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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA MARCIO ALBUQUERQUE MOREIRA DA SILVA REDE DE SENSORES PARA APLICAÇÃO EM AGRICULTURA: UM ESTUDO DE CASO Porto Alegre 2009 MARCIO ALBUQUERQUE MOREIRA DA SILVA REDE DE SENSORES PARA APLICAÇÃO EM AGRICULTURA: UM ESTUDO DE CASO Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica. Área de concentração: Tecnologia de Informação e Comunicações ORIENTADOR: Prof. Dr. Luigi Carro Porto Alegre 2009 MARCIO ALBUQUERQUE MOREIRA DA SILVA REDE DE SENSORES PARA APLICAÇÃO EM AGRICULTURA: UM ESTUDO DE CASO Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora. Orientador: ____________________________________ Prof. Dr. Luigi Carro, UFRGS Doutor pela UFRGS – Porto Alegre, Brasil Banca Examinadora: Prof. Dr. Luciano Paschoal Gaspary, PPGC - UFRGS Doutor pela UFRGS – Porto Alegre, Brasil Prof. Dr. Altamiro Amadeu Susin, PPGEE - UFRGS Doutor pelo INPG - Grenoble, França Prof. Dr. Eric Ericson Fabris, DELET - UFRGS Doutor pela UFRGS – Porto Alegre, Brasil Coordenador do PPGEE: _______________________________ Prof. Dr. Arturo Suman Bretas Porto Alegre, Abril de 2009. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha mãe, Diane, pelo contínuo apoio e valorização da minha formação acadêmica, ao meu avô, Manoel, pelo modelo de pessoa que sempre foi em minha formação e à minha esposa, Patricia, pelo companheirismo. AGRADECIMENTOS À minha filha Bibiana que, mesmo tendo nascido durante a execução deste, permitiu a conclusão com sua tranqüilidade. Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, PPGEE, e seus professores pela oportunidade de realização do curso. Agradeço em especial ao meu orientador, prof. Luigi Carro, pelo apoio e direção dados durante todo o trabalho. Aos colegas da Falker Automação Agrícola, em especial ao meu sócio Alexandre e colega Felipe Pohren por auxiliarem na viabilização dos testes para este trabalho. RESUMO Este trabalho analisa as possibilidades de aplicação de redes de sensores sem-fio na agricultura, dentro do contexto da agricultura de precisão. É feita uma revisão bibliográfica genérica sobre redes de sensores sem-fio e específica sobre aplicação em agricultura. Oportunidades para aplicação real de redes de sensores neste ambiente são identificadas e caracterizadas. Uma investigação aprofundada do espaço de projeto de redes de sensores é apresentada. Com base em trabalhos publicados, é feita uma proposta de dimensões de espaço de projeto, como forma de caracterizar diferentes redes. Diversos trabalhos publicados são analisados através das dimensões propostas. Os requisitos para redes para uso agrícola são delineados e caracterizados nas dimensões de projeto. Em um segundo momento, a partir das dimensões propostas, é elaborado um modelo matemático para o funcionamento de redes de sensores. Este modelo permite explorar de forma rápida todas dimensões do espaço de projeto, verificando o impacto global na rede de decisões locais na implementação dos nós. Uma rede experimental foi implementada, sendo caracterizada segundo o modelo e posteriormente testada em condições próximas às reais de uso. Esta rede permitiu a obtenção de dados reais, auxiliou na identificação de oportunidade para uso em agricultura e contribuiu na analise de desempenho do modelo proposto. Palavras-chaves: redes de sensores sem-fio, agricultura de precisão, modelo matemático, espaço de projeto ABSTRACT This paper analyzes wireless sensor networks application possibilities in precision agriculture. A generic bibliographic review in the domain is done as well as a specific review about applications in agriculture. Real application opportunities in this domain were identified and characterized A deep investigation on wireless sensor networks design space is presented. A proposition of design space dimensions to characterize different networks is made based on published papers. Some previous works are analyzed using the proposed design dimensions. Requirements to the networks targeting agricultural use are delimited and characterized in these design dimensions. In a second moment a mathematical model to wireless sensor networks is proposed based on the design space dimensions. This model allows rapid design space exploration and also the verification of network impact of local node implementation decisions. A WSN was implemented and submitted to application tests. It was characterized according to the proposed model and also tested in conditions similar to the real ones. The experimental WSN allowed real data collection, helped to identified application opportunities in agriculture and contributed to analyze the behavior of the proposed model. Keywords: wireless sensor networks, precision agriculture, design space. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................12 1.1. CONTRIBUIÇÕES DESTE TRABALHO.......................................................................................13 1.2. APRESENTAÇÃO DO TEXTO...................................................................................................13 2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................14 2.1. ASPECTOS GERAIS..............................................................................................................14 2.1.1. Redes de Sensores Sem-fio.....................................................................................14 2.1.2. Taxonomia Básica...................................................................................................16 2.1.3. Aplicações em Agricultura.....................................................................................17 2.1.4. Trabalhos Atuais.....................................................................................................17 2.2. MÉTRICAS DE AVALIAÇÃO E ESPAÇO DE PROJETO................................................................18 2.3. ANÁLISE DE SOLUÇÕES CONHECIDAS...................................................................................21 2.3.1. Análise Numérica com Mote de Mercado.............................................................21 2.3.2. Análises de Soluções Publicadas............................................................................24 2.3.3. Outras Possibilidades..............................................................................................28 2.4. APLICAÇÃO NA AGRICULTURA.............................................................................................28 3. EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO DE PROJETO DE REDES DE SENSORES..............33 3.1. ANÁLISE DE ALTERNATIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO..................................................................33 3.2. ANÁLISE MATEMÁTICA.......................................................................................................36 3.2.1. Apresentação do Modelo Matemático...................................................................37 3.2.2. Exemplos de Potencial do Modelo Matemático....................................................45 4. DESCRIÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DE TESTES...................................................52 4.1. DESCRIÇÃO DE HARDWARE.................................................................................................52 4.2. DESCRIÇÃO DE SOFTWARE..................................................................................................535. ENSAIOS E RESULTADOS.............................................................................................57 5.1. CARACTERIZAÇÃO DO CONJUNTO DESENVOLVIDO.................................................................57 5.1.1. Testes de Consumo do Microcontrolador.............................................................57 5.1.2. Variação de Potência de Transmissão...................................................................59 5.1.3. Testes de Software e Roteamento..........................................................................63 5.1.4. Parâmetros para o Modelo Matemático...............................................................65 5.2. TESTES DE LONGA DURAÇÃO..............................................................................................66 5.3. ANÁLISE DE RESULTADOS...................................................................................................69 5.3.1. Limitações do Modelo Matemático.......................................................................72 6. CONCLUSÃO E POSSIBILIDADES FUTURAS...........................................................75 . APÊNDICE A: FIGURAS DA IMPLEMENTAÇÃO DE HARDWARE.......................79 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Mote TELOS, da Crossbow. Foto de (POLASTRE, 2004)..................................21 Figura 2 Diagrama com opções de implementação ............................................................35 Figura 3 Diagrama ilustrativo do consumo de um estado...................................................38 Figura 4 Diagrama de distribuição regular de nós em uma área hipotética.....................44 Figura 5 Número de nós necessários para compor a rede em função da distância entre nós para 3 tamanhos de áreas................................................................................................45 Figura 6 Autonomia da rede em dias em função da distância entre nós para 3 tamanhos de áreas....................................................................................................................................46 Figura 7 Autonomia da rede em