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O autor deste livro e a editora empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelo autor até a data de fechamento do livro. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências, as atualizações legislativas, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre os temas que constam do livro, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as informações contidas no texto estão corretas e de que não houve alterações nas recomendações ou na legislação regulamentadora. Fechamento desta edição: 09.04.2021 O Autor e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Atendimento ao cliente: (11) 5080-0751 | faleconosco@grupogen.com.br Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2021 by Editora Forense Ltda. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Travessa do Ouvidor, 11 – Térreo e 6º andar Rio de Janeiro – RJ – 20040-040 www.grupogen.com.br Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da Editora Forense Ltda. Capa: Fabricio Vale Esta obra passou a ser publicada pela Editora Forense a partir da 8ª edição. Produção digital: Ozone CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. P917d Prado, Luiz Regis Direito Penal Econômico / Luiz Regis Prado. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2021. Inclui bibliografia e índice ISBN 978-65-59-64118-5 1. Direito penal econômico – Brasil. I. Título. mailto:faleconosco@grupogen.com.br http://www.grupogen.com.br/ 21-70184 CDU: 343.37(81) Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439 Para Sonia Maria, irmã única e querida. Aos caros António José Mattos do Amaral e José Sebastião de Oliveira, amigos de toda uma vida. SOBRE O AUTOR Professor do programa de pós-graduação stricto sensu em Direito (mestrado/doutorado) da Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP). Professor titular de Direito Penal da Universidade Estadual de Maringá. Pós-doutor em Direito Penal pelas Universidades de Zaragoza (Espanha) e Robert Schuman de Strasbourg (França). Doutor e Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Doutor honoris causa em Direito pela Universidade Nacional de San Agustín (Peru). Do Ministério Público do Paraná. Parecerista. PREFÁCIO À 1.ª EDIÇÃO Un homme qui traite avec un autre homme doit être attentif et sage; il doit veiller à son intérêt, prendre les informations convenables et ne pas négliger ce qui est utile. L’office de la loi est de nous protéger contre la fraude d’autrui, mais non pas de nous dispenser de faire usage de notre propre raison. S’il en était autrement, la vie des hommes, sous la surveillance des lois, ne serait qu’une longue honteuse minorité; et cette surveillance dégénérerait elle-même en inquisition – Portalis. O tema versado nesta obra reveste-se de grande importância teórico- prática e de candente atualidade. Nada obstante, a tutela penal da atividade econômica constitui matéria árdua e complexa – eivada de tecnicismo – e de difícil apreensão, vazada com frequência em elementos normativos e normas penais em branco, com a noção de bem jurídico pouco delineada, de percepção difusa, quase inexistente. Embora admitida e, muitas vezes, necessária, a intervenção penal nesse campo se apresenta, com frequência excessiva, mais como prima ratio do que como ultima ratio, em constante fricção com os princípios da intervenção mínima e da fragmentariedade, o que de resto muitas vezes só põe em evidência o descompasso com a verdadeira missão do Direito Penal do Estado democrático e social de Direito. A própria denominação e o conceito do que vem a ser Direito Penal Econômico são equívocos e dão lugar à dúvida. De qualquer modo, com o agasalho de uma concepção relativamente ampla de Direito Penal Econômico, há certa univocidade temática, ainda que não científica. Assim considerado, o Direito Penal Econômico visa à proteção da atividade econômica presente e desenvolvida na economia de livre mercado. Integra o Direito Penal como um todo, não tendo nenhuma autonomia científica, mas tão somente metodológica ou didático- pedagógica, em razão da especificidade de seu objeto de tutela e da natureza da intervenção penal. Encontra-se, portanto, informado e submetido, como toda construção jurídico-penal, a seus princípios e categorias dogmáticas. O caráter, fundamentalmente, supraindividual e o conteúdo econômico-empresarial dos bens jurídicos protegidos não são questionados. Em certos pontos, aparecem fortes componentes de índole individual, ainda que em estreita relação com os interesses econômicos, genericamente considerados. A específica problemática derivada da matéria objeto deste estudo lógico-sistemático vai desde os delitos contra a ordem econômica (Leis 8.137/90 e 8.176/91), perpassando os delitos contra as relações de consumo (Leis 8.078/90 e 8.137/90), contra o sistema financeiro nacional, sigilo das operações de instituições financeiras e contra as finanças públicas (Lei 7.492/86, Lei Complementar 105/2001 e Código Penal), contra a ordem tributária, e de contrabando e descaminho (Lei 8.137/90 e Código Penal), até, finalmente, terminar com o exame dos delitos contra o sistema previdenciário (Código Penal). No trato da matéria, busca-se apenas veicular de modo claro e objetivo as características científicas essenciais de cada tipo penal de injusto, após as considerações gerais. Isso para facilitar sua apreensão e utilização racional, como instrumento adequado ao conhecimento dogmático e jurisprudencial, pelos profissionais e estudantes de Direito. Bem por isso, não são aventadas questões de ordem político-criminal. Por derradeiro, como que para evitar a criação de um estado de inquisição leiga, conforme o sábio asserto de Portalis, convém advertir que, na seara da criminalidade econômica, deve a intervenção penal fazer-se tão somente de forma cuidadosa, tecnicamente criteriosa e seletiva, sempre em consonância com os ditames norteadores do Direito Penal moderno e democrático. Maringá, outono de 2004. O AUTOR PRÓLOGO À 2.ª EDIÇÃO El Prof. Dr. Luiz Regis Prado no necesita de ninguna presentación, como tampoco la precisa la obra que ahora publica, ya que uno y otra son sobradamente conocidos. Luiz Regis Prado es un penalista que ha alcanzado ya un elevado y, sin duda, merecido prestigio, y que ocupa – también sin la menor Duda – una posición de vanguardia en la Ciencia del Derecho Penal brasileña. Con su copiosa – y, por supuesto, siempre rigurosa y profunda – producción científica, ha contribuido decisivamente a la renovación de la Ciencia jurídico-penal en el Brasil y, con ello, ha elevado su nivel a la altura de dogmáticas jurídico-penales que, como es el caso de la española – con la cual el Prof. Dr. Luiz Regis Prado mantiene desde hace ya mucho tiempo un permanente diálogo e intercambio–, pueden considerarse en todos los sentidos como las más avanzadas y depuradas del momento histórico en que vivimos. La obra tampoco precisa de presentación, pues representa la 2.ª edición de su ya difundido y ampliamente conocido “Direito Penal econômico”, cuya primera edición publicó esta misma Editora Revista dos Tribunais en 2004. Si acaso, esta segunda edición nos da la ocasión de recordar que con ella el Prof. Dr. Luiz Regis Prado pone de manifiesto una vez más su permanente preocupación y su decididoafán por actualizar y poner al día en todos sus aspectos las materias fundamentales que él trata en sus obras, para evitar que las mismas se queden desfasadas en el devenir histórico del Derecho Penal. Dicho esto, sin embargo, no he de ocultar la gran satisfacción y la alegría que me proporciona el hecho de poder escribir este breve prólogo a la 2.ª edición del Direito Penal Econômico de Luiz Regis Prado, y ello en razón de lo que representan para mí tanto el autor como la obra. Un día del mes de enero del ya lejano año de 1990, bajo una lluvia torrencial, Luiz Regis Prado llegaba a Zaragoza para llevar a cabo aquí una estancia de investigación posdoctoral junto a y bajo la dirección de mi maestro el Prof. Dr. José Cerezo Mir, y a solicitud de éste yo fui al aeropuerto de la ciudad para recibir a quien aún no conocía personalmente, para darle la bienvenida y para trasladarlo a la que iba a ser su residencia durante su estancia científica en Zaragoza. En cierto modo, todavía me invade un cierto desasosiego cuando recuerdo la circunstancia de que al estar yo en aquélla época absolutamente centrado y entregado a la preparación de los concursos que había convocados para optar a Cátedras de Derecho Penal en España, el tiempo disponible por mí, casi inexistente, no me permitió mantener con Luiz Regis más que una relación apenas circunscrita a los esporádicos momentos en que coincidíamos en la Facultad y además prácticamente limitada al aspecto o al mundo académicos. Cuando quedé liberado de aquella carga, al obtener en noviembre de aquel año de 1990 la segunda Cátedra de Derecho penal de la Universidad de Zaragoza, el tiempo de estancia de Luiz Regis aquí se había extinguido, y ya no fue más posible intensificar nuestra relación personal en el modo en que tanto a mí, como también a él, nos hubiera gustado mantener y cultivar desde aquel primer día. Afortunadamente, aquella época no representó más que un simple aplazamiento, motivado por las circunstancias descritas, del establecimiento de una relación tan intensa y estrecha como la que hemos ido trabando ambos con el paso del tiempo y aun a pesar de la distancia que nos separa, que sólo es geográfica, pues en el plano académico y en la esfera del afecto personal esa distancia es completamente inexistente. En el primero de los ámbitos mencionados, los lazos que nos unen a Luiz Regis y a mí son los propios de la pertenencia a un mismo tronco científico y metódico, pues por intermedio del Prof. Dr. José Cerezo Mir, nuestro común – y para los dos, tan querido – maestro, ambos nos hemos adscrito a la filosofía y al insuperable método de la doctrina de la acción finalista, fruto de lo cual, en lo que concierne a Luiz Regis Prado, es su armonioso y profundo Curso de Derecho Penal, Parte General, que ya ha llegado en Brasil a su 6ª edición en 2006, y que está llamado a adquirir ahí el valor y la jerarquía de lo “clásico” en el campo de las obras sistemáticas fundamentales del Derecho Penal. Y si esto es así, no hay que olvidar sus otras muchas relevantes y rigurosas investigaciones y publicaciones, entre las que me parece digno de mención en este lugar – y así de claro debo de decirlo – su “monumental” Curso de Derecho Penal, Parte Especial, dividido en tres tomos que también han alcanzado, cada uno de ellos, varias ediciones que lo mantienen siempre actualizados, que amplían progresivamente sus contenidos, y del cual se puede decir sin exageración alguna que, hoy, constituye la principal y exhaustiva fuente de conocimiento del Sistema de la Parte Especial del Derecho Penal brasileño, tanto para la teoría como para la práctica. Al margen de nuestras inquietudes comunes en lo científico, uno de los acontecimientos más importantes de mi vida académica – cuyas raíces se hunden en las estrechas y excelentes relaciones científicas existentes entre Luiz Regis Prado y yo – lo representa el hecho de que sus dos discípulas más cualificadas, las hermanas Erika y Giselle Mendes de Carvalho, hayan realizado sus magníficas e incomparables tesis doctorales bajo mi dirección en la Universidad de Zaragoza, tras cuatro años de fructíferas estancias de investigación por parte de cada una de ellas, que culminaron con un éxito que desborda mi capacidad de descripción de los acontecimientos con la precisión y con la justicia que merecen. Para mí, pues, que he hecho de la actividad académica universitaria y del cultivo de la Ciencia del Derecho Penal prácticamente “un modo de vivir”, la relación científica que mantengo con Luiz Regis Prado, el poder decir de él que es mi hermano científico, y además el poder compartir con él el magisterio de Erika y de Giselle Mendes, que sin duda están llamadas a ocupar posiciones de élite en la Ciencia del Derecho Penal, es algo que no puede hacerme sentir ninguna otra cosa que no sean el más inmenso de todos los honores y la satisfacción y el orgullo más profundos y reconfortantes. Pero tan importante, o más – y yo diría más – que esa relación estrictamente académica y científica, es la relación personal de amistad que hemos forjado Luiz Regis Prado y yo a lo largo del tiempo transcurrido desde aquella su marcha – in corpore, sed non in spiritu – de Zaragoza. Después de un tiempo de relaciones por correspondencia y en la distancia, durante el cual sólo habíamos coincidido esporádicamente en algunos Congresos, en agosto de 1998 Luiz Regis me invitó a impartir unas Lecciones de Derecho Penal Económico en su Curso de Maestría en Derecho Penal de la Universidad Estatal de Maringa y en calidad de Profesor visitante, curso que posteriormente he vuelto a visitar en más ocasiones. Al margen de lo estrictamente académico, con aquella primera entrada mía al Brasil, Luiz Regis me proporcionó la posibilidad de conocer la inmensidad y la belleza naturales de tan gran país, de sentir la calidez de sus gentes, y de entablar nuevas relaciones académicas y personales con otros penalistas brasileños, pero sobre todo me brindó la oportunidad de disfrutar de su generosa hospitalidad, de conocer mejor nuestras cosmovisiones y nuestros modos de sentir la vida hasta en lo cotidiano, y, en definitiva, de consolidar entre ambos una profunda, fiel y, por esto, bella amistad cuyo estado ya no es otro que el coronado por la desinteresada e inquebrantable fidelidad aristotélica. A ello han contribuido sin duda nuestras interminables charlas sobre todos los temas imaginables al tiempo de compartir una mesa con exquisitas viandas de bacalao, o con las jugosas e incomparables carnes de las churrasquerías brasileras, siempre regadas con excelentes y finos caldos de vid, o al tiempo de saborear un vino de Oporto envueltos por la tranquilidad y la calma de las templadas noches de Maringa. En fin, que los iniciales contactos académicos que están en el origen de nuestra relación, se han convertido en el medio a través del cual Luiz Regis Prado y yo hemos alcanzado una amistad personal de la que en todo momento soy un feliz y orgulloso portador. Así quiero manifestarlo en este prólogo a su obra, que escribo con el mayor gusto y sentimiento. Algo he de decir, pues, de la obra que Luiz Regis Prado quiere y me encomienda que presente. En su Derecho Penal Económico, Luiz Regis Prado combina y entrelaza de un modo completamente armonioso los planos teórico, didáctico y práctico de la Ciencia del Derecho Penal en el ámbito de los delitos económicos. Por esa razón, esta obra tiene que ser vista y calificada sin duda alguna como un auténtico “modelo de utilidad” para la aprehensión primero, y para su aplicación, después, de las complejas estructuras de los tipos del Derecho Penal Económico y de los elementos – en su mayor parte de carácter normativo – que configuran a éstos. Tal armonía la consigue el autor gracias a la destreza y a la precisión con que proyecta el sistema categorial y conceptual de la teoría del delito a los tipos singulares del Derecho Penal Económico, gracias a la brillantez y a la claridad de su exposición, y gracias a la inserción de casos y de doctrinajurisprudencial con que complementa siempre el análisis y la exposición de cada uno de los tipos o grupos de tipos. En este sentido, pues, y como queda dicho, la obra merece la calificación sugerida de un auténtico “modelo de utilidad” para el teórico, para el estudiante y para el práctico del Derecho Penal Económico. Desde el punto de vista teórico, que sin menosprecio alguno de las otras dimensiones que acabo de describir es el que en realidad a mí más me interesa, el Derecho Penal Económico de Luiz Regis Prado me merece el juicio más favorable, y no precisamente en primer término por su enfoque metodológico dogmático, dado que es obvio que aquí nuestra coincidencia es completa, al ser aquél enfoque el que corresponde al concepto personal de lo injusto de acuerdo con los postulados finalistas. La razón última para tal juicio favorable me la proporcionan las premisas axiológicas, o sea político criminales, que Luiz Regis Prado fija ya al inicio de la obra, en sus consideraciones generales sobre el orden económico y su protección penal, que luego desarrolla y concreta del modo más escrupulosamente coherente para cada grupo de tipos delictivos del Derecho Penal Económico. Como es sabido, el Derecho Penal Económico es ante todo una respuesta política a las exigencias de las sociedades de nuestro tiempo, que son sociedades evolucionadas, y que aún tendrán que experimentar en el futuro nuevos ciclos evolutivos, hacia la consecución de la emancipación del hombre, o sea hacia el logro de la verdadera libertad y de la auténtica igualdad materiales de todos y cada uno los hombres. Esto sólo ha de ser posible si el Estado reconoce la existencia de los bienes colectivos demandados por la sociedad y, desde luego, también por los individuos que la integran, si aquél utiliza luego su poder para la gestión y desarrollo de tales bienes, y si finalmente provee tanto a ellos como a los resultados progresivos y evolutivos de su gestión, de los medios de protección adecuados y necesarios; unos medios de protección entre los que también ha de tener su lugar el Derecho Penal. A mi juicio, la función política fundamental que tienen que desempeñar los bienes colectivos, que al ser protegidos por el Derecho alcanzan el rango de bienes “jurídicos”, es una consistente en favorecer la reducción de las desigualdades sociales, que es la tarea fundamental que compete al Estado social de Derecho, y de ese modo posibilitar un uso y aprovechamiento racionales e igualitarios de los bienes jurídicos individuales. El Derecho Penal Económico moderno es el Derecho Penal propio del Estado social de Derecho, y su función específica es la protección de bienes jurídicos colectivos, o sea la protección de las condiciones de posibilidad de la libertad material y de su ejercicio igualitario por todos y cada uno de los hombres. Esta definición programática de la función y de los contenidos del moderno Derecho Penal Económico que acabo de describir en apretada síntesis, y que he expuesto con más detalle en mi ensayo “Prolegómenos para la lucha por la modernización y expansión del Derecho penal y para la crítica del discurso de resistencia”, el cual ha sido exquisita y precisamente traducido al portugués por mi admirada y querida discípula brasileña Erika Mendes de Carvalho, y publicado en Brasil por Sergio Antonio Fabris Editor, en Porto Alegre y en el año 2005, es coincidente con la asumida decididamente por Luiz Regis Prado ya al inicio de su obra, donde expresamente sienta las premisas de que el Derecho Penal Económico se orienta a la protección de bienes jurídicos colectivos de acuerdo con los postulados del Estado social de Derecho. Esta premisa la desarrolla y concreta luego el autor de un modo tenaz y coherente en los distintos grupos de tipos delictivos económicos, para los cuales siempre busca un bien jurídico colectivo como objeto de protección. Con esto se opone a las tendencias del que yo he denominado como “discurso de resistencia a la modernización del Derecho Penal”. Este discurso pretende condicionar toda protección penal de los bienes jurídicos colectivos a la exigencia de que la acción produzca al menos un resultado de peligro para algún bien jurídico individual, exigencia que según ese discurso, debería figurar ya en los tipos delictivos como un elemento estructural de los mismos. Con ello, el discurso de resistencia aboca en sus resultados a una completa liquidación del Derecho penal económico, pues unos tipos así concebidos no puede ser nada distinto, en su resultado, a los tipos de peligro para bienes individuales, mientras que el supuesto bien jurídico colectivo que ese discurso reconoce – sólo retóricamente – como protegido junto al individual, queda convertido en realidad en una mera circunstancia de riesgo de la acción – y, por tanto, del desvalor de la acción – para el bien jurídico individual. Contra esto, y posicionándose así claramente en el mejor camino del discurso favorable a la modernización del Derecho Penal, Luiz Regis Prado entiende con razón que los tipos del Derecho Penal Económico protegen únicamente a los bienes jurídicos colectivos correspondientes, mientras que los bienes jurídicos individuales que puedan estar ligados al colectivo, así como toda eventual pretensión de protección de aquéllos por medio del tipo penal económico, no pueden tener ningún otro lugar sistemático que no sea el de la ratio legis del tipo penal económico. Mi acuerdo con Luiz Regis Prado es completo. Podría comentar o glosar aquí algunos aspectos singulares del contenido de esta obra de Luiz Regis Prado, pero creo que ello excedería de las finalidades que debe tener la presentación de un libro ajeno, que no son otras, en mi opinión, que realzar la semblanza del autor y dar cuenta del sentido general y de la trascendencia de la obra, todo ello, claro está, a juicio del que presenta o prologa. Con lo ya escrito, creo haber cumplido con dichas finalidades. Sólo me queda, pues, para terminar, recapitular mediante una resumida síntesis, y decir así que el Derecho Penal Económico de Luiz Regis Prado constituye una obra básica y fundamental para el aprendizaje y para el conocimiento sistemático de la Parte Especial del Derecho Penal Económico brasileño, que son las condiciones previas de la posibilidad de su correcta y justa aplicación en la práctica, y que, por eso mismo, es una obra que debe ser de utilización obligada para todos cuantos de un modo u otro tengan al Derecho Penal Económico como objeto de sus actividades. Y al autor, a Luiz Regis Prado, por este nuevo producto de su inteligencia y de su riguroso y cuidado quehacer científico, sólo me resta darle las gracias y expresarle mi alegría y mi orgullo más sinceros y sentidos: ¡Felicidades y enhorabuena, amigo mío! En María de Huerva (Zaragoza), a 9 de junio de 2007. LUIS GRACIA MARTÍN Catedrático de Derecho penal Universidad de Zaragoza (España) LISTA DE ABREVIATURAS a.C – antes de Cristo ACR – Apelação criminal ACv – Apelação civil ADIn – Ação direta de inconstitucionalidade ADV – Advocacia Dinâmica AI – Agravo de instrumento Ap. – Apelação APN – Ação penal APO – Ação penal originária AR – Agravo regimental art. – Artigo atual. – atualizada aum. – aumentada Bol. IBCCrim – Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Bol. IMPP – Boletim do Instituto Manoel Pedro Pimentel CC – Código Civil CC – Conflito de Competência c/c – combinado com C.Crim – Câmara criminal CDC – Código de Defesa do Consumidor CE – Código Eleitoral CF – Constituição Federal cf. – conferir cit. – citado(a) CJ – Conflito de jurisdição CM – Conselho da Magistratura Coord. – Coordenador Cor. Par. – Correição parcial CP – Código Penal CPC – Código de Processo Civil CPCrim – Cuadernos de Politica CriminalCPJ – Cuadernos de Derecho Penal CPP – Código de Processo Penal Crim. – Criminal CT – Carta testemunhável CTN – Código Tributário Nacional Dec. – Decreto Den. – Denúncia Des. – Desembargador Dir. – Diretor DJU – Diário da Justiça da União DOU – Diário Oficial da União DP – Direito Penal ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente ed. – edição ED – Embargos declaratórios EI – Embargos infringentes EJR – Ementário de Jurisprudência Recente do Tribunal de Justiça de São Paulo EJTJRJ – Ementário de Jurisprudência do Tribunal de Justiçado Rio de Janeiro EOAB – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil ESD – Enciclopédia Saraiva do Direito EV – Exceção da Verdade ExSusp – Exceção de Suspeição Extr. – Extradição fasc. – fascículo HC – Habeas corpus HSE – Homologação de sentença estrangeira IBCCrim – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Inq. – Inquérito policial j. – julgado JC – Jurisprudência catarinense JEC – Juizados Especiais Criminais JM – Jurisprudência mineira JSTF – Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal JSTJ – Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça Justitia – Revista da Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo e Associação Paulista do Ministério Público JUTACRIM- SP – Julgados do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo JUTARS – Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul LCH – Lei de Crimes Hediondos LCP – Lei das Contravenções Penais Min. – Ministro MP – Ministério Público MS – Mandado de segurança mv. – maioria dos votos n. – Número NEJ – Nueva Enciclopédia Jurídica Nov. – Novíssimo OAB – Ordem dos Advogados do Brasil ob. – obra op. – opúsculo O. Esp. – Órgão Especial Org. – Organizador p. – página PE – Parte Especial PExtr. – Pedido de extradição PG – Parte Geral PI – Petição inicial PJ – Paraná Judiciário PT – Petição QC – Queixa-crime RA – Recurso de agravo RAJFE – Revista da Associação dos Juízes Federais do Brasil RBCCrim – Revista Brasileira de Ciências Criminais RBCDP – Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal RC – Reclamação RCCR – Recurso Criminal RCr-SE – Recurso criminal em sentido estrito RCJ – Revista de Ciências Jurídicas RCP – Revista de Ciências Penais RDA – Revista de Direito Administrativo RDC – Revista de Direito do Consumidor RDJAPMP – Revista de Doutrina e Jurisprudência da Associação Paulista do Ministério Público RDM – Revista de Direito Mercantil RDP – Revista de Direito Público RDP – Revista de Direito Penal RDPC – Revista de Derecho Penal y Criminologia REDB – Repertório Enciclopédico do Direito Brasileiro rev. – revisada RF – Revista Forense RFDSP – Revista da Faculdade de Direito de São Paulo RFDUF – Revista da Fac. de Direito da Universidade Federal do Paraná RIDP – Revue Internationale de Droit Penal RIDPP – Rivista Italiana di Diritto e Procedura Penale RIL – Revista de Informação Legislativa RJ – Revista Jurídica RJD – Revista de Jueces para la Democracia RMPRS – Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul RO – Recurso Ordinário RP – Revista de Processo RSCDPC – Revue de Science Criminelle et de Droit Pénal Compare RSE – Recurso em sentido estrito RT – Revista dos Tribunais RTFP – Revista Tributária e de Finanças Públicas RTJ – Revista Trimestral de Jurisprudência S – Súmula s.d – sem data SE – Sentença estrangeira ss. – seguintes STF – Supremo Tribunal Federal STJ – Superior Tribunal de Justiça t. – tomo T. – Turma TA – Tribunal de Alçada TACRIM – Tribunal de Alçada Criminal TACrimSP – Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo TAMG – Tribunal de Alçada de Minas Gerais TAPR – Tribunal de Alçada do Paraná TARJ – Tribunal de Alçada do Rio de Janeiro TARS – Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul TFR – Tribunal Federal de Recursos TJ – Tribunal de Justiça TJMG – Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJPR – Tribunal de Justiça do Paraná TJRJ – Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJRS – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul TJSC – Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJSP – Tribunal de Justiça de São Paulo TP – Tribunal Pleno trad. – tradutor TRF – Tribunal Regional Federal v. – volume VCP – Verificação de cessação de periculosidade v.g. – verbi gratia OBRAS DO AUTOR Bem jurídico-penal e Constituição. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. Comentários ao Código Penal. 11. ed. São Paulo: RT, 2017. Crimes contra o ambiente. 2. ed. São Paulo: RT, 2001. Curso de Direito Penal brasileiro. Parte geral. 16. ed. São Paulo: RT, 2018. Curso de Direito Penal brasileiro. Parte especial. 16. ed. São Paulo: RT, 2018. Direito de execução penal. 4. ed. São Paulo: RT, 2017 (Coord.). Direito Penal. Parte geral. 2. ed. São Paulo: RT, 2008. v. 1. Direito Penal. Parte especial. 2. ed. São Paulo: RT, 2008. v. 2, 3 e 4. Direito Penal contemporâneo: estudos em homenagem ao Professor José Cerezo Mir. São Paulo: RT, 2007 (Coord.). Direito Penal do Ambiente. 6. ed. São Paulo: RT, 2017. Direito Penal Econômico. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. Direito Processual Penal. Parte I. São Paulo: RT, 2009, v. 1 (Coord.). Direito Processual Penal. Parte II. São Paulo: RT, 2009, v. 2 (Coord.). Elementos de Direito Penal. Parte geral. São Paulo: RT, 2005, v. 1. Elementos de Direito Penal. Parte especial. São Paulo: RT, 2005, v. 2. Execução penal. Processo e execução penal. São Paulo: RT, 2009, v. 3 (Coord.). Falso testemunho e falsa perícia. 2. ed. São Paulo: RT, 1994. Leis Penais especiais. Parte I. Direito Penal. São Paulo: RT, 2009. v. 5 (Coord.). Leis Penais especiais. Parte II. Direito Penal. São Paulo: RT, 2009. v. 6 (Coord.). Multa penal: doutrina e jurisprudência. 2. ed. São Paulo: RT, 1993. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. São Paulo: RT, 2011 (Coord.). Teorias da imputação objetiva do resultado: uma aproximação crítica a seus fundamentos. 2. ed. São Paulo: RT, 2006. Coautoria com Érika Mendes de Carvalho (Série Ciência do Direito Penal Contemporânea, v. 1). Tratado de Direito Penal brasileiro. São Paulo: RT, 2017. v. 4. SUMÁRIO PARTE I DELITOS CONTRA A ORDEM ECONÔMICA LEIS 8.137/1990 E 8.176/1991 Seção I – Delitos contra a Ordem Econômica. Lei 8.137/1990 (artigos 4.º a 6.º) 1.1. Considerações gerais 1.2. Artigo 4.º da Lei 8.137/1990 1.3. Artigos 5.º e 6.º da Lei 8.137/1990 Seção II – Delitos contra a Ordem Econômica. Lei 8.176/1991 (artigos 1.º e 2.º) 2.1. Artigo 1.º da Lei 8.176/1991 2.2. Artigo 2.º da Lei 8.176/1991 PARTE II DELITOS CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO LEIS 8.078/1990 E 8.137/1990 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/11_part01.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/11_part01.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/11_part01.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml#h1-2https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml#h1-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml#h2-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml#h2-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/14_part02.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/14_part02.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/14_part02.xhtml Seção I – Delitos contra as Relações de Consumo. Lei 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor (artigos 61 a 74) 1.1. Considerações gerais 1.2. Artigo 63 da Lei 8.078/1990 1.3. Artigo 64 da Lei 8.078/1990 1.4. Artigo 65 da Lei 8.078/1990 1.5. Artigo 66 da Lei 8.078/1990 1.6. Artigo 67 da Lei 8.078/1990 1.7. Artigo 68 da Lei 8.078/1990 1.8. Artigo 69 da Lei 8.078/1990 1.9. Artigo 70 da Lei 8.078/1990 1.10. Artigo 71 da Lei 8.078/1990 1.11. Artigo 72 da Lei 8.078/1990 1.12. Artigo 73 da Lei 8.078/1990 1.13. Artigo 74 da Lei 8.078/1990 Seção II – Delitos contra as Relações de Consumo. Lei 8.137/1990 (art. 7.º) 2.1. Artigo 7.º da Lei 8.137/1990 PARTE III DELITOS CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, O SIGILO DAS OPERAÇÕES DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E FINANÇAS PÚBLICAS, DELITOS CONTRA O MERCADO DE CAPITAIS Seção I – Delitos contra o Sistema Financeiro Nacional. Lei 7.492/1986 (artigos 1.º a 23) 1.1. Considerações gerais 1.2. Artigo 2.º da Lei 7.492/1986 1.3. Artigo 3.º da Lei 7.492/1986 1.4. Artigo 4.º da Lei 7.492/1986 1.5. Artigo 5.º da Lei 7.492/1986 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-11 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml#h1-13 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml#h2-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/17_part03.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/17_part03.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/17_part03.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/17_part03.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-5 1.6. Artigo 6.º da Lei 7.492/1986 1.7. Artigo 7.º da Lei 7.492/1986 1.8. Artigo 8.º da Lei 7.492/1986 1.9. Artigo 9.º da Lei 7.492/1986 1.10. Artigo 10 da Lei 7.492/1986 1.11. Artigo 11 da Lei 7.492/1986 1.12. Artigo 12 da Lei 7.492/1986 1.13. Artigo 13 da Lei 7.492/1986 1.14. Artigo 14 da Lei 7.492/1986 1.15. Artigo 15 da Lei 7.492/1986 1.16. Artigo 16 da Lei 7.492/1986 1.17. Artigo 17 da Lei 7.492/1986 1.18. Artigo 18 da Lei 7.492/1986 1.19. Artigo 19 da Lei 7.492/1986 1.20. Artigo 20 da Lei 7.492/1986 1.21. Artigo 21 da Lei 7.492/1986 1.22. Artigo 22 da Lei 7.492/1986 1.23. Artigo 23 da Lei 7.492/1986 Seção II – Delitos contra o Sigilo das Operações de Instituições Financeiras. Lei Complementar 105/2001 (art. 10) Seção III – Delitos contra as Finanças Públicas. Código Penal (artigos 359-A a 359-H) 3.1. Art. 359-A do Código Penal – Contratação de operação de crédito 3.2. Artigo 359-B do Código Penal – Inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar 3.3. Artigo 359-C do Código Penal – Assunção de obrigação no último ano do mandato ou legislatura 3.4. Artigo 359-D do Código Penal – Ordenação de despesa não autorizada https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-11 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-13 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-14 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-15 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-16 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-17 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-18 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-19 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-20 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-21 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-22 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/18_chapter05.xhtml#h1-23 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/19_chapter06.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-4 3.5. Artigo 359-E do Código Penal – Prestação de garantia graciosa 3.6. Artigo 359-F do Código Penal – Não cancelamento de restos a pagar 3.7. Artigo 359-G do Código Penal – Aumento de despesa total com pessoal no último ano do mandato ou legislatura 3.8. Artigo 359-H do Código Penal – Oferta públicaou colocação de títulos no mercado Seção IV – Delitos contra o Mercado de Capitais. Lei 6.385/1976 (artigos 27-C a 27-F) 4.1. Considerações gerais 4.2. Manipulação de mercado 4.3. Uso indevido de informação privilegiada 4.4. Exercício irregular de cargo, profissão, atividade ou função 4.5. Disposições sobre a fixação da pena de multa PARTE IV DELITOS CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, DELITOS DE DESCAMINHO E CONTRABANDO LEI 8.137/1990 E CÓDIGO PENAL Seção I – Delitos contra a Ordem Tributária. Lei 8.137/1990 (artigos 1.º a 3.º) 1.1. Considerações gerais 1.2. Artigo 1.º da Lei 8.137/1990 1.3. Artigo 2.º da Lei 8.137/1990 1.4. Artigo 3.º da Lei 8.137/1990 Seção II – Descaminho e Contrabando. Código Penal (artigos 334 e 334-A) https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/20_chapter07.xhtml#h3-8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/21_chapter08.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/21_chapter08.xhtml#h4-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/21_chapter08.xhtml#h4-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/21_chapter08.xhtml#h4-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/21_chapter08.xhtml#h4-4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/21_chapter08.xhtml#h4-5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/22_part04.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/22_part04.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/22_part04.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/22_part04.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/23_chapter09.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/23_chapter09.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/23_chapter09.xhtml#h1-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/23_chapter09.xhtml#h1-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/23_chapter09.xhtml#h1-4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/24_chapter10.xhtml 2.1. Considerações gerais 2.2. Descaminho 2.3. Contrabando PARTE V DELITOS CONTRA O SISTEMA PREVIDENCIÁRIO CÓDIGO PENAL E DELITOS LICITATÓRIOS Seção I – Delitos contra a Previdência Social. Código Penal (artigos 168-A e 337-A) 1.1. Artigo 168-A do Código Penal – Apropriação indébita previdenciária 1.2. Art. 337-A do Código Penal – Sonegação de contribuição previdenciária Seção II – Delitos Licitatórios. Lei 14.133/2021 (artigo 178 da Lei 14.133/2021 e artigos 337-E a 337-P do Código Penal) 2.1. Considerações gerais 2.2. Contratação direta ilegal 2.3. Frustração do caráter competitivo de licitação 2.4. Patrocínio de contratação indevida 2.5. Modificação ou pagamento irregular em contrato administrativo 2.6. Perturbação de processo licitatório 2.7. Violação de sigilo em licitação 2.8. Afastamento de licitante 2.9. Fraude em licitação ou contrato 2.10. Contratação inidônea 2.11. Impedimento indevido 2.12. Omissão grave de dado ou de informação por projetista 2.13. Aplicação da pena de multa https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/24_chapter10.xhtml#h2-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/24_chapter10.xhtml#h2-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/24_chapter10.xhtml#h2-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/25_part05.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/25_part05.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/25_part05.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/26_chapter11.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/26_chapter11.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/26_chapter11.xhtml#h1-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-11 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/27_chapter12.xhtml#h2-13 PARTE VI DELITOS DE LAVAGEM DE CAPITAIS LEI 9.613/1998 Seção I – Delitos de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores 1.1. Considerações gerais 1.2. Artigo 1.º da Lei 9.613/1998 PARTE VII CRIME ORGANIZADO LEI 12.850/2013 Considerações Gerais Seção I – Delito de Organização Criminosa (art. 2.º da Lei 12.850/2013) 1.1. Artigo 2.º da Lei 12.850/2013 Seção II – Delitos relativos à investigação e à obtenção da prova (artigos 18 a 21 da Lei 12.850/2013) 2.1. Artigo 18 da Lei 12.850/2013 2.2. Artigo 19 da Lei 12.850/2013 2.3. Artigo 20 da Lei 12.850/2013 2.4. Artigo 21 da Lei 12.850/2013 Bibliografia Geral https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/28_part06.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/28_part06.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/28_part06.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/29_chapter13.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/29_chapter13.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/29_chapter13.xhtml#h1-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/30_part07.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/30_part07.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/30_part07.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/31_chapter14.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/32_chapter15.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/32_chapter15.xhtml#h1-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/33_chapter16.