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Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável

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1 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL 
 
 
2 
 
FACUMINAS 
 
A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo 
de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade 
oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Sumário 
 
 
FACUMINAS ............................................................................................................. 2 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4 
Tendências na economia mundial e o impacto nas políticas públicas ................ 6 
Capacidades estatais ............................................................................................. 10 
Macroeconomia ...................................................................................................... 15 
Instrumentos da política macroeconômica .......................................................... 21 
Microeconomia ....................................................................................................... 26 
Aplicações da análise microeconômica ............................................................... 29 
A rede de gestores ................................................................................................. 33 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
INTRODUÇÃO 
Não há como trabalhar políticas, principalmente políticas públicas, sem 
compreendermos os meandros da economia, seja ela macro ou micro, afinal de 
contas, as interfaces entre política e economia são um campo consagrado de estudos, 
operando na fronteira entre a análise de processos, análise institucional de processo 
decisório e as ideias/teorias políticas e econômicas. 
 De acordo com Mendonça (2000), no Estado capitalista, a política aparece 
como o mecanismo de realização dos interesses dos principais grupos e camadas 
sociais da sociedade. A economia adquire uma dimensão relativamente importante 
entre esses interesses, mas sem que outras dimensões ligadas aos aspectos 
sociológicos ou culturais desapareçam. O Estado capitalista se acha, portanto, não 
somente fracionado em classe capitalista e classe de trabalhadores, mas igualmente 
dividido no interior dessas frações e submetido a restrições diversas. Ou seja, a 
disputa política é constitutiva do Estado. Assim sendo, este se fundamenta sobre a 
hegemonia da fração dominante da burguesia, sobre a possibilidade mesmo de 
mudança deste grupo hegemônico e sobre as reinvindicações sociais. 
 No que diz respeito especificamente à relação política-economia, uma primeira 
determinação aparece claramente. Trata-se do poder que a política confere à fração 
de classe que detém as melhores condições para a reprodução do sistema. Porém, 
este poder não engendra uma independência da esfera econômica. Esta é 
constantemente limitada pelo poder político. De fato, o conflito de classes, as 
divergências no seio dessas classes e a existência das reivindicações, que não 
provém da economia, implicam uma autonomia relativa da esfera estatal. E isto 
acontece na medida em que esta esfera integra o modo como se desenvolve a 
correlação de forças políticas, possuindo assim os meios de influenciar a via adotada. 
 
 
5 
 Igualmente, a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) ressalta que a 
compreensão da dimensão política na esfera econômica, desdobra-se ainda pela área 
de políticas públicas e por todo o campo da economia política e a dimensão social, 
ordenando tanto da formulação à implementação das ações, o debate em torno das 
opções governamentais, os impactos da política econômica e as estruturas de 
governança naquilo que se relacionam às ações e opções dos atores políticos. 
 É via teoria econômica e sua aplicação que teremos condições de elaborar 
cenários e previsões sobre o comportamento de variáveis como a taxa de crescimento 
da economia, preços e quantidades de equilíbrio nos mercados e resultados da 
implementação de políticas públicas em nível regional e nacional. As ferramentas 
utilizadas podem partir de uma análise generalista, a utilização de estatística descritiva 
e gráfica ou aplicar métodos matemáticos mais sofisticados como em econometria e 
equilíbrio geral (ABCP, 2016). 
 Enquanto política é tudo que se refere à vida da coletividade, atividade 
orientada ideologicamente para a tomada de decisões de um grupo para alcançar 
determinados objetivos, a ciência de governar; economia é, por sua vez, a ciência que 
estuda a alocação de recursos escassos para a produção e consumo, distribuição de 
renda, efeitos de políticas governamentais sobre os diversos agentes econômicos, 
equilíbrio dos mercados de produtos e serviços e outros diferentes assuntos 
relacionados às atividades humanas. 
 Assim, o gestor de políticas públicas, deve ter em seu rol de conhecimentos, os 
principais conceitos que envolvem a economia (macro e micro) com vistas a analisar 
e vislumbrar possíveis resultados que irão impactar direta ou indiretamente na vida 
dos cidadãos, lembrando que tão importante quanto debater o papel do Estado na 
Economia e na sociedade é analisar a própria capacidade do Estado, especificamente 
para formular, implementar e avaliar as políticas públicas. 
 Pois bem, economia e políticas serão os temas do momento. 
 Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
 
 
6 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais 
 Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para 
sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos 
 
Tendências na economia mundial e o impacto nas políticas 
públicas 
 
 Falar em “tendências” soa como alguma coisa atual, é verdade! Mas 
precisamos traçar uma breve linha do tempo e voltar algumas décadas atrás, algo em 
torno da terceira década do século XX para entendermos as grandes transformações 
pelas quais passou o Brasil, muito em virtude da dinâmica mundial. 
 Bacelar (2003) fala em herança recente, o período que vai dos anos 30 até 
hoje, quando o Brasil passa por uma transformação muito grande. Nos anos 20, era 
um país rural e agrícola. O censo de 1920 revelava que 30% da população brasileira 
vivia nas cidades e 70% no campo. 
 Cinquenta anos depois, ocorria o inverso – 70% nas cidades e 30% no campo. 
Até 1930, a economiado Brasil era uma economia agrícola. Em 1980, o Brasil 
ocupava o oitavo lugar em se tratando de Produto Interno Bruto (PIB) industrial do 
mundo. Depois dos sete grandes, o oitavo era o Brasil. Isto nos dá uma ideia da 
mudança de perfil na sociedade e na economia em meio século. O que alguns países 
levaram séculos para fazer, o Brasil fez em cinquenta, sessenta anos. Transformou-
se numa potência industrial média, com a maior parcela da sua gente morando nas 
cidades e este é o perfil atual do Brasil! 
 Nesse longo período que vai de 1920 a 1980, o Estado brasileiro era 
caracterizado por seu caráter desenvolvimentista, conservador, centralizador e 
autoritário. Não era um Estado de Bem-estar Social. O Estado era o promotor do 
 
 
7 
desenvolvimento e não o transformador das relações da sociedade. Um Estado 
conservador que logrou promover transformações fantásticas sem alterar a estrutura 
de propriedade, por exemplo. 
 Nessa fase, o grande objetivo do Estado brasileiro era consolidar o processo 
de industrialização. Desde o começo do século, optou-se pela industrialização. A 
grande tarefa era consolidar esse processo e fazer do Brasil uma grande potência. 
Assim, o grande objetivo era de ordem econômica: construir uma potência 
intermediária no cenário mundial. O Estado desempenhava a função de promover a 
acumulação privada na esfera produtiva. O essencial das políticas públicas estava 
voltado para promover o crescimento econômico, acelerando o processo de 
industrialização, o que era pretendido pelo Estado brasileiro, sem a transformação das 
relações de propriedade na sociedade brasileira (BACELAR, 2003). 
 O Estado brasileiro é, tradicionalmente, centralizador. Há pouca ênfase no 
bem-estar, ou seja, a tradição de assumir muito mais o objetivo do crescimento 
econômico e muito menos o objetivo de proteção social ao conjunto da sociedade, fez 
com que o Estado adquirisse uma postura de fazedor e não de regulador. Nós não 
temos tradição de Estado regulador, mas de Estado fazedor, protetor; não temos 
tradição de Estado que regule, que negocie com a sociedade os espaços políticos, o 
que só hoje estamos aprendendo a fazer. O Estado regulador requer o diálogo entre 
governo e sociedade civil, e nós não temos tradição de fazer isso. O Estado 
centralizador, em muitos momentos da nossa vida recente, junta-se ao autoritário, 
tanto que tivemos uma longa ditadura no período Vargas e, depois, uma longa ditadura 
nos governos militares pós-64. Então, o viés autoritário é muito forte nas políticas 
públicas do país. 
 Dado o seu caráter autoritário, o Estado não precisava se legitimar perante a 
grande parcela da sociedade, ficando refém dos lobbies dos poderosos nos gabinetes, 
principalmente de Brasília, já que se concentra na União. E as grandes lideranças nos 
períodos das ditaduras nem pressão podiam fazer. Algumas estavam exiladas, outras 
foram mortas. Assim, a tradição, o ranço da vertente autoritária, tornou-se um traço 
muito forte nas políticas públicas do país, e as políticas públicas eram muito mais 
políticas econômicas. Se olharmos a história recente, as políticas sociais e as políticas 
regionais são meros apêndices, não são o centro das preocupações das políticas 
 
