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Neurofarmacologia: anestésicos locais
Apresentação
Os anestésicos locais produzem perda transitória das sensações em determinada região do corpo, 
sem ocasionar a perda da consciência. Atuam na membrana celular e impedem a geração e 
condução dos impulsos nervosos. Quando aplicados localmente nos tecidos nervosos em 
concentrações adequadas, bloqueiam de maneira reversível os potenciais de ação responsáveis 
pela condução nervosa.
Nesta Unidade de Aprendizagem abordaremos os fármacos usados para induzir anestesia local. 
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar os fármacos usados para anestesia local.•
Descrever as vantagens e as desvantagens dos anestésicos locais comumente utilizados.•
Comparar os anestésicos locais em relação a administração, contraindicações e segurança para 
o paciente.
•
Desafio
Uma mulher de 30 anos apresenta-se no consultório para o tratamento de uma unha encravada. 
Durante as três últimas semanas, ela teve piora progressiva de vermelhidão, inchaço e dor na área 
ao redor da unha do hálux direito. Ao exame, você observa que o canto distal, medial da unha do 
hálux direito, está encravando. A pele na borda medial da unha está vermelha e sensível. Há 
drenagem purulenta visível. O médico prescreve o antibiótico cefalexina oral pelo período de uma 
semana e pede à paciente que retorne ao consultório. No acompanhamento, a vermelhidão 
melhorou bastante e não há mais drenagem. O médico corrige cirurgicamente a unha encravada 
depois de fazer anestesia local com lidocaína a 2% injetada para infiltrar os nervos digitais.
a) Qual é o mecanismo de ação da lidocaína como agente anestésico?
b) Explique a influência do pH tecidual no efeito do anestésico local. Por que o tratamento da 
infecção aumenta a eficácia do anestésico local?
Infográfico
Os anestésicos locais podem ser usados por via tópica, infiltração, bloqueio regional intravenoso, 
bloqueio de nervos, anestesia peridural e raquianestesia.
Conteúdo do livro
Os anestésicos locais ligam-se reversivelmente a um receptor específico existente no poro dos 
canais de Na+ dos nervos e bloqueiam o transporte dos íons por essa abertura.
Acompanhe um trecho da obra As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. O 
livro serve de base teórica para esta unidade e descreve os fármacos usados para induzir anestesia 
local.
Boa leitura!
LAURENCE L. BRUNTON
BRUCE A. CHABNER ■ BJÖRN C. KNOLLMANN
As Bases 
Farmacológicas da
TERAPÊUTICA de
12ª EDIÇÃO
Goodman
Gilman
&
DVD COM BANCO 
DE IMAGENS
Equipe de tradução
Augusto Langeloh
Beatriz Araújo do Rosário
Carlos Henrique de Araújo Cosendey
Denise Costa Rodrigues
Maria Elisabete Costa Moreira
Patricia Lydie Voeux
Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição
Almir Lourenço da Fonseca
Diretor Científico do Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF)
Diretor da Divisão de Saúde e Responsável Técnico da Policlínica José Paranhos Fontenelle, 
Secretaria Municipal de Saúde (RJ)
B299 As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & 
Gilman [recurso eletrônico] / organizadores, Laurence L. 
Brunton, Bruce A. Chabner, Björn C. Knollmann ; 
[tradução: Augusto Langeloh ... et al. ; revisão técnica: 
Almir Lourenço da Fonseca]. – 12. ed. – Dados 
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.
Editado também como livro impresso em 2012.
ISBN 978-85-8055-117-4
1. Farmacologia. 2. Terapêutica. I. Brunton, Laurence L.
II. Chabner, Bruce A. III. Knollmann, Björn C.
CDU 615
Catalogação na publicação: Fernanda B. Handke dos Santos – CRB 10/2107
Anestésicos locais
William A. Catterall 
e Kenneth Mackie
20 Capítulo
Os anestésicos locais ligam-se reversivelmente a um re-
ceptor específi co existente no poro dos canais de Na+ dos 
nervos e bloqueiam o transporte dos íons por essa aber-
tura. Quando aplicados localmente nos tecidos nervosos 
em concentrações adequadas, eles podem atuar em qual-
quer parte do sistema nervoso e em qualquer tipo de fi bra 
nervosa, bloqueando de maneira reversível os potenciais 
de ação responsáveis pela condução nervosa. Desse 
modo, em contato com um tronco nervoso, podem causar 
paralisia sensorial e motora na área inervada. Na maioria 
das aplicações clínicas, os seus efeitos em concentrações 
clinicamente signifi cativas são reversíveis com recupera-
ção da função nervosa e nenhuma evidência de lesão das 
fi bras ou das células nervosas.
