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Tipicidade Formal

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JURISPRUDÊNCIA, STF – apesar de ser vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria de Direito Penal pela própria C.F (art. 62, §1º, I, “b”), segundo o STF, as medidas provisórias podem ser utilizadas no âmbito penal, desde que sejam benéficas ao agente.
Como consequência do princípio da legalidade, a lei penal deve ser taxativa, isto é, deve descrever a conduta criminosa de maneira clara e precisa, proibindo-se tipos penais genéricos e indeterminados (princípio da taxatividade). 
Princípio da anterioridade (irretroatividade da lei penal): para que haja incriminação do fato que se pretende punir, a Lei deve ser prévia a prática desse fato, proibindo-se a retroatividade da lei, salvo em benefício do réu (art. 5º, XXXIX, CF, e art. 1º, CP).
Princípio da personalidade/responsabilidade pessoal (intranscendência): a pena não pode passar da pessoa do condenado, isto é, nenhuma pessoa pode ser penalizada por um fato praticado por outrem (art. 5º, XLV, CF).
Atenção: a pena não poder passar da pessoa do condenado, contudo, a obrigação de reparar o dano (indenização) e a decretação do perdimento de bens (confisco) podem ser estendidas, nos termos da lei, aos sucessores e contra eles executados, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Princípio da individualização da pena: a pena deve ser individualizada ao infrator da lei penal, analisando-se as circunstâncias da prática do crime, o grau de culpabilidade e os aspectos pessoais do agente (art. 5º, XLVI, CF). A individualização da pena se desenvolve em três momentos:
Plano legislativo: na delimitação dos limites em abstrato da pena de cada crime.
Plano judicial: na aplicação da pena em concreto pelo magistrado.
Plano administrativo: na execução da pena durante o seu efetivo cumprimento.
Princípio da humanidade (vedação de penas cruéis): é proibida a criação de normas penais que ofendam a dignidade da pessoa humana, isto é, que afrontam a integridade física ou moral de alguém – penas de morte, de caráter perpétuo, cruéis, de banimento ou trabalhos forçados - art. 5º, XLVII, CF).
Atenção: pelo princípio da humanidade, a CF veda a pena de morte. A única exceção se verifica em caso de guerra declarada.
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL
Princípio da insignificância (criminalidade de bagatela): segundo este princípio a conduta será materialmente atípica quando ela for insignificante para o direito penal, isto é, incapaz de lesionar ou expor a perigo bens jurídicos penalmente tutelados. 
Atenção: não se pode confundir o princípio da insignificância com o furto de pequeno valor. Enquanto neste a coisa furtada é de pequeno valor (menos que um salário mínimo - para o STJ), naquele o valor é insignificante para o direito penal.
a) Natureza jurídica: o princípio da insignificância exclui a tipicidade material do crime.
b) Requisitos: 
	JURISPRUDÊNCIA, STF – O Supremo exige a verificação de quatro requisitos objetivos para o reconhecimento do princípio da insignificância: (Mnemônico: MARI) 
1º - Mínima ofensividade da conduta;
2º - Ausência de periculosidade social;
3º - Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
4º - Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
c) Inaplicabilidade: 
	SÚMULA 599, STJ – “o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública”.
SÚMULA 589, STJ – “é inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas”.
d) Réu reincidente:
	JURISPRUDÊNCIA, STF – a 2ª turma do STF já aplicou o princípio da insignificância ao réu reincidente, sob o fundamento de que tal princípio atua como causa de exclusão da tipicidade. Assim, a sua incidência não pode ser impedida apenas porque o réu tem antecedentes criminais, visto que a “primariedade/reincidência” não é elemento da tipicidade, mas circunstância afeta à individualização da pena.
e) Princípio da insignificância imprópria (criminalidade da bagatela imprópria): enquanto no princípio da insignificância própria o fato já nasce irrelevante para o direito penal, no princípio da insignificância imprópria o fato nasce relevante, contudo, após a prática do delito, constata-se a desnecessidade da pena por algum motivo, se manifestando como uma causa supralegal da extinção da punibilidade - ex.: ônus provocado em razão de um processo ou prisão provisória ou colaboração com a justiça.