 
8 
públicas. Nelas, o corte era predominantemente compensatório, porque o central era 
a política econômica, já que a política industrial era hegemônica, porque o projeto 
central era a industrialização (BACELAR, 2003). 
 Verdade é que cada lugar requer uma solução que venha da realidade. Quando 
se tem uma política centralizada, o tratamento é homogeneizado. A centralização faz 
com que as propostas venham de cima para baixo, e essa é uma tradição das políticas 
sociais no país. Junta-se a isso a consequente dificuldade de promover a participação 
da sociedade. 
 Eis que, no final da década de 1990, o quadro de instabilidade financeira e os 
altos índices de pobreza e desemprego verificados nos países que aderiram às 
medidas do Consenso de Washington1 levaram à perda de legitimidade da agenda 
do Estado mínimo. A partir daí, pode-se dizer que nenhuma posição sobre qual deve 
ser o papel do Estado para o desenvolvimento adquiriu hegemonia teórica ou política 
– sobretudo após a crise financeira mundial de 2008-2009 (GOMIDE, 2016). 
 Numa explicação bem simples, o Consenso de Washington é uma conjugação 
das grandes medidas – que se compõe de dez regras básicas – formulado em 
novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras situadas em 
Washington D.C., como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos 
Estados Unidos, fundamentadas num texto do economista John Williamson, do 
International Institute for Economy, e que se tornou a política oficial do Fundo 
Monetário Internacional em 1990, quando passou a ser “receitado” para promover o 
“ajustamento macroeconômico” dos países em desenvolvimento que passavam por 
dificuldades. 
 As dez regras foram: 
I. Disciplina fiscal – o Estado deve limitar os gastos à arrecadação, eliminando o 
déficit público. 
II. Redução dos gastos públicos. 
III. Reforma fiscal e tributária, na qual o governo deveria reformular seus sistemas 
de arrecadação de impostos e ampliar a base sobre a qual incide a carga 
tributária, com maior peso nos impostos indiretos. 
 
 
9 
IV. Abertura comercial e econômica dos países, a fim de reduzir o protecionismo e 
proporcionar um maior investimento estrangeiro. 
V. Taxa de câmbio de mercado competitivo. 
VI. Liberalização do comércio exterior. 
VII. Investimento estrangeiro direto, eliminando as restrições. 
VIII. Privatização, com a venda das estatais. 
IX. Desregulamentação, com o afrouxamento das leis de controle do processo 
econômico e das relações trabalhistas. 
X. Direito à propriedade intelectual. 
 Lembremos que o Brasil foi um dos poucos países que não aceitaram 
imediatamente estas regras, mas as aplicou rapidamente ao longo da década de 
1990. A principal medida adotada pelo governo brasileiro foi a política de 
privatizações, na qual as empresas dos ramos das telecomunicações, de energia, 
mineração e outros foram transferidos do Estado para a iniciativa privada. 
 O fato é que não existe apenas uma receita para o desenvolvimento 
econômico, elas variam de país para país, dependem das instituições locais, dos 
contextos histórico-políticos e outros, além de que não basta querer, é preciso saber 
qual a capacidade do Estado em identificar problemas, formular e implementar 
políticas que sejam essenciais no processo, portanto, tão importante se faz analisar e 
saber qual essa capacidade para que Estado, sociedade e mercado sustentem o 
desenvolvimento (BLOCK; EVANS, 2005 apud GOMIDE, 2016). 
 Igualmente, é verdade que, mesmo em menor grau, o Estado brasileiro também 
facultou serviços sociais, de segurança e justiça. O Estado regulador, embora com 
uma face muito menor do que o Estado realizador, também se fazia presente, quando 
era imprescindível a seu projeto. Por exemplo, na era Vargas, o Estado interveio para 
regular a relação trabalho-capital. Quer dizer, no momento em que a opção é a 
industrialização, em que o operariado vai surgindo e em que é necessário definir as 
regras do jogo entre o trabalho e o capital, o Estado brasileiro aparece com força 
(BACELAR, 2003). 
 
 
10 
 
 
 
Capacidades estatais 
 O conceito de capacidades estatais é abrangente e multidimensional, o que 
pode levar a interpretações intuitivas que carregam consigo o risco de confundir, em 
vez de elucidar, sua importância para aplicação empírica. 
 Enquanto no Dicionário Aurélio, o substantivo “capacidade” está associado à 
qualidade, habilidade ou aptidão que uma pessoa ou coisa tem de possuir para um 
determinado fim, no dicionário Oxford, a definição do substantivo “capacidade” (em 
inglês, “capacity”) seria a habilidade ou o poder de fazer algo. 
 Para o que nos interessa, podemos fazer a seguinte analogia:a coisa seria o 
Estado; e a finalidade, o desenvolvimento social e econômico. 
 Gomide (2016) em seus estudos sobre as capacidades estatais busca 
responder ao seguinte questionamento: Quais seriam as habilidades ou faculdades 
que o Estado precisa possuir para promover políticas públicas voltadas ao 
desenvolvimento? 
 Vamos seguir a construção do seu pensamento? 
O conceito de capacidades estatais decorreu dos estudos de Sociologia Política 
e Economia Política acerca do papel do Estado na promoção do desenvolvimento 
econômico. Atualmente, o conceito vem adquirindo centralidade nas análises sobre a 
efetividade do Estado ou “boa governança” (MATTHEWS, 2012; VOM HAU, 2012; 
CINGOLANI, 2013 apud GOMIDE, 2016). 
As capacidades estatais podem estar associadas às habilidades do Estado de 
proteger os direitos de propriedade, garantir contratos e conquistar a credibilidade dos 
investidores privados, até enunciados mais intervencionistas, como o de Weiss (1998 
apud GOMIDE, 2016), que vincula o conceito às habilidades do Estado de coordenar 
 
 
11 
transformações industriais para satisfazer o contexto em evolução da concorrência 
internacional. 
No que concerne à história do conceito, Souza (2012) narra que ele decorreu 
da ideia de autonomia do Estado desenvolvida por autores de linhagem teórica 
weberiana, no intuito de explicar o papel do Estado nos processos de industrialização 
tardios. Para Weber, o Estado, por ser uma associação política com quadro 
administrativo próprio, que detém o monopólio da coação física legítima dentro de um 
território (poder de dominação), teria a faculdade de perseguir objetivos que não 
refletem, necessariamente, as pressões de grupos de interesse ou de classes sociais 
específicas. É nessa perspectiva que Skocpol (1979 apud GOMIDE, 2016) argumenta 
que o Estado e a sua ação não podem ser reduzidos aos interesses das classes 
sociais. Para a autora, o Estado seria potencialmente autônomo, sobretudo pelo fato 
de sua burocracia (ou seu quadro administrativo), como grupo, ter a possibilidade de 
operar de forma independente (insulada da sociedade) e perseguir objetivos próprios. 
O livro organizado por Evans, Rueschemayer e Skocpol (1985 apud GOMIDE, 
2016) aborda os mecanismos pelos quais o poder autônomo do Estado opera. Nesse 
sentido, ganha relevo a noção de capacidades do Estado, associada primeiramente 
às habilidades de seu corpo administrativo para implementar as metas oficiais, mesmo 
diante da oposição real ou potencial de grupos da sociedade ou em face de 
circunstâncias socioeconômicas recalcitrantes. Assim sendo, para o Estado poder agir 
autonomamente, condição indispensável seria a existência de uma burocracia capaz 
de implementar, de forma coerente e autônoma, políticas de desenvolvimento. 
Evans (1995 apud GOMIDE, 2016), posteriormente, veio a ampliar o conceito, 
ao argumentar que as capacidades do Estado para transformar a estrutura produtiva 
de um país estariam associadas não só à existência de burocracias racional-legais, 
autônomas e aptas a atuar de forma coerente, mas também à habilidade destas de se 
relacionarem com o empresariado privado, obtendo com isso as informações 
necessárias para formular e implementar planos e estratégias de desenvolvimento 
econômico. Na competência e na coesão interna da burocracia estatal residiria a 
condição que impediria que ela fosse capturada por interesses particularistas em sua 
relação com o setor privado. Surge daí a noção de “autonomia inserida” (embedded 
autonomy) como elemento-chave para as capacidades estatais. 
 
