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Profª. Cristiane Literatura Página 1 de 5 Revisão UNESP 1. Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580) para responder às próximas três questões. Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prêmio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, passava, contentando-se com vê-la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos lhe fora assim negada a sua pastora, como se a não tivera merecida, começa de servir outros sete anos, dizendo: “Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida”. (Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.) De acordo com a história narrada pelo soneto, a. Labão engana Jacob, entregando-lhe a filha Lia, em vez de Raquel. b. Labão aceita ceder Lia a Jacob, se este lhe entregar Raquel. c. Labão obriga Jacob a trabalhar mais sete anos para obter o amor de Lia. d. Jacob descumpre o acordo feito com Labão, negando-lhe a filha Raquel. e. Jacob morre antes de completar os sete anos de trabalho, não obtendo o amor de Raquel. 2. Uma das principais figuras exploradas por Camões em sua poesia é a antítese. Neste soneto, tal figura ocorre no verso: a. “mas não servia ao pai, servia a ela,” b. “passava, contentando-se com vê-la;” c. “para tão longo amor tão curta a vida.” d. “porém o pai, usando de cautela,” e. “lhe fora assi negada a sua pastora,” 3. Do ponto de vista formal, o tipo de verso e o esquema de rimas que caracterizam este soneto camoniano são, respectivamente, a. dodecassílabo e ABAB ABAB ABC ABC. b. decassílabo e ABAB ABAB CDC DCD. c. heptassílabo e ABBA ABBA CDE CDE. d. decassílabo e ABBA ABBA CDE CDE. e. dodecassílabo e ABBA ABBA CDE CDE. 4. Assinale a alternativa na qual se pode detectar nos versos do poeta português Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) uma ruptura com a convenção arcádica do locus amoenus (“lugar aprazível”). a. “Olha, Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre flores?” b. “O ledo passarinho que gorjeia Da alma exprimindo a cândida ternura, O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia:” c. “Se é doce no recente, ameno Estio Ver tocar-se a manhã de etéreas flores, E, lambendo as areias e os verdores, Mole e queixoso deslizar-se o rio;” d. “A loira Fílis na estação das flores, Comigo passeou por este prado Mil vezes; por sinal, trazia ao lado As Graças, os Prazeres e os Amores.” e. “Já sobre o coche de ébano estrelado, Deu meio giro a Noite escura e feia; Que profundo silêncio me rodeia Neste deserto bosque, à luz vedado!” 5. A conhecida pintura de Pedro Américo (1840-1905) remete a um fato histórico relacionado à seguinte escola literária brasileira: a. Barroco. b. Arcadismo. c. Naturalismo. d. Realismo. e. Romantismo. 6.(2016) O que primeiro chama a atenção do crítico na ficção deste escritor é a despreocupação com as modas dominantes e o aparente arcaísmo da técnica. Num momento em que Gustave Flaubert sistematizara a teoria do “romance que narra a si próprio”, apagando o narrador atrás da objetividade da narrativa; num momento em que Émile Zola preconizava o inventário maciço da realidade, observada nos menores detalhes, ele cultivou livremente o elíptico, o incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com bisbilhotice saborosa. A sua técnica consiste essencialmente em sugerir as coisas mais tremendas da maneira mais cândida (como os ironistas do século XVIII); ou em estabelecer um contraste entre a normalidade social dos fatos e a sua anormalidade essencial; ou em sugerir, sob aparência do contrário, que o ato excepcional é normal, e anormal seria o ato corriqueiro. Aí está o motivo da sua modernidade, apesar do seu arcaísmo de superfície. (Antonio Candido. Vários escritos, 2004. Adaptado.) O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor a. Machado de Assis. b. José de Alencar. c. Manuel Antônio de Almeida. d. Aluísio Azevedo. e. Euclides da Cunha. Profª. Cristiane Literatura Página 2 de 5 7. O Simbolismo é, antes de tudo, antipositivista, antinaturalista e anticientificista. Com esse movimento, nota- se o despontar de uma poesia nova, que ressuscitava o culto do vago em substituição ao culto da forma e do