dias em função da distância entre nós para 3 tamanhos de áreas com extrapolação da distância................................................................................47 Figura 8 Carga de roteamento em função da distância entre nós .....................................48 Figura 9 Potência total e componentes em função da distância entre nós.........................48 Figura 10 Participação dos elementos de potência na potência total em função da distância entre nós...................................................................................................................49 Figura 11 Autonomia da rede em função da distância entre nós para 3 diferentes períodos de amostragem e transmissão.................................................................................50 Figura 12 Autonomia da rede em função da distância entre nós para 3 diferentes períodos de amostragem e transmissão com extrapolação da distância............................50 Figura 13 Participação dos elementos de potência na potência total em função do período de amostragem..........................................................................................................51 Figura 14 Placa Montada de um Nó da Rede.......................................................................53 Figura 15 Capturas de telas do osciloscópio utilizadas para determinação do consumo do microcontrolador...............................................................................................................58 Figura 16 Possibilidades de orientação entre emissor e receptor.......................................60 Figura 17 Variação do alcance em função do consumo para algumas orientações..........62 Figura 18 Medição do consumo em 4 nós da rede demonstrando sincronismo nos estados ativos.........................................................................................................................................63 Figura 19 Medição do consumo em 4 nós da rede demonstrando troca de mensagens em um estado ativo........................................................................................................................64 Figura 20 Exemplo de configuração de testes de roteamento.............................................65 Figura 21 Nós protegidos no teste de longa duração...........................................................67 Figura 22 Disposição da rede no teste de longa duração.....................................................68 Figura 23 Variação da temperatura ambiente medida pelo nó 2 ao longo de uma semana ...................................................................................................................................................68 Figura 24 Previsão de autonomia em dias para a rede de testes para 3 períodos de comunicação: 30, 600 e 1800 segundos, em função da distância........................................70 Figura 25 Participação de diferentes elementos da potência na potência total em função da distância entre nós.............................................................................................................71 Figura 26 Parte central do esquemático eletrônico da placa..............................................79 Figura 27 Ilustração de uma das camadas do layout da placa. Dimensões em mm.........80 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Dimensões do Espaço de Projeto...........................................................................20 Tabela 2 Estimativas de consumo de mote Telos.................................................................23 Tabela 3 Estimativas de consumo de mote Telos com roteamento....................................24 Tabela 4 Dados de Projetos Publicados................................................................................26 Tabela 5 Requisitos para uso em agricultura.......................................................................31 Tabela 6 Dimensões de projeto x tipo de definição..............................................................33 Tabela 7 Resultados de testes de consumo do microcontrolador.......................................58 Tabela 8 Resultados de testes de consumo do CI de Rádio.................................................61 Tabela 9 Variação de Alcance em função da potência de transmissão..............................61 LISTA DE ABREVIATURAS CI: Circuito Integrado DCO: Digitally Controlled Oscilator, Oscilador controlado digitalmente GPS: Global Positioning System, Sistema de posicionamento global ISO: International Organization for Standardization, Organização Internacional para Padronização OSI: Open Systems Interconnection, Interconexão de sistemas abertos TIMAC: Texas Instruments Medium Access Control WSN: Wireless Sensor Network, Redes de sensores sem-fio 12 1 INTRODUÇÃO Os avanços da produtividade na agricultura brasileira e mundial nas últimas décadas têm sido obtidos com uso de muita tecnologia, em função de avanços agronômicos e da biotecnologia. Mas, nos últimos anos, tem contribuído para o incremento de produtividade o aumento do uso de tecnologia eletrônica, dentro do contexto chamado de agricultura de precisão, que tem por base o tratamento diferenciado de cada porção das lavouras de acordo com as suas necessidades e características específicas. A agricultura de precisão só é possível em larga escala com o uso do GPS (Global Positioning System – Sistema de posicionamento global) para posicionamento e localização exata de cada parte da lavoura, associado a métodos de coleta de dados e aplicação de insumos com controle eletrônico. Atualmente, os instrumentos usados para coleta de dados não permanecem nas lavouras. As informações são colhidas esporadicamente, quando é feita uma operação específica de amostragem. A quantidade de informação disponível é pequena, correspondendoàs vezes que se foi a campo coletá-las. O que de fato ocorre na lavoura nos grandes intervalos de tempo entre as amostras não pode ser determinado. Uma necessidade cada vez maior de informação no contexto da agricultura de precisão torna atrativa a possibilidade de dispor de dados da lavoura de forma contínua, através de sensores que permaneçam em campo. Dados como umidade, temperatura, níveis de alguns elementos químicos, monitores de pragas e outros, se disponíveis continuamente, poderiam abrir novas portas para a agricultura de precisão, que hoje completa seus ciclos com dados anuais ou sazonais, correspondentes às safras. As informações colhidas por sensores em campo devem estar disponíveis para os tomadores de decisão de forma prática, econômica e eficiente. Pelos ciclos agronômicos e biológicos possuírem tempos relativamente longos, se comparados com sistemas eletrônicos ou aplicações como automação industrial, não é necessário que as informações estejam disponíveis em tempo-real. No entanto, para algumas aplicações, como sistemas de irrigação, esta característica poderia ser conveniente. Este trabalho é focado na infraestrutura de rede necessária para fazer com que os dados dos sensores em campo sejam coletados e disponibilizados para o agrônomo responsável pela lavoura. Os sensores em si não são foco do trabalho, pois considera-se que são de tecnologia já disponível ou adaptação de tecnologia já disponível para outras 13 aplicações. A infraestrutura, ao contrário, possui requisitos e características que a diferenciam de outras aplicações. 1.1 CONTRIBUIÇÕES DESTE TRABALHO A primeira contribuição deste trabalho é analisar a aplicação de redes de sensores em agricultura, apresentando requisitos de forma mensurável. A contribuição principal foi o desenvolvimento de um modelo matemático que permite explorar o espaço de projeto das redes de sensores. Foi também implementada uma rede de sensores para testes, que permitiu a obtenção de dados experimentais, que é outra contribuição deste trabalho. 1.2 APRESENTAÇÃO DO TEXTO Na parte inicial deste trabalho é apresentada uma pesquisa bibliográfica da base de redes de sensores e aplicações já relatadas em agricultura. Determinam-se dimensões de espaço de projeto para redes de sensores, fazendo-se em seguida uma análise de soluções já conhecidas através destas dimensões. No capítulo 3 é feita uma exploração do espaço de projeto de redes de sensores. O modelo matemático é apresentado no capítulo 3.2. A implementação de testes é apresentada no capítulo 4. Os testes e a comparação entre dados reais e calculados são apresentados no capítulo 5. 