Princípio da adequação social: a conduta do agente que seja socialmente adequada, isto é, que não afronta o sentimento social de justiça, não pode ser considerada como criminosa (causa supralegal de exclusão da tipicidade material) - ex.: trotes acadêmicos moderados.
	JURISPRUDÊNCIA, STF – De acordo com Supremo, o princípio da adequação social não se aplica nos crimes de violação de direito autoral (pirataria – falsificação de CDs e DVDs) e Casa de prostituição.
Princípio da responsabilidade penal subjetiva: o agente que pratica um fato sem dolo ou culpa não pode ser responsabilizado criminalmente (o art. 19 do CP exclui a responsabilidade penal objetiva).
Princípio da imputação pessoal (culpabilidade): o Estado não pode impor pena para o agente que age sem culpabilidade (agente inimputável, sem potencial consciência da ilicitude ou que não possa exigi-lo conduta diversa).
Princípio da responsabilidade pelo fato: uma pessoa jamais pode ser punida pelo que ela é (ou por pensamentos não exteriorizados – “direito penal do autor”), tendo em vista que a punição é consequência do fato praticado, e não por razões pessoais (“direito penal do fato”).
	JURISPRUDÊNCIA, STJ – segundo o STJ, a agravante da reincidência não é um resquício do “direito penal do autor”, pois ela constitui em elemento que demonstra maior reprovação do comportamento do agente, devendo ser valorada no momento da aplicação da pena pelo Juiz.
Princípio da ofensividade (lesividade): Não existe crime quando a conduta praticada pelo agente não tenha causado efetiva lesão ou, ao menos, perigo de lesão ao bem jurídico protegido pela lei penal.
	JURISPRUDÊNCIA, STJ/STF – os tribunais superiores entendem que os crimes de perigo abstrato (presumido) não afrontam o princípio da ofensividade, pois em determinados casos a lei pode rejeitar o perigo como “elementar do tipo” nas situações em que a conduta se demonstrar perigosa segundo a vivência e experiência social na vida cotidiana.
Princípio da alteridade: o direito penal não pune a autolesão, isto é, ninguém pode ser punido por fazer mal apenas a si mesmo (ex.: automutilação).
Atenção: a conduta de consumir drogas não é crime em obediência ao princípio da alteridade, haja vista que o seu consumo por si só não agride bem jurídico alheio. Ao contrário, o porte para o seu consumo é criminoso, visto que põe em risco a saúde pública.
Princípio da confiança: todo indivíduo que age em obediência as regras estabelecidas à vida em sociedade, pode confiar que as demais pessoas também agirão de igual forma, excluindo, assim, sua responsabilidade penal em caso de efetiva lesão a bens jurídicos alheios.
Princípio do “ne bis in idem”: é vedada a dupla punição pelo mesmo fato (nenhuma pessoa pode ser processada, punida, condenada ou executada duas vezes pelo mesmo fato criminoso).
	SÚMULA 241, STJ – “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”.
Princípio da proporcionalidade: deve haver equilíbrio (proporção) entre a gravidade do crime e a resposta estatal referente à pena, impondo, assim, limites ao Estado, desde a criação da norma até a sua execução. Tal princípio deve ser observado em dois planos:
Proibição do excesso: criação e aplicação de penas de forma exagerada e desnecessária.
Proteção insuficiente: pouquíssima proteção aos bens jurídicos
Atenção: esse princípio apresenta três destinatários, quais sejam o legislador, o juiz e os órgãos de execução penal (proporcionalidade abstrata, concreta e executória), devendo todos atuar de forma razoável e proporcional em relação à criação, aplicação e execuçãoda pena.
Tipicidade Formal
O legislador, ao definir que determinados bens jurídicos devem receber a tutela penal, preocupou-se apenas com as lesões e ameaças de expressiva relevância. Entretanto, as descrições gerais e abstratas do Código Penal acabam por impossibilitar que tal preocupação fique clara na norma, levando à possível interpretação de que qualquer ato que se encaixe na descrição do tipo deva ser, nos escritos moldes, punido.