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/33_chapter16.xhtml#h2-1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/33_chapter16.xhtml#h2-2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/33_chapter16.xhtml#h2-3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/33_chapter16.xhtml#h2-4https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/34_bibliography.xhtml PARTE I DELITOS CONTRA A ORDEM ECONÔMICA LEIS 8.137/1990 E 8.176/1991 BIBLIOGRAFIA: ALMEIDA, João Batista de. 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CONSIDERAÇÕES GERAIS De primeiro, ressalte-se que o tratamento jurídico-penal da ordem econômica apresenta ingente dificuldade de apreensão, resultante do acurado tecnicismo terminológico e da relatividade e fluidez conceitual que a envolvem (instabilidade e relatividade de suas normas, em razão de variáveis político-econômicas), o que dá lugar a tipos penais altamente complexos e imprecisos.1 O conceito de ordem econômica, de natureza ambígua, como objeto da tutela jurídica, costuma ser expresso de forma estrita e ampla. Na primeira, entende-se por ordem econômica a regulação jurídica da intervenção do Estado na economia; na segunda, mais abarcante, a ordem econômica é conceituada como a “regulação jurídica da produção, distribuição e consumo de bens e serviços”.2 Essa dicotomia conceitual acaba tendo repercussão no campo do bem jurídico protegido. Destaca-se que a ordem econômica lato sensu não pode constituir-se em bem jurídico diretamente protegido (ou em sentido técnico), visto que não pode ser tido como elemento do injusto. Tão somente em sentido estrito pode ser tida como bem jurídico diretamente https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg32a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg32a5 tutelado (ou em sentido técnico), ainda que manifestado em determinado interesse da Administração.3 Na verdade, impõe reconhecer, para efeito de proteção penal, a noção de ordem econômica lato sensu, apreendida como ordem econômica do Estado, que abrange a intervenção estatal na economia, a organização, o desenvolvimento e a conservação dos bens econômicos (inclusive serviços), bem como sua produção, circulação, distribuição e consumo.4 Assim, a tutela penal se endereça às atividades realizadas no âmbito econômico,5 e, de certo modo, no empresarial. Isso porque a atividade econômica e a atividade empresarial se imbricam mutuamente, sendo certo que “o exercício de uma atividade empresarial constitui a fonte principal do domínio material sobre todo tipo de bens jurídicos envolvidos na atividade econômica, isto é, não só sobre os especificamente econômicos – v.g., a livre concorrência –, e meio-ambientais, mas também sobre outros de diferente natureza que aparecem com frequência igualmente envolvidos de um modo típico na prática de atividade econômico-empresarial [...]”.6 Tal conceito de ordem econômica acaba por agasalhar as ordens tributária, financeira, monetária e a relação de consumo, entre outros setores, e constitui um bem jurídico-penal supraindividual,7 genericamente considerado (bem jurídico categorial), o que por si só não exclui a proteção de interesses individuais.8 Além disso, em cada tipo legal de injusto há um determinado bem jurídico específico ou em sentido estrito (essencialmente de natureza metaindividual), diretamente protegido9 em cada figura delitiva. Tal concepção fundamenta em sede penal um conceito amplo de delito econômico, mas não totalizador ou amplíssimo. No Brasil, as Constituições de 1824 e a de 1891 foram omissas em relação à tutela da ordem econômica. A Carta Magna de 1934 foi a primeira a dedicar um título especial à “Ordem Econômica e Social”, que deveria ser organizada conforme os princípios da justiça e as necessidades da vida nacional. Contudo, não se mencionavam expressamente os abusos do poder econômico ou a tutela da concorrência.10 Posteriormente, a Constituição de 1937 dispôs no aritgo 13511 sobre a intervenção do Estado no domínio econômico, estabelecendo como e quando ela deveria ocorrer. Isso se deveu ao fato de que o surgimento do Estado Novo proclamou “o intervencionismo do poder público, para conciliar o bem coletivo com os direitos individuais [...]”.12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg32a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a11 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a13 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a14 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg34a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg34a5 A Constituição de 1946, no artigo 148, inserido no Título relativo à Ordem Econômica e Social, prescreveu que “A lei reprimirá toda e qualquer forma de abuso do poder econômico, inclusive as uniões ou agrupamentos de empresas individuais ou sociais, seja qual for a sua natureza, que tenham por fim dominar os mercados nacionais, eliminar a concorrência e aumentar arbitrariamente os lucros”. Em seguida, surgiu a Lei 4.137, de 10.09.1962, cujo escopo foi regular a repressão ao abuso do poder econômico. No seu artigo 2.º, descrevia um elenco de práticas consideradas formas de abuso do poder econômico, aumento arbitrário de lucros, provocação de condições monopolísticas, formação de grupo econômico em detrimento da livre deliberação dos compradores ou vendedores e exercício de concorrência desleal. Outro ponto relevante foi a criação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), com competência para aplicar a lei, investigar e reprimir os abusos do poder econômico (art. 8.º).13 A Constituição de 1967, no Título dedicado à Ordem Econômica e Social, determinava: “A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos seguintes princípios: [...] VI – repressão ao abuso do poder econômico, caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário dos lucros” (art. 157).14 A EC 1, de 17.10.1969, determinou no artigo 160: “A ordem econômica e social tem por fim realizar o desenvolvimento nacional e a justiça social, com base nos seguintes princípios: [...] V – repressão ao abuso do poder econômico, caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros; [...]”. No tocante à Constituição brasileira de 1988, estão consagradas as ideias de liberdade de iniciativa, condições de consumo, de emprego e saúde, bem como a de que o Estado possa intervir sempre que a liberdade de iniciativa não estiver sendo exercida em proveito da sociedade ou em desconformidade com os anseios sociais.15 A ordem econômica e financeira vem disciplinada de forma minudente no texto constitucional (arts. 170 a 181 da CF/1988), formando parte da denominada Constituição econômica, como marco jurídico para a ordem e o processoeconômicos,16 em que se encontram ancorados os pressupostos constitucionais dos bens jurídicos que devem ser protegidos pela lei penal.17 A expressão Constituição econômica se apresenta como categoria conceitual que, do ponto de vista histórico emerge, para caracterizar a https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg34a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a8 moderna noção de constitucionalismo que alberga um duplo aspecto. Vale dizer: ao lado da Constituição política – estatuto jurídico fundamental do poder político ou das relações entre o Estado e os cidadãos –, se posta a Constituição econômica – ordenação jurídica das estruturas e relações econômicas –, com implicação dos cidadãos e do Estado, sobretudo, em função de seu protagonismo no desenvolvimento da vida econômica, característico do Estado social de Direito (constitucionalismo econômico flexível).18 Vários são os princípios constitucionais reitores da ordem econômica previstos no artigo 170 da Constituição Federal.19 Seus fundamentos são a valorização do trabalho humano e a livre-iniciativa, de modo a assegurar o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização estatal, salvo nos casos previstos expressamente em lei.20 Têm por fim garantir a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social. Desse modo, ressalvadas as hipóteses previstas constitucionalmente, o Estado não deve intervir na atividade econômica, ou seja, apesar de legitimado para tal, está também limitado nos termos da própria Constituição. Por outro lado, a intervenção estatal direta no domínio econômico somente ocorre nos casos de relevante interesse coletivo ou imperativo de segurança nacional, conforme dispõe o artigo 173 da Carta Magna.21 Excetuados esses casos, o Estado apenas pode interferir nos termos do artigo 174 da Constituição Federal.22 Cumpre salientar que, apesar de se consagrar a iniciativa privada como um dos fundamentos da ordem econômica, devem-se priorizar os valores do trabalho humano sobre todos os demais valores da economia de mercado. Essa é uma declaração de princípio que “tem o sentido de orientar a intervenção do Estado na economia, a fim de fazer valer os valores sociais do trabalho que, ao lado da iniciativa privada, constituem o fundamento não só da ordem econômica, mas da própria República Federativa do Brasil (art. 1.º, IV, CF/198823)”.24 A eventual interferência estatal na economia, ou mesmo a exploração direta de uma atividade econômica e a possível monopolização de alguma área econômica, não a descaracteriza. A atuação do Estado visa apenas a organizar e racionalizar a vida econômica e social, impondo condicionamentos à atividade econômica.25 Na verdade, institui a https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a9 Constituição um sistema de economia mista, com as peculiaridades inerentes ao Estado social de Direito por ela consagrado. Da livre-iniciativa, direito reconhecido e titularizado por todos de explorar atividades empresariais, decorre o dever de a respeitar, mediante a imposição de sanções, no caso da prática de atos que impeçam o seu pleno exercício. Com isso, o Estado visa a tornar efetiva a permissão que ele próprio assegura a todos e, ao mesmo tempo, auferir os benefícios que espera advenham dessa livre disputa.26 Nesse diapasão, há duas formas de concorrência que o Direito busca evitar e reprimir, a fim de prestigiar a livre concorrência: a desleal e a perpetrada com abuso de poder. A primeira é apurada em nível civil e penal e envolve apenas os interesses particulares dos empresários concorrentes; a segunda é reprimida também em âmbito administrativo, pois compromete as estruturas do livre mercado, atingindo um universo muito maior de interesses juridicamente relevantes, configurando os denominados crimes contra a ordem econômica.27 Interessa, neste trabalho, a análise destes últimos, cuja repressão encontra seu fulcro na própria Constituição, que, no artigo 173, § 4.º, estabelece: “lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”.28 Ressalte-se que o poder econômico é um dado de fato inerente ao livre mercado, isto é, os agentes econômicos são necessariamente desiguais, uns mais fortes do que os outros.29 Não seria possível ignorar ou pretender a eliminação desse poder. O que o Direito pode fazer é disciplinar o seu exercício, reprimindo certas modalidades de iniciativa que ameacem ou possam ameaçar as estruturas do livre mercado, v.g., o domínio de mercados, a eliminação da concorrência ou o aumento arbitrário de lucros. Desse modo, se o empresário titular do poder econômico o exerce ao competir com os demais agentes atuantes no mesmo mercado, e lucra ou obtém vantagens de sua posição destacada, não há nada de irregular nisso. O exercício do poder econômico que não tenha e não possa ter o efeito de dominância de mercado, de eliminação da concorrência ou aumento arbitrário de lucros não é considerado abusivo e, por conseguinte, não é objeto de repressão legal. Somente quando a própria competição está em risco, configurando exercício abusivo, é que há a repressão.30 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg38a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg38a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg38a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg39a3 No contexto histórico-legislativo de repressão às condutas configuradoras de abuso do poder econômico, devem ser citadas: a Lei 8.158/1991 cujo objetivo era agilizar e dar celeridade aos procedimentos administrativos da Lei 4.137/1962, transferindo à Secretaria Nacional de Direito Econômico (SNDE), vinculada ao Ministério da Justiça, a apuração e a proposição de medidas cabíveis para a correção de comportamentos lesivos à concorrência; a Lei 8.137/1990, que define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, e a Lei 8.884, de 11.06.1994, que transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE – em Autarquia e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica. Em relação a esta última, visa-se à repressão administrativa às infrações da ordem econômica, a qual compete ao CADE, órgão que possui jurisdição em todo o território nacional. Contudo, essa jurisdição é administrativa, e não judicial.Além de buscar coibir as práticas infracionais, tem esse órgão atribuições preventivas, v.g., as relacionadas com a aprovação dos atos que possam limitar ou prejudicar a livre concorrência ou resultar dominação de mercado, como os de concentração empresarial. Merece destaque também a criação da Secretaria de Direito Econômico – SDE (art. 13 da Lei 8.884/1994) que surgiu “para suprir a necessidade de um órgão que pudesse agir de forma mais aberta, sem os limites em que se deve conter a ação de um órgão judicante como o CADE, e que viesse a intervir na ação dos agentes econômicos alertando-os, fiscalizando, propondo soluções e compromissos, levando posteriormente ao CADE as matérias sujeitas a seu julgamento”.31 A Lei 8.884/1994 foi parcialmente revogada (artigos 1.º a 85 e 88 a 93) pela Lei 12.529/2011, que transfere para o CADE “os cargos pertencentes ao Ministério da Justiça atualmente alocados no Departamento de Proteção e Defesa Econômica da Secretaria de Direito Econômico, bem como o DAS-6 do Secretário de Direito Econômico” (art. 121, parágrafo único), mas não extinguiu a referida Secretaria. Todas essas disposições constitucionais e legislativas destinam-se a combater ou atenuar o poder de controle das mais variadas formas de concentração econômica sobre os mercados, bem como tutelar a concorrência, a fim de impedir as práticas comerciais abusivas que, de algum modo, provoquem distorções nos mecanismos de mercado, acabando por incapacitá-los a realizar sua tarefa de reguladores da economia.32 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg39a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg40a3 Destaca-se, ainda, a Lei 13.874/2019, que institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabelece garantias de livre mercado. 1.2. ARTIGO 4.º DA LEI 8.137/1990 Art. 4.º Constitui crime contra a ordem econômica: I – abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas; (Redação dada pela Lei 12.529 de 2011). II – formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando: a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas; b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas; c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa (Redação dada pela Lei 12.529 de 2011). Bem jurídico e sujeitos do delito: tutelam-se a livre concorrência e a livre-iniciativa, fundamentos basilares da ordem econômica. Desse modo, as ações que colocam em perigo ou efetivamente violam essa liberdade, assegurada constitucionalmente a todos, configuram crime contra a ordem econômica. A livre concorrência vem a ser “a liberdade para competir no mercado, consistindo a concorrência na existência de diversos agentes que, num mesmo tempo e espaço, buscam um mesmo ou similar objetivo. [...]. Nesse domínio, a concorrência decorre, como consequência necessária, da liberdade de iniciativa econômica, sendo então adjetivada como ‘livre’, isto é, acessível a todos, liberta de certos obstáculos que têm por efeito impossibilitar ou dificultar sobremaneira a acessibilidade, a todos, de ofertar, num mesmo mercado, bens ou serviços iguais, similares ou análogos, por parte de diversos operadores”.33 Sujeito ativo é, fundamentalmente, o empresário, bem como aquele que detém de alguma forma essa condição jurídica (exerce atividade de empresário). Conforme dispõe o caput do artigo 966 do Código Civil, é “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg40a4 produção ou a circulação de bens ou de serviços”. É a pessoa que organiza uma atividade econômica de produção ou de circulação de bens ou serviços, e por ela responde (delito especial próprio). Pode ser tanto a pessoa física, que emprega seu dinheiro e organiza a empresa individualmente, como a jurídica, nascida da união de esforços de seus integrantes.34 Saliente-se que, pelo fato de o Direito Penal ser informado pelos princípios da responsabilidade penal subjetiva, da pessoalidade da pena e da culpabilidade,35 são sujeitos ativos o empresário individual ou os sócios integrantes da empresa comercial; jamais esta, por lhe faltar a consciência e vontade de atuar. Assim, a infração à ordem econômica exige que o sujeito ativo da infração detenha poder de mercado,36 isto é, o poder econômico capaz de, por seu abuso, restringir ou limitar a livre concorrência no mercado relevante.37 São sujeitos passivos os empresários concorrentes prejudicados no seu direito de livre competição econômica, em virtude do abuso do poder econômico ou do controle de mercado praticado por empresários individuais ou empresas e, em alguns casos, os consumidores. Tipicidade objetiva e subjetiva: o artigo 4.º, caput, estabelece que constitui crime contra a ordem econômica qualquer prática que se subsuma em uma das modalidades previstas nos incisos seguintes, de forma que somente há crime contra a ordem econômica se o agente realiza um dos comportamentos enumerados. O inciso I versa sobre a conduta “abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas”. O abuso do poder significa excesso de uso do poder ou de um direito por parte de alguém. Por conseguinte, a expressão abuso do poder econômico traz a ideia de mau uso do poder econômico, um desvirtuamento ou aplicação deformada, ardilosa, da faculdade de tomar certas atitudes, em detrimento de outrem.38 Esse abuso de poder deve estar dirigido a dominar o mercado, ou eliminar, total ou parcialmente, a concorrência, ou seja, esse é o especial fim de agir consubstanciado nesse dispositivo. O conceito de abuso do poder econômico não é de fácil delimitação, pois envolve a conjugação de uma série de situações caracterizadoras do exercício abusivo do poder econômico, o que cria o risco de imprecisão conceitual, rechaçável desde o ponto de vista do princípio da legalidade, em especial sua vertente da determinação.39 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg42a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg42a5 Com efeito, não é qualquer ato irregular realizado pelo detentor do poder econômico que é considerado para fins de configuração do abuso. Este último deve ser verificado no contexto da livre-iniciativa e concorrência, em que o detentor do poder desvia sua função (finalidade) com o fim de dominar o mercado, restringir ou eliminar a livre concorrência.40 Dominar significa estar em condições de impor sua vontade sobre o mercado, e isso independe de o domínio ser exercido em apenas uma parcela pequena do território nacional, já que, em razão da natureza do produto, qualidade e preço dos transportes, o mercado pode ser nacional, regional ou local. Mercado vem a ser o ponto abstrato de convergência entre compradores e vendedores e sua amplitude pode variar geograficamente em virtude das condições retromencionadas.41 Em sentido geral, o termo designa “um grupo de compradores e vendedores que estão em contato suficientemente próximo para que as trocas entre eles afetem as condições de compra e venda dosdemais. Um mercado existe quando compradores que pretendem trocar dinheiro por bens e serviços estão em contato com vendedores desses mesmos bens e serviços. [...] pode ser entendido como o local, teórico ou não, do encontro regular entre compradores e vendedores de uma determinada economia. [...] é formado pelo conjunto de instituições em que são realizadas transações comerciais [...]. Ele se expressa, sobretudo, na maneira como se organizam as trocas realizadas em determinado universo por indivíduos, empresas e governo. A formação e o desenvolvimento de um mercado pressupõem a existência de um excedente econômico intercambiável e, portanto, de certo grau de divisão e especialização do trabalho”.42 Assim, a dominação do mercado não diz respeito a toda a atividade econômica, e sim a segmentos delineados, cujos contornos devem ser estabelecidos para caracterizar o tipo, pois, por mais poder econômico e político que se tenha, não há como ocorrer o domínio global da economia do País. Por isso a necessidade de especificar os limites do ramo de fornecimento de produtos ou serviços em que se manifesta domínio econômico. Nesse contexto, é necessário traçar uma delimitação, tanto geográfica quanto material, do mercado para saber se há ou não o seu controle.43 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg42a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg43a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg43a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg44a4 Destaque-se que a Lei 8.884, de 11.06.1994, estabelecia no artigo 20, § 3.º, a presunção de controle e consequente domínio, quando o agente econômico desenvolve operações que abarquem 20% do mercado.44 Atualmente, a presunção é prevista pelo artigo 36, § 2.º, da Lei 12.529/2011: “§ 2.º Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo CADE para setores específicos da economia”. Além do escopo de domínio do mercado, é previsto ainda, nesse inciso, o abuso do poder econômico com vistas à eliminação, total ou parcial, da concorrência. Eliminar significa suprimir, acabar, afastar toda ou parte da concorrência.45 A concorrência, na técnica dos negócios, seja comercial ou civil, significa “disputa, porfia ou pretensão, o ato pelo qual a pessoa procura estabelecer competição de preços, a fim de que apure as melhores condições em que possa efetivar a compra ou realizar a obra. [...] Parece ter o sentido próprio de igualdade ou simultaneidade, visto que tal como esta expressão, mostra a existência concomitante de várias pretensões sobre o mesmo objeto. Mas, na verdade, não se afasta de seu sentido de disputa ou de competição, apresentada sobre a mesma coisa, o que, em realidade, o é, embora queira indicar a igualdade de direitos entre os disputantes”.46 É de notar que a concorrência é um princípio essencial ao sistema das empresas, de forma que, quanto maior é o número de empresas, em determinado ramo de produção ou comércio, maior é a competição de que se beneficia o público. Daí a necessidade dos governos de fomentar a pequena e a média empresa, a fim de que não pereçam ante as grandes, em especial por meio da fixação artificial de preços e do controle sobre as redes de distribuição ou de fornecedores, entre outras.47 Desse modo, a concorrência vem a ser a “situação do regime de iniciativa privada em que as empresas competem entre si, sem que nenhuma delas goze da supremacia em virtude de privilégios jurídicos, força econômica ou posse exclusiva de certos recursos. Nessas condições, os preços de mercado formam-se perfeitamente segundo a correção entre oferta e procura, sem interferência predominante de compradores ou vendedores isolados”.48 Isso propicia que os capitais circulem livremente https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg44a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg44a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a7 entre os vários ramos e setores, de modo a haver a transferência dos menos rentáveis para os mais rentáveis em cada conjuntura econômica. Assim, nesse inciso I, o abuso do poder econômico se dá mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas.49 Por ajuste, na seara penal, entende-se o acordo, livre e consciente, feito entre vários indivíduos com o objetivo de praticar um fato punível.50 O acordo é “a convenção ou ajuste entre contratantes, conjugando suas vontades para a efetivação do ato negocial, gerando uma obrigação de dar, de fazer ou não fazer”.51 A empresa, elemento normativo jurídico, “é a organização técnico-econômica que se propõe a produzir, mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados à troca (venda), com esperança de realizar lucros, correndo os riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob sua responsabilidade”.52 É a atividade, e não a pessoa que a explora.53 A empresa pode ser explorada por uma pessoa física ou jurídica. Na primeira hipótese, o exercente da atividade econômica se chama empresário individual; na segunda, sociedade empresária.54 O inciso II dispõe que constitui delito contra a ordem econômica “formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando [...]”. Sobre o acordo e o ajuste já foram tecidas as considerações pertinentes. O convênio é “o instrumento de declaração de vontades que se encontram e se integram, dirigindo-se, todas elas, a um objetivo comum, sem que, portanto, umas às outras se oponham; não há oposição e sim conjugação de interesses”,55 e a aliança é “o acordo, a coligação feita entre instituições ou pessoas para um fim comum”.56 Ofertante é quem oferece bens ou serviços no mercado, por determinado preço e em determinado período de tempo.57 Todas essas figuras aqui previstas, na verdade, contém a mesma ideia, qual seja, a celebração de convenções para dominar o mercado ou eliminar, total ou parcialmente, a concorrência. A alínea a desse inciso dispõe sobre as condutas que visem à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas. A fixação artificial é aquela oriunda de concerto entre ofertantes. Caracteriza-se pelo acordo feito entre estes no intuito de fixar preços ou quantidades vendidas ou produzidas, a fim de dominar ou eliminar, total ou parcialmente, a concorrência. Preço é “o valor econômico expresso em unidades monetárias e quantificado por elas, de tal sorte que quando dois bens apresentam o mesmo preço, eles podem tranquilamente ser permutados, pois terão https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a5https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a7 idêntico valor”.58 No dispositivo em análise, tem-se o que se denomina preços concertados, que podem ter como finalidade tanto o aumento como a redução dos preços. Nesse sentido, pouco importa a eventual razoabilidade de preços fixados entre concorrentes, pois a uniformidade destes é anticoncorrencial. Assim, as tabelas de preços uniformes, ainda que não impositivas, são, em princípio, prejudiciais à concorrência, porque afetam o poder de decisão individual de cada agente econômico de estabelecer seus próprios preços, de conformidade com seus custos.59 Para a configuração da infração, é necessário que haja efetivo acordo entre os agentes envolvidos. Não é suficiente o efeito da padronização de preços ou quantidades vendidas ou produzidas, mas também a ocorrência real de entendimento com vistas ao tratamento concertado da questão. Isso porque, se os preços são uniformes ou paritários, sem, contudo, existir acordo nesse sentido, não há infração.60 A alínea b versa sobre o entendimento entre ofertantes que vise ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas. O controle regionalizado do mercado diz respeito àquele efetuado e concentrado em determinada região, ou seja, quando certo segmento de atividade econômica, em determinada base territorial, passa a ser explorado por empresa ou grupo de empresas. Não se deve olvidar, como mencionado, a presunção de controle, correspondente ao percentual de 20% ou mais, estabelecido pela Lei 12.529/2011 (artigo 36, § 2.º). Assim, se as operações desenvolvidas são dessa ordem, caracterizado está o controle. No que se refere à empresa, são pertinentes as considerações feitas quando da análise do inciso I. Grupo de empresas é aquele “formado por meio de convenção, pelo qual se obriguem a combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns”.61 Na alínea c está previsto o acordo entre ofertantes que vise ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores. Para a caracterização do controle são pertinentes as considerações acima expostas, de conformidade com o disposto no artigo 36, § 2.º, da Lei 12.529/2011. Em detrimento da concorrência significa em prejuízo da competição ou disputa que deve existir na seara comercial, industrial ou econômica e https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg48a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg48a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg48a6 que nada mais é que a consagração da livre-iniciativa, prevista como um dos fundamentos da ordem econômica. Desse modo, as práticas colusivas entre ofertantes que visem ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores caracterizam crime contra a ordem econômica. O tipo subjetivo é representado pelo dolo, elemento subjetivo geral dos tipos constantes no artigo 4.º e incisos, ou seja, para sua configuração exigem-se a consciência e a vontade de realizar o tipo objetivo do delito. Ademais, há a presença do elemento subjetivo do injusto consistente num especial fim de agir, que, nesses casos, é o de dominar o mercado ou eliminar, total ou parcialmente, a concorrência (delitos de tendência). Todas as modalidades enumeradas nesse artigo são delitos de resultado. A consumação ocorre com o abuso do poder econômico, mediante o domínio do mercado ou eliminação, total ou parcial, da concorrência, através das formas constantes nos incisos e alíneas. É admissível a tentativa. Causas de aumento e de diminuição da pena: As penas previstas no artigo 4.º, I e II, são aumentadas de 1/3 até a metade nas hipóteses em que as condutas ocasionem grave dano à coletividade ou o delito seja cometido por servidor público no exercício de suas funções, ou seja, praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde (art. 12 da Lei 8.137/1990). De outro lado, o artigo 16, parágrafo único, da lei em comento prescreve que, “nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá sua pena reduzida de um a dois terços”. Essa disposição foi acrescentada ao artigo 16 pela Lei 9.080, de 19.07.1995, e assemelha-se a dois outros dispositivos legais, a saber: o parágrafo único do artigo 8.º da Lei 8.072/1990 e o artigo 4.º da Lei 12.850/2013 (colaboração premiada). Estabeleceu-se aqui uma causa de redução de pena, que se constitui em direito subjetivo do réu, presentes os pressupostos legais de incidência da norma. A causa de diminuição aplica- se aos crimes contra a ordem tributária, desde que cometidos em quadrilha, coautoria ou participação, e desde que a revelação seja espontânea, não estando ela condicionada à ocorrência de qualquer motivo especial. Trata-se de uma causa de diminuição de pena incidente sobre a magnitude da culpabilidade. O problema que se coloca é quanto ao alcance da chamada revelação da trama criminosa e que enseja a incidência dessa causa de redução. Cabe ao intérprete fixar tal alcance por meio de uma interpretação sistemática, cotejando o presente dispositivo com o contido no artigo 8.º da Lei 8.072/1990 e no artigo 4.º da Lei 12.850/2012. Assim, as revelações feitas espontaneamente devem fornecer elementos para identificação de outros membros da quadrilha, de coautores ou partícipes, de forma a propiciar o esclarecimento do evento criminoso ou mesmo de outros, ainda em apuração ou sub judice.62 Pena e ação penal: a sanção penal que recai sobre os crimes em exame é de dois a cinco anos de reclusão e multa.63 A ação penal é pública incondicionada, nos termos do artigo 15 da Lei 8.137/1990, que dispõe: “Os crimes previstos nessa lei são de ação penal pública, aplicando-se-lhes o disposto no artigo 100 do Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal”. 1.3. ARTIGOS 5.º E 6.º DA LEI 8.137/1990 Art. 5.º Constitui crime da mesma natureza: I – exigir exclusividade de propaganda, transmissão ou difusão de publicidade, em detrimento de concorrência; II – subordinar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de outro bem, ou ao uso de determinado serviço; III – sujeitar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de quantidade arbitrariamente determinada; IV – recusar-se, sem justa causa, o diretor, administrador, ou gerente de empresa a prestar à autoridade competente ou prestá-la de modo inexato, informando sobre o custo de produção ou preço de venda. Pena – detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso IV. Art. 6.º Constitui crime da mesma natureza: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg50a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg50a4 I – vender ou oferecer à venda mercadoria, ou contratar ou oferecer serviço, por preço superior ao oficialmente tabelado, em regime legal de controle; II – aplicar fórmula de reajustamento de preços ou indexação de contrato proibida, ou diversa daquela que for legalmente estabelecida, ou fixada por autoridade competente; III – exigir, cobrarou receber qualquer vantagem ou importância adicional de preço tabelado, congelado, administrado, fixado ou controlado pelo Poder Público, inclusive por meio da adoção ou de aumento de taxa ou outro percentual, incidente sobre qualquer contratação. Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, ou multa. Esses artigos foram integralmente revogados pela Lei 12.529, de 2011. 1 Cf. DELMAS-MARTY, M.; GIUDICELLI-DELAGE, G. Droit Pénal des Affaires, p. 11; PATERNITI, C. Diritto Penale dell’economia, p. 11-12. 2 BAJO FERNÁNDEZ, M.; BACIGALUPO, S. Derecho Penal Económico, p. 17. 3 IDEM, p. 17-18. Vide também MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, C. Derecho Penal Económico. P.G., p. 96-97. 4 Cf. ANTOLISEI, F. Manuale di Diritto Penale. P.S., II, p. 150-151. 5 Refere-se a situações ou fatos econômicos de natureza geral (PATERNITI, C. Op. cit., p. 41). 6 GRACIA MARTÍN, L. Prolegómenos para la lucha por la modernización y expansión del Derecho penal y para la critica del discurso de resistencia, p. 84. 7 Vide, sobre o tema, PRADO, L. R. Bem jurídico-penal e Constituição, p. 94 e ss. 8 Cf. TIEDEMANN, K. Lecciones de Derecho Penal Económico, p. 32. 9 Assim, de certo modo, MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, C. Op. cit., p. 59. 10 Art. 115 da Constituição de 1934: “A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da Justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos uma existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade econômica”. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg32a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg32a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg32a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg33a7 11 Art. 135 da Constituição de 1937: “Na iniciativa individual, no poder de criação, de organização e de invenção do indivíduo, exercido nos limites do bem público, funda-se a riqueza e a prosperidade nacional. A intervenção do Estado no domínio econômico só se legitima para suprir as deficiências da iniciativa individual e coordenar os fatores da produção, de maneira a evitar ou resolver os seus conflitos e introduzir no jogo das competições individuais o pensamento dos interesses da Nação, representados pelo Estado. A intervenção no domínio econômico poderá ser mediata e imediata, revestindo a forma do controle, do estímulo ou da gestão direta”. 12 OLIVEIRA, E. de. Crimes contra a economia popular e o júri tradicional, p. 12. Entre outros diplomas legais, tem-se o Dec.-lei 869, de 18.11.1938, no qual foram definidas e estabelecidas penas para as condutas que atentassem contra a economia popular (v.g., manipulação dos mercados, eliminação da concorrência, concentrações de empresas). Note-se que, apesar de não tutelar especificamente a concorrência, tinha disposições voltadas para esse objetivo. Na sequência, foi editado o Dec.-lei 7.666, de 22.06.1945, cuja importância, apesar de sua curta duração (pouco menos de três meses), foi introduzir o conceito de abuso de poder econômico e influenciar o tratamento constitucional posterior de proteção à concorrência. Ademais, criou a Comissão Administrativa de Defesa Econômica (CADE), para averiguar práticas ilícitas e determinar a aplicação de sanções administrativas, afastando-se do campo penal (NUSDEO, A. M. de O. Defesa da concorrência e globalização econômica: o controle da concentração de empresas, p. 218-219). 13 NUSDEO, A. M. de O. Op. cit., p. 220. 14 A nota característica dessa Constituição foi elevar a norma sobre a repressão ao abuso do poder econômico à hierarquia de princípio da ordem econômica (FARIA, W. R. Constituição econômica: liberdade de iniciativa e concorrência, p. 149). 15 SOUTO, M. J. V. Ordem econômica na Constituição. RTFP, 32, 2000, p. 168-169. COELHO, F. U., por sua vez, afirma que o perfil traçado pela Constituição para a ordem econômica tem natureza neoliberal, entendida esta como “o modelo econômico definido na Constituição que se funda na livre-iniciativa, mas consagra também outros valores com os quais aquela deve se compatibilizar”, ou seja, os constantes do https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg34a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg34a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg34a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a2 art. 170, da Constituição Federal. Assim, o Texto Constitucional, “enquanto assegura aos particulares a primazia da produção e circulação dos bens e serviços, baliza a exploração dessa atividade com a afirmação de valores que o interesse egoístico do empresariado comumente desrespeita” (Curso de Direito Comercial, 1, p. 186). 16 Cf. BAJO FERNÁNDEZ, M.; BACIGALUPO, S. Op. cit., p. 19-21. 17 A respeito, vide PRADO, L. R. Bem jurídico-penal e Constituição, p. 52 e ss. 18 Em relação ao tema, enfatiza-se que o “Estado deverá promover um novo tipo de integração social, baseado fundamentalmente no reconhecimento de direitos e situações sociais para cuja efetividade deverá levar a cabo uma intensa atividade prestacional, ao mesmo tempo em que assumirá progressivamente a transformação da ordem econômica e social existente e facilitará a participação das forças políticas e sociais” (BASSOLS COMA, M. Constitución y sistema económico, p. 40). Vide também PRADO, L. R. Bem jurídico-penal e Constituição, 5. ed., p. 72 e ss. 19 Art. 170 da Constituição Federal: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I – soberania nacional; II – propriedade privada; III – função social da propriedade; IV – livre concorrência; V – defesa do consumidor; VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII – redução das desigualdades regionais e sociais; VIII – busca do pleno emprego; IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País”. 20 A livre-iniciativa e a valorização do trabalho encontram-se também insculpidas no art. 1.º, IV, da Constituição Federal, como fundamentos do Estado Democrático de Direito: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV – os valores sociais do trabalho e da livre- iniciativa; [...]”. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg35a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a1https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a3 21 Art. 173, caput, da Constituição Federal: “Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei”. 22 Art. 174, caput, da Constituição Federal: “Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado”. Nesse sentido, afirma Marcos Juruena Villela Souto que essa intervenção se dá por meio do planejamento, fomento econômico, fiscalização e repressão ao abuso do poder econômico (op. cit., p. 170). 23 Art. 1.