História. As propriedades anestésicas do primeiro anestésico local 
— co caí na — foram descobertas casualmente no fi nal do século 
XIX. A co caí na está presente em grandes quantidades nas folhas 
do arbusto coca (Erythroxylon coca). Há séculos, os nativos dos 
Andes mastigavam um extrato alcalino dessas folhas por suas ações 
estimulantes e eufóricas. A co caí na foi isolada pela primeira vez 
por Albert Niemann em 1860. Assim como muitos químicos dessa 
época, Niemann experimentou seu composto recém-isolado e obser-
vou que ele causava dormência na língua. Sigmund Freud estudou 
as ações fi siológicas da co caí na e Carl Koller introduziu essa droga 
na prática clínica em 1884 como anestésico tópico para cirurgia of-
talmológica. Pouco depois, Halstead popularizou sua aplicação na 
infi ltração e anestesia por bloqueio da condução.
Química e relação entre estrutura e atividade. A co caí na é um 
éster do ácido benzoico e do álcool complexo 2-carbometoxi-3-
hidroxitropano (Figura 20-1). Em vista da sua toxicidade e das suas 
propriedades aditivas (Capítulo 24), a busca por substitutos sinté-
ticos da co caí na começou em 1892 com o trabalho de Einhorn e 
colaboradores resultando na síntese da procaína, que tornou-se o 
protótipo dos anestésicos locais por quase meio século. Hoje, os 
fármacos utilizados mais comumente são a procaína, a lidocaína, a 
bupivacaína e a tetracaína.
Os anestésicos locais típicos contêm componentes hidrofíli-
cos e hidrofóbicos separados por uma ligação intermediária de éster 
ou amida (Figura 20-1). A ampla variedade de compostos que pos-
suem essa estrutura básica pode satisfazer as necessidades de uso 
dos anestésicos locais. Em geral, o grupo hidrofílico é uma amina 
terciária, mas também pode ser uma amina secundária; o compo-
nente hidrofóbico deve ser aromático. A composição do grupo de 
ligação determina algumas das propriedades farmacológicas desses 
compostos. Por exemplo, os anestésicos locais com ligação éster são 
hidrolisados facilmente pelas esterases plasmáticas.
As relações entre estrutura e atividade e as propriedades físi-
co-químicas dos anestésicos locais foram revisadas por Courtney e 
Strichartz (1987). A hidrofobicidade aumenta a potência e a duração 
da ação dos anestésicos locais; a combinação do fármaco com os 
locais hidrofóbicos amplia a partição do anestésico aos seus locais 
de ação e reduz a taxa de metabolismo pelas esterases plasmáticas e 
enzimas hepáticas. Além disso, o local receptor desses fármacos nos 
canais de Na+ parece ser hidrofóbico (ver “Mecanismo de ação”) e, 
por esta razão, a afi nidade dos agentes anestésicos por seus recepto-
res é maior com os compostos mais hidrofóbicos. A hidrofobicidade 
também aumenta os efeitos tóxicos, de modo que o índice terapêu-
tico é menor com os fármacos mais hidrofóbicos.
O peso molecular infl uencia a taxa de dissociação desses 
anestésicos de seus locais receptores. As moléculas menores podem 
desprender-se mais facilmente dos seus receptores. Essa caracterís-
tica é importante nas células que despolarizam rapidamente, por-
que os anestésicos locais ligam-se durante os potenciais de ação e 
dissociam-se durante o perío do de repolarização da membrana. Sua 
ligação rápida durante os potenciais de ação é responsável por sua 
ação dependente da fre quên cia e da voltagem.
Mecanismo de ação. Os anestésicos locais atuam na 
membrana celular e impedem a geração e condução dos 
impulsos nervosos. O bloqueio da condução pode ser de-
monstrado nos axônios da lula gigante, dos quais o axo-plasma foi removido.
Eles bloqueiam a condução reduzindo ou impedindo 
o grande aumento transitório da permeabilidade das mem-
branas excitáveis ao Na+, que normalmente é produzido 
pela despolarização suave da membrana (Capítulos 8, 11 e 
14) (Strichartz e Ritchie, 1987). Essa ação é decorrente de 
sua interação direta com os canais de Na+ regulados por 
voltagem. À medida que a ação anestésica desenvolve-se 
progressivamente no nervo, o limiar da excitabilidade elé-
trica aumenta gradativamente, a velocidade de elevação do 
potencial de ação declina, a condução dos impulsos fi ca 
mais lenta e o fator de segurança da condução diminui. 
Essas alterações reduzem as chances de propagação do po-
tencial de ação e, por fi m, a condução nervosa é impedida.
Os anestésicos locais podem ligar-se às outras pro-
teí nas da membrana (Butterworth e Strichartz, 1990). 
