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Baby-Led Weaning Baby-Led Weaning Begoña Prats Criadora da Happy Recipes 80 receitas para que os bebés comam sozinhos Tradução de RITA CARVALHO E GUERRA e LUCÍLIA FILIPE ÍNDICE Introdução .................. 7 Almoços e Jantares ...... 45 Sobremesas ..............143 Índice de Receitas ..... 210 Índice de Ingredientes ..212 INTRODUÇÃO 8 • BABY-LED WEANING 1. O QUE É O BLW? COMIDA INTEIRA, A SÉRIO? O BLW é um método de alimentação complementar à lactação, em que se oferecem os alimentos a pedido da criança. BLW são as siglas de Baby-Led Weaning, o que numa tradução literal significa «desmame conduzido pelo bebé» ou, para que o entendamos melhor, alimentação regulada pelo bebé. Deixe-me ver… como assim, regulada pelo bebé? Ele é que decide o que comer e quando? Bem, sim e não. Quando optamos por começar a utilizar o método, assume-se que o bebé, a partir dos seis meses de idade, tem o instinto e a capacidade para se regular a si mesmo. Isto significa que sabe quanta comida precisa e, como tal, sabe que deve parar de comer quando se sentir saciado. Mas, atenção, não irá comer qualquer coisa, nem em qualquer momento! A ideia é incluí-lo na rotina familiar, para que coma, quando todos comem, os alimentos que lhe oferecemos, saudáveis e adequados à sua idade. Além disso, o BLW não é o equivalente a um bar aberto de alimentos. Há que perceber que muitos não se adequam a um bebé ainda em processo de amadurecimento e com pouca dentição. Basicamente, para começar, ofereça- -lhe alimentos saudáveis que possa desfazer facilmente com as suas gengivas. PORQUÊ FAZÊ-LO ASSIM? Quando pensa em crianças e vegetais, com certeza que imagina automaticamente jantares complicados: crianças que choram porque não querem comer um pedacinho de cenoura cozida, pais que se esforçam por preparar pratos o mais criativos possível para que os filhos os achem atractivos, ou mesmo preparados industriais que ostentam na sua composição «vegetais escondidos». Porque é que isto acontece? Em que momento é que se distorceram as coisas a ponto de muitas crianças e adolescentes não quererem sequer avistar os vegetais? Talvez tenha a ver com a relação que estabeleceram com este tipo de alimentos desde tenra idade, quando iniciaram a alimentação complementar. No âmbito da nutrição, defende-se que é melhor ingerir alimentos do que produtos alimentares que, dada a sua excessiva manipulação, acabamos por não reconhecer e que, além disso, contêm aditivos, como conservantes, corantes, etc. Assim, o ideal é iniciar cada alimento em separado, para dar a conhecer individualmente a diversidade de sabores, cores, cheiros e texturas. INTRODUção • 9 Desse modo, o bebé descobre os alimentos como algo natural e divertido e estabelece com eles uma relação saudável, desde o primeiro momento. As refeições em família deixam de ser algo imposto e forçado, para se transformarem num momento lúdico, no qual, aproveitando a sua curiosidade inata, os bebés descobrem, entre risos, a sua nova alimentação. Mas, atenção, como todo o processo de aprendizagem, levará algum tempo a ver os resultados (pelo menos, aqueles que imagina a curto prazo). Espremer, chupar, cheirar… Vai ver que, durante um tempo, o bebé brinca e «não come», mas a verdade é que está a aprender a fazê-lo. Nesta primeira etapa é mais importante o que e como come e não tanto a quantidade. Não se preocupe se o seu alimento principal continuar a ser o leite materno ou o adaptado. NOVA MODA? Talvez para muitos, sim, seja algo de novo, inventado por pais hippies ou modernaços (vão fartar-se de ouvir coisas destas, aviso-vos desde já) mas o certo é que as comidas preparadas para bebés, tal como as conhecemos, têm a sua origem no ano de 1928, quando a empresa norte-americana Gerber comercializou as primeiras conservas destinadas ao público infantil, convencendo as mães de então de que os seus produtos eram