º da Constituição Federal: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV – os valores sociais do trabalho e da livre- iniciativa; [...]”. 24 Cf. SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional positivo, p. 720. Nesse mesmo sentido, MORAES, A. de. Direito Constitucional, p. 584. 25 Desse modo, SILVA, J. A. da. Op. cit., p. 718. 26 Cf. DELMANTO, C. Crimes de concorrência desleal, p. 12. 27 Nessa linha, COELHO, F. U. Op. cit., p. 188. Conceitua-se ainda concorrência desleal como “todo ato de concorrente que, valendo-se de força econômica de outrem, procura atrair indevidamente sua clientela”. Acrescenta-se ainda que é justamente na captação da clientela que reside o objetivo precípuo do agente, pois todo o direcionamento das ações nesse campo se volta a ela. É a disputa por sua captação que qualifica o ato como de concorrência desleal, quando buscada por meios abusivos (BITTAR, C. Teoria e prática da concorrência desleal, p. 37; 42). Os crimes de concorrência desleal podem ser divididos em seis categorias: “1. denegrição de concorrente; 2. desvio de clientela; 3. confusão entre estabelecimentos; 4. propaganda com falsa atribuição de mérito especialmente reconhecido; 5. corrupção para obtenção de vantagem indevida; 6. violação de segredo com abuso de confiança” (GULLO, R. S. F. Op. cit., p. 46). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg36a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg37a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg38a1 28 Vide, sobre o tema, OLIVEIRA JUNIOR, G. F. de. Os fundamentos da tutela penal antitruste, p. 278-321. 29 Nesse sentido, afirma-se que o poder econômico não constitui uma anomalia na ordem econômica, mas sim um dado estrutural, e seu exercício é legitimado em razão da função social que exerce, estabelecida pela própria ordem jurídica (BRUNA, S. V. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu exercício, p. 144). 30 Assim, COELHO, F. U. Op. cit., p. 200-201. 31 GULLO, R. S. F. Op. cit., p. 51. 32 Cf. NUSDEO, F. Curso de Economia: introdução ao Direito Econômico, p. 150. 33 REALE JUNIOR, M. Problemas penais concretos, p. 73. 34 Cf. COELHO, F. U. Op. cit., p. 63. 35 Sobre o assunto, PRADO, L. R. Tratado de Direito Penal brasileiro. 2. ed., P.G., I, p. 247 e 257. 36 O poder de mercado está ligado ao poder de influenciar os preços. Desse modo, pode ser definido “a partir da capacidade do agente de aumentar substancialmente os preços de seus produtos de modo a maximizar seus lucros, por um certo período de tempo [...] ou de optar pela redução predatória de preços para afastar a concorrência” (NUSDEO, A. M. de O. Op. cit., p. 28). 37 Assim, FRANCESCHINI, J. I. G. Lei da concorrência conforme interpretada pelo CADE, p. 787-795. Ressalta ainda o referido autor que esse poder de mercado, indispensável ao reconhecimento de ofensa à ordem econômica, há de ser perquirido mediante investigação sobre a configuração do mercado, o regimento regulatório vigente, se houver, e a natureza das transações envolvidas no caso concreto, além de outros elementos (Op. cit., p. 702). Esclarecendo a noção de mercado relevante, considera-se aquele “economicamente significativo de um produto em determinada área geográfica, havendo possibilidade do exercício de poder neste mercado, e, portanto, potencial consequência anticompetitiva neste recorte da atividade econômica naquela região” (REALE JUNIOR, M. Op. cit., p. 77). Sobre mercado relevante, vide também NUSDEO, A. M. de O. Op. cit., p. 28. 38 OLIVEIRA, F. A. de. Crimes do poder econômico, p. 54-55. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg38a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg38a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg39a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg39a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg40a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg40a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg41a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg42a1 39 Os casos em que o abuso de poder configura fato punível devem estar claramente determinados, em atenção ao princípio da legalidade (Cf. TIEDEMANN, K. Poder económico y delito, p. 54). 40 OLIVEIRA JUNIOR, G. F. Op. cit., p. 171. Assim, se houver violação de valores distintos da iniciativa e concorrência, haverá incidência de outras formas de repressão jurídica, situadas fora do contexto do abuso de poder econômico (BRUNA, S. V. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu exercício, p. 178). O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) define abuso de poder econômico como “o comportamento de uma empresa ou grupo de empresas que utiliza seu poder de mercado para prejudicar a livre concorrência, por meio de condutas anticompetitivas. A existência de poder de mercado por si só não é considerada infração a ordem econômica. Somente se uma empresa abusa de seu poder de mercado é que ela pode vir a ser condenada com base na Lei 8.884/94” (Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. Guia Prático do CADE: a defesa da concorrência no Brasil. 3. ed., p. 25). É mister destacar que a Lei 8.844/1994 foi revogada pela Lei 12.529/2011, que passou a estruturar o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, dispondo sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. 41 BASTOS, C. R. Curso de Direito Econômico, p. 235. Entende-se também que, de acordo com seu alcance, o mercado pode ser local, regional, nacional e mundial, e entre os fatores que determinamesse alcance destacam-se a escala de produção, as características da mercadoria, a amplitude da demanda, o grau de organização do comércio e o estágio de desenvolvimento econômico e social (SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia, p. 379). 42 Cf. SANDRONI, P. Op. cit., p. 378. O mercado pode ainda ser definido como “toda instituição social na qual bens e serviços, assim como os fatores produtivos são trocados livremente”. Desse modo, “o essencial de todo mercado é que os compradores e vendedores de qualquer bem ou serviço entram livremente em contato para comercializá-lo” (TROSTER, R. L.; MOCHÓN, F. Introdução à economia, p. 46-47). Deve- se ainda ressaltar que um mercado seria de concorrência perfeita quando reunisse, tanto no lado da oferta como no da procura, um grande número de agentes econômicos (compradores e vendedores), https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg42a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg42a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg43a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg43a2 que seriam indiferenciados entre si, criando uma situação em que é indiferente para o produtor vender a esse ou àquele, desde que paguem o mesmo preço, a mesma coisa ocorrendo com os compradores. Isso teria de acontecer de modo que não permitisse que nenhum dos agentes pudesse individualmente exercer uma influência perceptível sobre o preço, ou seja, qualquer vendedor que fixasse um preço maior perderia a clientela e, do mesmo modo, os compradores não teriam condições de (por serem todos pequenos) forçar a baixa dos preços (Op. cit., p. 379). Sobre o tema, WONNACOTT, P.; WONNACOTT, R. Economia, p. 58-64. 43 COELHO, F. U. Op. cit., p. 213-214. Assevera o citado autor que a delimitação geográfica do mercado é importante, em especial no Brasil, em virtude das diferenças regionais existentes em termos econômicos e mesmo culturais. Por outro lado, a delimitação material é feita a partir da perspectiva do consumidor. Ambas são feitas mediante análise casuística (Op. cit., p. 214-215). 44 “Art. 20. [...] § 3.º A posição dominante a que se refere o parágrafo anterior é presumida quando a empresa ou grupo de empresas controla 20% (vinte por cento) de mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia”. Ressalte-se que o referido dispositivo foi revogado pela Lei 12.529/2011. 45 Entre as situações de mercado comuns em que prevalece a concorrência imperfeita, destacam-se, do lado da oferta, o monopólio, no qual um único produtor determina toda a oferta e exerce grande poder sobre o preço, e o oligopólio, em que há um pequeno número de vendedores, v.g., o mercado de automóveis, controlado por poucas e poderosas empresas. Do lado da demanda, tem-se o monopsônio, em que um único comprador determina toda a demanda e exerce grande influência sobre os preços, e o oligopsônio, no qual um pequeno grupo de compradores controla o mercado e influi decisivamente sobre os preços (SANDRONI, P. Op. cit., p. 379). Vide, a respeito, SPÍNOLA, M. R. de P.; TROSTER, R. L. Estruturas de mercado. In: PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. de (Org.). Manual de economia, p. 188-192; NUSDEO, F. Op. cit., p. 265-273; DUVAL, H. Concorrência desleal, p. 63-70. 46 DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, 1, p. 193. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg44a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg44a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg44a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a1 47 DUVAL, H. Op. cit., p. 89-90. 48 SANDRONI, P. Op. cit., p. 118-119. Entende-se que a concorrência é a “ação desenvolvida entre comerciantes ou produtores para disputar clientela, um mercado ou a venda de certa mercadoria ao público consumidor; ato pelo qual se procura estabelecer uma competência de preços, apurando-se quem oferece melhores condições ou ofertas para aqueles que pretendem adquirir ou comprar algo”. Pode ser também entendida como a “rivalidade ou luta no domínio econômico entre produtores, fabricantes, empresários ou comerciantes que, ao mesmo tempo, expõem à venda mercadorias da mesma natureza e qualidade; oferta de produtos iguais ou similares entre produtores ou negociantes” (DINIZ, M. H. Dicionário jurídico, 1, p. 734). Também, TROSTER, R. L.; MOCHÓN, F. Op. cit., p. 151-156; MAIA, R. T. Op. cit., p. 182-196. 49 Esse dispositivo teve sua redação alterada pela Lei 12.529/2011, que revogou as alíneas do inciso I, os incisos III a VII, entre outras alterações. Cumpre descrever a redação anterior: “Art. 4.º Constitui crime contra a ordem econômica: I – abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante: a) ajuste ou acordo de empresas; b) aquisição de acervos de empresas ou cotas, ações, títulos ou direitos; c) coalizão, incorporação, fusão ou integração de empresas; d) concentração de ações, títulos, cotas, ou direitos em poder de empresa, empresas coligadas ou controladas, ou pessoas físicas; e) cessação parcial ou total das atividades da empresa; f) impedimento à constituição, funcionamento ou desenvolvimento de empresa concorrente”. 50 PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 473. Ajuste é o “ato pelo qual duas ou mais pessoas se acordam nas condições ou cláusulas estabelecidas para efetivação de um pacto ou contrato. Às vezes, significa o próprio contrato ou obrigação assumida” (DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, 1, p. 52). 51 DINIZ, M. H. Dicionário jurídico, 1, p. 90-91. 52 MENDONÇA, J. X. C. de. Tratado de Direito Comercial brasileiro, I, p. 482. A empresa é “a organização destinada à produção e/ou comercialização de bens e serviços, tendo como objetivo o lucro”. Em razão do tipo de produção, pode ser agrícola, industrial, comercial e financeira e, independentemente da natureza do produto, ela define-se por seu estatuto, podendo ser pública, privada ou de economia mista. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg45a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a3 Pode ainda ser organizada de várias formas, dependendo da maneira como se dá a divisão do capital entre os proprietários, v.g., sociedades por ações, sociedades limitadas etc. (SANDRONI, P. Op. cit., p. 203- 204). Afirma-se, assim, que a empresa “manifesta-se como uma organização técnico-econômica, ordenando o emprego de capital e trabalho para a exploração, com fins lucrativos, de uma atividade produtiva” (CAMPINHO, S. O Direito de empresa: à luz do novo Código Civil, p. 9). Sobre empresa, vide ainda DORIA, D. Curso de Direito Comercial, 1, p. 44-49. 53 Nesse sentido, a empresa seria “a própria atividade empresarial, ou seja, a força de movimento rotacional que implica a atividade empresarial dirigida para determinada finalidade produtiva” (OLIVEIRA, C. M. Direito Empresarial: à luz do novo Código Civil, p. 16). 54 COELHO, F. U. Op. cit., p. 63-64. Adverte o citado autor que, no caso de a atividade empresarial ser exploradapor pessoa jurídica, não é correto chamar de “empresário” o sócio da sociedade empresária, pois empresária é a pessoa jurídica e não seus sócios (Op. cit., p. 64). Nesse mesmo lineamento, vide MARTINS, F. Curso de Direito Comercial: empresa comercial, empresários individuais, microempresas, sociedades comerciais, fundo de comércio, p. 71, nota 2. 55 GRAU, E. R. Convênio e contrato. In: FRANÇA, R. L. (Coord.). ESD, 20, p. 379-380. 56 DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, 2, p. 222. 57 Cf. SANDRONI, P. Op. cit., p. 429. Ofertante “é o mesmo que oferente ou licitante, ou seja, aquele que faz a oferta ou proposta, expondo à parte interessada o preço e as condições do negócio que se propõe a realizar” (FRANÇA, R. L. Ofertante. In: FRANÇA, R. L. (Coord.). ESD, 56, p. 498). 58 NUSDEO, F. Op. cit., p. 50. É o valor ou avaliação pecuniária que se atribui a uma coisa, isto é, o valor dela determinado por uma soma em dinheiro (DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, 2, p. 628). 59 FRANCESCHINI, J. I. G. Op. cit., p. 450-451. 60 COELHO, F. U. Op. cit., p. 220. 61 DORIA, D. Op. cit., p. 300. A palavra grupo é “a característica, a marca, o selo do grupo de sociedades. Uma vez constituído o grupo, a denominação será acrescida da expressão grupo”, v.g., Silva & Souza https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg46a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg47a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg48a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg48a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg48a3 S/A – Grupo Silva (DE PLÁCIDO E SILVA, O. Noções práticas de Direito Comercial, p. 265). 62 FERREIRA, R. dos S. Crimes contra a ordem tributária, p. 140-141. 63 No tocante à pena de multa, prescreve o artigo 8.º da Lei 8.137/1990 que, “nos crimes definidos nos artigos 1.º a 3.º desta lei, a pena de multa será fixada entre 10 (dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias- multa, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Parágrafo único. O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a 14 (quatorze) nem superior a 200 (duzentos) Bônus do Tesouro Nacional – BTN”. É necessário destacar também que o art. 9.º determina que “a pena de detenção ou reclusão poderá ser convertida em multa de valor equivalente a: I – 200.000 (duzentos mil) até 5.000.000 (cinco milhões) de BTN, nos crimes definidos no art. 4.º; [...]”. O art. 10 do mesmo diploma legal determina que, “caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique a insuficiência ou excessiva onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta Lei, poderá diminuí-las até a décima parte ou elevá-las ao décuplo”. Saliente-se que o índice estipulado pela Lei (BTN) foi extinto, sendo substituído pela UFIR para o cálculo da correção monetária das penas pecuniárias, em consonância com a Lei 8.383, de 30 de dezembro de 1991. Entretanto, a UFIR também foi extinta com a Lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995 (art. 30) e, hodiernamente, para atualização da multa, aplica-se tão somente a taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia). Esse dispositivo foi alterado pela Lei 12.529/2011, que passou a prever a pena de multa de forma cumulativa e não mais alternativa. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg50a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/12_chapter01.xhtml?favre=brett#pg50a2 Seção II DELITOS CONTRA A ORDEM ECONÔMICA. LEI 8.176/1991 (ARTIGOS 1.º E 2.º) 2.1. ARTIGO 1.º DA LEI 8.176/1991 Art. 1.º Constitui crime contra a ordem econômica: I – adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei; II – usar gás liquefeito de petróleo em motores de qualquer espécie, saunas, caldeiras e aquecimento de piscinas, ou para fins automotivos, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei. Pena: detenção de um a cinco anos. A primeira Constituição brasileira a prever a possibilidade de monopólio pela União de determinada indústria ou atividade econômica foi a de 1934.1 No tocante à Constituição de 1946, o artigo 146 dispunha que “a União poderá, mediante lei especial, intervir no domínio econômico e monopolizar determinada indústria ou atividade. A intervenção terá por base o interesse público e por limite os direitos fundamentais assegurados nesta Constituição”. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg52a2 Esse dispositivo constitucional deu o suporte jurídico necessário para a criação da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), pela Lei 2.004, de 03.10.1953, sociedade de economia mista, pois composta de capital público e privado, sob o controle da União, com o escopo de executar as atividades abrangidas pelo monopólio instituído por ela.2 A Constituição de 1967, no artigo 162, determinava apenas que “a pesquisa e a lavra de petróleo em território nacional constituem monopólio da União, nos termos da lei”. O art. 169 da EC 1, de 17.10.1969, continha a mesma redação. Na sequência, a Constituição de 1988 incorpora a descrição contida na Lei 2.004/1953 (art. 1.º),3 com alguns acréscimos e mudanças. Assim dispõe o artigo 177: “Constituem monopólio da União: I – a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; III – a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; V – a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do artigo 21 desta Constituição Federal”. A EC 9, de 09.11.1995, altera a redação do § 1.º ao artigo 177, e passa a prescrever que “a União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei”. Conforme se pode depreender deste dispositivo, insere-se na Constituição “nova modalidade de exploração do segmento econômico monopolizado, qual seja, a de que pode ser levada a cabo por empresas privadas ou públicas”. Assim, antes do advento da EC 9, havia o caráter absoluto do monopólio da União, que só era passível de ser exercido por meio de empresa estatal; após essa emenda abriu-se a possibilidade de empresas privadas ingressarem no mercado até então reservado à Petrobras, isto é, permitiu-se a abertura desse mercado a condições normais de competição.4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg53a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg53a4https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg54a4 Aqui se está diante de um monopólio de direito, pois se concretiza mediante lei, subtraindo da ação particular determinada atividade, que passa a ser desempenhada pelo Estado.5 Contudo, não obstante um bem ou uma atividade do domínio econômico ser monopolizado pela União, nada impede que esta confira “o privilégio de sua exploração a autarquias, fundações públicas, empresas estatais, concessionários ou a permissionários, que satisfaçam as exigências do interesse público”.6 Merece destaque, nesse escorço legislativo, a Lei 8.176, de 08.02.1991, a qual define crimes contra a ordem econômica e cria o Sistema de Estoques de Combustíveis. Versando sobre essa mesma temática, há a Lei 9.478, de 06.08.1997, que “dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo”. Com o seu advento, iniciou-se uma nova etapa na indústria de petróleo no Brasil. A criação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entidade integrante da Administração Federal indireta, submetida ao regime autárquico especial, como órgão regulador da indústria do petróleo, gás natural, seus derivados e biocombustíveis, vinculada ao Ministério das Minas e Energia (art. 7.º da Lei 9.478/1997, com a redação dada pela Lei 11.097/2005), teve como escopo iniciar um novo processo para a efetiva flexibilização do monopólio anteriormente exercido pela Petrobras, já que hodiernamente se consagrou a livre competição com outras empresas, em razão das condições de mercado. Nesse sentido, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis tem a tarefa de estabelecer regras que propiciem a criação de um mercado mais competitivo e que, consequentemente, tragam vantagens para o país, mediante uma maior arrecadação fiscal e diminuição das importações de petróleo, e, principalmente, para os consumidores, por meio da melhoria na qualidade dos derivados de petróleo e uma política de preços que reflita o comportamento do mercado internacional. A Lei 9.478/1997 estabelece os princípios básicos que norteiam as atividades que compõem as indústrias de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Nesse diapasão, o artigo 8.º dessa lei prescreve que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis deve “promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis”. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg54a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg54a6 Deve ser mencionada, por oportuno, a Lei 9.847, de 26.10.1999, que “dispõe sobre a fiscalização das atividades relativas ao abastecimento nacional de combustíveis, de que trata a Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, estabelece sanções administrativas e dá outras providências”. Determina ainda que a fiscalização das atividades relativas às indústrias do petróleo e dos biocombustíveis e ao abastecimento nacional de combustíveis, bem como do adequado funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e do cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis, será realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP ou, mediante convênios por ela celebrados, por órgãos da Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 1.º). Ocorre isso em virtude do fato de que “o abastecimento nacional de combustíveis é considerado de utilidade pública e abrange as seguintes atividades: I – produção, importação, exportação, refino, beneficiamento, tratamento, processamento, transporte, transferência, armazenagem, estocagem, distribuição, revenda, comercialização, avaliação de conformidade e certificação do petróleo, gás natural e seus derivados; II – produção, importação, exportação, transporte, transferência, armazenagem, estocagem, distribuição, revenda e comercialização de biocombustíveis, assim como avaliação de conformidade e certificação de sua qualidade” (art. 1.º, § 1.º). Dentro desse contexto, inserem-se “também, a construção e operação de instalações e equipamentos relativos ao exercício das atividades referidas no parágrafo anterior” (art. 1.º, § 2.º). Bem jurídico e sujeitos do delito: o escopo primordial dessa lei foi evitar e reprimir as condutas atentatórias à ordem econômica, em especial no tocante às atividades relacionadas com as fontes energéticas. Nas figuras típicas em análise, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que pratique alguma das condutas enumeradas na lei (delito comum). São sujeitos passivos a União e as empresas autorizadas por lei a produzir bens ou explorar matéria-prima a ela pertencente. Tipicidade objetiva e subjetiva: O artigo em epígrafe dispõe que constituem delito contra a ordem econômica quaisquer das condutas enumeradas nos incisos seguintes. O inciso I versa que constitui crime contra a ordem econômica “adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei”. A conduta típica consiste em adquirir, que significa obter, onerosa ou gratuitamente, ou distribuir, que equivale a repartir, espalhar, dividir. O artigo 6.º, XX, da Lei 9.478/1997 estabelece que a distribuição é a “atividade de comercialização por atacado com a rede varejista ou com grandes consumidores de combustíveis, lubrificantes, asfaltos e gás liquefeito envasado, exercida por empresas especializadas, na forma das leis e regulamentos aplicáveis”. Revender é tornar a vender. Conforme o artigo 6.º, XXI, da Lei 9.478/1997, a revenda é a “atividade de venda a varejo de combustíveis, lubrificantes e gás liquefeito envasado, exercida por postos de serviços ou revendedores, na forma das leis e regulamentos aplicáveis”. Derivados de petróleo são “produtos decorrentes da transformação do petróleo” (art. 6.º, III, da Lei 9.478/1997). Petróleo, fonte de energia por excelência, é uma mescla complexa de hidrocarboneto fóssil que “ocorre naturalmente em forma líquida. O petróleo é formado pela degradação anaeróbica do material orgânico capturado em rochas sedimentares. Misturas brutas de óleos de hidrocarbonetos, que ocorrem naturalmente na crosta da Terra como resultado da ação geológica prolongada sobre a matéria orgânica em decomposição de anos atrás. O petróleo não refinado muitas vezes contém minerais como enxofre e vanádio, além dos hidrocarbonetos. Quando o gás natural e a água coexistentes são extraídos do petróleo, tornam-se petróleo cru e são usados na produção de muitos combustíveis e agentes químicos”.7 Gás natural é “todo hidrocarboneto que permaneça em estado gasoso nas condições atmosféricas normais, extraído diretamente a partir de reservatórios petrolíferos ou gaseíferos, incluindo gases úmidos, secos, residuais e gases raros” (art. 6.º, II, da Lei 9.478/1997).8 Esses elementos são considerados normativos jurídicos. Frações recuperáveis são as oriundas de destilação fracionada do petróleo ou do gás natural. O álcool etílico hidratado carburante (etanol ou AEHC) é uma mistura hidroalcoólica cujo principal componente é o álcool etílico ou etanol com teor alcoólico mínimo de 99,3º INPM (anidro) ou 92,6º INPM (hidratado), combustível dos veículos de passeio e comerciais leves. Sua composição de álcool e água é padronizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, Conselho Nacional do Petróleo e Instituto Nacional de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg56a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg57a3Pesos e Medidas, já que alterações em sua densidade acarretam mau funcionamento e possíveis danos internos ao motor. O álcool hidratado é utilizado exclusivamente como combustível, por motivos de economia produtiva e por sua eficiência. É também utilizado como aditivo oxigenante na gasolina. Os demais combustíveis líquidos carburantes são todos os que se destinam à produção de energia necessária para movimentação de um motor, v.g., gasolina (combustível de motores a explosão), querosene (iluminação, combustível doméstico e de aviões), óleo diesel (combustível de ônibus, caminhões, caldeiras).9 Convém destacar que combustível é qualquer substância que por meio da combustão (reação química rápida entre substâncias, queima) produz energia. De sua vez, biocombustível é a “substância derivada de biomassa renovável, tal como biodiesel, etanol e outras substâncias estabelecidas em regulamento da ANP, que pode ser empregada diretamente ou mediante alterações em motores a combustão interna ou para outro tipo de geração de energia, podendo substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil” (art. 6.º, XXIV, da Lei 9.478/1997) e biodiesel é o “biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil” (art. 6.º, XXV, da Lei 9.478/1997). Todos esses são elementos descritivos do tipo e verifica-se que o legislador se utiliza-se de uma fórmula casuística que permite a interpretação analógica (intra legem), espécie do gênero interpretação extensiva, para abranger casos semelhantes, análogos aos regulados expressamente. Ademais, quando o legislador utiliza a expressão em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei, há também o recurso à técnica da norma penal em branco, que exige outro dispositivo legal para sua complementação. No inciso II, o núcleo típico consiste em “usar gás liquefeito de petróleo em motores de qualquer espécie, saunas, caldeiras e aquecimento de piscinas, ou para fins automotivos, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei”. Usar significa empregar, utilizar. Gás liquefeito de petróleo é o “gás comprimido consistente em hidrocarboneto leve, inflamável, como propano e butano, obtido especialmente como subproduto na refinação do petróleo ou fabricação de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg57a4 gasolina natural; utilizado como combustível industrial ou doméstico e como matéria-prima para síntese química. É também designado como gás engarrafado”.10 Motor é tudo “que faz mover; tudo que dá movimento a um maquinismo”.11 Ressalte-se que o legislador, ao utilizar-se da expressão de qualquer espécie, amplia o alcance da lei, de modo a alcançar as mais variadas situações. Assim, entre as espécies de motor, podem ser citados os de combustão interna ou de explosão, diesel etc. Sauna é o “banho a vapor, de origem finlandesa, a temperatura de 60º a 80º C”.12 Caldeiras são “cilindros metálicos usados para produzir o vapor das máquinas, que devem ser construídos, por oferecer perigo de explosão, de modo a resistir às pressões internas do trabalho com válvulas, contendo dispositivos de segurança para prevenir acidentes de trabalho e permitindo que os operários possam executar suas tarefas com segurança”.13 Aquecimento de piscinas é aquele feito por meio de caldeira central. Para fins automotivos é qualquer sistema ou material utilizado em veículos que têm meios de automovimentação. Em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei demonstra a utilização, pelo legislador, de norma penal em branco, cuja integração necessita de outro dispositivo legal. O tipo subjetivo é formado pelo dolo, que é o elemento subjetivo geral dos tipos constantes desse artigo, ou seja, para sua configuração exigem-se a consciência e a vontade de realizar o tipo objetivo. Consuma-se o delito previsto no inciso I com a aquisição, distribuição ou revenda dos produtos ali descritos. Admite-se a tentativa. No inciso II, a consumação ocorre com o primeiro ato de uso, isto é, com o efetivo emprego de gás liquefeito de petróleo em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei. A tentativa é inadmissível, pois se trata de delito instantâneo. Pena e ação penal: a sanção penal que recai sobre os crimes tipificados no artigo 1.º, I e II, é de um a cinco anos de detenção. No caso do artigo 2.º e parágrafo 1.º, a pena é a mesma, cumulada, todavia, com a de multa.14 Admite-se a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg58a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg58a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg58a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg59a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg59a4 2.2. ARTIGO 2.º DA LEI 8.176/1991 Art. 2.º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo. Pena: detenção, de um a cinco anos e multa. § 1.º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo. § 2.º No crime definido neste artigo, a pena de multa será fixada entre dez e trezentos e sessenta dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção do crime. § 3.º O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a quatorze nem superior a duzentos Bônus do Tesouro Nacional (BTN). De início, cumpre observar que a redação desse dispositivo pode conduzir a interpretações dúbias, já que, ao prescrever que constitui crime contra o patrimônio da União, faz com que surja o questionamento sobre o que se deve entender como tal para os efeitos dessa lei, o que fere o princípio da legalidade na sua vertente taxatividade, que estabelece que as leis devem ser claras, objetivas e precisas. Contudo, não obstante a referência feita aos crimes contra o patrimônio e não mais aos crimes contra a ordem econômica, guarda o dispositivo uma relação lógica com o anterior no sentido de que os bens e matérias-primas aqui mencionados são os relativos às jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos, de propriedade da União, e que só por ela podem ser produzidos e explorados. Nada impede, porém, que sejam celebrados contratos com empresas estatais ou privadas para a realização das atividades previstas nos incisos I a IV do artigo 177 da Constituição Federal, observadas as condições estabelecidas em lei. As atividades relacionadas nos incisos I a IV do artigo 177 da Constituição Federal são: “I – a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; III – a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; [...]”. Nesse contexto, deve ser salientado o que prescreve o artigo 3.º da Lei 9.478/1997: “Pertencem à União os depósitos de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetosfluidos existentes no território nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva”. Assim, apesar de o legislador ter utilizado termos amplos, v.g., patrimônio, bens, matéria-prima, sem especificá-los, deve-se entender como tais todos os relacionados com a temática versada nessa lei. Bem jurídico e sujeitos do delito: busca-se tutelar o patrimônio da União no tocante aos bens e matérias-primas a ela pertencentes. Na primeira parte do artigo e no § 1.º, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (delito comum). Na segunda parte do caput, é sujeito ativo apenas quem possua o título autorizativo (delito especial próprio). Sujeitos passivos são a União e, eventualmente, as empresas autorizadas por lei a produzir bens ou explorar matéria-prima a ela pertencente. Tipicidade objetiva e subjetiva: o artigo 2.º prescreve que “constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo”. Usurpação significa obtenção ou aquisição fraudulenta, sem direito, exercer indevidamente. Produzir significa criar, gerar, fabricar. Bens são todas as coisas, direitos, quaisquer elementos materiais ou imateriais que representem uma utilidade ou uma riqueza, integrados no patrimônio de alguém e passíveis de apreciação monetária.15 Explorar equivale a tirar proveito de algo que, no dispositivo em epígrafe, seja matéria-prima, isto é, produto natural ou semifaturado (bem intermediário) que deve ser submetido a novas operações no processo produtivo até tornar-se artigo acabado,16 pertencente à União. A autorização é o “ato administrativo unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração faculta ao particular o uso privativo de bem público, ou o desempenho de atividade material, ou a prática de atos que, sem esse consentimento, seriam legalmente proibidos”.17 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg61a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg61a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg61a6 Desse modo, qualquer atividade praticada sem essa autorização, ou em desconformidade com o determinado no título autorizativo, subsome-se na figura típica em análise. Destaque-se que a menção, pelo legislador, da expressão sem autorização legal configura elemento normativo com referência específica à possível concorrência de uma causa de justificação.18 Consuma-se o delito com a produção de bens ou exploração de matéria-prima pertencente à União. É admissível a tentativa. O parágrafo 1.º desse artigo determina que “incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo”. Aquele que, sem autorização legal, ou seja, sem estar acobertado pelo consentimento da Administração, adquirir, que significa obter, onerosa ou gratuitamente; transportar, que é levar de um lugar para outro; industrializar, que é tornar industrial, dar caráter industrial a;19 ter consigo, que equivale a carregar; consumir, que é gastar, esgotar, aplicar, empregar; ou comercializar, que é fazer comércio, negociar produtos ou matéria- prima, obtidos na forma prevista no caput desse artigo, ou seja, na modalidade de usurpação, praticará o delito. O tipo subjetivo (caput e § 1.º) é formado pelo dolo, elemento subjetivo geral, que consiste na consciência e vontade de realizar as condutas previstas no tipo objetivo. A consumação ocorre com a realização de qualquer uma das condutas previstas, com exceção da conduta ter consigo, que configura delito permanente. A tentativa não é admissível na modalidade consumir, que é delito instantâneo. Pena e ação penal: As penas previstas para o delito sob análise são as de detenção, de um a cinco anos, e multa. A pena de multa é fixada entre 10 (dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção do crime (art. 2.º, § 2.º). Admite-se a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg62a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg62a4 1 Art. 116 da Constituição de 1934: “Por motivo de interesse público e autorizada em lei especial, a União poderá monopolizar determinada indústria ou atividade econômica, asseguradas as indenizações devidas, conforme o art. 112, n. 17, e ressalvados os serviços municipalizados ou de competência dos Poderes locais”. 2 BASTOS, C. R. Curso de Direito Econômico, p. 344. 3 Art. 1.º da Lei 2.004/1953: “Constituem monopólio da União: I – a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluidos e gases raros, existentes no território nacional; II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; III – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados de petróleo produzidos no País, e bem assim o transporte, por meio de condutos, de petróleo bruto e seus derivados, assim como de gases raros de qualquer origem”. 4 BASTOS, C. R. Op. cit., p. 346-351. 5 CRETELLA JÚNIOR, J. Comentários à Constituição brasileira de 1988, p. 4.152. Em contraposição ao monopólio de direito, existe o monopólio de fato, que ocorre “quando uma empresa ou grupo empresarial (truste), sob mesma direção, por circunstâncias econômicas ou administrativas, tem primazia econômica em determinada atividade, tornando impossível qualquer tipo de concorrência” (DINIZ, M. H. Dicionário jurídico, 3, p. 30). Do ponto de vista estrutural, menciona-se que, além do monopólio de fato e do legal, há o natural, que advém por força da natureza, v.g., a descoberta de jazida de água mineral, “a que todos acodem em virtude de suas qualidades excepcionais, excludentes de outras águas minerais concorrentes” (DUVAL, H. Concorrência desleal, p. 36). Saliente-se que, a partir do momento em que for concedida a autorização oficial para sua exploração, transmuda-se esse monopólio natural em legal ou de direito (concessão). 6 MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo brasileiro, p. 611. Nesse campo, é de se ressaltar que só pode dar privilégio quem tem o monopólio. Este é sempre exclusivo e excludente dos demais interessados; aquele pode ser exclusivo ou não (Op. cit., p. 611). 7 ART, H. W. (Ed.). Dicionário de ecologia e ciências ambientais, p. 403. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg52a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg53a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg53a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg54a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg54a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg54a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg56a1 8 Complementando essa definição legal, Zarzuela conceitua gás natural como sendo o “hidrocarboneto gasoso constituído de metano, etano, butano e propano, existente em zona petrolífera, podendo ser liquefeito e comercializado. O gás natural sai da crosta terrestre através de orifícios naturais ou de poços perfurados; usado como combustível, quer porrecuperação da gasolina, quer por conversão em outro combustível líquido, ou como matéria-prima de negro-carvão, nitroparafina e muitos outros produtos” (ZARZUELA, J. L. Gás. In: FRANÇA, R. L. (Coord.). ESD, 39, p. 652). Desse modo, metano (CH4) é o “hidrocarboneto mais simples. É por vezes chamado de gás dos pântanos porque é produzido por lixo orgânico em decomposição” (ART, H. W. (Ed.). Op. cit., p. 345); etano (C2H6) é hidrocarboneto saturado, gasoso, incolor e inodoro; butano (H3C-CH2CH2CH3) é “hidrocarboneto de Cadeia direta, incolor e gasoso, refinado do petróleo bruto. É comprimido para ser usado como combustível, bem como em fluido mais leve” (ART, H. W. (Ed.). Op. cit., p. 67); propano (H3C-CH2-CH3) é “gás hidrocarboneto simples encontrado no petróleo e no gás natural. Quando pressurizado, o propano se torna líquido; nessa forma, é usado para fogões a gás e utensílios semelhantes. O propano também é usado para abastecer ônibus e automóveis, e na indústria química. O termo para o propano pressurizado é GLP – gás liquefeito de petróleo” (ART, H. W. (Ed.). Op. cit., p. 432). 