações nervosas constituem este sistema. Eles fazem a ligação do SNC aos órgãos receptores e efetores em todo âmbito corporal. DIVISÃO FUNCIONAL DO SN Esta divisão está relacionada com a integração funcional dos sistemas em função das informações recebidas tanto internamente (regulação das funções corporais internas) quanto externamente (relação com o meio). Sendo assim, duas partes são definidas: sistema nervoso somático (SNS) e sistema nervoso visceral (SNV). O primeiro consiste da relação do corpo com o meio externo, apresentando componentes aferentes, que levam as informações provenientes de estímulos externos, na periferia corporal, aos centros nervosos; e os componentes eferentes, que trata-se da questão voluntária de nossas ações, uma resposta vinda dos centros nervosos aos músculos estriados esqueléticos. O segundo preocupa-se em manter a homeostasia (equilíbrio fisiológico), através da inervação e controle das estruturas viscerais. Também trabalhando com vias aferentes, levando informações das vísceras ao sistema nervoso; e eferentes, denominado sistema nervoso autônomo, fazem o caminho inverso da via aferente e pode ser subdividido em sistema simpático e parassimpático. 11Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS TECIDO NERVOSO O tecido nervoso é composto por neurônios e células gliais ou neuroglia. O neurônio (fi gura 1) é a unidade estrutural e funcional do sistema nervoso. Eles recebem, processam e enviam informações a todo sistema. Já as células gliais aparecem em maior número que os neurônios, localizam-se entre os mesmos, e funcionam fazendo sustentação, revestimento ou isolamento, modulam a atividade neural e proteção. NEURÔNIO A principal função do neurônio é a condução de impulsos nervosos. Dito isso, entende-se que são células extremamente excitáveis, em função de uma linguagem elétrica, acarretando modifi cações do potencial de membrana. Figura 1. Neurônio Fonte: Google imagens, 2016 12Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Este potencial de membrana é a diferença elétrica (de voltagem) existente dentro e fora da célula nervosa. As cargas elétricas são responsáveis pelo potencial elétrico da membrana. Fora da mesma, predominam íons orgânicos de Sódio (Na+) e cloro (Cl-), já em seu interior existe um predomínio de íons com cargas negativas e potássio (K+). A movimentação desses íons por entre a membrana faz com que ocorram alterações no potencial elétrico. O recebimento correto de um estímulo e a consequente transmissão de um impulso nervoso, depende do correto funcionamento desta movimentação. A estruturação de um neurônio, basicamente, e em sua maioria, pode ser dividido em três regiões: corpo celular, dentritos e axônio. O corpo celular ou soma é composto pelo núcleo e citoplasma com várias organelas. Possuem formas e tamanhos extremamente variados. Do corpo surgem os dentritos e os axônios. E nele, assim como nos dentritos, é onde ocorre as sinapses (local de recepção de estímulos). Os dentritos tem como função receber estímulos, transformando o potencial de repouso da membrana, que, em repouso, tem predomínio de cargas negativas. Essas transformações podem ser dita despolarizadas (excitatória, com diminuição de carga negativa no interior da célula) ou hiperpolarizada (inibitória com aumento da carga negativa no interior da célula ou aumento da positividade fora da mesma). E os axônios são encontrados na grande maioria dos neurônios, apresentam comprimentos variáveis, de milímetro a mais de um metro. São especializado em gerar e conduzir o potencial de ação ou impulso nervoso, pela despolarização da membrana. 13Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS NEURÓGLIA Em proporções bem maiores que os neurônios, não geram potencial de ação por não serem excitáveis. Mesmo assim, ajudam a manter as funções da células nervosas. No SNC podemos encontrar, entre outros, astrócitos e oligodendrócitos. Os astrócitos estão localizados principalmente na substancia cinzenta deste sistema e provavelmente tem funções relacionadas a troca de substancias específicas com a corrente sanguínea. Os oligodendrócitos são encontrados na substância branca e alguns são responsáveis pela formação de bainha de mielina nos axônios localizados no SNC. No SNP podemos encontrar as células de Schwann, também responsáveis pela mielina do axônio de um único neurônio. A mielina é uma substância gordurosa e proporciona um alto grau de resistência elétrica. SINAPSES Figura 2. Sinapse Fonte: Google imagem, 2016 14Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS As sinapses, que são a transmissão de impulsos nervosos, pode ocorrer por um processo elétrico ou químico. O processo elétrico ocorre com menos frequência, é maissimples e permite a transferência rápida e direta da corrente iônica de uma célula para a outra. No processo químico se faz necessário uma substância química, um neurotransmissor, para que a comunicação entre os elementos da estrutura neural aconteça. A maioria das sinapses ocorre por este processo. Nele, o elemento pré-sináptico (terminal axônico da célula pré-sináptica) é separado do soma do neurônio pós-sinático por uma fenda sináptica. Nesta fenda serão liberados os neurotransmissores encontrados nas vesículas transmissoras dos neurônios pré-sinápticos. Essa liberação é feita por canais de Cálcio. Os íons de cálcio entram na célula pré-sináptica e estimulam o aumento da velocidade da abertura das vesículas, que se ligam a proteínas (sítios de liberação). As vesículas transmissoras, com função inibitória ou excitatória, liberadas na fenda sináptica, passam para o neurônio pós-sináptico. Proteínas receptoras encontradas na membrana do neurônio pós-sináptico, ligam o neurotransmissor à um componente ionóforo, da fenda sináptica até o interior da célula. O componente ionóforo pode ser de canal iônico, que permite a passagem de tipos específicos de íons. Os neurotransmissores são estruturas pequenas e de ação rápida. Serotonina, dopamina e acetilcolina são alguns exemplos dessas moleculas que induzem uma resposta mais aguda ao SN. 15Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS O SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Para tentarmos agir influenciando o SNC de alguma maneira, precisamos entender as vias que nos levam a obter e fornecer informações motoras ou sensitivas para o sistema. O SNP auxilia nesse processo, é composto por nervos, gânglios e terminações nervosas. NERVOS E TERMINAÇÕES NERVOSAS Os nervos são feixes de fibras nervosas que unem o sistemas nevoso central aos órgãos na periferia. Tais fibras são prolongamentos dos axônios reforçadas por tecido conjuntivo e podem ser, de acordo com sua origem ou onde está localizadado o corpo celular, em espinhais (proveniente da medula espinhal) ou cranianos (proveniente do encéfalo), ou de acordo com sua composição, em mielínicas com neurilema ou amielinicas ou ainda, classificamos, próxima à sua terminação, em sensitivos ou mistos (motores e sensoriais). Como dito, em suas terminações, as fibras nervosas podem ser sensitivas ou aferentes e motoras ou eferentes. Quando estimuladas em seus receptores, as fibras sensitivas levam informação da periferia e órgãos até uma area específica no SNC. Esses receptores podem diferenciar-se em especiais ou gerais. Os especias são mais específicos e complexos, relacionados à gustação, audição, equilíbrio… e os gerais aparecem em maior concentração na pele, que responde ao contato ou ao seu estiramento durante o movimento. Pensando na parte nauroanatômica mais funcional alguns receptores devem ser analizados mais a fundo, como é o caso dos fusos neuromusculares e órgãos neurotendinosos (OTG). Ambos controlam a geração de força muscular, o primeiro tem como função detectar o movimento do músculo e suas variações enquanto o segundo identifica a tensão muscular. 16Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS FUSOS MUSCULARES O fuso é formado por finas fibras musculares intrafusais envoltas por uma cápsula de tecido conjuntivo na região central que, paralelamente são fixadas nas fibras extrafusais. As fibras intrafusais são controladas por motoneurônios gama e as extrafusais por motoneurônios alfa. Estão relacionados com a postura e os movimentos voluntarios finos. É o principal órgão sensitivo do músculo, detectam e transmitem ao SNC modificações no comprimento (alongando ou encurtando) do músculos e até na velocidade com que essas modificações podem acontecer. ÓRGÃOS NEUROTENDINOSOS DE GOLGI Os OTG são mecanoceptores encontrados nos tendões dos músculos, mas especificamente nos pontos em que as fibras musculares ligam-se em um tendão (junções músculo-tendinosas). Sendo assim, pela sua localização, ele consegue supervisionar a tensão que o músculo desenvolve ao contrair. Eles apresentam um maior limear de excitabilidade para o alongamento do que para a contração muscular, ou seja, respondem melhor a contração muscular do que ao alongamento. Sua principal função é fornecer, ao SNC, feedback de força, evitando a utilização excessiva dessa força protegendo toda fibra muscular. GÂNGLIOS Corpos de neurônios fora do SNC tendem a se agrupar e são denomidados de gânglios. São dilatações espalhadas pelo corpo funcionando como ligação entre neurônios e partes do SNC com todas as outras estruturas e órgãos. 17Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS O SISTEMA NERVOSO CENTRAL É dividido em encéfalo e medula espinhal. Podemos dizer que tais regiões são as que comandam o restante do corpo. A primeira é protegida pela caixa craniana e a segunda pela coluna vertebral. Os corpos dos neurônios desse sistema, quando emaranhados, damos o nome de substância cinzenta, e, os prolongamentos desses corpos damos o nome de subtância branca. CÉREBRO: É a parte mais desenvolvida do encéfalo e é dividido em hemisfério direito e esquerdo unidos por uma conformação denominada corpo caloso. Podemos separar cada hemisfério em quarto lobos cerebrais, de acordo com suas principais funções: lobo frontal (cortex motor e pré-frontal), lobo parietal (cortex somatossensorial), lobo temporal (cortex auditivo) e lobo occipital (cortex visual). (Fig. 1.3) Deixando claro que aqui apenas algumas funções estão relacionadas com cada lobo, uma vez que encontramos em um mesmo lobo áreas com funções e estruturas bem distintas. O córtex cerebral é dito o principal centro intregrador de impulsos sensoriais e respostas motoras. Cada região tem sua vital importância dentro de um processo de reabilitação, porém falaremos mais a fundo sobre as áreas do córtex que participam do controle motor, direta ou indiretamente, em todo seu processo de planejamento, execução, além de todos os pormenores relacionados a este controle. CÓRTEX SENSORIOMOTOR: Esta região do cérebro compreende as áreas motora primária (área 4 de Brodmann), área motora suplementar (área 6), o córtex pré-motor (área 6), córtex somatossensorial primário (áreas 1 e 3) e o córtex parietal posterior (áreas 5 e 7). As conexões de estímulo-resposta desta região são inúmeras. As entradas e saídas do córtex apresentam uma organização somatotópica, representada por 18Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS um mapa corporal, onde os neurônios infl uenciam os músculos e a informação sensorial por todo o corpo. No mapa motor, duas característas chamam a atenção, primeiro que as células corticais infl uenciam os músculos do outro lado de sua localização e a segunda característica é o tamanho da representatividade dos músculos faciais e da mão. Figura 3. Homúnculo Sensitivo e motor Fonte: Google imagem, 2016 Cada área citada esta relacionada a algum componente do movimento, não exclusivamente, mas apresentam uma função principal para que os movimentos voluntários aconteçam. O cortex pré-motor é responsável pela organização e orientação correta do corpo antes do movimento acontecer e por toda orientação sensorial dos membros além disso, quando aprendemos uma nova tarefa é esta área que esta ativa. Nesta área localiza-se o conhecido “homúnculo motor”. É dela que provem 19Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS todas as respostas relacionados à movimentação voluntária, desde controle até coordenação dessa moticidade. Nessa região o controle é cruzado, ou seja, lesões nessa área ocasionam atrofia de alguns músculosdo lado contralateral do corpo. Agora, para comandar esse controle e coordenação, aprender como o movimento funciona, como refiná-los, mesmo sem necessariamente executá-los é o cortex pré-motor que realiza tal função. A interpretação e tranformação da informação sensorial para coerencia na resposta motora é realizada no cortex parietal posterior. Quando precisamos iniciar um movimento esta região também se faz ativa. Lesão que acomentem essas duas áreas acarretam incapacidade de produzir estratégias corretas para que o movimento aconteça. A área motora suplementar reage diante da necessidade de planejar um movimento e certificar o seguimento correto de ativação muscular do mesmo ou de outro. Já, o cortex somatossensorial tem a responsabilidade de fornecer informações sensoriais para realização do planejamento de um movimento mais específico e sua iniciação, além da modulação de um movimento já iniciado. E por fim, o cortex motor primário sintetiza os impulsos de outras áreas do SNC. Ele gera e transmite informações centrais para o tronco cerebral e medulla para que o movimento se inicie e seja modulado. Quando falamos em planejarmos alguma tarefa, que demande um pouco mais de atenção e seja um pouco mais complexa, que necessite de uma projeção de resposta é o lobo frontal que necessita estar íntegro para esta função. Neste lobo estão inseridas funções como cognição e emoção também. Lesões no cortex motor acarretam frequeza ou paralisia de determinados musculos. Lesões no cortex pré-motor podem ocasionar dificuldades na velocidade dos movimentos automáticos. E lesões no lobo frontal acaretam dificuldade de planejar ou planejar erroneamente determinados movimentos. 20Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS CEREBELO: Localizado na fosse craniana posterior. Ele apresenta uma configuração parecida com a do cérebro no que diz respeito a composição e distribuição da susbtância branca e da cinzenta. Sua principal diferenciação é que o cerebelo funciona num nível inconsciente e involuntário e exclusivamente com função motora. O conhecimento sobre o cerebelo é de extrema importância, pois suas funções estão relacionadas com a gerência do equilíbrio e da postura, com o controle do tônus e da movimentação voluntária, além da aprendizagem motora. Diante de todas essas funções fica mais claro relacionar as possíveis alterações quando esta região do sistema nervoso é lesada. Podemos encontrar incoordenação dos movimentos (ataxias), perda de equilíbrio e hipotonia. NÚCLEOS DA BASE: São um conjunto de corpos de neurônios (como os gânglios) localizados abaixo do cortex. Participam do planejamento e controle dos movimentos, através de uma interacção com o cortex realizada através no tálamo. E não só fatores relacionados ao movimento, mas participam do processo cognitivo e de aprendizado também. E mesmo esses núcleos não fazendo conexão com a medulla, alterações nessa região causam dirtúrbios motores como os característicos na Doença de Parkinson (vide capítulo Doença de parkinson). TRONCO ENCEFÁLICO: Todas as estruturas citadas a seguir apresentam funções comuns, porém não unicamente, de controlar funções vitais (respiração, sistema cardiovascular, sistema gastrointestinal), além do equilíbrio corporal e movimentos esteriotipados do mesmo. Isto acontece através da integração de informações oriundas dos aparelho vestibular (órgão do equilíbrio), cortex cerebral e cerebelo. O Mesencéfalo está localizado entre o cérebro e a ponte encontra-se anteriormente com o tálamo e o hipotálamo. É uma região de trânsito de estímulos provinientes do cérebro e direcionados a ele. Além disso, o controle postural 21Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS também está ligado a esta estrutura. A doença de Parkinson afeta a substância negra localizada nesta região. A Ponte encontram-se localizados na Ponte alguns núcleos de nervos cranianos. Lesões nessa região podem causar desde alterações na sensibilidade da face até alterações de equilíbrio. Já o Bulbo é uma região