Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Conteudista: Prof.ª Adriana Diniz Revisão Textual: Aline Gonçalves Revisão Técnica: Prof.ª Alice Zaramella Objetivo da Unidade: Entender mais a fundo as camadas da córnea, suas atividades metabólicas e na interação entre a lente de contato e a fisiologia ocular. QUESTION B AN KS Contextualização Material Teórico Material Complementar Referências Lentes de Contato Rígidas Não é raro o desinteresse de optometristas e técnicos em adaptar lentes de contato e contatologia. Isso deve, provavelmente, a um olhar equivocado. Pense comigo: mesmo que o profissional não se interesse sobre o assunto, é inegável que se deparará com inúmeros usuários de lente de contato no dia a dia – além de clientes interessados em lentes de contato, bem como outros com complicações ou alterações provenientes do seu uso. O cotidiano da profissão requer que o optometrista esteja preparado para orientar corretamente o paciente diante de certas complicações, sendo necessário as vezes encaminhá-lo aos devidos profissionais (contatólogo ou oftalmologista).Geralmente, porém, as questões são mais simplórias: “Poderei usar lentes de contato?”, “Minha dioptria é corrigível com lentes de contato?”, “Ceratocone cega?”. De modo geral, o profissional deve entender que mesmo não havendo interesse na área, é de sua responsabilidade e competência o seu preparo ( técnico ) e o encaminhamento devido do paciente. Grosso modo, lentes de contato podem ser usadas por pessoas com olhos sadios e que tenham motivação para o uso. Na prática não é simples assim. Exige-se uma avaliação criteriosa e indagações específicas, com o objetivo de definir qual lente indicar e o tempo de uso possível. Dados de 2000 estimavam que, no Brasil, 1.700.000 das pessoas eram usuárias de lentes de contato. Porém, pesquisa na Unicamp demonstra que 50% dos adultos até 39 anos precisam de correção visual – essa faixa etária é justamente a predominante entre os usuários de lentes de contato no país. Significa isto que, mais de 54.000.000 pessoas podem ser futuras usuárias de LC. TEMA 1 de 4 Contextualização Outras pesquisas apontam que, entre os usuários de óculos, aproximadamente 41% relatam inclinação ao uso de lentes de contato. Entre os usuários de LC é raro a inclinação ao uso de óculos. Sendo assim, o potencial de mercado é extremamente significativo, em contrapartida, o número de óticas especializadas nessa área é irrisório. Existe um campo pouco explorado na contatologia pelos profissionais da classe e que vai além do serviço funcional e básico da ametropia do paciente. Talvez seja a função de reabilitação visual que mais enaltece a nossa profissão como contatólogo, haja visto que não raro óculos não atinge a razoável acuidade visual. São pacientes portadores de ceratocone, astigmatismos irregulares provocados por cirurgias corneais e pacientes com a presença de determinada patologia para a qual somente as lentes de contato são indicadas para a correção visual. Nosso objetivo aqui será instigar você a se tornar o contatólogo necessário para vida do optometrista, que se torne um estudioso dessa arte, demonstrando as maravilhas que as lentes podem realizar na melhoria visual de seus pacientes. Bons estudos! Considerações Fisiológicas do Metabolismo Corneano com uso de Lentes de Contato Existe interação entre lente de contato e córnea, alterando os processos fisiológicos naturais deste tecido e, para boa adaptação, é necessário conhecer esse processo reativo. A lente de contato, portanto, age como barreira ao oxigênio, acumulando produtos entre a córnea e a lente. Quando não é bem higienizada e desinfetada será um grande vetor de bactérias e germes, não raro produzindo reações alérgicas devido aos agentes químicos usados na assepsia. Para o sucesso na adaptação é importante indicar a melhor lente para cada paciente, reconhecer possíveis alterações e estar ciente da individualidade dos casos. TEMA 2 de 4 Material