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PROFESSORA Ma. Amanda Malheiros Pereira Teorias da História ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! EXPEDIENTE Coordenador(a) de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Projeto Gráfico e Capa André Morais, Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Matheus Silva de Souza Design Educacional Giovana Vieira Cardoso Curadoria Cleber Rafael Lopes Lisboa Eloá Lamin da Gama Revisão Textual Tatiane Schmitt Costa Fotos Shutterstock NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Cesumar - UniCesumar. U58 Impresso por: Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Núcleo de Educação a Distância. Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Teorias da História / Amanda Malheiros Pereira. - Indaial, SC : Arqué, 2023. 136 p. : il. ISBN papel ISBN digital “Graduação - EaD”. 1. História 2. Historiografia 3. Teorias. 4. Amanda Malheiros Pereira. I. Título. CDD - 909 02511406 Ma. Amanda Malheiros Pereira Sou a professora Amanda, licenciada em 2018 em História pela Universidade Estadual de Maringá. Adquiri meu grau de mestre em História e Historiografia da Educação pela mesma instituição, onde hoje curso também meu douto- rado. Faço parte do Laboratório de Estudos do Império Português (LEIP/UEM) e do Grupo Transformações Sociais e Educação na Antiguidade e Medievalidade (GETSEAM/ UEM). Atualmente, trabalho na Vitru Educação de Marin- gá, como tutora de avaliação de História. Entre as minhas paixões historiográficas, encontram- -se principalmente o medievo ibérico. Possuo imenso interesse pelo estudo dos Espelhos de Príncipes, assim chamados os tratados de ciência política da época medie- val. Os Espelhos constituem espécies de manuais que reu- niam influências clássicas, bíblicas e exemplos de grandes figuras de reis e filósofos da História, para bem formar o príncipe nas artes de governar. Em uma perspectiva de longa duração, o assunto se faz pertinente quando refle- timos sobre a formação de nossos governantes. http://lattes.cnpq.br/5302883013437205 http://lattes.cnpq.br/5302883013437205 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/18537 Você já se perguntou o porquê de um mesmo fato desencadear reações diferentes em nós, seres humanos, de uma mesma época? Ou mesmo, a razão de um mesmo acon- tecimento desencadear reações majoritariamente diferentes entre uma época e outra? Por vezes, em nosso dia a dia, adotamos determinados termos e conceitos sem nos preocuparmos com o real significado das palavras. A História, assim como outros campos dos saberes, possui sua própria linguagem e especificações, que fazem sentido dentro de seus campos de atuação. Como grandes interessados na arte do fazer história, devemos nos debruçar sobre a farta documentação historiográfica, para a análise dos fatos históricos, reunindo um leque cada vez maior de leituras, pensamentos, discussões, escritas, análises, sentimen- tos: temores, esperanças, ironias, raivas, desesperos, daqueles que nos antecederam. Assim, além de encontrar respostas para o tempo presente, fornecemos documentação para aqueles que nos sucederão. Vez ou outra, as nossas fontes são tão diretas, que trazem nossos predecessores para perto de nós: são eles também um de nós. Cada época elenca novos temas, que, no fundo, falam mais de suas próprias inquie- tações e convicções que de tempos memoráveis. A escolha do historiador, enquanto sujeito da história, deve analisar as relações que se dão por meio dos fatos, suas pro- blematizações e seus contextos históricos. São as indagações do cotidiano que provocam o historiador a um retorno ao pas- sado. Os testemunhos e suas transmissões nos ajudam a compreender melhor cada período. Nesse sentido, muda-se o que é escrito de acordo com a visão que se tem: e daí a historiografia – a escrita da História – em suas diversas formas de se mostrar. A Historiografia é um campo controverso e de imensos debates. Isso ocorre, pois cada um de nós possui sua própria subjetividade, e, sendo assim, suas próprias lentes e particularidades na hora de ver e ponderar o mundo. No entanto, devemos ter em mente a diferença entre fato e opinião. TEORIAS DA HISTÓRIA Os nossos círculos sociais são formados por pessoas que selecionamos para con- viver ou nos comunicar, já os círculos digitais estão constituídos por algoritmos cada vez mais inteligentes que nos conhecem, por vezes, melhor do que nós mesmos, à medida que analisam nossos hábitos cotidianamente, criando, dessa forma, realidades projetadas distintas e alternativas. Mentiras, teorias de conspiração, ilusões, falsas narrativas, fake news, cenários presumidos e assim por diante fazem parte do nosso dia a dia. Algumas delas são elaboradas meticulosamente por partidários de alguma ideologia, no intuito de atrair mais adeptos através do jogo sujo da desinformação. Como futuro historiador, faça o exercício de questionar a si mesmo e alguns co- legas e familiares: qual a primeira atitude a ser tomada ao recebermos uma notícia comprometedora? Em seguida, quais os passos a serem tomados? Discuta com seus diferentes círculos sociais. Uma vez realizada a proposta da indagação, é hora de registrar. Anote para melhor desenvolvimento de suas ideias, qual a melhor postura frente a uma informação duvi- dosa. Se possível, aponte quais os métodos sugeridos em suas pesquisas e na discussão de seus amigos para a averiguação de uma notícia. O aumento do acesso à desinformação e à informação de qualquer tipo, sem re- ferência e autoridade (política, acadêmica, cultural ou moral), tem gerado danos na realidade À medida que o tempo avança, o historiador deve ter um olhar cada vez mais cuida- doso com suas fontes, ao passo que é bombardeado incessantemente por informações de todos os círculos que perpassa. A saída é o estímulo ao pensamento e a análise crítica, que deve ser forjada em nos- so país por meio de políticas públicas, universidades, escolas e mesmo no empresaria- do. Somente assim poderemos diminuir as consequências negativas socioeconômicas, políticas e ambientais que têm nos confrontado e que se expandem cada vez mais com a dinâmica perigosa e confusa da comunicação e transmissão de ideias nos dias atuais. Tudo isso deve ser levado em conta quando desempenhamos a ciência da História. Ao lidarmos com perspectivas teóricas e mundividências, temos de ter cuidado para não cairmos em um relativismo traiçoeiro. Acima de tudo, temos de ter o compromisso histórico de contemplar a voz daqueles que muitas vezes são silenciados É preciso reconhecer fragmentos despercebidos, em parte obliterados, e que pro- vocam uma série de indagações para nossa cultura e para nós. A escassez de testemunhos constitui por vezes um obstáculo em nossas investiga- ções, no entanto, é preciso desemaranhar os retalhos para tecer, aos poucos, a escrita da História. Hoje, com uma possibilidade mais ampla de fontes, é possível considerar – com cuidado – registros até então ignorados. Caro(a) aluno(a), O livro que você tem em mãos é destinado ao estudo das Teorias da História. Nele, você aprenderá um pouco mais sobre essa disciplina tão quista por nós, e por muitos ao longo do tempo, digna de conservação e perpetuação. Nas páginas que se seguem, veremos a constituição da História como um campo do saber. A partir daí, aprendere- mos um pouco das principais perspectivas formuladas por historiadores ao longo do tempo, as quais utilizamos como aporte teórico no momento de nossas pesquisas, e também em nossa prática na sala de aula. Toda teoria pressupõe um método, um rigor que ultrapassa as fronteiras da escrita e invade o campo do agir. O intuito de aprendermos as Teorias da História está ligado a nossa prática educacional, termo que abrange tanto um certo tipo de atividade desen- volvida pela geração de profissionais adultos em relação às crianças e aos jovens, como a sua solidificação em instituições, ideias, ou concepções acerca da formação humana. É por isso que, ao adotarmos determinado viés teórico, devemos ter em mente sempre a formação do melhor ser humano possível, que é o cidadão comprometido com o maior bem de todos: o bem comum. Agora é sua vez! Frente às reflexões propostas até aqui, elabore um mapa conceitual com as se- guintes palavras chaves: HISTÓRIA; HISTORIOGRAFIA; TEMPO; TEORIAS; PENSAMENTO CRÍTICO; DESENVOLVIMENTO HUMANO. IMERSÃO RECURSOS DE Ao longo do livro, você será convida- do(a) a refletir, questionar e trans- formar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda, você pode aces- sar conteúdos online que amplia- ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec- nologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien- ce. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur- sos em Realidade Aumentada. Ex- plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera- ção de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi- go, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento, você encontrará di- versas informações que serão apre- sentadas na forma de infográficos, esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con- teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi- dados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discu- tido, de forma mais objetiva. Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 3 4 5 A ESCRITA DA HISTÓRIA 11 A GRANDE NARRATIVA DO MARXISMO 33 57 A ESCOLA DOS ANNALES 77 A ESCRITA DA HISTÓRIA NO BRASIL 97 O ORIENTE E A HISTORIOGRAFIA 1A ESCRITA DA HISTÓRIA Ma. Amanda Malheiros Pereira A escrita da História, ou então, historiografia, não se dá de forma me- ramente natural ou espontânea; ela exige um rigor teórico e metodoló- gico. Nesta Unidade 1, teremos a oportunidade de aprender um pouco mais sobre aspectos conceituais, que dizem respeito ao “fazer Histó- ria”, desde suas origens. Veremos o encadeamento da História como disciplina, a utilização adequada das fontes e o compromisso com a verdade, bem como analisaremos como a leitura de algum fato pode variar as interpretações, de acordo com as cosmovisões, ou seja, como dada teoria é assumida na hora de se construir a pesquisa histórica. UNIDADE 1 12 Sabemos que, graças ao trabalho dos historiadores, é possível resgatar datas, fatos e personagens, que aju- daram a construir o mundo da forma como conhece- mos hoje. Mas, será que qualquer situação prosaica de nossas vidas pode ser considerada História? Um fato é considerado histórico a partir do momento em que ele denomi- na um acontecimento, evento ou fenô- meno de relevância para determinada comunidade, sociedade, nação, ou até mesmo no espectro global, para a humani- dade. Ou seja, estamos falando de escalas di- versas que constituem esse saber. Nessa medida, o resgate de relatos do cotidiano de um desconhecido pode revelar, em tempos futuros, detalhes do momen- to histórico a que pertence, constituindo a memória das vivências de um cotidiano passado, ajudando na compreensão daquela sociedade. Dessa forma, um fato é considerado histórico quando constitui-se em objeto da História, uma vez que ocorre numa deter- minada data e em um determinado lugar, exercendo influência sobre os acontecimentos posteriores. Podemos dizer que as investigações históricas evi- tam que os atos humanos caiam no esquecimento. Nesse sentido, estamos inseridos a todo momento no processo histórico, como por exemplo agora, numa relação de en- sino e aprendizagem. No decorrer das páginas que se seguem, veremos um pouco acerca da ação humana ao longo do tempo, bem como a função do historiador na preservação dessa me- mória, seja individual ou coletiva. Analisaremos como o termo memória está presente ao longo da historiografia, ganhando novos usos, significados e apropriações com o passar dos contextos históricos. 13 Estudaremos um pouco acerca de quando o ser humano se deu conta de que era necessário registrar, ou então produzir vestígios para a posteridade. Reconstruiremos uma espécie de história da História, e ao utilizarmos de fontes e dados, levantarmos hipóteses e apresentarmos possíveis soluções, perceberemos que os historiadores trabalham no sentido de juntar quebra-cabeças por vezes jamais inacabados. Caro(a) aluno(a), a partir das leituras até aqui, te convido a conversar com seus familiares e colegas, a respeito da História de sua cidade. Vale perguntar se, por exemplo, onde você mora, o nome das ruas levam referências a figuras importantes do passado local, conhecendo um pouco mais a respeito dos pioneiros de sua cidade. Além disso, outra experiência enriquecedora constitui-se na visita a monumentos e patrimônios históricos locais, bem como o passeio por museus. Você pode pesquisar na internet, revistas ou jornais, onde se encontram esses pontos turísticos em sua região. Afinal, a partir do contato direto com tudo aquilo que pode ser considerado fonte histórica, é que nos tornamos ainda mais aptos para o desenvolvimento da ciência da História. Pesquisar é conhecer, associar, refletir, compor e significar. Agora é com você! Ao conhecer um pouco mais da história do local onde você vive, anote em seu diário de bordo os locais em que você percorreu ou conheceu por meio de relatos orais. Não se esqueça de contar os detalhes atribuídos, como datas, personagens e eventos. UNICESUMAR UNIDADE 1 14 A História enquanto ciência É certo que temos conhecimento de figuras e inscrições que remontam pe- ríodos pré-históricos, desde monumentos de efeito erguidos por grandes ci- vilizações, como os egípcios e os povos nativos da América, que já possuíam intenção histórica de perpetuação da memória. Além disso, os relatos orais também possibilitaram a construção de um conhecimento. Foi por meio da fala que algumas narrativas atravessaram gerações. Os povos africanos do Saara tinham na oralidade não “apenas um meio de comunicação diária, mas também um meio de preservação da sabedoria dos an- cestrais” (VANSINA, 1982, p. 157). Outro exemplo está nos vikings, termo usado para designar os povos nórdicos que adentraram grandes áreas da Europa entre os séculos VIII e XI, e que, também pela oralidade, marcada por rituais, trans- mitiam seus conhecimentos religiosos e possibilitaram a perpetuação de seus poemas mitológicos (KEYSER, 1854). Além disso, ainda hoje os relatos orais são priorizados em algumas culturas, como na população indígena. Mas, como assegurar que esse conhecimento seja preservado? Afinal, todo relato é História? Foi o político romano Marco Túlio Cícero (106 a.C–43 a.C) que atribuiu a Heródoto (485 a.C–425 a.C) o epíteto de “Pai da História”. Heródoto é assim chamado por ser o primeiro, de que se tem notícia, a produzir uma investigação consciente sobre o passado humano em registros escritos. 15 De acordo com o historiador alemão Leopold Von Ranke (1795–1886), Heró- doto, apesar de não ter vivenciado, tinha fresco na memória a invasão persa na Grécia antiga, as grandes batalhas já haviam sido travadas e vivia-se as suas con- sequências, e foi assim que tivemos a primeira verdadeira história escrita: “ A obra em que ele [Heródoto] reuniu parte das informações obti-das é, ela mesma, um acontecimento na história daquele século. No espírito de Heródoto, refletem-se as singularidades das nações. Por toda parte procurou, sobre o país e sobre o povo, as informações que, em sua obra, se deixam distinguir umas das outras. As notícias etnográficas que a ele são devidas são já, por si mesmas, de alto valor; recebem uma dupla importância devido ao elemento histórico com que foram entrelaçadas em uma totalidade (RANKE, 2011, p. 253). Descrição da Imagem: A figura apresenta uma escultura que representa o historiador grego Heródoto de Halicarnasso. O pensador aparece sentado sobre um suporte quadrado com alguns detalhes, com o cotovelo direito em uma das pernas, debruçado sobre uma das mãos e com um pergaminho sobre o colo. A escultura aparece em primeiro plano na cor bege e, ao fundo, há uma construção com janelas da mesma tonalidade; ambas estão localizadas na cidade de Viena, capital da Áustria. Figura 1- Estátua de Heródoto de Halicarnasso / Fonte: Wikipédia (2009, on-line). UNICESUMAR UNIDADE 1 16 Podemos afirmar, dessa forma, que temos nos gregos a primeira preocupação efetiva em escrever sobre o passado de forma cuidadosa, visando separar mitos e relatos orais de forma a aproveitar a profundidade de algo concreto e substancial a respeito do passado. Esse método, desenvolvido na Grécia clássica, implicava a escrita da história numa busca de concretude dos acontecimentos. Escrevia-se agora com enfoque sobre os homens, e não nas divindades mitológicas. De qualquer forma, Heródoto foi apenas o início de um longo caminho a ser percorrido no vasto e constante percurso da História. Agora, adentraremos no que se constitui como tema indispensável para as chamadas Teorias da História: o surgimento da História como ciência e disciplina moderna. Ao percorrermos algumas etapas até aqui, é certo dizer que o campo da Histó- ria diz respeito ao estudo das ações humanas ao longo do tempo. Mas, como isso se deu? Afinal, a História em si própria, quando foi que constituiu-se em ciência? Os séculos XVI e XVII posicionaram a História num descrédito intelectual generalizado, sendo relegada ao estatuto de “curiosidade”, o mais distante possível da produção de um conhecimento. Tal colocação é herdada devido ao período medieval, quando a constituição desse campo se dava atrelada de forma inevi- tável à religião. Com o eclodir dos Estados Modernos, a crise do ceticismo da era moderna e as investidas da nova ciência e da filosofia mecânica, à História reservou-se um mar de incertezas. No século XVIII, com o advento do Iluminismo e uma sequência de marcos, como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, experimentamos uma série de transformações na nossa forma de perceber o homem e o mundo, propiciadora de novas concepções e conceitos, como a importância da liberdade, do intelecto e o cientificismo. E com a História, não foi diferente. O século XIX traz consigo um apelo importante ao caráter científico do co- nhecimento, e é preciso se encaixar para obtenção de triunfos. Vale lembrar que, toda ciência, pressupõe um rigor metodológico, respaldado em critérios lógicos. Voltaire, com suas análises e interpretações de teorias newtonianas e carte- sianas, terá um destaque especial no âmbito desse descolamento da História para a constituição como disciplina, emancipada de outras ciências, as quais visam à análise do homem no tempo. 