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Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado uma abordagem heideggeriana

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Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana 253Silva ARB, Merighi MAB.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/
UNDERSTANDING WOMEN WITH ADVANCED GYNECOLOGICAL CANCER:
A HEIDEGGERIAN APPROACH
COMPRENDIENDO EL ESTAR CON CÁNCER GINECOLÓGICO AVANZADO:
UN ABORDAJE HEIDEGGERIANO
.
Ana Regina Borges Silva1, Miriam Aparecida Barbosa Merighi2
RESUMO
A trajetória deste estudo voltou-
se para a compreensão da vivência
das mulheres com câncer gineco-
lógico avançado. Optou-se por
uma pesquisa qualitativa com
abordagem fenomenológica, com
base na questão norteadora:
“Gostaria que você me contasse a
sua experiência; Como é ser
mulher com câncer ginecológico?”
Obtiveram-se seis depoimentos
dos quais emergiram as unifica-
ções ontológicas analisadas e in-
terpretadas, segundo o referencial
filosófico de Martin Heidegger.
Tais unificações permitiram vis-
lumbrar caminhos para cuidar
dessas mulheres que vão além do
conhecimento técnico científico.
É necessário compreender o vivi-
do, assegurando um cuidar que
contemple a subjetividade e
intersubjetividade.
DESCRITORES
Enfermagem oncológica.
Cuidados de enfermagem.
Neoplasias dos genitais
femininos.
ujeres.
RESUMEN
La trayectoria de este estudio se
orientó a la comprensión de la
vivencia de las mujeres con cáncer
ginecológico avanzado. Se optó
por una investigación cualitativa
con abordaje fenomenológico, con
base en la pregunta norteadora:
“Desaría que Ud. me contase su
experiencia: ¿cómo es ser mujer
con cáncer ginecológico?” Se
obtuvieron seis discursos de los
cuales emergieron las unifica-
ciones ontológicas analizadas e
interpretadas, según el referencial
filosófico de Martin Heidegger.
Tales unificaciones permitieron
vislumbrar caminos para cuidar a
esas mujeres que van más allá
del conocimiento técnico cientí-
fico. Es necesario comprender lo
vivido, asegurando un cuidar que
contemple la subjetividad e
intersubjetividad.
DESCRIPTORES
Enfermería oncológica.
Cuidados de enfermería.
Neoplasias de los genitales
femeninos.
ABSTRACT
This qualitative phenomenolo-
gical research was carried out in
order to understand how women
experience living with advance
gynecological cancer. We chose to
make a qualitative survey in a
phenomenological approach,
based on the following directive
question: “I’d like you to tell me
your experience: ‘How is it to be
a woman with gynecological
cancer?’” Six women were inter-
viewed. The ontological unifica-
tion which emerged from the
speeches were analyzed and
interpreted according to Martin
Heidegger’s philosophical refe-
rential. These unifications made
possible to see ways to care for
these women that go far beyond
technical and scientific know-
ledge. It is necessary to unders-
tand what has been lived by the
other, thus ensuring a quality of
care that contemplates subjecti-
vity and inter-subjectivity.
KEY WORDS
Oncological Nursing.
Nursing Care.
Genital neoplasms, female.
Recebido: 20/07/2004
Aprovado: 28/01/2005
R
ELATO D
E P
ESQ
U
ISA
Compreendendo o estar com
câncer ginecológico avançado:
uma abordagem heideggeriana*
* Texto extraído da
Tese “Convivendo
com o câncer gineco-
lógico avançado: em
foco a mulher e seus
familiares”, Programa
Interunidades da
Escola de Enferma-
gem da Universidade
de São Paulo (EEUSP)
e Escola de Enferma-
gem de Ribeirão
Preto da USP, 2002.
1 Enfermeira. Professora
Doutora do Departa-
mento de Enferma-
gem da Faculdade
de Ciências Médicas
da Universidade
Estadual de
Campinas (UNICAMP).
anare@fmc.unicamp.br
2 Enfermeira obstetra.
Professora Livre-
docente do Departa-
mento Materno-
Infantil e Psiquiátrica
da EEUSP.
merighi@usp.br
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/254
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana
Silva ARB, Merighi MAB.
INQUIETAÇÕES E
OBJETIVO DO ESTUDO
O interesse em estudar a mulher com câncer ginecológi-
co avançado, partiu da atuação de uma das autoras desse
trabalho. Sua vivência profissional enquanto enfermeira,
durante dez anos, em um serviço de oncologia ginecológica
de uma universidade pública e, posteriormente, exercendo
nesse local a docência em enfermagem, junto à disciplina
Saúde da Mulher, possibilitou a oportunidade de conviver
com mulheres portadoras de câncer, compartilhando com
essas pessoas os momentos que experienciaram durante a
doença e tratamento.
Dado ao interesse pelo cuidado de enfermagem a estas
pessoas, particularmente quanto àquele dispensado às mu-
lheres com doença em estadio avançado e, observando que
as enfermeiras e os demais integrantes de sua equipe esta-
vam mais preparados para atuar junto às mulheres interna-
das para tratamento cirúrgico ou com a doença sob contro-
le, desenvolveu a dissertação de mestrado com o objetivo
de compreender a vivência de enfermeiras
no cuidar de mulheres com câncer ginecoló-
gico avançado(1).
