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Experiência de cárie dentária em crianças

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A RTIGO A RT I C L E5 2 2
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004
Experiência de cárie dentária em crianças 
de escolas públicas e privadas 
de um município com água fluore t a d a
Dental caries experience in children 
at public and private schools from 
a city with fluoridated water
1 De p a rtamento de
Odontologia Social da
Faculdade de Odontologia 
de Pira c i c a b a , Un i ve r s i d a d e
Estadual de Ca m p i n a s ,
P i ra c i c a b a , Bra s i l .
2 Pro g rama de Pós-Gra d u a ç ã o
em Od o n t o l o g i a , Fa c u l d a d e
de Odontologia de Pira c i c a b a ,
Un i versidade Estadual de
Ca m p i n a s ,P i ra c i c a b a , Bra s i l .
C o r re s p o n d ê n c i a
Maria da Luz Rosário de Sousa
De p a rtamento de
Odontologia Social,
Faculdade de Odontologia 
de Pira c i c a b a , Un i ve r s i d a d e
Estadual de Ca m p i n a s .
Av. Li m e i ra 901, P i ra c i c a b a ,
SP 13414-900, Bra s i l .
l u z s o u s a @ f o p. u n i c a m p. b r
Rosana Helena Schlittler Hoffmann 1
Silvia Cypriano 2
Maria da Luz Rosário de Sousa 1
Ronaldo S. Wada 1
A b s t r a c t
The aim of this study was to verify the re l a t i o n-
ship between type of school as a measure of so-
cioeconomic conditions and caries pre va l e n c e
among preschoolers and schoolchildren in Rio
C l a ro, São Paulo St a t e , Bra z i l , a city with fluori-
dated water supply. The data were secondary,
f rom a sample of 888 children 5 to 12 years old
e n rolled in private and public schools. Ca r i e s
was measured by the dmft and DMFT indices as
well as the Ca re index . Qu i - s q u a re and Ma n n -
Whitney tests were utilized with 5% signifi-
c a n c e . In 5-year-old childre n , mean dmft was
2 . 5 0 , and 42.20% were caries-fre e . At age 12,
mean DMFT was 2.70 and 28.90% were caries-
f re e . Caries pre valence rates in public school-
c h i l d ren as compared to private were 74.50%
and 61.20%, re s p e c t i vely (p < 0.0001), and the
dmft and DMFT scores were the highest in pub-
lic schoolchildren (p < 0.05). The Ca re In d ex was
higher in private schoolchildren (71.20%) as
c o m p a red to public (52.80%). Highest caries
rates were found among public schoolchildre n ,
so the variable type of school proved sensitive
for discriminating different oral health condi-
t i o n s ; h ow e ver limitations need to be re c o g-
n i ze d , suggesting that other variables should be
a s s e s s e d .
Oral He a l t h ; Social Class; Dental Ca r i e s ; D M F T
In d ex
I n t ro d u ç ã o
Tem sido relatado em diferentes estudos epi-
demiológicos um declínio na pre valência de
c á rie dental em crianças de muitos países de-
s e n volvidos 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , 7. No Brasil, na década de 8 0 ,
a pre valência de cárie em crianças de 12 anos
e n c o n t ra va-se entre as mais altas do mundo 8,
porém, alguns estudos realizados na última dé-
cada re ve l a ram uma significante redução na
p re valência da cárie dentária 4 , 9 , 1 0 , 1 1 , 1 2.
A maioria desses estudos ve rificou a pre va-
lência de cárie em escolares do ensino público
4 , 1 0 , 1 3, entre t a n t o, também é re l e vante que se-
jam investigadas as condições de saúde bucal
das crianças de escolas part i c u l a re s, pois os le-
vantamentos epidemiológicos realizados nas
três últimas décadas já mostra ram uma desi-
gualdade de experiência de cárie entre as clas-
ses sociais 9 , 1 1 , 1 4 , 1 5 , 1 6 , 1 7 , 1 8 , 1 9. De acordo com Iri-
g oyen et al. 2 0, o tipo de escola freqüentada é
um indicador confiável de condição sócio-eco-
nômica em ambientes urbanos, pois cri a n ç a s
de famílias com altos salários geralmente fre-
qüentam escolas part i c u l a re s, sendo o oposto
nas famílias com baixo nível sócio-econômico,
as quais freqüentam principalmente o sistema
público escolar.
