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SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII Abdome Agudo 1. Semiologia Semiologia ou Propedêutica é a parte da Medicina relacionada ao estudo dos sinais e sintomas das doenças humanas e animais. Vem do grego - semeîon, sinal + lógos, tratado,estudo. A observação do paciente deve ter início durante a verificação da história clínica. Assim, a postura, a frequência da mudança de posição na tentativa de diminuição das dores, a observação do ritmo respiratório, a cor da tez (pálida, cianótica, ictérica) são dados importantes que devem despertar a atenção já durante a anamnese. 1.1. Regiões e Quadrantes do Abdome 1.2. Cicatrizes SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII 2. Dor Abdominal A interpretação da dor abdominal aguda em salas de emergência é um desafio para o médico. Na abordagem inicial, anamnese e exame físico completo gerarão hipóteses diagnósticas que nortearão a necessidade de avaliação laboratorial e de eventuais exames complementares decisivos para a conduta. 2.1. Mecanismos de Dor Abdominal Inflamação do peritônio parietal: A dor apresenta caráter constante e incômodo, localizando-se sobre a área inflamada, tornando possível a identificação exata da localização acometida, uma vez que é transmitida pelos nervos somáticos que inervam o peritônio parietal. A intensidade depende do tipo e do volume do material ao qual o peritônio é exposto em determinado período de tempo. A dor da peritonite agrava-se durante a palpação, ou por movimentos como tosse ou espirro – o paciente permanece quieto no leito, evitando movimentos, ao contrário, por exemplo, do paciente com cólica que pode se contorcer incessantemente. Obstrução de vísceras ocas: A dor é caracteristicamente descrita como intermitente ou em cólica; entretanto, é importante ressaltar que a distensão de víscera oca pode produzir dor constante com exacerbações eventuais. Costuma ser bem menos localizada do que a dor da irritação peritoneal, além de se projetar, em geral, no mesogástrio.1,5 Distúrbios vasculares: A dor geralmente inicia com intensidade leve e caráter difuso antes de surgir o colapso vascular e sinais de irritação peritoneal. Não há, classicamente, correlação do exame físico com a queixa clínica, ao contrário, há discrepância. Por exemplo, ausência de dor e de rigidez da parede abdominal (à palpação) na presença de informação de dor difusa e contínua no paciente deve levar à suspeita de isquemia intestinal. Dor abdominal intensa com irradiação para a região sacral, flanco ou genitália deve induzir a hipótese de ruptura de aneurisma da aorta abdominal. Parede abdominal: A dor é habitualmente constante e incômoda. Movimento, postura ereta prolongada e compressão (palpação) acentuam o desconforto e o espasmo muscular. No caso de hematoma de bainha do reto, mais frequentemente encontrado em pacientes anticoagulados, pode haver abaulamento palpável nos quadrantes inferiores do abdome. Dor referida: A dor abdominal referida, com origem no tórax, na coluna vertebral ou nos órgãos genitais pode dificultar o diagnóstico. Em todos os casos deve-se pensar na possibilidade de doença intratorácica, especialmente quando o sintoma se localiza nos quadrantes superiores do abdome. A dor referida com origem na coluna vertebral, que geralmente envolve compressão ou irritação de raízes nervosas, é notadamente maior em determinados movimentos como tosse, espirro ou esforço, e está associada à hiperestesia nos dermátomos acometidos. Crises abdominais metabólicas: Esse tipo de dor, gerada por mecanismos diversos, como diabetes (ceto acidose), saturnismo, uremia e outras, pode simular virtualmente qualquer outro tipo de doença intra-abdominal. Cólica renal Dor de forte intensidade, podendo iniciar em qualquer seção do trajeto da região lombar até a região genital, tipo cólica. Outras causas: Distúrbios neurogênicos, herpes zoster, infarto