Esse estudo mostrou que a demanda de
cuidado de enfermagem à mulheres com cân-
cer ginecológico avançado repercute no de-
sempenho das enfermeiras, tanto no âmbito
técnico como no expressivo. O cuidado à
estas pacientes foi considerado tarefa difícil
devido ao confronto do profissional de en-
fermagem com as desfigurações corpóreas,
a dor, a proximidade da morte, ao fato desse
profissional possuir uma formação acadêmica insuficiente,
conforme eles mesmos apontaram, e, ainda, às condições de
trabalho serem insatisfatórias, demonstrando, assim, que não
havia real interação entre a enfermeira e a paciente(1).
Durante a realização deste estudo e da vivência com as
mulheres, percebeu-se a pouca relevância dada pelo profis-
sional de enfermagem no sentido de não considerar a expe-
riência do câncer ginecológico avançado sob a perspectiva
da mulher que vive esta situação.
A perplexidade referente às dificuldades descritas pelas
enfermeiras no cuidar de enfermagem a estas mulheres, no
tocante aos aspectos relacionais, à formação acadêmica in-
suficiente na realização deste tipo de cuidado e às adversas
condições de trabalho, assim como a vivência junto a estas
pacientes, ora cuidando ora atuando com os alunos de gra-
duação, ampliaram as inquietações a respeito desta temática,
despertando as seguintes indagações: Como é para estas
mulheres conviverem com uma doença crônica grave
permeada por estigmas e mitos? Qual é o sentido que atribu-
em às suas vidas diante desta experiência de adoecimento?
Ao ingressar no Curso de Doutorado, pareceu conveni-
ente delimitar o estudo focalizando mulheres que
vivenciassem o câncer ginecológico, especificamente as que
possuíssem a doença em estadio avançado e cuja localiza-
ção primária fosse o colo uterino, o corpo de útero ou os
ovários, pois durante o exercício das suas atividades,
assistencial e docente, percebia que existem momentos no
decorrer do tratamento em que as mulheres apresentavam
necessidades físicas e emocionais diversas relacionadas à
convivência com a doença e seu tratamento.
Diante do fato de que as mulheres com câncer ginecológi-
co avançado apresentam uma variedade de problemas e dada
a insatisfação com o cuidado de enfermagem que tem sido
prestado e ensinado, percebe-se que a situação é complexa,
pois envolve saberes que vão além do domínio técnico-cien-
tífico. Na busca de um cuidado humanizado, pensamos como
seria este cuidar em enfermagem que considere não apenas a
doença da mulher, numa visão biologicista, mas que incorpo-
re as experiências vivenciadas pela paciente.
Assim sendo, desenvolvemos o presen-
te estudo com o objetivo de compreender a
vivência das mulheres com câncer gineco-
lógico avançado ou seja, desvelar o fenô-
meno ser-mulher com câncer ginecológico
avançado, buscando compreender as ques-
tões vivenciadas por estas mulheres.
 APRESENTANDO O
 REFERENCIAL METODOLÓGICO
Devido à natureza das inquietações an-
teriormente apresentadas, percebemos que
a abordagem qualitativa era o caminho mais coerente para
conseguir compreender o significado da experiência vivida
pela mulher, pois o foco de atençãoda pesquisa qualitativa
está direcionado para o específico, o particular, o individual
do fenômeno, procurando, assim, compreendê-lo.
O estudo da narrativa dos clientes proporcionado pela
pesquisa qualitativa, em especial na área de conhecimento
da Enfermagem, possibilita entender melhor a subjetividade
da clientela assistida, bem como oportuniza conhecer o sig-
nificado de sua vivência no processo saúde-doença, o que
se reflete na assistência oferecida pelo enfermeiro(2).
O sentido da existência, a razão de ser da vida humana, o
amor, a angústia, o desespero, a felicidade, a autenticidade, o
acolhimento merecem uma meditação filosófica de natureza
compreensiva, explicativa e interpretativa. A dimensão subjeti-
va é preponderante em relação à objetiva. Não se pode conver-
ter o homem em objeto de nosso manuseio, controle, domina-
ção. O homem é sempre sujeito, nosso semelhante. A ênfase
dada nesta perspectiva é encontrada na fenomenologia a partir
do seu movimento contemporâneo com Edmund Husserl(3).
Existem momentos no
decorrer do tratamento
em que as mulheres
apresentavam
necessidades físicas
e emocionais diversas
relacionadas à
convivência com a
doença e o tratamento
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana 255Silva ARB, Merighi MAB.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/
A fenomenologia possibilita ao pesquisador o acesso à
consciência humana, isto é, a volta às coisas mesmas, às
essências, o que significa chegar à verdade, à realidade des-
provida de estereótipos, estigmas, ou seja, abandonar os
preconceitos e pressupostos em relação ao fenômeno
interrogado(4).
Tendo em vista que a fenomenologia visa compreender a
existência do ser humano e uma vez que a tendência da
enfermagem é retomar e considerar o homem em sua totali-
dade existencial, acreditamos ser possível voltar nosso olhar
para a mulher com câncer ginecológico avançado enquanto
ser-situado-no-mundo, cabendo a elas desvelarem o senti-
do desta experiência. Por meio dos discursos obtidos, pre-
tendemos compreender o não mostrado, o mundo-vida de
cada uma, buscando a essência do fenômeno vivenciado
por estas pessoas.
Pensando na mulher com câncer ginecológico avançado
e o impacto do mesmo sobre ela, vislumbramos na ontologia
existencial de Martin Heidegger a possibilidade de compre-
ensão de alguns aspectos do ex-sistir destas pessoas, que
são seres-lançados-no-mundo no qual convivem e compar-
tilham experiências, pois nenhuma pessoa ex-iste se não for
com algo ou com alguém, isto é, ex-sistencial do Ser.
