Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A RTIGO A RT I C L E5 2 2 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 Experiência de cárie dentária em crianças de escolas públicas e privadas de um município com água fluore t a d a Dental caries experience in children at public and private schools from a city with fluoridated water 1 De p a rtamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia de Pira c i c a b a , Un i ve r s i d a d e Estadual de Ca m p i n a s , P i ra c i c a b a , Bra s i l . 2 Pro g rama de Pós-Gra d u a ç ã o em Od o n t o l o g i a , Fa c u l d a d e de Odontologia de Pira c i c a b a , Un i versidade Estadual de Ca m p i n a s ,P i ra c i c a b a , Bra s i l . C o r re s p o n d ê n c i a Maria da Luz Rosário de Sousa De p a rtamento de Odontologia Social, Faculdade de Odontologia de Pira c i c a b a , Un i ve r s i d a d e Estadual de Ca m p i n a s . Av. Li m e i ra 901, P i ra c i c a b a , SP 13414-900, Bra s i l . l u z s o u s a @ f o p. u n i c a m p. b r Rosana Helena Schlittler Hoffmann 1 Silvia Cypriano 2 Maria da Luz Rosário de Sousa 1 Ronaldo S. Wada 1 A b s t r a c t The aim of this study was to verify the re l a t i o n- ship between type of school as a measure of so- cioeconomic conditions and caries pre va l e n c e among preschoolers and schoolchildren in Rio C l a ro, São Paulo St a t e , Bra z i l , a city with fluori- dated water supply. The data were secondary, f rom a sample of 888 children 5 to 12 years old e n rolled in private and public schools. Ca r i e s was measured by the dmft and DMFT indices as well as the Ca re index . Qu i - s q u a re and Ma n n - Whitney tests were utilized with 5% signifi- c a n c e . In 5-year-old childre n , mean dmft was 2 . 5 0 , and 42.20% were caries-fre e . At age 12, mean DMFT was 2.70 and 28.90% were caries- f re e . Caries pre valence rates in public school- c h i l d ren as compared to private were 74.50% and 61.20%, re s p e c t i vely (p < 0.0001), and the dmft and DMFT scores were the highest in pub- lic schoolchildren (p < 0.05). The Ca re In d ex was higher in private schoolchildren (71.20%) as c o m p a red to public (52.80%). Highest caries rates were found among public schoolchildre n , so the variable type of school proved sensitive for discriminating different oral health condi- t i o n s ; h ow e ver limitations need to be re c o g- n i ze d , suggesting that other variables should be a s s e s s e d . Oral He a l t h ; Social Class; Dental Ca r i e s ; D M F T In d ex I n t ro d u ç ã o Tem sido relatado em diferentes estudos epi- demiológicos um declínio na pre valência de c á rie dental em crianças de muitos países de- s e n volvidos 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , 7. No Brasil, na década de 8 0 , a pre valência de cárie em crianças de 12 anos e n c o n t ra va-se entre as mais altas do mundo 8, porém, alguns estudos realizados na última dé- cada re ve l a ram uma significante redução na p re valência da cárie dentária 4 , 9 , 1 0 , 1 1 , 1 2. A maioria desses estudos ve rificou a pre va- lência de cárie em escolares do ensino público 4 , 1 0 , 1 3, entre t a n t o, também é re l e vante que se- jam investigadas as condições de saúde bucal das crianças de escolas part i c u l a re s, pois os le- vantamentos epidemiológicos realizados nas três últimas décadas já mostra ram uma desi- gualdade de experiência de cárie entre as clas- ses sociais 9 , 1 1 , 1 4 , 1 5 , 1 6 , 1 7 , 1 8 , 1 9. De acordo com Iri- g oyen et al. 2 0, o tipo de escola freqüentada é um indicador confiável de condição