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A Psicologia Estrutural – o Estruturalismo – é uma das seis grandes escolas da psicologia. De acordo com Bock et al., a escola preocupava-se em estudar a consciência do ponto de vista estrutural, ou seja, “os estados elementares da consciência, como estruturas do sistema nervoso central” (2008, p. 48). Segundo Cabral & Nick, o Estruturalismo, em resumo, tinha como unidade de estudo os elementos mentais (sensações e afetos), sendo o conteúdo da consciência o objeto da Psicologia Estrutural. Era de caráter subjetivo (mentalista), de finalidade pura, segundo leis globais (nomotética), e utilizava-se do método de introspecção experimental, a fim de entender os encadeamentos fisiológicos. (2006, p. 106) Ainda que esta linha de pensamento tenha sido inaugurada por Wilhelm Wundt, foi Edward Titchener, no final do século XIX, quem empregou pela primeira vez o termo estruturalismo (BOCK et al., 2008, p. 48). Conforme Schultz & Schultz (2014, p. 88), somente a psicologia de Titchener pode ser denominada Estruturalismo, já que esta diferia completamente da abordagem inicial de Wundt. Inglês, Titchener frequentou a Malvern College e a Oxford University, onde cursou filosofia e estudos clássicos. Interessou-se pela psicologia wundtiana enquanto estudava em Oxford e mudou-se para Leipzig para estudar com Wundt. Após obter seu doutorado, retornou a Oxford, mas percebeu que havia melhores oportunidades nos Estados Unidos. Então, mudou-se para lá e começou a lecionar Psicologia e dirigir um laboratório na Cornell University – onde trabalhou pelo resto da vida. Os anos que Titchener passou na Cornell foram os seus mais produtivos, tanto que o Estruturalismo é também conhecido como “Escola de Cornell” (CABRAL & NICK, 2006, p. 105). Em Cornell, o laboratório de Psicologia de Titchener ficou bastante conhecido no campus e ganhou a reputação de local imoral devido aos experimentos questionáveis que ele propunha, como: analisar as sensações percebidas por um indivíduo com um longo tubo de borracha em sua garganta, por onde circulava água ora quente, ora gelada; solicitar relatos dos sentimentos dos alunos enquanto urinavam e evacuavam; ou, ainda, pedir que alunos casados amarrassem dispositivos de medição a seus corpos, durante o sexo, para registrar as respostas fisiológicas. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2014, p. 88-89) Titchener foi o responsável pela tradução das obras de Wundt do alemão para o inglês. Além disso, é o autor de Esboço da Psicologia (1896), Introdução à Psicologia (1898) e Psicologia Experimental (1901-1905), um manual de práticas de laboratório em quatro volumes que “incentivaram o trabalho de laboratório da psicologia nos Estados Unidos e influenciaram a geração dos psicólogos experimentalistas” (SCHULTZ & SCHULTZ, 2014, p. 90). Titchener preocupava-se em estudar as estruturas mentais e a conexão mecânica no processo de associação, mas descartava a apercepção de Wundt. Conforme Barreto & Morato (2008 apud GONDRA, 1997), o estruturalismo de Titchener “pretendia determinar os elementos constitutivos da consciência” através da decomposição das “experiências complexas em elementos mais simples, a fim de definir, com precisão, sua natureza.” Ainda segundo Barreto & Morato tais elementos deveriam ser classificados, dando origem às leis de associação que expressariam as relações regulares existentes entre eles. Essas relações explicariam as conexões entre os processos da consciência e os processos paralelos do sistema nervoso. Assim, “a explicação psicológica se limitava à descrição das relações funcionais entre a experiência psicológica e o sistema nervoso, evitando as afirmações causais” (BARRETO & MORATO, 2008 apud GONDRA, 1997, p.29). O conteúdo da experiência consciente, segundo Titchener, deveria ser o objeto de estudo da psicologia, a fim de compreender não só a experiência física dos fenômenos, mas também a experiência consciente pessoal de cada indivíduo. Segundo Marcellos, Titchener era influenciado pela formação numa tradição empirista, cuja proposta central era eliminar do campo científico a discussão metafísica acerca de uma natureza última