17 A partir daí, o século XIX travará uma disputa entre França e Prússia para o estabelecimento do campo conceitual da História. A França, nesse perío- do, era um país já constituído politicamente e unificado em seus territórios geográficos. Lá, os historiadores possuíam amplas liberdades. Já a Prússia, hoje região da Alemanha, apesar de representar uma grande potência econômica da época, não estava plenamente estabelecida e busca- va a constituição de uma identidade nacional. Houve então um movimento de construção dessa identidade, investindo-se no desenvolvimento das ciências humanas. Em Berlim, temos o surgimento de um discurso flexível de uma corrente histórica denominada pelo historicismo, caracterizado por uma hermenêuti- ca do sujeito, na qual visa-se a possibilidade de uma escrita da História mais subjetiva, dada as particularidades daquele que a faz, colocando em xeque a rigidez que pressupõe um método. Leopold Von Ranke (1795–1886), per- tenceu a essa escola, mas elaborou seu próprio método, fundando a Escola Histórica Alemã. A identidade teórica de Ranke visa uma crítica documental amparada pelo positivismo de Auguste Comte (1798–1857). Você conhece a corrente de pensamento denominada Positivismo? O termo “positivismo” surgiu na Europa, mais precisamente na França, e foi cunhado como conceito, pela primeira vez, para referir-se ao cientificismo enquanto método, pelo filósofo Claude-Henri de Rouvroy (1760–1825). No entanto, foi seu discípulo Auguste Comte (1798–1857) quem apropriou-se do termo para dar nome a sua corrente filosófica, o positivismo. A obra fundamental de Comte denomina-se Curso de Filosofia Positiva, redigida entre os anos 1830 e 1842, e trata dos escritos que referenciam o método positivista. O autor é conhecido por ter criado a disci- plina de Sociologia. No quesito historiográfico, a corrente positivista influenciará a História dos “grandes fei- tos” e “grandes personagens”, ou seja, amparada numa valorização de nação e priorização do método e do registro documental político, a atenção é dada para as figuras considera- das relevantes por sua importância geralmente política ou econômica, a quem responsa- biliza-se o desdobrar de grandes eventos históricos rumo ao desenvolvimento. EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR UNIDADE 1 18 Descrição da Imagem: A figura apresenta o filósofo francês Auguste Comte em gravura, senhor na faixa etária de 60 anos, com cabelos e olhos castanhos, de expressão séria e já um pouco calvo, utiliza roupa social escura. Figura 2: Auguste Comte / Fonte: Wikipédia (2013, on-line). Ao apropriar-se do método de Comte para a escrita da História, Ranke propõe uma metodologia rigorosa e científica do fazer história, a qual prioriza o registro dos grandes eventos políticos, acompanhados de grandes personagens. As fontes constituem-se em documentos oficiais, e a perspectiva da História aparece como linear e desenvolvimentista, rumo ao progresso. Nessa visão de mundo, o homem é colocado como subdesenvolvido em tempos passados, atingindo seu ápice na Era das Revoluções. A evolução pessoal acompanha o campo do social, econômico e político, no qual progride-se num tempo crono- lógico. Assim, a História torna-se uma disciplina emancipada das demais ciências. 19 Na França, o historicismo de Ranke ficaria conhecido como Escola Metó- dica, e no caso do Brasil, a influência do positivismo se deu na organização da sociedade republicana, ainda no século XIX, propiciando o culto ao cientificismo, desafiando a autoridade da Igreja Católica. O eclodir dessa corrente filosófica per- mitiu ainda a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em outubro de 1838, tendo como desígnio a instituição de um órgão, que objetivava a pensar a constituição do Brasil como uma nação. Você já se perguntou o significado da frase “ordem e progresso” em nossa bandeira nacional? Essas palavras possuem conotação positivista, visto que representam os ideais dessa cor- rente de pensamento. O pensamento de Auguste Comte (1798–1857) contribuiu para a Proclamação da República no Brasil - também referida como Golpe de Estado - no ano de 1889, e serviu de inspiração para a elaboração da bandeira. PENSANDO JUNTOS Descrição da Imagem: A figura consiste na imagem da bandeira brasileira. Um retângulo de fundo verde, com um losango amarelo ao centro e no meio, um círculo preenchido de azul. Dentro do círculo, estão 27 estrelas em branco, que representam os estados brasileiros e o distrito federal. Ainda dentro do círculo, consta a faixa com os dizeres de inspiração positivista: “ordem e progresso”. Figura 3: Bandeira brasileira UNICESUMAR UNIDADE 1 20 Caro(a) leitor(a), vimos até o momento um retrospecto do surgimento da escrita da História e sua constituição como ciência, influenciada pela perspectiva dos tempos modernos. Adiante, veremos de forma mais detalhada quais as fontes possíveis para a elaboração desse saber. As fontes históricas Mas afinal, existe uma única forma de se fazer História? Você deve ter percebido que com o método instituído a partir de Ranke, am- parado pela Escola Positivista, privilegiou-se a história baseada em documentos oficiais. Isso implica que a História foi escrita a partir da perspectiva dos vencedo- res, estabelecendo os grandes personagens, ou heróis, como únicos responsáveis pelo eclodir de grandes eventos. Essa perspectiva descaracteriza o papel da sociedade e dos indivíduos que a compõem. No plano do real, sabemos a importância que todos temos na composi- ção de movimentos históricos, fazendo parte e atuando de forma direta ou indireta. Além disso, os testemunhos que se recolhem para a redação da História devem ser verídicos e não partidários. Quando se coloca em primeiro plano a história dos ven- cedores, isso se torna controverso, pois a palavra final que conta é a da autoridade. 21 Dito isso, é preciso considerar diversos materiais na hora de se comprometer com o passado. E mais ainda, questionar-se em três pontos básicos ao confron- tar-se com o documento: quem escreve? Para quem escreve? E quando escreve? Ou seja, qual a intencionalidade do autor, o público que ele almeja atingir e em qual contexto redigiu-se tal fonte. Assim, podemos classificar a pesquisa histórica como um processo nunca pronto ou acabado. Estabelecem-se os critérios e a partir de muitos debates e estudos chega-se a consensos na historiografia, no entanto, a todo momento, a descoberta de novos documentos podem agregar e enriquecer ainda mais deta- lhadamente nossa pesquisa. Um dos grandes responsáveis por essa virada no fazer História, ao considerar e valorizar as diversas fontes possíveis, foi o historiador francês Marc Bloch (1886–1944), que, junto com Lucien Febvre (1878–1956), fundou a Escola dos Annales. Bloch inaugurou o que chamamos de “História problema”. Para o autor, o passado não era objeto da História e sim as indagações do presente, que movimentam o historiador nesse movimento de ir ao passado, investigar e compor uma espécie de quebra-cabeça, por meio de um método regressivo que na ida ao passado, delimitada por temas do presente, possibilita esse resgate (BLOCH, 2001, p. 5). De acordo com Febvre, a “História era filha de seu tempo”, o que demonstrou a intenção do grupo dos Annales em problematizar o próprio “fazer histórico” e sua capacidade de observação. Tal postura crítica estendeu-se também à análise dos documentos. Ao contrário da versão positivista de então, na visão dos Annales, a fonte não era mais considerada como um documento imaculado, inalterável, com fim em si mesmo. Assim, o passado não era mais rígido, e sim passível de modificação. De acordo com Bloch, “mesmo o mais claro e complacente dos do- cumentos não fala senão quando se sabe interrogá-lo. É a pergunta que fazemos que condiciona a análise e, no limite, eleva ou diminui a importância de um texto retirado de um momento afastado” (BLOCH, 2001, p. 8). UNICESUMAR UNIDADE 1 22 Ainda de acordo com o autor, “o fato histórico não é um fato positivo, mas o produto de uma construção ativa de sua parte para transformar a fonte em documento e, em seguida, constituir esses documentos, esses fatos históricos, em problema” (BLOCH, 2001, p. 17). Outra contribuição importante dos Annales no que diz respeito ao uso das fontes, foi a ampliação da visão da História como uma disciplina interdisciplinar, ou seja, ativa na comunicação com outras matérias, como a geografia, sociologia, filosofia, demais ciências humanas, e por que não, exatas. Afinal, a arte do “fazer História” nos permite diversas técnicas e maneiras de pesquisa, uma vez que a pesquisa bibliográfica é privilegiada. Há também outras maneiras de se fazer pesquisa histórica, como a utilização de gráficos e números, ao que chamamos de enfoque qualitativo. No campo da educação, por exemplo, os índices de de- senvolvimento, entre outros dados numéricos, nos possibilitam debruçar em temas de orçamentos governamentais e com o auxílio de outras fontes, investigar a qualidade educacional de nosso país. É certo dizer que a perspectiva dos Annales nos deu abertura para pensarmos nas diversas possibilidades de fontes históricas. É a partir de então que não mais apenas os documentos oficiais podem ser utilizados para a análise e composição do saber histórico, como também fotografias, textos literários, filmes - ao de- monstrar o contexto que se narra de uma obra, por exemplo -, músicas, e é claro, fontes não oficiais. Utiliza-se muitas vezes a favor de uma criação, ou então de uma crítica, expondo a visão que se construiu de algo, contraposta com o fato em si. De acordo com o historiador José D’Assunção Barros: “ Fonte Histórica é tudo aquilo que, por ter sido produzido pelos seres humanos ou por trazer vestígios de suas ações e interferência, pode nos proporcionar um acesso significativo à compreensão do passado humano e de seus desdobramentos no presente. As fontes históricas são as marcas da história. Quando um indivíduo escreve um texto, ou retorce um galho de árvore de modo a que este sirva de sinalização aos caminhantes em certa trilha; quando um povo constrói seus instru- mentos e utensílios, mas também nos momentos em que modifica a paisagem e o meio ambiente à sua volta – em todos estes momentos, e em muitos outros, os homens e mulheres deixam vestígios, resíduos ou registros de suas ações no mundo social e natural (BARROS, 2019, p. 1). 