descritivo. (Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1994. Adaptado.) Considerando esta breve caracterização, assinale a alternativa em que se verifica o trecho de um poema simbolista. a. “É um velho paredão, todo gretado, Roto e negro, a que o tempo uma oferenda Deixou num cacto em flor ensanguentado E num pouco de musgo em cada fenda.” b. “Erguido em negro mármor luzidio, Portas fechadas, num mistério enorme, Numa terra de reis, mudo e sombrio, Sono de lendas um palácio dorme.” c. “Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado.” d. “Sobre um trono de mármore sombrio, Num templo escuro e ermo e abandonado, Triste como o silêncio e inda mais frio, Um ídolo de gesso está sentado.” e. “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras...” 8.Predomina neste movimento uma tônica mais cosmopolita, intimamente ligada às modas literárias da Europa, desejando pertencer ao mesmo passado cultural e seguir os mesmos modelos, o que permitiu incorporar os produtos intelectuais da colônia inculta ao universo das formas superiores de expressão. Ao lado disso, tal movimento continuou os esboços particularistas que vinham do passado local, dando importância relevante tanto ao índio e ao contato de culturas, quanto à descrição da natureza, mesmo que fosse em termos clássicos. (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.) Tal comentário refere-se ao seguinte movimento literário brasileiro: a) Romantismo. b) Classicismo. c) Naturalismo. d) Barroco. e) Arcadismo. 9.Leia um trecho do “Manifesto do Futurismo” publicado por Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) no ano de 1909. Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; a vibração noturna dos arsenais e dos estaleiros sob suas luas elétricas; as estações glutonas comedoras de serpentes que fumam; as usinas suspensas nas nuvens pelos barbantes de suas fumaças; os navios aventureiros farejando o horizonte; as locomotivas de grande peito, que escoucinham os trilhos, como enormes cavalos de aço freados por longos tubos, e o voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os estalos da bandeira e os aplausos da multidão entusiasta. (Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.) Em consonância com este preceito do Futurismo estão os seguintes versos, extraídos da produção poética de Fernando Pessoa (1888- 1935): a) Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem [dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver. b) Ontem à tarde um homem das cidades Falava à porta da estalagem. Falava comigo também. Falava da justiça e da luta para haver justiça E dos operários que sofrem, E do trabalhoconstante, e dos que têm fome, E dos ricos, que só têm costas para isso. E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos E sorriu com agrado, julgando que eu sentia O ódio que ele sentia, e a compaixão Que ele dizia que sentia. c) Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. d) Levando a bordo El-Rei dom Sebastião, E erguendo, como um nome, alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau, ao sol aziago Erma, e entre choros de ânsia e de pressago Mistério. Não voltou mais. A que ilha indescoberta Aportou? Voltará da sorte incerta Que teve? e) Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente, Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ó coisas todas modernas, Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima Do sistema imediato do Universo! Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! 10.Nesta obra, o autor optou por uma situação narrativa que se define pelo movimento de aproximação e distanciamento da substância sensível da realidade retratada, como forma de solidarizar-se com seus personagens e, ao mesmo tempo, sustentar uma posição crítica rigorosa ante a “desgraça irremediável que os açoita”. Relativiza, assim, a onisciência da terceira pessoa e reconstitui, pela via literária, o hiato entre seu saber de intelectual e a indigência dos retirantes – alteridade que buscou compreender pelo exercício artístico da palavra enxuta e medida. Com a cautela de quem não se permite explicitar significados ou avançar conclusões, o narrador condiciona a narração à expectativa dos personagens, através