566
SEÇÃO II
N
EU
ROFARM
ACOLOGIA
Esses fármacos, em especial, podem bloquear os canais de 
K+ (Strichartz e Ritchie, 1987). Entretanto, como a intera-
ção desses anestésicos com os canais de K+ depende das 
concentrações mais altas do fármaco, o bloqueio da condu-
ção não é acompanhado de qualquer alteração signifi cativa 
ou consistente no potencial da membrana em repouso.
Figura 20-1 Fórmulas estruturais de alguns anestésicos locais. A maioria dos anestésicos locais consiste em um componente hidrofóbico 
(aromático, em preto), em uma região de ligação (em alaranjado) e em uma amina substituída (região hidrofílica, em vermelho). As estru-
turas ilustradas nesta fi gura estão agrupadas por tipo de região de ligação. A procaína é o protótipo dos anestésicos locais tipo éster; em 
geral, os ésteres são bem hidrolisados pelas esterases plasmáticas e isto contribui para a duração relativamente curta da ação dos fármacos 
desse grupo. A lidocaína é o protótipo dos anestésicos locais do tipo amida; em geral, essas estruturas são mais resistentes à depuração e 
têm duração de ação mais longa. Existem algumas exceções, incluindo-se a benzocaína (pouco hidrossolúvel; usada apenas em aplicação 
tópica) e os compostos com uma ligação cetona, amidina ou éter. A cloroprocaína tem um átomo de cloro no C2 do anel aromático da 
procaína.
PROCAÍNABENZOCAÍNACOCAÍNA
PROPARACAÍNA
LIDOCAÍNA
MEPIVACAÍNA
DIBUCAÍNA
PRAMOXINA
TETRACAÍNA
ARTICAÍNA
PRILOCAÍNA
BUPIVACAÍNA
ROPIVACAÍNA
DICLONINA
C
C
H3CO CH3
C2H5H2N
H7C3
H9C4
H
S
C
O
OCH
N
H2N
CH3
CH3
CH3 CH3
CH3CH3
C9H4
H9C4 O
H9C4 O
O
N
CH3 CH3
CH3
CH2
NH NHCH NH C
OCH3
CH3
O
C NCH2 CH2
C
O
CH3
O
H2N
2
1
O
N
O C O
O
C N
O
OCH2CH2
C2H5
C2H5
O
C
NH
NH
NH
N
NH
N
N O
N
C
O
C
CH NHC C
O
N
O
C NH CH2
OCH2CH2CH2
CH2
O
O
N N
C2H5 CH3
CH3
N
C2H5
C3H7
H7C3
C3H7
C2H5
C2H5
C4H9
C2H5
C2H5
CH3
O
C
O
OCH2CH2 OCH2CH2
CAPÍTU
LO 20
AN
ESTÉSICOS LOCAIS
571ocorrer porque as aminas simpaticomiméticas aumentam o consumo 
de oxigênio nos tecidos; em combinação com a vasoconstrição, isso 
causa hipoxia e lesão tecidual local. O uso dos vasoconstritores nas 
preparações de anestésicos locais em regiões anatômicas com pouca 
circulação colateral poderia causar lesão hipoxêmica irreversível, 
necrose tecidual e gangrena e, por esta razão, está contraindicado.
Efeitos adversos dos anestésicos locais. Além de blo-
quear a condução nos axônios do sistema nervoso peri-
férico, os anestésicos locais interferem nas funções de 
todos os órgãos nos quais há transmissão ou condução 
dos impulsos. Desse modo, esses fármacos produzem 
efeitos importantes no SNC, nos gânglios autônomos, na 
junção neuromuscular e em todos os tipos de músculos 
(ver revisão em Covino, 1987; Garfi eld e Gugino, 1987; 
Gintant e Hoffman, 1987). O risco acarretado por essas 
reações adversas é proporcional à sua concentração atin-
gida na circulação. Em geral, para os anestésicos locais 
com centros quirais, o S-enantiômero é menos tóxico do 
que o R-enantiômero (McClure, 1996).
Sistema nervoso central. Depois da absorção, os anesté-
sicos locais podem causar estimulação do SNC eviden-
ciada por inquietude e tremor, que pode progredir para 
convulsões clônicas. Em geral, quanto mais potente for o 
anestésico, menor o intervalo necessário à iniciação das 
convulsões. Desse modo, as alterações da atividade do 
SNC são previsíveis com base no agente anestésico local 
usado e na concentração sanguínea atingida. A estimula-
ção central é seguida de depressão e o óbito geralmente é 
causado por insufi ciência respiratória.
