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O termo globalização é usado nos meios de comunica- ção na tentativa de explicar diferentes aspectos da econo- mia, da política e da cultura atual, mas nem sempre esse termo é conceituado corretamente. Ele pode ser entendido como um aspecto do atual momento do capitalismo, que tenta imprimir sua lógica a todos os lugares do planeta como fornecedor de matéria-prima, de mão de obra ou de mercado consumidor. � O capitalismo na produção do espaço geográfico O espaço geográfico é o resultado de um conjunto de ações naturais ou culturais. Entre elas estão: as possibilida- des técnicas de cada época, as decisões políticas e o modelo econômico adotado. Essas ações podem ocorrer de forma simultânea na organização da sociedade e do espaço. Esta atividade tem o propósito de caracterizar o processo de internacionalização do capitalismo e a constituição da Divisão Internacional do Trabalho (DIT), relacionando-os com a evolução do espaço geográfico. Também apresenta as doutrinas econô- micas (keynesianismo e neoliberalismo) que orientaram as principais decisões dessa área do século XX. Internacionalização do capitalismo 2 ATIVIDADE C4 | H18 No mundo atual, o espaço geográfico é produzido e or- ganizado segundo o modo capitalista de produção, que des- de a queda do Muro de Berlim passou a regular de modo mais enfático a produção, a circulação e o consumo de bens e serviços no mundo. A expansão da lógica capitalista para todos os cantos do mundo submeteu o espaço a uma “unicidade técnica”, pro- movendo certa homogeneização da paisagem, facilitada pela evolução dos sistemas de transporte e comunicação, que tor- naram possível ligar diferentes pontos do planeta segundo os interesses econômicos dados pelo mercado. Diante disso, temos um espaço mundial submetido à lógica capitalista de produção, que é considerada a característica central do pro- cesso de globalização. O capitalismo evoluiu de outras formas de organização de trabalho e produção e é o sistema econômico que pre- domina no mundo atualmente. Ele se baseia nas seguintes características gerais: metamorworks/iStockphoto.com GEOGRAFIA – FRENTE 2616 ATIVIDADE 2 Internacionalização do capitalismo Ge og ra fia 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA O termo globalização é usado nos meios de comunica- ção na tentativa de explicar diferentes aspectos da econo- mia, da política e da cultura atual, mas nem sempre esse termo é conceituado corretamente. Ele pode ser entendido como um aspecto do atual momento do capitalismo, que tenta imprimir sua lógica a todos os lugares do planeta como fornecedor de matéria-prima, de mão de obra ou de mercado consumidor. � O capitalismo na produção do espaço geográfico O espaço geográfico é o resultado de um conjunto de ações naturais ou culturais. Entre elas estão: as possibilida- des técnicas de cada época, as decisões políticas e o modelo econômico adotado. Essas ações podem ocorrer de forma simultânea na organização da sociedade e do espaço. Esta atividade tem o propósito de caracterizar o processo de internacionalização do capitalismo e a constituição da Divisão Internacional do Trabalho (DIT), relacionando-os com a evolução do espaço geográfico. Também apresenta as doutrinas econô- micas (keynesianismo e neoliberalismo) que orientaram as principais decisões dessa área do século XX. Internacionalização do capitalismo 2 ATIVIDADE C4 | H18 No mundo atual, o espaço geográfico é produzido e or- ganizado segundo o modo capitalista de produção, que des- de a queda do Muro de Berlim passou a regular de modo mais enfático a produção, a circulação e o consumo de bens e serviços no mundo. A expansão da lógica capitalista para todos os cantos do mundo submeteu o espaço a uma “unicidade técnica”, pro- movendo certa homogeneização da paisagem, facilitada pela evolução dos sistemas de transporte e comunicação, que tor- naram possível ligar diferentes pontos do planeta segundo os interesses econômicos dados pelo mercado. Diante disso, temos um espaço mundial submetido à lógica capitalista de produção, que é considerada a característica central do pro- cesso de globalização. O capitalismo evoluiu de outras formas de organização de trabalho e produção e é o sistema econômico que pre- domina no mundo atualmente. Ele se baseia nas seguintes características gerais: metamorworks/iStockphoto.com GEOGRAFIA – FRENTE 2616 ATIVIDADE 2 Internacionalização do capitalismo Ge og ra fia 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA • Meios de produção e propriedade privada: meios de produção são todas as possibilidades existentes para se produzir riqueza em uma determinada sociedade. A pro- priedade privada é aquela que garante a uma pessoa, ou a um grupo limitado de pessoas, o direito de uso exclusivo sobre determinados bens. A propriedade privada está na base não apenas da economia moderna, mas também da cultura da sociedade atual. • Trabalho assalariado: na sociedade capitalista atual, o po- der econômico, baseado