Teórico Figura 1 Fonte: Reprodução Figura 2 Fonte: Reprodução Figura 3 Fonte: Reprodução Fisiologia Corneana A córnea humana faz parte da túnica fibrosa do olho. Ela não é uniformemente esférica, centralmente é mais curva que em sua periferia. A córnea humana adulta mede de 11 a 12 mm na horizontal e de 9 a 11 mm na vertical. Tem aproximadamente 500 μm de espessura em sua porção central, que gradativamente aumenta em direção à periferia, onde apresenta cerca de 700 μm de espessura. A formação da córnea se dá por fibras de colágeno dispostas em lâminas paralelas, e as camadas que necessitam de maior quantidade de oxigênio para manter seu metabolismo são o epitélio e o endotélio. O primeiro recebe oxigênio do ar atmosférico depositado na lágrima, que é posteriormente enviado aos capilares do limbo, e o segundo recebe O2 do humor aquoso. A córnea, segundo a maioria das literaturas publicadas antes de 2013, tem divisão morfológica de apenas cinco camadas, porém, com a descoberta realizada pelo cientista e médico Dr. Harminder Singh Dua, a córnea pode ser dividida em seis camadas distintas: Figura 4 – Camadas da Córnea Fonte: Reprodução Epitélio As células do epitélio corneano têm alta demanda em sua atividade mitótica e é caracterizada por sua alta função regenerativa, com seu “turnover” ocorrendo a cada sete dias, tendo total renovação do seu epitélio basal. Na região limbar, encontram-se suas células-tronco, que em sua divisão celular dão origem às células basais. À medida que elas se dividem, ocorre migração da periferia para o centro, e quando envelhecem descamam, dando lugar a uma nova célula. O epitélio corneano é não queratinizado, é escamoso, estratificado, constituído por quatro a seis camadasde células. Da espessura corneana total, cerca de 10% correspondem ao epitélio. Morfologicamente, podemos dividi-lo em três categorias: células basais (profunda), intermediárias (aladas) e superficiais (escamosa). Figura 5 – Epitélio superficial e filme lacrimal Fonte: Reprodução As células intermediárias estão intimamente entrelaçadas e unem as camadas mais superficiais às profundas. As células basais (mais profundas) são colunares com citoplasma que contém grande quantidade de grânulos de glicogênio, o que representa uma reserva energética, que pode ser usada, quando necessário, na cicatrização epitelial de um trauma corneano. É interessante ressaltar que a fisiologia corneana em um usuário de lentes de contato é diferente se comparada aos não usuários, pois a córnea de quem faz uso de lentes requer um tempo maior no “turnover” das células epiteliais. Desta forma, o epitélio fica com células superficiais maiores quando comparadas às do epitélio de uma pessoa que não usa lentes de contato. Essa camada possui numerosas terminações nervosas livres que explicam sua sensibilidade dolorosa, porém a presença da lente de contato diminui a sensibilidade corneana por processo reversível. Camada de Bowman Esta camada tem espessura muito fina e é considerada uma condensação do estroma, formada por pequenas fibras de colágeno e mucopolissacarídeos. Não tem capacidade de regeneração, como o epitélio, e um trauma pode acarretar cicatriz permanente. Estroma O estroma corneano constitui cerca de 90 por cento da espessura corneana total e a sua característica principal é a disposição lamelar de fibras de colágeno. Caracteriza-se por possuir muitos ceratócitos que podem transformar-se em fibroblastos para reparação do tecido, pós- traumatismos perfurantes ou edema persistente, porém este processo é danoso para a acuidade visual, visto que decorrerá um leucoma cicatricial que poderá variar com a extensão e a localização devido ao processo. Também podem ocorrer neovasos intraestromais por causa da hipóxiacrônica naqueles que fazem uso contínuo das lentes de contato. Camada de Dua Esta camada, tão recentemente descoberta em 2013 pelo médico Dr. Harminder Singh Dua, ainda não configura em nossos livros de fisiologia