A estimulação aparente e a depressão subsequente produzidas 
por sua aplicação no SNC provavelmente se devem apenas à de-
pressão da atividade neuronial; a depressão seletiva dos neurônios 
inibitórios parece explicar a fase de excitação observada in vivo. A 
administração sistêmica rápida dos anestésicos locais pode levar 
à morte com sinais apenas transitórios de estimulação do SNC, 
ou sem qualquer indício disso. Nessas condições, a concentração 
do fármaco provavelmente aumenta tão rapidamente que todos os 
neurônios são deprimidos ao mesmo tempo. O controle das vias 
respiratórias, juntamente com o suporte ventilatório e circulatório, 
são medidas essenciais ao tratamento do estágio avançado de in-
toxicação. As opções preferidas para a profi laxia e o controle das 
convulsões são benzodiazepinas ou barbitúricos de ação rápida ad-
ministrados por via intravenosa (ver Capítulo 17).
Embora a queixa mais comum resultante das ações dos anes-
tésicos locais no SNC seja a sonolência, a lidocaína pode causar 
disforia ou euforia e abalos musculares. Além disso, a lidocaína e 
a procaína podem provocar perda da consciência precedida apenas 
por sintomas de sedação (Covino, 1987). Embora outros anestésicos 
locais também produzam esse efeito, a co caí na atua de forma exu-
berante no humor e no comportamento. Esses efeitos da co caí na e 
seu uso abusivo são analisados no Capítulo 24.
Sistema cardiovascular. Depois da absorção sistêmica, os 
anestésicos locais atuam no sistema cardiovascular (Co-
vino, 1987). O local principal de ação é o miocárdio, no 
qual se observam reduções da excitabilidade elétrica, da 
velocidade de condução e da força de contração. Além 
disso, a maioria deles causa dilatação arteriolar. Em geral, 
os efeitos cardiovasculares adversos são observados 
apenas com as concentrações sistêmicas altas e quando 
também há efeitos no SNC. Entretanto, em raros casos, 
doses menores de alguns anestésicos locais causam co-
lapso cardiovascular e morte, provavelmente decorrentes 
da ação no marca-passo ou do início súbito de fi brila-
ção ventricular. A taquicardia e a fi brilação ventriculares 
são consequências relativamente raras dos anestésicos 
locais, exceto a bupivacaína. Os efeitos dos anestésicos 
locais, como a lidocaína e procainamida, que também 
são usados como agentes antiarrítmicos, são analisados 
no Capítulo 29. Por fi m, vale ressaltar que os efeitos car-
diovasculares adversos dos anestésicos locais podem ser 
causados por sua administração intravascular acidental, 
especialmente se a epinefrina também estiver presente.
Musculatura lisa. Os anestésicos locais deprimem as con-
trações do intestino intacto e dos segmentos intestinais 
isolados (Zipf e Dittmann, 1971). Além disso, esses fár-
macos relaxam a musculatura lisa dos brônquios e dos 
vasos sanguíneos, embora as concentrações baixas pos-
sam inicialmente causar vasoconstrição (Covino, 1987). 
As anestesias espinal e epidural, assim como a instilação 
dos anestésicos locais na cavidade peritoneal, podem 
causar paralisia do sistema nervoso simpático e isto pode 
aumentar o tônus da musculatura gastrintestinal, descrita 
na seção “Aplicações Clínicas”. Os anestésicos locais 
podem aumentar o tônus em repouso e reduzir as contra-
ções do músculo uterino humano isolado; contudo, ape-
nas em casos raros as contrações uterinas são deprimidas 
diretamente durante a anestesia regional do parto.
Junção neuromuscular e sinapse ganglionar. Os anestésicos 
locais também interferemna transmissão na junção neu-
romuscular. Por exemplo, em concentrações nas quais o 
músculo normalmente responde à estimulação elétrica 
direta, a procaína pode bloquear a resposta dos músculos 
esqueléticos às descargas máximas dos nervos motores 
e à ACh. Resultados semelhantes ocorrem nos gânglios 
autônomos. Esses efeitos são atribuídos ao bloqueio dos 
receptores nicotínicos de ACh em virtude das altas con-
centrações dos anestésicos locais (Charnet e cols., 1990; 
Neher e Steinbach, 1978).
Hipersensibilidade aos anestésicos locais. Alguns poucos in di-
ví duos são hipersensíveis aos anestésicos locais. Essa reação pode 
evidenciar-se por dermatite alérgica ou uma crise típica de asma 
(Covino, 1987). É importante estabelecer a diferença entre as rea-
ções alérgicas associadas aos efeitos colaterais tóxicos e os efeitos 
dos vasoconstritores administrados simultaneamente. A hipersensi-
bilidade parece ocorrer com fre quên cia maior com os anestésicos 
locais do tipo éster e geralmente também ocorre com os compostos 
com estruturas químicas semelhantes. Por exemplo, os in di ví duos 
hipersensíveis à procaína também podem reagir aos compostos es-
truturalmente semelhantes (p. ex., tetracaína) devido a uma reação 
572
SEÇÃO II
N
EU
ROFARM
ACOLOGIA
ao metabólito comum. Embora as respostas alérgicas aos anestési-
cos do tipo amida sejam raras, as soluções desses fármacos podem 
conter conservantes, como o metilparabeno, que é capaz de provo-
car reações alérgicas (Covino, 1987). As preparações dos anestési-
cos locais contendo vasoconstritor também podem provocar reações 
alérgicas atri buí das ao sulfi to acrescentado como antioxidante à ca-
tecolamina ou ao vasoconstritor.