PERCORRENDO O
CAMINHO METODOLÓGICO
A região de inquérito(a) ou região ontológica, neste es-
tudo, foi a própria situação na qual os fenômenos ocorrem,
ou seja, o mundo-vida, o pré-reflexivo de cada mulher que
vivencia e sofre a influência do câncer ginecológico avan-
çado em seu cotidiano. Mundo este em que vivenciam suas
experiências, relacionam-se e interagem com diferentes pes-
soas em graus variados de intimidade.
Neste sentido, ao constituir a situação da pesquisa, diri-
gimos nossas inquietações às descrições das mulheres com
câncer ginecológico avançado, sujeitos deste estudo, nas
quais os fenômenos se localizam, para aproximar-nos das
experiências vivenciadas por elas, no intuito de que os fe-
nômenos se manifestassem e se desvelassem em direção ao
ser-mulher-com-câncer.
Desse modo, decidimos realizar a pesquisa com as mu-
lheres portadoras de câncer ginecológico avançado que são
clientes de um Serviço de Oncologia, pertencente a um hos-
pital-escola, instituição pública, localizada no interior do
Estado de São Paulo. Escolhemos esta instituição porque
tem sido o cenário de muitas das inquietações e é um dos
locais onde uma das autoras desempenha suas atividades
de docência e assistência em enfermagem.
Elegemos como critérios para participar desta pesquisa
as mulheres com câncer ginecológico avançado, localizado
no colo uterino, corpo de útero ou ovários, cientes do diag-
nóstico, com idade acima de 18 anos e que concordassem
em participar deste estudo, uma vez que, tanto no exercício
da docência, como no desempenho das atividades
assistenciais, neste local, optamos por cuidar das mulheres
com câncer avançado, ou seja, daquelas que possuam um
tumor maligno localmente avançado, em estadio IIIb ou qual-
quer situação com metástases, estadio IV, ou com tumores,
anteriormente tratados e recidivados(5).
Ao definirmos nossa região de inquérito, não conside-
ramos profissão e nível de escolaridade e, sim, o próprio
contexto de vida de cada mulher, uma vez que o nosso
interesse era a experiência vivida pelos sujeitos. Entretan-
to, um critério de inclusão que consideramos fundamental
foi o de que os sujeitos possuíssem preservada sua capa-
cidade cognitiva, ou seja, capacidade de entendimento,
bem como sua habilidade em produzirem pensamentos ló-
gicos e de expressarem-se com clareza, uma vez que as
entrevistas seriam gravadas.
Após enviar o projeto deste estudo à Comissão de Pes-
quisa e ao Comitê de Ética em Pesquisa da instituição e obter
o consentimento para a realização do mesmo, com a finalidade
de conduzir-nos à região de inquérito, em um primeiro mo-
mento, iniciamos uma seleção dos prováveis sujeitos. Esta
seleção deu-se por intermédio da nossa atuação nas unida-
des de internação e ambulatorial. Após essa seleção prévia,
efetuava-se uma consulta ao prontuário dessas clientes.
Ao efetuar o convite e explicitar-lhes o objetivo da pes-
quisa, asseguramo-lhes o direito de não participar, caso não
o desejassem. Esclarecemos que as entrevistas seriam
identificadas com nomes fictícios, gravadas em fita cassete
e que os dados seriam utilizados como fonte de conheci-
mento científico.
Nossas participantes nesta pesquisa, portanto, foram
seis mulheres com câncer ginecológico avançado. Tendo
em vista a natureza desta pesquisa, o número de pessoas
consideradas como sujeitos participantes não foi estipula-
do anteriormente, mas determinado no transcorrer das en-
trevistas, em função de seus conteúdos, ou seja, a partir
do momento em que percebia que os discursos mostra-
vam-se suficientes para responder às interrogações e, as-
sim, desvelar os fenômenos. Desta forma, o número de
sujeitos participantes deste estudo foi definido por suas
próprias descrições.
A coleta foi realizada por meio de entrevistas, previa-
mente agendadas com as mulheres no período de fevereiro a
(a) Região de inquérito é a região de perplexidade, o local transparente de
minhas preocupações, enquanto pesquisador, onde é possível determinar
aquilo que deve ser feito. Portanto, não é um espaço, mas um contexto
conceitual onde as pessoas agem. In: Merighi MAB. Docência de enfermagem
em uma Universidade Pública - um enfoque fenomenológico. São Paulo:
EEUSP; 1993.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/256
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana
Silva ARB, Merighi MAB.
junho de 2001. Procuramos criar um ambiente favorável para
que a mulher pudesse falar livremente sobre o assunto, en-
tretanto, a cada início, esclarecíamos, novamente, sobre os
objetivos do estudo e apresentávamos o termo de consenti-
mento, para que a participante lesse e assinasse o mesmo.
Com estes procedimentos, cumprimos o que preconiza a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre
pesquisa envolvendo seres humanos.
Iniciamos as entrevistas individualmente em local priva-
tivo. A maior parte dessas entrevistas foi realizada na insti-
tuição hospitalar, enquanto duas ocorreram na residência
das participantes por solicitação das mesmas. Para obter a
descrição da experiência da mulher que estava vivenciando
o câncer ginecológico avançado partimos da seguinte ques-
tão norteadora: Gostaria que você me contasse a sua expe-
riência. Como é ser mulher com câncer ginecológico?