mais nutritivos do que qualquer comida confeccionada em casa. Lamentavelmente, esta ideia perdura até hoje, graças ao marketing das grandes empresas de produtos alimentares. Bom… E antigamente? Como podem imaginar, as trituradoras não são uma invenção do paleolítico. Durante milénios, foram dados aos bebés alimentos sólidos ou semi-sólidos (com maior ou menor textura) com toda a naturalidade. Embora em Portugal ainda não seja uma prática muito disseminada, noutros países o comportamento estranho é dar comida triturada. Para não ir mais longe, no Reino Unido, cerca de 70 por cento dos bebés adora comer com as mãos. Na verdade, parece-nos estranho ou choca-nos o que não conhecemos. Mas, felizmente, as pessoas começam a sentir curiosidade por um tipo de alimentação diferente do habitual, e isso é fantástico, porque significa que se preocupam com a saúde dos seus filhos, quer decidam ou não pôr em prática o BLW. MASTIGAR SEM DENTES Uma das coisas que provoca maior perplexidade, quando se fala de BLW, é o facto de os bebés ingerirem alimentos sólidos, sem serem triturados. Está verdadeiramente entranhado no nosso subconsciente que a maneira correcta, a única maneira, de iniciar a alimentação complementar 10 • BABY-LED WEANING é recorrendo a purés e papas, mas a verdade é que não há razão para os bebés comerem desta maneira e não têm de ser alimentados por terceiros. Como assim? São bebés! Pois, devo dizer que, se pensa deste modo, está a subestimá-los, porque com seis meses de idade (cumprindo os requisitos para iniciarem a alimentação complementar) podem ingerir alimentos com as mãos, levá-los à boca e, ainda sem um único dente, mastigar e deglutir perfeitamente sozinhos. Surpreenda-se com as incríveis capacidades do seu(s) filho(s). PRÓS E CONTRAS Vantagens São integrados nas refeições em família, num ambiente relaxado, sem pressões. É mais prático e mais barato: não é necessário comprar comida especial nem nenhum tipo de preparado. Com o Baby-Led Weaning comerão o mesmo que o resto da família, talvez um pouco adaptado porque, por exemplo, não podem ingerir sal, mas no essencial, a sua comida será igual à dos restantes membros da família. Os bebés querem uma relação saudável com a comida: da variedade de alimentos que lhe oferece, decidirão o que comer e quanto, e serão capazes de se auto -regularem quando se sentirem saciados, o que os ajudará a evitar a obesidade. Contribui para a saúde oral: com a mastigação dos alimentos, produz-se mais saliva que dilui e elimina os açúcares. Além disso, mantém o pH da boca constante, o que ajuda a proteger os dentes, incluindo a dentição definitiva, de possíveis infecções. Promove a independência do bebé: a criança explora livremente, partindo da curiosidade própria da sua idade, e passa por experiências positivas de uma maneira lúdica, o que fomenta a confiança em si mesma. Favorece a estimulação sensorial do bebé e permite-lhe descobrir individualmente o sabor, a cor e a textura reais dos diferentes alimentos. Melhora a psicomotricidade fina. O bebé escolherá os alimentos e fará as suas refeições com as mãozinhas (mais tarde, com os dedos) que usará para os levar à boca, o que estimula a sua coordenação olho/mão. Favorece o desenvolvimento da musculatura orofacial ao exercitar o maxilar durante a mastigação, estimula o crescimento adequado da dentição e previne possíveis transtornos na fala. Desvantagens No geral, é um método bastante sujo e é muito provável que o espaço de refeições seja prejudicado por chuva de brócolos… mas, o que interessa um pouco de sujidade comparado com a quantidade de benefícios que se obtêm? INTRODUção • 11 Neste sentido, além de algumas engenhocas que apanham a comida directamente da fonte, os cães serão grandes aliados para manter a limpeza do seu lar. É provável que esteja à espera de ler que o bebé se pode engasgar e, de facto, essa é uma das principais razões para as suasreservas