Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA SP 1.3 – FAÇA O QUE EU DIGO, MAS... – PAC DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMA 1. ESTUDAR A PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE CONCEITO A pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar definida como aparecimento agudo de sintomas e sinais de infecção do trato respiratório inferior, sem outra causa óbvia, e que esteja associada a infiltrado pulmonar novo no exame de imagem. Pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é a que acomete o indivíduo fora do ambiente hospitalar ou se manifesta em até 48 horas da admissão. As pneumonias historicamente eram classificadas como adquiridas na comunidade (PAC), adquiridas no hospital (PAH) ou associadas à ventilação mecânica (PAV). Uma quarta categoria, a pneumonia associada aos serviços de saúde (PASS), foi recentemente introduzida. Essa categoria foi criada para abranger aqueles casos de PAC causados por patógenos resistentes a múltiplos fármacos (MDR, de multidrug- resistant) normalmente associados com PAH. Infelizmente, as definições originais parecem ter sido demasiadamente sensíveis, resultando no tratamento de uma alta proporção de pacientes que tinham pneumonia iniciada na comunidade com antibióticos de amplo espectro consistentes com o tratamento de PAH. Estudos retrospectivos acabaram sugerindo um pior desfecho quando antibióticos de amplo espectro eram usados nesses casos. EPIDEMIOLOGIA Entre as síndromes de infecções respiratórias, a PAC é a de maior risco de morte, e maior número de internações. HOSPITALIZAÇÃO: Estima-se que, no Brasil, cerca de 10 a 13% das internações hospitalares sejam por pneumonia, o que equivale a aproximadamente 1 milhão de internações por ano. No primeiro semestre de 2019, por exemplo, foram mais de 417.000 internações, e na medida que se aumenta a faixa etária a quantidade de internações também aumenta. Entre janeiro e agosto de 2018, 417.924 pacientes foram hospitalizados por causa de pneumonia no Brasil, totalizando gastos totais de mais de R$ 378 milhões com serviços hospitalares. No mesmo período do ano anterior, foram 430.077 internações, de acordo com informações do Datasus. MORTALIDADE: A pneumonia é a infecção que mais mata no mundo. A mortalidade da pneumonia varia entre 4 e 18%, sendo associada a idade, comorbidades e apresentação clínica. No Brasil, entre 2015 e 2017, tivemos aproximadamente 200.000 óbitos por pneumonia, com média de 66.500 óbitos ao ano, sendo 80% deles em pacientes idosos, representando a maior causa por doença respiratória. A cada minuto, duas crianças morrem por causa da doença, o que representa 16% das mortes infantis em todo o mundo e 80% dos óbitos abaixo dos dois anos de idade. É causa comum de mortes entre os idosos também. Em geral, com o crescente uso da vacina pneumocócica, a incidência de pneumonia pneumocócica parece estar diminuindo. Entretanto, cerca de 170 milhões de crianças de países de baixa e média renda não são vacinadas contra a pneumonia. Mundialmente, apenas 35% recebem as três doses da vacina antipneumocócica. Somente dois terços das crianças aderem ao tratamento. FATORES DE RISCO FATORES NÃO MODIFICÁVEIS: Entre os fatores de risco não modificáveis, temos idade (≥ 70 anos.) e sexo masculino. Em idosos, fatores como redução dos reflexos da tosse e vômito e redução de respostas de anticorpos e receptores semelhante ao Toll aumentam a probabilidade de pneumonia. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA HÁBITOS DE VIDA: Com relação aos hábitos de vida merecem destaque alcoolismo (> 40 g/ álcool/dia) e tabagismo tanto atual quanto prévio. COMORBIDADES: Como comorbidades, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) desponta com o principal fator seguido por asma, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus, demência e AVC prévio, além de imunossupressão. Outras condições foram observadas, tais como morar em casa com mais de 10 pessoas, contato frequente com crianças e índice de massa corporal (IMC) abaixo de 20. POR ETIOLOGIA: → Os fatores de risco para pneumonia pneumocócica incluem demência, distúrbios convulsivos, insuficiência cardíaca, doença vascular encefálica, alcoolismo, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV, de human immunodeficiency virus). → A pneumonia por MRSA-AC é mais provável nos pacientes com colonização ou infecção cutânea por esse microrganismo. → As enterobactérias tendem a infectar pacientes hospitalizados recentemente e/ou que fizeram tratamento com antibiótico ou apresentam comorbidades como alcoolismo e insuficiência cardíaca ou renal. → A P. aeruginosa é um problema especial para pacientes com doença pulmonar estrutural, incluindo bronquiectasias, fibrose cística ou DPOC grave. → Os fatores de risco para infecção por Legionella são diabetes, neoplasias malignas hematológicas, câncer, doença renal grave, infecção pelo HIV, tabagismo, sexo masculino e estada recente em hotéis ou cruzeiros marítimos. FATORES PROTETORES: Como fator protetor, podemos citar visitas frequentes ao dentista, ter sobrepeso e consumir álcool em quantidades leves a moderadas (< 40 g/álcool/dia). Além disso, vacina antinfluenza anual e vacinação antipneumocócica também são os fatores de proteção. FATORES EPIDEMIOLÓGICOS SUGESTIVOS DAS CAUSAS POTENCIAIS DAS PNEUMONIAS ADQUIRIDAS NA COMUNIDADE • ALCOOLISMO: Streptococcus pneumoniae, anaeróbios orais, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter spp., Mycobacterium tuberculosis • DPOC E/OU TABAGISMO: Haemophilus influenzae, Pseudomonas aeruginosa, Legionella spp., S. pneumoniae, Moraxella catarrhalis, Chlamydia pneumoniae • DOENÇA PULMONAR ESTRUTURAL (P. EX., BRONQUIECTASIA): P. aeruginosa, Burkholderia cepacia, Staphylococcus aureus • DEMÊNCIA, AVC, DEPRESSÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: Anaeróbios orais, bactérias entéricas Gram-negativas • ABSCESSO PULMONAR: MRSA-AC, anaeróbios orais, fungos endêmicos, M. tuberculosis, micobactérias atípicas • VIAGEM AOS VALES DOS RIOS OHIO OU ST. LAWRENCE: Histoplasma capsulatum • VIAGEM AO SUDOESTE DOS ESTADOS UNIDOS: Hantavírus, Coccidioides spp. • VIAGEM AO SUDESTE