Metabolismo dos anestésicos locais. O destino metabó-
lico dos anestésicos locais tem grande importância prá-
tica porque seus efeitos tóxicos dependem principalmente 
do equilíbrio entre suas taxas de absorção e eliminação. 
Como foi salientado anteriormente, a taxa de absorção de 
alguns anestésicos pode ser reduzida consideravelmente 
pelo acréscimo de um agente vasoconstritor à solução 
anestésica. Entretanto, a taxa de degradação dos anes-
tésicos locais varia signifi cativamente e este é um fator 
importante para determinar a segurança do agente anes-
tésico específi co. Como a toxicidade está relacionada à 
concentração livre do fármaco, a ligação do anestésico às 
pro teí nas plasmáticas e aos tecidos diminui a concentra-
ção da substância livre na circulação sistêmica e, por esta 
razão, atenua os efeitos tóxicos. Por exemplo, na aneste-
sia regional intravenosa de um membro, cerca de metade 
da dose inicial do anestésico ainda está ligada aos tecidos 
aproximadamente 30 min após a recuperação do fl uxo 
sanguíneo normal (Arthur, 1987).
Alguns anestésicos locais usados comumente (p. ex., tetra-
caína) são ésteres hidrolisados e inativados basicamente por uma 
esterase plasmática, principalmente pela colinesterase plasmática. O 
fígado também participa da hidrólise dos anestésicos locais. Como o 
líquido cerebrospinal contém pouca ou nenhuma esterase, a aneste-
sia produzida pela injeção intratecal de um anestésico persistirá até 
que o fármaco tenha sido absorvido na circulação.
Os anestésicos locais ligados a um grupo amida geralmente 
são decompostos pelas CYP hepáticas, cujas reações iniciais envol-
vem a N-desalquilação seguida de hidrólise (Arthur, 1987). Con-
tudo, no caso da prilocaína, a primeira reação é hidrolítica com 
formação de metabólitos o-toluidínicos que causam metemoglobi-
nemia. O uso indiscriminado dos anestésicos locais ligados a um 
grupo amida em pacientes com doen ça hepática grave impõe cau-
tela. Os anestésicos locais desse tipo apresentam-se inteiramente 
ligados às pro teí nas plasmáticas (55-95%), principalmente à gli-
coproteína α1-ácida. Muitos fatores aumentam (p. ex., câncer, ci-
rurgia, traumatismo, infarto do miocárdio, tabagismo e uremia) ou 
diminuem (p. ex., anticoncepcionais orais) o nível dessa glicopro-
teína e, dessa forma, alteram a quantidade de anestésico apresen-
tado ao fígado para metabolismo e afetam sua toxicidade sistêmica. 
Também pode haver alterações da ligação proteica dos anestésicos 
locais associadas ao envelhecimento. Os recém-nascidos apresen-
tam defi ciên cia relativa de pro teí nas plasmáticas que se ligam aos 
anestésicos locais e, desse modo, são mais suscetíveis aos efeitos 
tóxicos. As pro teí nas plasmáticas não são o único determinante da 
disponibilidade desses anestésicos. A captação pulmonar também 
pode desempenhar um papel importante na distribuição dos anesté-
sicos locais com grupos amida no corpo. A redução do débito car-
día co retarda a liberação dos compostos amídicos ao fígado e, por 
esta razão, diminui seu metabolismo e prolonga suas meias-vidas 
plasmáticas.
CO CAÍ NA
Química. A co caí na é um éster de ácido benzoico e metilecgonina 
e está presente em grandes quantidades nas folhas do arbusto coca. 
A ecgonina é uma base aminoalcoólica muito semelhante à tropina, 
o aminoálcool da atropina. Essa substância tem a mesma estrutura 
fundamental dos anestésicos locais sintéticos (Figura 20-1).
Ações farmacológicas e preparações. As ações clinicamente dese-
jáveis da co caí na são o bloqueio dos impulsos nervosos (devido às 
suas propriedades anestésicas locais) e a vasoconstrição local secun-
dária à inibição da recaptação local da NE. A toxicidade e seu uso 
abusivo reduziram drasticamente as aplicações clínicas da co caí na. 