quanto a iniciar este método, certo? Foi a primeira coisa em que pensei! Bem, a realidade é que não se engasga mais do que com uma papa, um puré ou mesmo com leite. De facto, deixando-o comer com autonomia, aprende a comer com segurança, descobrindo por si que quantidade de comida pode gerir (dado que lhe oferece alimentos que consegue desfazer na boca). O BLW provoca um certo receio. Há, no entanto, tanta incerteza com este tipo de alimentação que, muitas vezes, gera desconfiança junto dos que nos rodeiam e vemo-nos constantemente obrigados a justificar a decisão tomada. Se decidir apresentar explicações, poderá apoiar-se nas recomendações dos pediatras, que reconhecem o método como mais uma alternativa perfeitamente válida. Além disso, a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda a lactação materna (ou, se a mãe não for lactante, a lactação artificial) em exclusivo até aos seis meses e, de modo complementar, pelo menos, até aos dois anos. Bum! Decididamente, não é uma loucura. Escolheu alimentar o seu filho de maneira natural. Alegre-se por tê-lo feito. 2. QUANDO COMEÇAR REQUISITOS Decidiu, finalmente, iniciar o Baby-Led Weaning. Que excitação e que vontade! Começo já? Agora mesmo? Um momento… O seu bebé tem uma vida inteira pela frente para comer bem e de tudo, mas antes, tem de esperar que reúna uma série de requisitos necessários e, cuidado, não um, nem dois, mas sim todos os que descrevo a seguir. Isto é importante porque é indicativo de que o seu filho já pode manipular os alimentos com segurança e de que o seu corpo está preparado para os receber. 1. Tem de mostrar interesse pelos alimentos. Há quanto tempo repara nesta atitude do seu filho? Observa-o enquanto come e saliva… chega 12 • BABY-LED WEANING a sentir-se, inclusive, culpado por não lhe dar nada, uma vez que parece morrer de vontade de provar qualquer alimento. Seja paciente, chegará a altura, e mais depressa do que pensa. 2. Tem de se manter uma postura direita sem ajuda. Evite apoiá-lo com almofadas ou ajudá-lo! Tem de manter a postura de forma autónoma e mover -se sem perder o equilíbrio. Porquê? Porque é um indicador da maturidade do aparelho digestivo. Se se conseguir manter assim, a sua musculatura orofaríngea está suficientemente desenvolvida para poder lidar com os alimentos sólidos. 3. Tem de saber mostrar saciedade e fome com os seus gestos. O Baby- -Led Weaning não se reduz, tão-só, à incorporação de sólidos no seu regime alimentar, o objectivo é que a criança aprenda a comer auto- -regulando-se, pelo que é essencial que o bebé saiba comunicar e compreender autonomamente quando tem de comer e também quando tem de parar de comer. 4. Não deve ter o reflexo de extrusão. O quê? Puff… Não se assuste, já explico. A extrusão é um reflexo inato do bebé que consiste em rejeitar qualquer alimento que não seja leite, expulsando-o da sua boca com a língua. Quando estamos a alimentar um bebé e este expulsa os alimentos com a língua, pode parecer que não lhe agrada a comida que lhe preparámos, quando, na verdade, o que acontece é que ainda conserva o reflexo de extrusão. O mais frequente é que o percam entre os quatro e os seis meses de idade, mas também não é estranho que o façam mais tarde. A pergunta secreta é: quando é que sabe que não o tem? Pois, tal ocorre uma vez cumpridos os requisitos anteriores, quando não tiver qualquer problema em movimentar os alimentos na boca. E, mais ou menos, quando é que tudo isto acontece? O mais frequente é que seja a partir dos seis meses. Portanto, até essa altura, só leite, por favor! NUNCA ANTES DOS SEIS MESES A OMS recomenda a lactação exclusiva até aos seis meses e, pelo menos, até aos dois anos de idade de modo complementar. Mas… porquê? Imagine que tem a possibilidade de escolher entre dois carros: um é o melhor INTRODUção • 13 do mercado, com todos os extras e da cor de que mais gosta e o outro é um carro horroroso, a