sócio-eco- nômica em ambientes urbanos, pois cri a n ç a s de famílias com altos salários geralmente fre- qüentam escolas part i c u l a re s, sendo o oposto nas famílias com baixo nível sócio-econômico, as quais freqüentam principalmente o sistema público escolar. Assim, o objetivo deste estudo foi ve ri f i c a r a relação entre o nível sócio-econômico, medi- do por meio da va ri á vel tipo de escola, e a pre- valência de cárie em pré-escolares e escolare s NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE 5 2 3 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 de um município com água fluoretada, locali- zado na Região Sudeste do Bra s i l . M é t o d o s Os dados obtidos para este estudo são secun- d á ri o s, sendo a população de referência cons- tituída de escolares de 5 a 12 anos do Mu n i c í- pio de Rio Claro, São Pa u l o, que provêm de um estudo tra n s versal mais abra n g e n t e, envo l ve n- do 133 municípios do Estado de São Pa u l o, es- tudo este que foi operacionalizado pela Se c re- t a ria de Estado da Saúde de São Paulo e Fa c u l- dade de Saúde Pública da Un i versidade de São Paulo (FSP/USP), em 1998 2 1. A amostra foi p ro- babilística e o seu tamanho calculado confor- me recomendação da FSP/USP 2 1, admitindo- se perda de elementos amostrais de 20,00% e e r ro de desenho igual a dois, que corre s p o n d e ao erro de estimação da amostra em função da técnica adotada. A amostra final foi de 888 cri- a n ç a s, constituída por alunos de escolas públi- cas e part i c u l a re s, de ambos os sexo s, perm i- tindo inferência por tipo de escola no municí- pio para o grupo de 5 a 12 anos como um todo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Éti- ca em Pesquisa da FSP/USP (Processo CO E P / 62/98) e foram envolvidas as 24 Di reções Re- gionais de Saúde do Estado de São Pa u l o. Um dos municípios sorteados para compor a a m o s- t ra estadual foi Rio Claro, que se localiza na re- gião sudeste desse Estado e dista 170km da ca- pital, tem uma população estimada de 174 mil habitantes e aproximadamente 99,20% com acesso à água de abastecimento público fluo- retada 2 2. Os exames clínicos foram realizados após a obtenção da autorização dos participantes va- lendo-se do termo de consentimento livre e es- c l a re c i d o. Os índices utilizados para coleta dos dados o b e d e c e ram aos cri t é rios de diagnóstico re c o- mendados pela Organização Mundial da Sa ú d e (OMS) 1. As seguintes condições foram pesqui- sadas: cárie dentária (medida utilizando-se os índices ceod e CPOD), necessidade de tra t a- m e n t o, condição periodontal e a fluorose den- t á ria. En t re t a n t o, neste estudo, serão abord a- das a experiência de cárie e a necessidade de t ra t a m e n t o. A calibração foi realizada em 36 hora s, divi- didas entre discussões teóricas e atividades práticas simulando as diferentes condições e situações que a equipe de 11 examinadores en- c o n t ra ria durante a realização do trabalho prá- t i c o. Pa ra este tre i n a m e n t o, a técnica utilizada foi a do consenso e as discordâncias intere x a- m i n a d o res encontradas em relação à condição dental foi de 2,50%, sendo considerada aceitá- vel segundo a OMS. 2 3 A coleta de dados foi re a- lizada nos meses de setembro a deze m b ro de 1998, e os dados foram digitados utilizando-se o s o f t w a re Ep i - Info versão 5.01 e o Pro g ra m a E PI BU CO para o processamento e análise dos dados 2 1. Os exames foram realizados sem ilumina- ção artificial, utilizando-se sondas CPI (“ball- p o i n t”) e espelhos bucais. Ap rox i m a d a m e n t e 10% da