ASIÁTICO: Burkholderia pseudomallei, vírus da influenza aviária • HOSPEDAGEM EM HOTÉIS OU CRUZEIRO MARÍTIMO NAS ÚLTIMAS 2 SEMANAS: Legionella spp. • ATIVIDADE DOS VÍRUS INFLUENZA NA LOCALIDADE: Vírus influenza, S. pneumoniae, S. aureus • EXPOSIÇÃO A MORCEGOS OU AVES: H. capsulatum • EXPOSIÇÃO A PÁSSAROS: Chlamydia psittaci • EXPOSIÇÃO A COELHOS: Francisella tularensis • EXPOSIÇÃO A OVELHAS, CABRAS E GATAS PARTURIENTES: Coxiella burnetii RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ETIOLOGIA A lista numerosa de agentes etiológicos potenciais das PACs inclui bactérias, fungos, vírus e protozoários. Infelizmente, apesar da história detalhada, do exame físico cuidadoso e dos exames radiográficos rotineiros, é difícil prever com algum grau de certeza o agente etiológico da PAC; em mais de 50% dos casos, não é possível determinar uma etiologia específica. No entanto, os elementos epidemiológicos e os fatores de risco podem sugerir o envolvimento de determinados patógenos. Entretanto, a maioria dos casos de PAC é causada por um número relativamente pequeno de patógenos. Embora Streptococcus pneumoniae seja o mais comum, outros microrganismos também devem ser considerados em vista dos fatores de risco e da gravidade da doença do paciente. A separação dos agentes potenciais em patógenos bacterianos “TÍPICOS” ou microrganismos “ATÍPICOS” pode ser útil: → Os patógenos “típicos” inclui S. pneumoniae, Haemophilus influenzae e (em determinados casos) S. aureuse bacilos Gram-negativos, como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. → Entre os microrganismos “atípicos” estão Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e as espécies de Legionella, assim como os vírus respiratórios, como influenza, adenovírus, metapneumovírus humano e vírus sinciciais respiratórios. Vale salientar que em cerca de 10 a 15% dos casos de PAC polimicrobiana, os agentes etiológicos comumente consistem em uma combinação de patógenos típicos e atípicos. Em geral, com o crescente uso da vacina pneumocócica, a incidência de pneumonia pneumocócica parece estar diminuindo. Os casos causados por M. pneumoniae e C. pneumoniae, porém, parecem estar aumentando de incidência, especialmente entre adultos jovens. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Os vírus podem ser responsáveis por uma grande proporção de casos de PAC que necessitam de hospitalização, mesmo em adultos. Os exames baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR, de polymerase chain reaction) mostram que os vírus podem estar presentes em 20 a 30% dos adultos saudáveis e na mesma porcentagem de pacientes com pneumonia, incluindo aqueles com doença grave. Os mais comuns entre esses vírus são influenza, parainfluenza e vírus sincicial respiratório. Nem sempre é possível determinar se eles são patógenos etiológicos, copatógenos ou simplesmente colonizadores. Os microrganismos atípicos não podem ser isolados pelas técnicas de cultura em meios convencionais e nem podem ser detectados pela coloração de Gram. A frequência e a importância dos patógenos atípicos têm implicações terapêuticas significativas. Eles são intrinsecamente resistentes a todos os antibióticos βlactâmicos e devem ser tratados com um macrolídeo, uma fluoroquinolona ou uma tetraciclina. Os anaeróbios desempenham um papel significativo apenas quando houve um episódio de aspiração dias ou semanas antes da apresentação clínica da pneumonia. Nesses casos, o fator de risco principal é a combinação de vias aéreas desprotegidas (p. ex., pacientes com intoxicações por álcool ou drogas, ou distúrbios convulsivos) e gengivite significativa. As pneumonias causadas por anaeróbios geralmente são complicadas por formação de abscessos e por empiemas significativos ou derrames parapneumônicos. A pneumonia causada por S. aureus é uma complicação bem conhecida da infecção pelo vírus influenza. Contudo, foram isoladas cepas de MRSA como agentes etiológicos primários da PAC. Embora essa condição ainda seja relativamente incomum, os médicos devem estar atentos às suas consequências potencialmente graves, inclusive pneumonia necrosante. Dois fatos importantes são responsáveis por esse problema: a disseminação do MRSA dos hospitais para as comunidades e o desenvolvimento de cepas geneticamente diferentes do MRSA na comunidade. As cepas de MRSA adquirido na comunidade (MRSAAC) podem infectar pessoas sem associação com serviços de saúde. ____________________________________________ 1. STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE É um diplococo gram-positivo, sendo o patógeno mais comum em quase todas as idades (exceto recém- natos). O quadro clínico é de uma pneumonia típica. A presença de escarro de cor ferruginosa é um dado a favor desta infecção. Os principais fatores de risco são: doenças debilitantes, idade avançada, neoplasia, transplante. O Raio-x mostra mais comumente uma broncopneumonia, mas pode revelar a clássica pneumonia lobar. O tratamento é baseado nos betalactâmicos, sendo o de maior eficácia: amoxicilina, ampicilina. 2. HAEMOPHILUS INFLUENZAE É um cocobacilo gram-negativo, sendo importante gente etiológico da pneumonia em crianças entre três meses a cinco anos, idosos > 65 anos, pacientes com DPOC ou doenças pulmonares estruturais. O quadro clínico é de uma pneumonia típica, com um quadro radiológico de uma broncopneumonia. O tratamento de escolha deve ser uma cefalosporina de 2ª (cefuroxime) ou 3ª geração (ceftriaxone, cefotaxima), ou ainda a amoxicilina com clavulanato. 3. MORAXELLA CATARRHALIS É um diplococo gram-negativo causador da pneumonia em pacientes com DPOC. Possui quadro clínico típico. 4. KLEBISIELLA PNEUMONIAE É um bastonete gram-negativo, capaz de causar uma grave pneumonia, marcado por um extenso infiltrado pulmonar que pode evoluir para uma pneumonia lobar. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Quando acomete o lobo superior e faz um abaulamento na sua borda inferior, dar o aspecto da chamada pneumonia do lobo pesado. É um agente comum em alcoólicos e diabéticos. O tratamento deve ser feito com cefalosporinas de 3ª (ceftriaxone, cefotaxima) ou 4ª geração (cefepime), ou com fluoroquinolonas. 