das coisas e encarar a experiência humana como fonte exclusiva de conhecimento. (MARCELLOS, 2012 apud MERZ, 1896) A respeito da observação da experiência consciente, Titchener alertava para a possibilidade de um erro de estímulo – a confusão entre o processo mental e o objeto que está sendo observado – que ocorre quando o observador se concentra no objeto em si, em vez do conteúdo consciente, sem interpretar o que está sendo observado. Para seus estudos, Titchener objetivava relatos detalhados dos sentimentos e interpretações pessoais acerca do objeto – e não meras descrições do objeto. A consciência, para Titchener, era o conjunto de experiências – ou processos mentais – existentes em determinado momento, enquanto a mente é a soma é a soma das experiências acumuladas ao longo do tempo – o total desses processos mentais. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2014, p. 96) Ainda de acordo com Schultz & Schultz, Titchener afirmava que a psicologia era uma ciência pura e que os psicólogos deveriam se manter distantes de especulações a respeito das aplicações práticas de seus conhecimentos para curar mentes doentias ou reformar a sociedade. Ele acreditava que “o único propósito legitimo da psicologia é descobrir os fatos estruturais da mente” (SCHULTZ & SCHULTZ, 2014, p. 96) e, por isso, se opôs ao desenvolvimento de outras áreas que considerava incompatíveis com sua psicologia introspectiva experimental do conteúdo da mente, como as psicologias infantil e animal. Para seu método de introspecção experimental sistemática, Titchener treinava rigorosamente os observadores para que descrevessem os elementos no seu estado consciente, sem a utilização de nomes corriqueiros – ou seja, sem cometer “erros de estímulo” – criando uma linguagem diferenciada em seu laboratório. O método de Titchener visava relatos detalhados, subjetivos e qualitativos, dando ênfase à compreensão das partes elementares. Desta forma, divergia de Wundt, que focava em mensurações objetivas e quantitativas com foco na compreensão do todo através da apercepção (síntese dos elementos da consciência). Influenciado pela filosofia mecanicista, Titchener, em seus relatórios de pesquisa, se referia aos observadores como reagentes, “termo usado por químicos para se referirem às substâncias [...] utilizadas para detectar, examinar ou medir outras substâncias” (SCHULTZ & SCHULTZ, 2014, p. 96). Titchener via os observadores como máquinas neutras e imparciais, meros instrumentos de registro. As metas da psicologia estrutural de Titchener coincidiam com aquelas das ciências naturais. Conforme Schultz & Schultz (2014, p. 97), eram três as suas proposições para a psicologia: “(1) reduzir os processos conscientes a seus componentes mais simples; (2) determinar as leis de associação desses elementos da consciência; (3) conectar os elementos às suas condições fisiológicas.” A pesquisa desenvolvida por Titchener concentrou-se principalmente em resolver a primeira proposta: a de dividir a consciência humana em elementos básicos. Titchener estabeleceu três estados elementares da consciência: (1) o estado da sensação, onde estão presentes os elementos básicos da percepção; (2) o estado da imagem, que compreende os elementos das ideias e refletem experiências não presentes, como as lembranças; e (3) o estado da afeição, onde se encontram os elementos da emoção (amor, ódio, tristeza, etc.) Titchener categorizou em quatro características fundamentais os elementos mentais, ainda que estes fossem básicos e irredutíveis, tal como se classifica elementos químicos em classes: (1) qualidade; (2) intensidade; (3) duração; e (4) nitidez. Ele afirmava que, de certa forma, estas características estariam presentes em toda a forma de experiênciae que todo processo consciente poderia ser reduzido a um destes atributos. Em suas pesquisas, Titchener afirma ter descoberto cerca de 44.500 qualidades sensoriais individuais, sendo 32.820 visuais e 11.600 auditivas. Cada elemento é considerado consciente e distinto dos demais, podendo haver a combinação entre eles para a formação das percepções e das ideias. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2014, p. 98) Titchener ainda divergia de Wundt a respeito do afeto e das três dimensões das emoções propostas por Wundt. Para Titchener, o afeto só existia na dimensão do prazer/desprazer – e as dimensões de tensão/relaxamento e excitação/depressão eram rejeitadas por ele. No início do século XX, Titchener organizou um grupo de diversos psicólogos – autodenominados “experimentalistas de Titchener” – para que comparassem os resultados e compartilhassem observações sobre suas pesquisas desenvolvidas. As reuniões, mediadas por Titchener, não admitiam a participação de mulheres. À época, várias mulheres casadas e com formação acadêmica trabalhavam nos projetos de seus maridos, sem receber crédito por isso. Algumas universidades nem mesmo admitiam mulheres em seus programas de pós-graduação – o que, paradoxalmente, não era o caso da Cornell, onde Margaret Floy Washburn, sob orientação de Titchener, obteve o primeiro título de doutorado em psicologia emitido à uma mulher. Ao final da vida, Titchener alterou sua abordagem em relação à psicologia estrutural, mudando o foco dos elementos mentais básicos para o estudo das dimensões e processos mentais mais amplos (qualidade, intensidade, duração, nitidez e extensão). Até mesmo o termo “psicologia estrutural” foi colocado em dúvida – e Titchener passou a se referir à sua abordagem como psicologia existencial, alterando, inclusive, seu método de introspecção. A escola perdeu força após a morte de Titchener, em 1927. Dois anos mais tarde, em 1929, os experimentalistas organizaram a Sociedade de Psicólogos Experimentais – que admitia mulheres –, responsável por promover reuniões anuais para discussão das pesquisas desenvolvidas pelos membros, ativa ainda hoje. Várias críticas foram feitas à escola e ao método introspectivo de Titchener: como os métodos experimentais eram muito subjetivos, alguns críticos acabaram questionando a confiabilidade dos resultados. Comte, por exemplo, disse que a mente não era capaz de observar as próprias atividades; Kant afirmou que a introspecção altera a experiência consciente observada; e Ebbinghaus constatou que o intervalo entre a experiência e o relato (a retrospecção) levava ao esquecimento. Outros críticos ainda afirmavam que parte da consciência inevitavelmente perde-se em qualquer esforço de análise e que a experiência não acontece em partes separadas, mas em uma totalidade unificada. Havia também críticas em relação à resistência da escola em abranger outras áreas e conhecimentos da psicologia. Apesar das críticas e de sua curta duração, o Estruturalismo contribui para a emergência da psicologia como disciplina formal pelo uso de métodos tradicionalmente científicos e influenciou o desenvolvimento da psicologia experimental da época. Além disso, por representar uma oposição aos outros movimentos, possibilitou à psicologia a superação de seus limites iniciais, influenciando o pensamento de diversas escolas conseguintes, como o Funcionalismo, o Behaviorismo e a Gestalt. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, C. L. B. T.; MORATO, H. T. P. A dispersão do pensamento psicológico. Bol. psicol, São Paulo, v. 58, n. 129, p. 147-160, dez. 2008. Disponível em <https://goo.gl/oj59Io>. Acesso em 25 abr. 2017. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.L.T. Psicologias: Uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 41. CABRAL, A.; NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 105-107. ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA. Structuralism. Encyclopædia Britannica Online. 4 Maio 2015. Disponível em <https://goo.gl/S9pvvQ>. Acesso em 25 abr. 2017. MARCELLOS, C. F. Objeto e método na psicologia de Wilhelm Wundt e Edward Titchener: um estudo comparativo. 2012. 102 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Juiz de Fora, 2012. Disponível em <https://goo.gl/sb8yoH>. Acesso em 25 abr. 2017. MOURA, J. Titchener e a Psicologia nos EUA. Psicologado. Ago. 2008. Disponível em <https://goo.gl/137Vp2>. Acesso em 25 abr. 2017. SCHULTZ, D.P.; SCHULTZ, S. E. Estruturalismo. In:_______ História da psicologia moderna. 10. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. p. 88-102.
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