Para efetuar a análise dos dados obtidos utilizamo-nos
dos procedimentos preconizados por Josgrilberg(6). Primei-
ramente, foram realizadas várias leituras decada um dos
discursos, buscando em cada um a presença de algumas
das estruturas fundamentais da existência, delimitando as
unidades de sentido conforme recomenda o autor anterior-
mente citado. Em seguida, efetuamos uma categorização pré-
via das unidades de sentido realizando uma seleção
fenomenologicamente orientada das unidades mais relevan-
tes de cada um dos discursos para a elucidação dos fenôme-
nos. Finalmente, as unidades de sentido contidas nos dis-
cursos foram agrupadas e relacionadas entre si, sem deixar
de indicar os momentos que são específicos na narração de
cada fala, interligando os sentidos que foram desvelados
pelos sujeitos. Por meio desse agrupamento das unidades
de sentido emergiram as unidades temáticas, denominadas
de Unificações Ontológicas que foram: A Relação do
Dasein(b) na Vivência do Câncer; O Caminho da Trans-
cendência da Mulher diante do Câncer; Vivenciando a
Ambigüidade da Solicitude; Presença da Angústia decor-
rente de Estar-com Câncer.
CONSTRUINDO OS RESULTADOS
 A Relação do Dasein na Vivência do Câncer
Compreender a mulher com câncer ginecológico avança-
do sob uma visão fenomenológica é buscar apreendê-la em
um mundo circundante e no seu relacionamento com outros
entes humanos e consigo mesma. Assim, os discursos das
mulheres desvelaram o seu modo de ser-no-mundo ao
vivenciarem a experiência de ter câncer ginecológico avan-
çado, como manifestado a seguir:
[...] Pensei até que ia operar, ficar magra. Engordei muito
[...] isso foi muito difícil. [...] “- Ah, deixa engordar! Não
esquenta com isso não”. Vou cuidar da saúde, do câncer
em si. Que se dane a gordura. Não é que se dane a gordu-
ra, me fez mal... [...] eu nunca tive este peso. Perdi todas
as minhas roupas. Eu me senti mal. [...] Eu sempre convivi
com meus... 50 quilos [...] (Sol)
Pode-se perceber, neste relato, que tanto as manifesta-
ções corpóreas advindas do câncer como as reações da
mulher, diante desta doença, são diversas, e não são
excludentes nas mudanças que foram assinaladas como ex-
cesso. No caso do corpo, ou por ganho de peso ou por
perda, não há perspectiva imediata para essas mulheres de
onde irão chegar. Independente de o corpo ser estrutura, ele
pertence à mulher inserida no mundo. A mulher que tem um
corpo com câncer está em relação consigo mesma, enquan-
to corporeidade e temporalidade.
[...] emagreci muito... Perdi muito peso [...], eu pesava cer-
ca de 65 quilos... Devo estar agora... se tiver com 50
quilos é muito. [...] A única coisa que eu perdi foi as roupas,
que as roupas ficaram largas, eu tive que apertar... arru-
mar, mas agi como se fosse uma coisa normal. [...] Porque
eu estava bem gorda, forte, não sei o que é sofrer. [...] É,
eu estou muito frágil... [...] estou fraca, bem frágil... bem
frágil, emagreci muito. (Neide)
No imaginário da fala de Neide reside a idéia de que o
emagrecimento, ou seja, a caquexia é o próprio símbolo de
quem está com câncer. Quando se fala ou se pensa em um
doente com câncer, a figura que vem à mente das pessoas é de
uma pessoa com o corpo deteriorado, caquético, fragilizado.
O corpo é intrínseco à pre-sença, pois, enquanto um ser-
no-mundo relaciona-se com os entes que encontra e que a
ele se apresentam, é por intermédio do corpo que se estabe-
lecem condições para que esta relação se dê. Entretanto,
apesar de ser uma condição necessária para essa relação, o
corpo não é o suficiente, pois a senso-percepção desempe-
nha um papel importante(7).
[...] eu fiquei careca [...] na época em que eu fiquei
carequinha fiz uma tatuagem, pus uma roupa super bonita
e fui apresentadora de um troféu em minha cidade [...]
mesmo ‘tando careca’. [...] eu nunca vim aqui desarruma-
da, eu tenho que vir arrumada, eu tenho que ficar bonita,
porque eu vou ficar com cara de doente... eu não sou
doente, eu não me vejo doente... eu só sei que eu tenho
um câncer, mas a minha vida é normal [...] Eu não tenho...
eu não sinto dor, eu não tenho... eu não sinto a doença [...]
Então p’ra mim é meio que complicado isso. Eu não sinto a
doença. [...] tenho uma vida normal, uma pessoa super-
atleta, uma pessoa animada, alegre... [...]. (Mara)
A mulher, sendo um ser-com, na vigência de modificações
corpóreas, fecha-se em seu mundo por não conseguir convi-
ver com as mesmas. Ser-com é uma característica existencial
da pre-sença. O ser-só é um modo deficiente do ser-com(7).
(b) Em ser e tempo, Heidegger7 evoca o termo Dasein, que significa ser-ai,
que se compõe de sein (ser) e da (ai), que significa presença; é aquilo que
é, e ao, mesmo tempo, é o modo de ser, sua maneira de ser em sua
cotianeidade.
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana 257Silva ARB, Merighi MAB.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/
O Caminho da Transcendência da Mulher diante do Câncer
A mulher quando demora a processar sua cura interna,
permanece na de-cadência que diz respeito a sua própria
desorganização interna de ser, criando barreiras para com-
preender o que está acontecendo consigo e velando as pos-
sibilidades para recriar o seu mundo. Consegue transcender
a sua situação imediata, pois o seu existir não compreende
somente o que é e está experienciando em dado instante,
mas as múltiplas possibilidades para as quais a sua existên-
cia encontra-se aberta.