amostra foi reexaminada durante a fase de coleta dos dados, a fim de se ve rificar a dis- c o rdância intra - e x a m i n a d o re s. Este valor foi de 1,60% para a condição dental. Fo ram também utilizados para a análise dos re s u l t a d o s, o Índice de Cuidados (Ca re In d e x ) 2 4, que mostra os cuidados re s t a u ra d o res a que a população alvo esteve exposta, por meio da relação de dentes obturados/CPO x 100. Co m o se tra t a va de dentição mista, utilizou-se a so- m a t ó ria de dentes decíduos e permanentes ob- t u rados no numerador e a soma ceo e CPO no d e n o m i n a d o r. Co n s i d e rou-se como pre valência de cárie as c rianças que apre s e n t a ram ceod e CPOD maior que ze ro, assim, livres de cárie foram as que não a p re s e n t a ram experiência de cárie na dentição decídua e permanente (ceod e CPOD = 0). Utilizou-se o teste qui-quadrado parase t e s- tar as diferenças entre a freqüência das va ri á- veis nas escolas públicas e part i c u l a res no gru- po de crianças de 5 a 12 anos, e o teste Ma n n - Whitney para ve rificar se houve diferenças en- t re os va l o res dos índices ceod e CPOD nos gru- pos estudados. Foi adotado o nível de signifi- cância estatística de 5%. R e s u l t a d o s Ex a m i n a ram-se 888 escolares de 5 a 12 anos, sendo 72,70% estudantes de escolas públicas va riando de 70,40% a 77,50%, e 27,30% de esco- las part i c u l a res va riando de 22,50% a 29,60% do Município de Rio Claro (Tabela 1). Aos cinco anos o índice ceod foi de 2,48, au- mentando pro p o rcionalmente até a idade de oito anos, sendo que 42,20% não apre s e n t a ra m e x p e riência de cárie (ceod + CPOD = 0). Ap ó s essa idade, o índice ceod vai decrescendo até atingir 0,42 aos 12 anos. Pa ralelamente a isto, o H o ffmann RHS et al. 5 2 4 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 índice CPOD aumentou pro p o rc i o n a l m e n t e c o n f o rme a idade, até atingir a média de 2,71 aos 12 anos (Fi g u ra 1), sendo que 28,90% não a p re s e n t a ram experiência de cári e. A seguir, a experiência de cárie no grupo de c rianças de 5 a 12 anos foi analisada segundo a va ri á vel estudada (tipo de escola). As cri a n ç a s das escolas part i c u l a res apre s e n t a ram meno- res índices de cárie dentária (ceod e CPOD) e maior proporção de dentes obtura d o s, medi- dos pelo Índice de Cu i d a d o s. O Índice de Cu i- dados também foi maior nestes escolares (Ta- bela 2). En t re t a n t o, o ceod e CPOD, calculados e xcluindo as crianças livres de cári e, não apre- s e n t a ram diferença estatística significativa f re n- te ao nível socioeconômico, como também não d i f e riu quanto à porcentagem das crianças c o m ceod maior que três. Foi observada maior porcentagem de cri a n- ças com CPOD maior que três no grupo de c rianças de escolas públicas do que no de ensi- no particular (p = 0,005), conforme apre s e n t a- do na Tabela 2. D i s c u s s ã o Este trabalho visa a contribuir para uma dis- cussão mais abrangente sobre a relação saúde bucal e nível sócio-econômico, tendo em vista a carência de trabalhos que utilizam a va ri á ve l tipo de escola como indicador de nível sócio- econômico em saúde bucal. Co n t u d o, os tra b a- lhos de litera t u ra apontam limitações na coleta de dados sócio-econômicos, pri n c i p a l m e n t e quando a população em estudo se re f e re a es- c o l a re s, pois muitas vezes torna-se necessári o o envolvimento dos familiares para ava l i a ç õ e s mais pre c i s a s, dificultando a opera c i o n a l i z a- ção desse tipo de estudo. Assim, neste tra b a- l h o, apesar