23 Assim, podemos assumir que os vestígios dos mais simples aos mais com- plexos, constituem o aparato do saber histórico. Ainda, os grandes fatores naturais, mesmo sem a interferência humana, podem contribuir como acervo para a elaboração de uma história. O compromisso do historiador Cada época elenca no- vos temas que, no fun- do, falam mais de suas próprias inquietações e convicções que de tem- pos memoráveis. Dito isso, é preciso ter em mente que a escolha do historiador, apesar de atrelada à sua visão de mundo, deve ter acima de tudo o compromis- so com as evidências. Pretendemos também uma compreensão das mudanças e permanências nos períodos estudados, bem como o desenvolvimento de conceitos e alterações na sociedade que influem na formação dos indivíduos. As Teorias da História pressupõem diferentes abordagens acerca dos fatos histo- riográficos, compondo diferentes narrativas. Ao longo de nosso livro, iremos analisar o debate das correntes teóricas historiográficas, bem como as opções metodológicas derivadas, em nível global e no Brasil. Mas, antes disso, devemos nos perguntar: qual é a função do historiador frente às diversas teorias que se pode assumir da História? Trabalhar com o passado ao compor uma narrativa histórica exige, para além do rigor metodológico, o compromisso, acima de tudo, com a verdade. Independen- temente do ponto de vista que se assume, deve estar no horizonte do historiador a tão almejada imparcialidade dos fatos. A memória é o fundamental nesse processo, que permeia o campo do individual e do coletivo. UNICESUMAR UNIDADE 1 24 Como indivíduos diferentes e com variadas vivências, nossa percepção de mundo também se compõe de maneira diversa. Isso ocorre em escala particu- lar e também em contexto coletivo, de pequenos grupos, sociedades, e contex- tos que atravessam a História, e é por isso que, ao longo do tempo, surgiram diferentes teorias que se aplicam na composição historiográfica. Mas, mesmo assumindo tais divergências, é necessário um compromisso com a ética social, ou seja, um espírito de pesquisador que esteja consciente com o significado e impacto da construção dos saberes que se dão na tessitura da História. Os “erros” do historiador podem estar ligados à forma como lidamos como sociedade com o passado, à memória e às funções que a História, no campo da disciplina curricular, e a historiografia empreendem. Memória e historio- grafia são categorias distintas. De acordo com Barroncas, “se existem diferen- ças, também existem elementos convergentes, como a seleção, finalismo, o presentismo, as verossimilhanças e a representação” (BARRONCAS, 2012, p. 128). Vale ressaltar também que a historiografia, mesmo não se confundindo com a memória, a produz. Constitui-se assim, a historiografia, como arma importante contra o esquecimento e até mesmo, quando usada de maneira equivocada, em prol dele. Para o historiador Carlo Ginzburg, “hoje acrescentaríamos que as ações humanas podem, contudo, influir poderosamente sobre a memória do passa- do, distorcendo seus vestígios, degredando-a ao esquecimento, condenando-a à destruição” (GINZBURG, 2002, p. 216). Devemos estar atentos, dessa forma, para que nossos deslizes historiográficos não abusem da memória, cumprindo seu papel social de formação das recordações e dos esquecimentos coletivos e individuais, mas sempre atentando-se à verdade dos fatos. O historiador deve ter compromisso com verdades concretas, sendo res- ponsável por compor as versões comumente aceitas baseadas em análises rigorosas, que entrarão para a História. Dessa forma, não se deve ocultar ou manipular os vestígios das fontes históricas só porque elas contradizem algum estudo ou hipótese. Mais do que adulterar, isolar ou restringir-se à uma ques- tão sem considerar outras, desqualifica os argumentos. A memória resgatada deve ser uma justa memória. No momento em que proclama o estudo do passado como sua área de especialidade, o historiador coloca-se no campo do domínio dos conhecimentos da disciplina, representando certo grau de autonomia e responsabilidade: 25 “ Ao elaborar uma escrita sobre o passado, o historiador serve-se de uma série de ferramentas teóricas e metodológicas criteriosamente reconhecidas pela academia e com um forte viés científico. O his- toriador não possui o monopólio na elaboração do conhecimento sobre o passado, mas com certeza atribui-se a ele um elevado status de autoridade. Essa autoridade, logo, deve ser administrada de maneira consciente, responsável e ética, pois o lugar último de uma historio- grafia é o público. Nunca se atua com memórias alheias de maneira completamente impune: o público, especializado ou não, pode querer resguardar, reivindicar ou criticar a maneira como as memórias são trabalhadas e apresentadas (BARRONCAS, 2012, p. 135). Sabemos que tais dificuldades apresentadas se tornam ainda mais vívidas quan- do estamos lidando com uma História do tempo presente, a qual estamos li- gados. É difícil, por vezes, nos desvincularmos daquilo a que pertencemos e vivenciamos cotidianamente. Mas, independentemente do tempo histórico que se estuda, ao fazer História, devemos ter em mente seus pressupostos, e o seu fio condutor indispensável deve ser a veracidade. Fontes históricas: por onde começar? Vimos ao longo da unidade a constituição da História como ciência, o que pressupõe um método. Dito isso, as possibili- dades que esse método pode abarcar são incalculáveis. Neste podcast, você conhecerá, em linhas gerais, um pouco mais a respeito do estudo das fontes pré-históricas, as pinturas rupestres, além da vastidão de possibilidades proporcionadas pela civilização egípcia, como hieróglifos, textos de encantamento, rituais funerários e até mesmo as múmias e todo o processo que envolve a mumificação. NOVAS DESCOBERTAS O link consiste em um documentário da web que mostra um pouco da vida de Anne Frank. É interessante a reflexão, para mostrar como a vida de uma adolescente comum pode ajudar os historiadores a cons- tituírem, por meio de seus relatos, a memória de um passado. Isso foi possível graças ao diário de Anne Frank, que não consistia em nenhum documento oficial. Caso a visão positivista da história não fosse superada, a recuperação dessa memória para a pesquisa histórica não seria possível. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17663 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14509 UNIDADE 1 26 NOVAS DESCOBERTAS Título: Apologia da História: ou o ofício do historiador Autor: Marc Bloch Editora: Zahar Sinopse: Fuzilado pelos nazistas em 16 de junho de 1944 próximo a Lyon, Marc Bloch deixava inacabado um livro de metodologia, Apolo- gia da História - publicado pela primeira vez, em 1949, por Lucien Febvre. Essa nova edição da obra póstuma de Marc Bloch, organizada e anotada por seu filho primo- gênito Étienne, apresenta o texto em sua integralidade e sem modificação alguma. Inclui também o prefácio de Jacques Le Goff à edição francesa e uma apresentação à edição brasileira, feita pela professora Lilia Moritz Schwarcz. Como ponto de partida, Bloch aproveita a interrogação de um filho que lhe pergunta para que serve a Histó- ria. Essa confidência familiar já revela de saída o cerne de uma de suas convicções: a obrigação de o historiador difundir e esclarecer. Ele deve, nas palavras do autor, “saber falar, no mesmo tom, aos doutos e aos estudantes”. Um livro que permanece hoje em dia – quando o jargão hermético invadiu tantos livros de história – de uma atualidade espantosa. “Este livro inacabado é um ato completo de história.” NOVAS DESCOBERTAS Título: O Pianista Ano: 2003 Sinopse: O pianista polonês Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody) interpre- tava peças clássicas em uma rádio de Varsóvia quando as primeiras bom- bas caíram sobre a cidade, em 1939. Com a invasão alemã e o início da 2ª Guerra Mundial, começaram também restrições aos judeus poloneses pelos nazistas. Inspi- rado nas memórias do pianista, o filme mostra o surgimento do Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus em algumas áreas, e acompanha a perseguição que levou à captura e envio da família de Szpilman para os campos de con- centração. Wladyslaw é o único que consegue fugir e é obrigado a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade, até que o pesadelo da guerra acabe. 27 Com a leitura desta primeira unidade, vimos que é possível mais de uma interpre- tação acerca de um fato. Então, devemos nos perguntar: mudam-se as gerações, muda-se também o consenso que se tem acerca de algum fato? É preciso ter em mente que, como toda a ciência, a História necessita de uma experimentação. É na composição de fontes e argumentos que se tece a narrati- va histórica em busca da verdade, e as teorias nesse campo tornam-se válidas de acordo com a força e impacto que assumem sobre uma sociedade, por meio do convencimento que se obtém dado à veracidade com que se comprovam as teses. Além disso, o campo do debate propicia avanços qualitativos. Quando observamos o mundo somente por um viés, dificilmente conseguire- mos explicar de maneira qualificada o todo que ele abarca. Por isso, teorias histó- ricas compromissadas com um estudo minucioso e análise das fontes têm maior sucesso em sua veracidade. Ao trazer isso para a prática de nosso dia a dia, podemos nos relacionar de maneira mais assertiva ao nos depararmos com uma notícia, sabendo classificá-la ou não nas tão constantes fake news, ou então, informações falsas. O manuseio adequado das fontes, bem como uma investigação apurada dos fatos, ouvindo todas as partes, nos dá uma visão clara acerca de notícias que muitas vezes estão expostas com intenções sensacionalistas e camufladas por meio de falácias. Além disso, em nossos tempos atuais, em que a informação atravessa de maneira rápida e abrangen- te os meios de comunicação, a verdade é manipulada para favorecer um discurso em detrimento do favorecimento dos interesses de um determinado grupo. No âmbito profissional, é fundamental que um pesquisador tenha essa distinção de afastar-se do senso comum para compreender verdadeiramente os fatos. Mais que isso, além do comprometimento da pesquisa, há também a responsabilidade do professor em sala de aula, em comprometer-se para que seus alunos saibam a importância de disseminar apenas fatos embasados em conhecimento averiguado, não prejudicando assim a percepção dos demais membros da sociedade. A educa- ção e a História devem ser referenciais criteriosos de parâmetros fundamentados e comprometidos com o bem comum da sociedade. UNICESUMAR 28 1. Os povos africanos do Saara tinham na oralidade não “apenas um meio de comu- nicação diária, mas também um meio de preservação da sabedoria dos ancestrais” (VANSINA, 1982, p. 157). Qual outro exemplo podemos citar que também utilizava o relato oral como forma de perpetuar sua cultura? Assinale a alternativa correta: a) Povos vikings; b) Povos da Revolução Industrial; c) Povos da Revolução Francesa; d) Povos da Revolução Gloriosa; e) Povos da Era Moderna. 