[...] Hoje eu posso dizer uma coisa: o câncer, não me
impede de nada. A dor, a radioterapia, o mal-estar... A ca-
beça alguma vez já... Mas hoje em dia, não. O que eu
quiser, realmente... Hoje em dia, o que eu me propor a
fazer... Dá p’ra fazer ginástica, dá p’rá sair... dá p’ra curtir.
[...] comecei a fazer hidroginástica... e ‘tá dando certo’.
São conquistas. Você vai conquistando caminhos. Cada
coisa, cada barreira desta que você vence, cada pedaci-
nho mínimo às vezes... tem valor [...]. (Sol)
[...] Se for preciso fazer quimioterapia, vou... vamô fazer,
vai cair cabelo... vai nascer de novo. Seja o que Deus
quiser. Eu ‘Tô pronta p’ra tudo. Tem uma força... muito
grande dentro de mim. (Neide)
Nesta trajetória convivendo com o câncer ginecológico
avançado, a mulher tem a possibilidade de voltar-se para si
mesma como ser possível em sua propriedade e alcançar o
seu poder-ser e a responsabilidade do seu ser lançado-no-
mundo. A mulher assume-se como ser que se empenha para
tratar de sua doença assumindo a terapia como parte intrín-
seca do seu processo para poder transcender.
Com relação ao tratamento eu... tinha muito medo do trata-
mento. Falam muito do tratamento. É, não é brando não.
Mas... tem a quimio... mas tem gente que sofre um acidente
passa momentos piores do que eu passo com a
quimioterapia... dá p’ra levá [...] Fiz braqui. Eu tive que
fazer radio depois. [...] A braqui era... tenebrosa... Eu co-
meçava até a marchar quando chegava do lado de fora
(risos). Porque aí... eu sei dizer que... a gente precisa de
força [...]. (Mara)
Vivenciando a Ambigüidade da Solicitude
Durante as entrevistas as mulheres mencionaram, tam-
bém, que receberam apoio de familiares, amigos, profissio-
nais e de outras pessoas significativas para enfrentarem a
experiência de adoecimento.
[...] Mas depois eu fui à casa do meu pastor, falei p’rá a
esposa dele, foi onde ela me deu muita força, começou a
conversar comigo... foi aonde que eu... ‘tô conseguindo
superar...[...]. (Sil)
[...] A minha família é super compreensiva, todos me deram
apoio, meus filhos, nora, todos... todos [...] a minha família
eu não tenho queixa recebi apoio de todo mundo, daqui do
hospital principalmente, todo mundo aqui, que eu já conhe-
ço de cara...’tô aqui já há quase três anos, todas as enfer-
meiras, médicos [...] Pela minha família, principalmente, meu
filho. (Neide)
Ser-mulher-com-câncer-ginecológico avançado revelou,
também, que na vida cotidiana as mulheres percebem-se
como pessoas diferentes das outras, pois recebem por parte
delas um tratamento diferenciado. Logo, observa-se pelas
falas abaixo transcritas que o comportamento dos “outros”
influencia em seu modo de ser:
Outra coisa difícil,também, é... você começa a ser tratada
diferente pelas pessoas. Embora seja com carinho você é
tratada diferente. Desde o momento do diagnóstico do
câncer, você é uma pessoa diferente [....]. (Sol)
[...] não sei parece que a gente não é a mesma coisa que
as outras pessoas. Parece que a gente é diferente... pa-
rece que é diferente a situação...ninguém chora perto de
você, ninguém nossa, mas... a gente sabe que no fundo,
no fundo não é assim. (Sil)
Os depoimentos anteriores desvelam a solicitude (preo-
cupação) que enquanto caráter ontológico do ser-com pode
encontrar-se em seus modos positivos, que possui duas
possibilidades extremas. A solicitude pode retirar o cuidado
do outro e tomar-lhe o lugar nas ocupações, substituindo-o
em um modo de solicitude que se antepõe. A solicitude está
guiada pela consideração e pela tolerância.
Comumente a mulher desempenha na família um papel de
cuidadora de seus membros, no entanto, por ocasião do
adoecimento, há um processo inverso e ela necessita adap-
tar-se a sua nova condição, pois, normalmente passa a ser
cuidada.
Ocupar-se da alimentação e vestuário, bem como tratar
do corpo doente, é preocupação. O ser por um outro é um
modo possível de preocupação independente do estado
em que o outro se encontra. Enquanto ser-com, a pre-sença
é, essencialmente, em função dos outros. Mesmo quando
cada pre-sença não se volta para os outros, quando acre-
dita não precisar deles ou quando os dispensa, ela ainda é
no modo de ser-com. No ser-com, enquanto o existencial
de ser em função dos outros, os outros já estão abertos em
sua pre-sença(7).
A mulher pode passar a acolher a doença, ou seja, fami-
liarizar-se com a mesma que passa a fazer parte do seu ser,
conforme desvela o discurso abaixo.
[...] fiquei internada fevereiro inteiro... foi assim... dor...
acho que foi o pior, mas depois normalizou... não tive mais
nada, foi a fase mais crítica que eu passei... A minha vida
é normal... tá ótimo. Pelo menos tô aqui, não é? (risos). Ah,
se operar vou ter que tirar esta bacia. Não esquenta não,
a gente compra uma de R$ 1,99 e encaixa (risos). Não tem
jeito, é uma coisa que eu tenho que conviver mesmo. (Rosa)
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/258
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana
Silva ARB, Merighi MAB.