9 FONSECA, M. R. M. da. Química integral, p. 315. 10 DINIZ, M. H. Op. cit., 2, p. 652. 11 FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa, p. 1.164. 12 FERREIRA, A. B. de H. Op. cit., p. 1.557. 13 DINIZ, M. H. Op. cit., 1, p. 465. 14 No tocante à pena de multa, prescreve o art. 2.º, § 2.º, da Lei 8.176/1991 que, “no crime definido neste artigo, a pena de multa será fixada entre dez e trezentos e sessenta dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”. Na sequência, o § 3.º determina que “o dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a quatorze nem superior a duzentos Bônus do Tesouro Nacional (BTN)”. O índice estipulado pela lei (BTN) foi extinto, sendo substituído pela UFIR para o cálculo da correção https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg57a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg57a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg58a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg58a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg58a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg59a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg59a2 monetária das penas pecuniárias, em consonância com a Lei 8.383, de 30 de dezembro de 1991. Entretanto, a UFIR também foi extinta com a Lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995 (art. 30) e, hodiernamente, para atualização da multa, aplica-se tão somente a taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia). 15 DE PLÁCIDO E SILVA, O. Op. cit., p. 121. 16 SANDRONI, P. Op. cit., p. 372. 17 DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo, p. 218. Nesse sentido, “a autorização é o ato unilateral pelo qual a Administração, discricionariamente, faculta o exercício de atividade material, tendo, como regra, caráter precário” (MELLO, C. A. B. de. Curso de Direito Administrativo, p. 210); MEIRELLES, H. L. Op. cit., p. 183-184. 18 PRADO, L. R. Tratado de Direito Penal brasileiro. 2. ed., P. G., I, p. 627. 19 FERREIRA, A. B. de H. Op. cit., p. 940. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg61a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg61a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg61a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg62a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/13_chapter02.xhtml?favre=brett#pg62a2 PARTE II DELITOS CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO LEIS 8.078/1990 E 8.137/1990 BIBLIOGRAFIA: ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1993. ALVIM, Arruda et alii. Código do Consumidor comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 1995. AMARAL, Luiz Otávio de Oliveira. História e fundamentos do Direito do Consumidor. Revista dos Tribunais, São Paulo: RT, v. 648, 1989. ANDRADE, Pedro Ivo. 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Segundo alguns, seus indícios datam da Idade Antiga, de “onde se pode ver que, já na época clássica romana, se penalizavam a especulação e o açambarcamento, se estabeleciam limites de preços, se obrigava à declaração de mercadorias na alfândega, se penalizava a falsificação de produtos alimentares, infracções cuja punição podia mesmo consistir na pena de morte”.1 Outros entendem que a consciência da importância e necessidade de tutelar a relação do consumo somente surgiu na Idade Média, com o advento das corporações.2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg67a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg67a4 Em que pesem as divergências, é preciso não esquecer que “as normas, então existentes, eram específicas relativamente à matéria que tratavam e circunscritas ao ramo da actividade que abrangiam, tudo porque eram o fruto das circunstâncias. E se tinham no seu escopo a protecção dos consumidores, não formavam, ainda, verdadeiro Direito Penal do consumo”.3 O importante era, no entanto, “o facto de tais normas serem, desde o início, de natureza essencialmente penal ou, pelo menos, de carácter marcadamente repressivo”.4 A evolução da proteção legal do consumidor passa por etapas de maior realce, como o desenvolvimento da economia de mercado (séculos XIX e XX), a formatação jurídica do princípio da autonomia da vontade e a ampliação das leis trabalhistas, muito embora não deixasse de estar presente, de uma forma ou de outra, o desequilíbrio entre fornecedor e consumidor.5 Foi tão somente a partir da metade do século XX, porém, que as relações de consumo emergiram como uma questão socioeconômica, chegando-se a afirmar que o grau de desenvolvimento de uma sociedade está em função da satisfação das necessidades de seus consumidores.6 De qualquer modo, a proteção jurídica dos consumidores se reveste de grande importância em uma sociedade livre e democrática, e que se apresenta como eminentemente consumista.7 Os consumidores “são ao mesmo tempo reis e escravos da sociedade de consumo que caracteriza os países desenvolvidos”.8 Em seguida, mais no final do século XX, tomou-se consciência da necessidade de uma defesa mais eficaz do consumidor,9 no sentido de corrigir o desequilíbrio cada vez mais potencializado existente nas relações de consumo.10 No Direito brasileiro, a matéria foi tratada implicitamente pela vez primeira nas Ordenações Filipinas (Livro V), cujo texto primava pela absoluta severidade de suas sanções.11 As leis subsequentes – Códigos Penais de 183012 e 1890 – não versaram sobre a matéria. A Consolidação das Leis Penais (Decreto 22.213, de 14.12.1932) foi o primeiro diploma a empregar expressamente o termo consumidor (art. 353),13 e o Código Penal de 1940, por sua vez, conferiu ao tema superficial abordagem. Com o advento daLei 1.521/1951 (Lei de Economia Popular), a matéria foi de certo modo tratada em alguns dispositivos.14 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a11 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a12 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a13 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a14 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a15 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a16 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a8 Em 1988, tem-se o marco histórico fundamental da tutela jurídica das relações de consumo com o reconhecimento expresso pela Constituição Federal de que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (art. 5.º, XXXII). Também, no âmbito da ordem econômica, enfatiza-se a necessidade de ser observada a defesa do consumidor (art. 170, V, da CF). Ficam assim claramente patenteados em sede constitucional os interesses do consumidor como bem jurídico digno e merecedor de proteção pelas leis ordinárias. Posteriormente, após a promulgação da Constituição, surgiram as Leis 8.078, de 11.09.1990 – denominada Código de Defesa do Consumidor –, e 8.137, de 27.12.1990, que tratam de forma direta da proteção jurídico-penal das relações de consumo. Tipifica-se um conjunto de ações e omissões que afetam (lesam ou põem em perigo), genericamente, interesses econômicos e sociais dos consumidores (e, de certo modo, do mercado) entendidos fundamentalmente como bem jurídico-penal de natureza macrossocial ou metaindividual.15 Esclareça-se que a ideia de consumo, de consumidor, é de origem econômica. Diverso da produção e da distribuição, o consumo é o último estágio do processo econômico. E a relação de consumo vem a ser nada mais que a relação jurídica estabelecida entre fornecedor e consumidor, na contratação de produtos e serviços. Objetiva-se a proteção da parte mais fraca dessa relação, que é exatamente o consumidor. Para logo, fica assentado em matéria penal o caráter altamente criminalizador da Lei 8.078/1990, visto que erige à categoria de delito uma grande quantidade de comportamentos que, a rigor, não deveriam passar de meras infrações administrativas, em total dissonância com os princípios penais da intervenção mínima e da insignificância (v.g., arts. 71, 72 e 74 da Lei 8.078/1990). O legislador, na elaboração do Código de Defesa do Consumidor, foi pródigo em utilizar conceitos amplos e indeterminados – muitas vezes eivados de impropriedades técnicas, linguísticas e lógicas (v.g., arts. 65, 67 e 68). No tocante à problemática do concurso de pessoas, afloram justamente a imperfeição técnica e a desnecessidade da previsão legal específica, quando se busca saber quem realiza (ou quem contribui para) o tipo legal de injusto. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg70a2 A toda evidência, trata-se de uma concorrência plúrima e de formas diferentes para a prática de determinado fato punível. O Código de Defesa do Consumidor, na mesma linha do Código Penal, acolhe em sede de concurso de pessoas a teoria monista ou unitária, ainda que de maneira temperada ou matizada, visto que estabelece certos graus de participação e um verdadeiro reforço do princípio constitucional da individualização da pena (na medida de sua culpabilidade). Em princípio, essa diretriz não faz nenhuma distinção entre autor, coautor e partícipe: todos os que concorrem para o crime são autores dele. Assim, tal previsão (art. 75 do CDC)16 consiste em mera repetição da regra geral ínsita no Código Penal (art. 29), mostrando-se perfeitamente dispensável. É de enfatizar-se, ainda, que a má redação da segunda parte do art. 75 do CDC conduziu à discussão doutrinária a respeito de ter sido adotada em matéria de concurso de pessoas a responsabilidade objetiva. Argumenta-se, de um lado, que o texto não “exige que o diretor, administrador ou gerente tenham uma conduta ativa promovendo efetivamente o fornecimento, a oferta, ou a exposição à venda de modo ilícito. Contenta-se o preceito, numa consagração implícita da responsabilidade objetiva, que o diretor, administrador ou gerente permitam o fornecimento, vale dizer, não se oponham, de forma eficaz, ao ato, o que é um absurdo”.17 Ademais, também “poderão ser eles eventualmente incriminados por terem aprovado determinado fornecimento que, ao depois, não venha a ser feito como inicialmente decidido, sem qualquer participação ou culpa do diretor, do administrador ou do gerente”.18 Em sentido oposto, assinala-se que a redação apresentada pelo diploma em epígrafe de maneira alguma conduz à assertiva de que teria “ressuscitado” a responsabilidade objetiva no âmbito penal. A redação do texto visa a “chamar a atenção dos diretores, administradores de entidades (...) quanto a sua aprovação de atividade que redundem em prejuízo a [consumidores], a investidores e outras pessoas interessadas, donde sua responsabilização também criminal”. Trata-se apenas de um dispositivo de “caráter explicativo e didático”.19 Em verdade, essa previsão legal deve ser interpretada de forma restritiva, ou seja, tão somente é imputado determinado fato ao diretor, administrador ou gerente quando existe prova de que atuaram com dolo ou culpa.20 Isso porque o princípio da responsabilidade penal subjetiva, além de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a6 ser dotado de caráter e aplicabilidade geral (art. 18 do CP), tem amparo constitucional implícito,21 o que lhe outorga indiscutível validade para todo sistema penal, sob pena de inconstitucionalidade. Importa ainda, nesse passo, fazer breve alusão à responsabilidade penal da pessoa jurídica. A doutrina tem equivocadamente salientado a possibilidade de um ente coletivo poder realizar per si alguma das condutas previstas no Código de Defesa do Consumidor, em razão da segunda parte do art. 75 – que, segundo alguns, teria sido revogado pelo art. 11 da Lei 8.137/199022 – e da polêmica instaurada com a promulgação da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais). A ideia da revogação é no mínimo discutível, visto que o Código de Defesa do Consumidor se encontrava em período de vacatio legis.23 Analisando a redação dos referidos dispositivos, evidencia-se que nenhuma das leis penais que versam sobre a ordem econômica lato sensu (relações de consumo – Leis 8.078/1990, 8.137/1990; ordem econômica, tributária, sistema financeiro – Leis 8.137/1990, 8.176/1991, 7.492/1986), entre outras, possibilita a consideração de que o ente coletivo possa ser sujeito ativo de delito. Essefato torna-se ainda mais evidente quando se observa a construção dos tipos penais relativos à matéria. Nestes últimos não há nenhuma previsão de conduta que a pessoa jurídica possa realizar. Todos os delitos, bem como suas penas, são dirigidos às pessoas físicas, que podem utilizar-se da pessoa moral para a prática de delitos.24 É mister destacar, por fim, que o Projeto do Novo Código Penal (2012) prevê a inserção dos “Crimes contra as relações de consumo”, no Capítulo II, artigos 438 a 448. 1.2. ARTIGO 63 DA LEI 8.078/1990 Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. § 1.º Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado. § 2.º Se o crime é culposo: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a10 Pena – detenção de um a seis meses ou multa. A figura delitiva constante do art. 63 do CDC não constava em nenhuma legislação pretérita. Constitui, portanto, inovação incorporada ao ordenamento jurídico penal pela Lei 8.078, de 11.09.1990. Tipifica-se a omissão pelos fornecedores de informações de alerta ou de advertência sobre produtos e serviços que podem ser nocivos ou perigosos. Bem jurídico e sujeitos do delito: busca-se proteger, in casu, a transparência, a exatidão e a completude das informações sobre a nocividade ou periculosidade de produtos e serviços. De modo secundário, são também tutelados os interesses das pessoas prejudicadas, como a vida e a saúde (arts. 6.º, I; 9.º e 31 do CDC).25 Trata-se de delito de perigo, vale dizer, é bastante a omissão de informações nos produtos para que se perfaça o tipo. Nos delitos de perigo concreto a exigência do perigo faz parte do tipo, integra-o como elemento normativo, de modo que o delito só se consuma com a real ocorrência do perigo para o bem jurídico. Nos delitos de perigo abstrato, porém, o perigo constitui unicamente a ratio legis, isto é, o motivo que inspirou o legislador a criar a figura delitiva. O perigo não aparece aqui como elemento do tipo objetivo e o delito se consuma mesmo que no caso concreto não se tenha verificado nenhum perigo para o bem jurídico tutelado. Dessa forma, enquanto nos delitos de perigo concreto é indispensável que o juiz verifique se o perigo realmente ocorreu ou não no caso em exame, nos delitos de perigo abstrato não se exige que o perigo seja comprovado.26 O delito constante no art. 63 (omissão de informação) é de perigo abstrato. O sujeito ativo é o fornecedor (delito especial próprio).27 Fornecedor, de acordo com a redação do art. 3.º, caput, da Lei 8.078/1990, abrange “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. É preciso salientar que esse conceito sofre restrição no âmbito penal, pois ainda vigora no Brasil o clássico axioma do societas delinquere non potest.28 Isso quer dizer que os crimes praticados no âmbito da pessoa https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg73a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg74a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg74a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg74a6 jurídica só podem ser imputados criminalmente às pessoas naturais na qualidade de autores ou partícipes. Dessa forma, fornecedor, para efeitos penais, é toda pessoa física ou natural que desenvolve atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Sujeito passivo é a coletividade de consumidores, podendo, eventualmente, haver vítima mediata, que é o consumidor – pessoa física ou jurídica –, lesada efetivamente pela conduta do agente. Isso quer dizer que não é preciso a aquisição ou a utilização de produtos ou serviços pelo consumidor, para que ele seja considerado vítima. Entende-se por consumidor “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza o produto ou serviço como destinatário final” (art. 2.º, caput, do CDC). “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo” (art. 2.º, parágrafo único, do CDC).29 Afirma-se, ainda, que “a denominação consumidores, de amplo uso nos âmbitos sociológico e econômico, designa o coletivo social quando se analisa como destinatário do sistema econômico de produção de bens e prestações de serviços ou, na perspectiva inversa, como parte demandante no mercado. Ainda que a teoria econômica configure o consumidor como agente livre (de adquirir ou não adquirir e, no primeiro caso, de escolher entre as distintas ofertas de produtos ou serviços existentes) e decisivo (porque provoca o fracasso dos comerciantes, empresas ou indústrias cujos produtos ou serviços rechaça, ou o sucesso daqueles cujos produtos ou serviços procura mais intensamente), no contexto real de funcionamento do sistema é, sem dúvida, sua parte mais débil; facilmente influenciável pela publicidade, ou mais genericamente, pelas diversas estratégias de marketing comercial empresarial e sem capacidade autônoma de reação diante das condutas abusivas dos comerciantes, das empresas ou das indústrias”.30 A expressão “destinatário final”, empregada no caput do art. 2.º, abarca a pessoa – física ou jurídica – que “adquire produto ou serviço para uso próprio sem finalidade de produção de outros produtos ou serviços”,31 ou que adquire produto ou serviço com fim de produzir outros bens ou serviços, “desde que o produto ou serviço, uma vez adquiridos, sejam oferecidos regularmente no mercado de consumo, independentemente do uso e destino que o adquirente lhe vai dar”.32 Isso significa que o Código de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a8 Defesa do Consumidor “não regula situações nas quais, apesar de se poder identificar um ‘destinatário final’, o produto ou serviço é entregue com a finalidade específica de servir de ‘bem de produção’ para outro produto ou serviço e via de regra não está colocado no mercado de consumo como bem de consumo, mas como de produção; o consumidor comum não o adquire”.33 De um lado está o fornecedor e, de outro, no extremo oposto da relação, está o consumidor. Além deste último, destinatário final34 por excelência, também o primeiro (fornecedor) pode ser assim considerado quando utiliza o produto na cadeia de produção-distribui-ção, num verdadeiro contexto de intermediação. O conceito de consumidor se diferencia do de fornecedor, exatamente porque aquele não atua em razão de suas necessidades profissionais. O seu objetivo, quando da utilização de um produto ou serviço, é sempre não profissional, ou seja, privado, pessoal ou familiar. A pessoa física ou jurídica que fornece (produção, distribuição, comercialização) o bem ou o serviço é o fornecedor,termo genérico que engloba produtor, comerciante, distribuidor e prestador de serviços. O consumidor é um cidadão comum (cidadão-consumidor), “aquele que cria o desequilíbrio e justifica as regras de proteção”.35 Tipicidade objetiva e subjetiva: duas são as condutas incriminadas no art. 63 do CDC: omitir, que corresponde a não fazer o que juridicamente devia fazer: dizeres (frases) ou sinais (desenhos) ostensivos (visíveis) sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, entendidos como qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (art. 3.º, § 1.º, do CDC) nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade; deixar expressa o ato de abster-se, de omitir de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado. A primeira modalidade – “omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade” – caracteriza delito omissivo próprio ou puro. Pune-se a não realização de uma ação que o autor devia e podia realizar. O agente infringe uma norma mandamental, isto é, transgride um imperativo, uma ordem ou comando de atuar.36 Faz-se mister a existência de uma situação típica (nocividade ou periculosidade de produtos), a não realização de uma ação cumpridora do mandato (o agente deixa de informar ou de alertar sobre a nocividade ou periculosidade de produtos) e a capacidade concreta de ação (conhecimento da situação típica e dos meios ou formas de realização da conduta devida). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a8 O objeto material pode ser o invólucro, isto é, tudo aquilo que é destinado a envolver, embrulhar, cobrir, revestir o produto (v.g., rótulos,37 bulas, caixas, pacotes etc.); o recipiente, que serve para acondicionar, conter, o produto (v.g., frascos, vidros, latas, potes, bisnagas entre outros), ou a embalagem – termo mais amplo –, que engloba tanto o invólucro como o recipiente. De fato, embalagem é o invólucro, recipiente ou qualquer forma de acondicionamento, removível ou não, destinada a cobrir, empacotar, engarrafar, enlatar, proteger ou manter, especificamente ou não, os produtos.38 A publicidade, por sua vez, vem a ser “toda forma de comunicação realizada por uma pessoa física ou jurídica, pública ou privada, no exercício de uma atividade comercial, industrial, artesanal ou profissional, com o fim de promover de forma direta ou indireta a contratação de bens móveis ou imóveis, serviços, direitos e obrigações”.39 Em outras palavras, é a “atividade que consiste em despertar o interesse do consumidor para a aquisição ou a utilização de produtos ou serviços que anuncia, por meio de mensagens, escritas ou faladas”40 (v.g., boletins, catálogos, prospectos, propagandas, folhetos, anúncios). A redação do caput do art. 63 tem sido objeto de críticas. Assim, por exemplo, por ter utilizado a conjunção aditiva e em vez da alternativa ou, quando exige que nos produtos nocivos ou perigosos estejam presentes dizeres ou sinais de alerta. Essa simples mudança reforçaria a tutela ao bem jurídico, posto que não se pode esquecer a existência, ainda, de um grande contingente de consumidores brasileiros analfabetos.41 Acrescente-se que não se trata de omitir nenhuma informação acerca do produto. O texto legal faz menção expressa a omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos. O termo nocividade – elemento normativo do tipo – significa provocar, causar dano, prejuízo efetivo, enquanto periculosidade significa o estado ou a qualidade de perigoso, de arriscado, no sentido de provável dano. O emprego da palavra periculosidade não é o mais adequado, uma vez que tal expressão designa na área penal – conforme se verifica no artigo 97, § 1.º, do Código Penal42 e nos artigos 175 a 179 da Lei de Execução Penal – o conjunto de circunstâncias que indicam a probabilidade de alguém realizar uma conduta delitiva. Em razão disso, talvez fosse preferível o emprego de substantivos como risco ou perigo. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a7 Convém esclarecer que não se trata de lei penal em branco, como salientam equivocadamente alguns autores.43 Os termos nocividade e periculosidade são elementos normativos do tipo de injusto (tipo objetivo), que devem ser analisados pelo juiz, no caso concreto.44 Na segunda hipótese, o núcleo do tipo está consubstanciado pela locução verbal deixar de alertar, que, no sentido do texto, expressa o ato de omitir, de abster-se de ressaltar, notificar sobre a periculosidade de um produto ou serviço. Também aqui se trata de delito omissivo próprio. Serviço45 vem a ser “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista” (art. 3.º, § 2.º, do CDC). No caso em apreço, é preciso que o serviço implique perigo ou risco ao consumidor (v.g., intervenção cirúrgica com o escopo de eliminar o estrabismo; dedetizador que emprega substância tóxica para matar insetos e acaba provocando irritações ou até a morte de um ser humano).46 O tipo subjetivo é composto pelo dolo – consciência e vontade de omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade e de não alertar sobre o perigo ou o risco de determinado serviço. Na figura do caput, a consumação se verifica quando o sujeito ativo não coloca os dizeres ou sinais sobre nocividade ou periculosidade de produto, nas embalagens, invólucros, recipientes ou publicidade (delito de mera atividade). Noutro dizer: exaure-se na infração a uma norma mandamental e na simples omissão de uma atividade exigida pela lei.47 No § 1.º, consuma-se o delito quando o sujeito ativo deixa de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado. Por se tratar de delitos omissivos próprios, a tentativa é inadmissível. O parágrafo 2.º do art. 63 dispõe sobre a forma culposa, resultante da inobservância do dever de cuidado objetivamente devido por parte do sujeito ativo.48 Saliente-se que no tipo de injusto culposo, como consequência da inobservância da norma de cuidado exigível, pode ocorrer um resultado material externo, ou que contribua para uma determinada qualidade da conduta. Há, portanto, em sede dogmática, delito culposo de resultado, aliás a hipótese mais comum, como também de mera atividade. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a6https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a7 É certa, todavia, a afirmação de que “na prática, será sempre muito difícil definir se a conduta do agente foi querida por ele, ou se apenas resultou de imprudência, negligência ou imperícia”.49 Pena e ação penal: para as figuras ancoradas no caput e no § 1.º do artigo em epígrafe são cominadas penas de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e de multa (pena cumulativa). Ressalte-se que, no tocante à pena de multa, esta “será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no artigo 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). No que diz respeito ainda à cominação da pena, segundo o disposto no art. 78 do CDC, além da imposição das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas de forma cumulativa ou alternada, desde que observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, a expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação e prestação de serviços à comunidade. Na hipótese da conduta culposa, o legislador prevê a alternatividade, estabelecendo detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. Por ser infração de menor potencial ofensivo, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal, em qualquer das hipóteses, é pública incondicionada. 1.3. ARTIGO 64 DA LEI 8.078/1990 Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produto cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a8 A Lei 8.078, de 11.09.1990, dá atenção especial ao problema da responsabilidade do fornecedor em relação a produtos ou serviços nocivos ou perigosos à saúde ou segurança, tanto na esfera civil como na penal. De fato, o artigo 10 do CDC, além de advertir sobre a conduta do fornecedor de não poder colocar no mercado de consumo produtos ou serviços prejudiciais à saúde dos consumidores (caput), também destaca sua responsabilidade em comunicar à autoridade competente e aos consumidores, mediante anúncios publicitários, caso ocorra “nocividade futura”. Ou seja, “após a colocação do produto ou serviço no mercado de consumo, o fornecedor toma conhecimento do real nível de nocividade ou periculosidade, em decorrência de fato desconhecido à época do fornecimento”50 (§ 1.º). Isso significa que “produtos podem existir com grau mais ou menos elevado de nocividade ou periculosidade”,51 como agrotóxicos, formicidas, raticidas, desde que os fornecedores cumpram as exigências das autoridades administrativas para colocar no mercado esses produtos (informações sobre a sua nocividade, o modo de utilizar, e que sua composição não comprometa a vida ou integridade física do consumidor). Com o fim de coibir a omissão do agente em comunicar à autoridade competente e aos consumidores sobre a nocividade ou periculosidade de produto cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado ou deixar de retirar do mercado tais produtos, o legislador criou a figura delitiva insculpida no art. 64 do CDC. Bem jurídico e sujeitos do delito: protegem-se a veracidade e a exatidão das informações acerca da nocividade e periculosidade dos produtos comercializados, de forma a resguardar a vida e a saúde do consumidor, parte mais débil da relação de consumo.52 Sujeito ativo do delito é o fornecedor. Trata-se de delito especial próprio, uma vez que o tipo exige determinada qualidade do agente. Fornecedor, como já salientado, é a pessoa física ou responsável pelo ente coletivo (vide comentários ao art. 63). Sujeito passivo, tanto do tipo básico como na figura assemelhada inserida no parágrafo único, é a coletividade de consumidores e, eventualmente, o consumidor que adquiriu o produto nocivo ou perigoso. Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta incriminada no caput consiste em deixar de comunicar, que, no sentido do texto, expressa o ato de omitir, de abster-se de notificar à autoridade competente e aos https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg80a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg81a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg81a4 consumidores sobre a nocividade ou periculosidade de um produto, cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado. É indispensável que o sujeito ativo somente tenha conhecimento do risco do produto para o consumidor após sua entrada no mercado. Caso contrário, configura-se a conduta ancorada no art. 63 do CDC. Trata-se de delito omissivo próprio, pois, ao deixar de comunicar à autoridade e aos consumidores, após tomar conhecimento da nocividade ou periculosidade do produto, o agente infringe a norma mandamental, omitindo uma atividade exigida pela lei. O tipo legal, entretanto, não estabelece a maneira como deve ser feita a comunicação, o que significa que pode ser feita oralmente (v.g., por intermédio do rádio, da televisão) ou por escrito (v.g., jornais, revistas, outdoors).53 Como bem se explicita, dada “a gravidade do fato descrito no tipo o legislador deveria ter sido mais explícito e minucioso, prevendo inclusive o dever de ampla publicidade por todos os veículos de comunicação, de modo a atingir, ou tentar atingir, praticamente a totalidade do universo consumidor”.54 Autoridade competente é a pessoa vinculada ao poder público e investida por disposição legal de poder decisório, em seu âmbito específico de jurisdição. Ou, mais especificamente, “toda pessoa física ou jurídica que detém, por força de lei ou regulamento, o poder de decisão e de se fazer obedecer, de dar ordens, direito, jurisdição”.55 O vocábulo consumidor, empregado nesse dispositivo, consiste na “pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”, bem como “a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo” (art. 2.º, caput e parágrafo único, respectivamente, do CDC). É importante salientar que não é preciso a aquisição ou utilização de produtos para que alguém seja considerado consumidor no caso em exame. Colocação no mercado vem a ser a disposição, oferta ou entrega de produtos ou serviços ao consumidor interessado. No art. 64, parágrafo único, o núcleo do tipo é representado pela locução verbal deixar de retirar, que, consoante já se assinalou, expressa o ato de omitir, de abster-se de retirar imediatamente, quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma desse artigo. Esta última disposição legal versa sobre o denominado recall, ou seja, a retirada do mercado de produto com vício, defeito ou imperfeição https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg82a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg82a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg82a6 relativa à qualidade, operada pelo fornecedor. Também aqui se trata de delito omissivo próprio. O termo imediatamentesignifica de modo instantâneo, seguido, ato contínuo, sem entremeio. É elemento normativo do tipo, de ordem temporal. Saliente-se que o lapso temporal deve ser sine intervallo, isto é, logo após a ordem da autoridade competente. A expressão na forma deste artigo visa a estabelecer que o autor que deixou de retirar o produto não tinha conhecimento, na época em que o colocou no mercado, da sua nocividade ou da sua periculosidade. Isso significa que não abarca “a situação bem mais antissocial da hipótese de que já era do conhecimento do agente, quando da oferta do produto, a sua nocividade ou perigosidade”.56 O tipo subjetivo é composto pelo dolo (direto ou eventual), entendido como a consciência e a vontade de deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou a periculosidade de produto cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado. Exige-se também que o agente tenha consciência e vontade de não retirar do mercado imediatamente, quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos. É preciso, portanto, que atue com dolo (direto ou eventual). Não existe nenhum elemento subjetivo do injusto. Isso vale dizer que não é necessário que o sujeito ativo atue impelido por motivos egoístas ou de lucro. A conduta culposa não é punível, diante da ausência de previsão legislativa explícita (art. 18, parágrafo único, do CP). Consuma-se o delito quando o tipo de injusto objetivo se encontra plenamente realizado, ou seja, quando o autor deixa de realizar as condutas descritas no tipo objetivo (delito instantâneo e de mera atividade). Desse modo, se o agente deixa de comunicar à autoridade competente e aos consumidores, ou deixa de retirar o produto nocivo ou perigoso, tem-se o delito por consumado. No caso em que o faça tão somente à autoridade competente e não aos consumidores, pratica o delito, visto que o tipo exige a comunicação tanto à autoridade como aos consumidores.57 A tentativa não é admissível. Pena e ação penal: as penas cominadas para quem deixa de comunicar à autoridade competente e aos consumidores e de retirar do mercado o produto nocivo ou perigoso ao consumidor cujo conhecimento seja https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg83a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg83a4 posterior à sua colocação no mercado são as de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e de multa (pena cumulativa). A pena de multa deve ser “fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). No que diz respeito ainda à cominação da pena, segundo o disposto no art. 78 do CDC, além da imposição das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas de forma cumulativa ou alternada, desde que observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação, e prestação de serviços à comunidade. Por ser infração de menor potencial ofensivo, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal, em qualquer das hipóteses, é pública incondicionada. 1.4. ARTIGO 65 DA LEI 8.078/1990 Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. § 1.º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte. (Redação dada pela Lei n.º 13.425, de 2017) § 2.º A prática do disposto no inciso XIV do art. 39 desta Lei também caracteriza o crime previsto no caput deste artigo. (Incluído pela Lei n.º 13.425, de 2017) A figura delitiva do art. 65 do CDC não constava em nenhuma legislação pretérita. Constitui, portanto, inovação agasalhada pelo ordenamento jurídico penal por meio da Lei 8.078, de 11.09.1990. Bem jurídico e sujeitos do delito: tutela-se a segurança do consumidor, indispensável na execução de serviço de alto grau de periculosidade, de modo a garantir sua vida e saúde. Sujeito ativo do delito em apreço é o prestador de serviços, isto é, qualquer pessoa física que exerça “atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista” (art. 3.º, § 2.º, do CDC). Sujeitos passivos são a coletividade de consumidores que pode se utilizar do serviço de alto grau de periculosidade, e, eventualmente, o próprio consumidor. A primeira modalidade consiste em favorecer ou preferir, sem justa causa: a conduta típica consiste em executar, que significa fazer, realizar, efetuar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente. O texto desse dispositivo é extremamente dúbio, uma vez que permite extrair de sua redação várias interpretações. De conseguinte, transgride-se o princípio da legalidade, em sua vertente de taxatividade, que exige que as normas sejam claras e perfeitamente delimitadas. A infeliz expressão “alto grau de periculosidade” não permite a identificação imediata do seu significado, possibilitando, com isso, ampla margem de especulação por parte do intérprete. Ademais, essa expressão é “despicienda, porque, se a execução do serviço contraria a determinação de autoridade competente, presume-se que a autoridade julgou inconveniente ou perigosa tal execução, e a ordem de não realizar serviço tem uma razão de ser e não poderia ser desobedecida”.58 A imprecisão legal da expressão “serviços de alto grau de periculosidade” deu lugar ao surgimento de vários critérios para elucidá-la. Alguns sustentam que “são aqueles que, na sua prestação, por possuírem periculosidade inerente exacerbada, exigem atenção e cuidados especiais. Trata-se de elemento normativo do tipo. Entre outros, cabe citar as dedetizações, os parques de diversão, as escolas de paraquedismo, o transporte aéreo”.59 Outros a consideram “norma penal em branco a medida que requer complementaridade pelas ‘determinações das autoridades competentes’ que irão dizer que especificações devem ser atendidas na execução dos serviços já por si mesmos considerados perigosos, sempre na diretriz da melhor doutrina”.60 A exegese mais correta é, por sem dúvida, a que considera a expressão mencionada (“serviços de alto grau de periculosidade”) como elemento normativo do tipo de injusto. Trata-se de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a7 serviço de grande ou elevado risco, que se encontra para além do normal e que pode colocar em sério perigo quem o executa.61 De outro lado, a expressão “contrariando determinação de autoridade competente” indica, agora sim, a presença de estrutura normativa incompleta (norma penal em branco), dependente para sua integração de ato normativo que explicita o conteúdo da ordem emanada da autoridade legal competente para sua fixação. O tipo subjetivo é constituído unicamente pelo dolo – consciência e vontade de executar serviço de alto grau de periculosidade contrariando determinação de autoridade competente. Na figura do caput, a consumação se verifica quando o sujeito ativo executa serviço de alto grau de periculosidade em desacordo com ordemda autoridade competente. Trata-se de delito de perigo concreto, sujeito à aferição do julgador, in casu, do perigo e de sua gravidade.62 A tentativa, apesar de difícil configuração, é admissível. O parágrafo 1.º do art. 65 prevê o concurso formal da figura do caput do art. 65 do CDC com o art. 129 ou 121 do Código Penal (tanto na modalidade dolosa como na culposa). De fato, se o sujeito ativo realiza um serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente, e com a sua conduta (dolosa ou culposa) ocasiona a morte ou lesão corporal de uma pessoa, responde também por esse delito. Por sua vez, o parágrafo 2.