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Gestão de Conflitos Elimar Silva Melo ELIMAR SILVA MELO GESTÃO DE CONFLITOS Belo Horizonte Dezembro de 2015 COPYRIGHT © 2015 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Vice Presidência Arthur Sperandeo de Macedo Coordenação de Produção Gislene Garcia Nora de Oliveira Ilustração e Capa Alexandre de Souza Paz Monsserrate Leonardo Antonio Aguiar Equipe EaD Conheça o Autor ELIMAR SILVA MELO é mestre em Administração, Pós-graduado (lato sensu) em Marketing, Comunicação Social e Gestão Empresarial. Graduado em Ciências Contábeis, Administração e Relações Públicas, e Doutorando em Educação. Sua experiência profissional inclui cargos gerenciais e diretoria em empresas do porte de Telemar, NET TV a Cabo, Escolas Maristas, Salesianas, Jesuítas e Verbitas, Banco Mercantil do Brasil e outras. Docente em importantes escolas de negócios no Brasil nas áreas de Estratégia, Marketing, Gestão Empresarial, Pedagogia Empresarial, Gestão de Pessoas, Gestão Comercial, Gestão do Agronegócio, Gestão de Cooperativas e Gestão na Saúde. Lecionou também para graduação nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Sistema de Informação, Gestão da Indústria e Publicidade e Propaganda nas instituições UNIPAM, FATEC do SENAI e PUC MG. Atua como consultor junto a diversas organizações, principalmente em cooperativas, hospitais, escolas e na indústria. Auditor da ISO 9001. Autor de artigos com foco no desenvolvimento comportamental, marketing, vendas e estratégia, e de materiais para EAD. É também poeta e empresário. 5 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS Administração de conflitos É comum a existência de diferenças de opinião entre as pessoas, principalmente no ambiente de trabalho, no qual se encontram pessoas vindas de diversos lugares e culturas distintas. Só essa característica já é suficiente para que haja discordância entre os indivíduos e se estabeleça alguma espécie de conflito. Assim, podemos dizer que a comunicação é uma ferramenta fundamental para a administração dos conflitos organizacionais. Será analisado também o uso da rádio peão como uma aliada para minimizar os conflitos internos das empresas. Por fim, verificaremos como as ferramentas de comunicação podem ser imprescindíveis na prevenção e correção de problemas de comunicação ocorridos nas empresas e como podem ser perigosas também. Bons estudos! 6 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS A comunicação como ferramenta de administração de conflito Conflito não é necessariamente ruim. Ele pode ser um elemento de crescimento para as pessoas, as organizações, a sociedade etc. A existência de tensões e conflitos nas relações servem, muitas vezes, para que essas relações se fortaleçam ou se desfaçam; e qualquer que seja o rumo que se tome, será um rumo de mudança, podendo ou não ser proveitoso para a organização. Porém, conflitos que disparam graves crises em uma organização podem ser perigosos. Segundo FORNI (2013), “crise é uma ruptura na normalidade da organização; uma ameaça real ao negócio, à reputação da empresa, à imagem da marca e ao futuro de uma corporação ou de um governo. Desperta o interesse da mídia e a percepção negativa dos “stakeholders” para o acontecimento, bem como abre flancos para a pressão dos concorrentes ou adversários políticos. Uma crise mina a confiança das pessoas na corporação”. O mais comum é que as crises e os conflitos sejam entendidos como problemas, e não como oportunidades. E isso acaba desencadeando processos de desgaste nas empresas, o que, muitas vezes, acaba comprometendo a imagem dela. As crises podem ter as mais diversas causas: uma dificuldade de mercado, uma queda nas vendas, o surgimento de um novo concorrente, projeções equivocadas feitas pelas áreas internas, reclamações de clientes ou de fornecedores, e assim por diante. É comum, inclusive, que uma crise comece “do nada”, apenas por uma desinformação ou por um mal-entendido. E tudo isso é reportado à comunicação interna. 