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08 02 (Filosofia - Caderno 4) [Tetra e Medicina] 2x2

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Prof. Maria Helena 
Filosofia & Sociologia 
 
Página 1 de 26 
Filosofia – Caderno 4 
 
SEMANA 1: Racionalismo 
René Descartes (1596 – 1650) 
 
Filósofo e matemático francês, considerado por muitos o pai 
da filosofia moderna. Em seus escritos, reflete sobre o mundo 
renascentista e sobre as consequências da revolução científica 
que marca o século XVI. Procura estabelecer os fundamentos 
para um conhecimento seguro, fundado em parâmetros 
racionais e em bases matemáticas, rompendo com os 
preceitos escolásticos e criticando, por outro lado, os 
posicionamentos de pensadores céticos que emergem em sua 
época. 
Descartes é um dos expoentes mais importantes do 
Racionalismo, vertente filosófica que aponta ser o princípio de 
racionalidade o que faz com que o homem seja capaz de obter 
conhecimento sobre si mesmo e sobre o mundo. A razão seria 
mais confiável do que os sentidos em matéria de produzir um 
conhecimento seguro. Contudo, é preciso um método para 
guiar a razão. De outro modo, ela estaria sujeita a erros. 
Descartes procura, assim, firmar uma base segura para o 
desenvolvimento das ciências. Busca também legitimar a 
matemática. 
 
Dúvida metódica – Descartes assume a dúvida como método 
e busca aquilo de que não se pode duvidar (indubitável ou ideia 
clara e distinta) 
 
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus 
primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como 
verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em 
princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui 
duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar 
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as 
opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo 
novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer 
algo de firme e de constante nas ciências. Mas, parecendo-me 
ser muito grande essa empresa, aguardei atingir uma idade 
que fosse tão madura que não pudesse esperar outra após ela, 
na qual eu estivesse mais apto para executá-la; o que me fez 
diferi-Ia por tão longo tempo que doravante acreditaria cometer 
uma falta se empregasse ainda em deliberar o tempo que me 
resta para agir. (René Descartes – Meditações Metafísicas) 
“Meditações Metafísicas” (obra publicada em 1641) 
 
 Busca uma base inicial segura para o conhecimento. 
Crítica ao ceticismo vigente, que duvidava de 
qualquer possibilidade de se definir verdades. Ao 
mesmo tempo, vale-se das próprias indagações 
céticas, submetendo suas crenças e antigas opiniões 
a uma análise rigorosa em busca pelo conhecimento 
seguro e indubitável. 
 Afirma que aceitará como verdade apenas aquilo que 
conseguir sobreviver a qualquer dúvida. 
 Duvida sistematicamente da tradição, dos sentidos, 
da realidade exterior, da matemática até chegar à 
primeira verdade segura: Cogito ergo sum. 
 Em um momento significativo de sua primeira 
meditação, apresenta o que se costuma chamar de 
dúvida hiperbólica: argumento do gênio maligno, 
uma ferramenta de radicalização de seu método, com 
o intuito de fortalecer os critérios que demonstrem 
evidência. Qualquer indício de dúvida, mesmo algo 
que pareça absurdo à primeira vista, deve servir para 
que uma ideia seja descartada. 
Cogito – Penso, logo existo: garante a existência de um ser 
que pensa, mas não necessariamente um mundo exterior ao 
pensamento. 
 
Descartes dividiu a realidade em res conngitans (consciência 
e mente) e res extensa (corpo e matéria). Para ele, o 
pensamento é mais evidente do que a matéria, uma vez que é 
mais fácil comprovar o mundo imaterial do que o mundo 
material, algo constatado nas meditações filosóficas que o 
conduzem à sua primeira certeza, o COGITO. 
 
Assim como Platão, Descartes acredita na existência de certas 
ideias inatas. Uma desses seria a noção da existência de 
Deus. Ele afirma: “eu não teria a ideia de uma substância 
infinita e perfeita se ela não tivesse sido colocada em mim por 
uma substância verdadeiramente infinita e perfeita”. Deus, 
assim, é parte importante do sistema filosófico de Descartes, 
uma vez que é a existência de Deus que rompe com a hipótese 
do gênio maligno e garante a existência do mundo material. 
 
Argumento Mecanicista 
 
Descartes acreditava que o mundo físico operava como uma 
máquina, assim como as diferentes engrenagens produzidas 
pelo homem, tal como um relógio, por exemplo. No relógio, 
uma coisa funciona em função da outra e os mecanismo 
interagem entre si, o que pode originar dinâmicas complexas. 
Assim ele acreditava ser o funcionamento do mundo, que era 
visto por Descartes como um mecanismo bastante complexo. 
 
Um dos caminhos para se compreender um mecanismo 
complexo seria desmembrá-lo em partes mais simples, que é 
o que ele apresenta em sua obra Discurso do Método. 
“Discurso do Método” (publicado em 1637) 
 
Questiona o conhecimento até então adquirido e assume a 
racionalidade como o atributo fundamental do homem, que 
pode garantir o conhecimento seguro, desde que guiada por 
um método. 
 
As 4 regras do método: 
 
1. jamais aceitar como verdadeira uma coisa que não se 
soubesse ser evidentemente como tal; 
2. dividir as dificuldades em níveis, de acordo com a 
complexidade; 
3. ir do pensamento mais simples ao mais complexo; 
4. enumerar e revisar para nada omitir. 
 
“ (...) porque nossos sentidos nos enganam às vezes, quis 
supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos 
fazem imaginar. E, porque há homens que se equivocam ao 
raciocinar, mesmo no tocante às mais simples matérias da 
Geometria, e cometem aí paralogismos, rejeitei como falsas, 
julgando que estava sujeito a falhar como qualquer outro, todas 
as razões que eu tomara até então por demonstrações. E 
enfim, considerando que todos os mesmos pensamentos que 
temos quando despertos nos podem também ocorrer quando 
dormimos, sem que haja nenhum, nesse caso, que seja 
verdadeiro, resolvi fazer de conta que todas coisas que até 
então haviam entrado no meu espírito não eram mais 
verdadeiras que as ilusões de meus sonhos.” 
 
 DESCARTES, Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 
1987 – p.25. 
 
 
 
 
Prof. Maria Helena 
Filosofia & Sociologia 
 
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Exercícios 
1. (Ufsc 2019) No que se refere à obra Meditações Metafísicas 
de Descartes, é correto afirmar que: 
 
01) os sentidos corpóreos são enganadores e, portanto, não 
são confiáveis para a obtenção de conhecimento. 
02) só é possível distinguir o sono da vigília com o auxílio do 
gênio maligno. 
04) não é possível adquirir conhecimento, portanto só nos 
resta aceitar o ceticismo. 
08) Deus não existe, de modo que a melhor posição em 
filosofia é o ateísmo. 
16) a dúvida metódica não se deve aplicar às verdades 
matemáticas. 
32) a expressão “eu sou, eu existo” é a primeira certeza da 
filosofia cartesiana. 
64) Deus existe, e tal verdade pode ser provada pela ideia que 
temos de Deus como um ser perfeito e pela constatação 
de que sua inexistência implicaria uma imperfeição. 
 
2. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. 
 
E se escrevo em francês, que é a língua de meu país, e não 
em latim, que é a de meus preceptores, é porque espero que 
aqueles que se servem apenas de sua razão natural 
inteiramente pura julgarão melhor minhas opiniões do que 
aqueles que não acreditam senão nos livros dos antigos. E 
quanto aos que unem o bom senso ao estudo, os únicos que 
desejo para meus juízes, não serão de modo algum, tenho 
certeza, tão parciais a favor do latim que recusem ouvir minhas 
razões, porque as explico em língua vulgar. 
 
DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São 
Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção “Os pensadores”. p. 79. 
Com base nos conhecimentos sobre Descartes e o surgimento 
da filosofia moderna, assinale a alternativa correta. 
 
a) A língua vulgar, o francês, expressa de modo mais 
adequado o espírito da modernidade por estar livre dos 
preconceitos da língua dos doutos, o latim. 
b) Redigir o Discurso do Método em francês teve propósitosimilar à tradução da bíblia para o alemão feita por Lutero: 
facilitar o acesso à sacralidade do texto em língua vulgar. 
c) O desencantamento do mundo, resultante da radical crítica 
cartesiana à tradição, teve como consequência o abandono 
da referência à divindade. 
d) As ideias expressas por Descartes em seu Discurso do 
Método refletem a postura tipicamente moderna de ruptura 
total com o passado. 
e) A razão natural inteiramente pura é um atributo inerente à 
natureza humana, independentemente da tradição ou da 
cultura à qual o humano se vincula. 
 
 
3. (Enem 2018) O século XVIII é, por diversas razões, um 
século diferenciado. Razão e experimentação se aliavam no 
que se acreditava ser o verdadeiro caminho para o 
estabelecimento do conhecimento científico, por tanto tempo 
almejado. O fato, a análise e a indução passavam a ser 
parceiros fundamentais da razão. É ainda no século XVIII que 
o homem começa a tomar consciência de sua situação na 
história. 
 
ODALIA, N. In: PINSKY, J.; PINSKY. C. B. História da cidadania. São Paulo: 
Contexto. 2003. 
No ambiente cultural do Antigo Regime, a discussão filosófica 
mencionada no texto tinha como uma de suas características 
 
a) aproximação entre inovação e saberes antigos. 
b) conciliação entre revelação e metafísica platônica. 
c) vinculação entre escolástica e práticas de pesquisa. 
d) separação entre teologia e fundamentalismo religioso. 
e) contraposição entre clericalismo e liberdade de 
pensamento. 
 