agudo do miocárdio (IAM) e uremia são exemplos de dor abdominal de características variadas e que não obedecem aos padrões acima referidos SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII 3. Semiologia Abdominal O exame do abdômen possibilita que sejam retiradas informações referentes às estruturas abdominais, utilizando todas as etapas de exame do paciente, tal como inspeção, percussão, palpação e ausculta. Todavia, cabe a ressalva de que, nesse exame, é preferível que a ausculta se realize antes da palpação e da percussão, podendo essas etapas, caso realizadas previamente, atrapalhar a ausculta. 3.1. Anamnese Para uma completa abordagem, a anamnese da dor deve abranger a duração, a localização, fatores precipitantes e de alívio, amplitude (escalas de dor), características como o tipo (queimação, fisgada, aperto, etc) e evolução. Devem ser pesquisados sintomas gastrintestinais, sistêmicos, perda ponderal, doenças prévias ou atuais, medicamentos em uso, data da última menstruação, sintomas e antecedentes gineco-obstétricos, sintomas urinários e respiratórios. Existem certas correlações da localização da dor com doenças específicas: Quadrante superior direito Quadrante superior esquerdo Hepatite aguda, abscesso hepático, hepatopatia com insuficiência cardíaca congestiva, colangite, colecistite aguda, pancreatite aguda, abscesso hepático, úlcera duodenal, apendicite retrocecal, pielonefrite, litíase - colelitíase, coledocolitíase, nefrolitíase -, infarto agudo do miocárdio, pericardite, pneumonia, herpes zoster, doença inflamatória intestinal, empiema, gastrite/duodenite, obstrução intestinal, pericardite, pneumonia. Abscesso esplênico, infarto esplênico, ruptura esplênica, abscesso subfrênico, pancreatite aguda, neoplasia de pâncreas, úlcera duodenal, úlcera gástrica, pielonefrite, IAM, pericardite, pneumonia, diverticulite, doença inflamatória intestinal, empiema pleural, gastrite, herpes zoster, nefrolitíase, obstrução intestinal. Quadrante inferior direito Quadrante inferior esquerdo Apendicite aguda, obstrução intestinal, diverticulite, hérnia, doença intestinal inflamatória, síndrome do cólon irritável, adenite mesentérica, diverticulite de Meckel, gravidez ectópica, endometriose, torção de ovário, abscesso tubo-ovariano, abscesso do psoas, litíase renal, aneurisma roto, apendagite, litíase uretral, cisto ovariano, doença inflamatória intestinal, hematoma de parede abdominal, hérnia inguinal, obstrução intestinal, pancreatite, pielonefrite, salpingite, úlcera perfurada. Obstrução intestinal, diverticulite, hérnia, adenite mesentérica, doença inflamatória intestinal, gravidez ectópica, endometriose, doença inflamatória pélvica, abscesso tubo-ovariano, torção de ovário, litíase renal, abscesso do psoas, aneurisma roto, litíase uretral, cisto ovariano, doença inflamatória intestinal, diverticulite, hematoma de parede abdominal, hérnia inguinal, obstrução intestinal, pancreatite, pielonefrite, salpingite. Difuso Pancreatite aguda, obstrução intestinal, apendicite aguda (fase inicial), infarto mesentérico, peritonite, dissecção aórtica, ruptura de aneurisma de aorta abdominal, peritonite, gastrenterite, crise falcêmica, doença inflamatória intestinal, vasculites, cisto de ovário hemorrágico, gastroenterocolite, adenite mesentérica, pancreatite, úlcera péptica perfurada. 3.2. Exame Físico O paciente deve ter a bexiga esvaziada, estar posicionado em decúbito dorsal, com um travesseiro sob a cabeça e outro sob as pernas; os braços ao lado do corpo ou cruzados sobre o tórax; os pontos álgicos devem ser examinados por último. A sequência sugerida é inspeção, ausculta, percussão e palpação. Na inspeção, deve ser caracterizado o formato do abdome (plano, arredondado, protruso ou escafóide) e pesquisadas alteraçõesna pele e parede abdominal, como cicatrizes, veias dilatadas (hipertensão portal), alterações de coloração (equimoses, hematomas), abaulamentos, ou