º, inserido pela Lei 13.425/2017, prevê nova incriminação, sob a forma equiparada ao art. 65, caput, da conduta de “permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo” (prática abusiva determinada pelo art. 39, XIV, da Lei 8.078/1990, também inserido pela Lei 13.425/2017). Trata-se de crime de perigo abstrato, uma vez que a conduta por si só é considerada perigosa para a segurança dos consumidores que se encontram em locais com lotação superior à máxima admitida. Pena e ação penal: as penas abstratamente previstas são as de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e de multa (pena cumulativa), sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte. A pena de multa “será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg86a2 Quanto à cominação da pena, segundo o disposto no art. 78 do CDC, além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas de forma cumulativa ou alternada, desde que observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação e prestação de serviços à comunidade. Por ser infração de menor potencial ofensivo, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal, em qualquer das hipóteses, é pública incondicionada. 1.5. ARTIGO 66 DA LEI 8.078/1990 Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. § 1.º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2.º Se o crime é culposo: Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. O Código de Defesa do Consumidor institui como um dos direitos básicos do consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art. 6.º, III). A preocupação do legislador quanto à observância de tal direito foi tanta que acabou mencionando, no art. 31, caput, que “a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”. Verifica-se, pois, que o artigo 66 busca tutelar especificamente o direito à informação verdadeira e transparente obtida diretamente do vendedor, do gerente do estabelecimento, ou mesmo por meio de embalagens, rótulos, bulas, termos de garantia, notas fiscais, mas sem que ocorra a intervenção da atividade publicitária. Assim, enquanto os artigos 67, 68 e 69 se materializam mediante o anúncio publicitário, o presente dispositivo tem incidência apenas nas informações de ordem não publicitária. Bem jurídico e sujeitos do delito: tutelam-se a veracidade e a transparência da informação transmitida ou prestada sobre produtos e serviços, bem como a especificação correta de seus dados. De modo secundário, são também protegidos os interesses das pessoas prejudicadas, como a saúde e o patrimônio. Sujeito ativo do delito é o fornecedor (art. 3.º da Lei 8.078/1990), tratando-se, pois, de delito especial próprio. Sendo o fornecedor pessoa jurídica, vide comentários aos artigos 61 e 63 do CDC. Além do fornecedor, figura como sujeito ativo quem patrocina a oferta (art. 66, § 1.º, do CDC). O patrocinador é aquele que custeia, garante ou “subsidia a oferta, o que se dá, normalmente, quando o fornecedor não pode arcar com os custos decorrentes da colocação do produto ou serviço à disposição do público consumidor”.63 Logo, é autor desse delito quem paga determinado preço para que a informação falsa, enganosa ou omissa atinja o consumidor, ludibriando-o. Sujeito passivo é a coletividade de consumidores. É oportuno esclarecer que não é necessária a aquisição ou utilização respectiva de produtos ou serviços pelo consumidor, para que este seja, então, considerado vítima. Aplica-se, nesse caso, o conceito de consumidor determinado pelo art. 29 do CDC, segundo o qual é suficiente que ele esteja exposto às práticas comerciais, entre as quais se inclui a oferta e a apresentação do produto ou serviço. Eventualmente, pode haver vítima mediata, que é o consumidor – pessoa física ou jurídica – lesado efetivamente pela conduta do agente.64 Tipicidade objetiva e subjetiva: as condutas incriminadas são a de fazer, que significa praticar, executar, realizar, produzir afirmação falsa ou enganosa e a de omitir informação relevante sobre determinados aspectos de produtos ou serviços. Desse modo, pode o delito ser perpetrado de forma comissiva ou omissiva. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg88a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg88a4 Na primeira delas, o sujeito ativo faz uma afirmação falsa (apresenta como verdadeiro o que não é) ou uma afirmação enganosa (expõe com malícia ou subterfúgio, escondendo a verdade). A omissão se verifica quando o agente omite informação relevante (sonega ou silencia a seu respeito). Trata-se, portanto, de delito de ação múltipla ou de conteúdo variável,65 de modo que as diferentes condutas previstas no tipo, uma vez praticadas pelo agente, num só contexto, compõem apenas um único delito.66 Afirmação consiste no ato de afirmar, de asseverar, de dizer ou declarar com firmeza. Na afirmação do falso há uma desconformidade entre a alegação feita e a realidade do produto ou serviço. Logo, afirmar o falso significa dizer algo que não condiz com a verdade.67 É declarar, por exemplo, que um produto detém certo desempenho, quando se sabe, realmente, que ele é inócuo para desenvolver a função afirmada. Assim, a falsidade da afirmação pode ser material, isto é, aquela que ofende a origem do produto, atestando ser real, quando na verdade não passa de mera aparência (como, v.g., a autoria, a data e o local de fabricação de determinado produto ou serviço) ou ideológica, quando se refere ao conteúdo da informação de um produto ou serviço, constante, por exemplo, de seu rótulo, manual, nota fiscal.68 A afirmação enganosa reside na utilização de artifício, ardil ou qualquer outra fraude para que o consumidor seja induzido em erro (falsa noção da realidade)sobre específicos aspectos de produtos ou serviços. Frise-se que tanto a afirmação falsa como a enganosa devem ser idôneas a levar o consumidor a equívoco. Para tanto, é necessário que a afirmação tenha um conteúdo veraz, ainda que se trate de mera aparência, possibilitando que o consumidor acredite, confie nas palavras do fornecedor. De seu turno, quando a afirmação falsa ou a enganosa se apresenta de forma grosseira, de fácil identificação, a conduta é atípica, visto que a imitação da verdade (imitatio veri) é seu pressuposto ou condição. A omissão de informação relevante consiste em deixar de dizer ou de manifestar-se sobre dados essenciais, importantes, de produtos ou serviços. Informação relevante entende-se como sendo “aquela necessária e fundamental para a formação de um convencimento a propósito da natureza, das características, condição e demais aspectos do produto ou serviço”.69 Pode-se dizer, portanto, que informação relevante é aquela que https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg90a3 tem o condão de influenciar de modo decisivo o consumidor quanto à aquisição ou utilização respectiva de produtos ou serviços. Tanto a afirmação falsa ou enganosa quanto a omissão de informação relevante devem incidir sobre os seguintes dados de produtos ou serviços: natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia. Tais expressões são, pois, elementos normativos do tipo de injusto, ou seja, exigem para seu conhecimento um juízo de valor extrajurídico. Com lastro no princípio da legalidade, tem-se que esse rol é taxativo, não se admitindo, portanto, a inclusão de outros elementos não constantes expressamente na norma sob análise.70 Contudo, não se pode negar um afrouxamento da legalidade material na redação do dispositivo. A técnica legislativa não é das melhores, com o emprego excessivo de elementos normativos, o que prejudica a clareza e a determinação típica. Por natureza entende-se a essência, substância ou constituição do produto ou serviço. Característica é o sinal distintivo ou de individualização do produto ou serviço; é a descrição que diferencia determinado produto ou serviço dos demais. Qualidade diz respeito à condição, propriedade ou atributo do produto ou serviço, capaz de distingui-lo de outros e de lhe determinar a natureza. Quantidade é a grandeza do produto ou serviço, que se possa medir ou determinar, representada ou expressa numericamente. Ressalte-se, ainda, que quantidade não se limita apenas ao número, mas também ao comprimento, largura, altura, área, volume, capacidade, peso, medida e tamanho.71 Segurança significa estabilidade, certeza, firmeza; é a convicção que o produto ou serviço estejam livres de perigos ou de incertezas e assegurados de danos ou prejuízos, afastados de todo mal.72 Desempenho consiste na execução de um mister pelo produto ou serviço. Durabilidade é o tempo de resistência do produto ou serviço. Preço é o valor ou avaliação pecuniária que se atribui ao produto ou serviço, é o valor expresso em dinheiro.73 Garantia é o documento com que o fornecedor assegura a boa qualidade de um produto ou serviço, assumindo assim, perante o consumidor, o compromisso de ressarci-lo em caso de ineficácia ou fraude comprovadas. Importante destacar que, de acordo com a sistemática do Código de Defesa do Consumidor, existem dois tipos de garantia. A chamada garantia legal, que independe de termo expresso, sendo sempre obrigatória, visto que https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg90a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a7 se veda a exoneração contratual do fornecedor (art. 24); e a garantia contratual – complementar à primeira –, é conferida mediante termo escrito (art. 50). Por derradeiro, o conceito de produto e serviço é dado pelo próprio Código de Defesa do Consumidor. Assim, produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (art. 3.º, § 1.º), e serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista (art. 3.º, § 2.º). O § 1.º do art. 66 (crime de patrocínio de oferta fraudulenta) relaciona a conduta de patrocinar a oferta que, sendo necessariamente subsequente à realização de afirmação falsa ou enganosa ou à omissão de informação relevante sobre os vários aspectos concernentes aos produtos ou serviços, é a esta equiparada. Portanto, não assiste razão ao entendimento doutrinário de que o § 1.º seja uma modalidade de participação, manifestada pela persuasão ou pelo conselho.74 Vê-se que o legislador apenas criou um tipo específico para o patrocinador, independentemente de eventual participação delituosa no crime tipificado no caput do art. 66.75 Patrocinar significa auxiliar, proteger, beneficiar, favorecer, defender, custear, ou seja, “dar condições materiais ou econômicas, permitir, comissiva ou omissivamente, que a oferta desconforme seja feita ou chegue ao consumidor”.76 De acordo com a acepção adotada pelo Código de Defesa do Consumidor, considera-se oferta toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços (vide art. 30). Logo, a oferta se caracteriza quando o objeto da relação de consumo – produto ou serviço – é colocado à disposição do consumidor para adquiri-lo ou utilizá- lo.77 É possível ainda o concurso entre o delito previsto no caput e o § 1.º, ambos do art. 66, desde que não sejam a mesma pessoa o fornecedor e o patrocinador. Isso significa que aquele que patrocina a oferta fraudulenta não é mero partícipe ou coautor do que pratica as condutas tipificadas no caput, mas autor de um delito próprio e autônomo. O tipo subjetivo está representado pelo dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de fazer afirmação falsa ou enganosa ou omitir https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg92a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg92a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg92a6 informação relevante sobre os dados referidos no dispositivo acerca de produtos ou serviços ou, ainda, de patrocinar a oferta. Não se exige a presença de elemento subjetivo do injusto, visto não ser necessária a obtenção de um fim ulterior, como o lucro com a venda de produtos ou a prestação de serviços distorcidos da realidade. O delito admite o dolo eventual, já que o fornecedor, não obstante tenha dúvida sobre a presença de um elemento constitutivo do tipo, acaba por realizar assim mesmo a conduta, assumindo, pois, o risco de cometer o crime. É o caso, por exemplo, do fornecedor que, na incerteza sobre ser seu preço o mais baixo do mercado, arrisca-se em fazer essa afirmação sem averiguar se ela é mesmo verdadeira, ou na hipótese de o patrocinador, na dúvida a respeito da veracidadedas informações de certo produto ou serviço, empenhar-se mesmo assim em sua promoção. Dessa forma, aceita- se como possível a realização da conduta delitiva. O parágrafo 2.º do art. 66 do CDC dispõe sobre a modalidade culposa, resultante da inobservância do dever de cuidado objetivamente devido por parte do agente, qual seja aquele descrito no art. 31 do mesmo diploma legal. Aplica-se a figura culposa tanto ao crime descrito no caput quanto ao descrito no § 1.º. Frise-se, entretanto, que o tipo descrito no caput admite a modalidade culposa tão somente em relação à conduta de fazer afirmação falsa ou enganosa. No que tange à forma omissiva (omitir informação relevante), tendo em vista tratar-se de delito omissivo próprio, dificilmente seria possível a culpa.78 O delito em exame é de mera atividade ou conduta,79 consumando-se o previsto no artigo 66, caput, no momento em que se faz afirmação falsa ou enganosa, ou se omite informação relevante sobre qualquer um dos aspectos relacionados no tipo legal, sendo irrelevante a ocorrência de outro resultado material. De outra parte, consuma-se o do art. 66, § 1.º, no instante em que o agente patrocina a oferta que contém informação falsa ou enganosa. Trata-se, por assim dizer, de delito de perigo abstrato, em que é suficiente a potencialidade lesiva da conduta, não necessitando a produção de um resultado material externo. Demais disso, também nem sequer é necessário que o sujeito passivo seja ludibriado, pois se o consumidor é realmente induzido em erro, em virtude da conduta típica descrita sobre a natureza ou qualidade do produto https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a6 ou serviço, caracterizada está somente a infração prevista no art. 7.º, VII, da Lei 8.137/1990,80 em razão do princípio da especialidade. Havendo afirmação falsa ou enganosa, ou omissão de informação relevante por meio de publicidade, está caracterizado o delito do art. 67. A tentativa, em se tratando das condutas comissivas – fazer afirmação falsa ou enganosa (caput) e patrocinar (§ 1.º) – é admissível,81 porquanto tais condutas estampadas no dispositivo são de iter fracionável (delito plurissubsistente). Isso pode ocorrer na hipótese de o sujeito ativo ser surpreendido no momento em que são impressos os rótulos dos produtos, contendo informações inverídicas, ainda não divulgadas aos consumidores.82 Desse modo, não há dúvida de que o delito só não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente. Por outro lado, a conduta representada pelo verbo-núcleo – omitir – não comporta tentativa, tendo em vista a estrutura típica do delito omissivo próprio.83 Pena e ação penal: o delito previsto no caput e parágrafo 1.º é sancionado com pena de detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. Verifica-se, portanto, a adoção pelo legislador da pena cumulativa. De outra parte, a figura culposa encerra pena mais branda – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa –, além de ser alternativa. Nas duas modalidades, desde que preenchidos seus requisitos, é possível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos (art. 78 do CDC). A respeito da fixação da pena de multa, esta “será fixada em dias- multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa de liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, e parágrafo 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). Por ser infração de menor potencial ofensivo, tanto na modalidade dolosa como na modalidade culposa, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada, estando ausente qualquer exigência expressa de representação ou queixa-crime. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg94a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg94a4 1.6. ARTIGO 67 DA LEI 8.078/1990 Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. Parágrafo único. (Vetado.) Em uma economia de livre mercado, a publicidade é consubstancial às atividades comerciais e industriais, dado que é por meio dela que o fornecedor dá a conhecer, apresenta e veicula a oferta de bens e de serviços, e o consumidor é informado, toma conhecimento e opta pelo que lhe é ofertado. No contexto de um sistema liberal, a livre concorrência, como exemplo de democracia econômica,84 é um direito que decorre do princípio geral de liberdade de expressão,85 constitucionalmente assegurado (art. 5.º, IX, da CF). Patenteia-se uma postura liberal social na relação de concorrência, em que vigoram os princípios de livre concorrência e de igualdade entre os vários agentes do mercado econômico – fornecedor, consumidor e Estado, sendo que este último procura realizar uma política econômica que satisfaça às necessidades sociais, em consonância com a concepção social de Estado de Direito.86 A palavra “publicidade” encerra uma multiplicidade de sentidos, fazendo referência à mensagem (conteúdo da comunicação), ao modo (a forma de sua apresentação – oral, escrita, por gestos, imagens etc.) e ao meio (suporte ou veículo escolhido para a difusão da mensagem) publicitários. Destarte, independentemente de seu conteúdo e finalidade, tem ela como elemento comum o fato de ser um processo de comunicação de tipo suasivo, com destinatário coletivo e indeterminado. De acordo, então, com o seu conteúdo ou finalidade, isto é, funcionalmente, pode ser cultural, política, institucional, econômica, entre outras modalidades. É publicidade industrial ou comercial, quando visa à contratação em ramo específico de determinada atividade de comércio ou de indústria, sempre com objetivo econômico (fins econômicos e de lucro). Apresenta-se, assim, como instrumento de mediação entre o produto ou o serviço por ela propagado e o consumidor, seu inevitável destinatário. Por essa razão, o Código de Defesa do Consumidor dedica especial atenção https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg95a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg95a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg95a6 à matéria, tendo em vista que é o principal meio utilizado pelo fornecedor na persuasão dos consumidores para a aquisição de produtos ou utilização de serviços. Trata-se, assim, de procedimento incitativo, que busca despertar ou estimular o interesse pelo consumo. Num sentido estrito, publicidade vem a ser “toda mensagem dirigida por um fornecedor ao público com o objetivo de estimular a demanda de bens e de serviços”.87 Em outras palavras, mais descritivas, é a “atividade que consiste em despertar o interesse do consumidor para a aquisição ou a utilização de produtos ou serviços que anuncia, por meio de mensagens, escritas ou faladas”88 (v.g., boletins, catálogos, prospectos, propagandas, folhetos, anúncios). Já num sentido mais abarcante, significa “toda forma de comunicação realizada por uma pessoa física ou jurídica, pública ou privada, no exercício de uma atividade comercial, industrial, artesanal ou profissional, com o fim de promover de forma direta ou indireta a contratação de bens móveis ou imóveis,serviços, direitos e obrigações”.89 Também a jurisprudência francesa tem preferido uma definição mais geral de publicidade, entendida como “todo meio de informação destinado a permitir ao cliente em potencial formar sua opinião sobre as características de bens ou de serviços que lhe são propostos”.90 É imprescindível, portanto, que a publicidade veicule informações verdadeiras e transparentes a respeito daquilo que se propõe divulgar, embora não tenha por objetivo principal informar o consumidor. Nessa linha de pensar, assinala-se, corretamente, que “a incidência da publicidade comercial no desenvolvimento econômico das nações ocidentais, onde são potencializados os princípios de liberdade de mercado e livre concorrência, torna necessária a intervenção dos poderes públicos introduzindo pautas de correção e mecanismos de controle com o fim de proteger o livre e transparente desenvolvimento da atividade econômica, assim como seus intervenientes, como emissores ou receptores na atividade publicitária”.91 No âmbito penal, veda-se tão somente a publicidade nefasta ou prejudicial ao consumidor, ou seja, a publicidade ilícita, enganosa ou abusiva. Essa proibição se converte em verdadeiro princípio reitor da matéria, em homenagem ao direito fundamental do consumidor de ter acesso a uma informação veraz e exata. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a10 Bem jurídico e sujeitos do delito: garantem-se a veracidade, a transparência e a exatidão das informações transmitidas ou prestadas ao consumidor. Insere-se essa garantia no contexto como forma especial de proteção (veracidade publicitária) do consumidor, parte mais débil da relação de consumo. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor consagra expressamente como direito básico do consumidor a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva (art. 6.º, IV, da Lei 8.078/1990). Indiretamente, são tutelados o patrimônio e a saúde do consumidor. O Código Penal espanhol (2010) prevê também a figura da publicidade enganosa (art. 282), sendo que o “bem jurídico tutelado são os interesses econômicos e sociais dos consumidores, que se concentram aqui no direito a uma informação verdadeira sobre os produtos e serviços que se ofertam no mercado”.92 Sujeitos ativos do delito são, em regra, o publicitário, isto é, o responsável pela criação do anúncio publicitário enganoso ou abusivo, e o responsável pelo veículo que o promove por intermédio dos meios de comunicação social de massa.93 Calha salientar que o anunciante (fornecedor de produtos e serviços) pode ser responsabilizado como partícipe, caso venha a colaborar dolosamente com o fato típico realizado pelo publicitário. Ocorre isso na hipótese de o fornecedor (anunciante) aprovar, mesmo ciente do caráter artificioso ou abusivo, a propagação de mensagem publicitária elaborada pela agência. Contudo, quando o próprio fornecedor (anunciante) elabora o conteúdo da mensagem publicitária e a encaminha ao profissional contratado (publicitário) para que a expresse na forma técnica apropriada e lhe dê a devida promoção ou veiculação, pode ser considerado como autor. E se faz e promove sua publicidade contratando diretamente o órgão de comunicação, sem a figura do publicitário, incorre nas penas cominadas no art. 67 do CDC. Todavia, sua responsabilidade não exclui a do publicitário, desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos do tipo. Saliente-se que muitas vezes é a própria agência de publicidade induzida em erro pelo anunciante quando faz afirmação falsa ou enganosa a respeito de seu produto ou serviço. Nessa hipótese, deve-se perquirir se a agência tinha condições de detectar a falácia ou abuso, pois, do contrário, apenas é responsabilizado o fornecedor/anunciante nas sanções do art. 66 do CDC. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg97a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg97a4 Importante mencionar que, “ao contrário do que sucede com a publicidade enganosa, em que, no mais das vezes, a capacidade de enganar nasce no ambiente do anunciante, a abusividade, quase sempre, é um desvio provocado pelo próprio publicitário no momento da criação do anúncio”.94 Mas há situações em que somente a agência é responsabilizada, como acontece, por exemplo, quando ela recebe o briefing – documento curto, condensado, essencialmente objetivo, no qual o anunciante/fornecedor passa à agência a ideia do produto ou serviço, o objetivo de mercado e o público-alvo95 – e se desvia do conteúdo estabelecido, apresentando o anúncio de forma enganosa ou abusiva, sem o conhecimento do anunciante. Nessa mesma linha, incorre nas sanções do art. 67 o veículo que, não obstante reconhecer a falsidade/abusividade do anúncio publicitário, determina sua difusão. A pessoa jurídica não pode figurar como sujeito ativo. Aplica-se nesse caso a regra contida no art. 75 do CDC. Sujeito passivo é a coletividade de consumidores – pessoa física ou jurídica – exposta à veiculação de mensagem publicitária enganosa ou abusiva, sem a necessidade de adquirir ou utilizar respectivamente o produto ou serviço anunciado, conforme disposto no art. 29 do CDC. Eventualmente, também pode figurar como vítima o consumidor individualmente lesado pela divulgação de mensagem publicitária enganosa ou abusiva. Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta típica consiste em fazer ou promover publicidade que o agente sabe ser enganosa ou abusiva, ou deveria saber. O núcleo do tipo está consubstanciado pelos verbos reitores fazer e promover. Fazer implica a ação de criar, produzir, realizar publicidade enganosa ou abusiva. É atividade própria da agência ou do publicitário. Promover, no sentido do texto, exprime a execução, veiculação ou divulgação de anúncio publicitário por meio da mídia. Publicidade é a mensagem dirigida ao público com o objetivo de despertar ou incentivar seu interesse por bens e serviços. Num sentido mais amplo, vem a ser “todo meio de informação destinado a permitir ao potencial cliente formar opinião sobre as características de bens ou serviços que lhe são propostos”.96 A mensagem publicitária representa o conteúdo informativo da comunicação sobre um determinado objeto. Assinale-se que, de um lado, há https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg98a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg98a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg99a4 o modo publicitário, a apresentação do conteúdo (oral, escrita, por imagem), e, de outro lado, o meio publicitário, que é o veículo (suporte) escolhido para sua transmissão. É a atividade que tem por escopo despertar o interesse do consumidor para que adquira ou utilize produtos ou serviços anunciados, por meio de mensagens escritas ou faladas.97 O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária a define como sendo toda atividade destinada “a estimular o consumo de bens e serviços, bem como promover instituições, conceito ou ideias” (art. 8.º). Note-se que, embora os termos publicidade e propaganda sejam empregados indistintamente, na verdade não se confundem, visto que propaganda é definida como sendo a comunicação de ideias, sentimentos e símbolos para formar em outrem convicções, atitudes e condutas a respeito de assuntos que abrangem certas ideologias,como política, religião, economia, sociedade, artes etc.98 Nesse passo, convém aclarar que a publicidade se relaciona com a atividade comercial, visando a fazer com que o consumidor se sinta estimulado a comprar os produtos ou a contratar os serviços oferecidos pelo fornecedor, enquanto a propaganda está destituída de conotação negocial: destina-se a incutir determinada ideologia na mente do indivíduo, que não seja necessariamente o consumidor.99 Opina-se também nessa trilha que, “tecnicamente, os dois conceitos se diferem: a publicidade representa uma atividade comercial típica de mediação entre o produtor e o consumidor no sentido de aproximá-los; já a propaganda significa o emprego de meios tendentes a modificar a opinião alheia num sentido político, religioso ou artístico”.100 A publicidade vedada pelo artigo ora em exame é a publicidade ilícita,101 enganosa ou abusiva. Ambas constituem elementos normativos jurídicos do tipo de injusto, porquanto seu conceito é fornecido pelo Direito do Consumidor (vide art. 37, §§ 1.º, 2.º e 3.º, do CDC).102 Assim preceitua o § 1.º do art. 37: “É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços”. A Lei Geral de Publicidade espanhola (art. 4.º) define a publicidade enganosa como “aquela que de qualquer maneira, incluída sua https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg99a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg99a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a8 apresentação, induz ou pode induzir em erro seus destinatários, podendo afetar seu comportamento econômico, prejudicar ou ser capaz de prejudicar um concorrente. É também enganosa a publicidade que silencie a respeito de dados fundamentais dos bens, atividades ou serviços quando dita omissão induza em erro aos destinatários”. Depreende-se do mencionado enunciado que a publicidade enganosa compreende qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário. Informação significa o conhecimento a respeito de determinado assunto, ao passo que comunicação consiste no ato de transmitir para ou receber de outrem uma mensagem ou um sinal. A propósito, importante observar que tanto uma quanto outra devem ter caráter publicitário, ou seja, a intenção de persuadir o consumidor a adquirir produtos ou utilizar serviços divulgados pelos mass media. A ausência do caráter publicitário não tipifica o crime de publicidade enganosa, porém pode enquadrar-se, conforme o caso, no tipo descrito no art. 66 do CDC. Ademais, exige-se para a configuração da publicidade enganosa que ela seja falsa – inteira ou parcialmente –, isto é, que seu conteúdo seja falaz, enganoso. Entretanto, é oportuno salientar que a lei não busca inibir a utilização da criatividade no meio publicitário, sendo perfeitamente possível a veiculação de publicidade que ative a fantasia do consumidor, sem, contudo, ser considerada enganosa. Uma determinada publicidade até pode conter informações falsas acerca, v.g., do cenário, da situação em que se encontra o produto/serviço, sem que isso importe em agressão ao consumidor. Entretanto, essa mesma mensagem publicitária não pode ter conteúdo falso em relação aos aspectos intrínsecos do produto ou serviço,103 pois, desse modo, não há dúvida de que se está diante de uma publicidade enganosa. Considera-se enganosa, também, a publicidade que, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, seja capaz de induzir em erro o consumidor. Tem-se, portanto, que qualquer tipo de publicidade que se utilize de ardil, artifício, engodo ou qualquer outra fraude na promoção de seu produto ou serviço é alvo de criminalização, inclusive aquela apta a provocar dúvida, valendo-se de conteúdo ambíguo.104 A publicidade enganosa que omite dado relevante a respeito de produto ou serviço também constitui ilícito penal. Aliás, o próprio Código de Defesa do Consumidor incumbiu-se de definir a publicidade enganosa https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg101a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg101a4 por omissão. Assim, conforme o art. 37, § 3.º, da Lei 8.078/1990, “a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço”. Observe-se, pois, que, enquanto a publicidade enganosa comissiva (art. 37, § 1.º) se caracteriza com relação a qualquer dado referente ao produto ou serviço, a publicidade enganosa omissiva (art. 37, § 3.º) apenas se verifica quando o agente deixa de assinalar dado considerado relevante, isto é, aquele elemento cuja ausência influencie na decisão do consumidor quanto à aquisição ou utilização do produto ou serviço veiculado. Importa destacar que ambas as formas de manifestação da falsidade publicitária têm a mesma finalidade: induzir em erro o consumidor. Todavia, enquanto na forma comissiva o induzimento é fruto de algo que é dito ou insinuado pelo sujeito ativo, diferentemente a forma omissiva se caracteriza pela ausência, ou seja, pelo que não foi dito ou assinalado.105 Os dados aludidos pela norma ora comentada são mencionados exemplificativamente, em virtude da expressão quaisquer outros dados. Assim são arrolados como dados a natureza, características, qualidade, quantidade, propriedade, origem e preço. A despeito do significado de natureza, características, qualidade, quantidade e preço, vide a respeito os comentários ao art. 66 do CDC, supra. No tocante à propriedade, entende-se como sendo aquilo que é peculiar, próprio do produto ou serviço. Já o termo origem indica o local da procedência do produto ou serviço. De outra parte, o art. 37, § 2.º, não conceitua publicidade abusiva, mas apenas se limita a relacionar exemplificativamente algumas situações de abusividade. Desse modo, segundo o dispositivo supramencionado, “é abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança”.106 A propósito, saliente-se que a criminalização da publicidade abusiva tem como lastro sua importância para a reafirmação de determinados valores no meio social (v.g., a dignidade da pessoa humana), bem como a ética publicitária, muitas vezes esquecida, sendo seus profissionais movidos apenas pela busca incessante de lucro, sem se preocupar com as consequências que sua conduta poderia causar em vários segmentos da https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg102a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg102a4 sociedade. É de notar que a abusividade se refere aos efeitos perniciosos da publicidade e não obrigatoriamente ao produto em si mesmo. Assim, nada impede que uma publicidade seja ao mesmo tempo enganosa e abusiva. Dessa forma, a publicidade abusiva apresenta as seguintes modalidades: Publicidade discriminatória: aquela que faz distinção do ser humano sob os mais variados aspectos,tais como sexo, religião, raça, condição social, profissão, tendência política, nacionalidade.107 Frise-se, aliás, que a discriminação não fere somente norma relativa ao consumo, mas atenta contra preceito constitucional (art. 3.º, IV, da CF). Publicidade que incite à violência: a mensagem que possui conteúdo violento, como cenas de briga, luta corporal, morte, guerra, facada, uso de arma de fogo. Publicidade que explore o medo ou a superstição: aquela que suscita temor, receio infundado, ou se utiliza de crença em presságios sem nenhuma base racional. Assim, a proibição dessa modalidade de publicidade abusiva visa a impedir que na veiculação de produtos ou serviços sejam empregadas a magia, a crendice, o poder sobrenatural como pano de fundo para convencer os consumidores quanto à aquisição de produtos ou utilização de serviços. Outrossim, o medo tão somente pode figurar em um determinado anúncio se há razão que justifique seu uso ou motivo socialmente relevante.108 Publicidade que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança: é proibida, pois leva em consideração a hipossuficiência da criança, tendo em vista que “o público infantil é um alvo cobiçado pela publicidade, seja porque constitui ele mesmo um atraente mercado de consumo, seja porque é um meio de atingir os adultos”.109 Publicidade que desrespeite valores ambientais: aquela que viola preceito de ordem constitucional (art. 225 da CF), segundo o qual todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, constituindo dever de todos a sua defesa e preservação para as presentes e futuras gerações.110 Assim, considera-se abusiva a publicidade que exibe motosserra funcionando em determinada reserva florestal protegida.111 Por derradeiro, tem-se ainda a publicidade que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg104a3 ou segurança. Entretanto, considera-se tal modalidade mais grave que as supramencionadas, e, por essa razão, opta-se por criminalizá-la em tipo autônomo (art. 68 da Lei 8.078/1990), com sanções mais severas. A promoção de publicidade enganosa ou abusiva pode dar-se das mais variadas formas: jornal, rádio, panfleto, televisão, revista, etiqueta, outdoor (delito de forma livre). O tipo subjetivo é representado pelo dolo, direto ou eventual. Assim, na primeira parte do art. 67, há dolo direto. O agente sabe, efetivamente, que faz ou promove publicidade enganosa ou abusiva. Atua com consciência e vontade de criar ou veicular a publicidade ilícita. Na segunda parte do mencionado dispositivo o agente não sabe, mas deveria saber, que faz ou promove publicidade enganosa ou abusiva. Embora não queira diretamente fazê-la ou promovê-la, prefere arriscar-se a produzir o resultado a renunciar à ação. Age, portanto, com dolo eventual.112 A locução verbal deveria saber indica tratar-se de dolo, e não de culpa. E isso porque a forma culposa deve ser expressamente prevista (art. 18, parágrafo único, do CP), sob pena de violação flagrante do princípio da legalidade (art. 5.º, XXXIX, da CF e art. 1.º do CP). Consuma-se o delito com o mero fazer ou promover publicidade enganosa ou abusiva, independentemente da efetiva aquisição ou utilização de produtos ou serviços veiculados. É suficiente, portanto, a existência de dano potencial aos destinatários da publicidade proibida. Trata-se, pois, de delito de atividade ou de mera conduta, no qual a tentativa, na conduta de promover, é plenamente admissível, tendo em vista o fracionamento da fase executória do iter (delito plurissubsistente). Assim ocorre na hipótese em que, em virtude de circunstâncias alheias à vontade do responsável pela veiculação, a mensagem publicitária enganosa ou abusiva não chega até seus espectadores. Note-se que, se o consumidor é efetivamente induzido em erro, por conta da publicidade enganosa, acerca da natureza ou qualidade do produto ou serviço, o agente está incurso nas sanções do art. 7.º, VII, da Lei 8.137/1990, tendo em vista a aplicação do princípio da especialidade. Pena e ação penal: Cominam-se ao delito de publicidade enganosa ou abusiva, cumulativamente, pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Quanto à possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, bem como ao critério utilizado para a fixação da https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg104a4 pena de multa, vide a respeito os comentários aos artigos 78 e 77 do CDC, respectivamente. A ação penal é pública incondicionada. O processo e julgamento do delito tipificado no art. 67 do CDC são de competência dos Juizados Especiais Criminais (art. 61 da Lei 9.099/1995). A suspensão condicional do processo é plenamente admissível (art. 89 da Lei 9.099/1995). 1.7. ARTIGO 68 DA LEI 8.078/1990 Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Parágrafo único. (Vetado.) Bem jurídico e sujeitos do delito: tutelam-se a veracidade, a transparência e a exatidão das informações transmitidas ou prestadas ao consumidor. Indiretamente, protegem-se o patrimônio e a saúde do consumidor. Sujeitos ativos, como na publicidade enganosa ou abusiva, são o publicitário (agência de publicidade) e o veículo responsável pela difusão da mensagem publicitária prejudicial ou perigosa à saúde ou à segurança do consumidor. Eventualmente, pode o fornecedor (anunciante) figurar como partícipe desse delito. Cabem aqui as mesmas considerações feitas ao art. 67 do CDC. É importante esclarecer que a pessoa jurídica, como a agência publicitária ou o veículo, entendido este último como o meio utilizado para a propagação do anúncio (v.g., rádio, televisão, jornal etc.) não é sujeito ativo desse delito, mas tão somente a pessoa física (vide comentários feitos sobre esse assunto no art. 61 do CDC). Sujeito passivo é a coletividade de consumidores – pessoa física ou jurídica – exposta a essa espécie de publicidade nociva. Secundariamente, pode ser o próprio consumidor induzido a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Tipicidade objetiva e subjetiva: a ação reprimida pelo legislador consiste no fato de o agente fazer ou promover publicidade que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança. As condutas enunciadas consistem em fazer e promover. Os núcleos do tipo em questão foram devidamente abordados anteriormente.113 O conceito de publicidade também foi delimitado no art. 67 do CDC. Cabe esclarecer, porém, que o tipo descrito no art. 68 é considerado uma das modalidades de publicidade abusiva, consoante se verifica da análise da parte final do art. 37, § 2.