contínua da medula espinhal. Controla sinais vitais com ajuda da ponte. Apesar de ser pequeno em estrutura se comparado à outras do SNC, por ele passam um grande número de tractos motores e sensitivos, e quando lesionado pode acarretar as mais diversas alterações com os mais variados sintomas. VIAS MOTORAS - TRATOS As vias motoras existem para conduzir estímulos que entram (aferente) ou saem (eferente) do SNC, através dos tratos. Os tratos são feixes de axônios que percorrem o caminho entre o cérebro e a medula. As vias podem ser diretas (piramidais) ou indiretas (extra-piramidais). A primeira controla os movimentos voluntários e a segunda controla e coordena os movimentos voluntários automáticos, a postura e o tônus. Vale lembrar que a resposta oriunda do comando neural irá depender das condições em que se encontra, também, o sistema musculoesqueléticos, pois este sistema nem sempre gera o mesmo efeito biomecânico que foi comandado pelo SN. Entender como todo esse processo se dá normalmente deixa mais clara a compreensão das falhas existentes nele. A fisiopatologia, assim como as lesões morfológicas existentes nas lesões neurológicas serão abordadas especificamente em cada capítulo das doenças estudadas neste livro. 22Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS CONTROLE MOTOR Movimento é vida, ou pelo menos uma parte essencial da mesma. Segundo Dicionário Michaelis movimento é, dentro várias definições, ato de mover ou de se mover; mudança de lugar ou de posição; deslocação. Maneira como alguém move o corpo. E o Controle motor é a capacidade que o ser humano tem de regular e/ou orientar os mecanismos essenciais para que este movimento aconteça. Saber sobre como o movimento acontece, como controla-lo, como aprender novos movimentos é tarefa primordial para o fisioterapeuta e para todos os outros profissionais que trabalham nessa área e que ensinam, educam, reeducam, analisam qualquer situação e pormenores relacionados a esta questão. Estudar o controle motor compete investigar todos os sistemas que controlam a execução de uma determinada ação. Para conseguirmos entender as debilidades existentes, com relação ao controle motor, em pacientes com patologias neurológicas, devemos antes conseguir entender como funciona toda estrutura normal deste controle, para depois sermos capazes de agir diante de uma disfunção aparente. O MOVIMENTO O movimento surge da influência e da ação mútua ou compartilhada de três fatores: o indivíduo, a tarefa e o ambiente (Fig. 1.1) E não só isso, vários processos em conjunto, como os associados à percepção, à cognição e à ação, fazem parte do estudo do controle motor para o movimento, muitas vezes restringindo a ação do mesmo. 23Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS A cognição é parte fundamental na execução de uma tarefa, incluem a atenção, a motivação e aspectos emocionais relacionados a um movimento específi co, tanto para o planejamento como para a execução. Entender o processo cognitivo relacionado à percepção e a ação são de suma importância para que consigamos um resultado positivo sobre a resposta motora que nosso paciente possa apresentar. A ação ou o simples fato de coordenar uma tarefa através dos muitos músculos e articulações chamamos de problemas de graus de liberdade. Controlar a ação implica em entender o resultado motor do sistema nervoso para os sistemas efetores. O sistema nervoso se organiza de tal maneira para limitar os graus de liberdade para que a tarefa aconteça. Para a ação acontecer a percepção comoinformações sensoriais e psicológicas se faz essencial. O sistema sensorial, por meio de seus receptores, responde a estímulos internos e externos, além de detectar e perceber o corpo no espaço (propriocepção). Isso signifi ca perceber as características do ambiente e do corpo para que o movimento aconteça. Figura 4. Movimento resulta da ação mútua entre indivíduo, a tarefa e o ambiente. Fonte: SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOT, M. H., 2003, p. 2. 24Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Quando um dano ao sistema nervoso central acontece, como num acidente vascular cerebral, ocorre alterações aos sistema cognitivo, motor e sensorial / perceptual, em conjunto ou isoladamente. Para que uma melhora ou aquisição de uma função aconteça, o paciente precisa desenvolver novos padrões de movimento para executar suas tarefas funcionais, uma vez que os sistemas citados encontram-se comprometidos. Parte do tratamento desse tipo de patologia gira em torno de restabelecer a capacidade funcional, buscando independência funcional, ajudando o paciente a aprender ou reaprender a executar determinada tarefa, utilizando padrões de movimentos diferentes do que estava habituado. TEORIAS DO CONTROLE MOTOR As teorias do controle motor existem para tentarmos explicar como o movimento acontece e como ele é controlado. São conhecimentos especulativos e abstratos, e talvez por este motivo não exista um consenso sobre as teorias que conhecemos, de qual seria a mais “correta” e aceita. Mas ai perguntamos, porque preciso entender de controle motor e isto tem realmente função na prática clínica diária, uma vez que são só teorias? E a resposta é, com certeza tem função em nossa vivência profissional. Tentar entender como tudo funciona, com relação a todo controle motor, nos ajuda a interpretar, tanto o comportamento, quanto as ações do paciente a fim de possibilitar opções para uma linha de tratamento, seja utilizando o método pilates ou qualquer outra técnica ou metodologia para este fim. Antes de colocarmos um paciente para subir um lance de escada, precisamos perceber o que esta impedindo o paciente de o fazê-lo. Seria a dificuldade do mesmo de se perceber no espaço? Seria a falta da capacidade de planejar qual o ângulo que devo flexionar o quadril e o joelho para subir o degrau? Seria uma 25Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS espasticidade em membro inferior que não estaria deixando? Muitas vezes não conseguimos tratar o problema, pois não sabemos o que está ocasionando tal adversidade. E muitas vezes não saberemos a causa, mas as teorias, juntas ou isoladamente, nos dão suporte para que saibamos de onde, possivelmente e/ou provavelmente, origina-se o problema que acarreta a perda de função ou dificuldade de execução da mesma. Pensando nas patologias neurológicas o modelo clássico de controle motor, o modelo hierárquico, é o que embasa a terapia neurológica tradicional. Tal modelo sugere, através de um controle organizacional, que níveis superiores controlam e comandam níveis inferiores, em suma, um centro superior seleciona e transmite o programa motor a centros inferiores para execução do movimento ou uma tarefa. Já, a teoria reflexa, descreve que os reflexo são a base para o comportamento motor. Para Charles Sherrington, idealizador desta teoria, não existe movimento se não existir algum estímulo sensitivo. O estímulo provoca uma reação, que culmina em outra reação e assim sucessivamente, gerando um comportamento motor. E, na teoria dos sistemas, defende-se que para entender o funcionamento do controle neural dos movimentos precisamos considerar todo o sistema motor, conhecendo a forças extrínsecas e intrínsecas que atuam sobre nós. Para que um programa de reabilitação motora ou mesmo de atividade física com algum ganho de aquisição se mostre eficaz para indivíduos em fase de plasticidade cerebral, seja um recém nascidos (RN) ou um adulto, dependerá primariamente das teorias de controle motor que foram utilizadas para embasar a terapia. 26Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Pacientes com doenças neurológicas são incapazes de ter um comportamento motor “normal” porque o dano no SNC alterou a capacidade integrativa do cérebro. Fatores biomecânicos e metabólicos são igualmente alterados. O padrão de movimento executado pelo paciente é considerado um padrão de movimento funcional utilizado para atingir o objetivo. Dependendo da fisiopatologia do trauma e das complicações decorrentes, o padrão pode não ser eficiente, em termos de custos neurológicos, biomecânicos ou metabólicos, para o sistema. Todavia, o padrão é o preferido (propriedade emergente), oriundo de um sistema de auto-organização que permite ao indivíduo agir. Esse padrão preferido é resultado de limitações impostas ao indivíduo pela condição neurológica, assim como pelo ambiente e pela tarefa. O profissional identifica a forma de controle motor inapropriada e com base no sistema de controle motor, fisiológico ou biomecânico desenvolve hipóteses para fundamentar a linha de tratamento ou atividade a ser seguida. APRENDIZAGEM E REAPRENDIZADO MOTOR Assim como o controle motor, o aprendizado também não tem um consenso quanto ao seu funcionamento. Newell descreve o aprendizado motor como sendo a procura pela solução do problema, que resulta da interação do ser humano com a tarefa e o ambiente. Mas os mecanismos para que isso ocorra não são claros. Antigamente, duas teorias de controle e aprendizagem chamavam a atenção: a teoria de circuito aberto e a teoria de circuito fechado. A principal diferença entre as duas era a respeito do papel do “feedback” no controle de movimentos. 27Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Hoje é consensual que fatores centrais e periféricos atuam no controle de movimento, que dependendo do tipo, terá um maior ou menor interferência desses centros. O cérebro apresenta capacidade de aprender, mesmo após algum tipo de lesão. Plasticidade é como denominamos esta capacidade de demonstrar uma modificação, adaptando-se e reorganizando-se estruturalmente. Os aspectos de recuperação funcional após uma lesão cerebral se mostram semelhantes ao aprendizado motor que ocorre em um cérebro integro, sendo assim muito do que se sabe sobre aprendizado motor no cérebro intacto pode ser utilizado no tratamento de portadores de doenças cerebrais a repetição é um desses aspectos. As frequentes repetições estimulam a criação de sinapses, favorecendo a plasticidade e por fim, a aprendizagem. Começamos com a realização de movimentos mais simples e seletivos (monoarticulares) para progressão de movimentos complexos (pluriarticulares). INPUT Para que o reaprendizado aconteça o input (informações) é essencial e deve ser utilizado da maneira correta para que seja eficaz. Num geral, eles precisam ser variáveis, para que aconteça formação de redes nervosas, precisam significar algo para o indivíduo, para que ele se interesse pela atividade e potencialize o efeito do aprendizado pelas emoções e pela motivação, além disso as atividade treinadas precisam ser o mais parecidas com as situações cotidianas do aluno / paciente. Para que o mesmo tenha interesse nas atividades propostas, que goste e que seja algo motivador, o indivíduo precisa de consciência e atenção suficientes para que o aprendizado motor seja eficaz. 28Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS FEEDBACK É uma importante ferramenta utilizada pelos profissionais da área da saúde que atuam com reabilitação e também pelos professores de pilates e, que se não for usado de maneiracorreta e/ou excessivamente pode inibir o processo de aprendizado. Em que momento forneceremos o feedback ao aluno / paciente irá depender da tarefa dada a ele. Se for uma tarefa simples, podemos fornecer informações de maneira verbal, tátil e/ou visual após, aproximadamente, 20 repetições. Se for uma atividade mais complexa a frequência dos feedback pode ser após 4 a 6 tentativas. Tanto para os acertos, quantos para os erros que acontecem durante a execução do movimento devemos comunicar através desta ferramenta. Num geral, quando estamos desenvolvendo ou reaprendendo alguma nova habilidade motora, nossos neurônios aumentam o número de sinapses para que, através delas, consigamos coordenar e executar as novas atividades. Massey, relata que para aprendermos novas habilidades através do pilates precisamos construir metas de estabilidade, de equilíbrio, resistência muscular e coordenação. E para que isto aconteça, a integração sensorial se faz necessária para obtenção de repostas adaptativas de aprendizado motor. Em função dessa relação de sentidos e reposta motora, um modelo de teoria de desenvolvimento motor estabelecida é utilizada para que desenvolvamos uma progressão de exercícios dentro do método pilates. Pensando nessa teoria citada acima, podemos dividi-la em 3 (três) fases: a cognitiva, a associativa e a automática. Na primeira fase precisamos compreender e planejar o movimento. Repetir e ver (estímulo visual) a realização do exercício a ser aprendido ocorre nesta etapa que dura, em média, de 3 a 6 semanas. Na segunda, com duração de 8 semanas a 4 meses, acontece a associação do movimento, a 29Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS consciência, a coordenação e a lapidação na execução do mesmo. Por fim, na última fase, que acontece continuamente, a automatização dos movimentos, coordenados e com qualidade. Como exemplo dentro da técnica podemos citar que na primeira fase, aprendemos o padrão respiratório e a ativação da região do core, estabilizando centro conseguirmos habilidades em extremidades. Na fase associativa, fortalecemos o centro com desafios e os movimentos são mais coordenados. E, na fase automática, a realização completa dos exercícios é adquirida, sem exigir grande atenção. É interessante saber sobre este processo. Ele ajuda a guiar o profissional na tomada de decisões, tanto relacionados as atividades propostas, quanto o tempo (estimado) necessário que o aluno/paciente precisa para adquira tal habilidade, independente da existência de lesões encefálicas ou não. 30Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS AVALIAÇÃO GERAL Neste capítulo abordaremos alguns aspectos gerais que devem ser observados na avaliação de indivíduos com patologias neurológicas. Testes, exames e escalas mais específicos relacionados a sintomas mais próprios de determinada patologia serão abordados nos respectivos capítulos. Antes de darmos inicio a qualquer tipo atividade com nosso aluno / paciente, é necessário a realização de uma avaliação pelo profissional. Ela serve para nortear as possíveis condutas a serem adotadas com esse novo praticante. Devemos lembrar que esse paciente apresenta alguma sequela neurológica proveniente de alguns distúrbio, podendo ser por muitas vezes progressivo. Em cima da queixa principal desse aluno / paciente ou dos motivos que o levaram a procurar o pilates como atividade física é que devemos iniciar nossa observação. A anamnese e o exame físico faz parte integrante do processo avaliativo. Por se tratar da aplicação método pilates a avaliação postural é extremamente importante e necessária, uma vez que esses indivíduos apresentam grande assimetria postural, em função de alterações neuromusculoesqueléticas. Devemos realizar a avaliação postural estática ou dinâmica. Na primeira observamos desvios posturais através de desequilíbrios musculares ou mesmo alterações no componente muscular (interessante investigar o porque essas alterações estão instaladas, se são resultados de lesões no SNC ou se são musculoesqueléticas. Na dinâmica solicitamos ao indivíduo que realize algum exercício e observamos padrões incorretos de movimento, que posteriormente facilitarão a tomada de decisão na hora de determinar os melhores exercícios a serem aplicados. 31Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS AVALIANDO O MOVIMENTO No pilates não temos uma padrão de avaliação específico, mas além da avaliação postural, que deve ser realizada na vistas anterior, lateral e posterior, podemos analisar determinados movimentos para nos ajudam a identificar possíveis instabilidades e desequilíbrios. MASSEY sugere a aplicação de 9 (nove) exercícios, repetido 5 (cinco) vezes, sem que o avaliado receba informações sobre o método ou sobre a direção do movimento. Os exercícios propostos para avaliação são: o agachamento (para estabilidade e controle dos membros inferiores); o avanço (observar instabilidade dinâmica dos membros inferiores e estabilidade de tronco no movimento combinado do quadril); equilíbrio em pé com uma perna (observar estabilidade do tronco à movimentação quadril); flexão de ombro (realizada em pé, observar estabilidade do ombro em relação ao tronco estável); flexão de braço (determinar a força e controle dos membros superiores e tronco); curl-up – abdominal com flexão parcial de tronco (observar a sequencia de movimento); desafio de quatro apoios (observar a capacidade do tronco de manter o alinhamento); Ponte (avaliar a estabilidade do centro em extensão); e a marcha (observando todos os pormenores da marcha como: movimento dinâmico, controle central, equilíbrio nas descargas de peso,...) AVALIANDO A COORDENAÇÃO MOTORA Para pacientes neurológicos, é indispensável a avaliação da coordenação motora. Claramente já conseguimos observar se o paciente apresenta algum déficit nessa questão (ataxias) quando avaliamos a marcha, o equilíbrio e a movimentação voluntário. Mesmo assim, alguns testes de rápida e fácil aplicabilidade podem ser realizados. 32Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS A manobra calcanhar-joelho para identificar falta de coordenação em membros inferiores. Em decúbito dorsal, solicitamos que o avaliado encoste o calcanhar de uma perna sobre o joelho da outra e deslize sequencialmente pela tíbia. Devemos realizar o teste de olhos abertos e fechados, identificando assim se a ataxia é cerebelar ou sensitiva. A manobra índex-índex é utilizada para identificar ataxias em membros superiores. Com membros superiores em abdução e os dedos indicadores estendidos, o avaliado deverá encostar os pontas dos indicadores, pode ser realizada com olhos abertos e/ou fechados. AVALIANDO TÔNUS Para avaliarmos o tônus necessitamos realizar a movimentação passiva ao nível da articulação, em todos os membros. Ele pode ficar acima do normal (hipertônico) ou abaixo dele (hipotônico). REFLEXOS DE ESTIRAMENTOS FÁSICOS Importante avaliar pois relacionam-se com a origem do movimento corporal. A hiperatividade das respostas quase sempre se traduz em sinal patológico. Testar o reflexo patelar e o aquileu, em membros inferiores e os reflexos cubitopronador, estilorradial, bicipital e tricipital em membros superiores. 33Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS REFLEXOS EXTEROCEPTIVOS – CUTANEOPLANTAR Para testar este reflexo o examinador passa algum objeto (como uma caneta) na borda lateral do pé, partindo do calcanhar e continuando o caminho pé. Como resposta normal os artelhos flexionam. O sinal de Babinski é uma resposta patológica em resposta a uma lesão neurológica e quando oteste é realizado ocorre extensão do hálux com abertura em leque dos demais artelhos. AVALIAÇÃO DE SENSIBILIDADE Importante testar, pois o alterações neste quesito alteram as respostas motoras. A sensibilidade exteroceptiva relacionada a dor epicrítica e a sensibilidade táctil devem ser testadas. Assim como a sensibilidade proprioceptiva consciente também (cinestesia e artrestesia). Muitos das opções de avaliação descritas são simples e fáceis de serem aplicadas dentro do estúdio de pilates. Não são as únicas formas de avaliação existentes. Encontramos na literatura maneiras e ferramentas mais específicas que devem ser consultadas caso o profissional acredite existir a necessidade para tal. 34Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Apesar de parte deste capítulo se intitular acidente vascular cerebral (AVC), abordaremos de forma mais ampla sua principal síndrome, a hemiplegia ou hemiparesia, uma vez que ela pode ser ocasionada por diversas outras doenças (tumores, traumas, esclerose múltipla). Tanto a hemiplegia, perda da mobilidade de um hemicorpo, quanto a hemiparesia, perda parcial dessa mobilidade, são sequelas cada vez mais comuns, graves e potencialmente incapacitantes. Os AVC’s acontecem de forma súbita e específica, e o grau de incapacidade gerados por eles se devem, principalmente, à extensão da área acometida. DEFINIÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1992, o AVC é uma síndrome clínica caracterizada por sintomas/sinais neurológicos focais e de rápida evolução, com duração de mais de 24 horas ou que levem à morte sem outra causa aparente que não a vascular. Podemos dizer que esta definição já se faz um tanto antiga, uma vez que exames de imagens, tão fundamentais para auxiliar no diagnóstico correto, não eram realizados na época em que a definição foi elaborada. 35Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS EPIDEMIOLOGIA As doenças que afetam o sistema cardiovascular são a principal causa de morte no Brasil. O AVC é a origem mais simples de incapacidade neurológica e a primeira causa de morte dentre as doenças cardiovasculares. Tanto sua etiologia quanto os fatores de risco que causam esta patologia são, em sua maioria, já bem conhecidos. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o fator mais predominante, além do histórico familiar de doença cardíaca, diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo, fumo e uso de pílula anticoncepcional. É sabido também que com o aumento da idade, após 65 anos, a incidência aumenta significativamente, mas mesmo assim, não pode ser considerado um processo natural de envelhecimento. Os AVCs isquêmicos são mais comuns do que os hemorrágicos, numa proporção de 70% no primeiro, para 20% no segundo, e 10% dos casos permanecem inespecíficos. FISIOPATOLOGIA / TIPOS DE AVC Para que o tecido nervoso permaneça vivo e em atividade ele necessita de vascularização ininterrupta, sendo totalmente dependente de oxigênio e glicose. Caso esse fluxo seja interrompido por mais de 3 minutos, as células nervosas começam a sofre apoptose e, muitas vezes, as alterações decorrentes dessa necrose celular se tornam irreversíveis. Um AVC pode acontecer proveniente de dois processos: a isquemia ou a hemorragia. A isquemia é a causa mais comum. Ocorre uma obstrução em uma das artérias cerebrais ou em suas ramificações. Ela pode tanto ser ocasionada por placas ateroscleróticas que bloqueiam o fluxo sanguíneo causando a isquemia de determinada região ou por êmbolos secundários provenientes do coração ou 36Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS de outros locais, e também causando esse processo. Menos comum, porém com sequelas geralmente muito mais graves e incapacitantes do que as ocasionadas por um acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi), é o acidente vascular cerebral causado por uma hemorragia (AVCh). A hipertensão, o aneurisma e malformação arteriovenosa podem causar este tipo de AVC. Independente da maneira como esse processo ocorra, as insuficiências focais provenientes dele dependerão do tamanho e da localização da lesão, além da quantidade de fluxo sanguíneo colateral. Grandes artérias cerebrais, a média, posterior e anterior, ou suas ramificações são mais acometidas pela obstrução. Na tabela abaixo estão relacionados os sintomas clínicos das lesões vasculares em função do vaso afetado e das possíveis estruturas envolvidas. 37Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Figura 5. Sintomas Clínicos de Lesões Vasculares Fonte: Umphered, Darcy. Reabilitação Neurológica, 2002. A HEMIPLEGIA E A HEMIPARESIA Podemos dizer que a hemiplegia ou hemiparesia é a sequela motora mais aparente e mais impactante pós-avc. No caso da hemiparesia aparecer em função do AVC temos um início súbito onde pode apresentar-se, no início, de forma flácida e, normalmente, evoluir para uma fase espástica. Caso não seja esta patologia a 38Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS etiologia deste padrão, a evolução do quadro hemiplégico pode ser progressivo e variar bastante. Na fase flácida, os músculos acometidos ficam flácidos, hipotônicos. Uma hipo ou arreflexia é notada e os sinais de automatismo medular (conjunto de reações reflexas que aparecem na lesões graves de medula) estão ausentes. Na fase espástica, uma hipertonia muscular (espasticidade) é percebida nos músculos afetados, os reflexos estão presentes ou mesmo hiperativos e sinais de automatismo medular estão ativos como, clônus, sinal de Babinski e exacerbação de reflexos discretos. Quando um paciente hemiplégico vem a procura do método pilates, na maioria das vezes, ele já está na fase espástica da sequela. Não raro é a associação de outros transtornos no lado acometido em comparação ao lado são, distúrbios tróficos na pele e sensitivos, artropatias dolorosas e edema são alguns deles. E também apresentarem outros sintomas em conjunto, como distúrbios sensoriais, sensitivos e cognitivos. Topograficamente podemos classificar as hemiplegias em completa ou incompleta, direta ou alterna. Completa quando a via piramidal é acometida superiormente a sua decussação, afetando um dimidio, e incompleta quando acomete um segmento. Pode ser direta quando as manifestações se dão do mesmo lado do corpo ou ser alterna quando a lesão piramidal se dá abaixo da cápsula interna, comprometendo partes em lados opostos. E ainda podemos dize-las proporcionais ou desproporcionais. A primeira é quando os déficit são equivalentes em todos os membros afetados e no segundo não, um membro é mais acometido que o outro. Essa classificação é importante, pois ajuda na possível localização da lesão, além de norteia um melhor jeito de traçar uma conduta a ser adotada. 39Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS PADRÃO MUSCULAR COMUM Mesmo não sendo uma via de regra, pois sequelas que provem de patologias neurológicas nunca tem, podemos identificar alguns padrões que geralmente aparecem em alguns grupos de pacientes. Quando o hemiplégico evolui para a fase espástica, é observado um padrão flexor em membro superior e extensor em membro inferior acometido, isto devido a hipertonia predominante nos músculos antigravitacionais. A espasticidade é um fator de grande interferência no prognóstico. Ela pode mascarar atividade motora voluntária, juntamente com a força muscular, resultando muitas vezes em padrões anormais de movimento, principalmente com movimentos em bloco. O MEMBRO SUPERIOR No membro superior uma rotação interna e adução é percebida com pronação de antebraço, e os punhose dedos estão flexionados e o polegar aparece aduzido. Quando solicitada a movimentação ativa desse membro ela acontece em bloco e o ombro mantem esse padrão de rotação interna e adução. A articulação escapuloumeral é a que mais sofre e apresenta alterações. Na fase flácida ela fica praticamente suspensa, somente com auxílio de ligamentos para mante-se posicionada. Tanto a gravidade quanto falhas no manuseio podem acarretar alterações significativas e irreversíveis que podem se manter até a fase espástica e perdurar durante toda a vida do paciente. O cuidado com está articulação é especialmente importante, pois precisamos estabiliza-la para conseguir movimentar as outras articulações mais distais a ela, além da mesma auxiliar no equilíbrio na hora da marcha e ser importante componente no que diz respeito a locomoção em cadeira de rodas e tranferências caso paciente necessite deste tipo de movimentação. 40Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS O MEMBRO INFERIOR No membro inferior, a articulação coxofemoral aparece em rotação externa, joelho em extensão e o pé em equino. Principalmente na fase flácida, a falha na maneira correta de posicionar o membro mantem esse padrão, além da retração do tendão-de-aquiles que gera o padrão presente na articulação do tornozelo. Quando o padrão de extensão é completo, a flexão dorsal ativa não acontece. Mas esse tipo de padrão é bem visto, uma vez que auxilia no processo de recuperação da marcha, mesmo que se mantenha uma postura anormal para este fim. Algumas compensações musculares e articulares acontecem em função do padrão patológico instalado. No caso da hiperextensão do joelho, é compensada por báscula da pelve em consequência de uma escoliose presente. Os exercícios presente neste livro facilitarão o estímulo ao correto posicionamento das articulações envolvidas, tentando quebrar o padrão aparente e facilitando a movimentação normal das articulações. Mas não podemos pensar somente na questão motora de forma isolada. Esses paciente apresentam, muitas vezes, distúrbios de atenção e concentração, de linguagem, alterações de sensibilidade, e todos esse fatores irão influenciar diretamente no prognóstico do paciente, assim como na elaboração e seleção das atividades o mesmo. AVALIAÇÃO Antes de traçarmos uma conduta, é primordial a realização de uma avaliação. A avaliação ajuda a verificar os objetivos para aquele paciente e a nortear nossa rotina de atendimento / aula. Para este tipo de pessoa que busca o Pilates como forma de reabilitação ou manutenção da qualidade de vida, dentro de suas reais 41Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS condições, devemos utilizar testes específicos para quantificar e qualificar nossa análise inicial. Quando fazemos um exame físico geral deste paciente, devemos olhá-lo como um todo, e não somente à hemiplegia. Outro fator de extrema importância é que quando falamos em processo de recuperação funcional, não podemos esquecer que o mesmo depende da capacidade do paciente de compreender as instruções recebidas. Precisamos conseguir estabelecer uma forma eficiente de comunicação. Para isto, a linguagem – como capacidade de compreender, elaborar e / ou emitir recursos, mesmo que de maneira não tão apurada e completa, deve estar preservada. AVALIAÇÃO POSTURAL A avaliação postural, como em todos os outros grupos de alunos e pacientes, deve ser realizada. Por definição, “postura é o modo como o indivíduo se apresenta no espaço e é determinada pelo equilíbrio dinâmico do sistema neuromusculoesquelético.” Uma boa postura se apresenta quando temos um melhor rendimento funcional com um menor gasto energético. Qualquer coisa diferente disto podemos considerar alteração postural. Existe hoje, inúmeros softwares e aplicativos que podem auxiliar neste tipo de avaliação. O SAPO é o programa mais conhecido, porém não acessível nos estúdios de pilates. A tecnologia dos aplicativos tem ajudado nessa questão. O PostureScreen e o Boa Postura são alguns desses aplicativos. Esta avaliação consiste em observamos e registrarmos alterações anatômicas que resultem em desvios posturais, e para isto inspecionamos o indivíduo nos planos anterior, posterior e lateral. Podemos utilizar como base o fio de prumo para posicionar o indivíduo e assim fazer as corretas observações. Tal avaliação deve ser feita para percebermos os desequilíbrios musculares e fazer com que consigamos 42Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS prescrever corretamente os exercícios a fim de favorecer o posicionamento correto das estruturas e consequente melhora funcional evitando acentuação dos desequilíbrios aparentes. AVALIAÇÃO ESPECÍFICA Pensando na questão do sistema neuromusculoesquelético, precisamos verificar alguns pontos importantes. Devemos avaliar o desempenho motor; a amplitude articular, tanto a ativa, a ativa assistida, quanto a passiva; a força; o tônus muscular; o equilíbrio, estático e dinâmico; a coordenação; e a marcha. A funcionalidade também deve ser avaliada. Algumas escalas existem para facilitar este processo, como o Índice de Barthel e a Escala de Avaliação motora que são de fácil e rápida aplicabilidade. Para o desempenho motor podemos utilizar o teste Fugl-Meyer, porém o tempo de duração da aplicação do teste é relativamente alto e se torna um empecilho para a sua realização dentro do estúdio, mesmo sendo um teste com boa validade. Para o equilíbrio a Avaliação de equilíbrio de Berg (Berg Functional Balance Scale) pode ser utilizada, respeitando as alterações para pacientes com AVC. E para marcha temos o Timed Up & Go Test, também de fácil empregabilidade. Toda avaliação se faz importante, como enfatizada a todo momento. Ela fornecerá informações para percebermos quais os movimentos e funções do paciente são possíveis de serem realizados ou não, e como os padrões anormais de movimentos vão interferir na capacidade ou no desempenho funcional. Em suma, com ela, podemos identificar os problemas, desenvolver estratégias para tentar sanar estes problemas e acompanhar o progresso ou regresso dos mesmos. 43Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS CONDUTA GERAL / MEDICAMENTOSA O tratamento medicamentoso para o AVC irá depender da etiologia do processo e de quais são os problemas associados que necessitem de uma intervenção mais específica e contínua farmacológica. Se isquêmico, ocasionado por um trombo ou êmbolo, a terapia anticoagulante geralmente é a mais indicada. Se for por hemorragia, de maneira profilática, a uso de drogas anti-hipertensivas são mais utilizadas. Independente de qual maneira aconteça, a conduta médica é sempre preventiva. Para alguns problemas associados, os pacientes fazem uso de medicação contínua. No caso da espasticidade, temos drogas que atuam no sistema nervoso central e as que atuam na periferia. A desvantagem das drogas que atuam no SNC, como o diazepam, é que elas deprimem todo o sistema, causando sonolência e ansiedade, que pode interferir nas sessões de pilates. As drogas que atuam perifericamente apresentam um efeito temporário, mas conseguem diminuir os efeitos da espasticidade na musculatura acometida e, consequentemente, melhorar a funcionalidade ou posicionamento da estrutura. CONDUTA BASEADA NO MÉTODO PILATES Quando recebemos um paciente com disfunções motoras tão aparentes como a hemiplegia ou a hemiparesia, acabamos dando mais importância a este padrão patológico do que ao que o paciente realiza de maneira correta ou apresenta de qualidade motora. Focar no paciente como um todo é de vital importância para que ele melhorefuncionalmente e seja cada vez menos dependente nas atividade de vida diárias. É exatamente o que o conceito pilates se propõem, trabalhar o indivíduo como um todo. 44Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS Antes que qualquer movimento ocorra precisamos dar ao paciente estabilidade central. Para que os movimentos de membros superiores e inferiores aconteçam com qualidade e eficiência, minimizando o risco de possíveis lesões, devemos ensinar ao nosso paciente o princípio da centralização. Como já vimos, a hemiparesia acomete um dimidio, e isto inclui não só os membros e a face, mas também o tronco do indivíduo. Este muitas vezes esquecido durante os tratamentos. Com a perda da musculatura estabilizadora aumentamos a sobrecarga em outras estruturas e consequentemente aumentamos o gasto energético para realizar uma tarefa ou exercício podendo acarretar dor e fadiga. O tronco também tem fator primordial na mecânica respiratória. A paralisia de um lado do tórax causa a insuficiência respiratória levando a fadiga. A fadiga é o maior problema que acomete os pacientes hemiplégicos. A diminuição da capacidade respiratória associada ao aumento da demanda de oxigênio resultante dos padrões anormais de movimento atípicos causam esta condição de cansaço. A fraqueza muscular ou paralisia resultante da hemiparesia nos músculos abdominais, eretores da espinha e do trapézio médio e inferior influenciam negativamente na capacidade respiratória, que depende de uma postura e de um bom equilíbrio muscular para ser ideal. Esses músculos debilitados dificultam a retificação da coluna superior incapacitando a mecânica do tórax de levantar e expandir para que a capacidade pulmonar seja maximizada. A respiração no pilates acontece de forma tridimensional ou costo lateral, procurando utilizar toda a capacidade que os pulmões tem para captar oxigênio. Exige atenção e consciência para sua realização, mesmo sendo o mais natural possível. Para estes pacientes devemos enfatizar ainda mais as inspirações longas e profundas para expansão da caixa torácica e lembrar que na expiração não devemos forçar o esvaziamento dos pulmões para que os músculos oblíquos não sejam ativados excessivamente, fazendo com que acarretem alterações na estabilidade da coluna. Sabemos, depois de realizar a avaliação, que algumas coisas o paciente consegue fazer e apresenta capacidade muscular para ativar determinados músculos 45Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS e o que não. Importante salientar, que mesmo depois de muito tempo de lesão, vale acreditar na plasticidade neural e vale a estimulação de todas a musculatura a fim de melhorar toda capacidade neuromusculoesquelética deste indivíduo. Autores citam a plasticidade como uma propriedade intrínseca do SNC e que acontece durante toda a vida, e não somente 3 ou 6 meses após algum tipo de lesão. Além disso nosso sistema modifica-se continuamente em função de estímulos sensoriais e da atividade motora. Outro ponto importante é o direcionamento de atividade bimanuais. Alguns conceitos de reabilitação após o AVC dão ênfase somente a reabilitação do lado comprometido. Como já visto, o conceito pilates trabalha o paciente globalmente, Alguns estudos citam, que se movimentos bimanuais forem realizados simultaneamente, sugere-se uma interação coordenada do SNC, pois ambos atuando agem como uma unidade que supera a ação de um único membro. Quando inserimos o Pilates no programa de tratamento de um paciente, não devemos pensar como acontece com alguns protocolos de reabilitação que tem receio em fortalecer musculaturas espásticas pelo aumento de padrões anormais de movimentos, pois isto não acontece. Tanto o fortalecimento muscular quanto e/ou o condicionamento físico, ambos também proporcionados pelo conceito em questão, são capazes de beneficiar os pacientes acometidos com ganhos funcionais, sem que para isso ocorra alguma alteração no tônus. E ainda, quando comparada a outras formas de fortalecimento muscular, a utilização de treinamento combinando movimentos concêntricos e excêntricos apresentam resultados com maiores ganhos na força muscular e na performance funcional do membro inferior. Quando pensamos no paciente hemiparético, existem várias abordagens distintas que podem ser aplicadas. Facilitar os padrões normais de movimento e inibir padrões espásticos e estereotipados, como a teoria neuroevolutiva descreve é uma boa intervenção. O Pilates surge para complementar esta abordagem e incrementar as terapias/aulas conforme o terapeuta acredite que seja melhor para o paciente/aluno em questão. 46Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS DOENÇA DE PARKINSON A Doença de Parkinson (DP) é uma patologia crônica, de caráter progressivo, lento e degenerativo do sistema extrapiramidal, e caracterizada por produzir, principalmente, mas não exclusivamente, um conjunto de distúrbios motores. É uma das doenças neurodegenerativas mais prevalentes do SNC. Vale destacar que para as manifestações clínicas geradas pela DP damos o nome de parkinsonismo ou síndrome parkinsoniana, e que algumas outras patologias podem apresentar o parkinsonismo como característica. PATOLOGIA / FISIOLOGIA Como processo patológico, acontece no SNC, ou mais especificamente, na região dos núcleos da base (substância negra e corpo estriado) ocorre uma degeneração celular em função da redução da concentração de dopamina na sinapse. A dopamina é um importante neurotransmissor, de papel singular no controle dos movimentos e quando não funcionam adequadamente, afetam a dinâmica no circuito dos núcleos da base, acarretando os principais sinais e sintomas desta patologia. Este processo ocorre de maneira progressiva e irreversível. Não só de sintomas motores é descrita esta patologia. Os distúrbios mentais e autonômicos, por exemplo, são ocasionados por deficiência dopaminérgica, porém, não nos núcleos da base. 47Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS ETIOLOGIA / EPIDEMIOLOGIA A DP não apresenta uma causa definida, mas acredita-se que alguns fatores podem pré-dispor esta patologia, entre eles: neurotoxinas ambientais (uso de heroína), fatores genéticos e idade avançada. Estatisticamente a prevalência desde doença aumenta com a idade, em 74% dos casos aparecem na faixa acima de 70 anos de idade. Isto não impede o aparecimento precoce dos sintomas até mesmo antes dos 21 anos. Estima-se que 0,1% da população geral seja acometida pela doença. O sexo masculino acaba sendo o mais acometido, numa proporção pequena se comparado ao feminino. Outros fatores como classe social e diferenças geográficas parece não ter influência significativa na incidência desta patologia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Como manifestações básicas do DP, o parkinsonismo apresenta 4 distúrbios de movimento mais característicos: acinesia ou bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural. Estas são as principais, porém não os unicos sinais e sintomas. Com a progressao da doença outros fatores aparecem, tanto pela própria progressão