7 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS É importante observar que as crises, mesmo tendo origens e motivos que possam parecer pequenos, podem produzir sérias consequências e danos complicados para a organização. Isso porque elas podem ter suas origens na comunicação da organização. Já vimos que uma mensagem equivocada pode provocar uma avalanche de consequências indesejáveis para quaisquer organizações. Até mesmo a emoção ao transmitir uma mensagem interfere em seu conteúdo e pode provocar danos. FIGURA 1: O poder da comunicação Fonte: Acervo Institucional Sendo ou não causa dos conflitos ou das crises das organizações, a comunicação interna deve agir, de forma combativa, diante dos processos de desgaste e ruptura da normalidade da empresa. E isso pode ser feito de duas maneiras: 1. preventiva 2. corretiva Agir de forma preventiva é acercar-se de instrumentos e práticas de comunicação interna, que sejam: 8 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS • claros, sem interferências que possam mudar o sentido da mensagem; • democráticos, distribuídos para todos os interessados e atingidos pela mensagem. • transparentes, de modo que sejam compreendidos mesmo em ambientes confusos e turbados; • objetivos, para que a essência da mensagem seja compreendida por seus receptores. Ainda, a condição preventiva carrega a necessidade de estar um passo à frente dos possíveis problemas que podem advir da ausência da informação ou da presença de uma informação equivocada. A forma corretiva, por sua vez, compõe-se das mesmas características da forma anterior, só que traz uma responsabilidade a mais: desfazer um mal-entendido, conter um conflito ou deter uma crise. Assim, como observa FORNI (2013), “a comunicação tem o poder de reduzir o dano provocado por um evento de crise. A empresa que consegue se comunicar bem, mesmo em situações negativas, pode mitigar os efeitos deletérios de uma crise. Quem se descuida da comunicação, preocupado apenas em resolver a crise em si, vai sentir as consequências quando a mídia repercutir o fato”. O que o autor ressalta é que, mesmo que a crise seja resolvida internamente na organização, uma vez que tenha vazado para a mídia externa, as consequências podem ser drásticas para a imagem da empresa. Mesmo observando apenas as condições internas de uma empresa em relação a uma crise, a solução deve ser partilhada com todos os que participaram dessa crise ou que foram, de alguma forma, afetados ou informados da existência dela. Veja o exemplo que apresento abaixo. Trata-se de uma experiência vivida por mim. 9 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS Em uma reunião de diretoria, com coordenadores de diversas áreas da empresa, um coordenador ofereceu uma informação que foi veementemente questionada por outro coordenador. O que parecia ser um simples questionamento, tomou proporções enormes e quase queincontroláveis. Alguns diziam que um queria “puxar o tapete” do outro; outros acreditavam que um dos dois estava “escondendo informações” para deter o poder. Bem, o fato é que a informação tinha origem duvidosa. Eu, inclusive, fui depois pessoalmente verificar a sua consistência e percebi que tratava-se de um entendimento distorcido de um fato isolado ocorrido na empresa. Chamei ambos para uma conversa e descrevi os fatos, acalmei os ânimos deles e disse que deveriam esclarecer a TODOS os que sabiam da notícia e estavam envolvidos na “trama”. Era importante não deixar dúvidas sobre o assunto, ou seja, eles eram os responsáveis pela confusão e, por isso, também o seriam pela solução – teriam que desfazer todos aqueles contratempos. E, para garantir que isso seria feito, ressaltei que o não cumprimento da minha determinação seria entendido como uma nova desinformação e uma tentativa de propagar uma crise que, de fato, não existia. Disse ainda que eu atribuiria a ambos a responsabilidade da crise, caso ela tomasse proporções externas à empresa e causasse qualquer tipo de prejuízo, principalmente prejuízos à imagem da instituição. Sanadas as dúvidas e colocados os interesses, cada um no seu lugar, seguimos com a segunda parte do “remendo”. Fomos para a mídia tratar do assunto polêmico gerado no interior da empresa e que poderia ter repercussões indesejáveis para nós. Usamos então a crise interna ocorrida em nossa empresa para despertar as demais organizações sobre um assunto delicado e que merecia atenção e cuidado. Fomos para a mídia e instigamos matérias e entrevistas sobre o tema e nos posicionamos, o que de fato gerou uma boa visibilidade para a empresa, atribuindo-lhe o conceito de ter sido pioneira ao enfrentar um assunto polêmico de forma aberta, objetiva e cuidadosa. 