Os efeitos tóxicos graves desse anestésico são decorrentes da dimi-
nuição da captação das catecolaminas nos sistemas nervosos central 
e periférico. Suas propriedades euforizantes são atri buí das principal-
mente à inibição da captação das catecolaminas no SNC, em especial 
da dopamina. Os outros anestésicos locais não bloqueiam a captação 
da norepinefrina e não causam sensibilização às catecolaminas, va-
soconstrição ou midríase típicas da co caí na. Hoje, a co caí na é usada 
principalmente como anestésico tópico para procedimentos no trato 
respiratório superior, onde suas propriedades vasoconstritoras e anes-
tésicas locais combinadas conferem anestesia e retração da mucosa. 
O cloridrato de co caí na é administrado em solução a 1, 4 ou 10% 
para obter anestesia tópica. Na maioria das indicações, a preparação 
a 1 ou 4% é preferível por diminuir os efeitos tóxicos. Em vista do 
uso abusivo, a co caí na foi incluída como substância controlada do 
grupo II pela U.S. Drug Enforcement Agency.
LIDOCAÍNA
A lidocaína é uma aminoetilamida (Figura 20-1) e o pro-
tótipo dos anestésicos locais amídicos.
Ações farmacológicas. A lidocaína produz anestesia mais rápida, 
intensa, prolongada e ampla do que as concentrações equivalentes 
da procaína. A lidocaína é uma opção alternativa para in di ví duos 
sensíveis aos anestésicos locais do tipo éster.
Absorção, destino e excreção. A lidocaína é absorvida rapidamente 
depois da administração parenteral e pelos tratos respiratório e gas-
trintestinal. Embora seja efi caz quando usada sem vasoconstritor, 
a epinefrina reduz a taxa de absorção e isto geralmente permite di-
minuir os efeitos tóxicos e prolongar a duração da ação anestésica. 
Além das preparações injetáveis, a lidocaína é formulada para uso 
tópico, oftálmico, nas mucosas e transdérmico. 
O adesivo transdérmico de lidocaína é usado para aliviar a 
dor associada à neuralgia pós-herpética. Um adesivo oral está dis-
ponível para aplicação nas membranas mucosas acessíveis da boca 
antes de procedimentos odontológicos superfi ciais. A combinação 
de lidocaína (2,5%) e prilocaína (2,5%) em um curativo oclusivo é 
usada como anestésico antes das punções venosas, da remoção de 
enxertos cutâneos e da infi ltração dos anestésicos na região genital. 
A lidocaína em combinação com tetracaína em uma formulação que 
gera uma “casca” é aprovada para analgesia local tópica antes de 
procedimentos dermatológicos superfi ciais como injeções de preen-
chimento e tratamentos a base de laser. A lidocaína em combinaçãocom tetracaína é comercializada em uma formulação que gera calor 
sob exposição ao ar, que é utilizada antes de acesso venoso e proce-
dimentos dermatológicos superfi ciais como excisão, eletrodesseca-
ção e biópsia por raspagem de lesões cutâ neas. O aquecimento leve 
CAPÍTU
LO 20
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ESTÉSICOS LOCAIS
575TOXINAS BIOLÓGICAS: TETRODOTOXINA 
E SAXITOXINA
Essas duas toxinas biológicas também bloqueiam o poro do canal 
de Na+. A tetrodotoxina está presente nas gônadas e em outros te-
cidos viscerais de alguns peixes da ordem dos Tetraodontiformes 
(à qual pertence o fugu japonês, ou qualquer peixe capaz de infl ar 
o corpo, como o baiacu etc.); essa toxina também é encontrada na 
pele de algumas salamandras da família das Salamandridae e da rã 
Atelopus, da Costa Rica. A saxitoxina é produzida pelos dinofl age-
lados Gonyaulax catenella e G. tamarensis e fi ca retida nos tecidos 
dos mexilhões, mariscos, outros moluscos bivalves e crustáceos 
que comem esses organismos. Em presença de condições apropria-
das de luz e temperatura, os Gonyaulax podem multiplicar-se tão 
rapidamente que descoloram o oceano, causasndo uma condição 
conhecida como maré vermelha. Os mexilhões, mariscos e demais 
moluscos bivalves que se alimentam de Gonyaulax nessa época 
tornam-se extremamente tóxicos aos seres humanos e são respon-
sáveis pelos surtos periódicos de envenenamento paralisante por 
moluscos (Stommel e Watters, 2004). Embora essas toxinas sejam 
quimicamente diferentes, seus mecanismos de ação são semelhan-
tes (Ritchie, 1980). Em concentrações nanomolares, elas bloqueiam 
especifi camente o orifício externo dos poros dos canais de Na+ das 
membranas das células excitáveis. Por isso, o potencial de ação é 
bloqueado. O local receptor dessas toxinas é formado pelos ami-
noácidos que compõem a alça P da subunidade α do canal de Na+ 
(Figura 20-2) em todos os quatro domínios (Catterall, 2000; Terlau 
e cols., 1991). Nem todos os canais de Na+ são igualmente sensí-
veis à tetrodotoxina, pois alguns canais de Na+ dos miócitos car día-
cos e dos neurônios dos gânglios das raízes dorsais são resistentes; 
quando o músculo esquelético é desenervado, os tecidos expres-
sam um canal de Na+ resistente à tetrodotoxina. A saxitoxina e a 
tetrodotoxina são dois dos venenos mais potentes conhecidos e as 
doses letais mínimas para camundongo variam em torno de 8 μg/
kg. Essas duas toxinas têm causado intoxicações fatais em seres hu-
manos, decorrentes da paralisia dos músculos respiratórios. Por essa 
razão, o tratamento dos casos graves de intoxicação requer suporte 
respiratório. O bloqueio dos nervos vasomotores, combinado com o 
relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, parecem ser 
responsáveis pela hipotensão típica da intoxicação por tetrodotoxina. 