Esta fala retrata a presença de uma preocupação velada
com sua condição que distancia esta mulher da própria
concretude ampliada de sua realidade, mostrando sentimen-
tos ambíguos dentro de si. Este distanciamento de si mes-
mo, em relação a dor causada pela doença, propicia o estar-
com o vazio que será abordado no próximo item.
Presença da angústia decorrente de estar-com câncer
As mulheres com câncer ginecológico vivenciam uma
experiência que envolve perdas, medo, tristeza, que, em al-
guns momentos, pode ser percebida como sem resolução. É
um fato presente em seu cotidiano o medo da recidiva
tumoral, pois o surgimento de dores ou de qualquer altera-
ção em seu estado físico representa este fantasma e rememora
que a doença pode estar progredindo. É o que verbaliza
Neide:
[...] A gente vê... Quem está na chuva é p’ra se molhar,
como diz. Então a gente ‘tá sabendo, você ‘tá... a gente vê
cada caso aí, horrível. Começa a se alastrar, pegar outros
órgãos, a gente vê cada caso aí, horrível. Começa a se
alastrar, pegar outros órgãos, a gente vê que tem gente
que tem no seio, daí a pouco ‘tá no pulmão [...] Eu tenho
muito medo.[...] eu só peço a Deus é isso, mas eu tenho
certeza que comigo não vai acontecer isso, tenho certeza
de que eu vou ficar boa, que Deus vai me curar. Que não
vai sair dali. (Neide)
O temor é um modo da disposição não permanente, um
modo de ser da mulher que, ao sentir dores, de origem can-
cerosa, vivencia-a como uma ameaça à vida. A mulher inter-
preta a dor como um sinal de alerta de seu corpo, que pode
estar assinalando-lhe que a doença pode estar “migrando”
de seu local de origem, espalhando-se por seu organismo,
dificultando a possibilidade de ser curada e conseqüente-
mente levando-a morte.
Na medida em que uma ameaça subitamente abate-se
sobre o ser-no-mundo da ocupação, o temor se transforma
em pavor. Desse modo, deve-se distinguir na ameaça: a apro-
ximação mais próxima do que ameaça e o modo de encontro
com a própria aproximação, o súbito(7).
Como a angústia já sempre determina o ser-no-mundo,
este, enquanto ser que vem ao encontro na ocupação junto
ao “mundo”, pode sentir temor. Temor é angústia imprópria,
entregue à de-cadência do “mundo” e, como tal, angústia
nela mesma velada(7).
É o medo que acaba por dominar o cotidiano destas mu-
lheres. Neste sentido, outra colaboradora, no depoimento a
seguir, referindo-se ao receio da recidiva, reforça o que foi
exposto com relação ao medo de deixar de viver:
[...] Este revertério que deu por causa deste agulhamento
que eu fiz [...] tive que ser internada, então o intestino
parou, deu problema no ânus... eu estava com medo que
fosse uma... um segundo tumor, graças a Deus a biópsia
constatou que não é. [...] que eu já estou mais feliz. Nos
primeiros dias que eu internei eu fiquei apavorada... [...]
mas de repente surgiu esta dor [...] Como a gente já tem a
doença... dizem que a doença vai espalhando aos pou-
cos, eu fiquei assustada [...]. Deus queira que... seja só
isso. Eu tenho um pouco de medo. Tenho um pouco de
medo. A gente vê... Quem está na chuva é p’ra se molhar,
como diz. Então a gente ‘tá sabendo, você ‘tá... a gente vê
cada caso aí, horrível. Começa a se alastrar, pegar outros
órgãos, a gente vê cada caso aí, horrível. Começa a se
alastrar, pegar outros órgãos, a gente vê que tem gente
que tem no seio, daí a pouco ‘tá no pulmão [...] Eu tenho
muito medo. (Neide)
Apesar da morte fazer parte da vida e do ser humano ter
consciência de que é mortal, ela, geralmente, apresenta-se
como um acontecimento longínquo e que só acontece com
os outros e não consigo mesmo. Este fato está presente no
diagnóstico de uma doença grave, crônica e que possui um
estigma, como é o caso do câncer, que é relacionado com
questões que podem causar profundas modificações na vida
pessoal.
Adoecer por câncer recorda que se é um ser-para-a-
morte, ou seja, “a gente também morre no final”. A morte
é a possibilidade que está sempre a nossa frente. A morte
encontra-se dentro de nossa vida, uma vez que sabemos
de nosso morrer. É a possibilidade da impossibilidade da
própria existência. A morte é individual, ainda que sejamos
atingidos pela morte, cada pessoa tem que morrer a sua
própria morte, pois, em sentido genuíno, não fazemos a
experiência da morte dos outros, no máximo, estamos
apenas “junto”(8).
O que pudemos perceber, por meio desses discursos, é
que ser-mulher-com-câncer-ginecológico avançado é
vivenciado de maneiras diversas, pois cada mulher apresen-
ta emoções e sentimentos que são influenciados pelo mun-
do em que se encontram imersas.
