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21/03/24, 09:56 Geografia e Ensino: 3. O currículo mínimo do estado do Rio de Janeiro https://graduacao.cederj.edu.br/mod/page/view.php?id=142174 1/3 No estado do Rio de Janeiro, ocorre processo parecido com o que conhecemos em nível nacional: de tempos em tempos, é produzido um novo documento organizador dos currículos, seja uma revisão ou uma nova elaboração. Em 2006, as escolas receberam a Reorientação curricular, “documento resultante do trabalho que reuniu professores da rede estadual e contou com a coordenação de equipes de especialistas das diversas áreas do conhecimento da UFRJ”. Em 2010, um documento denominado Proposta curricular: um novo formato foi elaborado com base no documento anterior; organizando-o visualmente em quadros, divididos por bimestres. As “competências e habilidades” listadas eram, em realidade, objetivos de aprendizagem, que versavam principalmente sobre os conteúdos dos livros didáticos. No ano seguinte, em 2011, foi apresentado o Currículo Mínimo, que recebeu uma revisão já em 2012. Esse documento apresenta alguns avanços, como a formulação mais bem acabada das chamadas “habilidades e competências” e a tematização da geografia regional. Assim como o anterior, também apresenta divisão por bimestres, o que torna mais inadequada a indicação de objetivos amplos. Um exemplo: Reconhecer elementos do mapa e sua importância para leitura de mapas. Currículo mínimo 2012, Geografia, ensino fundamental, 6º ano. Disponível em: <www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=759820>. Acesso em: 4 jan. 2015. Ora, esse é um objetivo de parte significativa do ensino de geografia no fundamental! E ele está indicado nesse bimestre junto a outros quatro objetivos. Ao dividir em bimestres, o recado é direto: nesse período de tempo deve-se atingir esse objetivo. Isso, no entanto, é inadequado – a impossibilidade de se atingi-lo em tão pouco tempo possibilita depreender que o que se pretendia era ensinar os conteúdos “elementos do mapa” e “leitura cartográfica” e foi colocado um verbo para transformá-los em “habilidades e competências”. Esse objetivo pode estar presente no 6º ano, mas deveria corresponder a uma indicação de que o trabalho iniciado nas séries iniciais do ensino fundamental deve “desembocar” no desenvolvimento de habilidades e competências que possibilitem ao aluno ser capaz, nesse ano escolar, de “reconhecer elementos do mapa e sua importância para leitura de mapas”. Para guiar o trabalho nas séries iniciais, pode-se, por exemplo, inserir objetivos de aprendizagem menos complexos que contribuam nesse processo, ou seja, pode-se “decompor” objetivos amplos em algo mais restrito, de forma a adequar-se às divisões do calendário escolar. Observe no quadro a seguir os temas de cada bimestre. ENSINO FUNDAMENTAL Ano Bimestre “Foco do bimestre” 6º ano 1º Conhecendo o espaço geográfico 2º Alfabetização cartográfica 3º Dinâmicas naturais e suas interações 4º Relação homem e natureza 7º ano 1º As paisagens naturais brasileiras 2º Organização político-administrativa e divisão regional do Brasil 3º Sociedade e cultura no Brasil 4º As bases econômicas da organização social brasileira ? 21/03/24, 09:56 Geografia e Ensino: 3. O currículo mínimo do estado do Rio de Janeiro https://graduacao.cederj.edu.br/mod/page/view.php?id=142174 2/3 8º ano 1º A globalização: integração e persistência das desigualdades 2º O continente americano e sua diversidade 3º As transformações espaciais na América Latina 4º A integração territorial nas Américas 9º ano 1º África: formação socioespacial e a diversidade 2º A organização do espaço europeu e suas particularidades 3º O potencial econômico, cultural e socioambiental do continente asiático 4º Oriente Médio e Oceania: dinâmicas territoriais e diferenças socioculturais Ensino médio Série Bimestre “Foco do bimestre” 1 série 1º Representações gráficas e cartográficas 2º A dinâmica climática e os biomas 3º Dinâmica ambiental: as transformações do relevo e as bacias hidrográficas 4º A questão ambiental 2 série 1º Globalização e blocos econômicos 2º Urbanização mundial e brasileira 3º O espaço agrário no mundo e no Brasil 4º O estudo da população: crescimento, estrutura e migrações 3 série 1º A indústria e seus diferentes processos de organização espacial 2º As redes e o Brasil no contexto atual 3º A questão energética no mundo contemporâneo 4º O Rio de Janeiro no contexto regional – dimensões política, econômica, ambiental e sociocultural Ainda que não seja adequado analisar uma proposta curricular atendo-se aos temas propostos, esse conjunto de assuntos, nomeados de “foco”, possibilitam depreender algumas características desse documento curricular, como a valorização de abordagens há muito presentes nas aulas de geografia nas escolas brasileiras. Nas séries finais do ensino fundamental, há desconsidera-se quase completamente os documentos curriculares nacionais: a abordagem regional foi, de certa forma, “recheada” com temas políticos e econômicos, deixando pouco espaço para conceitos como fluxo, rede e território. Pode-se vislumbrar, ainda, enorme fragmentação da análise física. Um dos temas fala em “paisagens naturais brasileiras”: há muito as terras que hoje compõem o território do Brasil não apresentam paisagens naturais; é provável que esteja em jogo uma abordagem dos domínios de natureza. No entanto, a geografia escolar pode prescindir de uma abordagem de processos naturais desvinculada da análise das relações sociais a a a 21/03/24, 09:56 Geografia e Ensino: 3. O currículo mínimo do estado do Rio de Janeiro https://graduacao.cederj.edu.br/mod/page/view.php?id=142174 3/3 imbricadas na produção do espaço. Qual o sentido de explicar aos alunos, por exemplo, como a floresta amazônica contribui para a umidade em longos trechos do interior da América do Sul, influenciando o regime de chuvas e, consequentemente, minimizando efeitos de desertificação, se não houver, atrelado a isso, uma abordagem das razões pelas quais essa região, diferentemente de outras florestas equatoriais pelo mundo, mantém grande parte de suas matas razoavelmente preservadas da atuação das sociedades? A abordagem isolada do papel da floresta no clima regional é muitíssimo mais adequada ao currículo das chamadas ciências naturais. Na geografia, esse conhecimento deveria estar a serviço de uma abordagem do espaço geográfico, o que pressupõe suas relações sociais de produção. CONCLUSÃO Apresentamos diversos documentos curriculares que fazem parte da vida escolar e que devem ser conhecidos pelos professores. De fato, há documentos que se superpõem aos outros, pois a cada alteração na legislação, comunidades de educadores disputam o espaço, aparentemente disponível, para a elaboração de propostas e/ou diretrizes concernentes aos novos preceitos legais. As disputas acadêmicas, divididas com ONGs e fundações amparadas por grandes capitais, estimulam a proliferação de premissas, orientações e normas, na maior parte das vezes desconsiderando aqueles que deveriam estar dialogando e pensando em conjunto tais deliberações: alunos e professores do ensino básico. Última atualização: domingo, 12 fev. 2017, 12:27
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