Assim, o objetivo deste estudo foi ve ri f i c a r
a relação entre o nível sócio-econômico, medi-
do por meio da va ri á vel tipo de escola, e a pre-
valência de cárie em pré-escolares e escolare s
NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE 5 2 3
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004
de um município com água fluoretada, locali-
zado na Região Sudeste do Bra s i l .
M é t o d o s
Os dados obtidos para este estudo são secun-
d á ri o s, sendo a população de referência cons-
tituída de escolares de 5 a 12 anos do Mu n i c í-
pio de Rio Claro, São Pa u l o, que provêm de um
estudo tra n s versal mais abra n g e n t e, envo l ve n-
do 133 municípios do Estado de São Pa u l o, es-
tudo este que foi operacionalizado pela Se c re-
t a ria de Estado da Saúde de São Paulo e Fa c u l-
dade de Saúde Pública da Un i versidade de São
Paulo (FSP/USP), em 1998 2 1. A amostra foi p ro-
babilística e o seu tamanho calculado confor-
me recomendação da FSP/USP 2 1, admitindo-
se perda de elementos amostrais de 20,00% e
e r ro de desenho igual a dois, que corre s p o n d e
ao erro de estimação da amostra em função da
técnica adotada. A amostra final foi de 888 cri-
a n ç a s, constituída por alunos de escolas públi-
cas e part i c u l a re s, de ambos os sexo s, perm i-
tindo inferência por tipo de escola no municí-
pio para o grupo de 5 a 12 anos como um todo.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Éti-
ca em Pesquisa da FSP/USP (Processo CO E P /
62/98) e foram envolvidas as 24 Di reções Re-
gionais de Saúde do Estado de São Pa u l o. Um
dos municípios sorteados para compor a a m o s-
t ra estadual foi Rio Claro, que se localiza na re-
gião sudeste desse Estado e dista 170km da ca-
pital, tem uma população estimada de 174 mil
habitantes e aproximadamente 99,20% com
acesso à água de abastecimento público fluo-
retada 2 2. 
Os exames clínicos foram realizados após a
obtenção da autorização dos participantes va-
lendo-se do termo de consentimento livre e es-
c l a re c i d o. 
Os índices utilizados para coleta dos dados
o b e d e c e ram aos cri t é rios de diagnóstico re c o-
mendados pela Organização Mundial da Sa ú d e
(OMS) 1. As seguintes condições foram pesqui-
sadas: cárie dentária (medida utilizando-se os
índices ceod e CPOD), necessidade de tra t a-
m e n t o, condição periodontal e a fluorose den-
t á ria. En t re t a n t o, neste estudo, serão abord a-
das a experiência de cárie e a necessidade de
t ra t a m e n t o.
A calibração foi realizada em 36 hora s, divi-
didas entre discussões teóricas e atividades
práticas simulando as diferentes condições e
situações que a equipe de 11 examinadores en-
c o n t ra ria durante a realização do trabalho prá-
t i c o. Pa ra este tre i n a m e n t o, a técnica utilizada
foi a do consenso e as discordâncias intere x a-
m i n a d o res encontradas em relação à condição
dental foi de 2,50%, sendo considerada aceitá-
vel segundo a OMS. 2 3 A coleta de dados foi re a-
lizada nos meses de setembro a deze m b ro de
1998, e os dados foram digitados utilizando-se
o s o f t w a re Ep i - Info versão 5.01 e o Pro g ra m a
E PI BU CO para o processamento e análise dos
dados 2 1. 
Os exames foram realizados sem ilumina-
ção artificial, utilizando-se sondas CPI (“ball-
p o i n t”) e espelhos bucais. Ap rox i m a d a m e n t e
10% da amostra foi reexaminada durante a fase
de coleta dos dados, a fim de se ve rificar a dis-
c o rdância intra - e x a m i n a d o re s. Este valor foi de
1,60% para a condição dental.