º, do CDC. Entretanto, optou o legislador por criminalizá-la em tipo autônomo, por entender tratar-se de publicidade abusiva, cuja consequência é muito mais danosa que as demais, razão pela qual a sanção cominada é mais rigorosa.114 Para a caracterização do presente crime, faz-se necessário que o anúncio publicitário veiculado tenha o condão de induzir, ou seja, inspirar, incutir, sugerir, persuadir o sujeito passivo a se comportar de forma prejudicial ou perigosa. É indispensável exercer influência sobre o ânimo do consumidor. O comportamento prejudicialconsiste em qualquer espécie de conduta humana que provoque perdas e danos de ordem material ou moral, ao passo que o comportamento perigoso se refere ao fato de colocar em risco os interesses e os bens de outrem.115 Observe-se que os termos prejudicial e perigoso devem se referir à mensagem publicitária; se dizem respeito ao produto ou serviço, o crime em questão não é o presente, mas o do art. 63 do CDC. Por derradeiro, exige-se que o comportamento prejudicial ou perigoso diga respeito à saúde ou à segurança de um indeterminado número de consumidores. Saúde expressa a ideia de bem-estar físico e psíquico. Desse modo, o comportamento nocivo à saúde caracteriza sofrimento nas funções fisiopsíquicas do ser humano. Assim é o caso da publicidade de fumo que induza o consumidor-espectador a se comportar de forma prejudicial à sua saúde. De sua vez, o vocábulo segurança corresponde à condição, ao estado ou à qualidade de que o consumidor esteja livre de perigos, de incertezas, assegurado de danos e riscos eventuais, enfim afastado de todo mal.116 O comportamento prejudicial ou perigoso em relação à segurança acaba instaurando um clima de incerteza, intranquilidade e dúvida para o consumidor que foi induzido a se portar de tal maneira, como na https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg106a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg106a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg107a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg107a5 publicidade que mostra o motociclista conduzindo sua motocicleta sem estar usando o capacete.117 O delito em exame admite vários meios de execução (delito de forma livre), a exemplo do que ocorre com o crime de publicidade enganosa ou abusiva. O tipo subjetivo está representado pelo dolo – consciência e vontade de fazer ou promover publicidade prejudicial ou perigosa. Admitem-se tanto o dolo direto – sabe – quanto o dolo eventual – deveria saber. Inexiste a figura culposa nesse delito. Registrem-se as mesmas considerações expostas no artigo precedente. A consumação dá-se no momento em que o sujeito ativo faz ou promove publicidade capaz de atentar contra a saúde ou segurança do consumidor, que, por sua vez, é levado a se comportar de forma prejudicial ou perigosa. Não se exige a ocorrência de efetiva lesão ou dano à saúde ou segurança do sujeito passivo, porquanto trata o mencionado artigo de delito de mera atividade e de perigo abstrato. Há o entendimento de que o advento de resultado danoso à saúde ou à segurança do consumidor, em virtude de veiculação de publicidade prejudicial ou perigosa, acarrete o concurso de delitos, entre eles delito de lesão corporal (art. 129 do CP), delito de perigo para a vida ou saúde de outrem (art. 132 do CP), delitos contra a saúde pública (arts. 267 a 285 do CP) etc.118 A tentativa é admissível, visto ser possível o fracionamento do processo executório do iter (delito plurissubsistente). É a hipótese do anúncio publicitário que, estando pronto e prestes a ser veiculado, acaba não sendo divulgado, por circunstâncias alheias à vontade do agente, em virtude de intervenção do CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária –, órgão este responsável pelo controle da atividade publicitária. Pena e ação penal: cominam-se ao dispositivo, cumulativamente, pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. É possível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, desde que observados os requisitos traçados pelo art. 78 do CDC, ao qual se remete sua leitura. Quanto ao critério utilizado para a fixação da pena de multa, aplica-se o art. 77 do CDC.119 O processo e julgamento do delito tipificado no art. 68 do CDC incumbem aos Juizados Especiais Criminais (art. 61 da Lei 9.099/1995). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg107a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg108a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg108a4 Admite a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. 1.8. ARTIGO 69 DA LEI 8.078/1990 Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade: Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. O artigo 69 tem como escopo garantir a aplicação do preceito contido no art. 36, parágrafo único, do CDC. Bem jurídico e sujeitos do delito: protegem-se a veracidade e a exatidão das informações transmitidas ou prestadas sobre dados que fundamentam a publicidade de produtos e serviços. Aliás, corroborando esse entendimento, estabelece o art. 36, parágrafo único, que “o fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”. Verifica-se, pois, que o tipo, ao exigir a conservação de tais dados, protege reflexamente o consumidor das publicidades enganosas que são veiculadas, na maioria das vezes, sem nenhum respaldo. Desse modo, não basta veicular publicidade, sob a alegação de que ela seja verdadeira. É necessária a detenção de dados que atestem a sua idoneidade, caso seja o anúncio questionado, daí ser imprescindível a organização de informações fáticas, técnicas e científicas que legitimem a publicidade. Sujeito ativo do delito é o fornecedor (anunciante)120 (art. 3.º da Lei 8.078/1990). Trata-se, portanto, de delito especial próprio, visto que o tipo somente pode ser perpetrado pela pessoa que ostente essa condição. Tratando-se, contudo, de fornecedor pessoa jurídica, vide a respeito os comentários expostos ao art. 61 do CDC. Sujeito passivo é a coletividade de consumidores – pessoa física ou jurídica – exposta à propagação de anúncio publicitário desprovido de dados fáticos, técnicos e científicos. Secundariamente, é considerado vítima o consumidor diretamente lesado pela não organização dos mencionados dados. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg109a2 Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta incriminada consiste em deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que sirvam de alicerce para a publicidade. Deixar de organizar, no sentido do texto, significa o fato de não manter ordenados, arquivados ou arrumados os dados pela lei exigidos. Assim, o fato de se constatar a mera existência de tais dados, sem, contudo, estarem devidamente organizados, não afasta a configuração do presente delito. Os dados referidos pela norma são os elementos iniciais para se proceder ao conhecimento fático, técnico e científico do produto ou serviço, nos quais a publicidade se assenta. Dados fáticos são aqueles que dizem respeito às pesquisas, aos depoimentos realizados previamente à publicidade com o fim de comprovar, por exemplo, específico atributo possuído por um determinado produto ou serviço. Assim, o fornecedor não pode afirmar que seu produto seja o mais barato da cidade, se não realizou confiável pesquisa que ampare sua afirmação. Dados técnicos dizem respeito aos testes realizados que assegurem o desempenho, a durabilidade, certas características, entre outros atributos do produto ou serviço afirmado pelo fornecedor (v.g., a afirmação de que um produto químico não é inflamável). E, por fim, dados científicos são aqueles relativos a uma determinada ciência que deva embasar as afirmações publicitárias. É a hipótese, por exemplo, do anúncio publicitário que afirma a cura do câncer, sem, no entanto, dispor o fornecedor de estudo, material e exames científicos que comprovem essa afirmação. A propósito, calha salientarque há certas espécies de produto que, em razão de sua natureza, prescindem de dados científicos, como ocorre, v.g., com uma determinada roupa ou sapato. Advirta-se, no entanto, que, comportando o produto ou serviço a organização de dados fáticos, técnicos e científicos, todos devem estar organizados, pois a ausência de apenas um deles não impede a caracterização do delito em apreço. Destaque-se, ainda, que os dados científicos, muitas vezes, podem constituir segredo industrial (v.g., refrigerante "coca-cola"). Nessa situação, embora continue existindo para o fornecedor a obrigação de manter tais dados organizados, não é ele, porém, compelido a mostrá-lo, salvo mediante determinação judicial.121 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg110a2 Trata-se de delito omissivo puro ou próprio. Pune-se a não realização de uma ação que o autor podia realizar na situação concreta em que se encontrava. O agente infringe uma norma mandamental (art. 36, parágrafo único, da Lei 8.078/1990), isto é, viola um imperativo, uma ordem ou comando de atuar. Exigem-se, para a configuração desse delito, a existência de uma situação típica – veiculação de publicidade –, a não realização de uma ação cumpridora do mandado – o agente deixa de organizar os dados que dão lastro à publicidade – e a capacidade concreta de ação – conhecimento da situação típica e dos meios ou formas de realização da conduta devida.122 O tipo subjetivo é integrado pelo dolo (direto ou eventual). Este se expressa como a decisão acerca da inação, com a consciência do autor de que poderia agir para atender o modelo legal, que de forma implícita ordena o atuar. O sujeito deve incluir na sua decisão a não execução da ação possível.123 Exige-se, também, o conhecimento da situação típica e dos meios de realização da conduta devida. A consumação se verifica quando o fornecedor não organiza dados fáticos, técnicos e científicos que fundamentem a publicidade. Por se tratar de delito omissivo próprio, a tentativa é inadmissível, posto que a omissão está tipificada na lei como tal e, se o agente se omite, o crime já se consuma; se não se omite, realiza o que lhe foi ordenado. Pena e ação penal: cominam-se ao dispositivo, alternativamente, pena de detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. É possível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, desde que observados os requisitos traçados pelo art. 78 do CDC, ao qual se remete sua leitura. Quanto ao critério utilizado para a fixação da pena de multa, aplica-se o art. 77 do CDC. O processo e julgamento do delito previsto no art. 69 do CDC são de competência dos Juizados Especiais Criminais, pois, em razão da pena máxima abstratamente cominada (inferior a dois anos), tal delito é considerado infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei 9.099/1995). A suspensão condicional do processo é admitida (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. 1.9. ARTIGO 70 DA LEI 8.078/1990 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg111a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg111a4 Art. 70. Empregar, na reparação de produtos, peças ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor: Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. O artigo 21 do Código de Defesa do Consumidor inspirou a elaboração do tipo penal descrito no art. 70. De acordo com aquele dispositivo, na reparação de qualquer produto está implícita para o prestador de serviço a obrigação de empregar componentes de reposição originais, adequados e novos. Note-se, entretanto, que o tipo penal criminalizou tão somente a conduta do sujeito que se utiliza de peça ou componente de reposição usados, não fazendo menção alguma aos componentes originais nem mesmo exigindo que tais componentes mantenham as especificações técnicas do fabricante. Bem jurídico e sujeitos do delito: consagra-se a proteção à lisura e à honestidade, que devem ser os pilares na prestação de serviços. Secundariamente, tutela-se o patrimônio do consumidor.124 Afirma-se ainda que o patrimônio pode ser afetado de duas formas: “comprometimentos da eficiência do produto e perda financeira resultante do preço pago por serviço que não deveria ser feito e da depreciação da coisa”.125 Sujeito ativo só pode ser o fornecedor126 (art. 3.º, caput, da Lei 8.078/1990), mais precisamente o indivíduo que presta o serviço fraudulento,127 caracterizando-se, pois, delito especial próprio. Sendo o fornecedor pessoa jurídica, em face da inadmissibilidade da responsabilidade penal desse ente, remete-se à leitura dos comentários ao art. 61 do CDC. Sujeitos passivos são a coletividade de consumidores – pessoa física ou jurídica – e eventualmente o consumidor prejudicado economicamente. Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta incriminada consiste em realizar uma conduta fraudulenta, empregando, na reparação de produtos, peças ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor. O núcleo do tipo é representado pelo verbo empregar, que significa fazer uso, servir-se de, utilizar. Trata-se, pois, de delito comissivo e de ação única, já que somente pode ser perpetrado mediante uma única conduta. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a8 No delito descrito no artigo 70, o sujeito ativo emprega peças ou componentes de reposição usados, quando da reparação de produtos. As peças ou componentes de reposição usados “são todos aqueles que, após sua primeira fabricação, tenham sido, de uma forma ou de outra, empregados, mesmo que uma única vez”.128 Já a reparação deve ser traduzida no ato de restaurar, reformar, consertar. E finalmente a acepção de produto (art. 3.º, § 1.º, da Lei 8.078/1990), tratada anteriormente.129 Afirma-se ainda que a utilização de peça ou componente recondicionados não caracteriza o delito previsto no art. 70, tendo em vista que o recondicionamento se consubstancia no ato de proporcionar que a mesma peça desgastada pelo uso passe a ter condições de pleno funcionamento. Faz-se necessária aqui uma interpretação em sentido estrito, que, aliás, é a predominante em matéria penal. Por derradeiro, para que o delito se aperfeiçoe, faz-se necessário que o emprego de peças ou componentes de reposição usados, no conserto de produtos, seja feito sem autorização do consumidor. Trata-se de elemento normativo do tipo, que encerra referência específica à possível concorrência de uma causa de justificação. Embora diga respeito à ilicitude, cuja ausência torna a conduta como permitida.130 Desse modo, somente está configurado o delito quando, na reparação do produto, há a utilização de peça ou componente usados, à revelia ou sem a permissão do consumidor.131 Demais disso, é indiferente que a peça usada seja melhor do que a própria peça nova que seria empregada no produto. Nessa hipótese, o crime já está caracterizado pela simples utilização de peça ou componente usados, sem o expresso consentimento do consumidor.132 É possível o concurso de delitos na hipótese de o sujeito ativo, em virtude do emprego de peça ou componente usados, no conserto de certo produto, acabar danificando esse produto, incorrendo, assim, não apenas no delito tipificado no art. 70 do CDC, mas também no do art. 163 do Código Penal.133 O tipo subjetivo é composto pelo dolo – consciência e vontade de empregar, sem autorização do consumidor, peças ou componentes de reposição usados, na reparação de produtos. Admite-se, também, odolo eventual consistente quando o sujeito ativo apresenta dúvida sobre se a peça ou componentes são usados, e, assim mesmo, resolve empregá-los no produto, assumindo, portanto, o risco da produção do resultado lesivo. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg113a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg113a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg113a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg114a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg114a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg114a6 A consumação ocorre com o efetivo emprego de peças ou componentes usados, na reparação de produtos, sem o consentimento do consumidor. Assim, se o agente apenas afirma que trocou a peça, sem, contudo, ter realizado essa ação, pratica o delito de estelionato (art. 171 do CP). Trata-se, pois, de delito de mera atividade, em que basta a simples realização da conduta típica, sem a necessidade da eclosão de um possível resultado. Aliás, o tipo descrito no art. 70 é delito de perigo abstrato, sendo irrelevantes a ocorrência de dano efetivo e a obtenção de vantagem patrimonial.134 A obtenção de vantagem patrimonial pelo fornecedor, em detrimento do prejuízo sofrido pelo consumidor, configura o delito de estelionato (art. 171 do CP).135 Nesse caso, há concurso formal entre o delito descrito no art. 70 do CDC e o art. 171 do Código Penal, visto que o agente, com uma só conduta, violou dois dispositivos penais. A tentativa é admissível, e se verifica quando o emprego de peças ou componentes usados, nos produtos, não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena e ação penal: cominam-se ao dispositivo, cumulativamente, pena de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Convém destacar que, segundo o disposto no art. 78 do CDC, além da imposição das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas de forma cumulativa ou alternada, desde que observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, a expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação e prestação de serviços à comunidade. A pena de multa “será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). O processo e julgamento desse delito incumbem aos Juizados Especiais Criminais, pois, em virtude da pena máxima abstratamente cominada (igual a um ano), tal delito é considerado infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite-se a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg115a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg115a4 1.10. ARTIGO 71 DA LEI 8.078/1990 Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. O artigo 71 visa a justamente a garantir a aplicação do preceito contido no artigo 42 do CDC. A criminalização de tal conduta não tem por fim impedir que o credor cobre a dívida contraída pelo devedor, pois a ele é conferido o exercício regular desse direito. O que o dispositivo pune é a extrapolação do direito de cobrar utilizando meios inadequados que ridicularizem ou interfiram com o trabalho, descanso ou lazer do consumidor. Nessa hipótese, o que a princípio era um exercício regular do direito permitido torna-se um abuso de direito, vedado pela norma. Bem jurídico e sujeitos do delito: trata-se de garantir a tranquilidade, a intimidade, a paz interior da vítima, cuja ofensa conduz à limitação de sua liberdade. Tutela, portanto, a honra do consumidor, ora como sendo a reputação por ele desfrutada no meio social, ora como sendo seu sentimento de dignidade ou decoro, ora ainda como sendo sua liberdade pessoal (psíquica ou física). Sujeito ativo do delito é o próprio fornecedor/credor, ou o indivíduo que tenha sido por ele contratado para a realização da cobrança vexatória, como ocorre, v.g., com as chamadas empresas especializadas em cobrança. Frise-se, entretanto, que, se o fornecedor – titular do crédito devido – desconhece que a incumbência por ele delegada a outrem foi exercida de modo abusivo, mediante ameaça, coação, constrangimento físico ou moral etc., não responde pelo crime, mas apenas aquele que efetuou diretamente a cobrança. Nada impede, contudo, que ocorra concurso de pessoas, quando o fornecedor e a pessoa que cobra de modo inadequado atuem de comum acordo, um aderindo à conduta do outro. Sendo o sujeito ativo pessoa jurídica, vide a respeito os comentários expostos no art. 61 do CDC, supra. Sujeitos passivos são a coletividade dos consumidores que fazem parte da relação de consumo (sujeito principal), e o consumidor individualmente considerado (sujeito secundário), isto é, aquele que contraiu a dívida e é levado a ridículo ou sofre interferência em seu trabalho, descanso ou lazer.136 Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta típica consiste em utilizar (lançar mão de, fazer uso de, usar, aplicar, empregar, servir-se de, valer-se de), na cobrança de dívidas contraídas pelo consumidor, de determinados meios previstos pela lei (ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas), ou ainda de qualquer outro procedimento que o exponha, de maneira injustificável, a ridículo ou que interfira em seu trabalho, descanso ou lazer. A cobrança de dívidas traduz-se no ato de o fornecedor/credor exigir o recebimento de quantia ou na realização de obrigação de dar, fazer ou não fazer, à qual foi compelido o consumidor/devedor. É indispensável, porém, que a cobrança de dívida esteja vinculada a uma relação de consumo, pois do contrário não está configurado o presente delito, mas pode o agente incidir nas sanções do art. 345 do Código Penal. Ressalte-se, todavia, que não há problema algum em ser o consumidor procurado pelo fornecedor credor com o intuito de receber o débito por aquele assumido, mas desde que não sejam empregados meios abusivos, pois, a partir do instante em que isso ocorre, o agente pode ser responsabilizado penalmente. Dessa forma, embora facultado ao agente exigir – extrajudicialmente – do consumidor vítima que lhe salde a dívida, não tem o direito de empregar para tanto ameaça, coação etc. Tratando-se de pretensão legítima, é possível ao agente satisfazê-la por meio de competente ação judicial (v.g., ação de cobrança). Mas, se opta por fazer justiça pelas próprias mãos, incorre nas sanções do dispositivo em análise. Calha salientar que o delito de cobrança inadequada de dívida de consumo em muito se assemelha ao delito de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Porém com ele não se confunde, dada a especialidade daquele, que se refere tão somente às dívidas contraídas em virtude de uma relação de consumo, ao passo que este é mais abrangente, podendo incidir sobre qualquer pretensão resistida.137 Os meios que o art. 71 do CDC estabelece como sendo capazes de levar o consumidor a ridículo ou de interferir na sua rotina são os seguintes: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg117a3https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg117a4 Ameaça (vis compulsiva): é a violência moral, destinada a perturbar a liberdade psíquica e a tranquilidade da vítima, pela intimidação ou promessa de causar a alguém, futura ou imediatamente, mal relevante e injusto.138 Coação: quer dizer restrição, tolhimento, limitação da liberdade. Ela se apresenta de duas maneiras: física (vis absoluta) – força, constrangimento físico exterior que obriga materialmente a vítima a se conduzir de determinada forma – e moral (vis compulsiva) – grave ameaça, em que a vontade do coacto não é livre, mas viciada.139 Registre-se, entretanto, que, como o art. 71 já mencionara a ameaça, e constituindo ela o meio empregado na coação moral, entende-se que a coação nesse dispositivo se refere tão somente à física, pois do contrário seria inconteste a redundância legal.140 Constrangimento físico ou moral: reside no ato de constranger, violentar a vontade do consumidor, passando este então a ser submisso ao querer do agente. Depreende-se do artigo em estudo que o constrangimento pode ser físico – quando o sujeito ativo se utiliza de violência, ou seja, da força física com o fim de suplantar a resistência oposta pelo sujeito passivo, ou moral – violência moral destinada a perturbar a liberdade psíquica e a tranquilidade da vítima. Todavia, a inclusão da expressão constrangimento físico ou moral torna a norma visivelmente redundante, visto que é da essência do constrangimento físico ou moral o emprego da coação física e da ameaça, respectivamente.141 Afirmações falsas, incorretas ou enganosas dizem respeito ao emprego de afirmações não verdadeiras, erradas ou capazes de induzir o consumidor a erro. A respeito do significado mais apurado de afirmação falsa ou enganosa, remete-se à leitura dos comentários ao art. 66 do CDC, supra. Além da enumeração exemplificativa – ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas –, o legislador utili-zou-se da fórmula genérica de qualquer outro procedimento, dando margem ao emprego de interpretação analógica. A interpretação analógica (intra legem), espécie do gênero interpretação extensiva, abrange os casos análogos, conforme fórmula casuística gravada no dispositivo legal. Há extensão aos casos semelhantes, análogos (in casi simili) aos regulados expressamente.142 Destarte, qualquer conduta dolosa do agente que leve o consumidor a ridículo, ou interfira em seu trabalho, descanso ou lazer, amolda-se ao tipo https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a5 em epígrafe, ressalvadas situações em que o sujeito ativo atue de modo justificável. Exige-se ainda que, mediante a utilização dos meios supramencionados, o consumidor, injustificadamente, seja exposto a ridículo ou tenha alterada a sua rotina. A expressão injustificadamente é elemento normativo com referência específica à possível concorrência de uma causa de justificação.143 Embora presente no tipo, diz respeito à ilicitude. De conseguinte, a cobrança de dívidas nas hipóteses legalmente permitidas exclui a ilicitude da conduta. Admite-se, por exemplo, a cobrança de dívida judicialmente, caso o devedor se negue a pagá-la espontaneamente. Por derradeiro, faz-se necessário que em decorrência da conduta tipificada no art. 71 da Lei 8.078/1990 seja o consumidor exposto a ridículo, isto é, a uma situação que implique escárnio, zombaria, risada, piada, vexame público. Em outras palavras, significa colocar o consumidor perante terceiros em situação de humilhação, envergonhando-o, sendo necessário que o fato seja presenciado ou chegue ao conhecimento de terceiros.144 Assim, é ridicularizado o consumidor, v.g., quando é colocada lista na parede da escola com o nome do aluno inadimplente; quando é enviado envelope com tarja vermelha ou em letras garrafais dizendo: “cobrança” ou “devedor”; quando a cobrança, realizada por correspondência, ocorre sem nenhum invólucro de proteção, permitindo que terceiros tomem conhecimento de seu teor etc.145 Além da exposição a ridículo, o simples fato de a conduta ilegal interferir no trabalho (local onde se exerce a profissão), descanso (lugar de repouso, sossego) ou lazer (momentos de divertimento, distração, entretenimento) do consumidor já é suficiente para a configuração do delito em apreço. Isso não quer dizer, entretanto, que o credor esteja impedido de cobrar o consumidor no local de seu trabalho ou de sua residência. O que a lei veda é a utilização dos meios por ela relacionados capazes de alterar o desempenho de tais atividades. É ilícita a atitude do cobrador que deixa recado com algum colega de trabalho ou com o patrão do consumidor apontando este como inadimplente.146 No tocante ao tipo subjetivo, está ele representado pelo dolo, consubstanciado na consciência e vontade de utilizar, na cobrança de dívida oriunda da relação de consumo, dos meios arrolados pela norma, expondo o https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg120a2 consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interferindo em seu trabalho, descanso ou lazer. Consuma-se o delito com a efetiva utilização de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento, na cobrança de dívidas que exponha o consumidor a ridículo ou que interfira com seu trabalho, descanso ou lazer. Trata-se, pois, de delito de mera atividade. A tentativa, por sua vez, é inadmissível, tendo em vista a impossibilidade de fracionamento da fase executória do iter criminis (delito unissubsistente). Mas, se o delito for praticado mediante ameaça escrita, vislumbra-se a possibilidade da ocorrência da tentativa, caso ela venha a ser interceptada antes de chegar ao conhecimento do consumidor ou de terceiro, por circunstâncias alheias a vontade do agente. Pena e ação penal: o delito previsto no art. 71 é sancionado, cumulativamente, com pena de detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. Oportuno esclarecer que é possível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, desde que preenchidos os requisitos exigidos, conforme dispõe o art. 78 do CDC. A pena de multa deve observar, quanto à sua fixação, o critério estabelecido no art. 77 do CDC. O processo e o julgamento do delito insculpido no art. 71 são de competência dos Juizados Especiais Criminais (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite-se a suspensão condicional do processo em face da pena mínima abstratamente prevista (pena igual ou inferior a 1 (um) ano – art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. 1.11. ARTIGO 72 DA LEI 8.078/1990 Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, bancos de dados, fichas e registros: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano ou multa. A atual sociedade se caracteriza como uma sociedade da informação, que supõe a informatização de diversos dados e setores (pessoal, econômico e social).147 Diante dessa nova perspectiva, suscita-se cada vez mais a https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg121a4questão da proteção da vida privada e dos dados pessoais diante dos riscos que essa sociedade representa. Trata-se do direito fundamental à autodeterminação informativa (tutela dos dados). Isso quer dizer o direito personalíssimo referente à faculdade que tem toda pessoa de exercer o controle sobre sua informação pessoal e sobre os dados armazenados (v.g., dados relativos ao consumo e aos consumidores, comércio eletrônico etc.) pelos meios informáticos.148 O artigo 72 visa a garantir a aplicação do preceito contido no caput do artigo 43 do CDC, que dispõe que o consumidor “(...) terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes”. Bem jurídico e sujeitos do delito: busca-se proteger o direito do consumidor ao acesso a informações que versam sobre seus dados (princípio da autodeterminação informativa). Deve, assim, ter o consumidor pleno e total conhecimento das informações que versam sobre sua pessoa, constantes nos cadastros, bancos de dados, fichas e registros. Sujeitos ativos do delito são o fornecedor, gerente ou a “pessoa física que tiver o poder de controle, direto ou indireto, sobre os endereços indicados pelo texto (cadastro, banco de dados e fichas e registros) e praticar uma ou outra ação indicada pelo tipo”.149 Trata-se de delito especial próprio, visto que limita a condição de sujeito ativo a determinadas pessoas. Sujeitos passivos são a coletividade dos consumidores que fazem parte da relação de consumo (sujeito principal) e o consumidor individualmente considerado (sujeito secundário), isto é, aquele que foi impedido ou teve dificuldade de acesso às informações. Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta típica consiste em impedir (impossibilitar, obstar), ou dificultar (tornar difícil, trabalhoso), o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros. Nessa perspectiva, convém diferenciar cadastro, banco de dados, ficha e registro. Cadastro, elemento normativo do tipo de injusto, é o “conjunto de informações econômicas, financeiras, comerciais e outras, referentes a pessoas ou empresas. Permite decidir quanto aos riscos de qualquer operação comercial com a empresa ou pessoa cadastrada”.150 Banco de dados é uma coleção de informações que existe por um longo período de tempo, frequentemente vários anos, e que é gerenciada por um Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados, também chamado https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg121a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg121a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg122a4 SGBD – Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados – ou apenas Sistema de Banco de Dados.151 Melhor explicando: enquanto nos cadastros são lançadas apenas informações sobre os consumidores que têm relação comercial com o sujeito ativo, nos bancos de dados “as informações são obtidas de forma a propiciar aos interessados nos sistemas de divulgação o maior número possível de pessoas cadastradas, bem como de informações a respeito destas, sem se preocupar com a possibilidade latente de erros que advenham da atuação de cunho estritamente quantitativo assumidas por este tipo de serviço”.152 Nos cadastros, a informação prestada pelo consumidor é usada pelo arquivista de maneira imediata; já com relação aos bancos de dados, a informação é armazenada e utilizada no futuro.153 Por isso, o cadastro é mantido enquanto haja interesse por parte do sujeito ativo, demonstrando “provisoriedade da coleta e divulgação dos dados”; por outro lado, “os bancos de dados de consumidores são aleatórios na coleta das informações e mediatos na organização de seus arquivos, daí decorrendo a necessidade de conservação permanente – o máximo de tempo possível – dos informes colecionados, satisfazendo sua característica de latência”.154 Exige-se, para a caracterização dos cadastros, que as informações sejam colhidas diretamente do consumidor; já nos bancos de dados esse armazenamento é feito sem o consentimento do consumidor.155 Finalmente, nos cadastros “é possível o lançamento de juízos de valor como informação interna e para orientação exclusivamente dos negócios do fornecedor-arquivista, em virtude da destinação destes dados”. Enquanto isso, nos bancos de dados, “que têm característica de transferência das informações a terceiros, é defeso o juízo de valor em seus arquivos, estando autorizados somente a lançar dados objetivos e não valorativos, quanto às relações comerciais do consumidor ou quanto à sua pessoa, estes somente quando sejam indispensáveis às relações de consumo”.156 Ficha “serve, na técnica administrativa e do comércio, para indicar o papel em que se anotam certos fatos a respeito de pessoas ou de coisas, como lembrança deles ou como registro do que é preciso ser lembrado”.157 Contundentes são as afirmações que consideram que ficha e registro já estariam abrangidos pelos termos bancos de dados e cadastros de consumidores. Com efeito, todas as modalidades de armazenamento de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg122a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg122a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a10 informações acerca dos consumidores estão contidas ou no termo banco de dados ou no termo cadastro de consumidores. O tipo subjetivo é integrado unicamente pelo dolo, consciência e vontade de impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, bancos de dados, fichas e registros. O delito se consuma no momento em que é realizada qualquer das ações representadas pelos verbos-núcleo do tipo (delito de mera atividade). Não há necessidade de que ocorra dano patrimonial ou moral efetivo ao consumidor, já que se trata de delito de perigo, sendo suficiente o dano potencial ao consumidor. A tentativa é juridicamente inadmissível, pois “tentar impedir já é dificultar. E isso é crime consumado e não tentado”.158 Pena e ação penal: o delito em análise é apenado com detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano ou multa (pena alternativa). Calha salientar que, no tocante à pena de multa, esta “será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). No que diz respeito ainda à cominação da pena, segundo o disposto no artigo 78 do CDC, além da imposição das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, de forma cumulativa ou alternada, desde que observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, a expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação, e prestação de serviços à comunidade. Por ser infração de menor potencial ofensivo, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a 1 (um) ano (art. 89 da Lei 9.099/1995).A ação penal é pública incondicionada. 1.12. ARTIGO 73 DA LEI 8.078/1990 Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg124a2 Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. O dispositivo em tela busca reforçar a garantia prevista no art. 43, § 3.º, do CDC: “O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas”. Bem jurídico e sujeitos do delito: tutela-se o direito do consumidor de ter corrigidas as informações inexatas sobre ele nos cadastros, bancos de dados, fichas e registros. E indiretamente se tutelam a honra, a dignidade e o crédito do consumidor.159 Emerge aqui também o direito personalíssimo à autodeterminação informativa. Sujeito ativo do delito é a pessoa física que tem o dever de corrigir os dados do consumidor, em razão de sua condição jurídica que lhe propicia o controle dessas informações. Trata-se de delito especial próprio, visto que limita a condição de sujeito ativo a determinadas pessoas.160 Sujeitos passivos são a coletividade dos consumidores que fazem parte da relação de consumo (sujeito principal) e o consumidor individualmente considerado (sujeito secundário), isto é, aquele que foi impedido ou teve dificuldade de acesso às informações. Tipicidade objetiva e subjetiva: a conduta típica consiste em deixar (ato de omitir, de abster-se de) de corrigir (alterar, endireitar, dar forma correta) imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados, ficha ou registro que sabe ou deveria saber ser inexata. Pune-se a não realização de uma ação que o autor deveria realizar, ou seja, a não correção de informações incorretas a respeito do consumidor constante de cadastro, banco de dados, ficha ou registro.161 Trata-se de delito omissivo próprio ou puro. Sobre os termos cadastro, banco de dados, ficha e registro vide comentários ao art. 72 do CDC. O dispositivo exige que essa correção seja feita imediatamente (sem intervalo, sem delonga).162 Esse termo tem causado severas divergências na doutrina. Parte da doutrina considera que é preciso analisar esse elemento normativo em conjunto com o art. 43, § 3.º, do CDC, cuja redação estabelece cinco dias úteis para que o agente comunique aos interessados a correção dos dados. Deve-se entender, portanto, que o termo utilizado no https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a8 art. 73 da Lei 8.078/1990, imediatamente, corresponde a cinco dias úteis, “por uma questão de coerência, mesmo porque ainda que a negativação, como se diz com relação a dados constantes de serviços de proteção ao crédito, por exemplo, possa ser feita com uma simples digitação, por certo haverá uma ordem de processamento dos dados”.163 Em sentido oposto, salientam alguns autores que, se “for o arquivista o servidor com atribuição de proceder às correções, deverá fazê-lo imediatamente. O quinquídio é reservado para outra obrigação: comunicar a retificação ao prejudicado”.164 O tipo subjetivo na primeira parte do art. 73 consiste em dolo direto. O agente sabe, efetivamente, que deixou de corrigir uma informação inexata sobre o consumidor. Atua com consciência e vontade de praticar o ilícito. Na segunda parte do mencionado dispositivo o agente não sabe, mas deveria saber, que deixou de corrigir uma informação inexata sobre o consumidor. Age, portanto, com dolo eventual. A locução verbal deveria saber indica tratar-se de dolo eventual e não de culpa. E isso também porque a forma culposa deve ser expressamente prevista (art. 18, parágrafo único, do CP), sob pena de violação flagrante do princípio da legalidade (art. 5.º, XXXIX, da CF e art. 1.