na propriedade privada dos meios de produção, é quem divide a sociedade em duas catego- rias: os proprietários de meios de produção, identificados como capitalistas, e os que não têm meios de produção, que são os proletários ou os trabalhadores assalariados. O preço da força de trabalho, denominado de salário, é de- finido pelas relações que caracterizam o mercado de tra- balho em cada momento e lugar. O mińimo a ser pago ao trabalhador é estabelecido com base no quanto ele precisa para reproduzir sua própria força de trabalho. • Regulação dos preços pelo mercado: o capitalismo é fun- damentalmente uma economia de mercado. Isso signifi- ca que, ao contrário de uma economia de subsistência, na qual as pessoas produzem bens para seu sustento, no capitalismo, elas os produzem, majoritariamente, para vendê-los; por outro lado, muitas pessoas querem vender seus produtos, o que leva ao estabelecimento do processo de concorrência. Na lógica capitalista de produção, os in- divíduos são livres para vender e comprar de acordo com seus interesses e possibilidades, e é o mercado que, teori- camente, regula o preço dos bens e serviços por meio da oferta e da procura. • Busca do lucro: a produtividade do trabalho é um dos elementos mais importantes para entender o funciona- mento do capitalismo. Ela resulta da divisão entre o total da produção e o tempo gasto para produzi-la. O principal objetivo das atividades econômicas no sistema capitalista é a obtenção do lucro, ou seja, o ganho (ou retorno) obti- do em relação ao capital investido. Teorias econômicas capitalistas Ao longo da história do capitalismo, surgiram muitas re- flexões teóricas que buscaram uma compreensão mais pro- funda sobre o funcionamento desse sistema econômico. Na prática, a principal diferença entre essas teorias se referia ao papel de atuação do Estado perante a economia de mercado. A partir do século XVIII, três “escolas do pensamento econô- mico” influenciaram nas tomadas de decisões de governan- tes e dos proprietários dos meios de produção. O liberalismo É a teoria econômica que buscava traduzir os princípios do capitalismo da época: a livre iniciativa, a propriedade privada, as liberdades individuais e o lucro. Seus maiores teóricos fo- ram Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). O primeiro publicou, em 1776, o livro A riqueza das nações, no qual essas ideias liberais estavam presentes, assim como a defesa da ampliação das trocas comerciais entre os países como estratégia para o desenvolvimento e o enriquecimento. Para Adam Smith, a economia de um país deveria sofrer a menor interferência possível do Estado, uma vez que ele acre- ditava na autorregulação do mercado como suficiente para definir os preços das mercadoriase a forma de produção des- tas. Esse movimento foi denominado por esse teórico como a “mão invisível” do mercado. Esse conceito também ficou co- nhecido pela expressão francesa laissez-faire, cujo significado é “deixar fazer” ou “deixar acontecer”. Segundo esse autor, cada país deveria especializar-se na produção de algumas mercadorias, a fim de reduzir seus cus- tos e ter melhores condições de concorrência no mercado. Essa especialização implicaria em treinamento dos trabalha- dores e na divisão do trabalho para aumentar a produtivida- de, o que reduziria o tempo para produzir uma mercadoria e, consequentemente, a redução do seu custo. Para isso funcio- nar, além da não intervenção do Estado, o comércio deveria ser livre, sem barreiras protecionistas, tarifas e impostos. Tanto Adam Smith como David Ricardo viveram no con- texto da Inglaterra durante a Primeira Revolução Industrial, quando puderam presenciar a invenção de muitas máquinas e o uso da energia a vapor, eventos que aumentaram o ritmo da produção da época. Então, eles foram tomados pelo oti- mismo advindo dos avanços técnicos. Nesse período, denominado por muitos estudiosos como a fase concorrencial do capitalismo, havia milhares de peque- nas empresas negociando no mercado. Mas, com o crescimen- to do capitalismo, o que ocorreu foi a concentração do poder nas mãos de um número menor de empresas, que foram fi- cando cada vez maiores, já que, até hoje, a concentração de riqueza do capitalismo descontrolado se deve ao fato de que a concorrência é vencida por aqueles que já têm mais poder econômico para investir ou conquistar mercados. Foi o liberalismo que orientou a economia capitalista até a Primeira Guerra Mundial, quando o mundo se envolveu em uma grande crise econômica, gerando a Grande Depressão, simbolizada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Com o início dessa recessão, muitos países passa- ram a buscar outras formas de pensar a economia, contando com maior participação do Estado. GEOGRAFIA – FRENTE 2 ATIVIDADE 2 Internacionalização do capitalismo 617 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA O keynesianismo O keynesianismo é um conjunto de teorias econômicas propostas por John Maynard Keynes (1883-1946), econo- mista inglês que reuniu