das limitações desta va ri á vel sele- cionada (tipo de escola) optou-se por estudá- la, corro b o rando com outros estudos 9 , 1 1 , 1 7 , 2 0. Apesar de outras va ri á veis sócio-econômi- cas como a renda familiar, escolaridade do pai e número de residentes por cômodos 1 8 s e re m i m p o rtantes para diferenciar os níveis sócio- Tabela 1 N ú m e ro de indivíduos examinados, segundo o tipo de escola e a faixa etária. Rio Claro, São Paulo, Brasil, 1998. Idade (anos) Tipo de escola To t a l P ú b l i c a P a r t i c u l a r n % n % n % 5 7 5 7 3 , 5 2 7 2 6 , 5 1 0 2 1 0 0 , 0 6 7 1 7 1 , 7 2 8 2 8 , 3 9 9 1 0 0 , 0 7 7 7 7 4 , 8 2 6 2 5 , 2 1 0 3 1 0 0 , 0 8 7 0 7 1 , 4 2 8 2 8 , 6 9 8 1 0 0 , 0 9 7 9 7 7 , 5 2 3 2 2 , 5 1 0 2 1 0 0 , 0 1 0 7 8 7 0 , 9 3 2 2 9 , 1 1 1 0 1 0 0 , 0 1 1 1 0 1 7 2 , 7 3 8 2 7 , 3 1 3 9 1 0 0 , 0 1 2 9 5 7 0 , 4 4 0 2 9 , 6 1 3 5 1 0 0 , 0 To t a l 6 4 6 7 2 , 7 2 4 2 2 7 , 3 8 8 8 1 0 0 , 0 Figura 1 Índice ceod e CPOD (IC95%) segundo a idade. Rio Claro, São Paulo, Brasil, 1998. -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 CPOD ceod 12 idade111098765 NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE 5 2 5 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 e c o n ô m i c o s, o presente estudo, utilizando o ti- po de escola, encontrou diferenças na expe- riência de cárie entre os grupos pesquisados em ambas as dentições. O índice ceod aos cinco anos das crianças de Rio Claro (2,48), foi próximo ao encontrado em Blumenau, Santa Ca t a rina (2,42), e ao se com- p a rar os dados por tipo de escola, encontra ra m m e l h o res condições nas crianças da rede part i- cular de ensino, concordando com os achados deste estudo 1 1. Os resultados deste estudo, entre t a n t o, fo- ram menores que os índices observados por Fre i re et al. 1 3, em municípios goianos, que a p re s e n t a ram ceod de 4,93 aos cinco anos, de- notando melhores condições de saúde bucal em Rio Claro. Já em Dom Aq u i n o, Mato Gro s s o, este dado foi de 6,60 e nos escolares de 6 a 12 foi de 3,97 2 5, ambos também mais elevados do que os de Rio Claro, inclusive ao compara r- s e com as crianças da rede pública. Dados intern a c i o n a i s, por outro lado, a p o n- tam para um índice ceod baixo aos cinco anos, como por exemplo, na Grã Bretanha cujo ceod foi de 1,52 em 2001/2002, com va riação de 0,75 a 2,47 26. Este quadro, porém, modifica-se q u a n- do o índice é calculado excluindo-se as cri a n- ças sem experiência de cárie (ceod = 0), pas- sando para uma média de 3,83 nos escolares da Gr ã - Bretanha, sendo esse valor próximo ao en- c o n t rado nas crianças de Rio Claro (3,74), não va riando em função do tipo de escola em Rio C l a ro. Esses resultados sugerem que no grupo de c rianças com experiência de cári e, considera n- do a dentição decídua, a seve ridade da doença é alta, mesmo em localidades economicamen- te mais desenvolvidas como a Gr ã - Bretanha 2 6 ou em estratos sociais mais favo recidos econo- m i c a m e n t e. Isso salienta a importância em se planejar estratégias adequadas para cada gru- po da população, visando a reduzir a ocorrên- cia e a seve ridade da doença também dentre os que são mais acometidos, sendo import a n t e que outros índices, além do ceod, sejam anali- sados durante o planejamento das ações. Co n s i d e rando a dentição perm a n e n t e, a p re valência de cárie no município foi conside- rada moderada (2,71), atingindo as metas esta- belecidas pela OMS para o ano 2000 na idade de 12 anos. Va l o res menores foram observa d o s em Sa l va d o r, Bahia, no ano de 2001 9; Bl u m