4. (Unesp 2018) De um lado, dizem os materialistas, a mente 
é um processo material ou físico, um produto do 
funcionamento cerebral. De outro lado, de acordo com as 
visões não materialistas, a mente é algo diferente do cérebro, 
podendo existir além dele. Ambas as posições estão 
enraizadas em uma longa tradição filosófica, que remonta pelo 
menos à Grécia Antiga. Assim, enquanto Demócrito defendia 
a ideia de que tudo é composto de átomos e todo pensamento 
é causado por seus movimentos físicos, Platão insistia que o 
intelecto humano é imaterial e que a alma sobrevive à morte 
do corpo. 
 
(Alexander Moreira-Almeida e Saulo de F. Araujo. “O cérebro produz a 
mente?: um levantamento da opinião de psiquiatras”. 
www.archivespsy.com, 2015.) 
 
A partir das informações e das relações presentes no texto, 
conclui-se que 
 
a) a hipótese da independência da mente em relação ao 
cérebro teve origem no método científico. 
b) a dualidade entre mente e cérebro foi conceituada por 
Descartes como separação entre pensamento e extensão. 
c) o pensamento de Santo Agostinho se baseou em hipóteses 
empiristas análogas às do materialismo. 
d) os argumentos materialistas resgatam a metafísica 
platônica, favorecendo hipóteses de natureza espiritualista. 
e) o progresso da neurociência estabeleceu provas objetivas 
para resolver um debate originalmente filosófico. 
 
 
 
 5. (Enem 2016) Nunca nos tornaremos matemáticos, por 
exemplo, embora nossa memória possua todas as 
demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for 
capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos 
tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão 
e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que 
nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, 
não ciências, mas histórias. 
 
 
DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: 
Martins Fontes, 1999. 
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o 
conhecimento, de modo crítico, como resultado da 
 
a) investigação de natureza empírica. 
b) retomada da tradição intelectual. 
c) imposição de valores ortodoxos. 
d) autonomia do sujeito pensante. 
e) liberdade do agente moral. 
 
6. (Ufu 2010) Em O Discurso sobre o método, Descartes 
afirma: 
 
Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que não se 
reconhece ser tal pela evidência, ou seja, evitar acuradamente 
a precipitação e a prevenção, assim como nunca se deve 
 
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abranger entre nossos juízos aquilo que não se apresente tão 
clara e distintamente à nossa inteligência a ponto de excluir 
qualquer possibilidade de dúvida. 
 
(REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: Do humanismo a 
Descartes. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2004. p. 289.) 
 
Após a leitura do texto acima, assinale a alternativa correta. 
 
 
a) A evidência, apesar de apreciada por Descartes, permanece 
uma noção indefinível. 
b) A evidência é a primeira regra do método cartesiano, mas 
não é o princípio metódico fundamental. 
c) Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias evidentes. 
d) A evidência não é um princípio do método cartesiano. 
 
 
7. (Uel 2010) Observe a tira e leia o texto a seguir: 
 
 
Mas há um enganador, não sei quem, sumamente poderoso, 
sumamente astucioso que, por indústria, sempre me engana. 
Não há dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também, se me 
engana: que me engane o quanto possa, nunca poderá fazer, 
porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que sou algo. 
De sorte que, depois de ponderar e examinar cuidadosamente 
todas as coisas é preciso estabelecer, finalmente, que este 
enunciado eu, eu sou, eu, eu existo é necessariamente 
verdadeiro, todas as vezes que é por mim proferido ou 
concebido na mente. 
 
(DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira. Tradução, nota 
prévia e revisão de Fausto Castilho. Campinas: Unicamp, 2008, p. 25.) 
 
 
 
 
 
 
Com base na tira e no texto, sobre o cogito cartesiano, é 
correto afirmar: 
 
 
a) A existência decorre do ato de aparecer e se apresenta 
independente da essência constitutiva do ser. 
b) A existência é manifesta pelo ato de pensar que, ao trazer à 
mente a imagem da coisa pensada, assegura a sua realidade. 
c) A existência é concebida pelo ato originário e imaginativo do 
pensamento, o qual impede que a realidade seja mera ficção. 
d) a existência é a plenitude do ato de exteriorização dos 
objetos, cuja integridade é dada pela manifestação da sua 
aparência. 
e) A existência é a evidência revelada ao ser humano pelo ato 
próprio de pensar. 
 
8. (ENEM) Após ter examinado cuidadosamente todas as 
coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta 
proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira 
todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu 
espírito. 
 
DESCARTES, R. Meditações. Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 
1979. 
 
A proposição “eu sou, eu existo” corresponde a um dos 
momentos mais importantes na ruptura da filosofia do século 
XVII com os padrões da reflexão medieval, por 
 
a) estabelecer o ceticismo como opção legítima. 
b) utilizar silogismos linguísticos como prova ontológica. 
c) inaugurar a posição teórica conhecida como empirismo. 
d) estabelecer um princípio indubitável para o conhecimento. 
e) questionar a relação entre a Filosofia e o tema da existência 
de Deus. 
 
9. (Unioeste 2011) Considerando-se as primeiras linhas das 
Meditações sobre a filosofia primeira de René Descartes: 
 
 
“Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus 
primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por 
verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre 
princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito 
duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar seriamente, 
uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões que 
recebera até então em minha crença e começar tudo 
novamente desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer 
alguma coisa de firme e de constante nas ciências. (...) Agora, 
pois, que meu espírito está livre de todas as preocupações e 
que obtive um repouso seguro numa solidão tranquila, aplicar-
me-ei seriamente e com liberdade a destruir em geral todas as 
minhas antigas opiniões” 
 
É correto afirmar sobre a teoria do conhecimento cartesiana 
que 
 
a) Descartes não utiliza um método ou uma estratégia para 
estabelecer algo de firme e certo no conhecimento,já que 
suas opiniões antigas eram incertas. 
b) Descartes considera que não é possível encontrar algo 
de firme e certo nas ciências, pois até então esse objetivo 
não foi atingido. 
c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica 
considerou como conhecimento, busca fundamentar nos 
sentidos uma base segura para as ciências. 
d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o 
conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas antigas 
opiniões e utiliza o método da dúvida até encontrar algo de 
firme e certo. 
e) Descartes necessitou de solidão para investigar as suas 
antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o 
verdadeiro fundamento do conhecimento. 
 
10. (Uel 2012) Leia o texto a seguir. 
 
Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui 
ardiloso que emprega toda sua indústria em enganar-me 
sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me 
engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer 
 
Prof. Maria Helena 
Filosofia & Sociologia 
 
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com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. 
De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter 
examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim 
concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu 
existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a 
enuncio ou que a concebo em meu espírito. 
 
(DESCARTES, René. Meditações. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado 
Júnior. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p.100 - Coleção Os Pensadores.) 
 
A partir do texto e dos conhecimentos acerca de Descartes: 
 
a) Apresente o propósito e os graus da dúvida metódica. 
b) Demonstre como Descartes descobre que o pensamento é 
a verdade primeira. 
 
 
Gabarito: 
1. 01+32+64=97 2.E 3.E 
4.B 5.D 6.C 
7.E 8.D 9.D 
 
SEMANA 2: Introdução à sociologia brasileira (parte I) 
“Fracassei na maioria das propostas que defendi. 
Mas os fracassos são minhas vitórias. 
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu” 
 
Darcy Ribeiro 
A Sociologia no Brasil 
 
Na Europa, a Sociologia tem seu início formal quando, em 
meados do século XIX, Auguste Comte propõe um método 
voltado para a elaboração científica do pensamento social, o 
que atribui à nova ciência um considerável grau de autonomia 
em relação à Filosofia Social, fundamental para seu 
desenvolvimento posterior. O foco da Sociologia é 
compreender a sociedade industrial moderna, caracterizada 
pelo modo de produção capitalista. 
No Brasil, há uma relação direta entre a formação do 
pensamento sociológico e o complexo processo de formação 
da consciência nacional, isso porque a identidade nacional do 
país vincula-se a um processo histórico de colonização e 
implantação da cultura europeia, promovido especialmente 
pelos jesuítas. 
“Imbuídos do espírito da catequese contrarreformista, os 
jesuítas trouxeram a filosofia universalista e a escolástica. 
Promoveram o tupi à condição de língua geral, popular, ao lado 
do latim e do português. Introduziram um sistema misto de 
exploração do trabalho indígena que, combinado com o ensino 
religioso, quase aniquilou, aos poucos, a cultura nativa. Assim, 
a catequese e a evangelização foram um importante 
instrumento de colonização.” 
 
(COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à Ciência da Sociedade. Ed. 
Moderna, p. 300) 
 
No século XVIII, com a mineração, e, posteriormente, no início 
do século XIX, com a vinda da família real portuguesa para o 
Brasil, a sociedade brasileira começa a se urbanizar e a 
população livre passa a ser, pela primeira vez, mais numerosa 
do que a escrava. Há um forte desenvolvimento nas artes, com 
o Barroco, mas na produção científica o conhecimento era 
ainda insignificante. Ao longo do século XIX há alguns “estudos 
naturalistas” sobre o Brasil e o romantismo se desenvolve na 
literatura. Muito embora a nação emergisse como tema e como 
objeto de análise na produção artística da época, os modelos 
eram estrangeiros e na maioria das vezes isentos de caráter 
crítico ou reflexivo. Somente no final do século XIX, quando a 
sociedade começa a se modernizar, especialmente nos 
centros urbanos, é que a literatura realista começa a explorar 
a crítica social, como, por exemplo, na obra de Machado de 
Assis. 
O livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, que se propõe a 
analisar de modo denso e completo a Guerra de Canudos, no 
interior da Bahia, é considerado por muitos uma obra inaugural 
do pensamento sociológico no Brasil. O autor, que como 
muitos de sua época era influenciado pelo Determinismo 
(corrente cientificista que acreditava que o ser humano é 
produto do meio ambiente, da raça e do contexto histórico), 
defendia, a princípio, o “embranquecimento dos brasileiros” e 
criticava a miscigenação racial. Euclides da Cunha manifesta 
essa perspectiva no seguinte trecho: "Intentamos esboçar, 
palidamente embora, ante o olhar de futuros historiadores, os 
traços atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas do 
Brasil. E fazemo-lo porque a sua instabilidade de complexos, 
aliada às vicissitudes históricas e deplorável situação mental 
em que jazem, as tornam talvez destinadas a próximo 
desaparecimento ante as exigências crescentes da 
civilização." 
 
(CUNHA, Euclides da. Os Sertões, Campanha de Canudos.) 
 
Contudo, após passar algum tempo vivendo junto à 
comunidade de Canudos, o próprio autor modifica sua visão e 
aos poucos abandona o determinismo. Com isso, temos em 
“Os Sertões” uma obra complexa, permeada por contradições, 
mas que explicita (de modo literário, jornalístico e 
historiográfico) o conflito de uma sociedade dividida entre o 
universo das cidades litorâneas e o do interior agrário e 
tradicional. 
 
 
 
Contradição semelhante permeia a obra literária, também 
inserida no contexto pré-modernista, de Monterio Lobato. 
Segundo Zinda Vasconcelos, em “O universo ideológico da 
obra infantil de Monteiro Lobato”: Francamente eugenista, a 
trama urdida por Lobato em O choque, onde a inteligência dos 
brancos acabava vencendo, vem destacar posições ambíguas 
 
Prof. Maria Helena 
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no escritor. Mas, se neste livro ele abraça ideias acerca da 
superioridade racial, em outros momentos resgata o elemento 
de origem africana e reconhece seu papel na cultura brasileira 
– como na caracterização de Tia Nastácia e tio Barnabé – 
personagens do sítio do Pica-Pau Amarelo representantes do 
saber popular. E tampouco se esquiva em denunciar as 
crueldades do escravismo, conforme se pode constatar no 
conto Negrinha. 
A falta de homogeneidade da população brasileira era alvo das 
críticas do pensamento internacional ao mesmo tempo em que 
se disseminava no Brasil no final do século XIX. Aquela 
população “sem forma”, misturada, mestiça era incompatível 
com qualquer projeto de nação. O Brasil era visto, então, como 
“uma nação sem povo”, pois não havia algo de homogêneo 
que pudesse definir ou caracterizar sua população. 
Proliferavam na época teses deterministas e positivistas, que 
contribuíam para que a miscigenação racial fosse vista como 
algo extremamente negativo. Tais teses estavam ligadas a 
estudos sobre raça e eugenia, que influenciavam muitos 
acadêmicos no final do século XIX. Era comum que o 
pensamento internacional analisasse de modo pejorativo o 
povo brasileiro, tal como no seguinte trecho, escrito pelo suíço 
Louis Agassiz, que relata sua viagem pelo Brasil: 
“O resultado natural do contato ininterrupto de mestiços entre 
eles é uma classe de homens em que tipos puros 
desaparecem quase totalmente, assim como as boas 
qualidades, físicas e morais, das raças primitivas, 
engendrando uma multidão sem raça tão repulsiva quanto os 
cães vira-latas, que estão aptos para serem companheiros e 
entre os quais é impossível escolher um único espécime que 
tenha a inteligência, a nobreza ou a afetividade natural que faz 
do cachorro de raça pura o companheiro favorito do homem 
civilizado. (...) Que qualquer um que duvidedo mal da mistura 
de raças e está inclinado, por uma falsa filantropia, a quebrar 
com as barreiras entre elas, vá ao Brasil. Não pode aí negar a 
deterioração resultante de uma amálgama de raças, mais 
difundida aqui do que em qualquer outro país do mundo, que 
apaga rapidamente as melhores qualidades do branco, do 
negro e do índio, deixando um tipo sem descrição nem raça, 
débil em termos físicos e mentais”. 
A Semana de Arte Moderna, em 1922, representa o início de 
uma busca por algo que rompesse com a preponderância das 
análises deterministas e positivistas que tratavam de modo 
pejorativo a miscigenação racial e que possibilitasse, assim, 
unificar todo esse conjunto de pessoas no país de uma forma 
singular, propriamente brasileira, de modo a definir o Brasil 
como cultura e civilização. 
Quando os modernistas inauguraram a Semana de 22, o Brasil 
era um país agrário, não industrializado e governado pela 
oligarquia do café. E mesmo a cidade de São Paulo sendo 
muito mais desenvolvida, (também mais cosmopolita, mais 
próxima das tendências europeias do que as demais cidades 
do país) as propostas dos modernistas não deixavam de estar 
distantes de sua realidade, de ser chocantes demais para o 
contexto. O modernismo no Brasil é um rompimento com o 
atraso do país. Propõe uma estética nova, de vanguarda, para 
um pensamento novo sobre o Brasil. 
A cidade de São Paulo passa por profundas modificações nas 
primeiras décadas do século XX. Os modernistas observaram 
a industrialização crescente e a importância gradativa que iam 
adquirindo os centros urbanos. Falando de progresso, de 
modernidade, eles pretendiam dar um grito de independência 
contra o atraso cultural do país. Inspirados nas linguagens das 
vanguardas européias, que revolucionaram a arte do período, 
buscavam romper com as tradições acadêmicas da arte no 
Brasil (tradições importadas da Europa) e, ao mesmo tempo, 
valorizar as marcas autenticamente brasileiras. 
Apesar da modernidade destacar uma nova realidade a ser 
pensada e retratada, o Brasil (apesar das marcas do progresso 
que começavam a aparecer na cidade de São Paulo) 
permanecia pouco desenvolvido, atrasado culturalmente, com 
um povo que carecia, segundo os relatos da época, de uma 
identidade própria. A Semana de Arte Moderna de 1922 
pretendia colocar a cultura brasileira a par das correntes de 
vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo em que 
pregava a tomada de consciência da realidade brasileira, 
buscando inseri-la em um processo de civilização e adequação 
à contemporaneidade. A Semana de 22 detona um processo 
de transformação estética, reunindo propostas renovadoras 
que se defrontam com as tradições acadêmicas. O período que 
prossegue, de 1922 a 1930, é um período rico em manifestos 
e revistas que buscam definições e debatem questões do 
modernismo no país. O Movimento Antropofágico, que surge 
com o Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade 
em 1928, nasce como uma nova etapa do nacionalismo pau-
brasil, sob a inspiração da tela de Tarsila do Amaral que 
Oswald batizou de Abaporu, que significa, em Tupi, homem 
que come. Essa tela deu nome ao movimento cuja proposta 
principal era que houvesse uma incorporação de vários 
elementos, tanto nativos quanto civilizadores, na formação de 
uma identidade cultural brasileira. Nessa perspectiva, os 
modernistas dão um importante passo reconstruindo a 
temática da identidade brasileira a partir de novas linguagens 
artísticas. 
 
Abaporu, Tarsila do Amaral – 1928. 
 
Se a Semana de 22 representa o primeiro passo do 
pensamento brasileiro no século XX, as obras “Casa Grande & 
Senzala”, de Gilberto Freyre, e “Raízes do Brasil”, de Sérgio 
Buarque, representam os passos seguintes. O fato é que a 
proclamação da República não havia criado uma nação 
brasileira, com uma sociabilidade específica. Que país era o 
Brasil? Como era o seu povo? Quais suas peculiaridades? Já 
era uma República e então se via forçosamente inserido na 
modernidade através de um processo civilizatório complexo e 
comandado pelas elites. 
 
 
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A GERAÇÃO DE 1930 
 
Embora possamos dizer que havia alguma formulação 
sociológica no Brasil do final do século XIX, vinculada 
sobretudo ao pensamento de Euclides da Cunha, a Sociologia 
propriamente dita, autônoma e produzida num ambiente 
acadêmico, remete à década de 1930, com a fundação da 
Universidade de São Paulo e o aumento da produção 
científica. Em 1931 a Sociologia torna-se disciplina obrigatória 
no ensino médio. 
Os principais expoentes de uma geração de intelectuais que 
desponta na década de 30 são: Gilberto Freyre, Sérgio 
Buarque de Holanda e Caio Prado Jr. 
Dentre as principais características do pensamento da época, 
podemos citar o interesse por analisar o Brasil de um modo 
não eurocêntrico, o nacionalismo como sentimento capaz de 
consolidar uma identidade brasileira e a valorização das 
abordagens científicas, inspiradas em teorias sociológicas e 
antropológicas produzidas na Europa e nos Estados Unidos. 
 
Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre 
 
 
 
 
O passo dado pelos modernistas na Semana de 22 é seguido 
pela elaboração da primeira grande obra teórica que se volta 
para pensar a cultura e a sociabilidade brasileira. Casa Grande 
e Senzala, de Gilberto Freyre, é uma obra pioneira para a 
Sociologia do país. 
Gilberto de Mello Freyre (1900 – 1987) nasceu e morreu no 
Recife. Sua obra é influenciada pela Antropologia culturalista 
de Franz Boas, pensador com o qual teve contato em sua pós-
graduação na universidade Columbia, nos EUA, e também por 
análises da história do Brasil, sobretudo em seus aspectos 
mais cotidianos, que ele absorve inclusive de sua memória 
pessoal e de evocação de registros do seu passado, por meio 
de relatos familiares. Sua narrativa “romanceada” muitas vezes 
parece avessa à busca por rigor científico. Contudo, eis um dos 
traços fundamentais de seu estilo, descrito por muito 
estudiosos como “romance (ou saga) da história do Brasil”. 
Para Gilberto Freyre, todo o brasileiro, mesmo o alvo de cabelo 
louro, traz consigo, na alma ou no corpo, elementos 
incorporados dos indígenas e dos negros. Assim, ser brasileiro 
significa ser mesmo misturado. O português, por conta de uma 
disposição cultural, é um povo que gosta de se misturar. Freyre 
busca a origem desse comportamento na história de Portugal. 
Surge, já nessa primeira visualização da obra, uma 
interpretação para o Brasil. Ambos, indígenas, negros e 
brancos, contribuíram de forma significativa na formação 
do povo brasileiro. A cultura brasileira nasce, então, na 
miscigenação de elementos, e essa falta de homogeneidade 
não é algo prejudicial a um processo civilizatório, não significa 
a ausência de singularidade. Pelo contrário, Freyre atribui 
características comuns a todos os brasileiros. A partir de sua 
obra podemos reconhecer uma cultura peculiar de nosso país. 
Assim, podemos dizer que ele desenvolve uma tese sobre a 
formação da sociabilidade brasileira. Segundo Gilberto Freyre, 
nossa cultura nasce na esfera privada, nas relações cotidianas 
de família, no ambiente da casa grande. 
O negro aparece como importante elemento civilizatório, talvez 
o mais importante. A narrativa de Freyre é bastante rigorosa e 
detalhista, ao mesmo tempo, é como se ele estivesse contando 
uma história. “Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo 
em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na 
fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é 
expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da 
influência negra. Da escrava sinhama que nos embalou. Que 
nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria 
amolegando na mão o bolão de comida. Da negra velha que 
nos contou as primeiras histórias de bicho e mal assombrado. 
Da mulata que nos tirou o primeiro bicho de pé de uma coceira 
tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao 
ranger da cama-de-vento,a primeira sensação completa de 
homem. Do moleque que foi nosso primeiro companheiro de 
brinquedo” (Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala, pg. 331). 
Os negros, ao adentrarem na vida doméstica, imprimem sua 
cultura. As histórias portuguesas sofrem alterações ao 
passarem pela boca das negras, as velhas amas-de-leite. A 
linguagem infantil também se modifica no contato com as amas 
negras. Sem contar os hábitos alimentares, de higiene, que 
foram também bastante influenciados. 
Como vemos, a figura negra feminina tem uma importância 
fundamental na formação da sociabilidade brasileira. Ela 
adentra o ambiente doméstico e passa a fazer parte do 
cotidiano da família patriarcal. É na casa grande que o escravo 
pode manifestar sua cultura, pois não está oprimido no 
trabalho. É esse escravo que molda e influencia a cultura 
brasileira. O nascer da civilização brasileira se dá no seio da 
família, a sociabilidade surge nas relações de dominação, que 
se alternam com momentos de doçura, e que constituem o 
espaço privado da grande família. Assim, a relação 
senhor/escravo é um eixo explicativo da formação social 
brasileira. Essa relação de hierarquia e dominação é marcada 
pelo uso da violência. As relações familiares como um todo 
eram marcadas pela violência. Segundo Gilberto Freyre, a 
proximidade corporal pressupõe excessos de autoridade 
quanto ao corpo alheio: o despotismo dos pais, a agressão de 
senhores a seus escravos, a crueldade das senhoras com as 
escravas, dos meninos com os moleques de brinquedo. Ao 
mesmo tempo, a família patriarcal era bastante coesa. Na 
perspectiva de Freyre, as relações entre senhores e escravos 
também eram marcadas pela proximidade e pela doçura, como 
podemos claramente perceber através do trecho citado 
anteriormente. Os escravos domésticos fazem parte da vida 
afetiva da grande família, assim como da vida sexual, em 
muitos casos. As relações dos senhores com seus escravos, 
apesar de serem hierárquicas, não eram, para ele, unilaterais. 
E por isso os escravos tanto contribuíram para nossa formação 
cultural; também porque, segundo Freyre, o senhor português 
 
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não tinha consciência racial, o que permitiu ao negro imprimir 
sua cultura no Brasil. 
Com tudo isso, Freyre desmistifica a idéia da inferioridade 
mental do negro e dos povos miscigenados que proliferavam 
nas análises deterministas e positivistas da época. “(...) Dentro 
da orientação e dos propósitos deste ensaio, interessam-nos 
menos as diferenças de antropologia física (que não explicam 
inferioridades ou superioridades humanas, quando 
transportadas dos termos de hereditariedade e família para os 
termos de raça), que as de antropologia cultural e história 
social africana” (idem, pg.349). 
Em seu trabalho, procurou deixar de lado categorias como 
raça, natureza e determinismo do meio, e tentou interpretar o 
Brasil a partir da noção de cultura. A tese de Freyre quanto às 
contribuições equilibradas de negros e brancos ao patrimônio 
cultural brasileiro, e mesmo quanto à convivência 
supostamente harmônica no ambiente doméstico, permitiu que 
ele fosse interpretado a partir da ideia de democracia racial. 
O autor é visto como o criador desse mito da democracia racial, 
de que negros e brancos convivem no Brasil em harmonia, de 
que aqui não existe racismo, o que posteriormente foi criticado 
por diversos autores que pensaram as questões raciais e os 
problemas de conscientização racial no Brasil. 
 
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque 
 
 
 
Gilberto Freyre demonstra ter saudades do período colonial, 
da voz suave da “ama-negra a nos embalar, daquela coceira 
tão boa, quando a mulata tirava de nós o bicho-de-pé”. A 
sociabilidade que nasce na esfera privada, que surge entre 
senhores e escravos, possibilita a constituição de relações de 
proximidade e troca de afinidades. Gilberto Freyre identifica a 
lógica privatista de nossa sociedade. Sérgio Buarque, por sua 
vez, aprofunda a questão da proeminência da vida privada no 
Brasil, entretanto, não adota um tom saudosista, volta-se para 
o futuro, está preocupado com o processo de modernização e 
com o desenvolvimento democrático no Brasil. Ao contrário de 
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque não tinha uma formação 
antropológica etnológica, também não estava preocupado com 
a narrativa. Sua preocupação maior era criar tipos ideais que 
caracterizassem a sociedade brasileira. Fortemente 
influenciado por Weber, sua obra se aproxima mais da 
Sociologia da época, apesar dele não ter formação em 
Sociologia. 
Com uma visão bastante apurada da formação colonial 
brasileira, Sérgio Buarque publica a obra Raízes do Brasil em 
1936. Nela, identifica em nossa trajetória cultural os 
fundamentos de uma ordem patrimonialista que dificulta o 
desenvolvimento civil e democrático do Brasil. As raízes 
coloniais brasileiras são, para o historiador e sociólogo, 
contrárias à constituição de um espaço público em que 
predominem as regras racionais e a aceitação da lei como 
medida de justiça e equidade. Há no Brasil, por conta de um 
processo histórico em que os valores privados prevalecem 
sobre os públicos, uma dificuldade em se criar regras 
impessoais, fundadas no mercado e de se constituir um 
espaço público regido por uma lógica racional. Para Sérgio 
Buarque, essa raiz patrimonialista precisa ser quebrada para 
que haja um desenvolvimento democrático, para que o país se 
modernize. 
A formação colonial brasileira foi feita por um colonizador que 
não desejava constituir uma sociedade. O tipo ideal de 
colonizador que predominava era o do aventureiro, um tipo 
movido pelas paixões, avesso a uma noção de riqueza 
constituída a partir do trabalho, alguém que se apropria dos 
recursos para garantir sua própria sobrevivência. O modelo do 
aventureiro se opõe, portanto, ao tipo ideal do trabalhador, que 
procura se estabilizar e planeja objetivos longínquos. Sérgio 
Buarque identifica a cultura ibérica ao favorecimento da esfera 
privada. As raízes aventureiras de nossa colonização 
favorecem a lógica privatista que predomina em nossa 
sociedade. 
A ideia da não-racionalidade do brasileiro destaca-se por meio 
da figura do homem cordial. O homem cordial é o tipo ideal 
que personifica a tese de Sérgio Buarque, pois marca as 
relações de hierarquia e troca de favores presentes no espaço 
público. O homem cordial cultua valores como hospitalidade, 
generosidade, entretanto, é antagônico a qualquer 
manifestação de autoridade social que seja coercitiva à sua 
pessoa. Sua lógica é personalista. Apesar de não tolerar 
coerção social, reconhece o êxito de conviver entre as 
hierarquias, usando as regras a seu proveito. 
Essa lógica de socialização que predomina no homem cordial 
é oriunda de uma cultura que nasce na esfera privada, no seio 
da família patriarcal, e que também se funda na não-
racionalidade do colonizador português, em sua atitude de 
aventureiro. Segundo Sérgio Buarque, a família foi sem dúvida 
a instituição que mais se destacou em nossa sociedade. As 
relações criadas na esfera doméstica sempre ofereceram o 
modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. 
A dificuldade de adaptação dos indivíduos no mecanismo 
social se deve especialmente ao triunfo de virtudes familiares, 
de ordem privatista. 
Sérgio Buarque evoca, em sua obra, um comportamento 
racional moderno, está preocupado com a modernização 
política do país. Segundo ele, onde predomina o Estado deve 
ser abolida a ordem familiar, deve haver um triunfo da lei em 
detrimento do que é doméstico, o indivíduo deve tornar-se 
cidadão. Entretanto, no Brasil, como vimos, o Estado 
republicano convive com valores privatistas próprios de uma 
ordem familiar. Esses valores são um obstáculo à democracia, 
não permitem que o indivíduo deixe de ser uma expressão da 
coletividade familiar e torne-se um cidadão. A cordialidade 
brasileira é fruto de uma lógica privada, sustentada em 
hierarquias. A elitebrasileira carrega o coletivo-familiar, 
carrega a lógica do privilégio, carrega o autoritarismo. Sérgio 
Buarque vê a sociedade brasileira como uma sociedade 
autoritária que, por ser patrimonialista e atribuir importância 
 