cair aos bocados e com mais de vinte anos. E depois, escolhe o segundo… O leite, o nosso carro de última geração, cobre todas as necessidades nutricionais e é uma grande fonte de energia numa etapa vital e de importante desenvolvimento para o bebé. Ingerir qualquer outro alimento, incluindo água ou infusões, fará com que o seu pequeno estômago fique cheio e não haja espaço para o que efectivamente promove o seu crescimento: o precioso leite. Bom, as papas e os purés também são um bom alimento, não? Nessa idade, não. Biologicamente, somos mamíferos e o nosso corpo está preparado para receber leite. Tudo o que possa haver num puré ou numa papa está largamente coberto pela lactação, quer seja materna quer seja artificial. Comer papas ou purés não tem, sequer, um carácter educativo ou lúdico, uma vez que o bebé não consegue manusear nada, simplesmente espera que chegue a colher, muito antes de ter perdido o reflexo de extrusão (condição indispensável para iniciar o bebé em qualquer tipo de alimentação complementar), o que, no mínimo, fará com que cada refeição seja uma luta. Recordemos, além do mais, que o sistema digestivo do bebé ainda não está maduro e oferecer-lhe alimentos não adequados pode acarretar problemas no futuro. y Riscos da introdução precoce (antes do quarto mês) da alimentação complementar y A curto prazo: • Possibilidade de engasgamento • Aumento de gastroenterites agudas e infecções do tracto respiratório superior • Interferência com a biodisponibilidade de ferro e zinco do leite materno • Substituição das tomas de leite por outros alimentos menos nutritivos A longo prazo: • Maior risco de obesidade • Maior risco de eczema atópico • Maior risco de diabetes Mellitus, tipo 1 • Maior taxa de desmame precoce, com os riscos associados que isto envolve Fonte: Recomendações da Associação Espanhola de Pediatria sobre alimentação complementar. Actualização: Novembro de 2018. 14 • BABY-LED WEANING 3. OS ALIMENTOS ALIMENTOS NÃO RECOMENDÁVEIS (PELO MENOS) ANTES DE UM ANO DE IDADE 1. Sal Não é adequado aos seus rins ainda imaturos. Talvez ache que, se não usar sal ou se não colocar um caldo concentrado nos vegetais, estes não ficarão saborosos. Não é preciso. Lembre-se de que os bebés desconhecem esse sabor. 2. Mel O mel não é recomendável até ao primeiro ano de vida devido ao risco de botulismo e, até aos três anos de idade, por ser altamente cariogénico. 3. Frutos secos inteiros Os frutos secos inteiros não são recomendáveis, mas moídos, vão dar que falar. E então? Acontece que a sua rigidez e a sua forma arredondada favorecem o risco de asfixia, são um dos alimentos mais perigosos, juntamente com as pipocas de milho e as salsichas tipo Frankfurt (cortadas em rodelas podem fazer ventosa e ficar presas na garganta). É preferível não oferecer estes alimentos até aos cinco anos de idade, pelo menos. A sério, não o faça, pode apanhar um grande susto! Está bem, está bem… grrr. 4. Magros e com baixo teor de gordura Está agora numa etapa de pleno desenvolvimento, precisa dessa gordura (saudável) para crescer. 5. Peixes grandes e mariscos Peixes muito grandes acumulam mercúrio, o que pode alterar o desenvolvimento neural do bebé. Além disso, as cabeças dos camarões e de determinados mariscos, como os caranguejos, acumulam outro tipo de metal pesado, o cádmio, o qual favorece a disfunção renal. 