Encontramos nos depoimentos de outra colaboradora a
alteração do conceito que possuía sobre a doença após ter
tido a oportunidade de conviver com pacientes também com
diagnóstico de câncer, conforme mencionaram que:
 [...] Antes de eu internar eu tinha um pensamento, aí
depois que eu internei e fiquei com o pessoal que tinha
câncer também, aí fui vendo que eu sou uma formigui-
nha. Têm pessoas que... tinha até uma... menininha [...]
e ela tinha também e ela ‘tava lá então... eu não posso
reclamar, não.‘[...] Antes, eu ficava assim: “Ah, porque
é um câncer, porque...” Na minha época, minha mãe,
minha avó, nossa quem tinha câncer era... tinha até que
bater na boca. Hoje em dia não. A medicina ‘tá bem avan-
çada e tal, mas eu não tinha contado direto com as
pessoas que tinham a doença, e eu tendo eu vi que... é
mais um caso, mas que o meu ‘tá... porque tem gente
bem pior. (Lisa)
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana 259Silva ARB, Merighi MAB.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/
A mulher lançada no mundo portadorade câncer coloca-
se adiante de si mesma e defronta-se com a possibilidade
mais própria, irremissível e insuperável, no curso de seu ser,
a morte. Tem incertezas quanto à possibilidade de morrer ou
não e isto, certamente, gera angústia.
Angustiar-se é próprio do ser humano, faz parte da es-
trutura do ser da pre-sença, é na angústia que a pre-sença
põe-se frente a si-mesmo. Contudo, as pessoas raramente
vivem a angústia de forma própria, pois no cotidiano a pre-
sença está absorvida no mundo, esquecida de si-mesmo. O
impessoal ocupa-se em reverter a angústia com a morte em
temor frente à mesma, que é um acontecimento certo que
virá. Além disso, considera-se a angústia, que no temor se
torna ambígua, uma fraqueza que a segurança da pre-sença
deve desconhecer(8).
[...] Eu só peço a Deus que se eu tivé... que se for... tenho
certeza, que Ele vai me curar, mas se tiver que me levar
embora, então me leve sem sofrimento. Que eu morra até
dormindo, p’ra mim não sentir tanto. (Sil)
Com certeza existe um momento em que as mulheres têm
consciência de seu estado de saúde entendendo que o úni-
co desenlace possível é a morte, como ocorre com algumas
depoentes desse estudo. Por isso, há, muitas vezes, uma
reação de revolta, desespero ou angústia, algumas, porém,
podem viver um estado de aceitação com conseqüente sere-
nidade emocional, serenidade esta que significa descansar
no ser. Acreditamos que a forma com que as pessoas enfren-
tam a morte relaciona-se com o sentido que dão à vida, como
se pode observar nas falas abaixo:
Quanto tempo eu tenho... é simples. Quanto tempo eu te-
nho de vida? Fiz esta pergunta.- Ah, não sei. Quanto eu
quiser. Quanto eu me esforçar. Acho que esta é a respos-
ta. Quanto tempo eu tenho de vida? -Olha! Quem sou eu
p’ra dizer quanto tempo tem de vida. O médico não sabe
quanto tempo ele tem de vida, ele pode tropeçar ali e mor-
rer. [...] Ele não vai estar mentindo. Ele não sabe quanto
tempo o paciente...[...] eu estava conversando até com
outro médico e não sabe [...] ninguém sabe. E de paciente
p’ra paciente o tamanho do tumor não significa nada, o
estágio não significa nada, de paciente p’ra paciente muda
e muda porque? Muda por causa da família, muda por
causa da vontade de viver. Tá legal! Você tem mais um ano
de vida. Eu ia sair desesperada. [...] Acho que este tempo
de vida está dentro da gente. E acho que o médico tem que
fazer a gente buscar este tempo de vida dentro da gente.
-Vai à luta! Se arrume. Fique cheirosa. -Quanto tempo eu
tenho de vida, doutor? –Não sei. Você quer quanto tempo
de vida? Você acha que precisa de quanto tempo de vida?
Vai à luta. (Sol)
Porque na verdade a minha mãe teve [...] mas não foi do
câncer que ela morreu. Deu um derrame... morreu de outra
coisa... acho que não tem nada a ver, pode me levar de
outra coisa, porque aqui eu vou ficar muito tempo ainda
(risos). (Rosa)
A morte é o término do projeto da pre-sença de ser si-
mesmo, é um fato insuperável. No entanto, a mulher deve
tanto enfrentar a morte, enquanto uma possibilidade da im-
possibilidade de seu ser, quanto enfrentar a vida. É inevitá-
vel que a mulher, enquanto ser-lançado-no-mundo em uma
situação de doença, necessite de audácia para viver e mor-
rer, ou seja, para ser e deixar de ser.
A BUSCA DESAFIANTE
DE UM CAMINHO PARA AGIR
Apoiando-nos no referencial filosófico de Martin
Heidegger, procedemos a análise e a interpretação das
vivências verbalizadas nos discursos das mulheres e, com
isso, iluminaram-se facetas destes fenômenos. Não contes-
tamos que, ante o nosso envolvimento com a temática,
sentimo-nos fragilizadas com o expresso nas descrições
destas pessoas, mas o anseio em compreender o significado
de suas experiências constituiu-se no alento que nos impul-
sionou caminhar ao encontro da possibilidade de desvelar o
que ignorávamos.
A partir do olhar da mulher foi-nos permitido alcançar o
sentido do ser-mulher, não como algo acabado, mas como
um ser de possibilidades, mesmo diante de uma situação
factual que é o convívio com o câncer ginecológico avança-
do. Apreendemos que ser mulher vivenciando o câncer gi-
necológico é oscilar entre o existir autêntico e a tranqüilida-
de da existência inautêntica. Neste estudo desvelou-se que
ser-mulher-com-câncer-ginecológico avançado é ter o seu
modo de ser-no-mundo influenciado pelas modificações em
sua imagem corporal decorrentes do estar-com-câncer e do
tratamento a que se submete; é buscar transcender conside-
rando as restrições impostas pela doença como uma possi-
bilidade; manifestar sentimentos contraditórios em relação
à solicitude; sentir angústia e temor fugindo, assim, à condi-
ção existencial de ser-para-a-morte.