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fundamental ao prestígio, não consegue cultuar valores 
democráticos. 
Até hoje podemos identificar a sociedade brasileira com uma 
sociedade que passou por um processo de modernização, mas 
que permanece conservadora, com dificuldade de criar uma 
sociabilidade pública. Implantar a sociedade civil não significa 
implantar civilidade e cidadania, uma democracia requer uma 
sociedade democrática e ações políticas mediadas pelas leis 
e pelos costumes republicanos. 
 
Exercícios: 
01. (ENEM 2004) 
A questão étnica no Brasil tem provocado diferentes atitudes: 
 
I. Instituiu-se o “Dia Nacional da Consciência Negra” em 20 de 
novembro, ao invés da tradicional celebração do 13 de maio. 
Essa nova data é o aniversário da morte de Zumbi, que hoje 
simboliza a crítica à segregação e à exclusão social. 
II. Um turista estrangeiro que veio ao Brasil, no carnaval, 
afirmou que nunca viu tanta convivência harmoniosa entre as 
diversas etnias. 
 
Também sobre essa questão, estudiosos fazem diferentes 
reflexões: 
 
“Entre nós [brasileiros], (…) a separação imposta pelo sistema 
de produção foi a mais fluida possível. Permitiu constante 
mobilidade de classe para classe e até de uma raça para outra. 
Esse amor, acima de preconceitos de raça e de convenções 
de classe, do branco pela cabocla, pela cunhã, pela índia (…) 
agiu poderosamente na formação do Brasil, adoçando-o.” 
 
(Gilberto Freyre. O mundo que o português criou.) 
 
“[Porém] o fato é que ainda hoje a miscigenação não faz parte 
de um processo de integração das “raças” em condições de 
igualdade social. O resultado foi que (…) ainda são pouco 
numerosos os segmentos da “população de cor” que 
conseguiram se integrar, efetivamente, na sociedade 
competitiva.” 
 
(Florestan Fernandes. O negro no mundo dos brancos.) 
 
Considerando as atitudes expostas acima e os pontos de vista 
dos estudiosos, é correto aproximar 
a) a posição de Gilberto Freyre e a de Florestan Fernandes 
igualmente às duas atitudes. 
b) a posição de Gilberto Freyre à atitude I e a de Florestan 
Fernandes à atitude II. 
c) a posição de Florestan Fernandes à atitude I e a de Gilberto 
Freyre à atitude II. 
d) somente a posição de Gilberto Freyre a ambas as atitudes. 
e) somente a posição de Florestan Fernandes a ambas as 
atitudes. 
 
02. (ENEM 2009) 
 “Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na 
estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, 
híbrida de índio – e mais tarde de negro – na composição. 
Sociedade que se desenvolveria defendida menos pela 
consciência de raça, do que pelo exclusivismo religioso 
desdobrado em sistema de profilaxia social e política. Menos 
pela ação oficial do que pelo braço e pela espada do particular. 
Mas tudo isso subordinado ao espírito político e de realismo 
econômico e jurídico que aqui, como em Portugal, foi desde o 
primeiro século elemento decisivo de formação nacional; 
sendo que entre nós através das grandes famílias proprietárias 
e autônomas; senhores de engenho com altar e capelão dentro 
de casa e índios de arco e flecha ou negros armados de 
arcabuzes às suas ordens”. 
 
De acordo com a abordagem de Gilberto Freyre sobre a 
formação da sociedade brasileira, é correto afirmar que 
 
a) a colonização na América tropical era obra, sobretudo, da 
iniciativa particular. 
b) o caráter da colonização portuguesa no Brasil era 
exclusivamente mercantil. 
c) a constituição da população brasileira esteve isenta de 
mestiçagem racial e cultural. 
d) a Metrópole ditava as regras e governava as terras 
brasileiras com punhos de ferro. 
e) os engenhos constituíam um sistema econômico e político, 
mas sem implicações sociais. 
 
03. (UEL) “A falta de coesão em nossa vida social não 
representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso que 
erram profundamente aqueles que imaginam na volta à 
tradição, a certa tradição, a única defesa possível contra nossa 
desordem. Os mandamentos e as ordenações que elaboraram 
esses eruditos são, em verdade, criações engenhosas de 
espírito, destacadas do mundo e contrárias a ele. Nossa 
anarquia, nossa incapacidade de organização sólida não 
representam, a seu ver, mais do que uma ausência da única 
ordem que lhes parece necessária e eficaz. Se a 
considerarmos bem, a hierarquia que exaltam é que precisa de 
tal anarquia para se justificar e ganhar prestígio”. 
 
(HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1995. p. 33). 
 
Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de 
Holanda são intelectuais da chamada “Geração de 30”, 
primeiro momento da sociologia no Brasil como atividade 
autônoma, voltada para o conhecimento sistemático e 
metódico da sociedade. Sobre as preocupações 
características dessa geração, considere as afirmativas a 
seguir. 
 
I. Critica o processo de modernização e defende a 
preservação das raízes rurais como o caminho mais 
desejável para a ordem e o progresso da sociedade 
brasileira. 
II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente e a 
denúncia da visão hierárquica e autoritária das elites 
brasileiras. 
III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos 
bacharéis como instrumento de transformação social. 
IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de 
compreensão e explicação da sociedade brasileira. 
 
 
Estão corretas apenas as afirmativas: 
 
a) I e III. 
b) I e IV. 
c) II e IV. 
d) I, II e III. 
e) II, III e IV. 
 
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04. (Uel 2011) Leia o texto a seguir. 
 
“Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático 
jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente 
esses princípios até onde coincidiram com a negação pura e 
simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso 
instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com 
familiaridade os governantes.” 
 
 
(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1995. p. 160.) 
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de Sérgio 
Buarque de Holanda sobre a tradição política brasileira. A esse 
respeito, considere as afirmativas a seguir. 
I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservando 
elementos patrimonialistas e paternalistas que dificultam 
a consolidação democrática. 
II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a 
recusa das relações hierárquicas, as quais são 
incompatíveis com regimes democráticos. 
III. As relações pessoais entre governantes e governados 
inviabilizaram a instauração do fenômeno democrático no 
país com a mesma solidez verificada nas nações que 
adotaram o liberalismo clássico. 
IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou que 
se enraizassem, no país, práticas sociais opostas aos 
princípios do clientelismo político. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 
 
05. (Uem 2011) 
 
 “O quadro familiar torna-se, assim, tão poderoso e exigente, 
que sua sombra persegue os indivíduos mesmo fora do recinto 
doméstico. A entidade privada precede sempre, neles, a 
entidade pública. A nostalgia dessa organização compacta, 
única e intransferível, onde prevalecem necessariamente as 
preferências fundadas em laços afetivos, não podia deixar de 
marcar nossa sociedade, nossa vida pública, todas as nossas 
atividades. Representando, como já se notou acima, o único 
setor onde o princípio de autoridade é indisputado, a família 
colonial fornecia a ideiamais normal de poder, da 
respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os homens. 
O resultado era predominarem, em toda a vida social, 
sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente 
particularista e antipolítica, uma invasão do público pelo 
privado, do Estado pela família.” 
 
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1992, p. 50. 
 
Considerando o texto acima e o tema instituições sociais, 
assinale o que for correto. 
 
01) O texto trata das relações que os indivíduos estabelecem 
com uma instituição social específica, o Estado. 
02) No processo de formação da sociedade brasileira, os 
interesses privados interferem na conduta pública dos 
indivíduos. 
04) No Brasil, a comunidade doméstica promoveu um 
equilíbrio entre os interesses coletivos e privados, revelando 
sua ação em defesa do que é público. 
08) O autor define que a família colonial é uma organização 
compacta, única e intransferível, que exerceu profunda 
influência na formação social e cultural brasileira. 
16) O Estado brasileiro manteve-se livre dos particularismos, 
das visões antipolíticas e dos interesses privados. 
 