Fo ram também utilizados para a análise dos
re s u l t a d o s, o Índice de Cuidados (Ca re In d e x )
2 4, que mostra os cuidados re s t a u ra d o res a que
a população alvo esteve exposta, por meio da
relação de dentes obturados/CPO x 100. Co m o
se tra t a va de dentição mista, utilizou-se a so-
m a t ó ria de dentes decíduos e permanentes ob-
t u rados no numerador e a soma ceo e CPO no
d e n o m i n a d o r.
Co n s i d e rou-se como pre valência de cárie as
c rianças que apre s e n t a ram ceod e CPOD maior
que ze ro, assim, livres de cárie foram as que não
a p re s e n t a ram experiência de cárie na dentição
decídua e permanente (ceod e CPOD = 0).
Utilizou-se o teste qui-quadrado parase t e s-
tar as diferenças entre a freqüência das va ri á-
veis nas escolas públicas e part i c u l a res no gru-
po de crianças de 5 a 12 anos, e o teste Ma n n -
Whitney para ve rificar se houve diferenças en-
t re os va l o res dos índices ceod e CPOD nos gru-
pos estudados. Foi adotado o nível de signifi-
cância estatística de 5%.
R e s u l t a d o s
Ex a m i n a ram-se 888 escolares de 5 a 12 anos,
sendo 72,70% estudantes de escolas públicas
va riando de 70,40% a 77,50%, e 27,30% de esco-
las part i c u l a res va riando de 22,50% a 29,60% do
Município de Rio Claro (Tabela 1).
Aos cinco anos o índice ceod foi de 2,48, au-
mentando pro p o rcionalmente até a idade de
oito anos, sendo que 42,20% não apre s e n t a ra m
e x p e riência de cárie (ceod + CPOD = 0). Ap ó s
essa idade, o índice ceod vai decrescendo até
atingir 0,42 aos 12 anos. Pa ralelamente a isto, o
H o ffmann RHS et al. 5 2 4
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004
índice CPOD aumentou pro p o rc i o n a l m e n t e
c o n f o rme a idade, até atingir a média de 2,71
aos 12 anos (Fi g u ra 1), sendo que 28,90% não
a p re s e n t a ram experiência de cári e. 
A seguir, a experiência de cárie no grupo de
c rianças de 5 a 12 anos foi analisada segundo a
va ri á vel estudada (tipo de escola). As cri a n ç a s
das escolas part i c u l a res apre s e n t a ram meno-
res índices de cárie dentária (ceod e CPOD) e
maior proporção de dentes obtura d o s, medi-
dos pelo Índice de Cu i d a d o s. O Índice de Cu i-
dados também foi maior nestes escolares (Ta-
bela 2). En t re t a n t o, o ceod e CPOD, calculados
e xcluindo as crianças livres de cári e, não apre-
s e n t a ram diferença estatística significativa f re n-
te ao nível socioeconômico, como também não
d i f e riu quanto à porcentagem das crianças c o m
ceod maior que três.
Foi observada maior porcentagem de cri a n-
ças com CPOD maior que três no grupo de
c rianças de escolas públicas do que no de ensi-
no particular (p = 0,005), conforme apre s e n t a-
do na Tabela 2.
D i s c u s s ã o
Este trabalho visa a contribuir para uma dis-
cussão mais abrangente sobre a relação saúde
bucal e nível sócio-econômico, tendo em vista
a carência de trabalhos que utilizam a va ri á ve l
tipo de escola como indicador de nível sócio-
econômico em saúde bucal. Co n t u d o, os tra b a-
lhos de litera t u ra apontam limitações na coleta
de dados sócio-econômicos, pri n c i p a l m e n t e
quando a população em estudo se re f e re a es-
c o l a re s, pois muitas vezes torna-se necessári o
o envolvimento dos familiares para ava l i a ç õ e s
mais pre c i s a s, dificultando a opera c i o n a l i z a-
ção desse tipo de estudo. Assim, neste tra b a-
l h o, apesar das limitações desta va ri á vel sele-
cionada (tipo de escola) optou-se por estudá-
la, corro b o rando com outros estudos 9 , 1 1 , 1 7 , 2 0.