e- nau, em 1998 (1,46) 1 1; na cidade de São Pa u l o em 1996 (2,06) 1 2; e em Ara ra q u a ra, São Pa u l o, em 1995 (2,60) 4, entre t a n t o, outras localidades do Brasil como Ba u ru, São Paulo 1 0 e Goiás 1 3, a p re s e n t a ram índices mais eleva d o s, sendo re s p e c t i va m e n t e, de 3,42 e 5,19; sendo maior também na Cidade do México que foi de 4,40 2 0. Na Grã Bretanha, 2 6 o CPOD aos 12 anos foi de 0,89, entretanto encontrou-se uma média de 2,35 ao se excluir as crianças que não apre- Tabela 2 Experiência de cárie na dentição decídua e na permanente, segundo o tipo de escola. Rio Claro, São Paulo, Brasil, 1998. Va r i á v e i s Tipo de escola Valor de p Pública (n = 646) Particular (n = 242) Ceod (dp)* 2 , 0 5a ( 2 , 6 6 ) 1 , 6 2b ( 2 , 3 8 ) 0 , 0 0 8 6 * * Ceod dentre os doentes (dp)* 3 , 7 4a ( 2 , 8 5 ) 3 , 7 4a ( 2 , 2 7 ) 0 , 5 9 2 6 * * Crianças com ceod = 0 (%) 4 5 , 0 5a 5 6 , 6 1b 0 , 0 0 2 1 Crianças com ceod > 3 (%) 2 4 , 0 0a 2 0 , 7 0a 0 , 2 9 4 0 Índice de cuidados – dentição decídua (%) 5 2 , 0 0a 7 6 , 3 0b < 0,0001 CPOD (dp)* 1 , 5 3a ( 2 , 2 3 ) 1 , 0 0b ( 1 , 6 3 ) 0 , 0 0 1 3 * * CPOD dentre os doentes (dp)* 3 , 3 7a ( 2 , 1 8 ) 2 , 9 3a ( 2 2 7 ) 0 , 1 7 6 1 * * Crianças com CPOD = 0 (%) 5 4 , 6 4a 6 5 , 7 0b 0 , 0 0 3 0 Crianças com CPOD > 3 (%) 2 1 , 1 0a 2 , 9 0b 0 , 0 0 5 1 Índice de cuidados – dentição permanente (%) 5 3 , 8 0a 6 3 , 0 0b 0 , 0 1 0 5 P revalência de cárie (ceod e CPOD > 0) 7 4 , 5 0a 6 1 , 2 0b 0 , 0 0 0 1 Crianças livres de cárie (ceod e CPOD = 0) (%) 2 5 , 5 0a 3 8 , 8 0b 0 , 0 0 0 1 Índice de cuidados (%) 5 2 , 8 0a 7 1 , 2 0b < 0,0001 N ú m e ros seguidosde letras diferentes na horizontal diferem entre si com significância de 5%. * Desvio padrão. ** Para testar as médias ceod e CPOD utilizou-se o Mann-Whitney test. Os demais valores de p foram calculados pelo qui-quadrado. H o ffmann RHS et al. 5 2 6 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 s e n t a ram experiência de cárie na dentição per- m a n e n t e, sendo que esse resultado ficou mais próximo ao valor encontrado nos escolare s com experiência de cárie do ensino pri vado de Rio Claro (2,93). De ve - s e, entre t a n t o, considerar que as c ri a n- ças de escolas públicas com experiência de cá- rie apre s e n t a ram um índice ainda mais eleva- do (3,37), denotando maior severidade da d o e n- ça nessas cri a n ç a s, sendo importante que ou- t ros índices também sejam utilizados dura n t e o planejamento, pois seria de fundamental im- p o rtância que se reduzisse não apenas a média de dentes com cári e, mas também neste gru p o com experiência de cári e, bem como se aum e n- tasse a proporção de indivíduos livres de cári e. Esse enfoque encontra justificativa teórica no fenômeno da polari z a ç ã o, segundo o qual cer- ca de 25,00% dos indivíduos concentram apro- ximadamente 75,00% dos dentes com pre va- lência de cárie 1 2. Co n s i d e rando os escolares de 5 a 12 anos, os va l o res de pre valência de cárie deste estudo f o ram abaixo dos encontrados nos escolare s tanto do ensino público (67,50%) como do pri- vado (54,50%) da Cidade do México 2 0, sendo as diferenças estatisticamente significantes em ambos os estudos. Enfatiza-se que tanto na dentição decídua quanto na perm a n e n t e, considerando o gru p o de crianças com maior experiência de cári e (ceod ou CPOD maior que três), não houve di- f e rença na média destes índices entre os esco- l a res do ensino público e part i c u l a r, denotan- do que a seve ridade da cárie foi semelhante em ambos os gru p o s. Fato este importante na oca- sião em