2. Sabemos que, graças ao trabalho dos historiadores, é possível resgatar datas, fatos e personagens que ajudaram a construir o mundo da forma como conhecemos hoje. Com base nessa afirmação, analise as asserções abaixo: Um fato é considerado histórico a partir do momento em que ele denomina um acontecimento, evento ou fenômeno, que teve relevância para determinada comu- nidade, sociedade, nação, ou até mesmo no espectro global, para a humanidade. PORQUE: Estamos falando em escalas diversas que constituem esse saber. Nessa medida, o resgate de relatos do cotidiano de um desconhecido pode revelar, em tempos fu- turos, detalhes do momento histórico a que pertence, constituindo a memória das vivências de um cotidiano passado, ajudando na compreensão daquela sociedade. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são proposições falsas. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. 29 3. De acordo com o historiador alemão Leopold Von Ranke (1795–1886), Heródoto, apesar de não ter vivenciado, tinha fresco na memória a invasão persa na Grécia an- tiga, as grandes batalhas já haviam sido travadas e vivia-se as suas consequências, e foi assim que tivemos a primeira verdadeira história escrita. Sobre Heródoto, analise as afirmativas e depois assinale a alternativa correta. I - Heródoto recebeu a alcunha de “Pai da História” por Marco Túlio Cícero, político romano. II - Heródoto foi um historiador que priorizou a leitura da História por meio da luta de classes. III - Heródoto entrou para a História como o primeiro, de que se tem notícia, a pro- duzir registros escritos conscientes acerca do passado humano. IV - Heródoto é contemporâneo do historiador Leopold Von Ranke, com o qual com- partilhou suas teses. Assinale a alternativa correta: a) Estão corretas as afirmativas I e III, apenas. b) Estão corretas as afirmativas II e III, apenas. c) Estão corretas as afirmativas I e IV, apenas. d) Estão corretas as afirmativas II e IV, apenas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 4. Podemos classificar a pesquisa histórica como um processo nunca pronto ou aca- bado. Estabelecem-se os critérios e a partir de muitos debates e estudos chega-se a consensos na historiografia, no entanto, a todo momento, a descoberta de novos documentos podem agregar e enriquecer, com ainda mais detalhes, nossa pesquisa. Sobre as concepções de fonte histórica, analise as afirmativas e assinale (V) para verdadeiro ou (F) para falso: ( ) Marc Bloch foi um dos responsáveis por considerar diversas fontes históricas possíveis. ( ) Leopold Von Ranke foi um dos responsáveis por considerar diversas fontes his- tóricas possíveis. ( ) Para a Escola dos Annales, a fonte não era algo imaculado e rígido. ( ) Para os positivistas, a fonte não era algo imaculado e rígido. ( ) Heródoto foi considerado o primeiro a utilizar os filmes como fontes históricas. 30 Assinale a alternativa que contém a sequência correta: a) V-F-V-F-F; b) V-V-V-V-V; c) F-F-F-F-F; d) V-F-F-F-F; e) V-F-F-V-F. 5. Para o historiador Carlo Ginzburg, “hoje acrescentaríamos que as ações humanas podem, contudo, influir poderosamente sobre a memória do passado, distorcendo seus vestígios, degredando-a ao esquecimento, condenando-a à destruição” (GINZ- BURG, 2002, p. 216). Com base nessa afirmação, analise as alternativas e assinale a correta: a) Devemos estar atentos para que nossos interesses particulares se sobressaiam ao fazer História. b) O historiador deve ter compromisso com a veracidade das memórias estudadas. c) O historiador deve privilegiar fontes que confirmam sua hipótese, abstendo-se das demais. d) O historiador deve ter compromisso apenas com os fatos que confirmam suas teorias. e) A memória resgatada pelo historiador é aquela que convém melhor em sua pesquisa. 6. Quando observamos o mundo somente por um viés, dificilmente conseguiremos explicar de maneira qualificada o todo que ele abarca. Por isso, teorias históricas compromissadas com um estudo minucioso e análise das fontes têm maior sucesso em sua veracidade. Assinale a alternativa correta: a) Não é necessário verificar a fonte de uma informação para constatá-la como verdadeira ou falsa. b) Nos tempos atuais, já temos quem nos dê a veracidade dos fatos pronta e anali- sada, não sendo necessário que investiguemos. c) A História não é um referencial criterioso para construção de uma análise. d) A verdade, muitas vezes, é manipulada para favorecer os interesses de um de- terminado grupo. e) Nos tempos atuais, as fake news são um tema superado. 31 7. O historiador deve ter compromisso com verdades concretas, sendo responsável por compor as versões comumente aceitas baseadas em análises rigorosas, que entrarão para a História. Dessa forma, não se deve ocultar ou manipular os vestígios das fontes históricas só porque elas contradizem algum estudo ou hipótese. Com base nessa afirmação, analise as asserções abaixo: Mais do que adulterar, o historiador deve isolar ou restringir-se a uma questão sem considerar outras, qualificando seus argumentos. PORQUE: No momento em que proclama o estudo do passado como sua área de especialida- de, o historiador deve silenciar as memórias opostas à sua hipótese. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são proposições falsas. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. 2A Grande Narrativa do Marxismo Ma. Amanda Malheiros Pereira Caro(a) aluno(a), sabemos que a História é a ciência que estuda o passado da humanidade e suas implicações com o presente. Ao fazer isso, procura-se interpretar cientificamente os acontecimentos que de alguma forma contribuíram para o aperfeiçoamento das condi- ções do ser humano. Dessa forma, a História se preocupa com as manifestações da atividade humana no tempo presente. Nas páginas que se seguem, você verá que uma teoria pode fornecer um caminho claro para compreender e analisar os fenômenos que acontecem na sociedade. Nesta unidade, analisaremos especificamente de que for- ma o marxismo pode ser aplicado em nossos estudos, onde culturas inteiras podem ser vistas sobre sua ótica, bem como estudo de textos, sociedades e demais relações históricas. UNIDADE 2 34 O marxismo é uma teoria que sempre pretendeu ser de abordagem universal, passível de tecer comen- tários a respeito de todos os tempos e lugares. Mas, como chegamos a essa situação, em que a teoria exerce uma função crítica? Foi por volta do sécu- lo XVIII, com a Era das Revoluções, que experi- mentamos uma série de transformações na nossa forma de perceber o homem e o mundo, propiciadoras de divisões mais específicas em nossa sociedade. Marcos como a Revolução In- dustrial, a Revolução Francesa e o advento do marxismo e do iluminismo nos trouxeram uma nova concepção de ser humano, e com ela, novos conceitos. A criança passou a existir com especificidades próprias, necessitada de atenções especiais. Ao papel da mulher, destinou-se o setor da vida privada, e à Igreja, coube preparar a classe mais pobre para que se atentasse ao trabalho, comba- tendo seus possíveis escapes e vícios. Além disso, os países viram-se obrigados a voltar seu olhar para a criação de sistemas educacionais, propagando um modelo tradicional de educação. Sendo então fruto desse contexto, o marxismo surge analisando todos os fenômenos em termos da teoria dialética materialista, com objetivos metodoló- gicos que buscam fornecer ao homem ferramentas teóricas para que ele se torne consciente do mundo ao seu redor, sendo capaz de alterá-lo. O ser humano, ao entrar em contato com a natureza, transforma-a por meio de seu trabalho, criando um novo mundo, diferente daquele natural. Sabemos que este mundo, como conhecemos, é constituído de ferramentas, roupas, casas, prédios, móveis, plantações, equipamentos para a produção de alimentos, meios de transporte, pontes, estradas, entre outros desse gênero que constitui a cultura material. Sabemos também que nossa cultura é abastecida por um gênero não palpável ou, então, não-material, como os costumes, as crenças, os idiomas, os valores morais, as leis etc. 35 Ao fazermos a História, desenvolvemos nosso interesse por melhores condi- ções de vida, aprimorando nosso modo de pensar, agir, lutar, trabalhar, produzir, adaptar, construir e transformar, alterando nossa cultura. É preciso que saiba- mos como foram as