14 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ASPECTOS GERAIS 2.1.1 Redes de Sensores Sem-fio As redes de sensores sem-fio, chamadas na bibliografia internacional comumente como Wireless Sensor Networks (WSN), são compostas por dispositivos com capacidade para coleta de informações por sensores embarcados, com capacidade limitada de processamento, e possibilidade de armazenamento e transmissão de dados. Os dispositivos são posicionados junto ao ambiente que devem monitorar, captando diretamente as informações. Cada dispositivo que constitui um nó da rede é denominado na bibliografia internacional de “Mote”. Um conjunto de sensores pode monitorar um fenômeno físico de interesse de forma eficiente, econômica e confiável. Pela rede, as informações são transmitidas de forma contínua ou em períodos pré-determinados. (TILAK, 2002; POTTIE, 2000) As redes de sensores constituem uma nova classe computacional, o que confirmaria a lei de Bel, que aponta o surgimento periódico de novas classes. Esta classificação ocorre pois as redes possuem transferência continua de dados com o mundo físico e exigem paradigmas de programação específicos, prevendo processamento distribuído e limitações de consumo. (POLASTRE, 2004) As aplicações possíveis são muitas, existindo trabalhos que citam o uso de WSN da medicina até a automação industrial. Por suas características, as redes de sensores sem-fio são interessantes para utilização onde se deseja monitoração constante de variáveis físicas, de forma autônoma, e com pouco interferência no meio monitorado. Assim sendo, monitoração de ambientes, para fins climáticos, científicos e ecológicos está entre as principais aplicações divulgadas. Aplicações militares, como forma de monitorar áreas de combate ou perigo estão também entre as primeiras possibilidades estudadas. Aplicações em engenharia também são possíveis, como monitorar estruturas de grandes obras civis ou em automação industrial, como forma de reduzir custos com a conexão de sensores. (CLAUBERG, 2004; TILAK, 2002; RÖMER, 2004; POTTIE, 2000; POLASTRE, 2004) 15 Aplicações em agricultura são uma das possibilidades imaginadas, sendo uma derivação das aplicações para monitoração ambiental. As redes de sensores existentes são, em sua imensa maioria, específicas para as aplicações a que se destinam (ad hoc), pois a relação íntima com o fenômeno e/ou ambiente monitorado impõem uma série de requisitos específicos. No projeto das redes de sensores, diversos aspectos devem ser considerados. Todas as questões que fazem parte do projetos de redes de comunicação, desde o meio físico de troca de mensagens até o nível de aplicação devem existir. Aspectos de todas as camadas intermediárias do modelo OSI (Open Systems Interconnection) definido pela ISO (International Organization for Standardization) devem ser considerados no projeto. Em relação aos projetos tradicionais, existe restrição de recursos computacionais e energéticos nos nós da rede. Pontos corriqueiros em redes, como colisões, retransmissões e observação do meio físico devem ser limitados. Existe na bibliografia (KARL, 2007) relato de diversas possibilidades de implementação para cada uma das camadas de comunicação para redes de sensores. De forma geral, a operação básica das redes de sensores consiste em realizar a coleta, armazenamento e envio de dados em períodos cíclicos, ficando o menor tempo possível a realizar estas operações. Entre um conjunto de operações e outro, os nós da rede passam a um estado de espera com baixo consumo de energia. Tipicamente, este estado de espera corresponde a mais de 99% do tempo de operação, sendo todo o projeto da rede feito para que as funções de maior demanda sejam feitas de forma mais rápida possível, para que cada nó possa retornar o quanto antes para o estado de baixo consumo. Por esta lógica, busca-se a máxima autonomia das redes. Existem relatos de mais de 40 arquiteturas diferentes para o hardware dos motes da rede (YANG, 2006). Apesar das diferenças de construção e aplicação alvo, a imensa maioria é composta por quatro elementos básicos: • Um microcontrolador • Um conjunto de sensores • Uma solução para transmissão e recepção de comunicação por rádio • Memória não-volátil Em torno das escolhas para estes quatro elementos existem diversas opções de projeto discutidas em capítulos seguintes. 16 2.1.2 Taxonomia Básica Por ser um campo de pesquisa novo, a taxonomia usada não é padronizada entre os trabalhos publicados. Apesar de monitorarem muitos casos específicos que contém muitas particularidades, as redes de sensores possuem uma série de conceitos em comum. Alguns trabalhos já tratam de organizar este conceitos, fato importante para uma comparação científica entre redes. Tilak et al. (2002) tratam de organizar alguns pontos fundamentais, definindo uma taxonomia básica. Os sistemas são constituídos por 3 elementos: sensores, observador e fenômeno. O sensor é o dispositivo que monitora, sendo um nó da rede e incluindo não apenas o elemento sensor mas o conjunto eletrônico como umtodo. O observador é o usuário final da informação coletada. Por fim, o fenômeno é a entidade na qual o observador tem interesse e está sendo monitorada. Neste trabalho, o “sensor”, como definido na referência, é também referido como nó da rede ou mote. O dispositivo através do qual o usuário observador monitora a rede não é definido de forma específica na referência. Em trabalhos publicados normalmente existem dispositivos na rede que concentram dados ou dão acesso aos dados da rede. Estes concentradores ou gateways podem em alguns casos se confundir com o próprio usuário observador. A arquitetura da rede de sensores pode ser dividida em três níveis: infraestrutura, protocolo da rede e aplicação. A infraestrutura são os sensores em si e sua estratégia de utilização. O protocolo de rede é responsável por construir os caminhos entre sensores e observador. Já a aplicação reflete o interesse do observador, que pode ser traduzido em requisições de informação, por exemplo. As redes também podem ter diferentes estratégias de entrega dos dados para o observador. A entrega pode ser contínua, quando os dados sempre são enviados em intervalos de tempo definidos, ocorrer como resposta a determinado evento (event-driven), ser solicitada pelo observador ou, por fim, ser híbrida. A dinâmica da rede pode ser analisada, existindo as redes totalmente estáticas, onde nenhum elemento se move, e as dinâmicas. O elemento que se move pode ser qualquer um dos três básicos (sensores, observador e fenômeno). Exemplos de redes com fenômeno móvel são a monitoração de eventos climáticos como tornados ou deslocamento de manchas de óleo 17 em águas. Observador móvel ocorre, por exemplo, quando um avião coleta dados de sensores no campo. Esta taxonomia básica proposta por Tilak et al. possui limitações, mas desde sua publicação em 2002 já foi citada em mais de 400 trabalhos e não foi proposta nenhuma mais completa. Não é uma taxonomia completa como existente em assuntos correlatos (DOEBLING, 2003), porém, para os objetivos deste trabalho, considera-se que a taxonomia básica atende às necessidades. 2.1.3 Aplicações em Agricultura Apesar de ser uma possível aplicação citada em diversos trabalhos (CLAUBERG, 2004; RÖMER, 2004; RAMANATHAN, 2006), poucos casos específicos sobre o uso real de redes de sensores em agricultura existem. Dois trabalhos citam uso real de redes de sensores em campo, para atividades ligadas à agricultura. Burrel et al. (2004) fala da aplicação para monitoração de vinhedos. Baggio (2005) mostra a aplicação em plantação de batatas, para monitorar possibilidade de desenvolvimento de fungos, através de variáveis como umidade e temperatura. Outros trabalhos como (CAMILLI, 2007) abordam o uso de redes de sensores em agricultura por simulação ou do ponto de vista conceitual, sem informações da aplicação prática. No entanto, como Szewczyk et al. mostram em (SZEWCZYK, 2004), pela íntima relação que existe entre as redes de sensores e o ambiente, muitos fatores não podem ser preditos teoricamente ou por simulações. 2.1.4 Trabalhos Atuais O tema de redes de sensores teve grande aumento do número de pesquisas nos últimos anos. Diversas frentes de investigação foram abertas, incluindo desde a análise de elementos da rede, protocolos de comunicação, possibilidades de aplicação, topologias de redes, dimensionamentos teóricos, sistemas operacionais e programação da aplicação. Rápida pesquisa em ferramentas como Google por termos como “wireless sensor networks” mostra centenas de milhares de trabalhos publicados. A forma de acesso aos dados também está sendo estudada. Enquanto muitas das aplicações ainda prevêem a rede de sensor como uma forma de coletar dados, agrupando-os em local externo à rede, alguns trabalhos (COMAN, 2004) propõem ver a rede como um 18 banco de dados. Os dados coletados ficariam nos sensores e havendo um interesse do observador este faz uma consulta à rede. No entanto, ainda são poucos os trabalhos que apresentam dados reais, como (BAGGIO, 2005; SZEWCZYK, 2004; BURREL, 2004) . Szewczyk et al (2004) indica que as experiências práticas em campo apontam questões não totalmente previstas teoricamente e de importância fundamental para o funcionamento de redes, como falhas de hardware e detalhes de comportamento do software. Outros trabalhos como (WANG, 2006; BAGGIO, 2005; CAMILLI, 2007) apontam para a necessidade de mais experiências práticas com redes de sensores, para verificação das previsões. Em palestras e eventos, pesquisadores da área apontam diferentes motivos para a não disseminação da tecnologia em larga escala, apesar de todos avanços já feitos. Entre os principais estariam a falta de padrões para avaliação da qualidade de serviço e falta de segurança nas redes. Estes podem ser aspectos críticos em algumas aplicações, para as quais existem requisitos de qualidade estabelecidos, como automação industrial, mas não justifica a não-disseminação em diversas outras áreas, como na agricultura. Com este grande desequilíbrio entre número de trabalhos científicos e quantidade de aplicações práticas, testes reais e em mais aplicações são uma contribuição importante para viabilizar a disseminação das redes de sensores ou auxiliar a identificar os fatores limitantes para aplicações práticas. 2.2 Métricas de Avaliação e Espaço de Projeto A análise do desempenho e projeto de redes de sensores depende de métricas de avaliação. Diferentes trabalhos utilizam diferentes métricas, muitas vezes relacionadas a aplicações específicas de redes analisadas. Dois trabalhos (TILAK, 2002; RÖMER, 2004) mostram diferentes abordagens para a análise comparativa de redes com características diferentes. Tilak et al. com o objetivo de criar uma taxonomia para redes de sensores, definem cinco métricas de performance. Já Römer determina todas possíveis dimensões do projeto das redes de sensores, não diferenciando o que são critérios de avaliação, deixando esta avaliação dependente da aplicação. Para Tilak et al, são métricas de performance: • Eficiência energética, evidenciada pela vida útil do sistema ou autonomia, se fonte de energia puder ser trocada. 