Apesar de outras va ri á veis sócio-econômi-
cas como a renda familiar, escolaridade do pai
e número de residentes por cômodos 1 8 s e re m
i m p o rtantes para diferenciar os níveis sócio-
Tabela 1
N ú m e ro de indivíduos examinados, segundo o tipo de escola 
e a faixa etária. Rio Claro, São Paulo, Brasil, 1998.
Idade (anos) Tipo de escola To t a l
P ú b l i c a P a r t i c u l a r
n % n % n %
5 7 5 7 3 , 5 2 7 2 6 , 5 1 0 2 1 0 0 , 0
6 7 1 7 1 , 7 2 8 2 8 , 3 9 9 1 0 0 , 0
7 7 7 7 4 , 8 2 6 2 5 , 2 1 0 3 1 0 0 , 0
8 7 0 7 1 , 4 2 8 2 8 , 6 9 8 1 0 0 , 0
9 7 9 7 7 , 5 2 3 2 2 , 5 1 0 2 1 0 0 , 0
1 0 7 8 7 0 , 9 3 2 2 9 , 1 1 1 0 1 0 0 , 0
1 1 1 0 1 7 2 , 7 3 8 2 7 , 3 1 3 9 1 0 0 , 0
1 2 9 5 7 0 , 4 4 0 2 9 , 6 1 3 5 1 0 0 , 0
To t a l 6 4 6 7 2 , 7 2 4 2 2 7 , 3 8 8 8 1 0 0 , 0
Figura 1
Índice ceod e CPOD (IC95%) segundo a idade. Rio Claro, São Paulo, Brasil, 1998.
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
CPOD
ceod
12 idade111098765
NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE 5 2 5
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004
e c o n ô m i c o s, o presente estudo, utilizando o ti-
po de escola, encontrou diferenças na expe-
riência de cárie entre os grupos pesquisados
em ambas as dentições.
O índice ceod aos cinco anos das crianças de
Rio Claro (2,48), foi próximo ao encontrado em
Blumenau, Santa Ca t a rina (2,42), e ao se com-
p a rar os dados por tipo de escola, encontra ra m
m e l h o res condições nas crianças da rede part i-
cular de ensino, concordando com os achados
deste estudo 1 1. 
Os resultados deste estudo, entre t a n t o, fo-
ram menores que os índices observados por
Fre i re et al. 1 3, em municípios goianos, que
a p re s e n t a ram ceod de 4,93 aos cinco anos, de-
notando melhores condições de saúde bucal
em Rio Claro. Já em Dom Aq u i n o, Mato Gro s s o,
este dado foi de 6,60 e nos escolares de 6 a 12
foi de 3,97 2 5, ambos também mais elevados do
que os de Rio Claro, inclusive ao compara r- s e
com as crianças da rede pública. 
Dados intern a c i o n a i s, por outro lado, a p o n-
tam para um índice ceod baixo aos cinco anos,
como por exemplo, na Grã Bretanha cujo ceod
foi de 1,52 em 2001/2002, com va riação de 0,75
a 2,47 26. Este quadro, porém, modifica-se q u a n-
do o índice é calculado excluindo-se as cri a n-
ças sem experiência de cárie (ceod = 0), pas-
sando para uma média de 3,83 nos escolares da
Gr ã - Bretanha, sendo esse valor próximo ao en-
c o n t rado nas crianças de Rio Claro (3,74), não
va riando em função do tipo de escola em Rio
C l a ro.
Esses resultados sugerem que no grupo de
c rianças com experiência de cári e, considera n-
do a dentição decídua, a seve ridade da doença
é alta, mesmo em localidades economicamen-
te mais desenvolvidas como a Gr ã - Bretanha 2 6
ou em estratos sociais mais favo recidos econo-
m i c a m e n t e. Isso salienta a importância em se
planejar estratégias adequadas para cada gru-
po da população, visando a reduzir a ocorrên-
cia e a seve ridade da doença também dentre os
que são mais acometidos, sendo import a n t e
que outros índices, além do ceod, sejam anali-
sados durante o planejamento das ações.