ocular. Situa-se entre o estroma corneano e a membrana de Descemet, e, assim como ela, tem espessura muito fina. Segundo os pesquisadores, a descoberta terá grande impacto sobre o avanço da compreensão de uma série de doenças da córnea, incluindo a hidropsia aguda e distrofias da camada de Descemet. A descoberta ajudará os cirurgiões a melhorarem as cirurgias e os transplantes de córnea, com melhores resultados para os pacientes submetidos a esses procedimentos. Camada de Descemet É uma camada elástica e muito resistente a traumas, formada por filamentos de colágenos consideravelmente finos. À medida que passam os anos, sua espessura aumenta à custa de sua porção posterior. Endotélio A última camada da córnea atua contra as forças que tendem a introduzir água no estroma corneano, mantendo a hidratação em níveis normais. A ausência dessa regulação por períodos prolongados pode ocasionar perda de transparência da córnea. Suas principais funções são habilidade de transporte de nutrientes do humor aquoso e a manutenção do estado de turgescência para transparência da córnea. Ela apresenta importante função de manter a transparência e espessura corneal por dois mecanismos: barreira e bomba endotelial. A forma hexagonal das células produz um padrão mosaico, que pode ser observado à microscopia especular. Figura 6 – Média de células na córnea por idade Fonte: Reprodução Tabela 1 Idade Média Cel/mm2 10 – 19 2.900 – 3.500 Idade Média Cel/mm2 20 – 29 2.600 – 3.400 30 – 39 2.400 – 3.200 40 – 49 2.300 – 3.100 50 – 59 2.100 – 2.900 60 – 69 2.000 – 2.800 70 – 79 1.800 – 2.600 80 – 89 1.500 – 2.300 Suas células não se regeneram, e quando uma célula morre, as vizinhas aumentam de tamanho, preenchendo o espaço deixado pela célula morta. Elas reagem com deslizamento, reagrupando e se hipertrofiando. A ausência da densidade ocular pode comprometer a transparência da córnea e levar a edema. A avaliação e o estudo do endotélio corneal são realizados pela biomicroscopiana lâmpada de fenda, paquimetria (mede a espessura da córnea) e microscopia especular, cada uma tem sua indicação e modalidade na prática clínica. A paquimetria da córnea mostra de modo indireto a função endotelial, porque esta reflete o estado de sua deturgescência. Sabemos que a média da espessura corneal é de 500 μm, porém a paquimetria pode variar de acordo com o momento do dia. Paciente com córnea sadia, ao acordar, pode apresentar espessura da córnea levemente maior do que ao longo do dia. Isto ocorre porque, ao fechar a pálpebra, há perda do efeito de evaporação e diminuição da atividade do metabolismo endotelial. O desenvolvimento da microscopia especular facilitou a avaliação da variação da vitalidade endotelial com a idade, após cirurgias intraoculares e nos usuários de lentes de contato, promovendo grande avanço no estudo morfológico do endotélio. Esse monitoramento biológico é importante, pois a córnea é uma estrutura anatômica com características de lente biológica e transparente, esta característica tem relação intrínseca com suas células endoteliais. Fisiologia do Filme Lacrimal O filme lacrimal, com suas propriedades de lubrificação e nutrição, ajuda a regularizar a superfície anterior da córnea com suas microvilosidades, melhorando as imperfeições que podem provocar os pequenos astigmatismos. Para uma distribuição da lágrima sobre a superfície ocular, é necessário o piscar, que contribui com a integridade da córnea e conjuntiva. Um segundo após o piscara lágrima se distribui e adquire forma característica, cuja mucina fica em contato com a superfície do epitélio da córnea; a fase lipídica fica em contato com o ar; e a fase aquosa fica entre essas duas camadas. O filme lacrimal também possui glândulas lacrimais acessórias, como Krause e Wolfring, que contribuem com a camada aquosa. As glândulas de Krause se situam no estroma do fórnice conjuntival, entre o lobo palpebral da glândula lacrimal e o tarso; e as glândulas lacrimais