19 • Latência, que determina o atraso para o observador ter a informação sobre o fenômeno físico. • Acurácia da informação fornecida ao observador em relação a situação física real. • Tolerância a falhas para manter o funcionamento mesmo com problemas localizados. • Escalabilidade para permitir aplicação em larga escala. Römer e Mattern propõem a análise de 11 dimensões de projeto das redes de sensores e para muitas delas propõem uma classificação. Algumas das dimensões coincidem com métricas de avaliação propostas no trabalho de Tilak et al. A análise de todas as possibilidades existentes nos projetos de redes de sensores como dimensões de projeto é uma abordagem mais genérica e será usada neste trabalho. Não são definidas previamente quais das dimensões serão métricas de avaliação de desempenho. Agrupando as dimensões propostas pelos dois artigos citados nesta seção, serão consideradas 12 dimensões, descritas na tabela 1. Definições em uma das dimensões muitas vezes ocasionarão restrições em outras. 20 Tabela 1 Dimensões do Espaço de Projeto Dimensão Descrição Eficiência Energética Eficiência com que a rede utiliza a energia, podendo ser medida, por exemplo, em operações executadas ou bytes transmitidos por unidade de energia. Depende do projeto de hardware dos nós da rede. Recursos Dimensão abrangente que indica quantidade de recursos utilizados na rede, mais especificamente em cada nó. Engloba dimensõesde projeto intimamente relacionadas e interdependentes como custo, memória, tamanho e energia disponível. Esta dimensão pode ser resumida pela indicação do tamanho total de cada, simplificando a disponibilidade dos demais recursos, pelo que é viável no tamanho. Usam palavras-chave para o tamanho, como “tijolo”, “caixa-de-fósforo”, “moeda”, “grãos” e “poeira”. Latência de Comunicação (Conectividade da Rede ou Taxa de Comunicação) Reflete as escolhas do projeto sobre a estratégia para levar dados do fenômeno para o observador, indicando o tempo entre a ocorrência do fenômeno e os dados estarem disponíveis ao observador. Freqüência de Aquisição Indica a taxa com que dados serão coletados sobre o fenômeno. Quanto maior a taxa, maior a representatividade dos dados. Dinâmica dos Elementos da Rede São decisões conceituais para melhor cobrir o fenômeno de interesse. Os elementos podem ser móveis ou estáticos, os deslocamentos podem ser ocasionais ou contínuos. Modelo de Comunicação Definições sobre como será feita a comunicação, incluindo modalidade de transferência de dados, infraestrutura e topologia da rede. Distribuição do processamento A estratégia de processamento que será adotada, indicando onde na rede será feita e com qual distribuição entre os elementos da rede. Tamanho da Rede Número de nós na rede e número máximo possível, indicando a escalabilidade da solução. Densidade da Rede Indica a concentração de nós por espaço físico. Relacionada com outros fatores, como acurácia na cobertura do fenômeno observado e no consumo de energia nas comunicações. Heterogeneidade Definição se a rede será composta apenas por um tipo de nó ou se terá componentes com funções diferentes. A diferença pode estar em nós com capacidades especiais de aquisição, com diferentes tipos e sensores ou na função na rede, tendo, por exemplo, nós especiais para roteamento ou concentradores de informação Utilização/Posiciona- mento Característica do posicionamento dos elementos da rede, que pode ser aleatória ou pré-determinada, fruto de planejamento. Autonomia Duração útil do sistema, considerado o suprimento de energia. Tempo após o qual é necessário intervenção do usuário, normalmente para substituir baterias. É, normalmente uma dimensão cujo valor é resultado das definições feitas nas demais. 20 21 2.3 Análise de Soluções Conhecidas A literatura possui dados sobre soluções já projetadas e algumas já testadas. A empresa americana Crossbow (www.xbow.com) possui inclusive algumas soluções disponíveis comercialmente, baseadas em resultados de projetos acadêmicos. Os dispositivos projetados para serem nós de redes de sensores, pequenos circuitos microcontrolados, de baixo consumo, com comunicação por rádio e equipados de sensores ficaram conhecidos como “motes”. Antes de analisar os requisitos para aplicação em agricultura, neste capítulo é feita uma análise sobre as soluções já existentes. Inicialmente são mostradas estimativas considerando dados disponíveis das soluções comerciais existentes. Na segunda parte deste capítulo, são analisadas informações sobre os projetos já publicados. 2.3.1 Análise Numérica com Mote de Mercado Os requisitos para aplicações em agricultura são discutidos no próximo capítulo, mas, nesta análise alguns aspectos já são considerados, principalmente relativos ao consumo de energia. Entre os modelos comerciais, o mote Telos, da Crossbow está entre as alternativas mais difundidas, novas e apresentando baixo consumo. Este projeto foi originado em trabalho da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) (POLASTRE, 2004), um dos principais centros de pesquisa no assunto. Pela quantidade de informações encontradas na bibliografia, esta arquitetura foi escolhida como referência para estudo inicial. Figura 1 Mote TELOS, da Crossbow. Foto de (POLASTRE, 2004) Este mote apresenta um processador da Texas Instruments da família MSP430. É um processador de 16 bits de baixo consumo (TEXAS INSTRUMENTS, 2006a). Uma rede com este dispositivo, em termos de recursos, poderia ser caracterizada como “caixa de fósforo”, 21 22 conforme proposto por (RÖMER, 2004). Dados do fabricante indicam alcance de comunicação na faixa de 100 m quando utilizado a céu aberto, com taxa de transmissão de 250 kbps. Pelos dados de baixo consumo, este modelo foi escolhido para uma análise numérica preliminar de viabilidade de utilização em agricultura ou ao menos servir como referência de solução a ser buscada em trabalho futuro. Esta análise foi feita em momentos iniciais do trabalho e forneceu informações que encorajaram a sua continuidade. Para esta análise preliminar, as seguintes hipóteses foram formuladas e consideradas: • O mote fará aquisição de dados a cada meia hora, taxa suficiente pois as variáveis ambientais em agricultura possuem variação lenta. • A cada hora, o mote juntará dados de dois conjuntos de aquisições e transmitirá um pacote de dados de 1 kb. • A quantidade de dados recebidos de outros elementos da rede que sejam de seu interesse para o mote é equivalente a quantidade de dados transmitidos por ele. • Cada nó guarda os dados em memória local até o momento da transmissão. • O mote será alimentado com pilhas com capacidade de 2200 mAH (referência pilhas alcalinas tamanho AA). • O elemento concentrador de dados está na faixa de alcance da transmissão do mote. • O consumo do circuito analógico hipotético para aquisição de dados, incluindo alimentação do sensor, é de 10 mA. • O consumo do mote é o publicado pelo fabricante e por pesquisas feitas com o mesmo (POLASTRE, 2004; CROSSBOW, 2006). Nestas condições, a tabela 2 apresenta os dados de tempo gasto em cada elemento e/ou estado do mote e o respectivo consumo. A análise feita também considera fatores indicados por trabalhos mais completos sobre simulações de consumo de motes, como (SHNAYDER, 2004). 23 Tabela 2 Estimativas de consumo de mote Telos Situação Transmissão Recepção Aquisição Escrita em memória Em dormência Transição para estado ativo Consumo 24 mA 2 mA 10 mA 7 mA 0,005 mA 1,8 mA Tempo (em s por dia) 1,5 1,5 96,0 24,0 86252,9 24,0 Percentual do tempo total 0,002% 0,002% 0,11% 0,03% 99,83% 0,03% Percentual do consumo total 2,24% 0,19% 58,45% 10,23% 26,26% 2,63% Com o conjunto de hipóteses apresentadas, este mote teria duração de 13,2 anos, possivelmente superior à duração da pilha proposta por descarga parasita. Este tempo é bom para os requisitos de agricultura de longa duração do sistema. Por estes dados, observa-se que o sistema passará 99,83% do tempo em estado de dormência, de baixíssimo consumo, pelas baixas taxas de aquisição supostas. Apesar do conjunto das atividades em ativo representar menos de 0,2% do tempo, elas correspondem a quase 75% do consumo de energia. Das hipóteses apresentadas, apenas uma possivelmente está fora da realidade do ambiente em agricultura, que é o concentrador estar ao alcance de todos os nós, pois, ou se permitiria a cobertura de uma área pequena para os objetivos, ou se exigiria um número muito grande de concentradores. Por isto, uma segunda análise foi feita, na qual elementos da rede também atuariam como concentradores e retransmissores de dados. A duração do sistema seria dada pela duração da bateria do nó com maior carga de roteamento. Foi estimada que a maior carga em uma distribuição aproximadamente uniforme dos sensores seria de um nó ter que rotear os dados de outros 50. Esta é uma hipótese, a ser validada em trabalho futuro e com base nos requisitos apresentados nos próximos capítulos, mas serve como base para analisar o impacto da carga de roteamento no consumo dos nós. Assumindo que esta carga afete apenas o tempo de transmissão e não os outros fatores, nova análise foi feita e é mostrada na tabela 3. 