 
12 
De forma diversa, Mann (1984 apud GOMIDE, 2016) associou o poder 
autônomo dos Estados à capacidade destes de adentrar a sociedade e, com isso, 
executar suas decisões políticas por todo o território. Este processo, que implica uma 
relação de cooperação entre os cidadãos e seus governos, ele denominou de poder 
infraestrutural do Estado (em oposição ao poder despótico, que seria imposto à 
sociedade). Para ele, o poder (e a legitimidade) do Estado contemporâneo para 
governar e implementar suas políticas adviria, sobretudo, desta capacidade de ele 
interagir com os cidadãos e prover os serviços sociais básicos. 
Nessa perspectiva, Evans, em trabalhos mais recentes (EVANS, 2010; EVANS 
e HELLER, 2013 apud GOMIDE, 2016), expandiu o conceito de autonomia inserida. 
Para o autor, uma vez que o desenvolvimento não se restringiria mais apenas à 
transformação produtiva, mas também à ampliação das capacitações humanas, a 
parceria entre o Estado e o empresariado privado já não seria suficiente para a ação 
efetiva do Estado – podendo ser até mesmo contraproducente. Se as políticas para a 
promoção do desenvolvimento humano ganham relevo – isto é, a produção e a 
distribuição de bens e serviços coletivos (educação, saúde, transporte urbano, 
segurança pública, entre outros) –, o Estado deveria se relacionar também com os 
outros grupos da sociedade civil. Isto ocorreria por meio da construção e da 
institucionalização de múltiplos canais. Daí, conforme Evans, a importância das 
instituições deliberativas para garantir a efetiva participação da sociedade nos 
processos decisórios. Tal relacionamento Estado-sociedade seria fundamental não só 
para fornecer informações acuradas acerca dos problemas a serem enfrentados, mas 
também para conquistar o engajamento das populações beneficiárias na 
implementação dos programas. 
Em síntese, as capacidades do Estado no século XXI estariam não só 
associadas à qualidade das burocracias públicas, mas à existência e ao 
funcionamento efetivo de canais que conectem o aparato político-administrativo do 
Estado à sociedade civil, conferindo legitimidade e eficácia às suas ações. Estas 
características aumentariam a faculdade do Estado para mobilizar os atores da 
sociedade em torno de um projeto de desenvolvimento. O conceito de capacidades 
estatais pode ser disposto sob a forma de variáveis associadas às atividades 
exercidas pelo Estado (CINGOLANI, 2013 apud GOMIDE, 2016). 
 
 
13 
Consoante com a literatura sobre o tema, tais atividades poderiam ser 
abarcadas nas seguintes dimensões: coercitiva, fiscal, administrativa, relacional, legal 
e política. 
 A capacidade coercitiva está associada à função básica do Estado de manter 
a ordem pública e a defesa do território. Esta dimensão é privilegiada nos 
estudos sobre os Estados frágeis, isto é, países caracterizados pelo fraco poder 
ou legitimidade de seus Estados para proteger seus cidadãos, deixando-os 
vulneráveis a eventos de risco, como conflitos internos, violência, fome, entre 
outros. 
 A capacidade fiscal, financeira ou de financiamento enfatiza a faculdade do 
Estado de extrair recursos da sociedade por meio da arrecadação de impostos 
para, com isso, financiar seus programas e prover bens e serviços públicos. 
 A capacidade administrativa ou burocrática refere-se ao potencial de 
implementação das políticas públicas. Condição necessária para tal seria a 
existência de um corpo administrativo profissional e dotado dos recursos e dos 
instrumentos necessários. 
 A dimensão relacional diz respeito às habilidades das burocracias do Estado 
de se conectar com os diferentes grupos da sociedade. Desta dimensão adviria 
a capacidade dos governos de mobilizar recursos políticos, prestar contas e 
internalizar informações necessárias para a efetividade de suas ações. 
 A dimensão legal ou regulatória, por sua vez, refere-se às capacidades do 
Estado em definir e garantir as “regras do jogo” que vão normatizar as 
interações dos atores. Está associada à garantia dos direitos de propriedade e 
dos contratos, bem como à função dos governos em regular a atividade 
econômica. 
 A capacidade política ou de condução (steering capacity) diz respeito ao poder 
de agenda ou à faculdade dos governos eleitos de fazerem valer suas 
prioridades. Enfoca, assim, tanto as competências deplanejamento estratégico 
e fixação de objetivos de longo prazo quanto o poder de veto de atores político-
institucionais sobre as decisões do Poder Executivo (GOMIDES, 2016, p. 23). 
 
 
14 
 É importante ressaltar que as capacidades estatais não se constituem em um 
conjunto de atributos fixos e atemporais. Elas variam no tempo, no espaço e por área 
de atuação. Um Estado pode ter tido muita capacidade de direção em um passado 
autoritário, mas vê-la enfraquecida no presente devido à existência de pontos de veto 
no sistema político (poderia ser o caso do país nesses últimos tempos). Do mesmo 
modo, em uma federação, um ente subnacional pode ter mais capacidade fiscal que 
outro. Por fim, é comum que determinadas agências ou burocracias possuam maiores 
capacidades administrativas que outras. 
 Só para finalizar esta unidade, lembramos que investimentos em pesquisa e 
desenvolvimento (P&D) para além dos países-sede das multinacionais, ajustes fiscais 
que a globalização exige para que aumentar credibilidade dos países em 
desenvolvimento diante dos investidores internacionais viriam a diminuir a capacidade 
de financiamento dos Estados nacionais. 
 Igualmente, a democracia exige transparência e controle das ações dos 
políticos e burocratas, ao mesmo tempo em que tende a incluir mais atores nos 
processos decisórios. Se, por um lado, este processo tem o potencial de aumentar o 
poder infraestrutural e as capacidades relacionais do Estado, ampliando a legitimidade 
e a efetividade das suas decisões, por outro lado, ele pode levar à fragmentação ou à 
incoerência das ações (MIGDAL, 2001 apud PEREIRA, 2014). Dessa forma, uma 
democracia pluralista também pode limitar a capacidade do Poder Executivo para 
tomar e implementar decisões. Ademais, os ciclos eleitorais, ao incentivarem os 
políticos a apresentar resultados no curto prazo, inibiriam os governos de implementar 
projetos de caráter estrutural cujos efeitos se perceberiam em longo prazo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
Macroeconomia 
 A Macroeconomia, estuda a economia como um todo, analisando a 
determinação e o comportamento de grandes agregados, tais como: renda e produto 
nacionais, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas 
de juros, balança de pagamentos e taxa de câmbio (VASCONCELLOS; GARCIA, 
2008, p. 83). 
 Disso decorre que ela se compõe de cinco mercados: 
 Mercado de Bens e Serviços: determina o nível de produção agregada bem 
como o nível de preços. 
 Mercado de Trabalho: admite a existência de um tipo de mão de obra 
independente de características, determinando a taxa de salários e o nível de 
emprego. 
 Mercado Monetário: analisa a demanda da moeda e a oferta da mesma pelo 
Banco Central que determina a taxa de juros. 
 Mercado de Títulos: analisa os agentes econômicos superavitários que 
possuem um nível de gastos inferior a sua renda e deficitários que possuem 
gastos superiores ao seu nível de renda. 
 Mercado de Divisas: depende das exportações e de entradas de capitais 
financeiros determinada pelo volume de importações e saída de capital 
financeiro. 
 É a partir da década de 1920 que a Macroeconomia começa impor ao Estado 
a necessidade de ampliar sua participação nas ações dos agentes individuais, de 
maneira a alcançar um objetivo geral. A partir desse período, ficaram explícitas as 
intervenções do Estado, por meio de políticas públicas, com a finalidade de atingir 
diferentes objetivos específicos, a saber: alto nível de emprego, estabilidade de 
preços, distribuição de renda e crescimento econômico. Emerge, com isso, o ideário 
keynesiano e, com ele, a mencionada área da Macroeconomia. 
 