do uso intensivo do discurso indireto livre, que dá forma à sondagem interior pretendida e singulariza os destinos representados. (Wander Melo Miranda. “Texto introdutório”. In: Silviano Santiago (org). Intérpretes do Brasil, vol 2, 2000. Adaptado.) Profª. Cristiane Literatura Página 3 de 5 Tal comentário aplica-se à obra a) Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. b) Os sertões, de Euclides da Cunha. c) Vidas secas, de Graciliano Ramos. d) Capitães da Areia, de Jorge Amado. e) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Para responder às próximas três questões, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951. Escurece, e não me seduz tatear sequer uma lâmpada. Pois que aprouve ao dia findar, aceito a noite. E com ela aceito que brote uma ordem outra de seres e coisas não figuradas. Braços cruzados. Vazio de quanto amávamos, mais vasto é o céu. Povoações surgem do vácuo. Habito alguma? E nem destaco minha pele da confluente escuridão. Um fim unânime concentra-se e pousa no ar. Hesitando. E aquele agressivo espírito que o dia carreia consigo, já não oprime. Assim a paz, destroçada. Vai durar mil anos, ou extinguir-se na cor do galo? Esta rosa é definitiva, ainda que pobre. Imaginação, falsa demente, já te desprezo. E tu, palavra. No mundo, perene trânsito, calamo-nos. E sem alma, corpo, és suave. (Claro enigma, 2012.) 11. Constituem termos que reforçam o tom pessimista do poema: a) “noite”, “vazio” e “fim”. b) “dia”, “pele” e “cor”. c) “coisas”, “vácuo” e “imaginação”. d) “lâmpada”, “céu” e “escuridão”. e) “ordem”, “povoações” e “espírito”. 12. Personificação: recurso expressivo que consiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado ou abstrato. (Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa. www.infopedia.pt. Adaptado.) Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso: a) “Vazio de quanto amávamos,” (3a estrofe) b) “E nem destaco minha pele” (4a estrofe) c) “Esta rosa é definitiva,” (6a estrofe) d) “Pois que aprouve ao dia findar,” (1a estrofe) e) “No mundo, perene trânsito,” (7a estrofe) 13. O pronome “te”, empregado no segundo verso da última estrofe, refere-se a a) “imaginação”. b) “palavra”. c) “rosa”. d) “mundo”. e) “corpo”. GABARITO: 1.A 2.C 3.D 4.E 5.B 6.A 7.E 8.E 9.E 10.C 11.A 12.D 13. A Profª. Cristiane Literatura Página 4 de 5 Revisão UNICAMP – 1ª fase 1. “...Nas ruas e casas comerciais já se vê as faixas indicando os nomes dos futuros deputados. Alguns nomes já são conhecidos. São reincidentes que já foram preteridos nas urnas. Mas o povo não está interessado nas eleições, que é o cavalo de Troia que aparece de quatro em quatro anos.” (Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2014, p. 43.) O trecho anterior faz parte das considerações políticas que aparecem repetidamente em Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. Considerando o conjunto dessas observações, indique a alternativa que resume de modo adequado a posição da autora sobre a lógica política das eleições. a) Por meio das eleições, políticos de determinados partidos acabam se perpetuando no exercício do poder. b) Os políticos se aproximam do povo e, depois das eleições, se esquecem dos compromissos assumidos. c) Os políticos preteridos são aqueles que acabam vencendo as eleições, por força de sua persistência. d) Graças ao desinteresse do povo, os políticos se apropriam do Estado, contrariando a própria democracia. 2. (...) Eu tenho uma ideia. Eu não tenho a menor ideia. Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício. Memórias de Copacabana. Santa Clara às três da tarde. Autobiografia. Não, biografia. Mulher. Papai Noel e os marcianos. Billy the Kid versus Drácula. Drácula versus Billy the Kid. Muito sentimental. Agora pouco sentimental. Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos que o seu amor de ontem. Gertrude: estas são ideias bem comuns. Apresenta a jazz-band. Não, toca blues com ela. Esta é a minha vida. Atravessa a ponte. (...) (Ana Cristina Cesar, A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 9.) Esse trecho do poema de abertura de A teus pés, de Ana Cristina Cesar, a) expressa nostalgia do passado, visto que mobiliza referências à cultura pop dos anos 1970. b) requisita a participação do leitor, já que as referências biográficas são fragmentárias. c) exclui a dimensão biográfica, pois se refere a personagens imaginários e de ficção. d) tematiza a descrença na poesia, uma vez que a poeta se contradiz continuamente. 