24 Tabela 3 Estimativasde consumo de mote Telos com roteamento Situação Transmissão Recepção Aquisição Escrita em memória Em dormência Transição para estado ativo Consumo 24 mA 2 mA 10 mA 7 mA 0,005 mA 1,8 mA Tempo (em s por dia) 76,8 76,8 96,0 24,0 86102,4 24,0 Percentual do tempo total 0,09% 0,09% 0,11% 0,03% 99,65% 0,03% Percentual do consumo total 51,22% 4,27% 26,68% 4,67% 11,96% 1,20% Nestas condições, o consumo médio do sistema sobe e a duração esperada com a mesma carga de bateria é reduzida substancialmente para 6 anos. A comparação entre os casos mostra que a carga de roteamento imposta a cada nó da rede é de grande impacto para o seu consumo total. Possivelmente, em uma rede existirá carga de roteamento, não sendo realista uma situação como proposta no primeiro caso em que a transmissão de dados tinha um peso muito pequeno sobre o conjunto do consumo. Por outro lado, o segundo caso mostra que um simples roteamento, apenas aumentando a carga de dados a serem transmitidos, de forma bruta, pode representar uma carga grande, reduzindo em muito a vida útil do sistema. Observa-se também que, independente da carga de comunicação imposta, o consumo do circuito analógico ligado diretamente à aquisição dos dados pode ter um impacto grande sobre o consumo total. Por fim, esta análise, mesmo que preliminar, indica que uma solução baseada em circuitos como os disponíveis comercialmente no mercado pode atender alguns dos requisitos principais para uso em agricultura ou, ao menos, servirem de base para uma solução especial, caso alguma das necessidade mostradas no próximo capítulo não possa ser totalmente atendida. 2.3.2 Análises de Soluções Publicadas Diferentes trabalhos publicados apresentam redes de sensores projetadas ou implantadas com diferentes características para diferentes aplicações.. Em (RÖMER, 2004) é feita uma análise de diversas soluções publicadas, de onde foram obtidos dados de diferentes projetos. Neste mesmo artigo existe uma breve descrição de cada aplicação. 25 Com o objetivo de posteriormente comparar estas soluções com os requisitos necessários em agricultura, diversos trabalhos publicados foram caracterizados em função das dimensões de projeto definidas anteriormente. Esta caracterização é apresentada na Tabela 4. Para algumas das dimensões propostas, não existe informação para todos os projetos apresentados e estas foram omitidas da tabela. Estas dimensões podem ser determinadas e comparadas entre projetos feitos, mas não podem ser inferidas se os dados relativos não forem disponibilizados pelos autores dos trabalhos. Tabela 4 Dados de Projetos Publicados Dimensão Recursos Latência de Co- municação Dinâmica dos Elementos da Rede Modelo de Co- municação Tamanho da Rede Densidade da Rede Heterogeneidade Utilização/ Posi- cionamento Tempo de vida- útil Great Duck Caixa de fósforo, USD 200 cada Contínua Estática Por rádio, com estações base e gateways, topologia em estrela Até centenas, média 100 Densa, em cada toca Heterogênea com vários elementos Manual uma única vez 7 meses ZebraNet Caixa de fósforo Alta, comunicação esporádica Todos elementos móveis, passivos Por rádio, com estações base e GPS topologia em grafo Dezenas a centenas Densa, em cada animal Nós e gateways Manual uma única vez 1 ano Glacier Tijolo Contínua Todos elementos móveis, passivos Por rádio, com estações base, GPS e GSM topologia em estrela Dezenas a centenas (9 utilizados) Esparsa Nós e estação base Manual uma única vez Vários meses Herding Tijolo, USD 1000 cada Intermitente Todos elementos móveis, passivos Por rádio, com estações base e GPS topologia em grafo Até centenas, 10 utilizados Densa, em cada vaca Homogênea Manual uma única vez Dias a semanas Bathymetry Tijolo Contínua Todos elementos ocasionalmente móveis, passivos Por rádio, com GPS topologia em grafo Até centenas, 6 utilizados, 50 planejados Esparsa a cada 500m Homogênea Manual uma única vez Vários meses Ocean Tijolo, USD 15000 cada Intermitente Todos elementos ocasionalmente móveis, passivos Por rádio, com satélite topologia em estrela 1300 utilizados, 3000 planejados Esparsa Homogênea Aleatório, iterativo 4 a 5 anos Grape Caixa de fósforo, USD 200 cada Contínua Estática Por rádio, com estações base topologia em árvore Até centenas, 65 utilizados A cada 20 m Sensores, gateways e estação base Manual uma única vez Vários meses Cold Chain Alguns elementos caixa de fósforo e outros tijolo Intermitente Sensores ocasio- nalmente móveis, passivos Por rádio, com repetidores topologia em árvore Até centenas, 55 utilizados Esparsa Heterogênea com vários elementos Manual iterativo Anos Avalanche Caixa de fósforo Contínua Todos elementos móveis, passivos Por rádio, com PDA topologia em estrela Dezenas a centenas Densa Homogênea Manual uma única vez Dias Dimensão Recursos Latência de Co- municação Dinâmica dos Elementos da Rede Modelo de Co- municação Tamanho da Rede Densidade da Rede Heterogeneidade Utilização/ Posi- cionamento Tempo de vida- útil Vital Sign Caixa de fósforo Contínua Todos elementos móveis, passivos Por rádio e infra- vermelho, HW dedicado Dezenas Densa Heterogênea com vários elementos Manual Dias a meses Power Caixa de fósforo alimentada pela rede elétrica Contínua Estática Por rádio, unidirecional comunicação em camadas Dezenas a centenas Esparsa Heterogênea com vários elementos Manual iterativo Anos Assembly Caixa de fósforo, EUR 100 cada. Contínua Todos elementos ocasionalmente móveis, passivos Por rádio, HW dedicado, topologia em estrela Dezenas a centenas Esparsa Diferentes sensores Manual uma única vez Horas Tracking Caixa de fósforo, USD 200 cada Intermitente Todos elementos ocasionalmente móveis, passivos Por rádio, topologia em grafo Dezenas a milhares, 5 utilizados Esparsa Homogênea Aleatório Semanas a anos Mines Tijolo Contínua Todos elementos ocasionalmente móveis, ativos Por rádio, ultra- som, HW dedica- do, topologia em grafo Até centenas, 20 utilizados Densa Homogênea Manual Meses a anos Sniper Caixa de fósforo, com FPGA, USD 200 cada Contínua Estática Por rádio, HW dedicado, topolo- gia em grafo Até centenas, 60 utilizados Densa e redundante Homogênea Manual Meses a anos 28 2.3.3 Outras Possibilidades Outras informações disponíveis de forma esparsa na bibliografia permitem especular sobre outras formas de redes de sensores, principalmente com nós de tamanhos reduzidos. As chamadas redes com nós moeda (“coin”) e poeira (“dust”) seriam caminhos para elementos pequenos e imperceptíveis, respectivamente. Para elementos do tamanho de moedas, a eletrônica não possuiria diferenças consideráveis em relação a solução do tipo caixa de fósforo, analisada na primeira seção deste capítulo. No entanto o armazenamento de energia seria bastante comprometido, pois as baterias compatíveis com o tamanho possuem aproximadamente um sexto da capacidade das pilhas consideradas na análise anterior. Portanto, sem ganhos no consumo e com redução de energia, o tempo de duração seria diretamente afetado. Já uma aplicação do tipo poeira dependeria da utilização de tecnologia de microeletrônica, existente, porém não disponível de forma padrão no mercado. Sensores e circuito teriam de ser um sistema único, projetado com finalidade específica. O maior desafio, neste caso, parece ser a fonte de energia. A bibliografia propõem como possibilidade a obtenção de energia do próprio meio, seja energia solar, de vibração, calor ou qualquer outra forma que possa ser aproveitada (RAGHUNATHAN, 2005, SHNAYDER,2004). Estas possibilidades são tema de diversas pesquisas, mas, por ainda não estarem facilmente disponíveis, não serão consideradasno restante deste trabalho. 2.4 Aplicação na Agricultura A aplicação de redes de sensores sem-fio em agricultura pode permitir a aquisição de dados de forma contínua no campo, estando disponíveis ao usuário para a tomada de decisões. O tipo de dados a ser coletado, os sensores a serem usados e a forma de utilização dos resultados podem ser vários no uso em agricultura. Mas na infraestrutura da rede, algumas características comuns são necessárias. Neste capítulo, algumas necessidades impostas pelo ambiente de aplicação são discutidas e, ao final, organizadas em função das dimensões de projeto apresentadas nos capítulos anteriores. Os ciclos agrícolas dependem das safras, sendo em muitas regiões do país apenas uma por ano. Isto determina que o tempo de duração de um sistema baseado em redes de 29 sensores deve ter duração compatível com os longos ciclos. Quanto maior o número de safras em que for possível usar uma mesma rede, mais fácil será a amortização do investimento. A duração deve ser de alguns anos, para que o tempo de duração do sistema não seja fator preponderante na definição da utilização do sistema. A construção dos elementos sensores deve ser robusta, para permitir sua operação mesmo expostos ao tempo, em contato com a terra e umidade. O projeto deve usar soluções tecnologicamente atuais, para permitir futura miniaturização ou usufruir de avanços que se tornem disponíveis. No cenário agrícola brasileiro, por informações de empresas atuantes no mercado, o tamanho das áreas que utilizam tecnologia de ponta, em agricultura de precisão, varia de pouco mais de 100 ha até mais de 10000 ha (1 km2 a até mais de 100 km2). Nos trabalhos de coletas de dados em campo, feitos de forma manual, são feitas amostragens desde a cada 0,25 ha a até uma a cada mais de 5 ha, dependendo do tamanho e características da área. Dentro destas áreas, são feitas mais amostras, para compor uma média, chamadas de subamostras. Isto significa que, em termos de distâncias lineares, são coletados dados aproximadamente a cada 10 a 300 m. É