 
16 
 O marco inicial da chama Macroeconomia moderna é o texto divulgado na obra 
“Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, de John Maynard Keynes, 
publicado originalmente em 1936. 
 Keynes preocupou-se com o empirismo da economia; e é preciso levar em 
conta o contexto da época (década de 1930) para compreender o impacto de suas 
ideias (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). 
Cabe lembrar também que foi no período da Grande Depressão (1929 a 1933) 
que se verificou uma situação conjuntural crítica, com desemprego elevadíssimo, 
tanto na Europa quanto nos Estados Unidos (após a quebra da Bolsa de Nova Iorque). 
Segundo Silva e Souza (2010), a teoria econômica vigente acreditava que o 
problema fosse temporário. Com a profundidade e a coerência contextual de suas 
ideias, Keynes mostrou que as políticas econômicas da época não funcionavam a 
ponto de tirar o mundo da recessão. Para o autor, a demanda agregada, ou efetiva, é 
importantíssima para explicar o nível de produto na economia, o qual, por sua vez, 
explica o volume de emprego. 
Na visão keynesiana, não existem forças de auto ajustamento na economia, o 
que obrigou o Estado a intervir com políticas de gastos públicos, derrubando o laissez-
faire da escola clássica. Grosso modo, o Princípio da Demanda Efetiva faz que com 
que seja retirada do lado da oferta a capacidade de formação da renda e do produto 
de um país. Com esse princípio, é o consumidor quem define o crescimento do 
produto, do emprego e da renda nacional. 
Enquanto a economia tem como objetivo formular propostas para resolver ou 
minimizar os problemas econômicos, de forma a melhorar a qualidade de vida das 
pessoas, a política econômica, dependendo do enfoque a ser adotado, pode ter vários 
objetivos, tais como: crescimento da produção e do emprego, controle da inflação, 
equilíbrio nas contas externas e melhor distribuição da renda gerada no país. 
Para se definirem as políticas públicas que serão adotadas pelo Estado, é 
necessário estabelecer previamente os objetivos a serem priorizados. Isso, porque as 
políticas são instrumentos e, portanto, meios utilizados para se chegar a determinado 
fim. A opção por um objetivo poderá implicar o adiamento da concretização de outro, 
ou, então, a consecução indireta de um terceiro. 
 
 
17 
Para a compreensão das políticas do Estado, apresentam-se a seguir os 
objetivos de política macroeconômica abaixo discriminados (SILVA; SOUZA, 2010), 
mas antes, vejamos as características que indicam a insuficiência da economia em 
países em desenvolvimento e, na sequência causas principais do 
subdesenvolvimento. 
Indicadores do grau de desenvolvimento: 
a) Baixa renda por habitante. 
b) Altos níveis de analfabetismo. 
c) Estrutura sanitária deficiente. 
d) Baixa taxa de poupança por habitante. 
e) Elevado peso relativo da agricultura. 
f) Elevada taxa de desemprego. 
g) Fortes diferenças na distribuição interna de renda. 
h) Elevada taxa de crescimento da população. 
 Resumo dos elementos que condicionam o subdesenvolvimento: 
a) Escassez de capital físico. 
b) Insuficiência de capital humano (intelectual e qualificação técnica). 
c) Relação de dependência de um país em relação a outro. 
 São objetivos de uma política macroeconômica: 
A) Crescimento da produção e do emprego ou alto nível de emprego 
 O crescimento econômico é a meta mais importante a ser perseguida pelos 
formuladores da política econômica. Quando a produção do país está crescendo mais 
rapidamente que a população, diz-se que a produção por pessoa (ou a renda per 
capita) está aumentando. E é importante destacar que nenhum país conseguirá 
melhorar o nível de renda de sua sociedade se não aumentar a produção. 
 
 
18 
Considerando-se que há uma estreita correlação entre produção e emprego, 
nota-se que ao se perseguir o objetivo de crescimento da produção, automaticamente 
está-se procurando ampliar o nível de emprego da economia. Na realidade, busca-se 
atingir o pleno emprego dos fatores de produção na economia. 
Críticas à intervenção estatal são observadas em períodos de franco 
crescimento da economia. Alguns economistas liberais do século XX, como são os 
casos de Friedrich August von Hayek, de Milton Friedman e, mais recentemente,de 
Gary Becker citados por Machado (2007), trouxeram à tona teses relacionadas à 
possibilidade de equilíbrio geral dos mercados e, consequentemente, de pleno 
emprego dos recursos produtivos, incluindo-se aí a mão de obra. A questão que se 
apresenta como crítica à visão keynesiana é que a ação do Estado cerceia as 
liberdades individuais, subordinando a ele a sociedade e invertendo a lógica original 
entre poder público e sociedade. Apesar de essas questões habitarem a discussão 
acerca do Estado e da aplicação de suas políticas públicas, Keynes inaugurou a 
discussão sobre o grau aceitável de interferência do Estado na economia e, portanto, 
sobre sua conduta na sociedade (SILVA; SOUZA, 2010). 
B) Controle da inflação ou estabilidade de preços 
 O objetivo de controlar a inflação não significa manter a inflação igual a zero. 
Mesmo os países mais desenvolvidos não buscam essa meta, como, por exemplo, os 
Estados Unidos, cujas taxas de inflação têm-se situado em torno de 2% ao ano. Na 
realidade, o que se busca é evitar períodos de aceleração permanente no crescimento 
dos preços e manter a inflação em patamares reduzidos, que, no caso brasileiro, 
podem perfeitamente acompanhar a inflação de países emergentes desde que 
estáveis ou descendentes (MENDES, 2012). 
Para se compreenderem adequadamente as razões que levam o poder público 
a estabelecer como objetivo de política a estabilidade de preços, é importante 
entender por que não se desejam preços desajustados. A instabilidade de preços, 
conhecida corriqueiramente como inflação, é o aumento contínuo e generalizado no 
nível geral de preços. A inflação não se configura a partir de variações pontuais de 
preços, quer no tempo, quer no espaço. Ou seja, um aumento de preço sazonal ou 
em um mercado local não é considerado como inflação. É preciso haver aumento nos 
 
 
19 
preços de vários produtos e serviços da economia, devendo esses aumentos ocorrer 
em sucessivos períodos de tempo (normalmente meses) (SILVA; SOUZA, 2010). 
A preocupação em controlar a inflação justifica-se, uma vez que taxas elevadas 
de inflação acarretam uma série de distorções na economia: 
 afetam negativamente a distribuição de renda, à medida que os mais pobres 
não conseguem se proteger da inflação (porque não conseguem aplicar seus 
recursos no mercado financeiro); 
 reduzem os prazos das aplicações financeiras, fazendo desaparecer os 
recursos para financiar os investimentos, a aquisição de moradias, entre outros; 
 dificultam, ou até mesmo impossibilitam, qualquer planejamento empresarial 
que não seja de curtíssimo prazo; 
 levam à queda na arrecadação tributária do governo, em decorrência de, pelo 
menos, dois motivos: o primeiro deles é a perda real do valor do tributo, devido 
ao tempo que decorre entre o fato gerador do imposto (quando o consumidor 
adquire um produto ou serviço e paga um imposto sobre o bem, este é recolhido 
pela empresa que fez a venda) e o recolhimento do tributo pelo governo (fisco 
municipal, estadual ou federal) (BARBOSA, 1987); 
 tornam o produto nacional mais caro em relação àquele produzido no exterior; 
 podem levar a uma total destruição do parque produtivo, quando se chega à 
hiperinflação (como ocorreu na Alemanha, no pós-guerra, e, mais 
recentemente, com a Argentina, no final dos anos 80). 
 Isso faz com que o controle da inflação seja um dos objetivos primordiais da 
política econômica, notadamente nos países em desenvolvimento, onde a presença 
do descontrole inflacionário não tem sido raro. Na realidade, a discussão do problema 
inflacionário é uma das questões mais relevantes do debate econômico atual. Trata-
se de um tema de difícil abordagem, dado que as causas da inflação diferem entre 
países e, mesmo num dado país, diferem no tempo (MENDES, 2012). 
C) Distribuição equitativa de renda 
 