realizações de nossos antepassados, sejam elas materiais ou intelectuais, para que, como pretendia o marxismo, participemos ativamente da construção da História, que continua sendo feita todos os dias. Ao longo desta unidade, aprenderemos os principais objetivos dessa escola teórica que é o marxismo e alguns conceitos chaves para sua compreensão, como ideologia, alienação, consciência, materialismo dialético, luta de classes, infraes- trutura e superestrutura. Com o advento da Revolução Industrial e a divisão do trabalho, uma das contribuições do pensamento marxista para nossa sociedade está ligada aos di- reitos trabalhistas. Pesquise na internet, livros, filmes, revistas, jornais ou outros meios de co- municação (lembre-se de, como historiador, verificar a autenticidade da fonte) algumas das conquistas trabalhistas adquiridas no Brasil após a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. A partir da experiência proposta, é possível perceber que muitas vezes aquilo que consideramos como normal ou natural, foi fruto de muita luta e reivindicação por melhores condições de vida. Daí a importância de nos tornarmos sujeitos ativos e críticos no processo da História. Nesse espaço de anotações, você deve listar quais melhorias trabalhistas você considera viável para os próximos rumos da História, pensando em sua futura atuação na área educacional. Por exemplo, programas sociais que viabilizem a formação e atuação do ensino-aprendizagem do professor, ou até mesmo em relação a questões salariais e férias. UNICESUMAR UNIDADE 2 36 É possível dizer que a fonte primeira do materialismo dialético marxista se funda na filosofia idealista do filósofo germânico Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 - 1831). Descrição da Imagem: a figura apresenta uma pintura do filósofo germânico Georg Wilhelm Friedrich Hegel, já idoso, de cabelos brancos e lisos, pele e olhos claros, com expressão séria. Está usando um casaco marrom e colarinho branco. Figura 1: Georg Wilhelm Friedrich Hegel / Fonte: Wikipedia (1831, on-line). 37 Hegel enriqueceu a teoria idealista com um conceito crucial, a alienação, que relacio- na lógica e História. Em lógica, o termo especifica a contradição latente em todo ato do pensamento, o que significa que uma ideia, de forma inevitável, atina uma ideia oposta. Foi por meio da consciência que Hegel objetivou resolver essa contradição. Desse modo, a consciência encaminha-se historicamente para uma grande síntese de progresso e constante realização de suas próprias capacidades e habilidades. De acordo com os pesquisadores Stuart Sim e Borin Van Loon, nesse modelo, a alienação é dialética, ou seja, a inadequação de um modo de consciência se transforma em outro, e assim de maneira sucessiva, até chegar a uma ciência apro- priada. Além disso, a “alienação é um processo pelo qual a mente – assim como a consciência de um tema (tese) – torna-se um objeto do pensar em si (antítese). Desse modo, a mente humana progride constantemente para o próximo estágio mais elevado de síntese e autoconsciência” (SIM; LOON, 2013, p. 17). Hegel possui uma visão progressista da História, em que o espírito trilha sua jornada no mundo, percorrendo uma série de estágios até chegar em sua capacidade máxima. Para Hegel, o objeto da História seria a realização do conhecimento absoluto. Marx e Engels Se a dialética de Hegel era idealista, Marx e Engels deram a ela um funda- mento material. Ao substituírem a alienação da mente que se autocontempla pela luta de classes como o progresso da consciência, ambos os autores fo- ram responsáveis pela transformação da dialética idealista para uma dialética pensada a partir do materialismo histórico. Materialismo dialético. Teve suas origens europeias nas obras de Karl Marx (1818 - 1883) e Friedrich Engels (1820 - 1895). Seu conceito determina que a realidade de uma sociedade é definida por seus meios materiais. Essa definição pode ser encontrada por meio de estudos no campo da economia, da geografia e demais ciências. Opondo-se ao idealismo, Marx e Engels busca- ram compreender os processos sociais ao longo da História. PENSANDO JUNTOS UNICESUMAR UNIDADE 2 38 Descrição da Imagem: retrato fotográfico de Karl Marx sentado com o polegar na lapela e a mão na coxa. Homem já idoso, de cabelos brancos e olhos escuros, barba e bigode, vestindo paletó, com roupa de frio por baixo e também um colar. Ele se encontra sentado em uma cadeira e com o braço apoiado em uma pequena mesa. Figura 2: Karl Marx / Fonte: Wikipedia (1875, on-line). 39 Marx acreditava que era preciso mudar o mundo, e não apenas interpretá-lo de forma contemplativa. O fim último da filosofia para o autor seria a derrota do capitalismo burguês pela classe operária industrial, fundando uma socie- dade comunista, que aboliria a contradição latente entre classe dominante e dominada. Para isso, o filósofo alemão realiza um certo anacronismo na História, ao ler todas as épocas passadas da sua pelo viés da luta de classes. Assim diz em O Manifesto Comunista, de 1848: “ A história de todas as sociedades existentes até hoje é a história das lu-tas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro da corporação e aprendiz, em resumo, opressor e oprimido, estiveram em constante oposição, conduziram uma luta ininterrupta, ora oculta, ora aberta, uma luta que por vezes terminou em uma re- construção revolucionária da sociedade como um todo ou na ruína comum das classes em contenda (MARX; ENGELS, 2005, p. 40-41). Descrição da Imagem: capa original do Manifesto do Partido Comunista, em alemão, publicado em Londres, datado em 1848. O título aparece em letra preta e negrito de letra inicial desenhada, o restante da capa aparece também em letra preta. A cor de toda a capa é marrom e ela possui uma margem em volta dos quatro cantos da página, que por sua vez, também é na cor preta. Figura 3: Capa do Manifesto do Partido Comunista Fonte: Wikipedia (1848, on-line). UNICESUMAR UNIDADE 2 40 Ao capitalismo, coube resumir o antagonismo de classes em duas grandes classes: burguesia e proletariado. A luta foi reduzida à posse privada dos meios de produção contra a venda da mão de obra dos trabalhadores para o sistema capitalista de produção. A questão dialética para Marx é “como o capitalismo se reproduz e se mantém?” A essa resposta, temos dois me- canismos normalmente camuflados, responsáveis por tal manutenção, o consumismo e a mais-valia. Marx buscava trazer ambos à consciência revolucionária (SIM & LOON, 2013). O termo consumismo é mais corriqueiro em nosso dia a dia. Mas você sabe o que significa mais-valia? Esse termo envolve uma análise complexa. Em linhas gerais, de acordo com Marx, em seu livro O Capital (publicado pela primeira vez em 1867), seria o mecanismo pelo qual a produção capitalista prospera em explorar mais tempo de trabalho do que é pago. Segundo Marx, há uma diferença entre o salário que o trabalhador recebe e o valor que o trabalhador gera por meio do trabalho. A mais-valia consiste nessa diferença. Assim, o dinheiro que resulta da produção, integra o lucro daquele que detém os meios de produção. Uma vez que a condição necessária e suficiente para sustentar a sociedade capitalista é que a relação entre o capital e o trabalho é mediada pela exploração da força de trabalho, a mais-valia, deriva da esfera de produção e é a principal fonte de lucro do capitalismo (CHRAKI, 2017). Outros dois conceitos caros ao marxismo são infraestrutura e supe- restrutura. A primeira, diz respeito à base econômica de uma sociedade, e a segunda abarca o todo cultural (aquele não palpável, conforme visto no início desta unidade). Assim, a superestrutura é entendida como uma ideologia, um modo de pensar próprio do comportamento de classe, o que tomamos como natural, mas é na verdade determinada por uma economia específica do contexto em que está localizada, como capitalismo, mercanti- lismo, feudalismo etc. Dessa forma, a ideologia baseia-se na infraestrutura econômica, meio pelo qual ela se produz e gera sua riqueza, e também na- queles que detêm os meios de produção. Marx critica o todo cultural que permeia e conduz nossas vidas, como a religião e a política. De acordo com o autor, de forma oculta, tais fatores transformam em natural um meio de produção construído artificialmente. 