Lavagem gástrica imediata e suporte vasopressor também são medi-
das recomendadas. Se o paciente sobreviver por 24 h ao envenena-
mento paralisante por moluscos bivalves, o prognóstico é bom.
USOS CLÍNICOS DOS ANESTÉSICOS 
LOCAIS
A anestesia local produz supressão da sensibilidade em 
uma parte do corpo, sem causar perda da consciência ou 
depressão do controle central das funções vitais. Esse tipo 
de anestesia possui duas vantagens. Primeiramente, as al-
terações fi siológicas associadas à anestesia geral não ocor-
rem; em segundo lugar, as respostas neurofi siológicas à 
dor e ao estresse podem ser modifi cadas favoravelmente. 
Como já foi ressaltado, os anestésicos locais podem po-
tencialmente causar efeitos colaterais deletérios. A escolha 
apropriada e sua aplicação cuidadosa são determinantes 
fundamentais à profi laxia dos efeitos tóxicos. Nos adultos, 
há uma relação pouco precisa entre a quantidade injetada e 
os níveis plasmáticos máximos. Além disso, as concentra-
ções plasmáticas de pico variam amplamente, dependendo 
da área injetada. Essas concentrações são mais altas nos 
bloqueios interpleurais ou intercostais e mais baixas com 
a infi ltração subcutâ nea. Desse modo, as doses máximas 
recomendadas servem apenas como orientação geral.
Essa discussão resume as consequências farmaco-
lógicas e fi siológicas do uso dos anestésicos locais clas-
sifi cados com base no método de administração. Nos 
livros de texto sobre anestesia regional (p. ex., Cousins e 
cols., 2008), o leitor poderá encontrar uma revisão mais 
abrangente das aplicações e da administração desses 
fármacos.
Anestesia tópica
A anestesia das mucosas do nariz, da boca e garganta, da árvore 
traqueobrônquica, do esôfago e do trato geniturinário pode ser con-
seguida com a aplicação tópica das soluções aquosas dos sais de 
alguns anestésicos locais, ou pela suspensão dos anestésicos locais 
pouco hidrossolúveis. Em geral, as preparações usadas são tetracaína 
(2%), lidocaína (2-10%) e co caí na (1-4%). Este último anestésico é 
usado apenas no nariz e na nasofaringe, boca, garganta e orelha, 
nos quais geralmente produz vasoconstrição e anestesia. A retração 
das mucosas diminui o sangramento operatório e, ao mesmo tempo, 
facilita a visão do campo cirúrgico. Com o acréscimo de um agente 
vasoconstritor em concentração baixa (p. ex., fenilefrina a 0,005%) 
aos outros anestésicos locais, pode-se conseguir um efeito vaso-
constritor comparável. Quando é aplicada topicamente, a epinefrina 
não causa efeito local signifi cativo e não prolonga a duração das 
ações dos anestésicos locais aplicados nas mucosas, tendo em vista 
sua penetração insatisfatória. Nos adultos saudáveis de 70 kg, as 
doses totais máximas seguras dos anestésicos tópicos são de 300 mg 
para a lidocaína, 150 mg para a co caí na e 50 mg para a tetracaína.
O efeito anestésico máximo obtido depois da aplicação tó-
pica da co caí na ou lidocaína ocorre em 2-5 min (3-8 min com a 
tetracaína) e a anestesia dura cerca de 30-45 min (30-60 min com a 
tetracaína). A anestesia é unicamente superfi cial e não se estende às 
estruturas situadas sob a mucosa. Essa técnica não atenua a dor ou o 
desconforto articular associado à infl amação ou lesão das estruturas 
localizadas sob a derme.