06. (Unicentro 2011) 
 
No Brasil, o pensamento sociológico se desenvolve a partir da 
década 30, do século passado, com a fundação da 
Universidade de São Paulo e o crescimento da produção 
científica. Sobre o desenvolvimento dessa ciência no Brasil, no 
século XX, é correto afirmar: 
 
a) Os sociólogos desse período buscavam descrever o país 
por meio de estudos naturalistas. 
b) Os grandes nomes desse período foram Euclides da Cunha, 
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. 
c) As duas preocupações dos sociólogos eram a aculturação 
indígena e a modernização do sistema político brasileiro. 
d) A orientação das análises sociológicas estava voltada para 
as discussões mundiais ditadas por países, como França e 
Inglaterra. 
e) O interesse dos intelectuais desse período estava voltado 
para o conhecimento do Brasil real, do povo, em oposição às 
análises etnocêntricas anteriores. 
 
 
7.(UEL). Na primeira metade do século XX, o desenvolvimento 
social brasileiro foi marcado por intensos debates a respeito do 
processo de modernização do País. De acordo com esses 
debates: 
 
 
I. O País era apresentado, por algumas correntes de 
pensamento, como sendo de vocação agrícola. 
 
II. O desenvolvimento social e econômico do País passaria, 
necessariamente, pela modernização do campo. 
 
III. O atraso brasileiro decorria de sua origem feudal, aqui 
reproduzida mediante a relação entre senhor e escravo. 
 
IV. A expansão da economia capitalista no campo seria 
fundamental para eliminar os focos de pobreza e os 
movimentos sociais de caráter agrário. 
 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
 
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 
 
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 
 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
 
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 
 
 
Gabarito: 
1. C 2. A 3. C 4. B 
5. 01+02+08=11 6. E 7. D 
 
 
 
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SEMANA 3: Empirismo Inglês e Criticismo de Kant 
 
1.Empirismo Inglês 
 
 
Corrente filosófica que parte do pressuposto de que o 
conhecimento humano tem origem nas experiências 
sensoriais. 
Os principais pensadores da tradição empirista são: 
Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke e David Hume. 
Em 1660 é fundada, em Londres, a Royal Society of London 
for the Improvement of Natural Knowledge, instituição que 
representa a tradição empirista inglesa e que tem como 
principal objetivo firmar um método seguro que possa 
contribuir com o avanço científico. 
 
Francis Bacon (1561 - 1626) 
 
Contemporâneo a Descartes, é considerado um dos 
primeiros pensadores modernos. Seu pensamento atrela o 
progresso social ao desenvolvimento técnico-científico, por 
meio do lema “saber é poder”. Por isso, para muitos Bacon é 
considerado já um precursor das ideias iluministas. 
As duas principais contribuições de Bacon para a 
história do pensamento filosófico são seu método indutivo e a 
Teoria dos Ídolos. 
 
Ídolos 
 
Em sua obra Novum Organum, Bacon preocupou-se 
inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que se 
revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou 
pelos homens que produzem conhecimento. 
 
Esses ídolos foram classificados em quatro grupos: 
 
1) Idola Tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das 
deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela 
facilidade com que generalizamos com base nos casos 
favoráveis ou em observações imediatas. O homem, que se 
entende como o padrão das coisas, faz com que todas as 
percepções dos sentidos e da mente sejam tomadas como 
verdade, limitando as possibilidades de conhecimento do 
mundo. Tais ídolos são, portanto, inerentes à natureza 
humana, à própria tribo ou condição humana. 
2) Idola Specus (ídolos da caverna). Resultam da educação e 
da pressão dos costumes, que conformam a humanidade a 
visões de mundo preestabelecidas. Há uma alusão à alegoria 
da caverna platônica, pois Bacon faz referência às correntes 
que nos fixam ao mundo sensível: nossas crenças, nossos 
valores e nossas opiniões. 
3) Idola Fori (ídolos do foro - vida pública). Estes estão 
vinculados à linguagem e decorrem das dificuldade de 
comunicação e do próprio mau uso da língua; 
4) Idola Theatri (ídolos do teatro - autoridade). Decorrem da 
irrestrita subordinação à autoridade de pensamentos e 
doutrinas, tal como a física aristotélica, que do ponto de vista 
empírico carecia de demonstração, mas que era considerada 
verdadeira por pressuposto de autoridade. 
Assim, é preciso propor uma nova forma, um novo modelo de 
ciência que não caia na mesma armadilha dos ídolos. O 
modelo para Bacon é o Método Indutivo, caracterizado pela 
observação dos fenômenos, por meio de experiências, para 
que se possa chegar a uma regularidade desses mesmos 
fenômenos. Com a percepção dessa regularidade, o cientista 
pode fazer relação entre elas até chegar a uma generalização 
ou a uma lei. 
Usando o método indutivo, a ciência estabelecerá 
conhecimento seguro e conquistará avanços na parte técnica. 
Tal conhecimento deve exercer controle sobre a natureza e é 
essa justamente a ideia expressa em sua famosa frase: “saber 
é poder”. 
 
John Locke (1632 – 1704) 
 
Publica a obra Ensaio sobre o Entendimento Humano, em 
1690. Acredita que as representações do real são sempre 
derivadas das percepções sensíveis. O conhecimento, 
portanto, não é inato, mas resulta do modo como elaboramos 
as informações provenientes da experiência. Defende a ideia 
de que a mente humana é uma página em branco (tábula rasa) 
que se constitui a partir das experiências. 
 
David Hume (1711 – 1776) 
 
O escocês David Hume levou o empirismo a níveis radicais. 
Nas suas principais obras Tratado sobre a natureza humana 
(1739) e Investigação sobre o entendimento humano (1748), 
encontramos sua tese principal, semelhante à dos outros 
empiristas, de que todas as ideias se originam da experiência 
sensível. Contudo, o que é importante na obra de Hume é notar 
como ele leva esse princípio a consequências que estão além 
dos seus contemporâneos, chegando a beirar o ceticismo. 
Além disso, cunha um novo conceito, o hábito, que vai exercer 
forte influência sobre filósofos posteriores, como Immanuel 
Kant. 
Hume parte das premissas empiristas, estabelecendo uma 
distinção entre impressões (dados fornecidos pelos sentidos) 
e ideias (representações da memória ou da imaginação). 
Acredita que percepção forma todas as ideias. Quanto mais 
próximas cronologicamente da experiência, maior força e 
nitidez possuem tais ideias. Por isso, para ele, os fenômenos 
da percepção são sempre particulares. Os conceitos são 
formados a partir de generalizações de casos particulares que 
captamos por meio de nossas experiências.Não existe, por 
exemplo, a ideia geral de árvore, mas sim cada árvore que 
vemos. A nossa mente opera, assim, de modo a extrair os 
aspectos gerais dos fenômenos e criar relações entre eles, tais 
como as noções de causalidade. Tendemos a, ao observar 
algo imediato, supor que isso seja o efeito de algo ou causa de 
um próximo efeito, porém, para Hume, estamos restritos às 
experiências momentâneas e não temos o poder de alcançar 
tamanhas suposições. 
A causalidade, ou seja, a relação entre diferentes fenômenos, 
é, para Huem, um hábito criado pelo pensamento. O que para 
muitos outros filósofos seria razão, para Hume é apenas o 
hábito ou costume de associar ideias que têm origem na 
experiência. Desse modo, Hume entende que somos dotados 
de um mecanismo psicológico que nos leva a encontrar 
semelhanças ou algum padrão de repetição nos fenômenos e 
é por meio desse processo, o hábito, que tiramos as nossas 
conclusões acerca da realidade. Porém, tais conclusões não 
geram um conhecimento seguro, uma vez que dependem de 
fatores subjetivos. “Todo o poder criador da mente reduz-se 
à simples faculdade de combinar, transpor, aumentar ou 
diminuir os materiais fornecidos pelos sentidos e pela 
experiência”, afirma Hume. 
Por que associamos ideias? 
 
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Por repetição ou semelhança. Se vivemos em uma região em 
que todos coelhos são brancos, tendemos a associar a espécie 
animal a esta cor. Se comemos um alimento todos os dias e, 
em uma viagem, observamos algo semelhante, tendemos a 
classificar aquilo como um alimento mesmo sem termos 
experimentado. Essas associações, contudo, atingem 
somente probabilidades, jamais certezas. Podemos incidir em 
erros seguindo semelhantes especulações. Afinal, estamos 
circunscritos em nosso próprio campo de experimentação, que 
é limitado, mas tendemos a tirar conclusões gerais, que 
buscam explicar a realidade como um todo. Hume, como 
vimos, duvida da possibilidade de alcançarmos um 
conhecimento verdadeiro (essencial e completo) acerca da 
realidade. Por isso, podemos dizer que ele radicaliza as bases 
do Empirismo e alcança o que muitos definem como 
CETICISMO RELATIVO, uma vez que não duvida da nossa 
capacidade de percepção imediata da realidade, mas põe em 
xeque as conclusões que tiramos por meio do hábito. Para o 
filósofo, as verdades só podem ser constatadas em termos 
particulares, jamais de modo generalizado. 
Em uma das partes de sua obra Ensaio acerca do 
entendimento humano, Hume procura desconstruir o 
argumento cartesiano da prova da existência de Deus, 
mostrando que Deus, como ideia, é fruto de conclusões que 
obtemos projetando elementos de nossas experiências diretas 
para preencher as lacunas da realidade que não 
compreendemos. 
 