41 A célebre frase utilizada por Karl Marx (1818-1883) na introdução da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1843): “a religião é o ópio do povo”, é projeção de um pensamento já partilhado por diversos autores do século XVIII que elen- caram o tema. Saindo do campo do indivíduo em particular, o que Marx procura mostrar em suas análises é a intencionalidade do controle das classes dominantes da sociedade e do próprio Estado, ente capitalista que articula as relações de poder. Sendo o Estado um aparato de constituição social e não de repressão bru- ta, ele constitui o espaço de uma comunidade, uma nação. A sua existência política apartada dos agentes econômicos individuais possibilita que o Estado influa de maneira subjetiva na reprodução da circulação do mercado e sua produção (MASCARO, 2013, p. 19). Compreendemos, assim, o Estado como um derivado necessário da reprodução capitalista, não como um aparato neu- tro disposto ao controle da burguesia. Ele é necessário para a constituição e permanência das relações sociais na sociedade capitalista. O pensamento de Marx a respeito da religião deve ser entendido não pura- mente como uma crítica à fé ou às crenças, mas sim visando as intencionalida- des e consequências do aparato ideológico das igrejas, tendo em vista que as for- mas de relações entre os indivíduos não se desenvolvem ocasionalmente, nem mesmo dentro de instituições como a família, e sim por meio de determinada hierarquia, que organiza e condiciona nos moldes específicos dessa sociedade. Expõe Marx na primeira parte de O Capital, na quarta seção, em que trata do fetichismo da mercadoria: “ É somente uma relação social determinada entre os próprios homens que adquire aos olhos deles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para encontrar algo de análogo a este fenómeno, é ne- cessário procurá-lo na região nebulosa do mundo religioso. Aí os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, en- tidades autônomas que mantêm relações entre si e com os homens. O mesmo se passa no mundo mercantil com os produtos da mão do homem. É o que se pode chamar o fetichismo que se aferra aos pro- dutos do trabalho logo que se apresentam como mercadorias, sendo, portanto, inseparável deste modo de produção (MARX, 1998, p. 4). UNICESUMAR UNIDADE 2 42 A partir desse trecho, analisando a sociedade em que vivemos e compreen- dendo os conceitos chaves que moldam sua estrutura, podemos entender um pouco melhor a maneira com que a subjetividade moderna mergulha na ideia de competição, desempenho e produção do lucro levados ao extremo. A religião, quando usada em prol de interesses camuflados, entra aqui como peça fundamental no estímulo e manutenção desse controle e apaziguamento de ânimos ou possíveis revoltas que atrapalhem o percentual de tais objetivos promovidos pelo capitalismo. Estabelecendo o vínculo de todas as relações sociais à troca, o capitalismo torna tudo possível do comércio. O trabalho se torna impessoal e generalizado como mercadoria, o dinheiro permeia a equiparação do valor e das trocas. Para que o dinheiro adquira sua equivalência universal, é necessário que se constitua ademais dos produtores e detentores de mercadorias. Esse espaço é justamente o Estado, ente maior que a mercadoria e de base extrínseca aos intermédios econômicos. A sociabilidade do capital só é possível quando as classes dominantes não tomam o controle direto do poder político, dessa forma: “As formas de valor, capital e mercadoria transbordam, necessariamente, em forma política estatal e forma jurídica” (MASCARO, 2013, p. 23). Em outras palavras, nessa visão de mundo, por mais que se lute por direi- tos sociais, devemos ter consciência que é o capital que continua ditando as regras do sistema, pois as formas sociais são capitalistas, assim como a estru- tura da exploração. É preciso ver a religião, assim como o Estado, não isolados e sem laços estruturais com a realidade, e sim como instituições fundamentais às formas da sociabilidade capitalista: mercadoria, valor de troca e toda a lógica que faz com que todos os trabalhadores do mundo sejam pessoas que se vendam à exploração do capital. No geral, nessa perspectiva, o Estado administra a sociedade estando ta- lhado estruturalmente para funcionar conforme o capital, mas não de ma- neira neutra, e sim necessária e intrínseca à lógica capitalista. Sendo assim, muitas vezes os indivíduos e classes dominadas aceitam levar vidas medíocres e de constante exploração, no intuito ou consolo de serem compensados no plano metafísico, o que impede a emancipação desses seres sociais em seus cotidianos reais. 43 A Teoria Marxista da História Na perspectiva marxista da História, devemos nos posicionar de maneira crítica em relação ao mundo em que vivemos, bem como na hora de interpretar nossa sociedade, nossas fontes históricas. Um texto é uma produção codificada em última instância, determinado pela base econômica da sociedade em que foi pro- duzido, assim como as ideologias da cultura também são subprodutos dessa base. É possível afirmar que Marx legou um novo significado à alienação, captu- rando o termo para um estranhamento inconsciente de si mesmo, determinado pela condição de classe, ou então por uma falsa consciência. Quando analisamos o mundo pelo viés da teoria marxista, devemos ter em mente: a tensão entre idea- lismo e materialismo – ou seja, a autonomia versus a construção social do texto; um inconsciente que é oculto ou camuflado, e ainda um intervencionismo, isto é, acreditar que uma teoria crítica pode fazer a diferença (SIM; LOON, 2013, p. 23). Comumente criticado por seu viés acadêmico, as muitas variantes do marxis- mo ocidental (conceito utilizado para distinguir a forma com que o marxismo se desenvolveu nas sociedades industriais avançadas da Europa Ocidental e em cer- ta medida na América do Norte) revelaram particular interesse na superestrutura e sua interação com a base econômica, formando, em geral, fonte de desacordo que gerou escolas distintas dessa teoria. O que é ideologia? O termo foi utilizado por Karl Marx para definir aquilo que é responsável por proporcionar uma falsa consciência da realidade social. Na sociedade capitalista, de acordo com o autor, a ideologia obstrui o entendimento dos homens acerca dos interesses materiais vigentes por trás de ideias impostas, impedindo a percepção na realidade concreta da exploração e dominação de uma classe sobre a outra. É desse modo que os homens migram de sujeitos da História para produtos da História, não se reconhecendo como agentes no processo histórico, deixando de compreender relações que se estabelecem entre ideias e instituições em determinados contextos. A palavra ideologia é muitas vezes empregada em nosso cotidiano, mas comumente de forma equivocada. Daí a importância de conhecer o significado das palavras e sua baga- gem histórica antes de utilizá-la, assim evitamos uma comunicação ambígua e garantimos o entendimento daquilo que almejamos transmitir de forma assertiva. EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR UNIDADE 2 44 Sabemos que em sua forma pri- mitiva, o marxismo tende a assu- mir que tudo o que acontece na superestrutura é reflexo da base econômica, inclusive as artes. Os desdobramentos que se seguem questionam-se, entre outras coisas, quanto e em que grau a cultura é economicamente de- terminada. Enquanto pensador, Karl Marx é aberto a múltiplas interpretações, fornecendo uma filosofia de abrigo para circuns- tâncias históricas de mudanças, e não um conjunto fixo de dog- mas a serem seguidos cegamente (SIM; LOON, 2013). A partir da década de 1960, movimentos políticos de esquer- da surgiram em vários países, não sendo mais influenciados es- tritamente por um ativismo tra- balhista e sim um ativismo polí- tico no sentido mais abrangente do termo, num sentido social. A esse movimento, denominou-se Nova Esquerda. Dois importan- tes nomes desse movimento, os quais influenciam o arcabouço marxista até os dias de hoje são: Edward Thompson (1924 - 1993) e Eric Hobsbawm (1917 - 2012). Ao revelar um elemento inconsciente na infraestrutura econômica da sociedade, Marx estimou o desenvolvimento da teoria crítica, buscando a cura para a doença econômica no processo histórico e revolucionário da luta de classes. O autor reconhe- ce que os defeitos da sociedade são estruturais, sendo assim possíveis de serem alte- rados. É onde entra o autoconhecimento e seu papel na liberdade a ser conquistada. Descrição da Imagem: a figura mostra uma fotografia colo- rida do historiador Eric Hobsbawn, já idoso, em um congres- so. Ele está usando uma camiseta listrada, de gola branca. Por cima, paletó cinza. Está de meia e tênis sentado em uma cadeira de madeira com os dedos entrelaçados e apoiados sobre a perna direita, com um microfone apoiado em uma mesa que vai até sua boca. Na mesma mesa há também livros, jarra e copo de água. No fundo, há uma luz roxa no cenário e um papel caído ao chão, bem como fios de energia. Figura 4: Eric Hobsbawm. / Fonte: Wikipedia (2011, on-line). 45 Marxismo no Brasil No Brasil, temos alguns impor- tantes teóricos influenciados pela teoria marxista da história, como por exemplo, Caio Prado Júnior (1907 - 1990) e Paulo Freire (1921 - 1997). Caio Prado Júnior foi um in- telectual preocupado com a cau- sa operária, o autor soube aplicar e inaugurar o método marxista em sua análise sobre o Brasil Co- lônia em seu livro Formação do Brasil Contemporâneo, de 1942. Já Paulo Freire é considerado mundialmente como um dos mais notáveis pedagogos que a História já produziu, sendo co- nhecido pelo movimento da pe- dagogia crítica e também como Patrono da Educação Brasileira. No ambiente escolar brasileiro, há uma acusação por parte dos setores conser- vadores de que as universidades promovem uma doutrinação ideológica marxista em sala de aula. Como vimos, o termo ideologia foi utilizado por Karl Marx de outra forma. Nesse viés conservador ou então de cunho neoliberal, o marxismo universitário visaria derrubar as estruturas religiosas e capitalistas, difundindo o socialismo em nossa sociedade. Nesse cenário, temos o eclodir, por exemplo, do movimento “Escola sem Parti- do” – Projeto de Lei no 193/2016, que, em tese, pressupõe uma educação sem viés doutrinador. As críticas tecidas por esse movimento se destinam muitas vezes a sua ênfase a chamada “ideologia de gênero”, termo utilizado para se referir aos estudos de gênero, pós-feminismo e pós-generismo. Além disso, há a perseguição a teóricos oriundos da educação marxista, como Paulo Freire, Jean Piaget (1896 - 1980) ou Lev Vygotsky (1897 - 1934). Descrição da Imagem: a figura consiste em uma fo- tografia preto e branca do pedagogo e filósofo Paulo Freire. Ele aparece idoso, calvo, com expressão séria e de óculos. O homem possui a pele clara, olhos escuros, bigode e uma longa barba branca. Está de paletó preto. Figura 5: Paulo Freire. / Fonte: Wikipedia (1977, on-line). UNICESUMAR UNIDADE 2 46 Uma das críticas a serem feitas às propostas do Projeto de Lei no 193/2016, é: “Escola sem Partido, para quem?”