Conhecendo, agora, a essência dos fenômenos, reafirma-
mos que os mesmos referem-se à questões existenciais permi-
tindo-nos vislumbrar caminhos para cuidar da mulher-com-
câncer-ginecológico avançado. Consideramos que o cuida-
do de enfermagem a estas pessoas ultrapassa as interven-
ções pautadas somente em aspectos técnicos e no saber bio-
lógico. É necessário, pois, compreender o vivido pelas mulhe-
res, abandonando a concepção do cuidado a partir apenas da
perspectiva de quem cuida, e integrar nesta também a visão
de quem é cuidado. O cuidar desenvolvido pela enfermeira
precisa constituir-se em um encontro fenomenológico entre a
pessoa que é cuidada e a que cuida, sendo este encontro
mediado pela relação com o outro, percebidos em sua totali-
dade, tal como se mostram ou se dão a perceber.
Consideramos primordial esta questão para o ensino e a
prática de enfermagem, pois é evidente a necessidade em se
assegurar o cuidar com habilidade técnica e na dimensão
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):253-60.
 www.ee.usp.br/reeusp/260
Compreendendo o estar com câncer ginecológico avançado:
uma abordagem Heideggeriana
Silva ARB, Merighi MAB.
biológica, mas é fundamental contemplar, também, a subjeti-
vidade e a intersubjetividade. A enfermeira necessita envol-
ver-se não apenas no controle de sintomas físicos, mas as-
sistir à área expressiva, e isso requer um diálogo dentro de
um contexto de empatia, aceitação, envolvimento emocio-
nal, utilizado habilidades de comunicação. Isto implica em
incorporar um ato de cuidar abrangente sustentado no
referencial do relacionamento interpessoal, ou seja, agre-
gando às ações cuidativas em enfermagem a atenção e o
comprometimento para com o outro.
Esta pesquisa dá-nos condições para refletir, não só jun-
to aos alunos, mas também junto às enfermeiras uma forma
de pensar, sentir e de agir diversa desta que se tem observa-
do. Almejando realizar a devida articulação entre a academia
e o serviço de saúde, avaliamos que essas reflexões, presen-
tes neste estudo, podem e devem ser empregadas na prática
assistencial mediante o modo de ser das enfermeiras, que
atuam na oncologia. Acreditamos, portanto, que outro com-
promisso que temos a assumir é investir no aperfeiçoamen-
to das enfermeiras para que possam buscar compreender o
cuidado como estrutura fundamental do seu ser, tal como é
abordado por Heidegger. E, assim, tenham a possibilidade
de manifestá-lo consigo mesma e em solicitude com o outro,
enquanto processo de abertura, para que tanto elas como as
pacientes possam transcender o seu próprio ser, alcançan-
do a sua própria verdade. Deste modo, sabemos que é che-
gado o momento de compartilhar com as enfermeiras o que
até aqui temos refletido buscando estar junto repensando
as relações pessoais na equipe de trabalho e o compromisso
para com o cuidado, que não seja superficial e nem indife-
rente, mas um cuidar autêntico.
O desafio que nos propomos, então, enfrentar é
pesquisar, aprender e ensinar o cuidar, numa dimensão exis-
tencial. Para tanto, pretendemos nos aprofundar no estudo
da fenomenologia, pois este referencial pode fornecer sub-
sídios relevantes para o repensar do ensino e da prática de
enfermagem. Acreditamos que novas pesquisas à luz da fi-
losofia de Martin Heidegger incluindo temas do ensino e do
assistir em enfermagem possam ser viabilizadas, ainda maispor que, na ótica existencialista, o significado do ser não é
algo acabado, pois os fenômenos não se esgotam em uma
perspectiva, mas se modificam a cada olhar.
REFERÊNCIAS
(1) Silva ARB. A experiência de enfermeiras no cuidado de mulhe-
res com câncer ginecológico avançado [dissertação]. São Paulo:
Escola de Enfermagem da USP; 1997.
(2) Praça NS, Merighi MAB. Abordagens teórico-metodológicas
qualitativas: a vivência da mulher no período reprodutivo. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. Pesquisa qualitativa em
enfermagem; p. 1-3.
(3) Capalbo C. Abordando a enfermagem a partir da fenomenologia.
Rev Enferm UERJ. 1994;2(1):70-6.
(4) Merighi MAB. Fenomenologia. In: Merighi MAB, Praça NS.
Abordagens teórico-metodológicos qualitativas: a vivência da
mulher no período reprodutivo. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2003. p. 33-7.
(5) Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer.
Coordenadoria de Programas de Controle do Câncer – Pro-Onco.
TNM: classificação dos tumores malignos [online]. Rio de Janei-
ro: INCA; 2001. Disponível em: <http.www.inca.org.br/trata-
mento/tnm/> [Acesso em 31 jul 2001].
(6) Josgrilberg RS. O método fenomenológico e as ciências huma-
nas. In: Castro DSP, organizador. Fenomenologia e análise do
existir. São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo; 2000.
p.75-93.
(7) Heidegger M. Ser e tempo. Trad. de Márcia de Sá Cavalcante.
7ª ed. Petrópolis: Vozes; 1998. (Coleção Pensamento Humano,
parte I).
(8) Heidegger M. Ser e tempo. Trad. de Márcia de Sá Cavalcante.
6ª ed. Petrópolis: Vozes; 1998. (Coleção Pensamento Humano,
parte II).
Correspondência: Miriam Apª Barbosa Merighi
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