1.O Criticismo de Kant 
 
Immanuel Kant (1724 – 1804) 
 
Filósofo alemão, um dos principais expoentes do século XVIII 
e de toda a filosofia moderna. Nasceu, cresceu e trabalhou por 
toda a vida na cosmopolita cidade portuária de Konigsberg 
(atual Kaliningrado), então parte da Prússia. Embora nunca 
tenha deixado a província natal, tornou-se um filósofo 
internacionalmente conhecido ainda em vida. Estudou na 
Universidade de Konigsberg e lecionou na mesma 
universidade ao longo de toda sua vida. 
Após uma fase em que defende preceitos semelhantes aos 
demais pensadores iluministas, como a valorização da 
racionalidade humana e seu poder de romper com a ignorância 
e com a alienação, Kant adentra em sua fase célebre, 
conhecida como criticismo ou fase crítica. Tal fase 
corresponde à maturidade do pensamento do autor, após seus 
cinquenta anos de vida. Influenciado por David Hume, 
desperta de seu “sono dogmático” e questiona a capacidade 
da racionalidade humana compreender a realidade tal como é 
em si mesma. 
Em todo a sua obra, Kant dialoga com o pressuposto iluminista 
de que a razão autônoma é capaz de produzir conhecimento. 
Ele parte da tese de que “a razão tende a libertar a humanidade 
de seu estado de menoridade”, porém, acredita que posicionar 
a filosofia no “projeto iluminista” implica em se analisar 
criticamente a razão humana, estabelecendo os limites do que 
esta pode conhecer. Essa busca pelos limites da racionalidade 
humana é o que decide aprofundar por meio de suas obras 
críticas: Critica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e 
Crítica das Faculdades do Juízo. Tais obras solidificam o 
Criticismo, vertente filosófica desenvolvida por Kant. 
Crítica à Razão Pura 
 
Promove uma análise crítica da razão humana e dos limites do 
conhecimento, 
O que a razão pode conhecer do real? 
Como o conhecimento se processa? 
 
Os juízos 
 
Dialogando com as vertentes do Racionalismo e do Empirismo, 
Kant busca analisar o que a razão consegue conhecer de 
modo puro, ou seja, a razão por ela mesma. Ao fazer esta 
análise, constata que a razão não traz, de modo inato, 
nenhuma informação acerca da realidade física ou metafísica, 
mas possui a capacidade de produzir um conhecimento lógico 
e universal, que Kant classifica como juízo analítico. 
 
Juízo analítico: é fruto de uma operação racional, de 
deduções lógicas que a racionalidade alcança por ela mesma. 
Por isso, trata-se de um conhecimento independente da 
experiência (a priori). É um instrumento de análise do próprio 
pensamento, mas não conclui nada acerca da realidade 
externa. Para Kant, o juízo analítico é aquele em que o 
predicado está contido no conceito do sujeito. Como exemplo, 
temos a seguinte afirmação: “o quadrado tem quatro lados”. 
 
Juízo sintético: representa o conhecimento obtido por meio 
da experiência (a posteriori). Nesta forma de conhecimento o 
predicado não está contido no sujeito, por isso Kant acredita 
que a experiência acrescenta conteúdo à forma lógica da 
racionalidade. Quando digo que “aquela caneta é azul”, é 
necessária uma informação sensível posterior para que o 
conhecimento possa ser validado. Porém, o juízo sintético se 
limita ao tempo e espaço em que a experiência está 
circunscrita, portanto, não constitui um juízo necessário e 
universal. 
 
Juízo sintético a priori: para Kant, a ciência deve se basear 
numa terceira forma de juízo, capaz de sintetizar os outros 
dois. Para isso, a mente do cientista deve ser capaz de 
produzir juízos que dependam da experiência, mas que 
possam ser universais e necessários, ou seja, que 
transcendam os limites daquele fenômeno em particular. 
 
Síntese entre racionalismo e empirismo 
 
O conhecimento, para Kant, está relacionado, portanto, à 
nossa capacidade de produzir juízos sintéticos a priori. Isso 
acontece porque os dados fornecidos pela experiência são 
organizados dentro dos nossos moldes racionais. A razão é 
uma estrutura vazia, anterior à experiência e independente 
desta (a priori), porém os conteúdos que a razão conhece e 
 
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nos quais ela pensa dependem da experiência (a posteriori). A 
experiência não é a causa das ideias, mas é a ocasião para 
que a razão, recebendo a matéria ou o conteúdo, formule as 
ideias. 
Experiência: fornece os conteúdos, a matéria do 
conhecimento. 
 
RAZÃO 
 
Forma universal e necessária do conhecimento. Recebe as 
informações do meio e as organiza de acordo com suas formas 
estruturais: 
 
 
sensibilidade: noções temporais e espaciais; 
entendimento: organiza os conteúdos enviados pela 
sensibilidade em categorias (qualidade; quantidade; 
causalidade; finalidade; verdade; falsidade; universalidade e 
particularidade). 
“O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada podem 
pensar. Só pela sua reunião se obtém conhecimento” 
 
Revolução Copernicana de Kant 
 
O “eu” é condicionante no processo de conhecimento. O objeto 
apenas se encaixa nos moldes da percepção humana. Não é 
o objeto que determina o sujeito, mas o sujeito que determina 
o objeto. O objeto só se torna cognoscível à medida que há um 
sujeito que pode conhecê-lo e isso depende da estruturade 
nossa razão (formas a priori). Por isso, o mundo não é senão 
aquilo que pode ser conhecido pelo sujeito, é sua 
representação. 
“A razão só entende aquilo que produz segundo seus próprios 
planos” 
 
Impossibilidade da Metafísica 
 
A razão possui essas estruturas como meio de conhecimento. 
Por serem universais e necessárias, o conhecimento é racional 
e verdadeiro para os seres humanos. Isso implica que 
podemos conhecer a realidade dentro dos limites do 
cognoscível. O que não se pode supor é que com essas 
estruturas possa-se conhecer a realidade tal como esta é em 
si mesma. O erro dos inatistas e empiristas foi supor que a 
nossa razão alcança a realidade em si , o númeno, quando na 
verdade só podemos captar a realidade como fenômeno, ou 
seja, a realidade organizada pela razão, que submete os 
conteúdos da experiência às formas da sensibilidade e do 
entendimento. 
 
3. Texto complementar 
 
KANT: Resposta à Pergunta: Que é esclarecimento? 
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da 
qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de 
fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro 
indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se 
a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas 
na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a 
direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso 
de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A 
preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão 
grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito 
os libertou de uma direção estranha, continuem, no entanto de 
bom grado menores durante toda a vida. São também as 
causas que explicam por que é tão fácil que os outros se 
constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se 
tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um 
diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que 
por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não 
preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de 
pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se 
encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A 
imensa maioria da humanidade (inclusive todo o belo sexo) 
considera a passagem à maioridade difícil e além do mais 
perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu 
cargo a supervisão dela. Depois de terem primeiramente 
embrutecido seu gado doméstico e preservado 
cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim de não 
ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, 
no qual as encerraram, mostram-lhes, em seguida, o perigo 
que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo 
na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a 
andar finalmente, depois de algumas quedas. Basta um 
exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-
lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro. É difícil, 
portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da 
menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. 
Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente 
incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o 
deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e 
fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou, 
antes, do abuso de seus dons naturais, são os grilhões de uma 
perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz 
de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, 
porque não está habituado a este movimento livre. Por isso são 
muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformação 
do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender 
então uma marcha segura. Que, porém, um público se 
esclareça a si mesmo é perfeitamente possível; mais que isso, 
se lhe for dada a liberdade, é quase inevitável. Pois, encontrar-
se-ão sempre alguns indivíduos capazes de pensamento 
próprio, até entre os tutores estabelecidos da grande massa, 
que, depois de terem sacudido de si mesmos o jugo da 
menoridade, espalharão em redor de si o espírito de uma 
avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada 
homem em pensar por si mesmo. O interessante nesse caso é 
que o público, que anteriormente foi conduzido por eles a este 
jugo, obriga-os daí em diante a permanecer sob ele, quando é 
levado a se rebelar por alguns de seus tutores que, eles 
mesmos, são incapazes de qualquer esclarecimento. Vê-se 
assim como é prejudicial plantar preconceitos, porque 
terminam por se vingar daqueles que foram seus autores ou 
predecessores destes. Por isso, um público só muito 
lentamente pode chegar ao esclarecimento. Uma revolução 
poderá talvez realizar a queda do despotismo pessoal ou da 
opressão ávida de lucros ou de domínios, porém nunca 
produzirá a verdadeira reforma do modo de pensar. Apenas 
novos preconceitos, assim como os velhos, servirão como 
cintas para conduzir a grande massa destituída de 
pensamento. Para este esclarecimento, porém, nada mais se 
exige senão LIBERDADE. E a mais inofensiva entre tudo 
aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de fazer um 
uso público de sua razão em todas as questões. Ouço, agora, 
porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial 
diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: 
não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama: não 
raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: 
 
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raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, 
mas obedecei!). Eis aqui por toda a parte a limitação da 
liberdade. Que limitação, porém, impede o esclarecimento? 
Qual não o impede, e até mesmo favorece? Respondo: o uso 
público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode 
realizar o esclarecimento entre os homens. 
 