outras, como peristaltismo visível (presente em alguns casos de obstrução intestinal). A ausculta dos ruídos hidroaéreos em um único local é suficiente. Os ruídos podem estar alterados em frequência e timbre na peritonite, na obstrução intestinal, no íleo paralítico e na diarréia. SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII A percussão avalia a distribuição gasosa e pode levantar suspeita de massas abdominais. Timpanismo costuma predominar, porém áreas de macicez podem ser encontradas normalmente devido à presença de líquido e fezes em alças. Abdome protruso, com timpanismo difuso, sugere obstrução intestinal. A manobra do piparote pode sugerir ascite. Regiões com alterações de percussão devem ser mais bem examinadas pela palpação. Iniciando-se pela palpação superficial, devem ser procuradas massas superficiais e regiões de hipersensibilidade ou de maior resistência. Torna-se necessário fazer a diferenciação entre defesa voluntária e espasmo muscular involuntário por irritação peritoneal. O paciente, relaxado e tranquilizado, deve ser orientado a respirar pela boca entreaberta. A rigidez que persistir indicará, muitas vezes, irritação peritoneal. A palpação profunda é importante para definir massa abdominal, assim como sua localização, dimensão, formato, consistência, hipersensibilidade, pulsação e mobilidade. Em achados sugestivos de irritação peritoneal, para definir a localização com maior precisão, o paciente deve inicialmente tossir e definir o local exato em que a tosse produz dor. Após, palpa-se suavemente com um único dedo, de maneira a mapear a região hipersensível. Caso essas manobras sejam insuficientes, deve-se pesquisar a descompressão dolorosa (rechaço), observando a reação do paciente. A dor induzida ou que aumenta com a descompressão rápida é a descompressão dolorosa, uma decorrência do deslocamento rápido da peritônio inflamado. Ainda durante o exame físico abdominal, deve-se fazer a percussão e a palpação do fígado e do baço, além da palpação, da punho - percussão renal e da avaliação da aorta. 4. Abdome Agudo É definido como síndrome caracterizada por dor abdominal difusa de início súbito, que necessita de intervenção médica, clínica ou cirúrgica. Pode ser também definido como a condição clínica caracterizada por dor abdominal, que se instala de forma aguda, à qual se associam, freqüentemente, outras manifestações locais e gerais, e que podem ter extrema gravidade. Procurando dar limites à característica tempo de dor abdominal, que denuncia o abdômen agudo, foi sugerido por alguns autores que o período crítico seria de 01 a 72 h, já que sintomas com duração maior ou menor, em geral, não necessitariam de diagnósticos imediatos ou tratamento de urgência. As descrições de livros-texto sobre dor abdominal apresentam limitações importantes, pois os indivíduos reagem à dor diferentemente. Os lactentes e as crianças podem ser incapazes de localizar seu desconforto. Os pacientes obesos ou idosos tendem a tolerar melhor a dor que outros, mas acham difícil localizá- la. Por outro lado, os pacientes histéricos tendem a exagerar os sintomas. A avaliação da dor abdominal é especialmente difícil nos pacientes idosos e imunodeprimidos , devido a possibilidade de apresentações clínicas atípicas e da associação com outras afecções pré-existentes. O médico, entretanto, não deve prender-se aos prazos, mas avaliar todos os fatos clínicos aquém e além de limites propostos, desde o momento que começou a acompanhar a evolução do quadro agudo, apresentado pelo paciente. O diagnóstico preciso da causa determinante e as repercussões locais e gerais do presente processo patológico devem ser o objetivo principal da avaliação clínica do paciente com abdômen agudo e ele deve ser feito no menor tempo possível. A precisão e a rapidez do diagnóstico são importantes, porque o abdômen agudo traduz, em geral, uma situação grave, muitas vezes com risco de vida, que