6. Lacticínios (leite gordo) Porque é que acha que existe leite adaptado quando a lactação materna não é possível? O leite de vaca gordo contém muita proteína que os rins, em pleno desenvolvimento do bebé, têm dificuldade em filtrar. Além disso, este excesso de proteína evita a absorção de ferro, tão necessário nesta etapa da vida do bebé. INTRODUção • 15 Fonte: Recomendações de consumo de peixe por presença de mercúrio da Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (AESAN). Actualização:Outubro de 2019. y Peixes e o seu índice de mercúrio y * De 0 a 10 anos/grávidas ou que planeiem engravidar/a amamentar: evitar o consumo * De 0 a 10 anos/ mulheres grávidas ou que planeiem engravidar/ a amamentar: 3-4 doses de peixe por semana (procurando variar as espécies entre peixes brancos e azuis). * De 0 a 10 anos/ mulheres grávidas ou que planeiem engravidar/ a amamentar: 3-4 doses de peixe por semana (tentando variar as espécies entre peixes brancos e azuis). Muito alto Peixe-espada/imperador Atum vermelho Tubarão (cação, tubarão sardo, cação, pata-roxa e tintureira) Lúcio Baixo Badejo Anchova Arenque, Bacalhau Verdinho/Berbigão Cavala, Camarão Caranguejo, Caramujo Escamudo/eglefim Carpa, Lula, Amêijoa Choco/sépia/siba, Lagostim, Lingueirão, Dourada, Espadim, Gamba, Cavalinha, Lagosta, Camarão Linguado europeu Pregado, Robalo, Mexilhão, Pescada/merlúcio, Navalha, Ostra, Pampo, Linguado, Pota, Polvo, Camarão pequeno, Salmão-do-atlântico/salmão, Salmão-do-pacífico, Sardinha, Sardinela, Solha, Truta Médio Pescado não mencionado especificamente. 16 • BABY-LED WEANING 7. Carne mal passada, peixe e ovo mal cozinhados Evitamos oferecer estes alimentos crus ou cozinhados a menos de 70 °C, temperatura a que os microorganismos patogéneos são destruídos. Se um adulto pode ter um problema sério em caso de intoxicação, imagine um bebé. Deste modo, nada de sushi, nada de «só uma migalhinha da gema do meu ovo estrelado», nada de carpaccio e coisas do género, só porque você come de tudo! Esta parte vai custar… 8. Carne de caça com chumbo Continue a evitar carnes e peixes contaminados com metais pesados, neste caso, com chumbo. Evite também a carne de caça até, pelo menos, aos seis anos. 9. Espinafres, acelgas, beterrabas e borragens Então, isto é que é uma surpresa, certo? Mas se são vegetais, e são muito saudáveis! São, são… mas, antes de um ano de idade, devem ser evitados. Os nitratos são substâncias que os vegetais de folha verde absorvem através da terra de cultivo. Uma vez metabolizados pelo nosso organismo, transformam-se em nitritos que, em quantidades elevadas, podem revelar -se tóxicos. Atenção, estão em causa bebés com menos de um ano de idade. Poderão comer vegetais de folha verde mais à frente. 10. Bebidas e bolachas de arroz Já está a inventar… Não! Bem, são coisas em que não reparava quando não tinha filhos, mas a informação esteve sempre disponível. Devido à sua localização geográfica e aos seus métodos de cultivo, há locais onde se produz um arroz com maior quantidade de arsénico do que noutros e digo «maior quantidade», porque o arsénico é uma substância que se encontra de modo natural na terra e na água. As variedades integrais, ao conservarem a casca, contêm uma concentração ainda maior. Por isso, as bebidas de arroz e as bolachas, produzidas com o grão inteiro, a longo prazo, podem ser tóxicas. Não são alimentos adequados a menores de seis anos de idade. Quer dizer que é melhor não consumir arroz? Claro que se pode consumir arroz! O que estou a dizer é que como o arroz é um alimento muito comum, usado frequentemente na alimentação INTRODUção • 17 infantil, deve ter-se em conta as recomendações e optar por outras formas de o preparar. Indico-vos como reduzir o conteúdo de arsénico e assim continuar a comer este cereal com toda a tranquilidade: • Deixar o arroz de molho durante oito horas, pelo menos; • Lavar o arroz até a água sair limpa; • Confeccioná-lo com água abundante, que deve deitar fora. 11. Algas Sim, não é um alimento muito comum, mas há muitos adeptos das algas, porque estas contêm excelentes propriedades nutricionais. A má notícia é que também contêm uma percentagem de iodo muito elevada, que não é recomendada para um corpo em pleno processo de amadurecimento, como o de um bebé. Assim, a incluir na lista dos esquecidos… Bom, neste caso, só até atingir um ano de idade. 