10 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS Como a comunicação atua? FIGURA 2: A atuação da comunicação Fonte: Acervo Institucional Algumas medidas, principalmente quando se tratam de ações corretivas, podem ser tomadas para garantir a solução de um conflito ou crise. Tais medidas são chamadas, por vezes, de ferramentas. São elas: • comitê de crise: criar e manter um grupo seleto de funcionários que possuam relevância no processo de gestão estratégica da empresa, a fim de poderem discutir sobre alinhamentos em eventuais momentos de crise; • treinamento de fontes oficiais: pessoas-chave treinadas para realizar pronunciamentos e conceder entrevistas à mídia externa em nome da empresa, bem como serem porta-voz da organização diante do público interno, quando necessário; 11 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS • atuação interna e externa com foco na redução de consequências: publicar nos veículos internos e divulgar releases e material publicável em mídia externa, com o objetivo de se posicionar oficialmente sobre determinada situação e/ou divulgar a visão da empresa sobre determinada crise; • contato estratégico com stakeholders: a finalidade desse contato é gerar ruídos ou causar impacto no relacionamento com os stakeholders. A comunicação da empresa entra em contato com eles para garantir, em primeira mão, a transmissão da mensagem oficial sobre a crise. Essas são ações que podem blindar a imagem da empresa em caso de crise e são facilitadoras para minimizar, inclusive, os conflitos internos. Em entrevista, FORNI (2014) acrescenta que: “A gestão de crise implica o envolvimento do “board” da organização: uma liderança clara, que todos conheçam, corajosa e audaciosa, que assume a responsabilidade na hora decisiva; uma boa gestão necessariamente precisa ter um porta-voz indicado, não que ele já precise dar entrevista, mas deve estar preparado para isso. Utilizar mensagens-chave. Quem diz? E o que diz? São princípios ou elementos básicos na gestão da crise. A gestão também leva em conta as estratégias de comunicação. Não há crise em uma boa comunicação e não há como separar a operação da crise da comunicação. Um trabalho de RP bem feito é essencial. Além disso, é preciso prevenção, gestão de riscos e isso significa ter um plano de crise pronto e aprovado para ser aplicado na hora da crise. Juntando tudo isso, teríamos o esboço de uma boa gestão. Credibilidade anterior e verdade são elementos também decisivos. Quem mente numa crise, corre sério risco de mergulhar em outra”. (FORNI, 2014) Os recentes episódios sobre a crise da imagem e da estrutura da Petrobrás são bons exemplos sobre como a comunicação externa e os meios de comunicação podem ser determinantes no entendimento dos fatos. Do 12 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS mesmo modo, é também importante o esforço que a própria empresa faz para dirimir as dúvidas e impasses internos. Não são poucos os exemplos e nem raras as dificuldades que as empresas passam por enfrentar crises. Assim, a comunicação interna é fundamental para ajustar a sintonia com e entre o público interno, para que as informações sejam esclarecedoras para o público externo. O acesso às informações consistentes sobre a empresa qualifica o público interno a ser protetor da imagem dela, bem como embaixador diante de outros stakeholders, que são interlocutores e interessados nos caminhos e no desempenho dessa empresa. Sendo assim, vale ressaltar o impacto negativo que uma informação errada, divulgada por boatos espalhados na rádio peão, pode causar a uma empresa. Usando a rádio peão A desinformação e a informação errada e parcial podem ser muito danosas para as empresas. São compostas por uma mistura de verdade e falsidade, com mal intenção ou não. O que se sabe é que, mesmo sendo aparentemente inocentes, informações distorcidas geram prejuízos. Conforme TAVARES E FERREIRA (2013, p.1), “em uma definição simples, a Rádio Peão nada mais é do que manifestações comunicacionais não controladas que correm pelo caminho da informalidade dentro das organizações. Seria a junção de boatos com informações realmente verdadeiras”. 