no livro Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936) preceitos que foram utilizados para combater os problemas econômicos gerados pela crise de 1929 (Grande Depressão). Segundo o keynesianismo, o po- der público deveria interferir na economia para garantir a geração de emprego e o aumento do consumo. A intervenção estatal na economia, segundo Keynes, de- veria ser feita por meio de grandes obras, como rodovias, fer- rovias, portos, usinas hidrelétricas etc., e também por meio do welfare state, Estado de Bem-Estar, que é o conjunto de medidas que visam ampliar o acesso da população à saúde, educação, moradia e previdência. Enquanto as grandes obras teriam o papel de gerar em- pregos, o Estado de Bem-Estar garantiria que uma parcela maior do salário do trabalhador fosse destinada ao consumo das mercadorias, uma vez que o Estado passaria a pagar uma parte dos custos de reprodução da mão de obra. Do ponto de vista do keynesianismo, a teoria do libera- lismo − segundo a qual a busca dos interesses individuais le- varia ao benefićio comum em razão da concorrência − não funcionaria, porque, na ânsia de vencer a concorrência, as empresas tenderiam a tomar atitudes que, se por um lado beneficiariam o consumidor com a diminuição dos preços, por outro poderiam comprometer o funcionamento geral da economia. O maior exemplo é justamente a substituição do trabalho humano por máquinas, que gera desemprego e, dessa forma, pode levar a economia à estagnação por causa da queda do consumo. Portanto, seria responsabilidade do Estado corrigir esse e outros problemas gerados pela ação cega das empresas. E, ao contrário destas, que só visam ao bem individual, o poder público deveria ter como foco de sua ação o bem coletivo, ou seja, o funcionamento geral da eco- nomia capitalista com a normalidade na geração de empre- gos, na produção e no consumo de bens. Entretanto, apesar de defender a participação do Estado na economia, Keynes não propunha a socialização dos meios de produção, característica do sistema socialista, mas a ma- nutenção do sistema capitalista reformado. Da aliança entre Estado e capital, surgiu, assim, o modelo fordista-keynesiano. Durante os anos 1950 e 1960, tal mode- lo garantiu altos ińdices de crescimento e desenvolvimento econômico, principalmente aos paiśes mais ricos, e também se expandiu para vastas áreas do planeta. O neoliberalismo No fim da década de 1940, o economista austriáco Friedrich Hayek (1889-1992) já começara a propor o retorno aos ideais liberais, construindo o argumento de que a econo- mia de mercado moderna é complexa demais para ser regu- lada por uma instituição central como o Estado. O pensamento de Hayek, no entanto, ficou marginaliza- do até o inićio dos anos 1970, quando os gastos com a mon- tagem do Estado de Bem-Estar Social e o ganho de poder de negociação dos trabalhadores levaram ao endividamento es- tatal, ao aumento da inflação e à diminuição da taxa de lucros das empresas. Com a crise do endividamento público e da queda da taxa de lucro das empresas, as ideias do economista austriá- co vieram à tona, e pequenas mudanças foram aplicadas ao modelo liberal clássico, principalmente no que diz respeito ao controle da inflação por parte do Estado – que é iden- tificada como uma postura monetarista, ou seja, com ação focada na moeda – e às reformas polit́icas, no sentido de desmontar o Estado de Bem-Estar, ao menos parcialmente. Assim, batizou-se o novo modelo econômico com o nome de neoliberalismo. É esse sistema que orienta o processo de globalização que existe hoje. Os primeiros paiśes a conhecer governos neoliberais fo- ram o Chile, a partir do golpe de Estado que colocou Augusto Pinochet no poder (1973); a Inglaterra, no go- verno conservador de Margaret Thatcher (1979 a 1990); e os Estados Unidos, com a eleição de Ronald Reagan (1981 a 1989), embora este último mais pressionou outros paiśes a liberalizar sua economia do que adotou propriamente o neoliberalismo. Atenção! No modelo neoliberal, assim como no liberalismo, a par- ticipação do Estado na economia deve ser a mínima possível. Por isso, medidas como as privatizações são fundamentais para que o modelo neoliberal seja implantado. Durante a fase do Estado intervencionista, e de acordo com o modelo keynesiano, foram criadas, em vários paiśes, empre- sas estatais ou de capital misto. A intenção era colocar ativida- des essenciais para a economia sob o controle direto do Estado, com o intuito de eliminar a necessidade de atingir lucros. A partir dos anos 1970, a existência de empresas estatais tornou-se um problema para o Estado e para as empresas privadas. Da parte do Estado, o financiamento dos custos de GEOGRAFIA – FRENTE 2618 ATIVIDADE 2 Internacionalização do capitalismo 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA 2020_OCTA+_V1_GEO_F2.INDD / 22-10-2019 (10:41) / ANDERSON.OLIVEIRA / PDF GRAFICA Geografia – Frente 2 Atividade 2 - Internacionalização do capitalismo
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