12. Açúcar Vamos distinguir primeiro os dois grandes tipos de açúcar: • Açúcar intrínseco: o que se encontra de forma natural nos alimentos (frutas, legumes…). • Açúcar livre: açúcares refinados (ou não refinados) adicionados aos alimentos por terceiros e açúcares presentes de forma natural no mel, nos xaropes e nos sumos de fruta. Este último é o que não devemos oferecer aos nossos filhos, pelas seguintes razões: a) O seu consumo está associado a um aumento do risco de cáries dentárias, porque torna a cavidade bucal muito ácida, o que favorece a erosão dentária. Para travar o impacto das cáries dentárias, todos os bebés, desde o aparecimento do primeiro dente, devem lavar os dentes com uma pasta dentífrica de pelo menos 1000 ppm de fluor. Não se esqueça de consultar um odontopediatra a este respeito. Sim, mesmo no caso dos bebés! b) A preferência inata dos bebés pelos sabores doces, a par da enorme palatabilidade do açúcar, farão com que o bebé sinta necessidade de consumir mais. Além disso, a percepção do sabor irá mudar, afastando das suas preferências outros alimentos muito mais nutritivos. É ou não verdade que não se distingue do mesmo modo o sabor de um fruto depois de comer um donut? É como se comesse um pedaço de cortiça… Pois é. 18 • BABY-LED WEANING c) O consumo repetido e precoce do açúcar livre está muito associado ao estabelecimento de condutas alimentares pouco saudáveis que, no futuro, serão muito difíceis de corrigir. d) O seu consumo está directamente relacionado com doenças cardiovasculares, excesso de peso, obesidade e diabetes. É importante perceber que, tal como os nossos filhos não precisam de sal para temperar os alimentos, também não precisam de açúcar. Não sentirão a falta dele. Frequentemente dir-lhe-ão coisas como: um bebé precisa de açúcar para o desenvolvimento do cérebro (açúcar, não!; glicose, presente até nos vegetais); não faz mal só uma vez; mais tarde ou mais cedo irá a uma festa de anos e aí comerá até não poder mais… Bom, não é assim, não o pode isolar do mundo, mas se lhe incutir hábitos saudáveis, em muitas ocasiões preferirá uma peça de fruta a qualquer doce. Acredite. 13. Alimentos supérfluos Deverá prescindir de tudo o que não é benéfico, nutricionalmente falando, e que altera o apetite: batatas fritas, pastelaria industrial ( já sabe ao que me refiro) e, claro está, doces e infusões… Como? Infusões também não? As infusões, pelos princípios activos que costumam conter e dependendo da concentração, podem causar efeitos adversos, como intoxicações ou alergias. O facto de alguma coisa ser natural não significa que é inócua. Lembre-se, também, que os bebés com menos de seis meses não devem ingerir outro líquido senão o leite materno ou adaptado, nem sumos, nem água e, como é evidente, infusões também não. Pfff… não se lhe pode dar nada! Sim. Um pouco de paciência. COMO PREPARAR OS ALIMENTOS O ideal é começar com alimentos moles que se podem desfazer ao mastigar (com dentes ou sem eles), de dimensão suficientemente grande para que, quando os agarra com a mão, sobressaiam o equivalente ao tamanho de um polegar. Isso será a única coisa que poderá levar à boca. Curiosamente, é preferível cortar os alimentos em pedaços grandes para que, desse modo, seja mais fácil manuseá-los. INTRODUção • 19 Após um ou dois meses depois do início da alimentação complementar, não conseguirá fazer uma pinça, ou seja, articular os dedos para poder agarrar coisas pequenas, como, por exemplo, ervilhas. É um momento muito emocionante, que proporciona muita satisfação tanto aos pais como ao bebé. Não é recomendável oferecer-lhe alimentos duros, tais como cenouras ou maçã crua. Pode não acontecer nada, mas existe a possibilidade de se soltar um pedaço suficientemente grande para pregar um bom susto. Que tal raladas, cozidas ou assadas? De certeza que adorará. Os alimentos pequenos e arredondados, como cerejase uvas, devem ser preparados sem caroços e sem grainhas e cortados em quartos. Além disso, só os deve prepararquando souber fazer pinça, para que