exige tratamento imediato, o qual será tanto mais efetivo quanto mais cedo for instituído Após anamnese e exame físico completos, solicita-se exames laboratoriais iniciais que devem constar de hemograma com plaquetas, exame qualitativo de urina, amilase e teste de gravidez para mulheres em idade fértil. Se, mesmo após estes exames, o diagnóstico ainda não for confirmado, deve-se então solicitar avaliação radiológica, iniciando-se por radiografia abdominal em “rotina de abdome agudo” (decúbitos dorsal, ortostático, lateral esquerdo e incidência ântero-posterior do tórax). Podem ser necessárias ainda avaliações como ultrassonografia, tomografia computadorizada (sempre que possível com contraste endovenoso), ressonância magnética, e em alguns casos, até arteriografia. A videolaparoscopia e a laparotomia exploradora são meios diagnósticos definitivos nos casos em que todos os passos citados anteriormente não tenham sido efetivos, ou mesmo terapêuticos e onde os exames não definiram o diagnóstico. SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII 4.1. Epidemiologia 4.2. Causas e Classificações É grande o número de causas que podem determinar o quadro do abdômen agudo. Dentre elas podem ser incluídos variados tipos de afecções dos órgãos digestivos abdominais, do fígado e do baço, dos órgãos pélvicos, do peritônio e dos mesentérios, de estruturas vasculares e do retroperitônio. Abaixo, apontam-se as causas freqüentes de abdômen agudo provocado por afecções de órgãos e de outras estruturas anatômicas, situadas no segmento abdominal do tronco. Causas abdominais de abdômen agudo, segundo a sede do processo patológico responsável. (Mulholand MW& Sweeney JF, 2003, modificado) Gastrointestinal Apendicite Obstrução intestinal (delgado e grosso) Isquemia mesentérica Diverticulite de Meckel Úlcera péptica perfurada Perfuração intestinal Diverticulite do cólon Doença inflamatória intestinal Pâncreas, vias biliares, fígado e baço Pancreatite aguda Abscesso hepático Hepatite aguda Rotura esplênica Colecistite aguda Tumor hepático hemorrágico Colangite aguda Peritoneal Peritonite primária (peritonite bacteriana espontânea) Peritonites secundárias a doenças agudas de órgãos abdominais ou pélvicos e a traumas abdominais Urológica Cálculo ureteral Cistite Pielonefrite Retroperitoneal Aneurisma aórtico Hemorragia Ginecológicas Cisto ovariano roto Gravidez ectópica Endometriose Torsão ovariana Salpingite aguda Rotura uterina Parede abdominal Hematoma do músculo reto SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII A especificação da natureza do processo patológico, que envolve as estruturas abdominais,na determinação do abdômen agudo, é outra forma utilizada para classificar-se a afecção. Cada um dos tipos de abdômen agudo da classificação pode ter diferentes etiologias, mas cada um deles corresponde a um quadro sindrômico, que pode ser útil para as considerações diagnósticas e terapêuticas. Logo, o abdome agudo pode ser estudado em síndromes: inflamatório, perfurativo, obstrutivo, vascular e hemorrágico. Classificação do abdômen agudo de origem abdominal, segundo a natureza da processo determinante. (Lopes AC; Reibscheid S & Szejnfeld J. 2004) Inflamatório Apendicite aguda Colecistite aguda Pancreatite aguda Diverticulite do cólon Doença inflamatória A dor é de início insidioso, com agravamento e localização progressivos. O paciente apresenta sinais sistêmicos, como febre e taquicardia. As doenças mais comuns são apendicite aguda, diverticulite aguda, pancreatite, colecistite aguda, anexite aguda. A apendicite aguda é a causa mais frequente de abdome agudo cirúrgicono mundo. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas é mais comum em adolescentes e adultos jovens. Perfurante Úlcera péptica Câncer gastrointestinal Febre tifoide Amebíase Divertículos de cólon Perfuração do apêndice Perfuração da vesícula biliar A dor é súbita e intensa, com defesa abdominal e irritação peritoneal. Há extravasamento do conteúdo gastrointestinal no peritônio, por exemplo, secundário a perfurações relacionadas à úlcera péptica gastroduodenal, diverticulite, corpos estranhos, neoplasias, entre outros. Obstrutivo Obstrução pilórica Hérnia estrangulada Bridas Ascaris Corpos estranhos Cálculo biliar Volvo Intussuscepção A dor é em cólica, geralmente periumbilical. Associadamente surgem náuseas, vômitos, distensão abdominal, parada da eliminação de flatos e fezes. São exemplos, a obstrução intestinal por bridas, hérnias, neoplasias e invaginação intestinal. Hemorrágico Gravidez ectópica Rotura de aneurisma abdominal Cisto hemorrágico de ovário Rotura de baço A dor é intensa, com rigidez e dor à descompressão; há sinais de hipovolemia/choque, como hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese. As causas mais comuns são gravidez ectópica rota, ruptura de cistos, ruptura de aneurismas e rotura de baço. Vascular Trombose da artéria mesentérica Torção do grande omento Torção do pedículo de cisto ovariano Infarto esplênico A dor é difusa e mal definida, havendo desproporção entre a dor e os achados de exame físico. As causas mais comuns são embolia e trombose mesentérica, com isquemia intestinal. Por outro lado, há doenças, de localização extra-intestinal ou sistêmica, que podem provocar o quadro clínico de abdômen agudo. Uma característica é a de não terem indicação para tratamento cirúrgico. Abaixo são mostradas causas extra-abdominais e sistêmicas de abdômen agudo. SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII Causas extra-abdominais de abdômen agudo. (Mulholand MW & Sweeney JF, 2003, modificada) Torácicas Infarto do miocárdio Pneumonia de lobo inferior Infarto pulmonar Pericardite aguda Pneumotórax Embolia pulmonar Hematológicas Crise falciforme Leucemia aguda Neurológicas Herpes zoster Compressão de raiz nervosa Tabes dorsal Metabólicas Cetoacidose diabética Porfiria intermitente aguda Crise Addisoniana Hiperlipoproteinemia Relacionadas e tóxicos Intoxicação por chumbo Abstinência de narcóticos Picadas de cobras ou insetos Etiologia desconhecida Fibromialgia 4.3. Exame físico no Abdome Agudo O exame clínico do paciente deve incluir o exame físico geral, o exame do segmento cefálico e do pescoço, do tórax e do abdômen, dos membros e do sistema nervoso. Por vezes, é fora do abdômen que se encontra a explicação de um abdômen agudo, como, por exemplo, uma fibrilação atrial,como fonte de êmbolos determinantes de oclusão mesentérica aguda. O exame deverá ser feito com a objetividade que as particularidades do caso e do momento exigem e ser interpretado dentro do contexto da história clínica e das características de cada paciente. 4.3.1. Inspeção Na inspeção do abdômen, deve-se estar atento para a detecção de distensão, cicatrizes, hérnias, equimoses e peristaltismo visível. É importante considerar que o peristaltismo configurado na parede abdominal é sinal de oclusão intestinal e deve ser, preferencialmente, observado durante a crise dolorosa. 4.3.2. Ausculta A ausculta dos ruídos hidroaéreos produzidos no abdômen, podem ter expressivo significado diagnóstico. Por exemplo, a concomitância de ruídos ouvidos à distância ou hiperativos (borborigmos) com dores intensas em cólica é muito sugestiva de que esteja havendo obstrução intestinal. O mesmo significado pode ter os ruídos de timbre metálico, audíveis com o estetoscópio. São sinais que ocorrem na fase inicial da obstrução, mas a intensidade tende a reduzir-se com a exaustão do movimento propulsivo, que tenta superar um obstáculo. Ruídos hiperativos, também, acompanham quadros de diarréia intensa e quando uma quantidade grande de sangue é perdida para a luz gastrointestinal, como nas hemorragias digestivas altas. Por outro lado, a redução dos ruídos ou, mais ainda, sua abolição, constituem elemento semiológico, indicativo de ausência de movimentos das alças intestinais, sugerindo que o abdômen agudo esteja acompanhado de peritonite. A ausculta de sopros arteriais é indicativa de afecção vascular presente, como isquemia intestinal ou aneurisma de aorta. 