acessórias de Wolfring situam-se nas proximidades dos bordos do tarso. Outras glândulas acessórias contribuem para parte oleosa, como as de Meibomio, Zeiss e Moll. As células caliciformes da conjuntiva e criptas de Henle são consideradas como as células superficiais da camada de mucina, que se desprendem pelo processo de apoptose natural, participando da camada aquosa. Acamada mucosa está intimamente relacionada com a superfície corneal por meio do glicocálix ou glicocálice. A camada lipídica retarda a evaporação da camada aquosa, o que previne pontos secos nos intervalos do piscar. A camada aquosa é produzida primariamente pelas glândulas lacrimais principais, situadas na região orbitária temporal superior. A presença da lente de contato sobre o epitélio corneano reduz a quantidade de oxigênio disponível para a córnea, e nesta situação a oxigenação corneana pode ser feita por meio da lente e/ou pelo filme lacrimal. Quanto mais permeável ao oxigênio for o material da lente de contato, maior será a facilidade de oxigenação da córnea através da lente. Nas lentes rígidas, no momento de piscar, existe uma troca mecânica do filme lacrimal, que se situa atrás da lente de contato. Esta troca é possível pela pressão das pálpebras sobre a lente rígida, que, por sua vez, “expulsa” o filme lacrimal antigo que se situa atrás dela e, ao abrir os olhos, novo filme lacrimal toma o lugar do antigo, carregando oxigênio para a córnea. Essa “bomba lacrimal” permite a oxigenação, mesmo em lentes não permeáveis ao oxigênio. Não podemos esquecer que a córnea deve “respirar”, e este processo inclui assimilação de O2 e expulsão de dióxido de carbono. Os materiais gás permeáveis ao oxigênio, apesar de facilitar a saída deste gás nocivo, pode levar ao acúmulo dele, produzindo diminuição do pH da córnea e comprometendo sua integridade. Terminologia e Materiais de Lentes de Contato Rígidas Terminologia AV: acuidade visual; BUT: break up time; CB: curva base; CCA: curva central anterior; CCP: curva central posterior; D: dioptria; DK: permeabilidade ao oxigênio por meio do material de lente de contato; DK/L: transmissibilidade do material ao oxigênio em função da espessura; DV: distância vértice; FL: filme lacrimal; HEMA: hidroxietil metacrilato; K: medida ceratométrica mais plana da córnea; LC: lentes de contato; PMMA: polimetilmetacrilato; PF: profundidade sagital; RGP: rígida gás permeável; TC: topografia computadorizada; UC: uso contínuo; UD: uso diário; UF: uso flexível; UO: uso ocasional; UP: uso prolongado; ZO: zona óptica; ZOA: zona óptica anterior; ZOP: zona óptica posterior; Ø: diâmetro. Materiais Técnicas de Adaptação É fundamental que o adaptador realize testes com lentes de contato de prova ou lentes diagnósticas, e para que o profissional possa atender as mais varia das curvaturas de seus clientes. O primeiro parâmetro a ser determinado é a CCP (Curva Central Posterior) ou CB (Curva Base), que pode ser expressa em dioptrias ou em milímetros de raio, e cada fabricante opta pela sua própria forma. Ex.: 45.00 D ou 7.50 mm. Nas adaptações, nós, profissionais, damos especial atenção à curva mais planada ceratometria, que é o meridiano mais plano da córnea, conhecido como curva K. Se a escolha da CCP for paralela ao meridiano mais plano da córnea, diz-se que a lente está sendo adaptada sobre a curva K, mas poderá ser adaptada mais justa ou mais plana que K. Obtemos a melhor adaptação quando a lente propicia certo livramento apical, sem acarretar estagnação lacrimal. PMMA: o polimetilmetacrilato resulta da combinação de unidades de monômeros de metilmetacrilato (MMA) e vem sendo utilizado na fabricação de lentes de contato há muitos anos. Apresentam ótima qualidade óptica e conservação, preço acessível, simples e duráveis. A desvantagem do material é sua baixa (ou quase nenhuma) permeabilidade aos gases; Silicone: Material permeável ao oxigênio devido a aberturas nas cadeias dos polímeros. Do copolímero