não fiquem frustrados ao tentar alcançá-los. Por último, deve cortar a carne no sentido contrário aos veios para facilitar a mastigação. Também pode servi-la em formato de hambúrguer. ALIMENTOS RICOS EM FERRO As reservas de ferro do bebé começam a descer por volta dos seis meses, precisamente quando inicia a alimentação complementar. Que conveniente, não é? É importante entender que se trata de uma diminuição gradual. Digo-o porque também há outra coincidência simpática: o bebé começa a fazer experiências com pedaços de alimentos e, provavelmente, não comerá muito, pelo menos não o que os pais estão à espera. Altura em que entra em pânico, pensando que ficará anémico ou algo do género. Aaaaaargh! Antes de se enervar, tenha em conta duas coisas: • Se a clampagem do cordão umbilical foi tardia, haverá mais disponibilidade de ferro nas suas reservas. • O ferro do leite materno tem muito boa absorção, cerca de 50%. • No caso de o seu bebé tomar leite adaptado (no início ou na continuação), saiba que estes leites contêm um suplemento de ferro. Além disso, deverá ter em conta uma série de alimentos ricos em ferro no momento de preparar as refeições: 20 • BABY-LED WEANING y Ferro de origem vegetal ou não-hemo y Legumes Lentilha Grão-de-bico Ervilha Feijão branco Feijão riscado Amendoins Cereais Aveia Amaranto Cereais integrais Quinoa (pseudocereal) Vegetais e hortaliças Batata Tomate Brócolos Couve-flor Alcachofra Salsa Frutas Uva Damasco Figo Banana Abacate Melancia Ameixa Coco Manga Romã Morango Tâmara Frutos secos** Semente de abóbora Semente de girassol Pinhão Amêndoa Caju Pistácio Noz Avelã Sésamo Vários Gema de ovo* * A gema do ovo, apesar de ser de origem animal, é não-hemo. Não se esqueça de servir os ovos bem cozidos. ** Frutos secos e sementes sempre descascados, sem sal, crus ou tostados. Moídos, nunca inteiros. y Ferro de origem animal ou hemo y (De absorção três vezes superior ao de origem vegetal) Carnes Frango Peru Vaca Vitela Porco Peixes Pescadinha Sardinha Biqueirão Moluscos Mexilhão Amêijoa Ostra INTRODUção • 21 Sim! Sabia que o ferro oriundo de alimentos de origem vegetal (não -hemo) é tão bem assimilado quanto o de origem animal (hemo), uma vez conjugado com alimentos ricos em vitamina C? ¡Guau! Pois, é isso. Mãos à obra. Desta vez, destacam-se apenas os alimentos de origem vegetal: PROTEÍNAS VEGETAIS Bom, já sabe que alimentos (adequados para bebés) contêm ferro, quais os que são ricos em vitamina C para ajudar a sua absorção e, agora, é a vez de… tcham-tcham! Sim! As proteínas vegetais! Mas o que é que está para aqui a dizer? Já lhe dou carne e peixe, não me baralhe! Perfeito, mas não se esqueça que o mais saudável é manter um equilíbrio entre as proteínas vegetais e as proteínas animais. Portanto, tome nota (espreite o quadro da p. 20): y Vitamina C de origem vegetal y Verduras e hortaliças Brócolos Couve-flor Tomate Pimento (verde ou vermelho) Ervas aromáticas (coentros, cebolinho, tomilho, manjericão de folha larga e salsa) Frutas Morango Cereja Groselha Framboesa Quivi Melancia Melão Papaia Citrinos (limão, laranja, lima e toranja) 22 • BABY-LED WEANING COMBINAÇÕES VEGETAIS PARA OBTER PROTEÍNAS COMPLETAS Legumes + cereais Vegetais + frutos secos + cereais ou legumes PROTEÍNAS VEGETAIS COMPLETAS Soja / quinoa / grão / pistácio / amaranto / trigo-sarraceno Apercebeu-se de que muitos alimentos se repetem? Aha! Isto começa a fazer sentido, não é? Tudo se faz por alguma razão. Agora, atenção, entramos num tema delicado… ALERGIAS Talvez por esta altura se esteja a perguntar se não existem demasiados alimentos considerados potencialmente alérgicos, e os quais sugiro que, calmamente, dê ao seu bebé. Compreendo a reflexão, mas a verdade é que se concluiu que não é necessário adiar a introdução de alimentos para prevenir as alergias. y Proteínas de origem vegetal y Legumes Lentilha Grão-de-bico Ervilha Feijão branco Feijão riscado Favas