que forem traçadas estratégias de pla- n e j a m e n t o. Ao se discriminar o tipo de escola, fora m ve rificadas diferenças estatisticamente signifi- c a t i vas do CPOD, sendo maior nos estudantes do ensino público, discordando dos achados de Cangussu et al. 9 e Na rvai et al. 1 2, apesar da a m o s t ra desses estudos terem sido bem maio- res do que a de Rio Claro. Sob o aspecto de componentes do índice, não houve discord â n- cia entre os estudos, predominando o compo- nente obturado em estudantes de estabeleci- mentos pri vados e o componente cariado nos estudantes dos estabelecimentos públicos, re- forçando assim a diferença de acesso a cuida- dos em saúde bucal nesses estudantes. Constatou-se um Índice de Cuidados eleva- do na dentição decídua, sendo maior na re d e p ri vada (76,30%) do que na pública (52,00%). Ambos os resultados foram mais elevados do que os dados observados na Grã Bre t a n h a (13,20%) 2 6 e no ensino público de Bl u m e n a u , Santa Ca t a rina (16,80%) 1 1, em escolares aos cinco anos de idade. Na dentição permanente, o Índice de Cuid a- dos nas crianças da rede particular de ensino de Rio Claro, foi de 63,00% e 53,80% na públi- ca, sendo ambos os va l o res abaixo dos re l a t a- dos por Cangussu et al. 9 em Sa l vador (71,40% e 57,70%, re s p e c t i vamente), mas acima do re- sultado encontrado nos escolares de 6 a 12 anos em Dom Aq u i n o, por Mo rais et al. 2 5, cujo valor foi de 11,60%. Nos escolares de 7 a 12 anos da rede pública de Ara ra q u a ra 4, o Índice de Cuidados mostrou-se mais eleva d o, va ri a n- do de 70,90% a 90,80%. Assim, os dados deste estudo de Rio Claro, São Pa u l o, confirm a ram que o Índice de Cu i d a- dos é importante não só para o planejamento de estra t é g i a s, como também sendo um im- p o rtante indicador dos serviços de saúde, pois refletem os cuidados re s t a u ra d o res para os in- divíduos com necessidade de tratamento 2 6. Co n s i d e rando o tipo de ensino, o Índice de Cuidados também foi sensível para discri m i n a r os diferentes gru p o s, refletindo que as cri a n ç a s com menor acesso aos cuidados em saúde bu- cal pertenciam a setores economicamente me- nos favo re c i d o s. C o n c l u s õ e s As diferenças encontradas neste estudo são consistentes com achados das litera t u ras na- cional e internacional, salientando que com base nos resultados para o tipo de escola, a ex- p e riência de cárie e necessidade de tra t a m e n t o f o ram maiores nas crianças que fre q ü e n t a va m escolas públicas, ressaltando as limitações des- te presente estudo quanto à utilização da va- ri á vel tipo de escola como indicador de níve l s ó c i o - e c o n ô m i c o. Ad q u i rir um conhecimento detalhado da d i s t ribuição da cárie e seus determinantes b i o- psicossociais é o passo inicial e indispensáve l p a ra o planejamento de pro g ramas em saúde bucal. Assim, incluir va ri á veis relacionadas ao n í vel sócio-econômico torna-se fundamental, bem como a utilização de outros índices e in- d i c a d o res que não apenas o ceod e o CPOD. NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE 5 2 7 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 R e f e r ê n c i a s 1 . World Health Organization. Oral health surve y s, basic methods. Ge n e va: World Health Org a n i z a- tion; 1997. 2 . Bönecker M, Cleaton-Jones P. Trends in dental c a ries in Latin American and Ca ribbean 5-6 and 1 1 - 1 3 - ye a r-old children: a systematic re v i e w. Co m- munity Dent Oral Epidemiol 2003; 31:152-7. 