3. “DOROTÉA O senhor perdeu a cabeça? DULCINÉA Fazer de um cangaceiro um delegado! DOROTÉA Quando a oposição souber! DULCINÉA Que prato pra Neco Pedreira! ODORICO E tomara que Neco se sirva bem dele. Tomara que chame Zeca Diabo de cangaceiro, assassino, quanto mais xingar, melhor. DOROTÉA O senhor não acha que se excedeu? ODORICO Em política, dona Dorotéa, os finalmentes justificam os não obstantes.” (Dias Gomes, O bem-amado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. p. 69-70.) As personagens femininas do excerto anterior discordam da nomeação de Zeca Diabo feita por Odorico. Assinale a alternativa que indica a razão dessa discordância e a natureza da crítica às práticas políticas brasileiras presente na peça teatral de Dias Gomes.a) Segundo as personagens, Zeca Diabo não possui os atributos necessários para o cargo. Critica-se uma sociedade que desconsidera a meritocracia. b) As práticas políticas são desconhecidas pelas personagens. A ingenuidade do cidadão e a astúcia necessária dos políticos são criticadas na fala delas e de Odorico. c) Dulcinéa e Dorotéa não simpatizam com Zeca Diabo, o que indica que a peça faz uma crítica às relações sociais presididas por afetos e interesses privados. d) Dulcinéa e Dorotéa não admitem que alguém fora da lei possa cuidar da ordem da cidade. Criticam-se os atos de um poder executivo que se orienta por um projeto pessoal de poder. 4. Sobre as representações históricas da morte no Ocidente, Philippe Ariès e Alcir Pécora comentam: “O moribundo está deitado, cercado por seus amigos e familiares. Está prestes a executar os ritos que bem conhecemos. (...) Seres sobrenaturais invadiram o quarto e se comprimem na cabeceira do ‘jacente’. A grande reunião que nos séculos XII e XIII tinha lugar no final dos tempos se faz, então, a partir do século XV, no quarto do enfermo.” (Philippe Ariès, História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 53.) “(...) essa espécie de arte de morrer de Vieira se opõe à tradição das artes moriendi fundadas na preparação para a ‘última prova’ que acontece apenas no quarto do moribundo. Não é mais lá que se decide a salvação ou a condenação do cristão, mas no exato momento de suas escolhas e ações ao longo da vida, vale dizer, na resolução adequada a ser tomada hic et nunc (aqui e agora).” (Alcir Pécora, A arte de morrer, segundo Vieira, em Antonio Vieira, Sermões de quarta-feira de cinzas. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016. p.51.) Com base nos excertos anteriores e na leitura dos três Sermões de Quarta-feira de Cinza, assinale a alternativa correta. a) Em Ariès, a salvação ou danação ocorre no quarto do moribundo, mas nos sermões de Vieira é a atenção ao momento presente e a decisão correta que importam para o cristão. b) A afirmação de Alcir Pécora é válida somente para o primeiro sermão, pois os dois últimos sermões retomam o tema do fim dos tempos e da agonia do moribundo para a fé cristã. c) Segundo Ariès, o drama da salvação se dá na imagem do quarto do moribundo. Essa imagem é decisiva para a compreensão do terceiro sermão. Profª. Cristiane Literatura Página 5 de 5 d) Para Alcir Pécora, o que distingue os sermões de Vieira dos discursos sobre a morte nesse período é a ênfase do padre jesuíta na ação futura. 5. "A noção de programa genético (...) desempenhou um papel importante no lançamento do Projeto Genoma Humano, fazendo com que se acreditasse que a decifração de um genoma, à maneira de um livro com instruções de um longo programa, permitiria decifrar ou compreender toda a natureza humana ou, no mínimo, o essencial dos mecanismos de ocorrência das doenças. Em suma, a fisiopatologia poderia ser reduzida à genética, já que toda doença seria reduzida a um ou diversos erros de programação, isto é, à alteração de um ou diversos genes". (Edgar Morin, A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Jornadas temáticas idealizadas e dirigidas por Edgar Morin. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil Ltda, 2012, p. 157.) A expressão programa genético, mencionada no trecho anterior, é a) uma alegoria, pois sintetiza os mecanismos moleculares subjacentes ao funcionamento dos genes e dos cromossomos no contexto ficcional de um programa de computador. b) uma analogia, pois diferencia os mecanismos moleculares subjacentes ao código genético e ao funcionamento dos cromossomos dos códigos de um programa de computador. c) uma metáfora, pois iguala toda a informação genética e os mecanismos moleculares subjacentes ao funcionamento e expressão dos genes com as instruções e os comandos de um programa. d) uma analogia, pois contrasta os mecanismos moleculares dos genes nos cromossomos e das doenças causadas por eles com as linhas de comando de um programa de computador. 6. O título do romance Caminhos cruzados, de Érico Veríssimo, a) alude às dificuldades vividas pelas personagens mais representativas da elite urbana, além de sugerir que nenhum homem é uma ilha. B) sugere que a vida social das personagens é constituída pelo conjunto de relações econômicas e psicológicas dos indivíduos. C) remete à técnica narrativa do romance, no qual várias histórias são relacionadas, sem o estabelecimento de um protagonista principal. d) simboliza as relações de poder da classe burguesa emergente e o seu desejo de controlar a conduta ética da sociedade. 7. “Sapo não pula por boniteza, mas porém por percisão.” (‘Provérbio capiau” citado em epígrafe no conto “ A hora e a vez de Augusto Matraga”, em joão Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p.287.) Elementos textuais que antecedem a narrativa como, por exemplo, o provérbio citado, funcionam, em alguns autores, como pista para se entender o sentido das ações ficcionais. No excerto acima, as ideias de beleza e necessidade são contrapostas com vistas à produção de um sentido de ordem moral. Considerando-se a jornada heroica de Augusto Matraga, é correto afirmar que a narrativa a) contradiz o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista não é fiel ao seu propósito de mudar os hábitos antigos. b) confirma o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista realiza uma série de ações para corrigir seu caráter e reordenar eticamente sua vida. c) ratifica o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista é seduzido pelos encantos da natureza e pelos prazeres da bebida e do fumo. d) refuta o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista não consegue agir sem as motivações da beleza física e do afeto femininos. 8. A fim de dar exemplos de sua teoria da “alma exterior”, o narrador-personagem do conto “O espelho”, de Machado de Assis, refere-se a uma senhora conhecida sua “que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano”. E, questionado sobre a identidade dessa mulher, afirma: “Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome: chama-se Legião...” Considerando o contexto dessa frase no conto, pode-se dizer que ela constitui a) uma crítica à noção de alma exterior como resultante da influência do mal. b) uma consideração cômica que ressalta o nome inusitado da senhora. c) uma condenação do comportamento moral da senhora em questão. d) uma ironia com a inconstância dos valores sociais associados à alma exterior. 9. Transforma-se o amador na coisa amada, Por virtude do muito imaginar; Não tenho, logo, mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, Pois com ele tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim como a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; E o vivo e puro amor de que sou feito, Como a matéria simples busca a forma. (Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.) Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano a) é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta em uma alma única e perfeita. b) é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na matéria simples que deseja. c) é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisaamada é a ausência de desejo. d) é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na sua condição de ideia. GABARITO: 1. B 2. B 3. D 4. A 5. C 6. C 7. A 8. D 9. A