13 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS FIGURA 3 - O boato e o seu poder Fonte: [Boato] Disponível em: <http://walbarprof.blogspot.com.br/p/o-poder-de- um-boato.html>. Acesso em 15 jun. 2015. Diz um ditado popular que “o povo aumenta, mas não inventa”. Bem, isso é questionável, mas devemos levar em conta que as pessoas nas organizações tendem a reproduzir o que escutam e o que percebem. Assim, o fato de surgirem boatos é algo tão comum quanto à divulgação de uma notícia bem embasada e com consistência na informação. As pessoas querem dividir o que sabem, suas novidades, suas notícias e seus segredos; ou melhor, os segredos dos outros. É da natureza comunicacional das pessoas a propagação das informações que as cercam. A rádio peão é a maneira informal das pessoas de uma organização darem suas notícias sobre o que é formal e relevante na empresa. É uma mídia importantíssima e deve ser tratada como tal. Independentemente de ser verdade ou não, uma notícia oriunda da rádio peão tem credibilidade diante dos seus ouvintes. Afinal, ela se forma a partir da interação entre os empregados, que, com a proximidade, vão criando vínculos de respeito, amizade e companheirismo. Não se deve negligenciar esses laços formados, http://walbarprof.blogspot.com.br/p/o-poder-de-um-boato.html http://walbarprof.blogspot.com.br/p/o-poder-de-um-boato.html 14 • Administração de conflitos• A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS se desfazendo do poder da comunicação informal dentro das organizações. Segundo DIFONZO (2009): “Sem dúvida, não existem regras que estabeleçam que um boato não possa ser tanto um rumor quanto uma fofoca - uma atividade não exclui a outra. Afinal, as ações humanas geralmente têm inúmeros motivos, nem sempre excludentes. [...] Acusações não comprovadas sobre chefes ou líderes costumam ter essa qualidade nebulosa”. (DIFONZO, 2009, p.75): As notícias que trafegam pela rádio peão contam com a credibilidade do corpo de empregados da empresa – desacreditá-los pode ser complicado. Porém, quando as mensagens divulgadas são danosas para a empresa, se faz necessária uma intervenção de caráter corretivo das notícias. Nesse caso, é preciso, o quanto antes, divulgá- la de forma esclarecedora, para que as distorções sobre o assunto sejam eliminadas. A rádio peão não pode ser controlada, mas pode ser usada pela própria empresa. A organização pode lançar mão da informalidade desse recurso para fazer circular as notícias e os “boatos” que sejam de interesse da própria empresa. De acordo com PIMENTA (2009) citado por BESSA (2010): Há administradores que consideram sua existência como maléfica, uma extensão ou herança de fofoca de vizinhos. Mas, existem ainda aqueles que aceitam com tranquilidade e até procuram utilizá-la para ampliar sua percepção dentro da empresa, melhorando sua relação com as pessoas e com os grupos e ainda a melhor compreensão de interpretações de determinados fatos. (PIMENTA, 2009 citado por BESSA, 2010, p.42) Nesse sentido, qual é o lado bom da rádio peão? 15 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS Creio que esse segundo procedimento, conforme aborda Pimenta citado por Lessa, é mais construtivo para as empresas, que podem aproveitar da forma como as pessoas da organização veem e interpretam as notícias internas. É muito melhor do que tentar combater as notícias que aparecem da rádio peão. FIGURA 4 - A comunicação da radio peão Fonte: [Diálogos] Disponível em: <https://comunicacaoempresarialjor.wordpress. com/>. Acesso em 15 jun. 2015. Ainda segundo TAVARES E FERREIRA (2010): A comunicação interna no ambiente de trabalho deve ser eficiente e estratégica a ponto de trazer para junto de si a Rádio Peão, usando-a como mais um instrumento de trabalho. Sua ação, que como vimos é rápida e eficaz quando se fala em processo de comunicação, precisa estar atrelada as demais oferecidas pela comunicação interna. Com isso, as informações que circularam pelos corredores, pelos bate-papos no cafezinho e nos happy hours depois do horário de expediente serão apenas as positivas para a empresa, sem distorções ou desinformações. (TAVARES E FERREIRA,2010, p.10) https://comunicacaoempresarialjor.wordpress.com/ https://comunicacaoempresarialjor.wordpress.com/ 16 A informalidade de muitas atividades da organização é um convite para que as pessoas façam suas leituras sobre o que ocorre na empresa e criem suas informações baseadas em suas experiências e percepções. O antídoto para isso é o treinamento e a capacitação em comunicação e em informações pertinentes à empresa, bem