Edamame Amendoins Cereais Espelta Trigo- -sarraceno Arroz Milho Aveia Seitan Quinoa (pseudocereal) Vegetais e hortaliças Brócolos Couve-flor Cogumelo Batata-doce Batata Soja Tomate Espargo Frutas Abacate Frutos secos e sementes Semente de abóbora Semente de girassol Chia Amêndoa Avelã Noz Caju Pistácio INTRODUção • 23 Como? Não se faz a pouco e pouco? Ou seja, se tivermos de ser alérgicos a qualquer coisa, sê-lo-emos independentemente do momento em que ingerimos esse alimento pela primeira vez. Pode (e deve) dar-se todos os grupos de alimentos desde os seis meses: cereais (com ou sem glúten), frutas e vegetais, frutos secos, carne e peixe… Paradoxalmente, apesar de serem as indicações das AEP no seu guia Recomendações da Associação Espanhola de Pediatria sobre a alimentação complementar (actualizada em 2018), em muitas consultas pediátricas, continua a ser disponibilizada a famosa fotocópia com directrizes desactualizadas. Mas atenção, não vamos dar os alimentos ao acaso. Para maior tranquilidade, teremos certos cuidados. Vamos seguir uma lista de introdução de alimentos, a «regra dos três dias»: Durante três dias, não necessariamente consecutivos, daremos um novo alimento ao bebé, que o manipulará, provará e poderá até pô-lo na cabeça (por favor, fotografe isso). Se em nenhuma das três vezes a criança mostrar sintomas de alergia, podemos dar esse alimento como introduzido ou controlado. Exemplo prático: durante três dias damos pão, depois pão com tomate, noutros três dias pão com tomate e azeite, e assim sucessivamente, até comer (quase) de tudo. Que confusão! Mas porque se faz isto? Pois, se lhe oferecesse vários alimentos novos e algum lhe provocasse alergia, não o conseguiria identificar e teria de expor novamente o seu filho aos mesmos alimentos até encontrar o alimento certo, ou deixar de lhe dar todos os que nos parecessem suspeitos de terem provocado a alergia. Dá-los um a um pode ser trabalhoso, é verdade, mas vale a pena. Mas porquê três dias? Porque uma manifestação alérgica nem sempre se dá na primeira exposição. Por isso, três dias costumam ser suficientes para constatar uma possível reacção. Na página seguinte, deixo um quadro para o ajudar a controlar melhor os alimentos que experimentou introduzir. A reter: Lembre-se de lhe dar cada alimento durante três dias, mas não necessariamente consecutivos. Nunca lhe ofereça um alimento novo à noite, porque, a dormir, será mais difícil ver a evolução de uma possível manifestação alérgica. Além disso, deve prestar especial atenção às crianças com antecedentes familiares de alergias alimentares. 24 • BABY-LED WEANING 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Brócolos Pêra Salmão Cenoura Melancia Cavala Couve-flor Maçã Sardinha Batata Laranja Pescada Batata-doce Ameixa Dourada Curgete Melão Truta Abóbora Nêspera Bacalhau Pimento vermelho Damasco Robalo Pimento verde Nectarina Peixe-galo Cebola Tangerina Anchovas Alho Limão Linguado Tomate Toranja Robalo Pepino Abacate Mexilhão Alho-porro Ananás Gamba Couve-de-bruxelas Pêssego Camarão Cogumelo Morango Berbigão Beringela Quivi Ostra Alcachofra Banana Lula Espargos Tâmara Badejo Feijão Papaia Feijão-verde Cereja Gengibre Figo Uva Arando Pêssego paraguaio Groselha Amora Verduras e hortaliças Frutas Peixes INTRODUção • 25 1 2 3 1 2 3 Azeite Pão de trigo Orégãos Pão de milho Manjericão Massa de trigo Pimenta Massa de arroz Salsa Farinha de trigo Avelãs Bulgur Castanha de caju Flocos de aveia Pistácios Farinha de aveia Tempeh Cuscuz Tofu Milho Soja texturizada Farinha de milho Seitan* Grão-de-bicoColorau Farinha de grão-de-bico Cominhos Lentilhas Amêndoas Massa de lentilhas Nozes Feijão Quinoa Farinha de alfarroba Edamame Ervilhas Favas * Frutos secos sempre descascados, sem sal, crus ou torrados, e sempre moídos, nunca inteiros / tempeh, seitan e tofu sem sal. Vários Cereais e legumes
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