. Por análise teórica, visto os grupos perseguidos, por exemplo, professores de História e outras áreas das humanidades – justa- mente do campo voltado para a formação do pensamento e do cidadão – vale a reflexão acerca do interesse de determinadas classes elitizadas em se apropriarem do Estado e do sistema de ensino formal e, uma vez isso realizado, determina- rem os currículos das escolas, bem como os conteúdos a serem ensinados, com o objetivo de construir um consenso social com uma orientação específica (em benefício de uma minoria privilegiada economicamente). O PENSAMENTO CRÍTICO Em linhas gerais, o que se espera nas Humanidades, é a formação de um sujeito de pensamento crítico, que saiba pensar e raciocinar por si mesmo. Essa é a tarefa da educação, para além da transmissão de conteúdos. É necessário ter isso em mente no momento de atuação profissional. Na Base Nacional Comum Curricular (documento obrigatório para as redes de ensino e suas instituições tanto públicas quanto privadas, no qual devem estar pautados a elaboração dos currículos escolares e propostas pedagógicas para o Ensino Básico no Brasil) por exemplo, na etapa do Ensino Fundamental, o termo pensamento crítico aparece nas páginas destinadas aos Anos Finais, abordado pelo componente curricular de História da seguinte forma: 47 “ [...] um dos importantes objetivos de História no Ensino Funda-mental é estimular a autonomia de pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época e o lugar nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e condutas. A percepção de que existe uma grande diver- sidade de sujeitos e histórias estimula o pensamento crítico, a autonomia e a formação para a cidadania (BRASIL, 2020, p. 400). Podemos assumir, portanto, como função da educação, dar as ferramentas ne- cessárias para que o indivíduo se lápide e faça bom uso do conhecimento que lhe foi repassado, aplicando-o em sociedade para o bem comum. Além disso, é preciso ter em mente a educação como um processo jamais concluído, em que a humanização do ser deve ter como objetivo sempre o aperfeiçoamento. Já no que diz respeito ao Ensino Médio, a Base Nacional Comum Curricu- lar adota uma noção ampliada e plural de juventudes. Isso significa que além de compreender essa fase como diversa e dinâmica, é preciso reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas. Para que esses jovens se formem como sujeitos críticos, criativos, autôno- mos e responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio: “ [...] proporcionar experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o en-frentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fun- damentadas. O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo (BRASIL, 2020, p. 463). Isso demonstra que o Ensino Médio deve estar comprometido com o exer- cício da cidadania e com a construção de aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes, situados no contexto desafiador de nossa sociedade contemporânea. UNICESUMAR UNIDADE 2 48 Tendo em vista essa finalidade, é preciso assumir a premissa de que todos os estudantes podem aprender e alcançar seus objetivos, o que independe de suas carac- terísticas pessoais, seus percursos e suas histórias. Com base nessa afirmação, a escola que acolhe as juventudes, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, deve: “ • favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da realidade e pela explicitação dos con-textos de produção e circulação dos conhecimentos; • garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendiza- gem e o desenvolvimento de suas capacidades de abstração, refle- xão, interpretação, proposição e ação, essenciais à sua autonomia pessoal, profissional, intelectual e política; • valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua condição de estudante, e qualificar os processos de construção de sua(s) identidade(s) e de seu projeto de vida; • assegurar tempos e espaços para que os estudantes reflitam sobre suas experiências e aprendizagens individuais e interpes- soais, de modo a valorizarem o conhecimento, confiarem em sua capacidade de aprender, e identificarem e utilizarem estratégias mais eficientes a seu aprendizado; • promover a aprendizagem colaborativa, desenvolvendo nos estudantes a capacidade de trabalharem em equipe e aprenderem com seus pares; • estimular atitudes cooperativas e propositivas para o enfren- tamento dos desafios da comunidade, do mundo do trabalho e da sociedade em geral, alicerçadas no conhecimento e na inovação (BRASIL, 2020, p. 465). Essas experiências beneficiam a preparação básica para o trabalho e para a cida- dania, o que não significa a profissionalização precária ou precoce dos jovens, ou o atendimento das necessidades imediatas do mercado de trabalho, como muito se critica. A BNCC supõe o desenvolvimento de competências que possibilitem aos estudantes se inserir de maneira ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada vez mais inconstante e complexo, de forma a tornar pos- sível novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores, garantindo um suporte aos nossos jovens. 49 Há momentos na História em que as pressões do capital sobre os trabalhadores dei- xam mais evidentes a luta entre as classes, situação que fomenta os pesquisadores marxistas a examinarem os atuais recursos da classe dominante e dirigente, para envolver a todos em seus projetos, dessa forma, são realizados debates sobre os pro- cessos políticos mundiais e o lugar do Brasil na dinâmica do mundo capitalista. No entanto, nos espaços universitários ou em institutos formados a partir da organização de professores e alunos do meio acadêmico, de forma institucionalizada, as ciências humanas e sociais estiveram e estão sujeitas às determinações de classe. Nos dias atuais, a formação de um sujeito revolucionário não tem recebido atenção dos estudos nesse viés teórico. Uma das dificuldades se dá devido à demasiada racionalização das atividades, bem como as diversas ramificações do marxismo, nesse sentido, há a ausência de uma unidade na percepção da classe trabalhadora em relação à grande e intensa transformação das relações de produção. Outro motivo diz respeito ao fato de que, se opor à ordem esta- belecida pelo capital, nem sempre fundamenta os projetos que dizem respeito à formação profissional e cultural dos trabalhadores. Ideologia e Sociedade Brasileira. Vimos ao longo desta Unidade 2 o significado do termo ide- ologia utilizado pelo filósofo alemão Karl Marx, bem como suas implicações na sociedade capitalista. Neste podcast, vamos aprender um pouco mais sobre conceitos predominantes nas obras de cunho marxista e suas aplicações em nossa realidade. Alguns dos termos que discorreremos a respeito são: mais-valia, infraestrutura e superestrutura, proletariado, burguesia, consciência de classe, força de trabalho, propriedade privada, materialismo dialético, socialismo científico. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14510 UNIDADE 2 50 Ser um crítico na atualidade, em especial no campo da academia, é também ser um teórico, como você, estudante das Humanidades, perceberá de maneira trabalhosa. NOVAS DESCOBERTAS Título: Parasita Ano: 2019 Sinopse: em Parasita, toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa dessas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os se- gredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos. NOVAS DESCOBERTAS Documentário: As Classes Sociais. Esse documentário, distribuído pela Sinapse e pelo canal Enigmas da História, apresenta de forma completa como o meio social (e assim as classes sociais) exerce influência na formação do ser humano, sendo responsável direto pela formação do indivíduo desde criança, determinando sua gama de possibilidades no que diz respeito aos estudos, trabalhos e demais rela- ções a serem experimentadas ao longo da vida jovem e adulta. NOVAS DESCOBERTAS Título: O Capital, Livro I Autor: Karl Marx Editora: Boitempo Sinopse: o capital é uma contribuição basilar ao pensamento antica- pitalista, em especial, a tradição marxista, que, de certo modo, consolida-se com este livro. O objetivo de Marx era, por meio de uma crítica da economia política, compreen- der como o capitalismo funciona. Diante desse desafio, ele desenvolveu um aparato conceitual e metodológico para entender toda a complexidade do capitalismo, as cate- gorias que constituem a articulação interna da sociedade burguesa e a relação direta entre acumulação de capital e exploração da força de trabalho. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17908 51 Autoconsciência ou reflexividade na hora de aplicar uma teoria é o que define a situação atual das várias disciplinas da área de Humanas e Ciências Sociais. Ao preparar uma dissertação, tese ou até mesmo seu trabalho de conclusão de curso, você normalmente será aconselhado a definir o modelo teórico a ser utilizado antes de empreender a análise do objeto em si. A adoção de uma posição teórica, ou seja, de um método de leitura, deve ba- silar seu olhar sobre a fonte, determinando aquilo que será priorizado na análise. A qualidade e avaliação de uma pesquisa, muitas vezes, está pautada ou consiste no sucesso que o pesquisador obteve em articular a linha teórica com seu objeto de pesquisa e fonte histórica. Antes do termo teoria crítica, as teorias operavam sob a superfície, sendo mais implícitas do que explícitas. Porém, atualmente, como chegamos aos juízos de valor, e na verdade, a própria
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