necessário que uma rede de sensores permita distâncias de coleta de dados similares. Para as safras agrícolas de 2006/2007 e 2007/2008, prestadores de serviço de agricultura de precisão, cobraram, nas diferentes regiões agrícolas do país, de R$ 10 a R$ 40 por hectare pela coleta de dados geo-referenciada. O valor do serviço inclui a análise das amostras em laboratórios e mapas com os resultados. Estes valores foram obtidos em contatos diretos com empresas do setor. A rede de sensores pode coletar parte dos dados coletados manualmente. Considerando o cobertura de cada nó como 1 ha, duração de 5 anos e comparando as operações que podem ser feitas pela rede, para ser economicamente competitiva com os serviços prestados, cada nó deve ter preço de mercado inferior a R$ 100. Assim sendo, deseja-se que o custo de materiais de cada nó seja em torno de R$ 20. Este custo, considerando os elementos básicos dos nós mostrados em 2.1.1 e soluções apresentadas na bibliografia é difícil de ser atingido. No entanto, considerando-se a cobertura de cada nó como sendo de 3 a 5 ha, dentro da faixa de trabalho de aplicações de agricultura de precisão, é viável ter-se o preço para o produtor por hectare na faixa de R$ 100, isto é, custo de materiais na faixa de R$ 60 a R$ 100. Se o produtor desejar maior resolução na amostragem, terá de provavelmente desembolsar mais. 30 Dependendo da aplicação e do tipo de dado sendo coletado, o período de interesse para a amostragem deve variar. É interessante que este tempo possa ser ajustado conforme a aplicação. Fenômenos agronômicos são bastante lentos quando comparados a grandezas de tempo da eletrônica. Intervalos mínimos da ordem de um minuto são suficientes para taxas de aquisições consideradas bastante altas. Já taxas baixas de aquisições podem ser da ordem de uma por dia. Os dados coletados pelos sensores devem estar disponíveis para análise em uma estação central ou sede. Estes dados serão usados em momentos específicos, de tomada de decisão. A concentração dos dados pode ocorrer em momentos específicos, associada a operações agrícolas já executadas. É importante que a coleta de dados dos sensores não represente operação de manejo extra, para não incrementar os custos de produção. Por fim, a instalação da rede deve ser simples, pois a maioria dos trabalhadores do meio rural tem pouco ou nenhum conhecimento de informática e eletrônica. Configurações devem ser evitadas e quando presentes devem ser o mais simples possível. Para as aplicações em agricultura de precisão, é importante que os dados coletados possuam uma correspondência espacial. Portanto, de alguma forma, deve existir correlação entre os dados provenientes de um sensor e uma localização. Uma forma possível é predeterminando a posição de cada nó. Estas características desejadas, são resumidas em função das dimensões de projeto na Tabela 5. 31 Tabela 5 Requisitos para uso em agricultura Dimensão Descrição Eficiência Energética Deve ser suficientemente eficiente para permitir os tempos de vida- útil desejados. Recursos A maior limitação será de custo, que deve ficar abaixo de R$ 100,00 em materiais por nó. Não existem restrições significativas para o tamanho. Latência de Comunicação (Conectividade da Rede ou Taxa de Comunicação) A comunicação contínua, em tempo-real, é desejada, mas não é uma necessidade absoluta. Coletas de dados em intervalos maiores, associadas às operações da lavoura são aceitáveis. Freqüência de Aquisição Deve ser possível variar conforme aplicação, indo de uma aquisição por minuto a uma por dia. Dinâmica dos Elementos da Rede Não há restrições, podem ser todos estáticos ou podem haver elementos móveis se facilitar o projeto. Modelo de Comunicação Deve permitir a comunicação nas distâncias estabelecidas. A configuração da rede e o modelo de comunicação não são limitados pela aplicação. Distribuição do processamento Não é determinada pelo ambiente de aplicação. Tamanho da Rede Para permitir a aplicação em áreas grandes que utilizam agricultura de precisão com densidades médias, é necessário que a rede comporte pelo menos 1000 sensores. Densidade da Rede Deve ser possível atender as distâncias já utilizadas na coleta de dados, sendo possível ter distâncias lineares entre sensores de 10 a 300 m. Heterogeneidade Possivelmente praticamente todas redes serão heterogêneas, com diferentes tipos de sensores e presença de elementos concentradores de dados. Utilização/Posiciona- mento Deve ser simples, para facilitar o uso do sistema. Deve comportar tanto redes com elementos posicionados em posições predefinidas como elementos em posições aleatórias. Autonomia Deve ser de pelo menos uma safra sendo desejável vida-útil de alguns anos com taxas de aquisição e distâncias intermediárias nas faixas definidas. Apesar das informações disponíveis sobre os projetos analisados no capítulo anterior não serem completas, é possível verificar que nenhum deles atende aos requisitos para aplicação em agricultura, principalmente na combinação dos requisitos de duração do 32 sistema, custo e distância entre os elementos. Entretanto, os requisitos desejados são possíveis e estão presentes de forma separada nos projetos analisados. Além disto, a aplicação em agricultura não é limitada por alguns fatores considerados críticos para a maior propagação de redes de sensores. Alguns autores apontam a falta de parâmetros de confiabilidade (qualidade de serviço) e segurança como pontos que limitam a popularização deste tipo de tecnologia. A qualidade de serviço é crítica para alguns tipos de aplicação, principalmente quando comparado a soluções já implementadas, tipicamente com comunicação com fios. Em agricultura,este ponto não é crítico, além dos ciclos longos, as informações obtidas não são vitais. A segurança também é um aspecto que pode ser considerado irrelevante neste contexto. As informações que circularão pela rede não possuem interesse para ninguém além da propriedade e, caso seja acessada por outros, não causará prejuízo ao usuário da rede. 33 3 EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO DE PROJETO DE REDES DE SENSORES Para projetar um sistema, é importante que o projetista tenha conhecimento sobre quais variáveis pode atuar e o impacto das escolhas sobre a solução proposta. Neste sentido, neste capítulo é apresentada primeiramente uma análise teórica de alternativas para implementação de redes de sensores em agricultura, mostrando em que fase do projeto as diferente dimensões do espaço de projeto são definidas. Na segunda parte do capítulo é apresentado um modelo matemático para auxiliar nas decisões de projeto. 3.1 ANÁLISE DE ALTERNATIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO Os trabalhos já publicados apresentam diversas alternativas para implementação de redes de sensores. Alternativas para os diferentes requisitos analisados no capítulo anterior existem. Neste capítulo serão apresentadas análises que conduzem a possibilidades teóricas para satisfazer os requisitos. Para projetar uma rede atendendo aos requisitos, serão tomadas decisões em três níveis diferentes. Serão definições conceituais, de implementação e de aplicação. Ao dar a resposta ao problema “como coletar os dados em campo” uma concepção será feita, carregando consigo uma série de definições conceituais. Ao projetar a solução, outras várias decisões de implementação terão de ser tomadas. Por fim, ao usar uma rede para uma aplicação real, definições de aplicação terão de ser integradas à solução, estando a rede caracterizada em todas as dimensões de projeto. Analisando as dimensões de projeto e em que momento elas serão definidas em uma rede real, tem-se o quadro mostrado na Tabela 6. Tabela 6 Dimensões de projeto x tipo de definição Definições Conceituais Definições de Implementação Definições de Aplicação Heterogeneidade Modelo de comunicação Dinâmica da rede Taxa de transmissão Recursos disponíveis no sistema Eficiência energética Distribuição do processamento Freqüência de aquisição Densidade da rede Autonomia Utilização/Posicionamento Tamanho da rede O projeto da rede englobará as definições conceituais e de implementação. Elas se diferem, pois, para uma mesma solução conceitual, podem existir diferentes implementações. 34 As definições de aplicação, idealmente, devem ser deixadas livres, com alguns limites, para o usuário final determinar. Um conjunto de definições conceituais será chamada a seguir de solução. Foram pensadas 4 soluções: 1) Rede com sensores que coletam dados e aguardam a passagem de um leitor acoplado a alguma máquina passar na lavoura para descarregar os dados. Na passagem deste leitor, ocorre uma comunicação por rádio entre sensor e leitor. Não há comunicação entre os nós. 2) Rede com sensores que coletam dados e aguardam a passagem de um leitor acoplado a alguma máquina passar na lavoura para descarregar os dados. Na passagem deste leitor, ocorre uma comunicação na qual o leitor alimenta parte do circuito do sensor de forma capacitiva ou indutiva. Não há comunicação entre os nós. 3) Solução híbrida entre a solução 2 e 4. Rede com sensores que coletam dados e aguardam a passagem de um leitor acoplado a alguma máquina passar na lavoura para descarregar os dados. Na passagem deste leitor, ocorre uma comunicação na qual o leitor alimenta parte do circuito do sensor de forma capacitiva ou indutiva. Os sensores também possuem capacidade de comunicação entre si por rádio, que pode ser usada na ocorrência de eventos que precisam ser informados ao observador independente da passagem de máquina. Um tipo de evento pode ser a memória do nó estar cheia e não ter leitor para descarregar. 