5. STAPHYLOCOCCUS AUREUS É um gram-positivo de extrema virulência e que costuma causar uma pneumonia grave. É raro em adultos, a não ser nos usuários de drogas endovenosas, pacientes debilitados ou com infecções com abcesso. Quase 79% ocorrem em crianças com menos de 1 ano. O quadro clinico é agudo, começando com uma broncopneumonia de evolução rápida. Uma característica radiológica marcante é a formação de pneumatocele. O tratamento deve contar com a oxacilina venosa. 6. PNEUMONIA ASPIRATIVA POR ANAERÓBIOS Episódios de microaspiração são comuns durante o sono de pessoas hígidas. Um episódio de macroaspiração pode ocorrer em indivíduos com queda do nível de consciência ou que apresentam disfagia motora. Os principais exemplos são: vítimas de AVE, convulsões, intoxicação alcóolica. Quando o paciente tem os dentes em mau estado de conservação, a flora de anaeróbios torna-se ainda muito maior, aumentando a chance e a gravidade deste tipo de pneumonia. Vale ressaltar que a aspiração do vômito (suco gástrico) costuma causar uma “pneumonite química aspirativa” – também denominada de síndrome de Mendelson. Esta síndrome é confundida por muitos médicos com pneumonia bacteriana, sendo tratada erroneamente com antibióticos. O quadro clínico é o de uma pneumonia “típica”, com padrão broncopneumônico e consolidativo e uma enorme tendência à formação de empiema e abcesso pulmonar. A presença de escarro escurecido é um dado a favor de infecção por anaeróbios. A droga de escolha é a clindamicina, seguida pela amoxicilina+ clavulanato. 7. MYCOPLASMA PNEUMONIAE Essas bactérias não têm parede celular e tem uma resistência natural aos beta-lactâmicos. É o principal agente da pneumonia atípica. A maioria das infecções envolve o trato respiratório superior, isto é, um quadro gripal. O paciente apresenta dor de garganta, mal-estar, mialgia, febre baixa, cefaleia, e tosse seca que costuma evoluir para produtiva com secreção purulenta e com raias de sangue. A radiografia de tórax mostra um infiltrado broncopneumônico ou intersticial. Uma das principais manifestações extrarespiratórias é a miringite bolhosa (presença de vesículas na membrana timpânica). Todo paciente jovem com pneumonia ambulatorial deve ser tratado por micoplasma. O tratamento deve ser feito com macrolídeos (eritromicina, azitromicina ou claritromicina) ou a doxiciclina. 8. CLAMYDIA PNEUMONIAE A infecção geralmente é subclínica ou leva a um quadro tipo virose de vias aéreas superiores (faringite, bronquite, sinusite). As manifestações clínicas da pneumonia por clamídia são muito parecidas com a pneumonia por micoplasma. A rouquidão e o aparecimento de sibilos são achados mais frequentes. A infecção acomete qualquer faixa etária, mas predomina nos idosos, sendo a segunda causa de pneumonia branda nesses pacientes. O tratamento é com macrolídeos ou doxiciclina. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA FISIOPATOLOGIA A pneumonia resulta da proliferaçãodos patógenos microbianos nos espaços alveolares e da resposta do hospedeiro a esses agentes patogênicos. Os microrganismos chegam às vias aéreas inferiores por vários mecanismos. O mais comum é a aspiração das secreções orofaríngeas. A aspiração de volumes pequenos ocorre frequentemente durante o sono (especialmente nos idosos) e nos pacientes com níveis deprimidos de consciência. Em casos raros, a pneumonia ocorre por disseminação hematogênica (p. ex., por endocardite da valva tricúspide) ou por extensão contígua dos espaços pleural ou mediastinal infectados. A ocorrência da pneumonia depende muito da competição entre bactéria e as defesas do hospedeiro. Para ocorrer pneumonia uma ou mais das seguintes situações tem que estar presentes: 1. Contato do alvéolo com um agente de alta virulência. 2. Contato do alvéolo com um grande inóculo de bactérias; 3. Defeito nos mecanismos de defesa do hospedeiro. ____________________________________________ Os fatores mecânicos são extremamente importantes para a defesa do hospedeiro: • Os pelos e as conchas nasais das narinas retêm as partículas maiores inaladas antes que elas possam chegar às vias aéreas inferiores. • A arquitetura ramificada da árvore traqueobrônquica retém microrganismos no revestimento das vias aéreas, onde a atividade mucociliar e os fatores antibacterianos locais eliminam ou destroem os patógenos potenciais. • Os reflexos do vômito e da tosse conferem proteção essencial contra aspiração. Além disso, a microbiota normal aderida às células da mucosa da orofaringe, cujos componentes são notavelmente constantes, impede que as bactérias patogênicas se liguem e, dessa forma, reduz o risco de pneumonia. Quando essas barreiras são superadas ou quando os microrganismos são suficientemente pequenos para serem inalados até os alvéolos, os macrófagos alveolares residentes são extremamente eficientes na eliminação e destruição dos patógenos. Os macrófagos são auxiliados por proteínas produzidas pelas células epiteliais locais (p. ex., proteínas A e D do surfactante) e têm propriedades intrínsecas de opsonização ou atividade antibacteriana ou antiviral. Depois de serem fagocitados, os patógenos – mesmo que não sejam destruídos – são eliminados pelo sistema elevatório mucociliar ou pelos vasos linfáticos e não causam mais risco de infecção. A pneumonia evidencia-se apenas quando a capacidade dos macrófagos alveolares de ingerirem ou destruírem os microrganismos é superada. Nessa condição, os macrófagos alveolares ativam a resposta inflamatória para reforçar as defesas das vias aéreas inferiores. A resposta inflamatória do hospedeiro, mais do que a proliferação dos microrganismos, desencadeia a síndrome clínica da pneumonia: A liberação de mediadores inflamatórios como a interleucina (IL) 1 e o fator de necrose tumoral provoca febre. As quimiocinas como a IL-8 e o fator estimulador das colônias de granulócitos estimulam a liberação dos neutrófilos e sua atração ao pulmão, e isso causa leucocitose periférica e secreções purulentas aumentadas. Os mediadores inflamatórios liberados pelos macrófagos e pelos neutrófilos recém recrutados acarretam extravasamento alveolocapilar. O extravasamento capilar é responsável pelos infiltrados radiográficos e pelos estertores detectáveis à ausculta, enquanto a hipoxemia é atribuída ao preenchimento dos espaços alveolares. Além disso, alguns patógenos bacterianos parecem interferir na vasoconstrição hipoxêmica, que normalmente ocorreria se os alvéolos fossem preenchidos por líquidos; essa interferência pode causar hipoxemia grave. O aumento do drive respiratório na síndrome da resposta inflamatória sistêmica causa alcalose respiratória. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Até mesmo as hemácias conseguem atravessar a membrana alveolocapilar, e isso causa hemoptise. A dispneia tem como causas a redução da complacência pulmonar secundária ao extravasamento capilar, a hipoxemia, a hiperestimulação do centro respiratório, as secreções profusas e, ocasionalmente, o broncospasmo desencadeado pela infecção. Se a doença for suficientemente grave, as alterações da mecânica pulmonar secundárias às reduções do volume e da complacência pulmonares, bem como o shunt intrapulmonar do sangue, podem causar insuficiência respiratória e morte. A presença de uma microbiota alveolar normal aumenta a possibilidade de uma via alternativa para o desenvolvimento de pneumonia. Essa microbiota é semelhante àquela da orofaringe; ambas são predominantemente Gram-positivas em contrapartida ao meio Gram-negativo da microbiota gastrintestinal normal. Em vez de a invasão de um trato respiratório inferior estéril por patógenos causar pneumonia, alterações nas defesas do hospedeiro podem permitir o crescimento exagerado de um ou mais componentes da flora bacteriana normal. O fato de muitos patógenos causadores de PAC serem componentes da microbiota alveolar normal sustenta esse modelo alternativo de patogênese. As duas causas mais prováveis de alteração na microbiota alveolar são as infecções virais do trato respiratório superior para a PAC e a terapia antibiótica para a PAH/PAV. ____________________________________________ PATOLOGIA A pneumonia clássica passa por uma série de alterações patológicas. A fase inicial é de edema com presença de exsudato proteináceo – e geralmente de bactérias – nos alvéolos. Essa fase raramente é evidenciada nos espécimes clínicos ou na necrópsia, pois é rapidamente seguida da fase de hepatização vermelha. A presença de hemácias no exsudato intra-alveolar celular é responsável pelo termo descritivo utilizado para essa segunda fase, mas o afluxo dos neutrófilos é mais importante com relação à defesa do hospedeiro. Ocasionalmente, as bactérias são isoladas em culturas dos materiais patológicos obtidos durante essa fase. Na terceira fase, ou hepatização cinzenta, não há hemácias recém-chegadas no material extravasado, e as que já estavam presentes estão desintegradas e degradadas. Os neutrófilos são as células predominantes, a deposição de fibrina é abundante e as bactérias já desapareceram. Essa fase corresponde à delimitação bem-sucedida da infecção e à melhora da troca gasosa. Na fase final ou de resolução, os macrófagos reaparecem como células predominantes no espaço alveolar e os restos de neutrófilos, bactérias e fibrina já foram eliminados e a resposta inflamatória regrediu. Esse padrão tem sido descrito mais claramente na pneumonia pneumocócica lobar, mas pode não ser aplicável a todas as outras etiologias pneumônicas, especialmente às pneumonias virais ou causadas por Pneumocystis. Com a PAV, a bronquiolite respiratória pode ocorrer antes do desenvolvimento dos infiltrados detectáveis radiograficamente. Em consequência das aspirações de volumes microscópicos, o padrão de broncopneumonia é mais comum nas pneumonias nosocomiais, enquanto o padrão lobar é mais frequente com as PACs bacterianas. Apesar do aspecto radiográfico, as pneumonias causadas por vírus e Pneumocystis são processos alveolares, em vez de intersticiais. QUADRO CLÍNICO Classicamente o quadro clínico é descrito como um quadro agudo com febre, dor torácica, expectoração sanguinolenta e sinais de sepse, com esse quadro sendo associado historicamente a pneumonia pneumocócica. Apesar disso, mais frequentemente o diagnóstico é realizado em pacientes com tosse e sintomas respiratórios persistentes. Os seguintes achados diagnósticos são associados com aumento da probabilidade do diagnóstico de pneumonia: ➢ Tosse ocorre em mais de 80% dos pacientes. A tosse pode ser seca ou produtiva com escarro mucoide, purulento ou sanguinolento. A hemoptise franca é sugestiva depneumonia por MRSA-AC. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ➢ Expectoração amarelada em 50% dos casos ➢ Sensação de dispneia subjetiva ocorre em 50 a 70% dos casos. Dependendo da gravidade, o paciente pode ser capaz de pronunciar frases inteiras ou apresentar dispneia grave ➢ Febre persistente. ➢ Calafrios ➢ Sudorese noturna. ➢ Dor torácica. Se houver acometimento da pleura, o paciente pode referir dor torácica pleurítica. ➢ Até 20% dos pacientes podem apresentar queixas gastrintestinais, como náuseas, vômitos e/ou diarreia. ➢ Outros sintomas podem incluir fadiga, cefaleia, mialgias e artralgias EXAME FÍSICO ➢ Frequência cardíaca > 100 bpm. ➢ Frequência respiratória > 25. ➢ Presença de estertores na ausculta respiratória. ➢ Diminuição dos sons respiratórios. As anormalidades do exame físico podem variar com a gravidade da condensação pulmonar e a existência ou ausência de derrame pleural significativo. É comum observar aumento da frequência respiratória e utilização dos músculos acessórios da respiração. A palpação pode detectar acentuação ou atenuação do frêmito toracovocal, e a percussão pode evidenciar submacicez e macicez, que refletem a condensação pulmonar ou o líquido pleural subjacente, respectivamente. A ausculta pode detectar estertores, sopros brônquicos e, possivelmente atrito pleural. A apresentação clínica pode não ser tão evidente nos pacientes idosos que, inicialmente, apresentam confusão mental de início súbito ou agravada e poucos sinais clínicos adicionais. Os pacientes mais graves podem apresentar choque séptico e indícios de falência de órgãos. COMPLICAÇÕES O risco de complicações cardíacas secundárias ao aumento da inflamação e da atividade pró-coagulante é maior. Essas complicações incluem infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e arritmias, particularmente em idosos. Na PAC pneumocócica, o risco aumentado de eventos coronarianos agudos pode ser parcialmente devido à pneumólise, a qual aumenta a ativação plaquetária. Até 90% das síndromes coronarianas agudas ocorrem na primeira semana após o início da PAC, e o risco de ICC de início recente em idosos hospitalizados com PAC pode se estender até 1 ano. ____________________________________________ TÍPICO X ATÍPICO 1. TÍPICO O quadro clinico clássico de uma PAC “típica” é caracterizado por uma doença de forma hiperaguda (2- 3 dias), com uma história de: • Calafrios com tremores • Seguidos de febre alta (39- 40) • Dor torácica pleurítica • Tosse produtiva com expectoração purulenta (esverdeada). O exame físico pode revelar: • Prostração • Taquipneia (FR > 24 ipm) • Taquicardia (FC > 100 bpm) • Hipertermia (Tax >38 ºC) Os achados positivos no exame do aparelho respiratório podem variar desde simples estertores inspiratórios até uma síndrome de consolidação e/ou de derrame pleural. A síndrome de consolidação é caracterizada pela presença do som bronquial (“sopro tubário”), aumento do frêmito toracovocal, submacicez, broncofonia e pectorilóquia fônica. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. Os exames laboratoriais inespecíficos geralmente revelam uma leucocitose neutrofílica entre 15.000- 35.000/mm3, com desvio para esquerda. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Na gasometria arterial, os achados mais frequentes são a hipoxemia e alcalose respiratória, que são fatores de mau prognostico. Obs: Quanto mais velho e mais debilitado for o paciente, mais o quadro clinico se afasta do “esperado”. A febre pode estar ausente ou, se presente, ser mais baixa. Podem faltar outros comemorativos, como a tosse, a expectoração purulenta e a leucocitose. As vezes o único sinal de pneumonia nesses pacientes pode ser a prostração, a desorientação ou a taquidispneia. Obs: Todo paciente idoso debilitado, ou qualquer indivíduo previamente doente, que evolui com um quadro inexplicado de desorientação e queda do estado geral ou simplesmente taquidispneia, mesmo na ausência de febre, tosse produtiva ou leucocitose, deve ter a pneumonia bacteriana como um de seus diagnósticos diferenciais. 2. ATÍPICO O quadro clínico atípico de pneumonia se parece com uma virose respiratória prolongada. O principal agente é o Mycoplasma pneumoniae, incidindo geralmente numa faixa etária jovem, acima dos cinco anos e abaixo dos quarenta anos de idade. Ao contrário da pneumonia bacteriana “típica”, a instalação é subaguda (tempo de início médio dos sintomas = 10 dias), abrindo com sintomas gerais de uma síndrome gripal: • Dor de garganta • Mal-estar • Mialgia • Cefaleia • Tosse seca • Febre entre 38-39. A tosse costuma piorar e ser uma tosse seca, que atrapalha o sono do paciente, mas também pode apresentar-se produtiva. Nestes casos, a expectoração é branca. O laboratório mostra leucocitose neutrofílica em 20% dos casos (o que difere da típica, na qual temos desvio à esquerda). O grande marco da síndrome da pneumonia “atípica” é a importante dissociação clinicorradiológica encontrada nesses pacientes. Enquanto o exame do aparelho respiratório é totalmente normal ou revela apenas discretos estertores crepitantes ou sibilos, a radiografia de tórax mostra um infiltrado pulmonar maior do que o esperado. O infiltrado pode ser do tipo broncopneumônico (típico das infecções por micoplasma ou clamídia) ou do tipo intersticial reticular ou reticulonodular (típico das viroses) DIAGNÓSTICO Diante de um caso potencial de PAC, o médico deve fazer duas perguntas: o paciente tem pneumonia? Em caso afirmativo, qual é sua etiologia provável? Em geral, a primeira pergunta é respondida com base nos exames clínicos e radiográficos, com a radiografia RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA de tórax nas incidências PA e perfil; enquanto a última depende de técnicas laboratoriais complementares. 1. RAIO-X A radiografia de tórax é indicada em todos os pacientes, sendo complementar ao exame físico na avaliação de rotina de pacientes com suspeita de pneumonia. Pois além de ajudar no diagnóstico o exame serve para verificar a presença de complicações como derrame pleural e doença multilobar. Além de diferenciar PAC de outras causas de tosse e febre, como traqueobronquite aguda. O Consenso Britânico recomenda não solicitar radiografia em pacientes com história e exame físico sugestivos em unidades básicas de saúde, mas outras sociedades mundiais, inclusive o Consenso Brasileiro, consenso da American Thoracic Society (ATS) e da Infectious Disease Society of America (IDSA) recomendam a realização de radiografia de tórax em todos os pacientes com suspeita de pneumonia. A especificidade da radiografia de tórax é superior a 90%, mas a sensibilidade não é tão alta. ____________________________________________ IMPORTÂNCIAS DO RAIO X: → Auxiliar o diagnóstico: o achado de alteração não aparente antes, como um infiltrado intersticial, consolidação segmentar ou lobar, sugere o diagnóstico. → Sugerir diagnóstico diferencial: são exemplos o abscesso pulmonar, a tuberculose e a massa pulmonar. → Avaliar a gravidade: identificam-se comprometimento multilobar ou derrame pleural associado. → Acompanhar a resposta ao tratamento: recomendam-se as projeções para os casos de tabagistas com mais de 50 anos, a fim de excluir o carcinoma broncogênico, e de sintomas ou achados anormais persistentes no exame físico. ____________________________________________ Três situações podem explicar a radiografia normal na pneumonia: (1) o infiltrado é retrocardíaco, não sendo visualizado na incidência PA; (2) o infiltrado é muito tênue para ser identificadopela radiografia – mas pode ser visualizado na TC (3) A técnica da radiografia foi incorreta. ____________________________________________ ACHADOS RADIOLÓGICOS: ➔ BRONCOPNEUMONIA: O que costumamos ver no RX de um paciente com pneumonia é um infiltrado pulmonar. Esse infiltrado, no caso da pneumonia bacteriana geralmente é do tipo alveolar broncopneumônico: múltiplas focos coalescentes de condensações lobulares na região peribrônquica. ➔ PNEUMONIA LOBAR: A presença de broncograma aéreo caracteriza o infiltrado alveolar, pois os alvéolos em volta do brônquio estão preenchidos de exsudato, contrastando com o ar em seu interior. Algumas vezes, podemos ter uma grande área de consolidação alveolar, constituindo a pneumonia lobar. Cerca de 90-95% dos casos dessa pneumonia na comunidade tem o Strepcoccus pneumoniae como causador. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ➔ PADRÃO INTERSTICIAL Infiltrado intersticial seguindo distribuição da trama vascular. Hiporinsuflação. Padrão pode ser encontrado em pneumonias virais e causados por bactérias atípicas. PADRÕES RADIOLÓGICOS SUGESTIVOS DE DETERMINADO AGENTE ETIOLÓGICO • PNEUMONIA LOBAR: quase sempre é causada por pneumococo. • PNEUMONIA DE LOBO PESADO: é um tipo especifico de pneumonia lobar causada pela Klebisiella pneumonieae, geralmente em alcóolatras ou diabéticos • PNEUMATOCELES: formação de cistos com paredes finas, geralmente múltiplos, comuns pela pneumonia por Staphylococcus aureus. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA • PNEUMONIA REDONDA: é uma condensação de formato arredondado (pseudotumor), típica em crianças, quase sempre pelo Streptococcus pneumoniae. • PNEUMONIA NECROSTANTE/ABCESSO: são lesões cavitárias contendo nível hidroaéreo. Pensar em anaeróbios (pneumonia aspirativa); ATÍPICO O grande marco da síndrome da pneumonia “atípica” é a importante dissociação clinico-radiológica encontrada nesses pacientes. Enquanto o exame do aparelho respiratório é totalmente normal ou revela apenas discretos estertores crepitantes ou sibilos, a radiografia de tórax mostra um infiltrado pulmonar maior do que o esperado. O infiltrado pode ser do tipo broncopneumônico (típico das infecções por micoplasma ou clamídia) ou do tipo intersticial reticular ou reticulonodular (típico das viroses). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ 2. USG A ultrassonografia de tórax vem despontando como uma ferramenta de grande valia no departamento de emergência (DE). O que antigamente parecia impossível de ser realizado, hoje em dia se mostra como método bem validado, com alta sensibilidade e especificidade, como demonstrado por uma meta- análise publicada no CHEST em 2017. A USG consegue avaliar e detectar alterações no parênquima pulmonar, bem como consegue identificar possíveis complicações oriundas da PAC, por exemplo o derrame pleura. Em pacientes acamados e gestantes tal exame é recomendado, pois possui uma sensibilidade e especificidade elevada, sobretudo quando é operado por mãos experientes. Existem limitações inerentes ao método, tais como a curva de aprendizado necessária para a realização do exame e o fato de o método ser operador-dependente. ____________________________________________ 3. TC DE TÓRAX A TC de tórax apresenta um alta sensibilidade e especificidade para identificação de patologias pneumológicas. Porém, não podemos esquecer do alto custo do exame e a enorme exposição radioativa que paciente é submetido. Por outro lado, o exame permite identificar achados não visualizados por uma simples radiografia. Desse modo, o uso da TC de tórax aumenta o número de diagnósticos de pneumonia. Vale destacar que é um importante exame para diagnóstico diferencial. ____________________________________________ EXAMES LABORATORIAIS E OUTROS Para a PAC de grau leve, a solicitação de exames laboratoriais não parece trazer benefícios. Na PAC moderada e grave, terão importância: • Hemograma completo: identificação de leucopenia; leucocitose além de plaquetopenia < 100.000 pode significar critério menor de gravidade. A dosagem de ureia sérica acima de 65 mg/d ℓ é um indicador de gravidade; • Gasometria arterial: deve ser realizada se a SpO2 estiver abaixo de 92%, ou se houver suspeita de alguma doença pulmonar crônica ou PAC grave. • PCR e procalcitonina: a dosagem de proteína C reativa pode ser útil como parâmetro objetivo de evolução do processo inflamatório. A redução do nível de PCR indica controle da infecção e auxilia na redução do tempo de antibiótico. Já a procalcitonina é produzida em resposta a presença de toxinas bacterianas, por isso, valores maiores que 0,25 sugerem infecção bacteriana. No idoso com mais de 65 anos, valor da PCR ultrassensível > 61 mg/ℓ é um fator independente associado a aumento do risco de pneumonia. ____________________________________________ PESQUISA DE AGENTE ETIOLÓGICO Em pacientes em que o manejo inicial é ambulatorial não é recomendada a realização de pesquisa de etiologia da pneumonia. É comum que a etiologia da pneumonia não possa ser determinada somente com base na apresentação clínica. Com exceção dos casos de PAC internados em UTIs, não existem dados demonstrando que o tratamento dirigido a um patógeno específico seja estatisticamente superior ao tratamento empírico. Por essa razão, os benefícios da identificação da etiologia microbiana podem ser questionados, principalmente quando se consideram os custos dos exames diagnósticos. Nos pacientes que necessitam de internação, a pesquisa da etiologia da pneumonia pode ser feita com exames como: • Coloração de Gram e cultura do escarro • Hemoculturas • Teste de antígenos urináriose • Sorologia • Ensaios de PCR para Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e vírus respiratórios Algumas razões podem ser citadas para justificar a tentativa de chegar ao diagnóstico etiológico. A identificação de um patógeno inesperado pode restringir o uso do esquema empírico inicial, reduzir pressão seletiva dos antibióticos e diminuir o risco de resistência. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Os patógenos com implicações importantes para a saúde pública, como Mycobacterium tuberculosis e vírus influenza, podem ser identificados em alguns casos. Por fim, sem culturas e testes de sensibilidade, não é possível acompanhar cuidadosamente as tendências da resistência e é mais difícil planejar esquemas terapêuticos empíricos apropriados. Não se deve retardar a instituição da terapia aguardando o diagnóstico etiológico. → Quando há derrame pleural, deve-se puncionar e analisar o líquido. → Em PAC grave, são necessárias hemoculturas (duas amostras) e culturas quantitativas para germes piogênicos por meio de aspirado traqueal ou broncoscopia com lavado broncoalveolar (LBA). → Nos casos graves de PAC, deve ser solicitado também o antígeno urinário para S.pneumoniae e para Legionella sp. → Se houver suspeita clínica ou radiografia de tórax sugestiva de tuberculose pulmonar, a realização de BAAR (pesquisa do bacilo álcoolacidorresistente) no escarro, no aspirado brônquico ou lavado broncoalveolar (LBA) é importante para o diagnóstico diferencial. TRATAMENTO 1. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Um dos pontos-chave no manejo da pneumonia adquirida na comunidade é o uso de ferramentas para avaliação de gravidade. Tais ferramentas predizem a probabilidade de o paciente evoluir para óbito nos próximos 30 dias, ajudar na tomada de decisão com relação a onde aquele paciente vai ser tratado (internação vs. ambulatorial), como também de certa forma orienta a antibioticoterapia.Cerca de 40 a 60% dos pacientes com pneumonia são internados e uma grande parte dessas internações são desnecessárias; e o uso dessas ferramentas pode ser útil na tomada de decisão sobre internação. ESCORE PSI No ano de 1999, foi publicado no JAMA um estudo em que foram avaliados fatores demográficos, comorbidades, alterações laboratoriais e de exame físico que poderiam se correlacionar com maior mortalidade, dando origem ao Pneumonia Severity Index (PSI/PORT), que nada mais é do que um escore preditor de gravidade em PAC composto por 20 itens. ____________________________________________ CURB-65 Em 2003 foram publicados na revista Thorax dados provenientes de três coortes de pacientes com PAC, tendo sido encontradas cinco variáveis que se correlacionavam com a mortalidade em 30 dias, com uma sensibilidade de 77% e especificidade de 69%. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Sendo elas confusão mental, ureia, frequência respiratória, pressão arterial e idade acima de 65 anos. Tais critérios são mais conhecidos como CURB-65, que é uma ferramenta útil na detecção de casos graves. Sugere-se que os pacientes que pontuem 0 (mortalidade de 0,7%) ou 1 (mortalidade de 2,1%) podem ser conduzidos ambulatorialmente, ao passo que ≥ 2 (mortalidade de 9,2%) em regime de internação. Para aqueles que pontuarem 3 (mortalidade de 14,5%) ou mais, deve-se considerar utilizar leito de terapia intensiva, em especial para 4 (mortalidade de 40%) ou 5 (pequeno número de pacientes no estudo original). CRB-65 Um estudo avaliou uma versão simplificada do CURB- 65, o CRB-65, no qual se exclui a ureia para a avaliação final. Nesse caso, o paciente que não pontua (mortalidade de 1,2%) é candidato a tratamento ambulatorial; para aquele que pontua 1 ou 2 (mortalidade de 8,15%) avalia se a internação hospitalar; e aquele com 3 ou 4 pontos (mortalidade de 31%) necessita de hospitalização urgente. Um estudo prospectivo norte-americano com 3.181 pacientes comparou o PSI com o CURB-65 e CURB, evidenciando maior poder discriminatório em termos de mortalidade em 30 dias do primeiro, com acurácia discretamente melhor. A decisão entre os diferentes escores é principalmente do médico assistente do paciente. A decisão de internar o paciente deve levar em consideração, além desses escores, o julgamento clínico do médico. ____________________________________________ INDICAÇÃO DE UTI ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 2. MANEJO TERAPÊUTICO Como o médico raramente conhece a etiologia da PAC antes de iniciar o tratamento, o esquema antibiótico inicial geralmente é empírico e tem como propósito cobrir os patógenos mais prováveis. Em todos os casos, o tratamento inicial deve ser iniciado o mais rapidamente possível. AMBULATORIAL PACIENTES PREVIAMENTE HÍGIDOS E SEM CONDIÇÕES DE RISCO: → B-lactâmico: Amoxicilina 500mg VO de 8/8h por 7 dias ou Amoxicilina + clavulanato 1g de 8/8h por 7 dias. OU → Macrolídeos: Azitromicina 500mg VO 1x dia por 5 dias ou Claritromicina 400mg de 12/12h por 14 dias ................................................................................... PACIENTES COM CORMOBIDADES, DOENÇA MAIS GRAVE OU USO RECENTE DE ATB: → B-lactâmicos: Amoxicilina 500mg VO de 8/8h por 7 dias ou Amoxicilina + clavulanato 1g de 8/8h por 7 dias E → Macrolídeos: Azitromicina 500mg VO 1x dia por 5 dias ou Claritromicina 400mg de 12/12h por 14 dias Quinolonas respiratórias somente se alergia aos betas lactâmicos ou macrolídeos, de 5 a 7 dias. ................................................................................... INTERNAÇÃO HOSPITALAR ENFERMARIA → B-lactâmicos - Cefalosporina de 3ª geração: Cefriaxone 1g EV 12/12h ou cefotaxima 1-2g EV de 8/8h ou Ampicilina-sulbactam + → Macrolídeo: Azitromicina ou Claritromicina por 7-10 dias OU Amoxicilina + clavulanato 1g de 8/8h por 7 dias OU Levofloxacino em monoterapia de 7 a 10 dias. ................................................................................... UTI B-lactâmicos - Cefalosporina de 3ª geração: Cefriaxone 1g EV de 12/12h ou cefotaxima OU Ampicilina + sulbactam 1,5-3g EV de 6/6h + Macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) OU Quinolona respiratória - Levofloxacino 500mg EV 1x dia Tratar por 7 a 14 dias. ____________________________________________ PACIENTES COM RISCO DE PSEUDOMONAS AERUGINOSAS: Cefepime 1g de 8/8h por 14 dias OU Pipeaciclina/Tazobactan 4,5g EV de 6/6h por 14 dias RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA OU Meropenem 1g EV em BI. Associado ou não com: Cipro 500mg EV de 8/8h ou Levofloxacino 750mg EV 1x ao dia. ____________________________________________ PACIENTES COM PNEUMONIA ASPIRATIVA: Clindamicina 600mg EV de 8/8h ou 300mg VO de 6/6h. ____________________________________________ CORTICOIDES A terapia com corticoides sistêmicos tem se mostrado útil em pacientes com choque séptico e insuficiência, ou seja, pacientes graves, “mais inflamados”. PCR > 150 mg/dL. Os corticoides podem atuar como um agente anti- inflamatório para pacientes com pneumonia, mas eles podem suprimir adversamente o sistema imune, o que impede o corpo de lutar contra os agentes patogênicos, resultando em uma infecção grave. 