Co n s i d e rando a dentição perm a n e n t e, a
p re valência de cárie no município foi conside-
rada moderada (2,71), atingindo as metas esta-
belecidas pela OMS para o ano 2000 na idade
de 12 anos. Va l o res menores foram observa d o s
em Sa l va d o r, Bahia, no ano de 2001 9; Bl u m e-
nau, em 1998 (1,46) 1 1; na cidade de São Pa u l o
em 1996 (2,06) 1 2; e em Ara ra q u a ra, São Pa u l o,
em 1995 (2,60) 4, entre t a n t o, outras localidades
do Brasil como Ba u ru, São Paulo 1 0 e Goiás 1 3,
a p re s e n t a ram índices mais eleva d o s, sendo
re s p e c t i va m e n t e, de 3,42 e 5,19; sendo maior
também na Cidade do México que foi de 4,40
2 0. Na Grã Bretanha, 2 6 o CPOD aos 12 anos foi
de 0,89, entretanto encontrou-se uma média
de 2,35 ao se excluir as crianças que não apre-
Tabela 2
Experiência de cárie na dentição decídua e na permanente, segundo o tipo de escola. 
Rio Claro, São Paulo, Brasil, 1998. 
Va r i á v e i s Tipo de escola Valor de p
Pública (n = 646) Particular (n = 242)
Ceod (dp)* 2 , 0 5a ( 2 , 6 6 ) 1 , 6 2b ( 2 , 3 8 ) 0 , 0 0 8 6 * *
Ceod dentre os doentes (dp)* 3 , 7 4a ( 2 , 8 5 ) 3 , 7 4a ( 2 , 2 7 ) 0 , 5 9 2 6 * *
Crianças com ceod = 0 (%) 4 5 , 0 5a 5 6 , 6 1b 0 , 0 0 2 1
Crianças com ceod > 3 (%) 2 4 , 0 0a 2 0 , 7 0a 0 , 2 9 4 0
Índice de cuidados – dentição decídua (%) 5 2 , 0 0a 7 6 , 3 0b < 0,0001
CPOD (dp)* 1 , 5 3a ( 2 , 2 3 ) 1 , 0 0b ( 1 , 6 3 ) 0 , 0 0 1 3 * *
CPOD dentre os doentes (dp)* 3 , 3 7a ( 2 , 1 8 ) 2 , 9 3a ( 2 2 7 ) 0 , 1 7 6 1 * *
Crianças com CPOD = 0 (%) 5 4 , 6 4a 6 5 , 7 0b 0 , 0 0 3 0
Crianças com CPOD > 3 (%) 2 1 , 1 0a 2 , 9 0b 0 , 0 0 5 1
Índice de cuidados – dentição permanente (%) 5 3 , 8 0a 6 3 , 0 0b 0 , 0 1 0 5
P revalência de cárie (ceod e CPOD > 0) 7 4 , 5 0a 6 1 , 2 0b 0 , 0 0 0 1
Crianças livres de cárie (ceod e CPOD = 0) (%) 2 5 , 5 0a 3 8 , 8 0b 0 , 0 0 0 1
Índice de cuidados (%) 5 2 , 8 0a 7 1 , 2 0b < 0,0001
N ú m e ros seguidosde letras diferentes na horizontal diferem entre si com significância de 5%.
* Desvio padrão.
** Para testar as médias ceod e CPOD utilizou-se o Mann-Whitney test. 
Os demais valores de p foram calculados pelo qui-quadrado.
H o ffmann RHS et al. 5 2 6
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004
s e n t a ram experiência de cárie na dentição per-
m a n e n t e, sendo que esse resultado ficou mais
próximo ao valor encontrado nos escolare s
com experiência de cárie do ensino pri vado de
Rio Claro (2,93). 