 
20 
 Embora seja difícil argumentar que a sociedade deva remunerar igualmente 
todos, não se pode deixar de atribuir à melhoria da distribuição de renda como um 
objetivo de política econômica. No caso brasileiro, isso fica claro, uma vez que uma 
das características mais marcantes dessa economia é a péssima distribuição da renda 
gerada no país. Essa situação, inclusive, tem ultrapassado os limites da área 
econômica, dadas suas repercussões na área social, para tornar-se uma questão 
política (MENDES, 2012). 
 É importante observar, porém, que, ao contrário dos outros objetivos de política 
econômica, mudanças fortes na distribuição de renda, a não ser por reduções bruscas 
da taxa de inflação, não ocorrem em curto espaço de tempo, fato esse, inclusive, que 
explica porque esse objetivo não tem sido considerado um elemento determinante das 
oscilações da política econômica, apesar de sua importância. 
 Não podemos esquecer dos índices que servem de referência para a 
compreensão do quanto a riqueza produzida em um país é distribuída ou concentrada. 
Eles são obtidos, por exemplo, a partir da Curva de Lorenz e do Índice de Gini, este 
último a mais corriqueira entre as formas de se calcular o quanto do produto de um 
país é repartido pela sociedade. Ultimamente, o Índice de Desenvolvimento Humano 
(IDH) desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
(PNUD) também tem sido amplamente divulgado e empregado para se avaliar a 
concentração da renda e o desenvolvimento de um país. 
 No caso do Brasil, há um histórico de concentração da renda, com origem ainda 
no período colonial. Os relatórios de desenvolvimento humano (RDH) elaborados pelo 
PNUD apontam que, até o RDH de 2005, o país era considerado, pelo Índice de Gini, 
o segundo país mais desigual do planeta, entre 126 países e territórios da amostra. 
De acordo com esse relatório, o Brasil melhorou sensivelmente sua condição, 
passando a ocupar o décimo lugar entre os países de mais aguda desigualdade. Sua 
situação na América só era melhor que a de Colômbia, Bolívia e Haiti (PNUD, 2005). 
 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), por sua vez, mostra uma 
condição melhor para o país, visto que esse índice coloca o Brasil entre os países 
considerados desenvolvidos, uma vez que atingiu 0,807, de acordo com cálculo 
referente a 2006. Contudo, o mesmo índice aponta uma forte desigualdade, sendo o 
 
 
21 
IDH dos 20% mais pobres inferior ao dos mais pobres de países como Indonésia, 
Vietnã e Paraguai (PNUD, 2008). 
D) Crescimento econômico 
 Este objetivo é considerado como sendo de longo prazo. Para desenhá-lo, o 
Estado precisa, normalmente, fazer um planejamento. O crescimento econômico tem 
característica distinta dos demais objetivos que têm de ser cumpridos a curto prazo 
(SILVA; SOUZA, 2010). 
 O crescimento econômico considera o aumento contínuo da renda per capita. 
Conforme Vasconcellos e Garcia (2008), quando há recursos ociosos, o aumento do 
produto nacional possibilita atingir o pleno emprego, gerando emprego de mão de obra 
e renda. Quando, porém, todos os recursos produtivos estão sendo empregados no 
processo produtivo, é preciso que haja expansão dos recursos disponíveis, bem como 
avanço tecnológico que permita o uso mais eficiente desses recursos, em princípio, 
escassos (SILVA; SOUZA, 2010). 
O crescimento econômico permite o crescimento da renda nacional e o 
crescimento da renda per capita. Porém, a partir das décadas de 1960 e de 1970, 
começaram a surgir dúvidas acerca do crescimento como objetivo de política 
macroeconômica. A renda nem sempre é reflexo de bem-estar. Por exemplo, países 
árabes possuem altas rendas per capita, mas não possuem o melhor padrão de vida 
do mundo. Da mesma forma, problemas ambientais têm obrigado centenas de países 
a reavaliar seu padrão de crescimento econômico, completam os autores acima. 
Mendes (2012) cita outros objetivos que poderiam ser incluídos como a redução 
da poluição, liberdade econômica, maior concorrência, entre outros. Estes, no entanto, 
são objetivos menos explícitosem termos de economia brasileira, ou podem até 
mesmo ser incluídos no conjunto dos anteriores. A maior concorrência, por exemplo, 
representa uma contribuição importante em termos de combate à inflação. 
 
Instrumentos da política macroeconômica 
 
 
22 
 Quando se fala em instrumentos de política econômica nos vem à mente o tripé: 
fiscal / monetária / cambial, mas devemos nos lembrar também da política de renda. 
Certo é que as políticas macroeconômicas alteram o desempenho do país na 
capacidade produtiva e nas despesas planejadas, tanto que os preços da economia, 
bem como as taxas de juros, o câmbio e os salários são fortemente influenciados 
pelas políticas públicas e, claro, estas afetam as decisões dos produtores e dos 
consumidores e seus planos acerca das futuras ações. 
Na interpretação de Buainain e Souza Filho (2001), os usos de instrumentos de 
política macroeconômica incidem tanto sobre a oferta quanto sobre a demanda. 
Sendo objetivo da intervenção do Estado a obtenção do pleno emprego dos 
recursos produtivos da economia, com baixa taxa de inflação e boa distribuição da 
renda, veremos as quatro políticas citadas inicialmente, seguindo a proposta de 
Vasconcellos e Garcia (2008). 
a) Política fiscal 
A política fiscal refere-se às ações do governo tanto do lado dos gastos públicos 
(quanto e onde o governo gasta), como do lado da arrecadação tributária (quanto e 
como o governo arrecada, em todas as suas esferas). A composição de gastos e 
arrecadação leva ao conceito de déficit público. 
Numa divisão mais simples teríamos: 
 política tributária, ligada à arrecadação de impostos e demais fontes de renda 
para o governo; e, 
 política de gastos governamentais, ou, visto de forma alternativa, controle de 
despesas 
 Pelo lado da política tributária, o governo recorre a diferentes fontes de 
arrecadação, como impostos, contribuições, taxas, tarifas e multas. Especificamente 
no tocante aos impostos, estes são subdivididos em impostos diretos e impostos 
indiretos. Os impostos diretos incidem sobre a renda e a propriedade dos indivíduos. 
Levam esse nome porque são pagamentos feitos diretamente pelo contribuinte ao 
governo, ou ao fisco, como também é chamada a parte arrecadatória da estrutura 
 
 
23 
estatal. São exemplos de impostos diretos, no Brasil, o Imposto de Renda Sobre 
Pessoa Física (IRPF) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). 
Os impostos indiretos, por sua vez, incidem sobre o consumo. Ou seja, os 
consumidores pagam o tributo ao governo, mas com a intermediação de empresas 
(lojas, supermercados, entre outras). O mais conhecido exemplo desse imposto, no 
Brasil, é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), recolhido em nível 
estadual. Cabe, aqui, a observação de que a estrutura tributária brasileira está 
fundada em impostos indiretos. Em outras palavras, os impostos indiretos são a 
principal fonte de arrecadação do governo, tanto em nível federal quanto em nível 
estadual e municipal (SILVA; SOUZA, 2010). 
Ainda com relação aos impostos indiretos, estes podem ser do tipo ad valorem 
ou do tipo específico. No primeiro caso, é estabelecida uma alíquota (um percentual) 
sobre o preço final pago pelo consumidor do produto. No segundo caso, é fixado um 
valor de imposto a ser cobrado no produto, independentemente de seu preço final 
(pago pelo consumidor). No Brasil, os impostos mais comuns são os indiretos do tipo 
ad valorem. Estes são, além do ICMS, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), 
em âmbito federal, e o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), 
cobrado em nível municipal, entre outros. Os tipos de impostos são esquematizados 
na figura abaixo. 
 