como uma comunicação interna eficaz e proativa, que busca a interação e a integração das pessoas com os objetivos e interesses da empresa. Conflitos sempre existiram em todos os ambientes. A forma de encará-los e buscar soluções para eles é que faz a diferença entre as organizações de sucesso e as outras. O melhor é ser preventivo, mas, na impossibilidade, quando “o leite já derramou”, são necessárias medidas de comunicação efetivas para corrigir os possíveis estragos que os conflitos causaram. É importante estar alerta para as demandas de reparos que a organização apresenta. WILSON DA COSTA BUENO Professor da UMESP e da ECA/USP, editor do Portal da Comunicação Empresarial on-line e da revista digital Comunicação & Estratégia. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa. Livros publicados recentemente: Comunicação Empresarial: teoria e pesquisa (2003) e Comunicação Empresarial no Brasil: uma leitura crítica (2005). Sua organização tem medo da Rádio Peão? Não devia. A maioria das organizações tem um receio infundado da chamada Rádio Peão (ou Rádio Corredor), que designa o processo de comunicação que se origina dos funcionários e que, quase sempre, é comandado por eles, com o objetivo de se contrapor à comunicação oficial. A Rádio Peão não entra no ar por geração espontânea, ou seja, ela só é ativada quando algo está acontecendo internamente à organização. Como nenhuma organização é perfeita, ela inevitavelmente ficará ativa, com o 17 volume mais ou menos baixo. E, o que é mais importante, ela está, quase sempre, associada a disfunções, jamais a virtudes organizacionais. Isto quer dizer que, quando sua transmissão é percebida (convenhamos, muitas vezes, o volume é tão alto que dói mesmo nos ouvidos, particularmente das chefias), é porque existem problemas no relacionamento entre a organização e seus públicos internos. Mas ter alguém que divulga as nossas deficiências não é ruim, embora a gente tenda sempre a raciocinar desta forma. Você já imaginou, se nós não sentíssemos dor ou febre? Seria, pode ter certeza, arriscado porque eles são sintomas de que algo não anda direito e, aceitemos ou não, seria terrível, se eles não existissem. Veja as coisas por outro ângulo: a dor de dente (que coisa horrorosa!) é um alerta, não uma ameaça. A Rádio Peão, em funcionamento, pode indicar uma série de situações. Ela aponta para lacunas no processo de comunicação de uma organização, ou seja, aborda temas ou assuntos que dizem respeito ao corpo de funcionários, mas que, por várias razões, estão sendo deixados de lado pela direção. Por exemplo: a qualidade ou o tipo de comida servida no restaurante (que não deve estar agradando); o autoritarismo ou a incompetência de algumas chefias (puxa, isso acontece em todo lugar, não é mesmo?) ou mesmo um cheiro estranho no ar (demissões à vista?). A Rádio Peão não precisa ser estimulada, obrigatoriamente, por forças externas (o Sindicato é, muitas vezes, responsabilizado injustamente por seu funcionamento), mesmo quando, em sua programação, surgem questões candentes, como aumento salarial, redução do número de horas de trabalho etc. Afinal de contas, numa sociedade em rede, os funcionários, independentemente do Sindicato, podem descobrir que os colegas que trabalham nos concorrentes estão sendo melhor remunerados. A reivindicação não precisa, ao menos, ter um caráter comparativo porque cada um de nós, individualmente, sabemos como é triste a constatação de que o salário está indo embora cada vez mais cedo. É triste, doloroso mesmo, quando sobram dias do mês no fim do salário. Qualquer que seja o motivo, a Rádio Peão é comumente vista como uma ameaça a ser enfrentada. Embora sem ter como evitar que ela continue 18 propagando as suas mensagens, a direção (e, em especial, os seus prepostos) não tem dúvida: ela precisa sair do ar. Algo precisa ser feito, imediatamente, antes que contamine, perigosamente, o clima organizacional. Mas será que ela é mesmo tão perversa? Será que a Rádio Peão tem como objetivo destruir a organização que a abriga e, portanto, deve ser riscada do mapa? E aí vem a pergunta mais incisiva: Mas dá para liquidar a Rádio Peão? A Rádio Peão pode, se a organização decidir, ser tirada do ar? A Rádio Peão é uma rádio pirata? Um equívoco formidável. Aqueles que contemplam, de maneira absolutamente negativa, a Rádio Peão e que a incluem no “eixo do mal” (a expressão é do presidente Bush – sai pra lá, gente ruim!, atormentado com a ameaça terrorista,esta sim bem real), costumam estar redondamente enganados. A Rádio Peão não é tão feia como a pintam e, o que é mais significativo, ela faz parte do processo de comunicação de qualquer organização. Ela é democrática porque frequenta organizações de qualquer porte e tem a capacidade de arrebanhar ouvintes atentos em qualquer lugar do País ou do exterior (ou você pensa que só as organizações brasileiras têm a sua companhia?). A Rádio Peão, embora não seja coordenada por profissionais de comunicação, pode exibir uma competência formidável; logo, antes de execrá-la como um fenômeno nocivo, talvez valesse a pena ouvi-la com mais cuidado. Os comunicadores têm muito a aprender com ela porque, no fundo, a Rádio Peão traduz uma experiência importante de relacionamento com os colaboradores (eita palavrinha complicada e hipócrita!). Seria bastante aconselhável que os profissionais de comunicação organizacional a sintonizassem com mais regularidade porque há ensinamentos importantes sendo transmitidos por ela. A Rádio Peão é uma escola informal construída dentro dos muros da organização. A primeira coisa que se deve entender é que a Rádio Peão é “coisa nossa”, ou seja, queiramos ou não, nós somos responsáveis por ela. Quando ela está ali, funcionando, em alto e bom som, é porque a organização não foi suficientemente competente, em seu processo de interação com os funcionários, e deixou vazios para serem preenchidos. 19 A Rádio Peão é exatamente a mão esquerda (não é a direita porque costumamos convencionar que a oposição é sempre de esquerda!) da comunicação de “mão dupla” (lembra-se? aquela que postula a importância do “feedback”?), muito difundida nos discursos dos executivos que comandam a comunicação interna, mas pouco praticada por eles. Ela existe porque as organizações costumam ignorar as demandas, as expectativas e as necessidades dos funcionários e os convida (ou os impele) a criar um veículo próprio para propagar as suas reivindicações, os seus temores e até os boatos que povoam as nossas relações pessoais e profissionais (puxa, tem empresa – e famílias - que mais parecem uma imensa rede de intrigas). A Rádio Peão faz sentido. Ela é, na prática, uma contrapartida à comunicação oficial, a voz (que pode ser barulhenta e desagradável algumas vezes) dos funcionários que se sentem, de alguma forma, penalizados por um processo de gestão ineficaz ou por uma comunicação interna não democrática. E você acha justo que funcionários descontentes retribuam com fala mansa e elogios aos patrões? Você age assim quando se sente injustiçada? E aí é que vem o melhor (ou o pior?) da história: o sucesso da Rádio Peão está na razão direta do insucesso do processo de comunicação organizacional. Uma organização que tem uma política de comunicação que prima pela agilidade, pela pró-atividade, pelo profissionalismo, pela ética, pela transparência, em geral cria embaraços terríveis para o pleno funcionamento da Rádio Peão. Se as informações circulam rápida e democraticamente, se a organização tem um bom ouvido para escutar (na verdade, a maioria das nossas organizações tem o mesmo defeito: uma boca enorme e uma orelha bem pequenininha), a Rádio Peão não encontra com facilidade ouvintes interessados. Se os funcionários são bem atendidos pela comunicação oficial (e o oficial aqui não tem sentido pejorativo), não precisam sintonizar outros veículos, não precisam de outros apresentadores de rádio para comunicar as boas e más notícias. A Rádio Peão é uma concorrente importante e não precisa ser vista como um adversário perigoso e desleal. Na maioria dos casos, não é. Ela representa a expressão, a voz dos funcionários e pode, inclusive, 20 ser utilizada no bom sentido, para legitimar a gestão e a comunicação competentes. O som da Rádio Peão só é desagradável quando a organização não consegue sintonizá-la direito. Isso acontece também com os nossos aparelhos receptores quando estão com a pilha fraca (a comunicação interna de muitas organizações parece que estão sempre com a pilha fraca!) ou quando a gente não coloca o ponteirinho em cima do lugar correto. Fica aquele chiado enorme, não é verdade? Às vezes, a Rádio Peão não pega direito e incomoda porque há interferências externas, mas o normal é que a sintonia