4) Rede com sensores que coletam dados e periodicamente enviam este ao observador pela rede. A rede deve ser capaz de rotear estas comunicações por rádio entre os nós. A taxa de transmissão pode ter alguma variação na implementação ou na aplicação de uma das soluções. No entanto, na comparação entre as soluções, esta taxa é bastante diferente e por isto foi considerado que ela é definida no conceito da solução. Cada uma das soluções tem suas necessidades e restrições relativas às decisões de implementação. A Figura 2 representa as definições de projeto de forma esquemática. 35 Figura 2 Diagrama com opções de implementação Cinco dimensões foram deixadas livres para melhor atender as diferentes possíveis aplicações. 36 As duas dimensões mais significativas deixadas livres são a freqüência de aquisição e a densidade da rede. A primeira afeta igualmente todas as soluções, pois em todas a coleta do dado é alimentada pelo próprio nó. A densidade da rede afeta de forma mais direta as soluções 3 e 4, pois nestas determinará as distâncias de transmissão e quantidade de pacotes roteados. A autonomia dos nós é uma dimensão que é livre, mas que será um resultado das outras decisões tomadas (possibilidade conceitual escolhida, definições da implementação e as duas dimensões anteriores definidas na aplicação). O tamanho da rede, determinando o número total de nós, em uma análise inicial, não terá maior impacto sobre outras dimensões. As definições na implementação irão impor um limite máximo teórico para esta escolha, por exemplo, limitando endereçamento da rede. A forma de aplicação ou instalação da rede, que é uma das dimensões do espaço de projeto, também pode ser definida conforme a aplicação, se será manual, em pontos pré- determinados, ou aleatória. Esta decisão terá algum impacto na forma de programar a rede para o início da operação, mas em uma análise também preliminar não terá maior efeito sobre as outras dimensões. A análise apresentada nesta seção, apesar de orientada para a aplicação em agricultura, possui generalidade na proposição de 3 tipos de definições nos projetos de redes de sensores: conceituais, de implementação e de aplicação. Para outros tipos de aplicações, mesmo que não se enquadrem em nenhuma das 4 soluções apresentadas, haverão definições destes 3 tipos. 3.2 ANÁLISE MATEMÁTICA Para o projeto de uma rede de sensores, é importante conhecer as relações entre as dimensões de projeto. Como na abordagem proposta são consideradas variáveis de todos os níveis, não existe na literatura modelo que as relacione. Por isto, foi desenvolvido um modelo matemático que relaciona todas estas variáveis. O modelo proposto considera variáveis de todas as dimensões de projeto identificadas. Para o início do trabalho foram identificadas as variáveis desde o nível de rede até do hardware e software de cada nó. Foram identificadas 36 variáveis. Um modelo que mostre, por exemplo, a influência de definições de implementação de cada nó no comportamento global da rede é uma ferramenta importante para tomada de decisões de projeto. A partir dos tipos de definições apresentados na seção anterior e indicados na Tabela 6, algumas variáveis mostram-se como constantes de implementação da rede. São exemplos 37 destas constantes a energia disponível em cada nó, a tensão de alimentação, a velocidade de transmissão de dados e o overhead do protocolo de comunicação. Algumas variáveis importantes são deixadas livres para a aplicação, isto é, para serem definidas em função do uso da rede. Foram identificadas 5 variáveis deste tipo: Área a ser coberta pela rede, Distância entre dois nós da rede, Distância de transmissão de cada nó, Período de amostragem de dados e Período de transmissão de dados. Pela modelagem feita, 5 variáveis são calculadas: Numero de nós da rede,Potência média consumida por cada nó da rede, Autonomia esperada da rede, Carga de roteamento de mensagens média de cada nó (dados que um nó deve passar adiante na rede) e Tempo de transmissão. A idéia é que as definições conceituais e de implementação são convertidas em constantes ou parâmetros do modelo matemático. Já as definições da implementação são variáveis de entrada ou calculadas. O modelo pode ser usado durante a fase de projeto, para avaliar o impacto das definições nos parâmetros do modelo quanto posteriormente, na fase de aplicação, para auxiliar nas definições de aplicação. 3.2.1 Apresentação do Modelo Matemático Para definição do modelo, após a identificação das variáveis, as relações matemáticas conhecidas entre elas foram colocadas na forma de equações. O modelo trabalha em uma condição média da rede. Não tem por objetivo determinar o comportamento de um nó específico da rede, muito menos o comportamento individual de cada nó da rede. A potência consumida por um nó foi um dos pontos de partida para o modelo. A potência de um nó é soma da potência média (RMS) consumida por cada um dos estágios de funcionamento e elementos do nó. Assim, a potência de um nó é dada por: P=P comPaqPmemP sleepPwakeP receb (1), sendo: P : Potência média total consumida por um nó; P com : Potência média consumida pela comunicação na transmissão de dados; Paq : Potência média consumida pela aquisição de dados dos sensores; Pmem : Potência média consumida pela memória não volátil; 38 P sleep : Potência média consumida pelo estado de espera; Pwake : Potência média consumida na transição para estado ativo; P receb : Potência média consumida pelo recebimento de dados. Sabe-se também, pela definição física das variáveis, que: Aut= E P (2), sendo: E : Energia disponível em cada nó; Aut : Autonomia de funcionamento do nó, dada pela relação entre potência e energia. A potencia média (RMS) relativa a um estado é proporcional ao tempo em que o nó permanece neste estado e também à potência instantânea consumida quando neste estado. A figura a seguir representa a potência consumida por um estado qualquer. Figura 3 Diagrama ilustrativo do consumo de um estado Na figura, “T” representa o período de repetição do estado e “t” o tempo em que o nó permanece no estado. A potência média por um estado “x”, P x , é dada pela equação 3: P x=∫0 T P d = p⋅ t T (3). 0 39 A integral da potência em função do tempo, pelo formato apresentado no gráfico, pode ser resumida como mostrado, sendo “p”, a potência no estado. Assim sendo, a potência média nos estados que compõem a potência total no nó podem ser expressas da seguinte forma: Paq= t aq T aq ⋅k aq (4), P r= t r T r ⋅k r (5), sendo: t aq : Tempo de uma aquisição de dados; t r : Tempo de recepção; T aq : Período de aquisição, tempo entre duas aquisições do sensor; T r : Período de recepção, tempo entre duas recepções; k aq : Constante referente ao consumo durante a aquisição de dados em W; k r : Constante referente ao consumo durante a recepção de dados em W. A potência calculada para a aquisição supõe que cada nó tem controle sobre a alimentação dos sensores, sendo estes alimentados apenas no momento da leitura. O consumo em espera dos sensores faz parte do consumo total em espera do sistema. A potência no estado de transmissão também depende do alcance desejado. Pelas definições de propagação de ondas eletromagnéticas, a potência é proporcional ao quadrado da distância desejada. Existe também um custo energético fixo por se usar a transmissão, mesmo que com potência mínima. A potência de transmissão é dada por: Pcom= t c T c ⋅k c⋅d c 2k c min (6), sendo nesta equação, as variáveis: t c : Tempo de uma transmissão de dados; T c : Período de aquisição, tempo entre duas aquisições do sensor; k c : Constante referente ao consumo durante a transmissão de dados, proporcional ao alcance desejado em W/m2; k c min : Constante referente ao consumo mínimo durante a transmissão de dados, mesmo que para distância mínima, correspondente ao custo energético para ligar circuito de transmissão em W; d c : Distância de comunicação, que reflete o alcance da comunicação de um elemento da rede. 40 Se todos os nós tem o mesmo período de transmissão, um nó só precisa do mesmo período de transmissão para recepção, portanto: T r≡T c (7). Com isto, restam dois períodos independentes, o T c vinculado à comunicação e T aq vinculado às aquisições de dados. A potência média na transição para o estado ativo, Pwake , depende dos períodos das ações que demandam acordar, que são a comunicação e a aquisição. Esta potência é expressa por: Pwake=∫0 T c Pwaked ∫0 T aq Pwaked Pwake= twake T c twake T aq ⋅k wake (8), sendo: twake : Tempo de uma transição do estado de espera para o estado ativo; k wake : Constante referente ao consumo durante a transição de estado em W. A potência consumida pela memória não-volátil é proporcional à freqüência com que esta é gravada. A memória é utilizada para armazenar dados adquiridos ao invés de transmiti- los. Assim sendo, assume-se neste modelo que, no caso de usar a memória, esta será acessada no mesmo período da aquisição de dados. O consumo da memória quando não está sendo acessada é considerado como parte do consumo do sistema em espera. A equação: Pmem= tmem T aq ⋅k mem (9), expressa a potência da memória, sendo: tmem : Tempo de uma operação de escrita na memória; k mem : Constante referente ao consumo durante a escrita na memória em W. Para o cálculo da potência do estado de espera, P sleep , considera-se que o tempo em que os nós ficam neste estado corresponde ao tempo em que não se encontram nos outros estados. A potência de espera é representada por: P sleep=1− t ctrtwake T c t aqtmemtwake T aq ⋅k sleep (10), sendo: k sleep : Constante referente ao consumo