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Romanceiro da Inconfidência, 
Cecília Meireles 
Profº Mari Neto 
 
 
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Romanceiro da Inconfidência (1953) 
Cecília Meireles 
 
 
 
 
 
Cecília vai a Ouro Preto a trabalho e se impressiona com a cidade, passa 
então 10 anos estudando a Inconfidência Mineira e o século XVIII, no 
Brasil. 
 
Ouro Preto, a Inconfidência e a Literatura Brasileira 
 
- Vila Rica”, Cláudio Manuel da Costa  séc. XVIII 
- “Gonzaga ou a revolução de Minas”, Castro Alves 
- Poemas diversos, Alphonsus de Guimarães 
 1924 = Caravana Modernista: Oswald de Andrade; Mário de 
Andrade, Blaise Cendrars e Olívia Penteado 
- Diversos poemas, Oswald de Andrade 
- “Alguma poesia” e “Claro Enigma”, Carlos Drummond de 
Andrade 
 Depois do século XIX, a Inconfidência Mineira foi interpretada 
como primeira manifestação de luta nacional contra a 
metrópole. 
 Romantismo = sentimento nacionalista 
 Criação de um imaginário literário: primeira revolta que tinha a 
ideia de Brasil livre 
 
Tiradentes = mártir pela liberdade 
• Joaquim José da Silva Xavier  No “Romanceiro”, é tido 
como predestinado desde criança, seu caráter é de um herói 
sonhador, que crê na justiça e na liberdade. 
 
História X Literatura 
• História documental: a Inconfidência Mineira e suas 
consequências. A vida dos escravos. 
• Poesia: supor como teriam os homens sentidos os fatos 
• Romanceiro = escrito em ordem cronológica 
• Mistura gênero lírico (momentos de expressão do eu lírico), 
épico (narrativa dos fatos) e dramático (falas dos 
personagens) 
 
“Quando, há cerca de quinze anos, cheguei pela primeira vez a Ouro 
Preto, o Gênio que a protege descerrou, como num teatro, o véu de 
recordações que, mais do que sua bruma, envolve estas montanhas e 
estas casas –, e todo o presente emudeceu, como plateia humilde, e os 
antigos atores tomaram suas posições no palco. [...] Na procissão dos 
vivos caminhava uma procissão de fantasmas[...]” 
“Deixei Ouro Preto – e seguiram comigo todos esses fantasmas. ” 
 
O que dizem os fantasmas? 
 
 
 
 
 
 
“O passado traz consigo um index secreto que o remete para a redenção. 
Não passa por nós um sopro daquele ar que envolveu os que vieram 
antes de nós ? Não é a voz a que damos ouvidos um eco de outras já 
silenciadas ? As mulheres que cortejamos não têm irmãs que já não 
conheceram ? A ser assim, então existe um acordo secreto entre as 
gerações passadas e a nossa. Então, fomos esperados sobre esta Terra. 
Então, foi-nos dada, como a todas as gerações que nos antecederam, 
uma tênue força messiânica a que o passado tem direito. Não se pode 
rejeitar de ânimo leve esse direito.” 
“Articular historicamente o passado não significa reconhecê-lo “tal como 
ele foi”. Significa apoderarmo-nos de uma recordação (Erinnerung) 
quando ela surge como um clarão num momento de perigo. [...] Interessa 
fixar uma imagem do passado tal como ela surge, inesperadamente, ao 
sujeito histórico no momento do perigo. O perigo ameaça tanto o corpo 
da tradição como aqueles que a recebem. [...]. Cada época deve tentar 
sempre arrancar a tradição da esfera do conformismo que se prepara 
para dominá-la. Pois o Messias não vem apenas como redentor, mas 
como aquele que superará o Anticristo. Só terá o dom de atiçar no 
passado a centelha da esperança aquele historiador que tiver apreendido 
isto : nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer. E esse inimigo 
nunca deixou de vencer.” 
 