De ve - s e, entre t a n t o, considerar que as c ri a n-
ças de escolas públicas com experiência de cá-
rie apre s e n t a ram um índice ainda mais eleva-
do (3,37), denotando maior severidade da d o e n-
ça nessas cri a n ç a s, sendo importante que ou-
t ros índices também sejam utilizados dura n t e
o planejamento, pois seria de fundamental im-
p o rtância que se reduzisse não apenas a média
de dentes com cári e, mas também neste gru p o
com experiência de cári e, bem como se aum e n-
tasse a proporção de indivíduos livres de cári e.
Esse enfoque encontra justificativa teórica no
fenômeno da polari z a ç ã o, segundo o qual cer-
ca de 25,00% dos indivíduos concentram apro-
ximadamente 75,00% dos dentes com pre va-
lência de cárie 1 2. 
Co n s i d e rando os escolares de 5 a 12 anos,
os va l o res de pre valência de cárie deste estudo
f o ram abaixo dos encontrados nos escolare s
tanto do ensino público (67,50%) como do pri-
vado (54,50%) da Cidade do México 2 0, sendo
as diferenças estatisticamente significantes em
ambos os estudos.
Enfatiza-se que tanto na dentição decídua
quanto na perm a n e n t e, considerando o gru p o
de crianças com maior experiência de cári e
(ceod ou CPOD maior que três), não houve di-
f e rença na média destes índices entre os esco-
l a res do ensino público e part i c u l a r, denotan-
do que a seve ridade da cárie foi semelhante em
ambos os gru p o s. Fato este importante na oca-
sião em que forem traçadas estratégias de pla-
n e j a m e n t o.
Ao se discriminar o tipo de escola, fora m
ve rificadas diferenças estatisticamente signifi-
c a t i vas do CPOD, sendo maior nos estudantes
do ensino público, discordando dos achados
de Cangussu et al. 9 e Na rvai et al. 1 2, apesar da
a m o s t ra desses estudos terem sido bem maio-
res do que a de Rio Claro. Sob o aspecto de
componentes do índice, não houve discord â n-
cia entre os estudos, predominando o compo-
nente obturado em estudantes de estabeleci-
mentos pri vados e o componente cariado nos
estudantes dos estabelecimentos públicos, re-
forçando assim a diferença de acesso a cuida-
dos em saúde bucal nesses estudantes.
Constatou-se um Índice de Cuidados eleva-
do na dentição decídua, sendo maior na re d e
p ri vada (76,30%) do que na pública (52,00%).
Ambos os resultados foram mais elevados do
que os dados observados na Grã Bre t a n h a
(13,20%) 2 6 e no ensino público de Bl u m e n a u ,
Santa Ca t a rina (16,80%) 1 1, em escolares aos
cinco anos de idade. 
Na dentição permanente, o Índice de Cuid a-
dos nas crianças da rede particular de ensino
de Rio Claro, foi de 63,00% e 53,80% na públi-
ca, sendo ambos os va l o res abaixo dos re l a t a-
dos por Cangussu et al. 9 em Sa l vador (71,40%
e 57,70%, re s p e c t i vamente), mas acima do re-
sultado encontrado nos escolares de 6 a 12
anos em Dom Aq u i n o, por Mo rais et al. 2 5, cujo
valor foi de 11,60%. Nos escolares de 7 a 12
anos da rede pública de Ara ra q u a ra 4, o Índice
de Cuidados mostrou-se mais eleva d o, va ri a n-
do de 70,90% a 90,80%. 
Assim, os dados deste estudo de Rio Claro,
São Pa u l o, confirm a ram que o Índice de Cu i d a-
dos é importante não só para o planejamento
de estra t é g i a s, como também sendo um im-
p o rtante indicador dos serviços de saúde, pois
refletem os cuidados re s t a u ra d o res para os in-
divíduos com necessidade de tratamento 2 6.