 
 
 
Pelo lado da política de gastos do governo, o direcionamento de seus 
dispêndios irá revelar os setores prioritários do Estado. Neste tópico, incluem-se, entre 
outros exemplos: 
 
 
24 
 políticas de transferências e subsídios; 
 gastos correntes e despesas com investimentos; e, 
 políticas setoriais (agrícola e industrial). 
 Lembramos que os gastos do governo devem estar previstos em um 
orçamento, em que seu financiamento (fontes de receitas, como os impostos) também 
precisará estar programado. Se as receitas previstas ao final da execução 
orçamentária superarem os gastos públicos, haverá um superávit. Caso contrário, 
haverá o que se chama déficit público, ou déficit nas contas públicas. 
Tanto a política tributária quanto a política de gastos são utilizadas pelo governo 
para incentivar, ou inibir, o consumo e, portanto, o crescimento econômico equilibrado. 
Se o governo tem como objetivo reduzir as taxas de inflação, ele reduz seus gastos e 
aumenta alíquotas de impostos (para inibir consumo). O inverso é verdadeiro: se o 
objetivo é distribuir melhor a renda, podem ser usados os mesmos instrumentos, 
porém de forma seletiva (para favorecer grupos mais fracos, mais pobres). A figura 
abaixo, inspirada em Troster e Mochón (2002), ilustra o uso dessas políticas, de 
acordo com o objetivo da política macroeconômica. 
 
Quanto aos gastos do governo, estes podem ser divididos em dois grandes 
grupos: as despesas correntes e as de investimento. 
 
 
25 
As despesas correntes dizem respeito aos gastos realizados com o objetivo de 
manter a máquina governamental funcionando, bem como às despesas impostas pela 
legislação. As despesas correntes podem ser divididas em quatro outros grupos, a 
saber: 
a) Consumo do governo: corresponde ao pagamento dos funcionários públicos, e 
outras despesas necessárias à manutenção do aparato público (energia elétrica, 
materiais, entre outros). 
b) Transferências: refere-se às despesas que são efetuadas pelo setor público e 
destinadas ao setor privado, sem a contraprestação de serviços ou fornecimento de 
bens, como é o caso da Assistência e Previdência Social. 
c) Juros: incluem tanto pagamento de juros da dívida interna como externa; vale 
observar, porém, que, embora se faça referência à “dívida externa brasileira”, grande 
parte dessa dívida refere-se ao setor privado; os juros de responsabilidade do governo 
referem-se apenas àqueles devidos pelo endividamento do setor público. 
d) Subsídios: correspondem aos gastos do governo com o objetivo de garantir ao 
consumidor preços inferiores ao custo de produção; na realidade, o produtor recebe o 
valor integral, sendo uma parcela desse valor paga pelo governo e o restante, pelo 
consumidor; um subsídio muito importante no passado foi dirigido ao trigo, para que 
alguns bens essenciais (como pão, macarrão e outros derivados do trigo) não 
pressionassem os orçamentos das classes de menor renda, embora todos os 
consumidores (independentemente da classe de renda) fossem beneficiados 
(MENDES, 2012). 
 As despesas de investimento, por sua vez, referem-se às despesas que o 
governo efetua para aumentar a capacidade de produção de bens e serviços no país 
(construção de hidrelétricas, rodovias, hospitais, escolas, entre outros). 
Sobre os impostos, estes podem ser considerados progressivos, regressivos 
ou proporcionais. 
 São progressivos quando as pessoas de maior nível de renda pagam 
proporcionalmente mais impostos, como é o caso do Imposto de Renda, que 
cresce proporcionalmente mais que o nível de renda do indivíduo. 
 
 
26 
 Os impostos regressivos são aqueles em que as classes de menor poder 
aquisitivo pagam proporcionalmente mais. Geralmente, os impostos indiretos 
apresentam essa característica de regressividade, dado que, como a alíquota 
é a mesma (IPI, por exemplo), o montante de imposto por produto consumido 
será o mesmo, proporcionalmente maior para as classes de menor nível de 
renda (MENDES, 2012). 
 
Microeconomia 
 Enquanto a Macroeconomia se preocupa com generalidades, a Microeconomia 
se ocupa de tudo aquilo que diz respeito a agentes isolados. 
 A teoria geral dos preços ou a teoria dos mercados está situadano campo da 
Microeconomia. Ela estuda a interação entre demandantes e ofertantes de produtos. 
Microeconomia, ou Teoria Geral dos Preços, analisa a formação de preços no 
mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço 
e a quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos. 
Do ponto de vista da economia de empresas, onde se estuda uma empresa 
específica, prevalece a visão contábil financeira na formação do preço de venda de 
seu produto, baseada principalmente nos custos de produção, enquanto na 
Microeconomia prevalece a visão do mercado. 
O conceito de empresa possui duas visões: a econômica e a jurídica. Do ponto 
de vista econômico, empresas ou estabelecimentos comerciais são a combinação 
pelo empresário, dos fatores de produção: capital, trabalho, terra e tecnologia, de 
modo organizado, para se obter o maior volume possível de produção ou de serviços 
ao menor custo. 
Na doutrina jurídica, reconhece-se o estabelecimento como uma universalidade 
de direito, incluindo-se na atividade econômica um complexo de relações jurídicas 
entre o empresário e a empresa. 
Pressupostos básicos da análise microeconômica 
 
 
27 
 Primeiro pressuposto: para analisar um mercado específico, a Microeconomia 
se vale da hipótese de que tudo o mais permanece constante (em latim, coeteris 
paribus). O foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel 
que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito 
pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta. 
Adotando-se essa hipótese, torna-se possível o estudo de determinado 
mercado, selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os agentes 
econômicos – consumidores e produtores – nesse particular mercado, 
independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem 
influenciá-los (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). 
Sabemos, por exemplo, que a procura de uma mercadoria é normalmente mais 
afetada por seu preço e pela renda dos consumidores. Para analisar o efeito do preço 
sobre a procura, supomos que a renda permanece constante (coeteris paribus); da 
mesma forma, para avaliar a relação entre a procura e a renda dos consumidores, 
supomos que o preço da mercadoria não varia. Temos, assim, o efeito “puro” ou 
“líquido” de cada uma dessas variáveis sobre a procura. 
Segundo pressuposto: na análise microeconômica, são mais relevantes os 
preços relativos, isto é, os preços de um bem em relação aos demais, do que os 
preços absolutos (isolados) das mercadorias. 
Por exemplo, se o preço do guaraná cair em 10%, mas também o preço da 
soda cair em 10%, nada deve acontecer com a demanda (procura) dos dois bens 
(supondo que as demais variáveis permaneceram constantes). Agora, tudo o mais 
permanecendo constante, se cair apenas o preço do guaraná, permanecendo 
inalterado o preço da soda, deve-se esperar um aumento na quantidade procurada de 
guaraná, e uma queda na de soda. Embora não tenha havido alteração no preço 
absoluto da soda, seu preço relativo aumentou, quando comparado com o do guaraná 
(VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). 
Terceiro pressuposto se relaciona com o princípio da racionalidade, ou seja, a 
grande questão na Microeconomia, que inclusive é a origem das diferentes correntes 
de abordagem, reside na hipótese adotada quanto aos objetivos da empresa 
produtora de bens e serviços. 
 