2. ENTENDER A FARMACOLOGIA DOS MEDICAMENTOS UTILIZADOS NO CASO ANTIBIÓTICOS CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO EFEITO SOBRE OS MICRORGANISMOS Os antibióticos antibacterianos podem ser classificados em bacteriostáticos, ou seja, aqueles que suprimem a atividade bacteriana, inibem o crescimento sem provocar a morte imediata (retirada a droga o efeito pode ser reversível), ou em bactericidas, que são os que eliminam as bactérias do organismo humano, causando alterações incompatíveis com a sobrevida bacteriana. Entretanto, sofrer um efeito ou outro é relativo, depende da concentração atingida pela droga no meio da infecção e da sensibilidade do microrganismo a droga. Qualquer antibiótico pode ter um efeito ou outro sobre determinado germe, dependendo da sua concentração. MECANISMOS DE AÇÃO As drogas antimicrobianas exercem o seu mecanismo de ação de várias formas, por exemplo: 1. Interferindo na síntese da parede celular; 2. Alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática; 3. Promovendo alterações na síntese proteica; 4. Inibindo a síntese de ácidos nucleicos; 5. Interferindo na replicação do cromossomo. MACROLÍDEOS Os macrolídeos são um grupo de antimicrobianos com uma estrutura lactona macrocíclica a qual estão ligados um ou mais açúcares desoxi. A eritromicina foi o primeiro desses antimicrobianos a encontrar aplicação clínica como fármaco de primeira escolha e como alternativa às penicilinas em indivíduos que são alérgicos aos antimicrobianos β-lactâmicos. Claritromicina, derivada da eritromicina com adição de um grupamento metil (melhorou a estabilidade ácida e a absorção oral em comparação com esta), e azitromicina (apresentando um anel lactona maior), têm algumas caraterísticas comuns com a eritromicina e outras que a melhoraram. Essas alterações estruturais tornaram os macrolídeos mais novos mais estáveis ao ácido do que a eritromicina, proporcionando melhor absorção oral, tolerância e propriedades farmacocinéticas. MECANISMO DE AÇÃO Os antibióticos macrolídeos são agentes bacteriostáticos, que inibem a síntese de proteínas através de sua ligação às subunidades ribossômicas 50S de microrganismos sensíveis, no local de ligação do cloranfenicol e da clindamicina ou muito próximo dele. Os macrolídeos se ligam irreversivelmente a um local na subunidade 50Sdo ribossomo bacteriano, inibindo, assim, etapas de translocação na síntese de proteínas. Eles também podem interferir em outras etapas, como a transpeptização. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA USO CLÍNICO Os macrolídeos são ativos contra cepas suscetíveis de organismos Gram-positivos, principalmente infecções comuns do trato respiratório, incluindo Streptococcus pneumoniae suscetível à eritromicina, Haemophilus spp, Moraxella catarrhalis. Também são sensíveis a patógenos de pneumonia atípica, incluindo Legionella pneumophila, Chlamydia pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae. Organismos Gram-negativos, como Neisseria sp., Bordetella pertussis, Bartonella henselae e Bartonella quintana, e algumas espécies de Rickettsia, Treponema pallidum e Campylobacter são sensíveis. O Haemophilus influenzae é um pouco menos sensível a eritromicina. Já a azitromicina é mais eficaz in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae, leva a morte mais rápida do patógeno e possui efeito pós-antibiótico mais longo do que a claritromicina. A azitromicina é preferível à claritromicina em pacientes ambulatoriais com pneumonia adquirida na comunidade (PAC) e com comorbidades, como doença pulmonar obstrutiva crônica. GLICOCORTICOIDE METILPREDNISOLONA A prednisolona é um glicocorticoide semelhante ao cortisol, fisiologicamente essa substância pode agir no metabolismo de carboidratos, proteínas, lipídeos, controle hidroeletrolítico, função cardiovascular, musculoesquelético, renal, nervoso e imunológico. Tem efeitos anti-inflamatórios, imunossupressores, antineoplásico e vasoconstritor, agindo principalmente na transcrição gênica, aumentando ou diminuindo. MECANISMOS DE AÇÃO O principal mecanismo de ação anti-inflamatória dos corticoides é o bloqueio duplo da cascata do ácido araquidônico, por meio da indução da lipocortina, que age inibindo a fosfolipase A2 e da inibição das COXs, que possuem papel crucial na mediação da inflamação ao produzir prostaglandinas e prostaciclinas. Também inibem a síntese e liberação de TNF-α, interleucinas de 1 a 8, interferon γ e a ativação de células T por citocinas. Possuem efeito inibidor da função de fibroblastos, com menor produção de colágeno e glicosaminoglicanos e certa redução na cicatrização e reparo. Além disso, agem nas células sanguíneas, reduzindo o número de macrófagos, eosinófilos e linfócitos e suas ações. Aumentam a quantidade de neutrófilos por recrutamento, redistribuindo seu pool, contudo, sem influência significativa na síntese de anticorpos. INDICAÇÕES A Prednisolona tem efeitos diversos, podendo ser utilizada na terapêutica de várias áreas, como disfunções endócrinas para reposição de glicocorticoides, em insuficiências da suprarrenal, ou para distúrbios reumáticos, doenças renais, alérgicas, pulmonares, infecciosas, oculares, cutâneas, gastrointestinais, hepáticas, neoplasias e outros. 3. ELUCIDAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA AS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS VACINA ANTIPNEUMOCÓCICA Indicada em pacientes com 60 anos ou mais, necessitando de dose de reforço cinco anos após, e em situações especiais de alto risco (DAC, doença hepática, doença renal, doença pulmonar crônica, DM, alcoolismo, imunocomprometido). Pessoas que receberam a primeira dose após os 65 anos e/ou que não têm /imunodepressão não necessitam reforço. VACINA ANTI-INFLUENZA (vírus inativado) Todas as pessoas com mais de 60 anos, indivíduos com alto risco (doença cardiovascular, renal, hepática ou pulmonar crônica (incluindo asma), doença metabólica crônica (incluindo diabetes), hemoglobinopatias, gestantes, imunocomprometidos por doença ou medicamento (HIV, pós-transplante), indivíduos com menos de 18 anos em tratamento crônico com aspirina) para complicações da influenza, contatos íntimos de pessoas com alto risco e profissionais de saúde.
Compartilhar