4.3.3. Palpação O processo inflamatório, irritativo ou isquêmico, característico de algumas doenças que podem produzir abdômen agudo, pode atingir os peritônio visceral e parietal. Quando o peritônio parietal for afetado por um SEMIOLOGIA II [ 2020/1] – MEDICINA UNIRG ACADÊMICA: ANA CLÁUDIA S. ROCHA TURMA XXXIII processo inflamatório ou irritativo, haverá hiperalgesia à palpação, na mesma região anatômica onde se situa o processo patológico. Além disso, desencadeia- se um fenômeno reflexo, que faz com que haja umento de tensão, até mesmo, rigidez da musculatura, na área correspondente. Essas anormalidades são perceptíveis ao fazer-se a palpação superficial bimanual do abdômen, examinando-se, simultaneamente, áreas simétricas. A manobra de provocação de dor à descompressão brusca (sinal de Blumberg), feita, cautelosamente, para não induzir sofrimento desnecessário ao paciente, indicará peritonite. A localização anatômica de tais anormalidades indicará o provável órgão comprometido. A dor à palpação e a rigidez em todas as regiões do abdômen impõem, entretanto, o diagnóstico de peritonite generalizada. Um paciente idoso imunodeprimido, um paciente debilitado ou um diabético podem não mostrar os típicos sinais de peritonismo acima descritos, até mesmo na presença de uma víscera perfurada. Sensibilidade dolorosa, não muito acentuada, com leve aumento de tensão da parede abdominal, em geral, são devidos a causas que não têm indicação de tratamento cirúrgico, como as gastroenterites, as salpingites e a peritonite bacteriana espontânea, dos pacientes com ascite. Sempre, é necessário diferenciar o aumento de tensão provocado pelo reflexo peritoniomuscular, da tensão, voluntária do paciente. Pela palpação do abdômen, deve-se, também, investigar alterações relacionadas ao conteúdo da cavidade abdominal e da pélvis, mas isso é dificultado pela hiperalgesia e pela contratura muscular. Entretanto, a detecção de visceromegalias ou a de massas palpáveis, devidamente avaliadas em suas características semiológicas, representam importante dado para se chegar ao diagnóstico. Uma alça palpável tensa, semelhante a um chouriço (alça de Wohll), correspondente a uma alça intestinal torcida em dois pontos, pode definir o volvo do sigmóide, complicação que ocorre em cerca de 15 % de pacientes com megacólon chagásico. Um achado, no exame do abdômen agudo, provocado pela colecistite aguda é o clássico sinal de Murphy: dor intensa e defesa do abdômen à compressão do ponto cístico com o dedo indicador, durante a inspiração. 4.3.4. Percussão O timpanismo obtido pela percussão da área de projeção do fígado, onde, habitualmente, há som maciço, é conhecido como sinal de Jobert, e pode fortalecer a hipótese de perfuração gástrica ou intestinal, em peritônio livre. Deve ser considerado, entretanto, que a distensão abdominal por gases dificulta a interpretação do desaparecimento da macicez hepática. Dor intensa, despertada pela percussão de áreas limitadas, situadas dentro da zona de projeção do fígado, na parede abdominal, feita com as pontas dos dedos reunidas, sugere abscesso hepático, amebiano ou bacteriano (sinal de Torres Homem). A determinação da macicez móvel e do semicírculo de Skoda, são importantes elementos para o diagnóstico da ascite e para a diferenciação dela de outras coleçõeslíquidas intraabdominais. A produção de dor pela punhopercussão da região lombar (sinal de Giordano) indica doença inflamatória do retroperitônio. Os órgãos pélvicos e a genitália externa devem ser examinados, bem como, realizados o toque retal e o vaginal, a fim de serem colhidos dados para o diagnóstico de uma causa genital, urológica ou retal, para o paciente com abdômen agudo.
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