 
Exercícios 
 
1. (ENEM) 
 
Texto I 
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, 
e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos 
enganou uma vez. 
 
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 
1979. 
 
Texto II 
 
Sempre que alimentarmos alguma suspeita deque uma ideia 
esteja sendo empregada sem nenhum significado, 
precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta 
suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer 
impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa 
suspeita. 
 
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 
2004. 
 
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza 
do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite 
assumir que Descartes e Hume 
 
 
a) defendem os sentidos como critério originário para 
considerar um conhecimento legítimo. 
 
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de 
uma ideia na reflexão filosófica e crítica. 
 
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese 
do conhecimento. 
 
d) concordam que conhecimento humano é impossível em 
relação às ideias e aos sentidos. 
 
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no 
processo de obtenção do conhecimento. 
 
2. (Uel 2007) Leia o texto a seguir: 
 
“Todos os raciocínios referentes a questões de fato parecem 
fundar-se na relação de causa e efeito. É somente por meio 
dessa relação que podemos ir além da evidência de nossa 
memória e nossos sentidos. [...] Arrisco-me a afirmar, a título 
de uma proposta geral que não admite exceções, que o 
conhecimento dessa relação não é, em nenhum caso, 
alcançado por meio de raciocínios a priori, mas provém 
inteiramente da experiência, ao descobrirmos que certos 
objetos particulares acham-se constantemente conjugados 
uns aos outros. 
 
”Fonte: HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. Tradução de José 
Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Editora UNESP, 1999. p. 44-45. 
Com base no texto e em seus conhecimentos sobre Hume, é 
correto afirmar que: 
 
a) Ao observarmos dois objetos conjugados entre si, podemos 
observar também a relação de causa e efeito que os une. 
b) É a razão que nos faz descobrir as causas e efeitosdos 
acontecimentos. 
c) Quando raciocinamos a priori e consideramos um objeto ou 
causa apenas, tal como aparece à mente, independente de 
toda observação, ele facilmente poderá sugerir-nos a ideia de 
algum objeto distinto, como seu efeito, e também exibir-nos a 
conexão inseparável e inviolável entre eles. 
d) Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades que 
aparecem aos sentidos, nem as causas que o produziram, nem 
os efeitos que dele provirão; tampouco nossa razão é capaz 
de extrair, sem o auxílio da experiência, qualquer conclusão 
referente à existência efetiva de coisas ou questões de fato. 
e) Todas as leis da natureza e todas as operações dos corpos 
são conhecidas pela razão, com o auxílio da experiência. 
 
 
3. (UNESP) Suponhamos, pois, que a mente é um papel em 
branco, desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma 
ideia; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto 
estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do homem pintou nela 
com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos 
os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, 
numa palavra: da experiência. Todo o nosso conhecimento 
está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio 
conhecimento. 
 
(John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano [publicado 
originalmente em 1690], 1999. Adaptado.) 
 
Qual é a interpretação de Locke sobre as ideias inatas? 
Explique quais foram as implicações do pensamento desse 
filósofo no que se refere à metafísica. 
 
4. (UNESP) “O Iluminismo é a saída do homem de um estado 
de menoridade que deve ser imputado a ele próprio. 
Menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio intelecto 
sem a guia de outro. Imputável a si próprios é esta menoridade 
se a causa dela não depende de um defeito da inteligência, 
mas da falta de decisão e da coragem de servir-se do próprio 
intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a 
coragem de servires de tua própria inteligência!” 
 
(Immanuel Kant, 1784.) 
 
Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais 
sintéticas e adequadas definições acerca do Iluminismo. 
Justifique essa importância comentando o significado do termo 
“menoridade”, bem como os fatores sociais que produzem 
essa condição, no campo da religião e da política. 
 
5. (Uem 2009) “(...) a própria experiência é um modo de 
conhecimento que requer entendimento, cuja regra tenho que 
pressupor a priori em mim ainda antes de me serem dados 
objetos e que é expressa em conceitos a priori, pelos quais, 
portanto todos os objetos da experiência têm necessariamente 
que se regular e com eles concordar.” 
 
(KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1983, 
p.13). 
Com base na filosofia de Kant, assinale o que for correto. 
 
01) O método de Kant é chamado criticismo, pois consiste na 
crítica ou na análise reflexiva da razão, a qual, antes de partir 
ao conhecimento das coisas, deve conhecer a si mesma, 
fixando as condições de possibilidade do conhecimento, aquilo 
que pode legitimamente ser conhecido e o que não. 
 
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02) Para Kant, uma vez que os limites do conhecimento 
científico são os limites da experiência, as coisas que não são 
dadas à intuição sensível (a coisa em si, as entidades 
metafísicas como Deus, alma e liberdade) não podem ser 
conhecidas. 
04) Kant mantém-se na posição dogmática herdada de Hume. 
Para os dois filósofos, o conhecimento é um fato que não põe 
problema. O resultado da crítica da razão é a constatação do 
poder ilimitado da razão para conhecer. 
08) O sentido da revolução copernicana operada por Kant na 
filosofia é que são os objetos que se regulam pelo nosso 
conhecimento, não o inverso. Ou seja, o conhecimento não 
reflete o objeto exterior, mas o sujeito cognoscente constrói o 
objeto do seu saber. 
16) Com a sua explicação da natureza do conhecimento, Kant 
supera a dicotomia racionalismo-empirismo. O conhecimento, 
que tem por objeto o fenômeno, é o resultado da síntese entre 
os dados da experiência e as intuições e os conceitos a priori 
da razão. 
 
 
6. (Ufu 2004) Até agora se supõe que todo nosso 
conhecimento tinha que se regular pelos objetos: todas as 
tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori 
sobre os mesmos, através do que nosso conhecimento seria 
ampliado, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso, 
tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas 
da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo 
nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor com a 
requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos 
mesmos que deve estabelecer algo sobre os objetos antes de 
nos serem dados. O mesmo aconteceu com os pensamentos 
de Copérnico que, depois das coisas não quererem andar 
muito bem com a explicação dos movimentos celestes 
admitindo—se que todo exército de astros girava em tomo do 
espectador, tentou ver se não seria mais bem-sucedido se 
deixasse o espectador mover-se e, em contrapartida, os astros 
em repouso.” 
 
KANT, I. Crítica da razão pura São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 14. (Os 
Pensadores) 
Considerando a leitura do trecho acima, podemos dizer que a 
revolução copernicana de Kant é 
 
a) uma revolução filosófica e científica segundo a qual o 
espectador não pode permanecer fixo em sua posição, 
aprendendo apenas os fenômenos, mas deve considerar que 
ele mesmo encontra-se em movimento para poder perceber as 
coisas em si mesmas. 
b) uma revolução astronômica que pretendeu mudar o curso 
da Filosofia Moderna, propondo uma reavaliação da física 
newtoniana. 
c) uma revolução filosófica que estabeleceu que o 
conhecimento da coisa em si só pode ser atingido caso haja 
um cuidadoso estudo dos fenômenos. 
d) uma revolução filosófica que afirmou a distinção entre 
fenômeno e coisa em si, qualificando esta última como 
incognoscível. 
 
 
7. (Uem 2009) A Filosofia Moderna compreende os séculos 
XVII e XVIII, caracterizando-se por um acentuado racionalismo 
que se opõe ao pessimismo teórico do ceticismo, o qual duvida 
da capacidade da razão humana poder alcançar um 
conhecimento certo fundamentado em uma verdade universal. 
Assinale o que for correto. 
 
01) René Descartes, no Discurso do Método, instaura a dúvida 
metódica; deve ser, portanto, considerado um adepto do 
ceticismo. 
02) O dogmatismo opõe-se ao ceticismo, pois é uma doutrina 
segundo a qual é possível atingir a certeza de verdades 
inquestionáveis. 
04) Para o racionalismo, o ponto de partida do conhecimento 
é o sujeito como consciência de si reflexiva, isto é, como 
consciência que conhece sua capacidade de conhecer. 
08) Francis Bacon é um dos mais importantes céticos do 
século XVII, pois, para ele, o homem nunca poderia libertar-se 
dos ídolos que impedem sua razão de alcançar qualquer saber 
efetivo. 
16) O racionalismo acredita que a vida ética pode ser 
totalmente racional, visto que a razão humana é capaz de 
conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das 
emoções, podendo dominá-las e governá-las. 
 
8. (Ufsj 2012) Os termos “impressões” e “ideias”, para David 
Hume, são, respectivamente, por ele definidos como 
 
a) “nossas percepções mais fortes, tais como nossas 
sensações, afetos e sentimentos; percepções mais fracas ou 
cópias daquelas na memória e imaginação”. 
b) “aquilo que se imprime à memória e nos permite ativar a 
imaginação; lampejos inéditos sobre o objeto e sua natureza”. 
c) “o que fica impresso na memória independentemente da 
força: ação de criar a partir do dado sensorial”. 
d) “vaga noção do sensível; raciocínio com força de lei que 
legitima a natureza no âmbito da razão”. 
 
9.(Enem PPL 2018) Quando analisamos nossos pensamentos 
ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre 
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são 
cópias de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo as 
ideias que, à primeira vista, parecem mais afastadas

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