“Romanceiro da Inconfidência” 
• 85 romances 
• Falas (eu-lírico fala com os personagens) e cenários (descrição 
do ambiente) 
• Obra polifônica, além do eu lírico, outros personagens também 
falam (figuras importantes e populares) 
- A obra pode ser dividida em 5 partes: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Parte 
• Fala Inicial 
• Apresentação do lugar = Vila Rica; 
• Descoberta do ouro e a ganância 
• Lenda de Chico Rei (escravo que era rei no Congo) 
• Donzela assassinada 
• Chica da Silva e João Fernandes 
• Tiradentes menino 
• Morte de D. José – fim da esperança 
 Presença dos escravos, alusões à Santa Ifigênia 
 
“Não posso mover meus passos, 
por esse atroz labirinto 
de esquecimento e cegueira 
em que amores e ódios vão: 
- pois sinto bater os sinos, 
percebo o roçar das rezas, 
vejo o arrepio da morte, 
à voz da condenação; 
- avisto a negra masmorra 
[...] 
 (Fala inicial) 
 
 
 
 
 
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2ª Parte 
• Planejamento da Inconfidência 1789 
• Tiradentes: guarda de rua, sabia medicina popular e removia 
dentes apodrecidos 
Popular e próximo do povo pobre de Vila Rica 
- Joaquim Silvério delata os amigos com a finalidade de ter suas 
dívidas perdoadas. 
 Judas 
- Prisão de Tiradentes 
• Maio de 1789 (romance 37)  todos presos 
• Fala dos populares: tropeiros, sapateiros, velhas 
 
“Atrás de portas fechadas, 
à luz de velas acesas, 
entre sigilo e espionagem, 
acontece a Inconfidência. 
E diz o Vigário ao Poeta: 
“Escreva-me aquela letra 
do versinho de Vergílio... 
E dá-lhe o papel e a pena. 
E diz o Poeta ao Vigário, 
com dramática prudência: 
“Tenha meus dedos cortados, 
antes que tal verso escrevam... 
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, 
ouve-se em redor da mesa. 
[...] 
 
3ª Parte 
 
• Morte de Tiradentes – pedra crisólita 1792 
• Morte de Cláudio Manuel da Costa – assassinato ou suicídio 
 Fala aos pusilânimes (covardes) 
 Reflexão sobre o poder das palavras 
 
“Chega, porém, do profundo tempo, 
uma infinita voz de desgosto, 
e com o asco da decadência, 
entre o que seríeis e fostes, 
murmura imensa: “Os pusilânimes! 
“Os pusilânimes!” repete 
o breve passante do mundo, 
quando conhece a vossa história! 
Em céus eternos palpita o luto 
por tudo quanto desperdiçastes... 
“Os pusilânimes!” - suspira 
Deus. 
[...] 
 
4ª Parte 
 
• Os maldizentes – acusam para lucrar 
• Tomás Antônio Gonzaga em Moçambique 
 Juliana de Mascarenhas 
- Marília desconsolada, não crê que o amado a esqueceu 
- Alvarenga Peixoto degredado (Angola), deixa a esposa Bárbara 
Eliodora e duas filhas 
Morte de Maria Ifigênia 
 
“Não chores tanto, Marília, 
por esse amor acabado: 
que esperavas que fizesse 
o teu pastor desgraçado, 
tão distante, tão sozinho, 
em tão lamentoso estado?” 
A bela, porém, gemia 
“Só se estivesse alienado!” 
[...] 
5ª parte 
 
- Cenário – Rainha no Brasil 
- Morte de Marília, velha e solitária 
- A Rainha louca - culpa 
- Homenagem aos cavalos 
- Fala aos inconfidentes 
 
“(Sentada estava a Rainha, 
sentada em sua loucura. 
Que sombras iam passando 
naquela memória escura? 
Vagas espumas incertas 
sobre afogada amargura...) 
 [...] 
 
Síntese 
• Apesar de se referir a um evento específico, as reflexões de 
Cecília no “Romanceiro da Inconfidência” dizem respeito à 
condição humana. 
Postura ética em relação ao passado 
 
• O estilo do Romanceiro não imita a poesia árcade, ele é mais 
nebuloso e com frequentes paradoxos e antíteses 
• Reflexões sobre a efemeridade do tempo  fazer a justiça 
contando a história 
• O gênero medieval romance dá a possibilidade de Cecília 
expressar diversos pontos de vista, principalmente os mais 
populares  História é construída por todos. 
 
Exercício 
1. (Fuvest 2021) Alferes, Ouro Preto em sombras 
Espera pelo batizado, 
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador 
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor. 
Raios de sol brilharão nos sinos: 
Dez vias dar. 
 
Ai Marília, as liras e o amar 
Não passo mais sufocar 
E a minha voz irá 
Pra muito além do desterro e do sal, 
Maior que a voz do rei. 
 
Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de 1973. 
 
A imagem de Tiradentes – a quem Cecília Meireles qualificou “o Alferes 
imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil 
e do próprio mundo”, em palestra feita em Ouro Preto – torna a aparecer 
como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura 
nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o 
mártir sonhador para resistir ao discurso 
a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas. 
b) da historiografia,que minimizou a importância de Tiradentes. 
c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar. 
d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas. 
e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.

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