inadequada seja mesmo culpa nossa, da nossa organização. É preciso, de uma vez por todas, enxergar a Rádio Peão com outros olhos e ouvidos. Ela integra a comunicação das organizações (assim como as bactérias e os vírus fazem parte do nosso organismo e alguns até são indispensáveis para ele). Não precisamos sair por aí proclamando blasfêmias contra ela. Não vai adiantar nada. Toda organização boa tem uma boa Rádio Peão. Toda organização que anda pisando na bola, em sua comunicação interna, tem uma Rádio Peão barulhenta, chata e que, na opinião das chefias, pode ser até ameaçadora. Vamos admitir, para elas, a Rádio Peão pode até ser perigosa porque costuma inclui-las como vilões em sua programação diária. Chefes, na Rádio Peão, dificilmente aparecem como os mocinhos das telenovelas. O importante é que a gente aprenda a conviver com a Rádio Peão porque, na prática, para não esticar demais a conversa, toda organização tem mesmo a Rádio Peão que merece. Fonte: BUENO, Wilson da Costa. Sua organização tem medo da Rápida Peão? Não devia. In: site “RP- Bahia”. Disponível em: <http://www.rp-bahia. com.br/colunistas/wilbueno3.htm>. Acesso em 15 jun. 2015. 21 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS Revisão Neste material foi abordada a percepção da comunicação como ferramenta de administração de conflito. Indicamos os aspectos preventivos e corretivos aos quais a empresa deve estar atenta, para que sejam usados na comunicação para gerir conflitos e crises. Destaca-se que agir de forma preventiva é acercar-se de instrumentos e práticas de comunicação interna, que sejam: claros, transparentes, democráticos e objetivos na transmissão das informações. Algumas ações podem favorecer a empresa no momento de crise e facilitar a sua blindagem contra os ataques à sua imagem. São elas: instalar um comitê de crise, propiciar treinamento de fontes oficiais, atuar interna e externamente com foco na redução de consequências e estabelecer contato estratégico com os stakeholders. Já em relação a rádio peão, vimos como evitar os danos que ela pode causar e como apropriar-se das notícias que ela leva e traz, com a finalidade de aprimorar a comunicação interna na organização. Um cuidado importante refere-se aos boatos destrutivos, que exigem a execução rápida de ações corretivas, a fim de minimizar os efeitos que eles podem ter sobre o ânimo e a confiança dos empregados na empresa. 22 • Administração de conflitos • A comunicação como ferramenta de administração de conflito • Usando a rádio peão • Revisão Tópicos abordados GESTÃO DE CONFLITOS Fonte e sugestão de leitura: MANUAL de sobrevivência. 31 dez. 2013. In: site “Observatório da Imprensa”. Disponível em: <http://observatoriodaimprensa.com.br/armazem-literario/_ ed779_manual_de_sobrevivencia/>. Acesso em 15 jun. 2015. FORNI, João José. Como enfrentar crises. 28 abr. 2014. In: site “CEMP – Comunicação Empresarial”. Disponível em: <http://www.cemp.jor.br/ conteudo.php?opcao=vis&id=141>. Acesso em 15 jun. 2015. 23 BESSA, Rebeca Leite Viana Chaves. Comunicação empresarial: Rádio Peão e seus efeitos na comunicação das empresas. (Monografia apresentada ao curso de Jornalismo) Faculdade 7 de Setembro. Fortaleza: 2010. Disponível em: <http://www.fa7.edu.br/recursos/ imagens/File/jornalismo/monografia/2010/Monografia_PDF_REBECCA. pdf>. Acesso em 15 jun. 2015. Corrêa, Fabiana; Rocha, Márcia. Saiba usar a fofoca corporativa a seu favor. 18 out. 2010.In: site “Info”. Disponível em: <http://info.abril. com.br/noticias/carreira/saiba-usar-a-fofoca-corporativa-a-seu- favor-18102010-13.shl>. Acesso em 15 jun. 2015. DIFONZO, Nicholas. O poder dos boatos. Rio de Janeiro: Editora Campos 2009. Ferreira, Afonso. Rádio-peão estraga clima das empresas; veja como frear as fofocas. 20 dez. 2012. In: site “Uol – economia”. Disponível em: <http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/12/20/radio-peao- desmotiva-equipe-e-reduz-produtividade-veja-como-frear-fofocas. htm>. Acesso em 15 jun. 2015. Ramon-Cortés, Ferran. Vírus: O perigo dos boatos nas empresas. Academia da Inteligência, 2008 TAVARES, Fernanda Braga; TAVARES, Fernanda Braga. RÁDIO PEÃO COMO FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO INTERNA. Revista Panorama, Goiás, v. 3, n. 1, p.292-302, 2013. Anual. Referências www.animaeducacao.com.br
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