º do CP).165 É equivocado, portanto, o posicionamento daqueles que consideram que a expressão deveria saber configura “uma situação subjetiva em que o sujeito não tem ciência da incorreção, mas que se tivesse sido o normalmente diligente poderia saber da inexatidão. Nesta hipótese o agente não sabe por que foi negligente, e, pois, portou-se de forma culposa. Neste tipo, como em outros, está ínsita uma forma culposa, pois presente na previsão legal uma hipótese de carência de diligência”.166 O delito se consuma no momento em que o agente deixa de corrigir as informações que sabe ou deveria saber ser inexatas sobre o consumidor (delito de mera atividade). Não há necessidade de que ocorra dano patrimonial ou moral efetivo ao consumidor, já que se trata de delito de perigo, sendo suficiente o dano potencial ao consumidor. A tentativa é juridicamente inadmissível. Pena e ação penal: o delito em análise é apenado com detenção de 1 (um) mês a 6 (seis) meses ou multa (pena alternativa). No tocante à pena de multa, esta “será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg126a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg126a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg127a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg127a4 crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). No que diz respeito ainda à cominação da pena, segundo o disposto no artigo 78 do CDC, além da imposição das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, de forma cumulativa ou alternada, desde que observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, a expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação e prestação de serviços à comunidade. Por ser infração de menor potencial ofensivo, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. 1.13. ARTIGO 74 DA LEI 8.078/1990 Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo: Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. O artigo em tela tem como escopo tornar efetiva a conduta prevista no art. 50 do CDC, que estabelece: “A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito”. E no parágrafo único desse dispositivo: “O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada, em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e o ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso de produto em linguagem didática, com ilustrações”. Bem jurídico e sujeitos do delito: o tipo de injusto em análise tutela a relação de consumo, especialmente o patrimônio do consumidor e seu direito a informação correta.167 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg128a2Sujeito ativo é o fornecedor (art. 3.º, caput, do CDC), tratando-se, pois, de delito especial próprio. Sendo o fornecedor pessoa jurídica, a responsabilidade penal não é do ente coletivo (vide os comentários feitos aos artigos 61 e 63 do CDC), mas do agente que labora na empresa e é encarregado de entregar o termo de garantia ao consumidor. Sujeitos passivos são a coletividade dos consumidores (sujeito principal) e o consumidor individualmente considerado (sujeito secundário), isto é, aquele que deixou de receber o termo de garantia corretamente preenchido. Tipicidade objetiva e subjetiva: o núcleo do tipo é o verbo deixar, que aqui adquire o sentido de abster-se de algo, omitir-se do cumprimento (realização, prática) de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo. Termo de garantia – elemento normativo jurídico – significa “o documento padronizado que complementa o contrato que rege a relação de consumo”.168 É uma garantia adicional fornecida por escrito pelo sujeito ativo (além daquela prevista em lei – art. 26, I e II, do CDC) com escopo de dar mais credibilidade ao produto, ou para “reparar eventuais defeitos, saben-do-se que na produção em massa alguns exemplares fabricados fatalmente apresentarão algum defeito, dentro de um certo tempo de uso ainda inicial, por maior que seja o controle de qualidade de que disponha”.169 Esse termo deve ser escrito, padronizado e esclarecer, de maneira adequada, em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento (art. 50, parágrafo único, 1.ª parte, do CDC). Ainda nessa linha, acentue-se que o texto do art. 74 do CDC conduz à errônea conclusão de que as duas expressões – adequadamente preenchido e especificações claras – são antagônicas, o que de modo algum pode ser tido com o verdadeiro. De fato, se o termo de garantia é preenchido corretamente, isso significa que traz as especificações de forma clara em relação ao seu conteúdo; caso contrário, não está adequadamente preenchido. Mais uma vez, o legislador, no afã de ser claro, “inseriu na locução normativa vocábulos despiciendos”.170 Discute-se também se o artigo em tela deve ser objeto de tratamento penal ou se basta sua regulamentação pelo Direito Civil ou pelo Direito Administrativo. Para os adeptos da primeira tese, a conduta ora analisada é https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a8 de natureza penal, por se tratar de uma grave infração contra a relação de consumo.171 Para aqueles que compartilham do segundo entendimento,172 é de se repelir a política adotada pelo legislador brasileiro, que vem inserindo no ordenamento jurídico medidas de natureza penal na tentativa de solucionar problemas sociais, atentando contra princípios fundamentais do Direito Penal, em especial o princípio da intervenção mínima. De fato, não se pode olvidar jamais que se trata de matéria penal, submetida de modo inarredável, portanto, aos ditames rígidos dos princípios constitucionais penais – legalidade dos delitos e das penas, intervenção mínima, fragmentariedade, entre outros –, pilares que são do Estado de Direito democrático.173 A sanção penal é a ultima ratio do ordenamento jurídico, devendo ser utilizada tão somente para as hipóteses de atentados graves ao bem jurídico. O simples fato de incriminar uma conduta não é sinônimo “de maior proteção do bem; ao contrário, condena o sistema penal a uma função meramente simbólica negativa”.174 Consoante ao já salientado, seria mais coerente e eficaz para coibir tal prática aplicar uma multa administrativa ou civil. O tipo subjetivo é integrado pelo dolo – consciência e vontade de deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo. A consumação do delito, que é de omissão pura, se dá no momento em que o sujeito ativo não entrega ao sujeito passivo o termo de garantia adicional corretamente preenchido e com clareza necessária do seu conteúdo (delito de mera atividade). Com efeito, basta a sua simples realização para consumar, sendo, portanto, totalmente desnecessário qualquer dano com o produto ou serviço que recebeu o termo de garantia adicional. A tentativa é inadmissível. Pena e ação penal: o delito em análise é apenado com detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa (pena alternativa). No tocante à pena de multa, esta “será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, § 1.º, do Código Penal” (art. 77 do CDC). No que diz respeito ainda à cominação da pena, segundo o disposto no art. 78 do CDC, além da imposição das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, de forma cumulativa ou alternada, desde que https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg130a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg130a4 observada a regra dos artigos 44 a 47 do Código Penal, as seguintes penas: interdição temporária de direitos; publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, a expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação e prestação de serviços à comunidade. Por ser infração de menor potencial ofensivo, a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei 9.099/1995). Admite a suspensão condicional do processo em razão da pena mínima abstratamente cominada – igual ou inferior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/1995). A ação penal é pública incondicionada. 1 MONTE, M. F. Da protecção penal do consumidor: o problema da (des)criminalização no incitamento ao consumo, p. 69, nota 110. Também, AMARAL, L. O. de O. História e fundamentos do Direito do Consumidor. RT, 648, 1989, p. 34. 2 Assim, FONSECA, A. C. L. da. Direito Penal do consumidor: Código de Defesa do Consumidor e Lei n. 8.137/90, p. 25. Contra: SANGUINÉ, O. Introdução aos crimes contra o consumidor: perspectiva criminológica e penal. RT, 675, 1992, p. 319 e ss. 3 MONTE, M. F. Op. cit., p. 71. 4 IDEM, p. 71. 5 Cf. CALAIS-AULOY, J.; STEINMETZ, F. Droit de la Consommation, p. 1- 2. 6 Cf. JEANDIDIER, W. Droit Pénal des affaires, p. 469. 7 Cf. DE VEGA RUIZ, J. A. Los delitos contra el consumidor en el Código Penal de 1995, p. 9. 8 Cf. CALAIS-AULOY, J.; STEINMETZ, F. Op. cit., p. 2. 9 Consumidor pode ser conceituado, em sede doutrinária, como aquele que contrata para satisfazer suas necessidades pessoais, e utiliza com esse fim os produtos adquiridos e os serviços prestados. 10 Nesse sentido, o Conselho da Europa adotou, em 1973, a Carta de Proteção dos Consumidores, prevendo os seguintes direitos: direito dos consumidores à proteção e à assistência (proteção contra prejuízos materiais causados por produtos perigosos; proteção contra atentados https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg67a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg67a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a2https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg68a8 aos interesses econômicos dos consumidores); direito à reparação de danos; direito dos consumidores à informação e à educação; direito à representação e à consulta. 11 Ordenações Filipinas (Livro V). Título LVII (Dos que falsificão mercadorias). “Se alguma pessoa falsificar alguma mercadoria, assi como cera, ou outra qualquer, se a falsidade, que nella se fizer, valer hum marco de prata, morra por isso. Porém não contratando a dita mercadoria, a execução se não fará, sem nol-o fazerem saber. E se for de valia de hum marco para baixo, seja degradado para sempre para o Brazil”. Título LVIII (Dos que medem, ou pesão com medidas, ou pezos falsos). “Toda pessoa, que medir, ou pesar com medidas, ou pezos falsos, se a falsidade, que nisso fizer, valer hum marco de prata, morra por isso. E se for de valia de menos do dito marco, seja degredado para sempre para o Brazil’. Título LIX (Dos que molhão, ou lanção terra no pão, que trazem, ou vendem): “Qualquer Carreteiro, Almocreve, Barqueiro, ou outra pessoa, que houver de entregar, ou vender pão, ou levar de huma parte para outra e lhe lançar acintemente terra, agoa, ou outra cousa qualquer, para lhe crescer, e furtar o dito crescimento, se o danno e perda, que se receber do tal pão, valer dez mil reis, morra por isso. E se fôr dez mil reis para baixo, seja degredado para o Brazil”. 12 É o que se verifica da redação do artigo 308, §§ 3.º e 4.º, do Código de 1830: “Este Codigo não comprehende: (...) 3.º Os crimes contra o commercio, não especificados neste Código, os quaes continuarão a ser punidos como até aqui. 4.º Os crimes contra a policia e economia particular das povoações, não especificados neste Código, os quaes serão punidos na conformidade das posturas municipaes”. 13 “Art. 353. Será punido com as penas de prisão de seis mezes a um anno e multa de 500$ a 5:000$000, aquelle que: (...) 2.º Imitar marcas de industria ou de commercio, de modo que possa iludir o consumidor” (grifou-se). 14 “Art. 2.º São crimes desta natureza: (...) V – misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, expô-los à venda ou vendê-los, como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para expô-los à venda ou vendê-los por preço marcado para os de mais alto custo; (...) XI – fraudar pesos ou medidas padronizados em lei ou regulamentos; possuí-los ou detê-los, para efeitos de comércio, https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg69a4 sabendo estarem fraudados”. Vide, sobre o tema, OLIVEIRA, E. de. Crimes contra a economia popular e o júri tradicional, 1952. 15 PRADO, L. R. Bem jurídico-penal e Constituição, p. 94 e ss. 16 Art. 75 do CDC: “Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste Código incide nas penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas”. 17 COSTA JÚNIOR, P. J. da. Crimes contra o consumidor, p. 71. 18 IDEM, IBIDEM. 19 FILOMENO, J. G. B. Manual de direitos do consumidor, p. 280. 20 Nesse sentido, TORON, A. Z. Aspectos penais da proteção ao consumidor. RT, 671, 1991, p. 293. 21 Confira, PRADO, L. R. Tratado de Direito Penal brasileiro. 2. ed., P.G., I, p. 247-250. 22 “Sobre o tema, porém, o art. 11 da Lei 8.137/90, regulando a matéria do concurso de agentes, revogou a segunda parte do art. 75 do ‘Código’, pois, salvo a inclusão da expressão ‘por meio de pessoa jurídica’, limita-se a repetir o disposto no art. 29 do CP. (...) A não se entender que esta norma revogou a inscrita no art. 75 do ‘Código’, teremos o absurdo de ver o tema submetido a regimes diferentes em crimes da mesma natureza. Portanto, em matéria de concurso de agentes, a norma a ser observada, que inclusive mais se afina com a sistemática do Código Penal, é a contida no art. 11 da Lei 8.137/90” (TORON, A. Z. Aspectos penais da proteção ao consumidor. RT, 671, 1991, p. 293). 23 Vide FERRARI, E. R. Os crimes contra a relação de consumo e a sua incidência em face do Código de Defesa do Consumidor e da Lei 8.137/90: é possível a revogação tácita durante vacatio legis? Bol. IMPP, 19, 2002, p. 15. 24 Vide, sobre o tema, com detalhes, PRADO, L. R. (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da responsabilidade penal subjetiva, p. 101 e ss. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg70a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg71a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg72a5 25 “Esses delitos têm as relações de consumo como objeto principal (imediato). O direito à vida, à saúde, ao patrimônio etc. compõe a sua objetividade jurídica secundária (mediata), isto é, são tutelados por eles de forma indireta ou reflexa” (JESUS, D. E. de. Nova visão da natureza dos crimes contra as relações de consumo. RT, 696, 1993, p. 303). Vide, também, ZANELLATO, M. A. O sancionamento penal da violação do dever de informar no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 8, 1993, p. 94. 26 PRADO, L. R. Direito Penal ambiental: meio ambiente, patrimônio cultural, ordenação do território, biossegurança (com a análise da Lei 11.105/2005), p. 113-114. 27 “Trata-se de um sujeito ativo especial. É evidente que só pode ser agente desse delito quem fabrica o produto, quem o põe à venda, como quem ordena e quem faz a publicidade do mesmo” (LUISI, L. Os princípios constitucionais penais, p. 57). 28 Vide PRADO, L. R. (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva, p. 9 e ss. 29 “O traço marcante da conceituação de ‘consumidor’ (...) está na perspectiva que se deve adotar, ou seja, no sentido de se o considerar como hipossuficiente ou vulnerável” (GRINOVER, A. P. et alii. Código brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 28). 30 MESTRE DELGADO, E. Delitos contra el patrimonio y contra el orden socioeconómico. In: LAMARCA PÉREZ, C. (Coord.) et alii. Manual de Derecho Penal. P.E., p. 351). Para Mario Ferreira Monte, consumidor, numa acepção socioeconômica,seria “um agente do mercado, que ao realizar actos de consumo interferiria na própria economia da sociedade; seria o adquirente, aquele que adquirisse por um valor achado na medida do uso ou da utilização que desse aos bens e serviços, acabando assim por ser, também, o utilizador”. Já numa acepção jurídica, consumidor “seria a pessoa, em princípio física, que, inserida numa relação jurídica, adquire bens ou serviços para seu uso pessoal ou privado a um profissional no exercício da sua actividade profissional” (Op. cit., p. 187). 31 NUNES, L. A. R. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 87-88. 32 NUNES, L. A. R. Op. cit., p. 87-88. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg73a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg74a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg74a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg74a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg75a4 33 IDEM, IBIDEM. 34 Consumidor final seria “aquele que adquirisse bens ou serviços para seu uso pessoal ou privado, o que significaria que um empresário que adquirisse bens ou serviços para a utilização na sua actividade empresarial ou para revenda não seria considerado consumidor” (MONTE, M. F. Op. cit., p. 189). 35 Assim, CALAIS-AULOY, J.; STEINMETZ, F. Op. cit., p. 7-9. 36 Cf. PRADO, L. R. Op. cit., p. 298. 37 Seguindo a definição legal, rótulo é a “identificação impressa ou litografada, bem como os dizeres pintados ou gravados a fogo, pressão ou decalco, aplicados diretamente sobre recipientes, vasilhames, invólucros, envoltórios, cartuchos ou qualquer outro protetor de embalagem” (art. 3.º, VIII, da Lei 6.360, de 23 de setembro de 1976). 38 DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, II, p. 142. 39 SUÁREZ GONZÁLEZ, C. J. De los delitos relativos al mercado y a los consumidores. In: BAJO, FERNANDEZ, M. Compendio de Derecho Penal, p. 543. Juan José Gonzáles Rus a conceitua como “toda atividade de divulgação dirigida a chamar a atenção do público ou dos meios de divulgação para um determinado produto ou serviço com o fim de promover de modo mediato ou imediato sua contratação” (Delitos socioeconômicos (VIII). In: COBO DEL ROSAL, M. (Dir.). Curso de Derecho Penal espanõl. P. E., I, p. 807). 40 BITTAR, C. A. Publicidade. In: FRANÇA, R. L. (Coord.). ESD, 62, p. 480. Segundo o Código de Auto-Regulamentação Publicitária, publicidade consiste em “toda atividade destinada a estimular o consumo de bens e serviços, bem como promover instituições, conceitos e ideias” (art. 8.º). 41 Cf. COSTA JÚNIOR, P. J. da. Crimes contra o consumidor, p. 20. 42 Sobre o tema, PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 649-650. 43 FONSECA, A. C. L. Op. cit., p. 132. 44 Assim, SILVA JÚNIOR, J. Op. cit., p. 1390; ZANELLATO, M. A. O sancionamento penal da violação do dever de informar no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 8, 1993, p. 96. 45 “Serviço. Do latim servitium (condição de escravo), exprime, gramaticalmente, o estado de que é servo, encontrando-se no dever de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg76a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg77a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg78a5 servir, ou de trabalhar para o amo. Extensivamente, porém, a expressão designa hoje o próprio trabalho a ser executado, ou que se executou, definindo a obra, o exercício do ofício, o expediente, o mister, a tarefa, a ocupação, ou a função” (DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, II, p. 215). 46 Os exemplos são citados por COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 21. 47 WESSELS, J. Direito Penal, p. 157. 48 PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P. G., 1, p. 344-347; LUISI, L. O tipo penal, a teoria finalista e a nova legislação penal, p. 75; TAVARES, J. Direito Penal da negligência, p. 124-125. 49 PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 251. 50 GRINOVER, A. P.; et alii. Código brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 149. 51 FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 141. 52 Considera, de sua vez, Costa Júnior que o bem jurídico tutelado seria somente a saúde ou vida do consumidor (Op. cit., p. 24). Para Brito Filomeno, seria somente o direito à informação (Manual de direitos do consumidor, p. 239). 53 É decorrência de um dever estatuído nos artigos 10 e 11 do CDC. 54 LUISI, L. Os princípios constitucionais penais, p. 59. 55 DOTTI, R. A. Das infrações penais (Arts. 61-74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 242. 56 LUISI, L. Op. cit., p. 59. 57 Nesse sentido, FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 145-146. Contra: COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit. 58 PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 252. 59 BENJAMIN, A. H. V. Crimes de consumo no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 3, 1992, p. 106. Nesse sentido, SILVA, J. A. Q. de C. Código de Defesa do Consumidor anotado e legislação complementar, p. 262. 60 FILOMENO, J. G. B. Manual de direitos do consumidor, p. 237; NASCIMENTO, T. M. C. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 152. Na mesma linha, DOTTI, R. A. Das infrações https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg79a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg80a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg81a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg81a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg82a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg82a2https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg82a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg83a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg83a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a3 penais (Arts. 61 a 74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 248. 61 Cumpre salientar que esse termo não deve ser confundido com “alto grau de nocividade ou periculosidade, referidos no art. 10, caput, noção esta que se aplica à periculosidade adquirida (defeito). Tanto assim que, quanto a eles, há uma proibição absoluta de colocação no mercado” (BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 106). Vide, também, FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 151. 62 Há quem o considere delito de perigo presumido, uma “vez comprovada a realização do serviço de alto grau de periculosidade, em rebeldia à determinação da autoridade competente, a infração está consumada, presumindo-se juris et de jure a situação de perigo à vida, à saúde, à integridade corporal e à segurança, não se admitindo a prova em contrário” (DOTTI, R. A. Op. cit., p. 251); ou, ainda, simplesmente de natureza formal (COSTA JÚNIOR, P. J. Op. cit., p. 30). 63 ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 177. 64 Assim, SILVA JÚNIOR, J. Defesa do Consumidor. In: FRANCO, A. S.; STOCO, R. (Coord.). Leis penais especiais e sua interpretação jurisprudencial, 1, p. 1388; DOTTI, R. A. Das infrações penais (Arts. 61 a 74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 255; FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 165. Destaque-se, ainda, o entendimento diverso de Paulo José da Costa Jr., que não considera como sujeito passivo principal a coletividade de consumidores, mas tão somente “o consumidor ludibriado com a falsidade da informação, ou não alertado quanto a características negativas do produto ou do serviço” (Crimes contra o consumidor, p. 34). 65 Nesse sentido, PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 252; DOTTI, R. A. Das infrações penais (Arts. 61 a 74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 254; COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 36. 66 Cf. PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 256. 67 COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 32. 68 IDEM, IBIDEM. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg85a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg86a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg88a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg88a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg89a4 69 DOTTI, R. A. Das infrações penais (Arts. 61 a 74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 255. 70 Note-se que os artigos 6.º, III, e 31 do CDC arrolam outros dados, tais como composição, prazos de validade e origem e riscos de produtos ou serviços. Embora esses dispositivos sejam objeto de tutela do artigo 66, a afirmação falsa ou enganosa, bem como a omissão de informação relevante sobre os elementos supracitados, não configurará mencionado delito, por força do princípio da legalidade (CF, art. 5.º, XXXIX, e CP, art. 1.º). Não obstante, Antonio Herman Vasconcelos Benjamin, com desacerto, entende que o artigo 66 engloba outros dados não referidos pela norma, fazendo menção, inclusive, à composição, ao prazo de validade, entre outros (A repressão penal aos desvios de “marketing”. RDC, 4, 1992, p. 99). 71 Cf. BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 99. 72 Cf. DE PLÁCIDO E SILVA, O. Vocabulário jurídico, IV, p. 186. 73 Cf. SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia, p. 787-488. 74 Cf. DOTTI, R. A. Das infrações penais (Arts. 61 a 74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 257. Também entende que o patrocinador incorre em coautoria, CENEVIVA, W. Publicidade e Direito do Consumidor, p. 149. 75 Cf. FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 169. 76 BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 96. 77 Cf. ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 176. 78 Nesse sentido, TORON, A. Z. Aspectos penais da proteção do consumidor. RT, 671, 1991, p. 87. 79 De acordo com o texto, JACOBINA, P. V. A publicidade no Direito do Consumidor, p. 114; TORON, A. Z., Aspectos penais da proteção do consumidor. RT, 671, 1991, p. 87; PIMENTEL, M. P. Op. cit., p. 252. Contra, entendendo ser crime formal, PASSARELLI, E. Dos crimes contra as relações de consumo, p. 72; COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 38. 80 Cf. COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 38. Há, todavia, quem entenda que há concurso formal entre o art. 66 da Lei 8.078/1990 e o art. 7.º da https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg90a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg90a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg91a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg92a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg92a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg92a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a3 Lei 8.137/1990, caracterizando-se efetivo prejuízo ao consumidor (JACOBINA, P. V. Op. cit., p. 114). 81 Assim, PASSARELLI, E. Op. cit., p. 73; FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 165. FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 248. Em sentido contrário, entendendo ser a tentativa inadmissível em qualquer hipótese, JACOBINA, P. V. Op. cit., p. 114. Também não a reconhece, sob a alegação de o crime ser unissubsistente, DOTTI, R. A. Op. cit., p. 256. 82 Cf. COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 39. 83 Assim, FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 248. 84 Cf. JEANDIDIER, W. Droit Pénal des Affaires, p. 400. 85 Cf. CALAIS-AULOY, J.; STEINMETZ, F. Op. cit., p. 124. 86 A respeito desse conceito, vide PRADO, L. R. Bem jurídico-penal e Constituição, p. 61 e ss. 87 CALAIS-AULOY, J.; STEINMETZ, F. Op. cit., p. 123. 88 BITTAR, C. A. Publicidade.ESD, 62, p. 480. Segundo o Código de Autorregulamentação Publicitária, publicidade consiste em toda atividade destinada “a estimular o consumo de bens e serviços, bem como promover instituições, conceitos e ideias” (art. 8.º). De sua vez, Juan José Gonzáles Rus a conceitua como “toda atividade de divulgação dirigida a chamar a atenção do público ou dos meios de divulgação para um determinado produto ou serviço com o fim de promover de modo mediato ou imediato sua contratação” (Delitos socioeconômicos (VIII). In: COBO DEL ROSAL, M. (Dir.). Curso de Derecho Penal español. P.E., I, p. 807). 89 SUÁREZ GONZÁLEZ, C. J. De los delitos relativos al mercado y a los consumidores. In: BAJO FERNANDEZ, M. Compendio de Derecho Penal, II, p. 543. 90 Cf. CALAIS-AULOY, J.; STEINMETZ, F. Op. cit., p. 127. 91 MORENO Y BRAVO, E. El delito de publicidad falsa, p. 16. 92 SUÁREZ GONZÁLEZ, C. J. Op. cit., p. 542. Vide, sobre o tema, MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, C. Derecho Penal Económico. P. E., p. 92 e ss.; GONZÁLEZ RUS, J. J. Op. cit., p. 806-809; RUIZ VEGA, J. A. de. Los delitos contra el consumidor en el Código Penal de 1995 (con legislación complementaria), p. 100 e ss.; JIMENEZ, J. J. Q. Derecho Penal español. P. E., p. 594 e ss.). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg93a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg94a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg94a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg95a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg95a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg95a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg96a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg97a1 93 Nesse sentido, ALVIM, A.; et alii. Código do Consumidor comentado, p. 306; FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 249; ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 178; SILVA JÚNIOR, J. Defesa do consumidor. In: FRANCO, A. S.; STOCO, R. (Coord.) Leis penais especiais e sua interpretação jurisprudencial, 1, p. 1403; PASSARELLI, E. Op. cit., p. 76; CAVALCANTE, F. Comentários ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p. 148; COSTA JR., P. J. da. Op. cit., p. 42. Em sentido contrário, entendendo que o anunciante também figura como sujeito ativo desse delito, BENJAMIN, A. H. V. A repressão penal aos desvios de “marketing”. RDC, 4, 1992, p. 104; JACOBINA, P. V. Publicidade no Direito do Consumidor, p. 116; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 267. 94 BENJAMIN, A. H. V. Op cit., p. 114. 95 Cf. DIAS, S. R. O briefing e o planejamento da campanha. In: RIBEIRO, J. (Org.). Tudo que você queria saber sobre propaganda e ninguém teve paciência para explicar, p. 423. 96 Essa é a definição proposta pela jurisprudência francesa (CALAIS- AULOY, J. STEINMETZ, F. Op. cit., p. 127). 97 Cf. BITTAR, C. A. Publicidade. In: FRANÇA, R. L. (Coord.). ESD, 62, p. 480. 98 Cf. SAMPAIO, N. de S. Propaganda. In: CARVALHO SANTOS, J. M. de (Org.). REDB, XLII, p. 80. 99 Convém destacar que o CONAR publicou, em julho de 2020, durante a pandemia por Covid-19, uma Nota Técnica sobre Publicidade de produtos e serviços com referência à Covid-19, especialmente produtos farmacêuticos, suplementos alimentares, produtos de limpeza e desinfecção de objetos e superfícies. 100 ALMEIDA, J. B. A proteção jurídica do consumidor, p. 85. Ainda, CHAISE, V. F. A publicidade em face do Código de Defesa do Consumidor, p. 10. 101 A publicidade é, em geral, ilícita “quando atentar contra a dignidade da pessoa ou vulnerar direitos reconhecidos na Constituição” (art. 3, a), da Lei Geral de Publicidade espanhola, de 1988). 102 Cf. PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 333. Nesse sentido, TICIANELLI, M. D. V. Uma análise do delito de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg97a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg98a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg98a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg99a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg99a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg99a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg100a4 publicidade enganosa e abusiva (art. 67 da Lei 8.078/90). RCP, 4, 2006, p. 328-329. 103 Cf. FONSECA, A. C. L. da. Direito Penal do Consumidor, p. 174. 104 Assim, TICIANELLI, M. D. V. Op. cit., p. 330-331. 105 Cf. BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 108. 106 Vide, com mais detalhes, TICIANELLI, M. D. V. Delitos publicitários no Código de Defesa do Consumidor e na Lei 8.137/1990, p. 136-155. 107 Cf. BENJAMIN, A. H. V. Das práticas comerciais. In: GRINOVER, A. P. et alii. Código brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 298. 108 Cf. NUNES, L. A. R. Op. cit., p. 461. 109 PASQUALOTTO, A. Os efeitos obrigacionais da publicidade no Código de Defesa do Consumidor, p. 51. 110 Conforme se esclarece, proíbem-se “anúncios que direta ou indiretamente estimulem: a) a poluição do ar, das águas, das matas, dos demais recursos naturais, bem como do meio ambiente urbano; b) a depredação da fauna, da flora e dos demais recursos naturais; a poluição visual dos campos e das cidades; d) a poluição sonora; e) o desperdício de recursos naturais” (NUNES, L. A. R. Op. cit., p. 462- 463). 111 Cf. BENJAMIN, A. H. V. Das práticas comerciais. In: GRINOVER, A. P. et alii. Código brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 298. 112 Nessa linha, JACOBINA, P. V. Op. cit., p. 115; ZANELLATO, M. A. O sancionamento penal da violação do dever de informar no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 8, 1993, p. 178; PASSARELLI, E. Dos crimes contra as relações de consumo, p. 76; ALVIM, A.; et alii. Op. cit., p. 306; CAVALCANTE, F. Op. cit., p. 148; SILVA JÚNIOR. Op. cit., p. 1403; ZEIGLER, P. L.; ZANELLATO, M. A. O Ministério Público e a exegese da expressão deveria saber do art. 67, do CDC. RDC, 14, 1995, p. 70; JESUS, D. E. de. Dolo e culpa no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 1, 1992, p. 100-102. Contra, entendendo que a expressão deveria saber denota culpa, têm-se os seguintes autores: DOTTI, R. A. Op. cit., p. 267; CENEVIVA, W. Publicidade e Direito do Consumidor, p. 150; LUISI, L. Os princípios constitucionais penais, p. 62; TORON, A. Z. Aspectos penais da proteção ao consumidor. RT, 671, https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg101a1https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg101a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg102a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg102a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg103a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg104a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg104a2 1991, p. 294; BENJAMIN, A. H. V. A repressão penal aos desvios de “marketing”. RDC, 4, 1992, p. 111-112. Registre-se, ainda, o posicionamento isolado de Costa Junior, segundo o qual, diante da locução condicional empregada – deveria saber (futuro do pretérito) –, a lei do consumidor contemplou a presunção de culpa (Op. cit., p. 44- 45). 113 Vide comentários ao art. 67 do CDC. 114 Miguel Reale Júnior é assente ao dizer que a publicidade abusiva foi tipificada duas vezes (artigos 67 e 68 da Lei 8.078/1990), com apenações diferentes. Trata-se, segundo o autor, de um absurdo legislativo em matéria penal constante da lei do consumidor (Avanços e retrocessos. In: BARRA, R. P.; ANDREUCCI, R. A. Estudos jurídicos em homenagem a Manoel Pedro Pimentel, p. 277). Nessa mesma linha, Alberto Zacharias Toron critica a técnica adotada pelo legislador, asseverando que ‘causa estranheza a dupla incriminação da propaganda que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança, classificada como abusiva (art. 67, c/c o art. 37, § 2.º, parte final) e, novamente a título autônomo, a mesma descrição típica é encontrada no art. 68, porém com pena maior (Aspectos penais da proteção ao consumidor. RT, 671, 1991, p. 88). 115 Cf. DOTTI, R. A. Op. cit., p. 273. 116 Cf. HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 2.536. 117 O exemplo é dado por ALVIM, A.; et alii. Código do Consumidor comentado, p. 311. 118 Nesse sentido, ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 180; FILOMENO, J. G. B. Manual de direitos do consumidor, p. 139; BENJAMIN, A. H. V. A repressão penal aos desvios de “marketing”. RDC, 4, 1992, p. 115; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 274-276 e FONSECA, A. C. L. da. Direito Penal do consumidor, p. 190. 119 Exemplo preciso é fornecido por FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 252. 120 A norma do art. 36, parágrafo único, do CDC é explícita ao criar o dever legal de manter em ordem os dados que dão base à publicidade exclusivamente ao fornecedor. Nesse sentido, JACOBINA, P. V. Publicidade no Direito do Consumidor, p. 118; ZANELLATO, M. A. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg106a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg106a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg107a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg107a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg107a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg108a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg108a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg109a1 Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 180; CENEVIVA, W. Publicidade e Direito do Consumidor, p. 150; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 278; FILOMENO, J. G. B. Manual de direitos do consumidor, p. 254; BENJAMIN, A. H. V. A repressão penal aos desvios de “marketing”. RDC, 4, 1992, p. 116; ALVIM, A. et alii. Código do Consumidor comentado, p. 314; SILVA JÚNIOR, J. Defesa do Consumidor. In: FRANCO, A. S.; STOCO, R. (Coord.) Leis penais especiais e sua interpretação jurisprudencial, 1, p. 1409; FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 194; PASSARELLI, E. Op. cit., p. 79. Entretanto, há divergência de tal entendimento no sentido de que “seus agentes são os publicitários, autores da publicidade assentada no vácuo” (Crimes contra o consumidor, p. 50). Assim também, LUISI, L. Os princípios penais constitucionais, p. 63. 121 Cf. FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 193-194. 122 Cf. PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 298. 123 Vide PRADO, L. R. Algumas notas sobre a omissão punível. RT, 872, 2008, p. 433 e ss.; TAVARES, J. Alguns aspectos da estrutura dos crimes omissivos. RCJ, 1, 1997, p. 159. 124 Assim, COSTA JÚNIOR., P. J. da. Op. cit., p. 52; FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 267; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 282; PASSARELLI, E. Op. cit., p. 82; BENJAMIN, A. H. V. Crimes de consumo no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 3, 1992, p. 108. 125 DOTTI, R. A. Op. cit., p. 282. 126 Menciona-se, a esse respeito, que “sujeito ativo é sempre o responsável pelo estabelecimento” (BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 108). Todavia, não assiste razão a esse autor, pois isso significaria adoção da responsabilidade penal objetiva, que foi repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. Dessa maneira, “o responsável pelo estabelecimento, muitas vezes, mesmo deixando peças novas à disposição do empregado, não tem a certeza de que elas estejam sendo utilizadas devidamente (...). Claro, pode existir concurso de pessoas, como na hipótese de o gerente da oficina, v.g., orientar o empregado para que se utilize dessa modalidade de fraude, ou que utilize de peças usadas em tais consertos. A responsabilidade do empregado também pode ser até afastada e só responsabilizado o gerente/responsável” (FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 202-203). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg110a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg111a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg111a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a3 127 Costa Júnior assinala que o fornecedor é quem afirma “ter empregado peças ou componentes novos quando, em realidade, os substitui por outros usados (Op. cit., p. 52). Entretanto, saliente-se que o crime não ‘exige que o fornecedor/prestador de serviços afirme ao consumidor que utilizou peças novas na reparação (...) aliás, isso nem entra em consideração no tipo. O que se entende relevante é o efetivo emprego da peça usada e para isso é despicienda aquela afirmação pelo sujeito ativo” (FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 202). 128 BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 109. 