durante o estado de espera em W. 41 Os períodos T c e T aq podem ser definidos apenas na aplicação. Refletem a necessidade de se ter os dados para interpretações e o intervalo desejado entre aquisições. As constantes são definidas pela implementação do sistema. Já os tempos em cada estado têm comportamentos diferentes. Alguns são função da implementação. O tempo twake será uma característica de cada implementação, muitas vezes vinculada à arquitetura do microcontrolador, indicando quanto tempo ele leva para passar do estado de espera para o ativo. O tempo t aq também será reflexo da implementação, pois dependerá do tipo de sensor e sistema de leitura implementados e é o tempo que levará cada leitura do sensor. O tempo tmem é função do tempo necessário para escrever cada byte em memória e do número de bytes que serão lidos do sensor e gravados, representado por: tmem=twbyte⋅tamaq (11), sendo: tw byte : Tempo para escrita em memória por byte; tamaq : Tamanho de uma aquisição do sensor em bytes. Outros são mistos, função da implementação e da aplicação. O tempo de transmissão na comunicação depende da velocidade de comunicação e de quantidade de dados a serem transmitidos, matematicamente: t c= tamPAC V tx ⋅kerr⋅k prot (12), sendo: V tx : Velocidade de transmissão em bits por segundo; tamPAC : Tamanho de um pacote de dados a ser transmitido em bits; k err : Constante proporcional a taxa de erros presente nas transmissões, representando a necessidade de retransmissões. Se igual a 1 representa o caso ideal, sem erros; k prot : Constante proporcional ao overhead gerado pelo protocolo de comunicação com mensagens que não transmitem dados. Por exemplo, mensagens para identificação e manutenção de rotas. O tempo em que um nó tem que ficar recebendo é igual ao tempo necessário para receber todos os bytes que ele tem que passar adiante. Também tem influência os erros de transmissão e o overhead do protocolo. O tempo de recepçãoé dado por: 42 t r= C rot V tx ⋅k recep2⋅k err⋅k prot (13), sendo: C rot : Carga de roteamento. Carga em bits imposta a um nó pelo roteamento de mensagens de outros nós da rede; k recep2 : Constante multiplicativa proporcional ao tempo em que os nós terão que ficar aguardando sincronismo para receber mensagens. A carga de roteamento é difícil de se estimar sem maior conhecimento dos protocolos usados. Para modelar, de uma forma que possa ser usada com diferentes protocolos, algumas considerações genéricas são feitas. Todos elementos da rede são considerados roteadores em potencial. Cada ponto da rede terá uma carga diferente, dependendo da sua posição na rede. A carga considerada é uma carga média da rede. Os dados de um nó distante do concentrador de dados da rede terão que ser retransmitidos por um caminho mais longo. Cada retransmissão é denominada um salto (do inglês, “hop”). Um parâmetro para estimar a carga de roteamento da rede é saber o número médio de saltos pelos quais as mensagens tem que passar na rede. O número médio de saltos é proporcional ao tamanho da rede e inversamente proporcional à distância entre nós. Quanto maior o número de nós da rede, assumindo uma distribuição regular, mais saltos existirão. Por outro lado, quanto maior o alcance de comunicação dos nós, menor o número de saltos, pois as mensagens poderão percorrer distância maior em cada salto. Desta forma, a equação: N h=k rot⋅ R d c (14), indica o número de saltos médio dos dados na rede, sendo: N h : Número de saltos médio dos dados na rede; k rot : Constante de acerto de unidades. A carga de roteamento é definida como proporcional ao número médio de saltos em cada nó. Esta carga também é proporcional à quantidade de dados de cada aquisição dos sensores da rede. A taxa de comunicação de dados indica a proporção entre o período de aquisição de dados e o período de comunicação. Indiretamente, indica dados de quantas aquisições são transmitidas a cada vez. A equação matemática é: 43 c= T aq T c (15), C rot= tamaq c ⋅N h (16), sendo: c : Taxa de comunicação de dados; tamaq : Tamanho em bits de uma aquisição de dados. Com estas definições já feitas, pode-se definir o tamanho dos pacotes de dados da transmissão. Cada pacote tem um overhead característico do protocolo, por questões como endereçamento, cabeçalho, conferência de erros e outros. O pacote também transmite os dados adquiridos no período desde a última transmissão e a carga de roteamento, isto é, os dados dos outros nós que devem ser retransmitidos. A equação: tamPAC=tamoverhead protocolo tamaq c C rot (17), representa estas relações, sendo: tamoverhead protocolo : Tamanho em bits do overhead de protocolo em cada pacote de dados. A distância entre os nós da rede é proporcional à área a ser coberta pela rede e inversamente proporcional ao número de elementos na rede: d ∝ A R . Fazendo uma distribuição regular, com nós eqüidistantes e formando células, tem-se que a área coberta por cada nó é aproximadamente um círculo com diâmetro igual à distância entre dois nós. Analisando graficamente, a distribuição, percebe-se que é possível aproximar a área de cada célula por um hexágono, cobrindo totalmente a área, como mostrado na Figura 4. O cálculo considerando a área de círculos, deveria considerar sobreposições. 44 Figura 4 Diagrama de distribuição regular de nós em uma área hipotética A área de cada hexágono pode ser representada em função da distância “d” entre nós: Ahex= d 2⋅3 2⋅3 (18). Considerando que a área total será distribuída entre os elementos da rede, tem-se: d 2⋅3 2⋅3 = A R e R=A 2⋅3 d 2⋅3 (19), sendo: A : Área coberta pela rede; d : Distância entre dois nós da rede; R : Número de nós da rede. Com o conjunto de equações apresentado, 5 variáveis são independentes. Estas variáveis podem ser definidas para aplicação e pelo usuário, sendo os dados de entrada para o modelo. Estas variáveis são: A ; d ;d c ;T aq ;T c . Cinco variáveis são resultados das equações, sendo calculadas pelo modelo. São elas: R ; P ; Aut ;C rot ; t c . Diversas variáveis são definidas pelo projeto da rede. Podem ser consideradas constantes de implementação e portanto parâmetros do modelo. Os parâmetros são: t aq ; tamaq; E ;V tx ; twake ;k rot ;k sleep ;k wake ; tw byte ;k recep2 ; k mem ;k aq ; k r ; kc ; kc min ; tamoverhead protocolo ; tammem ;k err ;k prot . As demais variáveis são passos intermediários do modelo. 45 3.2.2 Exemplos de Potencial do Modelo Matemático A partir do modelo matemático apresentado, foram feitos testes e suposições para experimentar o potencial do modelo. Como feito na seção 2.3.1, foi utilizado como referência o mote TelosB. Foram utilizados dados da bibliografia sobre esta arquitetura (POLASTRE, 2004; CROSSBOW, 2006), dados dos componentes utilizados (TEXAS INSTRUMENTS, 2006a, TEXAS INSTRUMENTS, 2006b ) e necessidades da aplicação apresentados nos capítulos anteriores. Para melhor visualizar o impacto de decisões sobre diferentes variáveis do espaço de projeto, optou-se por elaborar gráficos das equações do modelo. O conjunto de gráficos permite observar o espaço de projeto de forma mais ampla do que fazendo testes sobre conjuntos específicos de decisões. Para iniciar, a Figura 5 mostra o tamanho da rede, em número de nós, necessário para cobrir 3 diferentes tamanhos de áreas (0,1 km2, 1 km2 e 10 km2 ) em função da distância entre os nós em metros. O gráfico mostra o forte crescimento no número de nós necessários quando a distância desejada entre eles é reduzida. Figura 5 Número de nós necessários para compor a rede em função da distância entre nós para 3 tamanhos de áreas Seguindo em busca de informações menos triviais, foi analisado o comportamento de predição da autonomia de funcionamento da rede, variável que reflete todo o conjunto de definições sobre a implementação. Foi analisada a variação da autonomia em função da distância entre nós para os mesmos 3 tamanhos de área anteriores. O resultado é mostrado na Figura 6. 46 Figura 6 Autonomia da rede em dias em função da distância entre nós para 3 tamanhos de áreas Na primeira análise, o modelo aponta uma influência muito mais importante da distância entre nós para as áreas menores, atingindo um valor máximo para distâncias relativamente pequenas e depois mantendo-se estáveis, com ligeira tendência de queda da autonomia à medida que a distância aumenta. A maior área apresentou um comportamento diferente, mantendo uma tendência de crescimento da autonomia com o aumento das distâncias. Este resultado foi totalmente inesperado e contrário à espectativa intuitiva, de que a autonomia seria menor para distâncias maiores, já que a potência necessária para estas transmissões é maior. Para compreender este resultado, que inicialmente demonstrou-se incoerente, foram feitas outras análises. A primeira a dar respostas, foi a ampliação do horizonte de análise para as distâncias, indo além da faixa de distâncias esperadas para a comunicação entre os nós. A Figura 7 mostra a extrapolação do gráfico anterior, analisando para uma distância hipotética de comunicação até 1000 m, superior ao esperado para a aplicação e possibilidades relatadas na bibliografia. 47 Figura 7 Autonomia da rede em dias em função da distância entre nós para 3 tamanhos de áreas com extrapolação da distância Com esta visualização da situação, percebe-se que, para distâncias maiores que as analisadas anteriormente, o comportamento previsto condiz com o esperado. A autonomia é reduzida com o aumento da distância entre nós, refletindo o aumento do consumo pela transmissão a maior distância. No entanto, para distâncias menores, que
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