metacrílico são manufaturadas as lentes siliconadas; Fluor: da combinação do monômero de silicone foram acrescentadas combinações de fluor carbono silicone acrilato, que veio a melhorar as lentes rígidas gás permeáveis. A permeabilidade do oxigênio aumentou devido à habilidade de o fluor dissolver moléculas de oxigênio; Boston: os polímeros da Boston Polymer Technology Corporation® são uma química polimérica original patenteada e é caracterizada pela alta transmissibilidade ao oxigênio. As técnicas de adaptação podem ser referidas como “filosofia de adaptação” e estão baseadas na relação lente/córnea, como: em alinhamento apical (sobre K), com toque apical (mais plana que K) ou livramento apical (mais justa que K). Esta relação interfere no menisco lacrimal, que poderá ser mais negativo (mais plana que K) ou mais positivo (mais justa que K). A regra geral para os atuais fabricantes de lentes de contato considera que os diâmetros maiores são utilizados para córneas mais planas e, inversamente, nas córneas mais curvas são usados diâmetros menores. Mas é bom lembrar que para cada modificação de 0,5 mm no diâmetro, altera-se o raio da CB em 0.25 mm. Desta forma, notamos que temos duas variáveis para fazer mudanças na adaptação de uma LC: CB e diâmetro. O grau da primeira LC de prova deve ser escolhido o mais próximo possível da refração dos óculos, abandona-se o componente cilíndrico quando presente e usa-se o esférico. Quando a refração for maior que +/-5,00 D (alguns profissionais calculam a DV a partir de 4.50), um ajuste no grau deve ser feito para compensar a distância ao vértice, que tem em média 12 mm. A distância ao vértice é a distância do centro da face posterior da lente dos óculos ao vértice da córnea, e os fornecedores de lentes disponibilizam gratuitamente as tabelas já calculadas. A prescrição da dioptria da LC rígida pode ser feita pela refração sobre a lente de prova (sobre refração), após cessar o lacrimejo. O componente cilíndrico não residual é opticamente eliminado pela lente lacrimal formada entre a lente de contato esférica e a córnea. Tipo de lente (material e desenho): fabricante e tipo de DK; Curva Base (CB): deve ser expresso em raio de milímetros e dioptria; Dioptria: deve ser mencionada após a sobrerrefração com lente de prova; Diâmetro: importante salientar que quando o profissional aumenta o diâmetro em ajustes referentes à lente de prova, a profundidade sagital (que é a distância do centro da superfície posterior e o centro plano que une as margens da lente) também aumenta, alterando o menisco lacrimal e, consequentemente, a dioptria da lente. O desenho da face posterior da LC e a superfície anterior da córnea criam a chamada relação lente-córnea (L/C). Este espaço é preenchido pela lágrima, formando uma lente lacrimal refrativa (ou menisco lacrimal) que interfere no grau final da LC e deve ser compensado. Quando o profissional escolhe uma adaptação mais justa ou mais plana que K, forma-se uma lente lacrimal de poder dióptrico positivo ou negativo, devendo este ser diminuído do grau dos óculos na transposição para o grau da lente de contato. O valor da lente lacrimal é a diferença entre a CCP da lente de contato e a leitura ceratométrica do meridiano mais plano da córnea (K), que deve ser compensado no grau final da lente. Quando o contatólogo se deparar com casos em que o astigmatismo da refração for maior que a diferença dos meridianos corneais, o profissional adaptador deverá recorrer às lentes tóricas, podendo ser de material gelatinoso ou rígido. Podemos sempre recorrer às lentes rígidas tóricas quando a lente rígida esférica não proporcionar visão aceitável devido aos astigmatismos residuais. Adaptação de Lentes Rígidas Tóricas O astigmatismo total do olho consiste na soma do astigmatismo das faces anterior e posterior da córnea e do astigmatismo de cristalino (ou lenticular). Na adaptação de lente de contato devem ser considerados os dois tipos de astigmatismo: corneano e residual. A ceratometria mede o astigmatismo corneano, e a refração mede o astigmatismo total. O astigmatismo residual se refere àquele que não é corrigido pela lente rígida esférica, e suas causas podem ser devidas a: astigmatismo lenticular maior que o astigmatismo corneano; diferenças no meridiano, opacidade ou inclinação do cristalino; variações do índice de refração da córnea, do cristalino, corpo vítreo, posição excêntrica ou forma da fóvea. Este astigmatismo não pode ser corrigido com lente rígida esférica. Quando não conseguimos boa adaptação com lentes rígidas convencionais, seja porque o astigmatismo residual é muito grande, seja porque há muita instabilidade da lente, podemos utilizar lentes tóricas. Astigmatismos residuais maiores do que 0,75 D geralmente causam diminuição da acuidade visual e desconforto, principalmente naqueles pacientes que anteriormente utilizavam óculos, com boa visão. Existem três tipos de lentes rígidas tóricas: Avaliação da Lente Rígida Diagnóstica O profissional deverá observar: De face anterior: apresentam a toricidade na face anterior e necessitam de um prisma de lastro para estabilização; De face posterior: possui a curva base tórica e a face anterior esférica; Bitóricas: usadas em casos de astigmatismo altos e quando a toricidade posterior da lente não é suficiente para a sua correção total, ou quando a rígida de face anterior ou posterior não proporcionar boa AV. Posicionamento: considera-se posição ideal quando a borda da LC está localizada no limbo superior ou próximo dele, permanecendo segura pela pálpebra superior durante todo o ciclo do piscar. A adaptação de uma lente que se posicione levemente superior ou centralizada, sem excesso de movimento induzido pela pálpebra, é desejada; Figura 7 – Posicionamento desejável da lente rígida Fonte: Reprodução Movimento: a lente deve apresentar certo movimento, se for muito pequeno, pode prejudicar a troca lacrimal e ocasionar hipóxia, e se for muito excessivo, pode ocasionar desconforto e embaçamento pela descentração da zona óptica; Avaliação fluoresceínica: junto com a lâmpada de Burton ou de Fenda, é muito importante para que o profissional diagnostique se a lente está justa ou frouxa; Visão: deve alcançar a mesma qualidade da visão dos óculos, sendo necessário, muitas vezes, algum afinamento, e a melhor forma de observar a AV do paciente é na semana após a adaptação inicial, quando cessaram os lacrimejos iniciais provocados pela presença da lente na córnea. Saiba Mais Em aula, você conseguirá visualizar uma córnea em uso de uma lente frouxa e justa com auxílio da luz azul de cobalto e fluoresceína para melhor assimilação. Importante! Mudanças no diâmetro da LC afetam o raio da CB; se aumentarmos o diâmetro, a LC torna-se mais curva (mais apertada) porque provoca aumento da profundidade sagital. Reduzindo-se o diâmetro da LC, sem mudar o raio da CB, altera-se a profundidade sagital e a LC torna-se mais plana (mais frouxa). Essa mudança no diâmetro da LC também afeta a lente lacrimal e, consequentemente, altera o poder dióptrico da LC. Em Síntese A adaptação de lentes rígidas requer mais atenção e cautela que as lentes gelatinosas, pois elas podem ocasionar danos epiteliais importantes. Os profissionais da área necessitam ter o aparelhamento completo, bem como caixas de prova para viabilizar o sucesso na adaptação. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Adaptação de LC Rígidas Esféricas e Tóricas Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE TEMA 3 de 4 Material Complementar https://issuu.com/sindioptica-sp/docs/adaptalc ALMEIDA, H. KARA-JUNIOR, N. Análise crítica das diferentes fontes de dados sobre transplante de córnea no Brasil. Revista Bras. Oftalmol, v. 77, n. 3, p.142-145, 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2Kki5bS>. Acesso em: 05/2019. ANDERSON, K.; EL-SHEIK, A.; NEWSON, T. Application of structural analysis to themechanical behaviour of the cornea. J. R. Soc. Interface, n. 1, p. 3-15, 2004. Disponível em: <https://bit.ly/2KQoNG0>. Acesso em: 17/04/2019. CORAL-GHANEM, C; KARA-JOSÉ, Newton. Lentes de contato na clínica oftalmológica.4. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2015. CORAL-GHANEM, C. O setor de lentes de contato hoje e o futuro da LC no Brasil. 2000. Disponível em: <https://www.coral-lentes.com.br/files/publicacoes/arquivo/livro.pdf>. Acesso em: 17/04/2019. CRUZ, G. K. et al. Fatores clínicos e cirúrgicos e as complicações intraoperatórias em pacientes que realizaram ceratoplastias penetrantes. Revista Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 27, abril 2019. Disponível em: <https://bit.ly/2FPqvnF>. Acesso em: 05/2019. DUARTE, W; BARROS, A; DIAS-DA-COSTA, J; CATTAN. J. Prevalência de deficiência visual de perto e fatores associados: um estudo de base populacional. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, mar./abr. 2003. Disponível em: <https://bit.ly/30d6y1N>. Acesso em: 03/2019. HOLZCHUH, R. Estudo da reprodutibilidade da microscopia especular de córnea em amostras com diferentes números de células. Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade TEMA 4 de 4 Referências de São Paulo. São Paulo. 2011. Disponível em: <https://bit.ly/2MNo76F>. Acesso em: 17/04/2019. JAIN, S; ARORA, I; AZAR, D. Success of monovision in presbyopes: reviewof the literature and potential applications to refractive surgery. Survey of Ophthalmology,v. 40, n. 6, maio/jun. 1996. Disponível em: <https://bit.ly/2ZoFsV0>. Acesso em: 17/04/2019. JUAN, J. T. J; PIÑERO, D. P. Ortoqueratología nocturna: Implicacioneslegales y consentimiento informado. Disponível em: <https://bit.ly/2wWEtPQ>. Acesso em: 17/04/2019. LIMA FILHO, A. et al. Bases da oftalmologia. Rio de Janeiro: Cultura Médica,2008. v. 1. MISAE, I. et al. Binocular function in patients with pseudophakic monovision. J. Cataract Refract Surg., v. 40, n. 8, p. 1.349-1.354, ago. 2014. Disponível em: <https://bit.ly/2L-4SyUn>. Acesso em: 17/04/2019. MOREIRA, P. R. Correção da presbiopia: monovisão versus lentes de contato bifocais e multifocais. Revista Brasileira de Medicina, 2013. Disponível em:<https://bit.ly/2Xopyxg>. Acesso em: 17/04/2019. MOREIRA, S; MOREIRA, H; MOREIRA, L. Lente de Contato. 1. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2007. NETTO, A. L; CORAL-GAHNEM, C; OLIVEIRA, P. R. Lentes de contato 3. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2013. PARANHOS, J. Analysis of the correlation between ophthalmic examination andquality of life outcomes following intracorneal ring segment implantation for keratoconus. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, São Paulo, v. 74, n. 6, nov./dez. 2011. Disponível em: <https://bit.ly/2NyUoPf>. Acesso em: 17/04/2019. REPKA, M. X. Visual rehabilitation in pediatric aphakia. Dev Ophthalmol. Basel, Karger, v. 57, p. 49–68, 2016. Disponível em: <https://bit.ly/2wP8K2Y>. Acesso em: 17/04/2019. SANTODOMINGO, J. et al. Lentes de contacto adaptadas en España en 2017: comparacióncon otros países. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2WCBFl7>. Acesso em: 05/2019. SAONA, C. L. Contatologia clínica. 2. ed. Barcelona: Ediciones Scriba, 2001. URBANO, A. P. et al. Episclerite e esclerite. Arq. Bras. Oftalmol., n. 65, p.591-598, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abo/v65n5/a18v65n5.pdf>. Acesso em: 05/2019. VALBONE, B. F. Estudo sobre a deformação da córnea utilizando o sistema de tonometria de não contato integrado a uma câmera de Scheimpflugem olhos saudáveis. Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016. Disponível em: <https://bit.ly/2ZqBaMK>. Acesso em: 17/04/2019. VERAS, R. Crescimento da população idosa no Brasil: transformações e consequências na sociedade. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 225-233, 1987. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v21n3/07.pdf>. Acesso em: 17/04/2019.
Compartilhar