3 . Pitts NB, Evans DJ, Nugent ZJ, Pine CM. The den- tal caries experience of 12-ye a r-old children in England and Wa l e s. Su rveys coordinated by the British Association for the Study of Co m m u n i t y De n t i s t ry in 2000/2001. Community Dent He a l t h 2002; 19:46-53. 4 . Dini EL, Foschini ALR, Brandão IMG, Si l va SRC . Changes in caries pre valence in 7-12 ye a r- o l d c h i l d ren from Ara ra q u a ra, SP, Brasil: 1989-1995. Cad Saúde Pública 1999; 15:617-21. 5 . Ma rthaler TM, O’Mullane DM, Vrbic V. The pre va- lence of dental caries in Eu rope 1990-1995. Ca ri e s Res 1996; 30:237-55. 6 . Petersson HG, Bratthall D. The caries decline: a review of re v i e w s. Eur J Oral Sci 1996; 104:436-43. 7 . Bu rt B. Trends in caries pre valence in No rt h A m e rican children. Int Dent J 1994; 44:403-13. 8 . Mi n i s t é rio da Sa ú d e. Levantamento epidemio- lógico em saúde bucal: Brasil, zona urbana, 1986. Brasília: Divisão Nacional de Saúde Bucal, Ce n t ro de Documentação, Mi n i s t é rio da Saúde; 1988. A g r a d e c i m e n t o s Os autores agradecem a todos que autori z a ram que os exames fossem re a l i z a d o s, aos coord e n a d o res de saúde bucal dos municípios, ciru rgiões-dentistas e a u x i l i a res que contri b u í ram para que esta pesquisa fosse realizada. Em especial à ciru rgiã dentista Ro- b e rta Da l c i c o, pelas suas importantes contri b u i ç õ e s. À bibliotecária Ma rilene Gi rello pelo auxílio nas cor- reções das referências bibliográficas. C o l a b o r a d o re s R. H. S. Hoffmann contribuiu com a idéia original do tema, revisão bibliográfica, intro d u ç ã o, discussão dos resultados e redação final do art i g o. S. Cy p riano par- ticipou da realização da metodologia, análise e dis- cussão dos re s u l t a d o s. M. L. R. Sousa colaborou na c o o rdenação do tra b a l h o, discussão dos resultados e e l a b o ração das conclusões. R. S. Wada participou do planejamento da pesquisa, análise dos resultados e e l a b o ração das conclusões. R e s u m o O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre ti- po de escola, como medida de condição sócio-econô- mica e a pre valência de cárie em pré-escolares e esco- l a res de Rio Claro, São Pa u l o, com água fluore t a d a . Os dados obtidos são secundários e a amostra foi de 888 e s c o l a res de 5 a 12 anos dos ensinos público e part i c u- l a r. A experiência de cárie foi medida por meio dos ín- dices ceod e CPOD 1, além do Índice de Cu i d a d o s . Em-p regou-se os testes qui-quadrado e Ma n n - W h i t n e y com significância de 5%. Aos cinco anos, o ceod foi de 2,50 e 42,20% não apre s e n t a ram experiência de cárie. Aos 12 anos, o CPOD foi de 2,70 e 28,90% estavam li- v res de cárie. A pre valência de cárie nas crianças de es- colas públicas foi maior do que nas part i c u l a re s ,s e n- do re s p e c t i vamente de 74,50 e 61,20% (p < 0,0001), a s- sim como os índices ceod e CPOD (p < 0,05). O Índice de Cuidados foi maior nas crianças do ensino part i c u- lar (71,20%) do que nas do ensino público (52,80%). En c o n t rou-se uma maior experiência de cárie nos es- c o l a res do ensino público e assim a va r i á vel tipo de es- cola foi sensível para discriminar diferentes condições de saúde bucal, sugerindo-se que outras va r i á ve i s também sejam ava l i a d a s . Saúde Bu c a l ; Classe Social; Cárie De n t á r i a ; Í n d i c e C P O D. H o ffmann RHS et al. 5 2 8 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004 9 . Cangussu MCT, Castellanos RA, Pinheiro MF, Al- b u q u e rque SR, Pinho C. Cárie dentária em esco- l a res de 12 e 15 anos de escolas públicas e pri va- das de Sa l va d o r, Bahia, Brasil, em 2001. Pe s q u i Odontol Bras 2002; 16:379-84. 