fisiológica da doença quanto decorrentes dos sintomas físicos e de fatores psicossociais de cada pessoa acometida. ACINESIA E BRADICINESIA Acinesia e bradicinesia são, respectivamente, a ausência e diminuição dos movimentos, e são manifestações bem características desta patologia. Afeta os 48Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS movimentos voluntários e os automáticos, tanto na iniciação quanto na execução dos mesmos. A predisposição em adotar e manter posturas fixas provem deste sintoma. Este fenômeno acontece em todotipo de movimentação e em todos os aspectos, desde a redução na expressão facial e na marcha em bloco, que acontece sem a movimentação dos braços, até em alterações na direção do movimento e em parar esta atividade. Os movimentos mais complexos sofrem mais com essas alterações do que os movimentos simples. A acinesia pode ser subita (freezing), não tão comum no inicio dos sintomas, mas especialmente incapacitante numa fase mais avancada da DP e interfere muito na aplicabilidade de qualquer terapia ou atividade física. O indivíduo nao consegue iniciar o movimento ou acontece uma perda abrupta da capacidade de sustentar um movimento mais específico. Geralmente ocorre durante a marcha, mediante um obstáculo físico ou visual ou por uma tensão emocional. RIGIDEZ MUSCULAR A rigidez muscular presente nesses indivíduos e do tipo plástica. A resistência a movimentação em uma articulação é regular aumentada em toda a amplitude de movimento. Essa resistência pode ser suave (“cano de chumbo”) ou intermitente (“roda denteada”). Esse processo faz com que o indivíduo tenha um gasto energético maior para realizar os movimentos, percebendo um aumento no esforço o que pode acarretar em sensação de fadiga. Acomete principalmente a musculatura flexora, surgindo alterações de tronco e membros (postura simiesca) que, geralmente, são assimétricas e unilateral. 49Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS TREMOR DE REPOUSO O tremor acontece por contrações alternadas de grupos musculares opostos, acometendo mais extremidade em membro superiores do que inferiores. Também apresenta carater assimétrico ou unilateral. A movimentação voluntária diminui este padrão, enquanto a marcha, fatores emocionais e esforço cognitivo exacerbam este sintoma. Mesmo sendo esteticamente incapacitante, este sintoma dificilmente interfere nas AVD’s. INSTABILIDADE POSTURAL Esta manifestação clínica acontece em função da perda dos reflexos de readaptação postural, fazendo com que o tronco, que fica levemente caído a frente do corpo, não consiga reajustar o movimento, para voltar a posição anatômica e ereta, facilitando episódios de queda. As quedas são um problema sério no parkinsonismo e a terapia medicamentosa, geralmente, não é eficiente para diminuir a ocorrência deste problema. Não se sabe ao certo o que causa esta instabilidade postural, porém, entre as hipóteses existentes para explicá-la está a inefetividade do processamento sensorial ou também a falta de reações antecipatórias para controle postural, com defeitos na seleção das estratégias produzindo respostas inadequadas e mal-adaptadas. A MARCHA O padrão da marcha adotado pelo parkinsoniano é bem característico e vale a descrição em um tópico a parte. Os passos são curtos, de baixa velocidade 50Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS e ocorre um aumento da cadência. Conforme a doença progride, os passos se tornam mais curtos e mais rápidos, a este padrão de deambulação damos o nome de festinação que pode ser para frente (propulsão) ou para trás (retropulsão), tentando sempre encontrar o centro de gravidade. Tanto a marcha quanto a instabilidade postural são principal fator causador de incapacidade em casa e no trabalho desses indivíduos. Além dessas principais alterações motoras citadas, existem outras que também são de suma importância durante a elaboração de um programa de aula / terapia, uma vez que interferem diretamente no andamento do programa, são elas: as manifestações cognitivas, psiquiátriacas e autonômicas. A primeira, quando presente na fase inicial, é discreta, mas com a progressão da doença pode até evoluir para uma grave demencia. A depressão esta presente em quase metade dos portadores desta patologia. Por este motivo deve-se ter cautela com os exercícios propostos, pois o risco de queda de nivel desses indivíduos é grande pelas manifestações motoras e pode agravar ainda mais o grau de depressão e descontentamento. E a última esta relacionada com obstipação intestinal e hipotensão postural. Ainda aparecem sintomas relacionados a percepção e atenção, apresentando uma dificuldade em dividir esta atenção e ativar a “memória em atividade”. Estas deficiência interferem, e muito, nas estratégias de tratamento, em função da dificuldade em prender a atenção quando necessário, em selecionar respostas motoras corretas oriundas de um estímulo sensorial ou ainda, como já dito, dificuldade em dividir a atenção. Déficits de aprendizagem são comuns nesses indivíduos, sendo necessário uma prática maior na realização de uma atividade aprendida. Observação: A broncopneumonia é uma das complicações mais sérias relacionais a DP e é a maior causa morte da mesma. Tal patologia provem da diminuição da atividade geral concomitante à falta de expansibilidade torácica. 51Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS DIAGNÓSTICO O Diagnóstico é basicamente clínico realizado através de exames físicos e histórico médico. Para caracterizar esta patologia é necessário que pelo menos duas, das quatro principais manifestações motoras se façam presentes. CONDUTA GERAL / MEDICAMENTOSA Como não se sabe a etiologia da DP, fica difícil fazer algo preventivo ou que combata a patologia. Sempre voltamos na premissa de tratar o indivíduo como único, pois mesmo a doença apresentando padrões e sintomas bem determinados, o acometimento e as desordens decorrentes dos principais sintomas são específicos de cada portador, e se manifestam e acometem lugares diferentes, com intensidades diferentes. Dentro de um processo de reabilitação ou mesmo de atividade física qualquer, para este tipo de população, uma equipe multidisciplinar se faz necessária. A principal terapia medicamentosa é realizada com a utilização da L-dopa, que é um precursor da dopamina no SNC. Apesar de não restaurar os neurônios perdidos, este medicamente ajuda aumentando a função dopaminérgica, amenizando os sintomas, mas nunca freando a evolução da DP. O principal problema é o tempo de utilização da droga associado aos efeitos colaterais decorrentes da mesma. Quanto maior a dose, mais intenso pode ser o feito colateral e independe de à quanto tempo o paciente / aluno usufrui do medicamento. Importante saber sobre, pois o uso do medicamento influencia o desempenho motor. O paciente / aluno estará num período “on” ou “off” da interação medicamentosa, no primeiro com efeito máximo da droga e, no segundo com 52Karla Vergaças Seleme PILATES NAS patologias NEUROLÓGICAS efeito mínimo sendo que no período “on” é onde eles estão mais preparados para realização de exercícios físicos. A conduta cirúrgica pode ser adotada quando o indivíduo não responde a medicação e/ou já se encontra em um estágio avançado da doença. AVALIAÇÃO Quando pensamos em nosso paciente / aluno portador do DP, precisamos avalia-lo perante sua deficiência e seu desempenho funcional. A avaliação postural, assim como testes de força, comprimento muscular, tônus e, principalmente, a marcha (padrões e tempo de execução) e equilíbrio dinâmico (teste de alcance funcional), devem ser realizados sempre que necessários. Outro recurso de rápida e fácil utilização nos dias de hoje, é a filmagem do aluno / paciente realizando algum exercício ou durante a marcha, podendo utilizar como parâmetro para comparação na avaliação inicial e após algum tempo da realização das aulas de pilates. Podemos utilizar as escalas para avaliar tanto os sintomas quanto alguma outra condição que o indivíduo apresente. A Escala de Contagem unificada da Doença de Parkinson (UPDRS) auxilia monitorando a progressão da doença e da eficácia
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