 
28 
A análise tradicional supõe o princípio da racionalidade, segundo o qual o 
empresário sempre busca a maximização do lucro total, otimizando a utilização dos 
recursos de que dispõe. Essa corrente enfatiza conceitos como receita marginal, custo 
marginal e produtividade marginal em lugar de conceitos de média (receita média, 
custo médio e produtividade média), daí ser chamada de marginalista. A maximização 
do lucro da empresa ocorre quando a receita marginal iguala-se ao custo marginal. 
As correntes alternativas consideram que o móvel do empresário não seria a 
maximização do lucro, mas fatores como aumento da participação nas vendas do 
mercado, ou maximização da margem sobre os custos de produção, independente da 
demanda de mercado. 
Geralmente, nos cursos de Economia, a abordagem marginalista compõe a 
teoria microeconômica propriamente dita, pelo que é chamada de teoria tradicional, 
enquanto as demais abordagens são analisadas nas disciplinas denominadas teoria 
da organização industrial ou economia industrial. 
 Enfim, o sofisma da composição é quando se generaliza (sem demonstração) 
ao todo o que é verdade para a parte, isto é, uma forma incorreta de raciocínio, 
bastante comum no campo das ciências sociais e da economia em particular, que 
pretende imputar ao conjunto certos princípios ou leis que são válidos apenas para 
uma parte do todo (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
Aplicações da análise microeconômica 
 A teoria microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada de 
decisões do dia a dia, mesmo assim, ela representa uma ferramenta útil para 
esclarecer políticas e estratégias, dentro de um horizonte de planejamento, tanto em 
nível de empresas quanto de nível de política econômica. 
Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes 
decisões: 
 políticas de preços da empresa; 
 previsão de demanda e faturamento; 
 previsão de custos de produção; 
 decisões ótimas de produção (melhor combinação dos custos de produção); 
 avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo/benefício); 
 política de propaganda e publicidade; 
 localização da empresa. 
 Em relação à política econômica, a Microeconomia pode contribuir na análise 
e tomada de decisões das seguintes questões: 
 avaliação de projetos de investimentos públicos; 
 efeitos de impostos sobre mercados específicos; 
 política de subsídios; 
 fixação de preços mínimos na agricultura; 
 controle de preços; 
 política salarial; 
 política de tarifas públicas (água, luz e outras); 
 
 
30 
 políticas de preços públicos (petróleo, aço, entre outros); 
 leis antitruste (controle de lucros de monopólios e oligopólios) (MANKIW, 2001; 
VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). 
 A Microeconomia é dividida em: 
 Teoria do Consumidor (que estuda as preferências do consumidor). 
 Teoria da Firma (que estuda as organizações cujo objetivo é produzir lucro). 
 Teoria da Produção (que estuda a transformação de produtos em outros 
produtos para a venda no mercado). 
A Microeconomia também estuda as Práticas de mercado (monopólio, 
monopsônio, oligopólio, oligopsónio, concorrência perfeita e concorrência 
monopolística). 
Os agentes econômicos (família, empresas e governo) são abordados de forma 
individual na Microeconomia, enquanto que na Macroeconomia se estudam os 
aspectos globais que afetam todos os agentes econômicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
Economia solidária como uma política pública 
 Falar em economia solidária nos faz mais uma vez retrocedermos no tempo, 
anos 80. Foi nessa época que passamos a perceber e compreender a emergência da 
economia solidária, momento de grave crise econômica estabelecida no Brasil, no 
qual as altas taxas de desemprego haviam se instalado. 
 A partir desta década, ocorrem transformações profundas na organização do 
trabalho, em que pese a redução da mão de obra no interior das empresas capitalistas 
e a subcontratação de serviços autônomos (informais) e cooperativos. Os anos 1980 
apresentam ainda um baixo dinamismo econômico, com reduzidas taxas de 
crescimento econômico e forte descompasso no balanço de pagamentos, além de 
elevadas taxas de inflação. Este quadro é composto ainda por um crescimento 
exponencial das taxas de desemprego e o aviltamento dos salários. Os planos 
econômicos levados a cabo durante a década não modificaram substancialmente este 
quadro. Os anos 1990 apresentam, a par da derrubada da inflação,a continuidade do 
baixo desempenho da economia brasileira no quesito crescimento e, 
consequentemente, na geração de postos de trabalhos formais. Além do cenário das 
altas taxas de desemprego, observa-se a diversificação das relações de trabalho, 
“incrementando, além do trabalho assalariado formal, o trabalho por conta própria, o 
individual, o coletivo/solidário (cooperativas e associações), o assalariamento informal 
[...]” (ARROYO; SCHUCH, 2006, p. 34). 
Nessa conjuntura econômica, dá-se início a uma série de expressões da 
economia popular e solidária no país, abrindo caminho para uma nova 
institucionalização econômica forjada pelos diferentes movimentos sociais e 
organizações de trabalhadores, sejam eles urbanos ou rurais. 
Surgem entidades como a Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), 
incentivada pela CUT, e a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de 
Autogestão e Participação Acionária (Anteag). Organizações como a FASE e a Cáritas 
Brasileira que, no interior de seus projetos junto a comunidades carentes, abraçam a 
ideia da economia solidária, incluindo esta dimensão em programas desenvolvidos 
por elas. 
 
 
32 
No campo das políticas públicas, a economia solidária ganha forte impulso com 
a criação, em 2003, da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), no 
âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, através da Lei nº 10.683 e do Decreto 
nº 4.764. Neste mesmo ano ocorreu a 3ª Plenária Brasileira de Economia Solidária, 
convocada pelo Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária. A plenária, 
constituída por 800 delegados de todo o país, deu origem ao Fórum Brasileiro de 
Economia Solidária (FBES), órgão máximo da organização da sociedade civil na área 
de economia solidária. A partir da agenda de reivindicações do Fórum, desenhou-se 
o formato das políticas públicas para o setor no âmbito da SNAES (STAEVIE, 2009). 
A concepção da economia solidária traz no seu bojo a ideia de coletividade, da 
busca pelo associativismo/cooperativismo. As atividades econômicas descritas como 
solidárias se caracterizam por práticas fora do assalariamento formal, envolvendo 
ações de atores individuais ou no qual o sentido da coletividade se torna 
preponderante, isto é, em que ocorrem a produção/distribuição coletiva dos bens e 
serviços produzidos. 
Dito de outra forma, a economia solidária engloba atores individuais e coletivos 
que, através das mais diferentes atividades não assalariadas exercem algum tipo de 
atividade econômica (STAEVIE, 2009). 
Por ser política de desenvolvimento e voltar-se para um público historicamente 
excluído ou que progressivamente vem tendo ampliadas sua pobreza e exclusão 
social, a economia solidária demanda não só ações setoriais específicas, mas 
também ações transversais que articulem instrumentos das várias áreas do governo 
e do Estado (educação, saúde, meio ambiente, trabalho, habitação, desenvolvimento 
econômico, saúde, tecnologia, crédito e financiamento, entre outras), para criar um 
contexto efetivamente propulsor da emancipação e da sustentabilidade. Portanto, é 
necessário que esteja presente no cotidiano das ações de planejamento, execução e 
avaliação dessas diferentes áreas. 
Compreender a economia solidária como estratégia e política de 
desenvolvimento solidário pressupõe concebê-la com instrumentos e ferramentas 
instituídos como direitos perenes dos trabalhadores e trabalhadoras e dever de um 
Estado republicano e democrático (PRAXEDES, 2009). 
 