Deve-se sempre lembrar que o direito penal busca punir uma ação ou omissão que causar lesão a bem jurídico tutelado pela norma. Assim, o princípio da insignificância qualifica a referida lesão, de modo a autorizar que a punição penal somente recaia sobre o agente quando realmente houver relevância na conduta ou no resultado dela, sendo certo que, nos demais casos, a tipicidade não estará caracterizada.
A necessidade de realizar esse juízo de adequação entre a conduta praticada e a norma jurídica correspondente (e previamente criada) surge com a insegurança das sociedades mais antigas, que não sabiam o que poderia ser considerado crime ou não. O sistema punitivo que não estabelecia regras escritas e explícitas causava uma sensação de imprevisibilidade e ausência de segurança jurídica nas populações. 
Contudo, a simples aplicação da norma prevista a toda e qualquer conduta que nela se enquadrasse, com o tempo, deixou de oferecer resultados razoáveis. Nessa esteira, surge o princípio da insignificância num contexto histórico em que os juízes, ao atuarem como simples boca da lei, acabavam por construir uma cultura de encarceramento em massa, ainda que diante de crimes de reduzida lesividade para a vítima ou para a sociedade, como o furto de quaisquer itens mínimos necessários ao autor de um grande supermercado.
Assim, o princípio da insignificância nasceu como forma interpretativa restritiva do tipo penal, com o objetivo de evitar que ele alcance condutas ou resultados que sejam irrelevantes, dividindo o tipo em dois elementos estruturantes: tipicidade formal e tipicidade material.
A tipicidade formal se configura quando a conduta praticada pelo agente se adequa com perfeição à descrição abstrata prevista no ordenamento penal. Observe-se, ainda, que a tipicidade formal é composta pela conduta, resultado naturalístico, nexo de causalidade e compatível subsunção do fato à lei.
Em suma, a tipicidade formal é o juízo de subsunção entre fato e norma, tendo o fato da vida real se amoldado ao tipo previsto no texto frio da lei penal. Dessa forma, podemos ter que o furto de uma garrafinha de água vazia se caracterize na previsão legal do Código Penal.
Tipicidade Material
Por outro lado, entende-se por tipicidade material a existência de lesão ou exposição de perigo de um bem jurídico penalmente tutelado. Por exemplo, o furto da garrafinha vazia muito provavelmente não ofende o patrimônio da vítima, não podendo tal conduta, portanto, ser denominada de furto para fins penais. Ainda que se tenha observado a tipicidade formal (o furto da garrafa), não há tipicidade material (não há tipicidade de fato, pois não houve lesão jurídica tão gravosa a ponto de ferir o patrimônio da vítima em demasia).
Em síntese, o princípio da insignificância rompe com a tipicidade do ato praticado, tornando-o atípico, não havendo que se falar em prática de crime diante de conduta irrelevante.
Bagatela Própria
O denominado princípio da bagatela é inspirado na doutrina alemã, abarcando
 
(a) o princípio da insignificância, também conhecido como bagatela própria;
(b) o princípio da irrelevância penal do fato, também denominado de bagatela imprópria.
O princípio da insignificância, também chamado de bagatela própria, procura eliminar a tipicidade material nos casos em que a conduta praticada pelo agente é irrelevante ou quando a conduta do agente não apresenta risco ou lesão ao bem jurídico. Procura-se interpretar tal causa excludente de tipicidade de forma objetiva, sem que as circunstâncias pessoais dos acusados possam interferir no livre convencimento motivado dos magistrados.
Bagatela Imprópria
Por outro lado, temos o famoso princípio da irrelevância penal do fato, também denominado bagatela imprópria, que procura extinguir a punibilidade de condutas que, apesar de apresentarem certa relevância penal, acabam por tornar desnecessária a aplicação da pena.
O fundamento do princípio da irrelevância penal do fato encontra-se no art. 59 do Código Penal, que põe mandamento legal para que o magistrado fixe a pena do acusado conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. Vejamos:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime
Possível concluir que, em determinadas circunstâncias, a fixação da pena para um delito será desnecessária. Por exemplo, a doutrina elenca o pagamento do tributo devido como forma de extinção da punibilidade nos crimes tributários e, também no peculato culposo, extingue-se a punibilidade se reparados os danos antes do trânsito em julgado do processo.

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