129 Vide a respeito os comentários ao art. 66 do CDC. 130 Cf. PRADO, L. R. Op. cit., p. 334. Adverte-se que “deveria ser incluída uma ressalva, com o emprego da expressão sem justa causa, porque haverá hipótese em que o prestador de serviços, diante de uma emergência, não terá outro recurso senão o de empregar peças ou componentes de reposição usados,mesmo sem a autorização do consumidor. Imagine-se a hipótese de uma avaria mecânica em um veículo na estrada, em lugar ermo, onde a assistência mecânica só possa ser dada por um prestador de serviços que ali seja encontrado. O proprietário do veículo confia o reparo ao mecânico e ausenta-se do local, durante o trabalho de reparação. O mecânico, não dispondo de peça ou componente de reposição nova, utiliza-se de produto já usado e procede ao conserto, sem autorização do proprietário. Diante do texto da lei, o crime está cometido, mesmo que o mecânico informe ao proprietário que se utilizou de peça ou componente já usado, por não dispor de outros novos. Se o consumidor concordar, a autorização se dará a posteriori, hipótese em que desaparecerá a incriminação. Mas, se o consumidor não concordar, poderá formular acusação contra o prestador de serviços, que se verá em extrema dificuldade para defender-se, porque somente poderá invocar a não exigibilidade de outra conduta, que, sendo excludente de culpabilidade, apenas poderá vir a ser reconhecida no final do processo” (PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 254). 131 Agregue-se ainda que, “no que respeita à autorização, é evidente que tem de ser expressa e prévia. Porém, não há obrigatoriedade de que seja escrita. Basta ser verbal. É claro que a autorização escrita é uma garantia para o prestador do serviço. Por isso nada impede (aliás, as circunstâncias aconselham) que a autorização seja dada no próprio https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg112a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg113a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg113a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg113a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg114a1 orçamento elaborado pelo prestador” (NUNES, L. A. R. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 301). 132 Cf. BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 110. 133 Cf. FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 204. Contra DOTTI, R. A. Op. cit., p. 283. 134 Também compartilham desse mesmo entendimento ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 181; FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 201; BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 110. Em sentido contrário, COSTA JR., P. J. da. Op. cit., p. 53; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 282. 135 Assim, ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 181. 136 Assim, FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 210. Em sentido contrário, entendendo que somente o consumidor diretamente lesado pode figurar como sujeito ativo, COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 182; FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 269. 137 Nesse sentido, ZANELLATO, M. A. Apontamentos sobre crimes contra as relações de consumo e contra a economia popular. RMPRS, 28, 1992, p. 181-182. 138 Vide, a respeito, os comentários de PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.E., 2, p. 272 e ss. 139 Cf. PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 307 e 400. 140 Luiz Luisi, porém, entende que a coação ventilada pela norma seja de caráter moral (Op. cit., p. 65). 141 Nesse sentido, COSTA JR., P. J. da. Op. cit., p. 57; FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 208; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 285. 142 Cf. PRADO, L. R. Tratado de Direito Penal brasileiro. 2. ed., P.G., I, p. 333. 143 Cf. PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro, P.G., 1, p. 334. A propósito, leciona-se que “trata-se, pois, de um elemento de ilicitude especial, que compõe a figura penal. Logo, se a utilização do meio for legítima, como a ameaça de levar o título vencido e não pago a protesto, não se perfaz o tipo” (COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 59). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg114a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg114a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg115a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg115a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg117a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg117a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg118a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a2 Sustenta-se, ainda, que “o advérbio injustificadamente (...) tem por escopo resguardar o (...) exercício regular do direito de cobrar, guardadas as limitações, por certo, elencadas pelo próprio tipo” (FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 269). 144 Cf. BENJAMIN, A. H. V. Das práticas comerciais. In: GRINOVER, A. P. et alii. Código brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 333-334. 145 Cf. NUNES, L. A. R. Op. cit., p. 509. 146 IDEM, IBIDEM. 147 Cf. CAMPUZANO TOMÉ, H. Vida privada y datos personales: su protección jurídica frente a la sociedad de la información, p. 20. 148 IDEM, p. 54-55. 149 DOTTI, R. A. Das infrações penais (arts. 61 a 74). In: CRETELLA JÚNIOR, J.; DOTTI, R. A. (Coord.). Comentários ao Código do Consumidor, p. 290. Nesse sentido: FILOMENO, J. G. B. Manual de direitos do consumidor, p. 275. Esse dispositivo apresenta uma peculiaridade, visto que o agente não precisa ser necessariamente o fornecedor, mas “quem tenha disponibilidade sobre as informações que versam a respeito do consumidor (...) Trata-se de sujeito ativo diversificado, cuja caracterização se prende à circunstância de ter disponibilidade sobre as informações ou autoridade para impedir o acesso do consumidor aos cadastros, bancos de dados, fichas e registros” (PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 255). 150 SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de Economia, p. 70. Para Plácido e Silva, é “a organização ou o registro executado pelas autoridades administrativas, com este caráter de censo, para que por ele oriente o lançamento dos impostos atribuídos aos proprietários” (op. cit., p. 346). Cf. CRETELLA JÚNIOR, J. Cadastro. In: FRANÇA, R. L. (Coord.). ESD, 12, p. 246. 151 ULMAN, J.; WIDOM, J. A first course in Database Systems, p. 1. 152 EFING, A. C. Bancos de dados e cadastro de consumidores, p. 30. 153 Cf. EFING, A. C. Op. cit., p. 31. 154 EFING, A. C. Op. cit., p. 31. 155 Cf. EFING, A. C. Op. cit., p. 32. 156 EFING, A. C. Op. cit., p. 33. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg119a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg120a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg121a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg121a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg121a3https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg122a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg122a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg122a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a4 157 DE PLÁCIDO E SILVA, O. Op. cit., p. 288. Ficha designa “1. Cartão onde se anotam fatos alusivos a pessoas ou coisas para ser eventualmente consultado. 2. Cadastro feito por bancos com informações sobre clientes e índices dos negócios entabulados” (DINIZ, M. H. Dicionário Jurídico, 2, p. 543). 158 FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 217. No mesmo sentido, COSTA JÚNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 62. 159 Cf. PASSARELLI, E. Op. cit., p. 94, DOTTI, R. A. Op. cit., p. 292; FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 276. 160 Nesse sentido, o delito “somente pode ser praticado pela pessoa física incumbida de proceder à correção. Pressupõe, portanto, atribuição específica decorrente da lei, do contrato ou de situação de perigo para o bem jurídico afetado, quando for criada pelo próprio omitente” (DOTTI, R. A. Op. cit., p. 292). 161 Vide LUISI, L. Op. cit., p. 66. 162 “O advérbio imediatamente se presta para interpretações subjetivas, dada a circunstância de ser vicariante a noção do que deve ser entendido como imediato. A imprecisão, quanto ao momento quo ante, como ponto de partida gerador da obrigação, conduzirá a solução penal para o campo do subjetivismo do intérprete, podendo causar decisões injustas” (PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 255). 163 FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 276. Nesse sentido, COSTA JUNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 64; PASSARELLI, E. Op. cit., p. 94; BENJAMIN, A. H. V. Crimes de consumo no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 3, 1992, p. 117. 164 DOTTI, R. A. Op. cit., p. 292. Luiz Luisi também salienta que “a retificação se faça imediatamente, ou seja, sem quaisquer delongas. Se a retificação for postergada, feita com atraso, o tipo se configura” (Op. cit., p. 66). Há quem discorde dessa assertiva, afirmando que “não é só porque summum ius summa injuria, mas porque, se a lei concede aquele prazo ao arquivista para realizar o mais, que é avisar a terceiros sobre a correção, onde muito presente até eventual prejuízo ao fornecedor, também deve ter um prazo para realizar o menos, que é satisfazer pessoal e unicamente o próprio consumidor. E, muitas vezes, a informação negativa foi causada pelo próprio comportamento do consumidor, como quando é inadimplente, quando não honra suas https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg123a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg124a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg125a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg126a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg126a2 obrigações tempestivamente ou quando concorre para o lançamento de informações incorretas” (FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 226). 165 Também, FONSECA, A. C. L. da. Op. cit., p. 224; PASSARELLI, E. Op. cit., p. 94. 166 LUISI, L. Op. cit., p. 66; COSTA JUNIOR, P. J. da. Op. cit., p. 65; BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 177; DOTTI, R. A. Op. cit., p. 293. 167 O bem jurídico tutelado, segundo Fonseca, é “a relação de consumo e o dever de informação” (FONSECA, A. C. L. Op. cit., p. 233). De sua vez, Costa Junior salienta que o delito em epígrafe visa a tutelar “não só a lisura nas relações de consumo, como o patrimônio do consumidor, que perderia o direito à garantia, durante o tempo de validade do produto” (Op. cit., p. 66). No mesmo sentido, BENJAMIN, A. H. V. Op. cit., p. 117. 168 DOTTI, R. A. Op. cit., p. 295. Em sentido semelhante, Maria Helena Diniz, citando Othon Sidou, explica que termo de garantia é um “instrumento formal e padronizado que complementa o contrato de compra e venda ou de prestação de serviço, conferindo garantia temporária ao bem vendido ou pelo serviço prestado” (Dicionário jurídico, 4, p. 537). Vide, sobre o assunto, NUNES, L. A. R. Op. cit., p. 563 e ss. 169 FILOMENO, J. G. B. Op. cit., p. 278. “A forma pela qual foi redigido o dispositivo em estudo pode dar a impressão de que o certificado ou o termo de garantia deverão acompanhar sempre a mercadoria vendida, o que não parece ter sido a intenção do legislador ao redigir o dispositivo. Destarte, conviria a ressalva – quando devido” (PIMENTEL, M. P. Aspectos penais do Código de Defesa do Consumidor. RT, 661, 1990, p. 256). 170 COSTA JÚNIOR, P. J. Op. cit., p. 67. 171 Nesse sentido, PIMENTEL, M. P. Op. cit., p. 236; BENJAMIN, A. H. V. Crimes de consumo no Código de Defesa do Consumidor. RDC, 3, 1992, p. 117-118. 172 Vide, ainda, DOTTI, R. A. Op. cit., p. 294; TORON, A. Z. Aspectos penais da proteção ao consumidor. RT, 671, 1991, p. 292. 173 PRADO, L. R. Bem jurídico-penal e Constituição, p. 54 e ss. 174 PRADO, L. R. Curso de Direito Penal brasileiro. P.G., 1, p. 148. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg127a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg127a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg128a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg129a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg130a1 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/15_chapter03.xhtml?favre=brett#pg130a2 Seção II DELITOS CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. LEI 8.137/1990 (ARTIGO 7.º) 2.1. ARTIGO 7.º DA LEI 8.137/1990 Art. 7.º Constitui crime contra as relações de consumo: I – favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores; II – vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial; III – misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os de mais alto custo; IV – fraudar preços por meio de: a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidadede elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço; b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto; c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado; d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços; V – elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais; VI – sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para fim de especulação; VII – induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade de bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária; VIII – destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou de terceiros; IX – vender, ter em depósito para vender ou expor à venda, ou de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo. Pena – detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-se a modalidade culposa, reduzindo-se a pena de detenção de 1/3 (um terço) ou a de multa à quinta parte. Após o advento do Código de Defesa do Consumidor, foi sancionada a Lei 8.137, de 27.12.1990, que define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo. As condutas ilícitas, atinentes às relações de consumo, estão contidas no art. 7.º do Capítulo II (Dos Crimes contra a Ordem Econômica e as Relações de Consumo) desse diploma. Bem jurídico e sujeitos do delito: protegem-se no art. 7.º, I a IX e parágrafo único, os interesses econômicos ou sociais do consumidor. De modo indireto, encontram-se tutelados a vida, a saúde, o patrimônio e o mercado. Sujeito ativo é fornecedor (art. 7.º, I a IX, da Lei 8.137/1990). Para efeitos penais é toda pessoa física que desenvolve atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Trata-se de delito especial próprio. Quando a venda ao consumidor é efetuada por sistema de entrega ao consumo ou por intermédio de distribuidor ou revendedor, seja em regime de concessão comercial, seja em outro em que o preço ao consumidor é estabelecido ou sugerido pelo fabricante ou concedente, o ato por este praticado não alcança o distribuidor ou revendedor (art. 11, parágrafo único, da Lei 8.137/1990). Sujeito passivo é a coletividade de consumidores. Eventualmente, tem- se como lesada, de forma indireta, a pessoa física ou jurídica. Tipicidade objetiva e subjetiva: nove são as condutas incriminadas no artigo 7.º da Lei 8.137/1990. A primeira modalidade consiste em favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores.1 Convém analisar que a norma em epígrafe tem em conta o disposto no art. 2.º, II, da Lei 1.521/1951,2 que trata dos crimes contra a economia popular, no sentido de se aferir se o conteúdo normativo daquela se encontra também inserido nesta última, de alcance mais abrangente. É princípio elementar de Direito, inserido no art. 2.º, § 1.º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que, entre outras hipóteses, a lei posterior revoga a anterior quando dispõe inteiramente sobre a matéria nela contida. Assim, se a lei posterior, disciplinando os crimes perpetrados na economia popular, tratou do favorecimento do comprador ou freguês, não subsiste dúvida de que a norma anterior se encontra revogada.3 Favorecer significa conceder benefícios, regalias a alguém, enquanto preferir consiste em designar, escolher, nomear, privilegiar alguém4 (delito comissivo). Os verbos nucleares (favorecer/preferir) demonstram que o agente, por meio de sua conduta, privilegia alguém sem justa causa. Constitui esta última, elemento normativo do tipo, que encerra referência específica à possível concorrência de uma causa de justificação. Embora diga respeito à ilicitude, a expressão sem justa causa é elemento do tipo. A justa causa, portanto, torna a conduta lícita ou permitida.5 Verifica-se a justa causa, de acordo com a situação e a circunstância que envolvem a hipótese (v.g., idosos, gestantes, portadores de deficiência física, ordem de chegada). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg134a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg134a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg134a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg134a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg134a10 Nesse diapasão, é forçoso reconhecer que o legislador de 1990 perdeu uma ótima oportunidade de adequar a redação do art. 2.º, II, da Lei 1.521/1951 à relação de consumo. De fato, as expressões comprador (adquirente de produto ou serviço, em razão de contrato de compra e venda tácito ou expresso6) e freguês (pessoa que adquire habitualmente em estabelecimento comercial, alimentos, roupas e outras mercadorias)7 eram tidas como adequadas para os crimes contra a economia popular; mas no campo do Direito Penal do consumidor são tecnicamente inadequadas, pois tanto comprador como freguês se enquadram no conceito de consumidor. Daí ser recomendável a substituição desses termos simplesmente pelo de consumidor. Também merece crítica a expressão ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuição ou revendedores, pois a “relação de consumo, na maioria das vezes, só existe depois de efetivada a distribuição e/ ou a revenda. Estas operações (distribuições e revenda) dizem mais respeito ao fornecedor e ao comerciante (equiparado ao fornecedor). O consumidor é o destinatário final, pelo que não poderia inserir-se nessa ordem de ressalva”.8 A conduta prevista no art. 7.º, II, consiste em vender (fornecer, comercializar, negociar, alienar, onerosamente) ou expor à venda (pôr à vista, mostrar, apresentar, oferecer, exibir para a venda) mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial. Mercadoria, elemento normativo extrajurídico, é todo “produto que se compra ou que se vende. É, portanto, tudo o que se produz para troca, e não para uso ou consumo do produtor”.9 Esse termo não deve se confundir com produto, pois a palavra mercadoria é empregada nas relações de consumo para designar as coisas móveis colocadas no mercado, excluindo de seu conceito os imóveis.10 Produto, por sua vez, abrange igualmente “os bens móveis, imóveis, materiais e imateriais” (vide art. 3.º, § 1.º, do CDC). Para mais cabal intelecção do assunto, convém conceituar os termos embalagem, tipo, especificação, peso e composição. Embalagem constitui o invólucro, recipiente ou qualquer forma de acondicionamento, removível ou não, destinada a cobrir, empacotar, envasar, proteger ou manter, especificamente ou não, as mercadorias. Tipo significa “a espécie, ou o exemplar de qualquer coisa que, estabelecido ou https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg135a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg135a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg135a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg135a9https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg135a10 instituído dentro de uma regular padronização, serve de modelo para classificar as coisas da mesma natureza, consoante o padrão adotado”.11 Noutras palavras, o termo tipo estabelece a qualidade, o formato, bem como outras condições para classificar determinada mercadoria. Especificação é “o ato de distinguir as espécies das coisas ou subdividi--las do gênero, isto é, a demonstração, individualização das coisas por suas espécies”.12 Peso refere-se à quantidade (v.g., quilos, gramas, toneladas) da mercadoria. Composição, por sua vez, consiste nas substâncias ou elementos que integram uma mercadoria. É oportuno ainda registrar que esse inciso figura como norma penal em branco, pois encerra preceito que exige dupla complementação, já que proíbe alternativamente a venda ou a exposição à venda de mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição estejam em desacordo com as prescrições legais ou que não corresponda à respectiva classificação oficial. A conduta incriminada no art. 7.º, III, é misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los (fornecer, comercializar, negociar, alienar, onerosamente) ou expô-los à venda (pôr à vista, mostrar, apresentar, oferecer, exibir para a venda) como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os de mais alto custo. Analisando o dispositivo, verifica-se que sua redação é similar à do revogado13 art. 2.º, V, da Lei 1.521/1951,14 inclusive os seus equívocos. De fato, termos linguísticos ditos como insignificantes podem comprometer o correto enquadramento típico do dispositivo. A conjunção aditiva empregada no dispositivo – “misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes” – conduz à necessidade de que seja simultaneamente misturado gênero (“é o conjunto de espécies relacionadas entre si por um princípio ou uma coisa comum”15 – v.g., gênero alimentício) com mercadoria de espécie diferente (parte do gênero). Melhor teria sido substituir a conjunção aditiva e pela alternativa ou, imprimindo-se à descrição típica maior coerência. Ainda nessa linha, convém salientar que falta de técnica legislativa dificulta inclusive identificar claramente e sem dubiedade as figuras delitivas descritas no tipo legal.16 Em razão da má redação, acaba-se por violar um dos princípios norteadores do Direito Penal, que é o princípio da https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg136a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg136a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg136a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg136a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg137a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg137a7 legalidade, na sua vertente taxatividade, que exige que as leis sejam claras, determinadas e objetivas.17 Outra questão polêmica é se a primeira parte desse inciso teria ou não revogado tacitamente o art. 175, II, do CP.18 Alguns perfilham a ideia da revogação, argumentando que solução “diversa implicaria uma diversidade de tratamento profundamente injusta: o comerciante poderia vir a ser apenado com a sanção prevista pelo Código Penal [detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos ou multa], ao passo que o produtor só poderia incorrer nas sanções mais drásticas da lei”,19 que comina pena de detenção de 2 (dois) a 5 (cinco) anos ou multa. Outros argumentam que o art. 175, II, do CP encontra-se em vigor, visto que o art. 7.º, III, da Lei 8.137/1990 tem como bem jurídico a relação de consumo, enquanto aquele visa a tutelar o patrimônio, a moralidade do comércio, e também porque, se fosse intenção do legislador revogá-lo, tê-lo-ia feito expressamente,20 como aconteceu com o art. 279 do Código Penal.21 Em que pesem as opiniões em sentido contrário, o dispositivo em tela encontra-se revogado, visto que a Lei 8.137/1990 abarca o conteúdo no Código Penal. Nessa linha de ideias, convém tecer, com brevidade, algumas considerações sobre a segunda parte do art. 7.º, III, que versa sobre misturar (mesclar) gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os de mais alto custo. Primeiramente, constata-se que legislador não empregou o termo “espécies” após mercadorias, o que contribui de certa maneira para delimitar a conduta típica. Mas infelizmente, voltou a ferir o princípio da legalidade (taxatividade), ao usar a expressão preço estabelecido para os de mais alto custo. De fato, para alguns, estaria relacionado ao preço tabelado,22 enquanto para outros seria acertadamente misturar mercadoria de melhor qualidade com a de inferior e vender ou expor à venda para o consumidor com o preço mais alto, ou seja, como se toda a mercadoria fosse de melhor qualidade (pura), causando prejuízo ao sujeito passivo.23 Se ocorre o inverso, a conduta é atípica. O inciso IV do art. 7.º prevê a conduta do agente que frauda preços por meio de: a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg137a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg137a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg137a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg138a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg138a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg138a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg138a9 bem ou serviço; b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto; c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado; d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços. O verbo-núcleo fraudar significa empregar artifício ou ardil destinado a iludir o consumidor. Preço é o valor ou avaliação pecuniária atribuída ao produto ou serviço, é o valor expresso em dinheiro.24 Portanto, fraudar preço consiste em ludibriar a vítima para burlar valores estabelecidos em mercadorias e serviços (delito comissivo). Os meios executivos da conduta prevista encontram-se taxativamente destacados, a saber: a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço. O agente, com o intuito de fraudar os preços, conserva o conteúdo de um bem ou serviço e modifica sua apresentação, alterando-lhe a denominação (nome do bem ou do serviço), sinal externo (símbolo na mercadoria que serve para reconhecê-lo), marca (sinal específico – v.g., estampa, selo, emblema, nome comercial ou industrial – “legalmente registrado, que o fabricante e o comerciante adotam para distinguir e caracterizar os produtos de sua indústria ou os artigos do seu comércio”25), embalagem (vide comentários ao art. 7.º, II, da Lei 8.137/1990), especificação técnica (os dados, detalhes técnicos de um objeto); descrição (a “enumeração circunstanciada dos caracteres principais duma coisa”26), volume (quantidade, tamanho),peso (quantidade – v.g., quilos, gramas, toneladas da mercadoria), pintura (refere-se tanto à técnica como à arte de utilizar tintas sobre uma superfície) e acabamento (remate final de obra, v.g., de pintura, de metal ou de madeira); b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto. Outro meio de fraudar o consumidor é vender separadamente bem ou serviço que normalmente é oferecido em conjunto. Em face do requisito da habitualidade, é atípica a conduta quando o agente vende separadamente o bem ou serviço apenas ocasionalmente, ou quando a venda em separado ocorre a pedido do consumidor. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg138a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg139a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg139a5 O termo habitualmente (comportamentos idênticos, repetidos, reiterados) dificulta aplicação desse dispositivo, primeiro porque, diante da dinâmica da relação de consumo, o que hoje é vendido em separado amanhã pode passar a ser vendido em conjunto. Ademais, a divisão em partes de bem ou serviço pode variar de região para região;27 c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado. Nessa hipótese ocorre o inverso: vende-se bem ou serviço que geralmente são oferecidos separadamente com intuito de aumentar o preço e, por conseguinte, lesar o consumidor. Caso sejam oferecidos em conjunto, a conduta é atípica.28 As mesmas críticas tecidas ao termo habitualmente se aplicam ao vocábulo comumente (normalmente, continuamente); d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços. O sujeito ativo frauda o preço por meio de uma comunicação (oral, escrita) de que houve a inserção de um insumo na fabricação de determinado bem ou na prestação dos serviços, ou seja, o agente justifica falsamente o motivo do aumento do preço. Entende-se por insumo “a matéria-prima e serviços utilizados no processo de produção”.29 A conduta prevista no art. 7.º, V, consiste em elevar (aumentar, subir) o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais. A descrição típica exige, portanto, que o valor cobrado seja feito em vendas a prazo – preço pago dentro de um determinado tempo fixado entre as partes –, contrario sensu, não há delito se alguém aumenta o valor cobrando – nos termos desse dispositivo – nas vendas à vista.30 Demais disso, faz-se mister que o aumento seja feito mediante a exigência de comissão ilegal. Trata-se de uma norma penal em branco, pois necessita de um complemento – lei, decreto, portaria – estabelecendo quando a comissão é legal (lícita) na venda ou prestação de serviço. Em razão da inserção do termo juros ilegais, alguns autores consideram que esse inciso deu “uma nova roupagem ao chamado ‘crime de usura real’”.31 Entende-se por usura a “remuneração excessiva do capital. O juro, por seu turno, é a remuneração legal do valor do crédito. A usura pressupõe juro. No caso, costuma-se chamar juro ilegal, excessivo ou extorsivo”.32 Acentue-se, no entanto, que esse dispositivo não revogou o art. 4.º, a, da Lei 1.521/1951 – denominada Lei de Economia Popular. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg139a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg140a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg140a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg140a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg140a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg140a10 Nesse contexto, é importante esclarecer o que se entende por “juros ilegais”. Nos termos do art. 192, § 3.º, da Constituição Federal de 1988,33 as taxas de juros acima de 12% ao ano seriam consideradas ilegais. No entanto, após o advento da Emenda 40, de maio de 2003,34 todos os incisos e parágrafos do art. 192, inclusive o § 3.º, foram revogados, não existindo até o presente momento parâmetros legais para sua fixação.35 A conduta prevista no art. 7.º, VI, consiste em sonegar insumos36 ou bens,37 recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação. O núcleo da descrição típica é sonegar – do latim subnegare –, consistente em ocultar, esconder “ou deixar de declarar a existência de certa coisa, para a subtrair ou livrar do destino que deve ser dado, ou deixar de cumprir dever, a que não é lícito se furtar, pela entrega de determinada coisa”.38 O agente sonega insumos ou bens, por meio de uma das formas alternativamente indicadas: ao recusar-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas ou ao retê-los para o fim de especulação (delito de conteúdo variável). Na primeira forma, o sujeito ativo anuncia publicamente – por escrito, oralmente – ofertas para atrair o consumidor, mas no momento de efetuar a venda nega-se a fazê-lo nas condições ofertadas. De acordo com a doutrina, deve-se “provar que determinado consumidor tenha desejado adquirir certo insumo ou mercadoria e não tenha obtido sucesso, em virtude do escondimento criminoso do fornecedor. A mera sonegação não configura o crime em análise”.39 A outra forma prevista no tipo é a retenção (armazenamento), para o fim de especulação. Especulação, elemento normativo extrajurídico (economia, finanças), consubstancia-se no operar comercialmente com o intuito de lucros exagerados, em consequência de ausência de determinado bem no mercado consumidor.40 A conduta típica do art. 7.º, VII, consiste em induzir a erro o consumidor ou usuário, mediante indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza ou qualidade de bem ou serviço, utilizando-se de veiculação ou divulgação publicitária ou de qualquer outro meio. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg141a6 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg141a7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg141a8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg141a9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg141a10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg142a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg142a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg142a6 O verbo-núcleo induzir quer dizer inspirar, sugerir, incutir, persuadir. O sujeito ativo enseja a introjeção na vítima, do propósito de adquirir bem ou utilizar serviço que não condiz com sua verdadeira natureza ou qualidade, fazendo, assim, com que ela incida em erro. O erro é uma representação mental que não corresponde à realidade. Não significa desconhecimento, mas sim a falsa noção de alguma coisa. Desse modo, induzir o sujeito passivo a erro significa fazer surgir em sua mente falsa noção quanto à natureza ou qualidade do bem ou serviço adquirido ou utilizado. O fornecedor cria, portanto, uma situação fática desvirtuada da realidade, gerando no consumidor/usuário um estado de ânimo propício à concreção de seu objetivo. A indução a erro deve ocorrer, necessariamente, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa. Indicação consisteem anunciar, orientar, instruir. É a demonstração realizada pelo fornecedor acerca do bem ou serviço que se pretende vender. De sua vez, afirmação é sinônimo de alegação, confirmação, asseveração. É o ato de dizer com firmeza e segurança sobre determinado aspecto do objeto da relação de consumo. Tanto a indicação quanto a afirmação devem ser falsas (aquilo que não corresponde à verdade dos fatos ou contrário à realidade), ou enganosas (atitude dissimulada tendente a ludibriar a outrem). Como explanado por ocasião dos comentários ao art. 66 do CDC, verifica-se certa dificuldade em distinguir com nitidez o falso do enganoso, uma vez que ambos têm por finalidade a indução a erro. O tipo ora analisado é taxativo ao dizer que a indicação ou afirmação de conteúdo falso ou enganoso deva versar sobre a natureza ou a qualidade do bem ou serviço. Tais atributos – elementos normativos do tipo de conotação extrajurídica – foram devidamente abordados anteriormente.41 A respeito do objeto material – bem ou serviço –, vide a análise já feita.42 O delito em questão admite vários meios de execução (delito de forma livre), mencionando expressamente, aliás, a utilização da veiculação ou divulgação publicitária. A veiculação e a divulgação exprimem o ato de propagar, de difundir ou de transmitir anúncio publicitário por um dos meios de comunicação de massa (v.g., televisão, rádio, jornal, revista etc.). No art. 7.º, VIII, as condutas típicas alternativamente previstas são: destruir (eliminar, fazer desaparecer), inutilizar (tornar inútil ou imprestável ao fim a que se destina) ou danificar (deteriorar, produzir dano) matéria- https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg143a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg143a4 prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou de terceiros. Entende-se por matéria-prima – elemento normativo extrajurídico – o “produto natural ou semimanufaturado (bem intermediário) que deve ser submetido a novas operações no processo produtivo até tornar-se um artigo acabado”43 (v.g., madeira – para indústria de móveis; suínos e bovinos – para um frigorífico; minerais). Mercadoria, por sua vez, como já salientado alhures, consiste bem móvel que é usado como objeto de compra e venda. É importante salientar que a destruição, a inutilização ou o dano à matéria-prima ou à mercadoria devem ser realizados pelo agente com o fim de forçar um aumento dos preços, caso contrário a conduta é atípica. A ação típica prevista no inciso IX consiste em vender (consubstanciada na ação de comercializar, ou seja, transferir propriedade para outra pessoa, mediante pagamento), ter em depósito para vender (que significa guardar, conservar, deter, implicando posse ou detenção com o fim posterior de colocar à venda a matéria-prima ou mercadoria imprópria ao consumo) ou expor à venda (que expressa pôr à vista, mostrar, apresentar, oferecer, exibir para a venda) ou, de qualquer forma, entregar (designa a translação de uma mercadoria ou matéria-prima para cumprimento de uma obrigação contratual44) matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo. Trata-se de norma penal em branco, já que matéria-prima ou mercadoria consideradas impróprias ao consumo encontram-se mencionadas no Código de Defesa do Consumidor (art. 18, § 6.º). Cabe ressaltar ainda que a enumeração não é taxativa, visto que a norma, ao fazer referência a de qualquer forma entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo, prevê a possibilidade de o agente repassar esses bens por meio de outros comportamentos, como “a cessão a título gratuito, a dação em pagamento, o escambo”.45 Mas não basta qualquer mercadoria ou matéria-prima. Estas precisam estar em condições impróprias (inadequadas, avariadas) ao consumo normal. Questão importante consiste em saber se esse dispositivo revogou o art. 175, I, do CP. O parágrafo 6.º do art. 18 do CDC explicita que “são impróprios ao uso e consumo: I – os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II – os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg144a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg144a5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg144a6 ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III – os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam” (sem grifo no original). Verifica-se, por conseguinte, que na ação de entregar mercadoria em condições impróprias ao consumo encontra-se inserida aquela que foi falsificada ou deteriorada.46 Em que pese o conceito jurídico acima citado, para a caracterização do delito em análise, não basta a superação do prazo de validade previsto para o consumo, é imprescindível demonstrar que a mercadoria se encontra inadequada, imprópria para ser consumida. Se a lei posterior que disciplina os crimes perpetrados nas relações de consumo trata da venda pelo comerciante de mercadoria falsificada ou deteriorada, como se fosse verdadeira ou perfeita, não subsiste dúvida de que a norma anterior se encontra revogada.47 Ademais, cabe mencionar a revogação expressa do art. 279 do Código Penal pelo art. 23 da lei em comento. O tipo subjetivo nas infrações previstas no art. 7.º da Lei 8.137/1990 é composto pelo dolo – consciência e vontade de praticar os elementos pertencentes ao tipo objetivo –, abrangendo não apenas o escopo a que visou o agente, mas também os meios por ele utilizados. Em alguns incisos não basta apenas o dolo, é imprescindível o elemento subjetivo do injusto. É o que ocorre no inciso VI, com a expressão para fim de especulação e no inciso VIII, quando se emprega a expressão fim de provocar alta de preço. Em tais casos, integra o injusto uma finalidade transcendente, um especial fim de agir. Portanto, “exige-se do agente a persecução de um objetivo compreendido no tipo, isto é, referido no tipo, mas que ele não precisa alcançar praticamente”.48 No tocante à consumação e à tentativa, insta tecer algumas considerações. Consuma-se o delito, em sua primeira figura, quando o agente favorece ou prefere, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores (art. 7.º, I). Contudo essa conduta, como acertadamente adverte a doutrina, não admite tentativa, tanto na modalidade de favorecer, como na de preferir. De fato, se o sujeito ativo inicia a ação de favorecer e é advertido por outra pessoa (consumidor ou não), o delito se consuma por meio da modalidade típica “preferir”. Desse modo, quem inicia a prática de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg145a3 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg145a4 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9786559641192/epub/OEBPS/Text/16_chapter04.xhtml?favre=brett#pg146a4 atos de favorecimento já manifesta sua preferência, consumando o delito.49 O mesmo raciocínio se aplica à modalidade de preferência. O tipo de injusto previsto no art. 7.º, II, consuma-se quando o sujeito ativo vende ou expõe à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial. A tentativa é cabível.50 Vale frisar que na figura expor à venda trata-se de delito permanente. E, finalmente, cumpre ressaltar que a Lei 8.137/1990 agasalha a forma culposa para essa figura (art. 7.º, parágrafo único). A figura