Co n s i d e rando o tipo de ensino, o Índice de
Cuidados também foi sensível para discri m i n a r
os diferentes gru p o s, refletindo que as cri a n ç a s
com menor acesso aos cuidados em saúde bu-
cal pertenciam a setores economicamente me-
nos favo re c i d o s.
C o n c l u s õ e s
As diferenças encontradas neste estudo são
consistentes com achados das litera t u ras na-
cional e internacional, salientando que com
base nos resultados para o tipo de escola, a ex-
p e riência de cárie e necessidade de tra t a m e n t o
f o ram maiores nas crianças que fre q ü e n t a va m
escolas públicas, ressaltando as limitações des-
te presente estudo quanto à utilização da va-
ri á vel tipo de escola como indicador de níve l
s ó c i o - e c o n ô m i c o.
Ad q u i rir um conhecimento detalhado da
d i s t ribuição da cárie e seus determinantes b i o-
psicossociais é o passo inicial e indispensáve l
p a ra o planejamento de pro g ramas em saúde
bucal. Assim, incluir va ri á veis relacionadas ao
n í vel sócio-econômico torna-se fundamental,
bem como a utilização de outros índices e in-
d i c a d o res que não apenas o ceod e o CPOD.
NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE 5 2 7
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):522-528, mar- a b r, 2004
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A g r a d e c i m e n t o s
Os autores agradecem a todos que autori z a ram que
os exames fossem re a l i z a d o s, aos coord e n a d o res de
saúde bucal dos municípios, ciru rgiões-dentistas e
a u x i l i a res que contri b u í ram para que esta pesquisa
fosse realizada. Em especial à ciru rgiã dentista Ro-
b e rta Da l c i c o, pelas suas importantes contri b u i ç õ e s.
À bibliotecária Ma rilene Gi rello pelo auxílio nas cor-
reções das referências bibliográficas.
C o l a b o r a d o re s
R. H. S. Hoffmann contribuiu com a idéia original do
tema, revisão bibliográfica, intro d u ç ã o, discussão dos
resultados e redação final do art i g o. S. Cy p riano par-
ticipou da realização da metodologia, análise e dis-
cussão dos re s u l t a d o s. M. L. R. Sousa colaborou na
c o o rdenação do tra b a l h o, discussão dos resultados e
e l a b o ração das conclusões. R. S. Wada participou do
planejamento da pesquisa, análise dos resultados e
e l a b o ração das conclusões.
R e s u m o
O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre ti-
po de escola, como medida de condição sócio-econô-
mica e a pre valência de cárie em pré-escolares e esco-
l a res de Rio Claro, São Pa u l o, com água fluore t a d a . Os
dados obtidos são secundários e a amostra foi de 888
e s c o l a res de 5 a 12 anos dos ensinos público e part i c u-
l a r. A experiência de cárie foi medida por meio dos ín-
dices ceod e CPOD 1, além do Índice de Cu i d a d o s . Em-p regou-se os testes qui-quadrado e Ma n n - W h i t n e y
com significância de 5%. Aos cinco anos, o ceod foi de
2,50 e 42,20% não apre s e n t a ram experiência de cárie.
Aos 12 anos, o CPOD foi de 2,70 e 28,90% estavam li-
v res de cárie. A pre valência de cárie nas crianças de es-
colas públicas foi maior do que nas part i c u l a re s ,s e n-
do re s p e c t i vamente de 74,50 e 61,20% (p < 0,0001), a s-
sim como os índices ceod e CPOD (p < 0,05). O Índice
de Cuidados foi maior nas crianças do ensino part i c u-
lar (71,20%) do que nas do ensino público (52,80%).
En c o n t rou-se uma maior experiência de cárie nos es-
c o l a res do ensino público e assim a va r i á vel tipo de es-
cola foi sensível para discriminar diferentes condições
de saúde bucal, sugerindo-se que outras va r i á ve i s
também sejam ava l i a d a s .
Saúde Bu c a l ; Classe Social; Cárie De n t á r i a ; Í n d i c e
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Recebido em 02/Ju n / 2 0 0 3
Versão final re a p resentada em 29/Ago/2003
Ap rovado em 15/Se t / 2 0 0 3

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