1 0 . Bastos RS, Bijella VT, Bastos JRM, Buzalaf MAR. Declínio da cárie dentária e incremento no per- centual de escolare s, de 12 anos de idade, livre s da doença, em Ba u ru, SP, entre 1976-1995. Re v i s- ta da Faculdade de Odontologia de Ba u ru 2002; 1 0 : 7 5 - 8 0 . 1 1 . Tra e b e rt JL, Pe res MA, Galesso ER, Zabot NE, Ma rcenes W. Pre valência e seve ridade da cári e d e n t á ria em escolares de seis a doze anos de ida- d e. Rev Saúde Pública 2001; 35:283-8. 1 2 . Na rvai PC, Castellanos RA, Frazão P. Pre va l ê n c i a de cárie em dentes permanentes de escolares no Município de São Pa u l o, SP, 1970-1996. Rev Sa ú d e Pública 2000; 34:196-200. 1 3 . Fre i re MCM, Pe re i ra MF, Batista SMO, Bo rg e s MRS, Barbosa MI, Rosa AG F. Pre valência de cári e e necessidades de tratamento em escolares de 6 a 12 anos da rede pública de ensino. Rev Saúde Pú- blica 1999; 33:385-90. 1 4 . Tinanoff N, Kanellis MJ, Va rgas CM. Cu r rent un- derstanding of the epidemiology, mechanisms and pre vention of dental caries in preschool chil- d ren. Pediatr Dent 2002; 24:543-51. 1 5 . Baldani MS, Na rvai PC, Antunes JLF. Cárie den- t á ria e condições sócio-econômicas no Estado do Pa raná, Brasil, 1996. Cad Saúde Pública 2002; 1 8 : 7 5 5 - 6 3 . 1 6 . Antunes JLF, Frazão P, Na rvai PC, Bispo CM, Pe- g o retti T. Spatial analysis to identify differe n t i a l s in dental needs by área-based measure s. Co m- munity Dent Oral Epidemiol 2002; 30:133-42. 1 7 . Maltz M, Si l va BB. Relação entre cári e, gengivite, f l u o rose e nível sócio-econômico em escolare s. Rev Saúde Pública 2001; 35:170-6. 1 8 . Pe res KGA, Bastos JRM, Latorre MRDO. Se ve ri- dade de cárie em crianças e relação com aspectos sociais e comport a m e n t a i s. Rev Saúde Pública 2000; 34:402-8. 1 9 . A l - Mohammedi SM, Ru g g - Gunn AJ, Butler T J . Ca ries pre valence in boys aged 2, 4 and 6 ye a r s a c c o rding to socio-economic status in Riyadh, Saudi Arabia. Community Dent Oral Ep i d e m i o l 1997; 25:184-6. 2 0 . Iri g oyen ME, Maupome G, Mejfa AM. Ca ries expe- rience and treatment needs in a 6- to 12-ye a r- o l d urban population in relation to socio-economic s t a t u s. Community Dent Health 1999; 1 6 : 2 4 5 - 9 . 2 1 . Na rvai PC, Castellanos RA. Levantamento das condições de saúde bucal – Estado de São Pa u l o, 1998. São Paulo: Núcleo de Estudos e Pe s q u i s a s de Sistemas de Sa ú d e, Se c re t a ria de Estado da Saúde de São Paulo; 1999. 2 2 . Fundação Sistema Estadual de Análise de Da d o s. Pe rfil Municipal de Rio Claro. http://www. s e a d e. g ov. b r / c j i - b i n / p e rf i l / request.ksh?PM20379 (aces- sado em 30/Ab r / 2 0 0 3 ) . 2 3 . World Health Organization. Basic methods. Ge n e- va: World Health Organization; 1987. 2 4 . Walsh J. In t e rnational patterns of oral health care – the example of New Zealand. N Z Dent J 1970; 6 6 : 1 4 3 - 5 2 . 2 5 . Mo rais ND, Lenza MA, Fre i re MCM. Pre va l ê n c i a de cárie em escolares de 6 a 12 anos da rede pú- blica de ensino do Município de Dom Aquino – M T. Revista Bra s i l e i ra de Odontologia Co l e t i va 2000; 1:45-9. 2 6 . Pitts NB, Boyles J, Nugent ZJ, Thomas N, Pine CM. The dental caries experience of 5-ye a r-old chil- d ren in England and Wa l e s. Su rveys coord i n a t e d by the British Association for the Study of Co m- munity De n t i s t ry in 2001/2002. Community De n t Health 2003; 20:45-54. Recebido em 02/Ju n / 2 0 0 3 Versão final re a p resentada em 29/Ago/2003 Ap rovado em 15/Se t / 2 0 0 3
Compartilhar