 
33 
A rede de gestores 
 Para a Rede de Gestores, a economia solidária compor a agenda pública nessa 
perspectiva, significa o reconhecimento de novos sujeitos sociais e novos direitos de 
cidadania, o reconhecimento de novas formas de produção, reprodução e distribuição 
social, propiciando acesso aos bens e recursos públicos. 
 A relativa expansão, nos municípios e estados, de ações e programas de 
economia solidária desde as eleições de 2000 favoreceu a criação da Rede de 
Gestores, formada por gestores e gestoras municipais e estaduais do país. 
Essa rede tem como objetivos proporcionar intercâmbio, interlocução, 
interação, sistematização, proposição de políticas públicas governamentais e 
realização de projetos comuns para o fomento e desenvolvimento da economia 
solidária, buscando qualificar a proposição de ações desenvolvidas a partir dos órgãos 
de governo para este segmento, sendo necessário compreender que as políticas 
públicas para o segmento fazem parte de um cenário recente em construção no país. 
 Ao contrário do movimento social de luta pela terra que tem décadas de 
organização, o movimento de economia solidária é bastante recente e começa a sua 
articulação durante o Fórum Social Mundial – no final da década de 1990. O 
movimento social é fundamental na consolidação de uma política de caráter 
democrático e amplia a cidadania da população. Este esclarecimento é necessário em 
razão da dificuldade que existe na institucionalização de uma política pública de 
caráter popular. Esta se consolida a partir de articulações em diversos campos 
institucionais e do acúmulo de forças em diversos campos de luta, como o Poder 
Legislativo, o Executivo e os movimentos sociais, sendo que estes exercem a função 
fundamental de pressionar os diversos segmentos e dar legitimidade às demandas. 
As gestões que iniciam a construção de políticas públicas nos municípios, 
estados ou no nível federal têm este cenário marcando a paisagem. Estamos falando 
de uma política pública que não tem uma priorização nos movimentos sociais dos 
territórios, não tem uma priorização nos programas de governo. O que se percebe é 
que, até o momento, o acúmulo de forças permitiu pequenos avanços que ainda não 
a colocam na centralidade das Políticas Públicas (PRAXEDES, 2009). 
 
 
34 
Um tema central para a construção de políticas é o acesso a fundos públicos 
que financiem a política. No âmbito federal, a economia solidária não conseguiu 
constituir um fundo público desse tipo, nem ao menos acessar fundos públicos já 
constituídos, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Alguns avanços já 
refletem favoravelmente essa necessidade, como o caso do Governo do Estado da 
Bahia, que vem desenvolvendo ações importantes de fomento à economia solidária, 
devido à constituição de um fundo estadual de combate à pobreza. Este fundo vem 
possibilitando, entre outras iniciativas, a implantação de mais de uma dezena de 
incubadoras públicas de economia solidária no estado. O fundo não atende apenas 
às iniciativas da economia solidária, mas vem dando apoio significativo às mesmas 
(PRAXEDES, 2009). 
Outros programas ou fundos vêm apoiando as iniciativas de economia solidária, 
como o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), o Programa Nacional da 
Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Este 
último vem sendo um diferencial significativo para produtores familiares rurais 
organizados em cooperativas e associações, que realizam através dele a 
comercialização de seus produtos. 
A transversalidade da política de economia solidária vem permitindo o avanço 
das iniciativas de maneira indireta através de outros ministérios e projetos e não 
apenas através da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes/MTE). Como 
parte da estratégia nacional, temos ainda a implementação dos centros Públicos de 
Economia Solidária, realizada pela SENAES em parceria com municípios e governos 
estaduais. Os centros se constituem em espaço de agregação das diversas iniciativas 
do campo da economia solidária, propiciando a participação de diversos atores 
presentes no território. É importante sublinhar o papel que os centros cumprem no 
fomento a processos de desenvolvimento local na medida em que permitem a 
realização de atividades de articulação, formação e capacitação, além do potencial de 
atender a empreendimentos que estejam iniciando suas atividades.De fato, trata-se 
de importante ferramenta da economia solidária, uma vez que esta deve estar voltada 
para a elaboração de estratégias de fortalecimento da organização socioeconômica 
local. 
 
 
35 
Além disso, estes espaços vêm contribuindo significativamente para a 
construção de uma maior identidade e visibilidade da economia solidária no interior 
do movimento e para o conjunto da sociedade. Na construção e implementação de 
uma política pública de qualquer natureza, e em particular de economia solidária, 
deve-se buscar uma ação integrada, complementar e descentralizada (de recursos e 
ações) entre os entes da federação, evitando sobreposição de iniciativas e 
fragmentação de recursos, cumprindo o papel de identificar, elaborar e fomentar 
políticas públicas de desenvolvimento de economia solidária, considerando a 
intersetorialidade e articulação das instâncias de governo e primando pela 
participação e o controle social. 
 Integrar e complementar as ações a partir da visão de que os recursos públicos 
provêm de uma única fonte – os cidadãos e cidadãs – permite potencializar o uso e 
os impactos; aglutinar as forças sociais em torno de políticas públicas abrangentes e 
que se fixam cada vez mais como políticas de Estado, como direitos, rompem com 
políticas de balcão e podem ser fatores de estímulo à criação de esferas públicas nas 
quais se discutem de forma transparente a destinação dos recursos entre todos os 
sujeitos políticos que representam os diferentes interesses coletivos presentes na 
sociedade (PRAXEDES, 2009) 
A Economia Solidária expressa um modo de organização da produção, da 
comercialização, das finanças e do consumo, que privilegia o trabalho associado, a 
autogestão, a cooperação e a sustentabilidade. Na economia solidária, a valorização 
social do trabalho implica tanto o desenvolvimento de capacidades de homens e 
mulheres, como sujeitos ativos da atividade econômica, quanto a distribuição da 
riqueza produzida socialmente, expressando uma orientação para a superação da 
subalternidade do trabalho em relação ao capital. 
A autogestão é outro diferencial da economia solidária, que assume concretude 
em um conjunto significativo de práticas democráticas participativas nas decisões 
estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, contribuindo para a emancipação do 
trabalho ao tornar cada pessoa associada consciente e corresponsável pelos 
interesses e objetivos, que são assumidos coletivamente. 
 
 
36 
A implantação de programas e ações voltadas para a economia solidária é 
seriamente limitada pelas normativas e pela cultura institucional, que favorece a 
fragmentação das políticas, o que dificulta o apoio governamental à economia 
solidária. Da mesma forma, o acesso dos empreendimentos econômicos solidários ao 
financiamento ainda é extremamente limitado e, na maioria dos casos, inexistente, 
tanto que a conquista de uma Lei Nacional e a implantação de um Sistema Nacional 
de Economia Solidária são duas estratégias fundamentais para ampliação e 
consolidação do espaço institucional da economia solidária como forma emancipatória 
de erradicação da miséria. 
Nesse sentido, as políticas públicas de economia solidária devem ter como 
objetivo fundamental contribuir com a redução das desigualdades socioeconômicas, 
por meio da promoção, incentivo e apoio às iniciativas econômico solidárias, numa 
perspectiva de desenvolvimento sustentável e solidário. 
Esse é um caminho que merece atenção e engajamento por parte dos gestores 
de políticas públicas que podem contribuir para inverter o modelo predominante de 
gestão da política pública, harmonizando a oferta de programas e ações com o 
planejamento participativo para identificação e organização de demandas em bases 
territoriais. 
Trata-se, também, de uma estratégia de rompimento com práticas institucionais 
patrimonialistas e clientelistas de atendimento de demandas pontuais, com o uso de 
recursos públicos e com base em interesses privados. O pressuposto para o 
planejamento territorial é a participação consciente e ativa dos diversos sujeitos 
políticos do território, valorizando a construção de mecanismos de coesão social e o 
fortalecimento de redes sociais como pilares de sustentação do desenvolvimento 
(SILVA, 2011). 
Enfim, o modelo da economia solidária respeita e considera a centralidade do 
ser humano, a sustentabilidade ambiental, a justiça social, a cidadania e valoriza as 
diversidades culturais articuladas às atividades econômicas. Ou seja, o micro deve 
interagir com o macro, a organização social deve criar condições políticas 
democráticas para interagir com o Estado, institucionalizar direitos e conquistas, e 
implementar políticas públicas universalizadas e perenes (PRAXEDES, 2009). 
 
 
37 
 
 
 
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