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c Um romance realista, que se caracteriza pelo estu- do da psicologia das personagens. O meio social em que vivem as personagens não interfere no comportamento delas. Um romance romântico, que se caracteriza pela idealização das personagens. O meio social em que as personagens vivem não interfere no com- portamento delas. E Um romance romântico, que se caracteriza pelo es- tudo do comportamento das personagens. O meio social interfere no comportamento delas. 7 Mackenzie [...] cara extensa, olhos rasos, mortos, de um pardo transparente, lábios úmidos, porejando baba, mei- guice viscosa de crápula antigo. POMPÉIA, Raul. Quanto ao estilo, esse fragmento descritivo destaca A a tendência do Naturalismo em revelar, através do aspecto físico, traços do caráter. B a tendência dos escritores realistas de criticar a hi- pocrisia do comportamento aristocrático. c a oposição entre “físico grotesco” e “moral subli- me”, o que comprova sua característica romântica. a concisão típica do Modernismo, comprovada pelo uso comedido da adjetivação. E o egocentrismo exacerbado, a irreverência e a visão mórbida do mundo que caracterizam o “byro- nismo” do século XIX. Instrução: Para a próxima questão, marque V (verda- deiro) ou F (falso). 8 UFPE A estética antirromântica iniciou-se na segunda metade do século XIX, com o Realismo, e aprofun- dou-se com o Naturalismo. Sobre esses movimentos, julgue as proposições a seguir. J 0-0 As transformações econômicas, científicas e ideológicas possibilitaram a Revolução Industrial, na qual os valores burgueses e ca- pitalistas suplantaram os valores românticos: a fantasia e o mito da natureza entram, assim, em crise. J 1-1 Surge, na literatura, o Realismo, movimen- to em que o artista é, ao mesmo tempo, um participante e um observador do mundo. Esse aspecto conduz à representatividade histórico- -social e à análise psicológica das personagens, examinadas à luz do racionalismo e da contem- poraneidade. J 2-2 Entre as características do Realismo brasileiro, estão a objetividade, a impessoalidade e o uso da linguagem regional. J 3-3 O Naturalismo é um prolongamento do Realis- mo, pois acrescenta uma visão cientificista da existência, a qual inclui o determinismo do meio ambiente, do instinto e da hereditariedade. J 4-4 O Realismo teve sua primeira manifestação importante com a publicação de Memórias pós- tumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e o Naturalismo, com Dom Casmurro, do mesmo autor, ambos em 1881. 9 PUC-RS Daí a pouco, em volta das bicas era um zum-zum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fê- meas. [...] O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debai- xo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. [...] O rumor crescia, condensando-se; o zum-zum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes disper- sas, mas um só ruído compacto [...]. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula vi- çosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. Expressões tais como “machos e fêmeas”, “cabelo para o alto do casco”, “molhar o pelo” constroem ima- gens que remetem a uma ________ entre homens e animais, típica do ________, que se constitui num prolongamento do ________. A dissociação – Realismo – Naturalismo B contemporização – Modernismo – Realismo c dissociação – Romantismo – Naturalismo associação – Naturalismo – Realismo E contemporização – Realismo – Romantismo Leia o trecho do romance O cortiço, de Aluísio Azeve- do, para responder à questão 10. Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas. Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, tris- te, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, es- corridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”. Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sen- suais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 8 Naturalismo: o homem é bicho262 ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda. O cortiço, 2007. 10 Famerp 2017 Uma relação correta entre o trecho apre- sentado e o movimento literário em que O cortiço está inserido é: A a referência cuidadosa e delicada à sexualidade das personagens é parte de um esforço, típico do Realismo, para apresentar o ser humano em sua to- talidade sem sobrecarregar um de seus aspectos. B a caracterização das personagens como indivíduos únicos e isolados da coletividade, deixando em segundo plano suas relações sociais, é um traço típico do Naturalismo. c a preferência das personagens pela razão e seu desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a ciência e a objetividade e desvalorizar a religião, são características do Realismo. a valorização da vida perto da natureza, com perso- nagens que abrem mão dos métodos e dos objetos frutos da tecnologia para se ligarem à tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma característica do Naturalismo. E a descrição das características vulgares das per- sonagens e a frequente associação entre homens e animais, que ajudam a estabelecer uma concep- ção biológica do mundo, são características do Naturalismo. Texto para as questões 11 e 12. Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Riti- nha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”. Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para ideali- zar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, ven- cido, às imposições do Sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. [...] E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apu- ravam, posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amoresinfelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de um marujo, que se habitua- ram aos largos horizontes de céu e mar, já se não re- voltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte dos maravilho- sos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 11 Fuvest 2012 Considere as seguintes afirmações, rela- cionadas ao excerto de O ortiço: I. O sol, que, no texto, se associa fortemente ao Bra- sil e à “pátria”, é um símbolo que percorre o livro como manifestação da natureza tropical e, em certas passagens, representa o princípio mascu- lino da fertilidade. II. A visão do Brasil expressa no texto manifesta a ambiguidade do intelectual brasileiro da época em que a obra foi escrita, o qual acatava e rejeita- va a sua terra, dela se orgulhava e envergonhava, nela confiava e dela desesperava. III. O narrador aceita a visão exótico-romântica de uma natureza (brasileira) poderosa e transforma- dora, reinterpretando-a em chave naturalista. Aplica-se ao texto o que se arma em A I, somente. B II, somente. c II e III, somente. I e III, somente. E I, II e III. 12 Fuvest 2012 O papel desempenhado pela persona- gem Ritinha (Rita Baiana), no processo sintetizado no excerto, assemelha-se ao da personagem A Iracema, do romance homônimo, na medida em que ambas simbolizam o poder de sedução da ter- ra brasileira sobre o português que aqui chegava. B Vidinha, de Memórias de um sargento de milíias, tendo em vista que uma e outra constituem fatores decisivos para o desencaminhamento de persona- gens masculinas anteriormente bem orientadas. c Capitu, de om casmurro, a qual, como a baiana, também lança mão de seus encantos femininos para obter ascensão social. Joaninha, de A idade e as serras, pois ambas re- presentam a simplicidade natural das mulheres do campo, em oposição à beleza artificiosa das mulhe- res das cidades. E Dora, de capitães da areia, na medida em que ambas são responsáveis diretas pela regeneração física e moral de seus respectivos pares amorosos. F R E N T E 2 263 13 UEM 2018 Assinale o que for orreto sobre estilos de época na literatura. 01 O projeto literário do Romantismo comporta uma ruptura com os padrões clássicos de beleza, pauta- dos na simplicidade e no equilíbrio que a natureza inspira. Os escritores românticos tomam para si a missão de criar uma identidade estética para a bur- guesia ascendente, assim como uma identidade própria para o Brasil, alicerçando tudo isso em uma perspectiva frequentemente individualista, subjeti- va, marcada pela negação do controle emocional. 02 A linguagem dos textos românticos é marcada pelo rigor formal. Na poesia, tal rigor é anunciado por fórmulas literárias assentadas em rígidos esquemas de métrica e de rimas. Na ficção, a escassez da adjetivação e de reticências remete a uma postura sóbria e lúcida. 04 A estética simbolista chega ao Brasil concomitante- mente ao Realismo. E, com uma postura igualmente assentada nos sentidos e nas sensações, edifica uma poesia engajada e comprometida com os de- bates socioculturais e políticos que movimentavam a segunda metade do século XIX. 08 Parte dos romances naturalistas é também conhe- cida como literatura de tese. Isso porque recebe a influência do cientificismo que marcava a segunda metade do século XIX por meio da larga difusão de ideias deterministas, evolucionistas, positivis- tas. Inspirados nessas teorias, alguns escritores construíam personagens e situações como se es- tivessem demonstrando teses. 16 A poesia parnasiana desenvolveu-se a partir do pressuposto da arte pela arte, isto é, da arte com um fim em si mesma, sem pretensões de contribuir com debates sociais, culturais e/ou políticos que constituem o contexto em que emergem. Soma:JJ 14 Fuvest 2018 O rumor crescia, condensando-se; o zun- zum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se* discussões e rezingas**; ouviam-se gar- galhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo compras. Duas janelas do Miranda abriram-se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa. – Nhá Dunga! gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, bata na porta, ouviu? Aluísio Azevedo, O cortiço. * ensarilhar-se: emaranhar-se. ** rezinga: resmungo. Uma característica do Naturalismo presente no texto é: A forte apelo aos sentidos. B idealização do espaço. c exaltação da natureza. realce de aspectos raciais. E ênfase nas individualidades. Instrução: Para a próxima questão, marque V (verda- deiro) ou F (falso). 15 UFPE 2014 Machado de Assis, Aluísio Azevedo e Lima Barreto, em suas narrativas, retratam o Rio de Janeiro com foco em questões étnicas e sociais. Os dois pri- meiros representam a sociedade da segunda metade do século XIX, e o terceiro, as primeiras duas décadas do século XX. Em relação aos temas abordados por esses autores, analise as afirmações seguintes. J 0-0 A produção romanesca dos três autores narra si- tuações vividas por personagens pertencentes às mesmas classes sociais, tendo em vista essas per- sonagens terem sido construídas com base em características de um mesmo movimento literário. J 1-1 Machado de Assis revela-se, principalmente em seus romances da segunda fase, um profundo observador da sociedade carioca, ao criar per- sonagens burguesas, como Brás Cubas, que se apresentavam vulneráveis e, por vezes, detento- ras de uma visão de mundo cética e pessimista. J 2-2 Em Dom Casmurro, romance escrito, narrado e vivido por um autor-personagem, que pre- tende “atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência”, Machado de Assis retrata a burguesia carioca em seus mínimos detalhes e apresenta um triângulo amoroso ex- plícito, composto por Capitu, Bento Santiago e Escobar, o melhor amigo da família. J 3-3 Em O Cortiço, Aluísio Azevedo apresenta a ci- dade do Rio de Janeiro através de um narrador que retrata a realidade do cortiço, antiga estru- tura habitacional. Nesses ambientes, residiam pessoas de classes sociais mais humildes e de origens étnicas distintas. Assim, negros, mulatos e portugueses convivem no mesmo ambiente e por ele são influenciados. J 4-4 A ficção de Lima Barreto retrata o Rio de Janeiro do começo da República, em que personagens, como Policarpo Quaresma, ao defenderem os fracos e injustiçados, terminam condenados pelo próprio sistema do qual participam. Além disso, o autor condena o preconceito contra negros e mulatos, moradores dos subúrbios cariocas, no início do século XX. 16 Mackenzie 2012 Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos [...]. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam [...]. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se1. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 8 Naturalismo: o homem é bicho264