Os anestésicos locais são rapidamente absorvidos na circu-
lação depois da aplicação tópica nas mucosas ou na pele exposta. 
Por essa razão, a anestesia tópica sempre acarreta o risco de rea-
ções tóxicas sistêmicas. Efeitos tóxicos sistêmicos foram descritos 
mesmo depois da aplicação dos anestésicos tópicos para aliviar o 
desconforto causado nos casos graves de dermatite das fraldas dos 
bebês. A absorção é par ticular mente rápida quando são aplicados 
na árvore traqueobrônquica. As concentrações sanguíneas obtidas 
depois da instilação dos anestésicos locais nas vias respiratórias são 
praticamente iguais às que se observam depois da injeção intrave-
nosa. Aqueles usados para obter anestesia superfi cial da pele e da 
córnea foram descritos nas seções precedentes.
O uso de misturas eutéticas dos anestésicos locais lidocaína 
(2,5%)/prilocaína (2,5%) e lidocaína (7%)/tetracaína (7%) preen-
cheu a falha existente entre as anestesias tópica e infi ltrativa. A efi -
cácia de cada uma dessas combinações provém do fato de que a 
mistura tem um ponto de derretimento menor do que o observado 
com cada um deles isoladamente; à temperatura ambiente, essa 
preparação apresenta-se sob a forma de óleo, que pode penetrar na 
pele intacta. Esses cremes produzem anestesia a uma profundidade 
máxima de 5 mm e são aplicados topicamente na pele intacta sob 
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SEÇÃO II
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um curativo oclusivo antes de qualquer procedimento (aproximada-
mente 30-60 min). Essas misturas são efi cazes para procedimentos 
que envolvam a pele e as estruturas subcutâ neas superfi ciais (p. ex., 
punção venosa e remoção de enxertos de pele). Os anestésicos 
locais dessa preparação são absorvidos na circulação sistêmica e 
podem causar efeitos tóxicos como descrito anteriormente. Existem 
instruções para calcular a quantidade máxima de creme que pode ser 
aplicada e a área de pele a ser coberta. Essas misturas não devem ser 
aplicadas nas mucosasou na pele lesada, porque a absorção rápida 
nessas superfícies pode causar toxicidade sistêmica.
Anestesia por infi ltração
A anestesia por infi ltração requer a injeção do anestésico local direta-
mente nos tecidos, sem levar em consideração o trajeto dos nervos cutâ-
neos. Esse tipo de anestesia pode ser muito superfi cial e atuar apenas na 
pele. Também é possível incluir as estruturas mais profundas, como os 
órgãos intra-abdominais, desde que também sejam infi ltrados.
A duração da anestesia por infi ltração pode ser praticamente du-
plicada pelo acréscimo de epinefrina (5 μg/mL) à solução injetável; 
esse agente vasoconstritor também diminui as concentrações sanguí-
neas máximas dos anestésicos locais. Contudo, as soluções contendo 
epinefrina não devem ser injetadas nos tecidos irrigados por artérias 
terminais — por exemplo, dedos das mãos e dos pés, orelhas, nariz e 
pênis. A vasoconstrição resultante pode causar gangrena. Pela mesma 
razão, ela deve ser evitada nas soluções injetadas por via intradérmica. 
Como a epinefrina também é absorvida na circulação, seu uso deve ser 
evitado quando a estimulação adrenérgica for indesejável.
Os anestésicos locais utilizados mais comumente na anestesia 
por infi ltração são lidocaína (0,5-1%), procaína (0,5-1%) e bupi-
vacaína (0,125-0,25%). Quando usadas sem epinefrina, podem-se 
aplicar nos adultos até 4,5 mg/kg de lidocaína, 7 mg/kg de procaína 
ou 2 mg/kg de bupivacaína. Quando a epinefrina é acrescentada, 
essas doses podem ser aumentadas em um terço.
A vantagem da anestesia por infi ltração e outras técnicas de 
anestesia regional é que elas podem produzir efeito satisfatório sem 
alterar as funções fi siológicas normais. A desvantagem principal é a 
necessidade de usar doses relativamente grandes dos fármacos para 
anestesiar áreas comparativamente pequenas. Isso não traz proble-
mas nas pequenas cirurgias. Contudo, quando for necessário fazer 
uma cirurgia de grande porte, a quantidade de anestésico local que 
seria necessária aumenta as chances de ocorrerem reações tóxicas 
sistêmicas. O volume de anestésico necessário para uma área pode 
ser reduzido signifi cativamente e a duração da anestesia muito pro-
longada pelos bloqueios específi cos dos nervos que inervam a área 
de interesse. Isso pode ser conseguido em vários níveis: tecidos sub-
cutâneos, nervos principais ou raízes espinais.
Anestesia por bloqueio regional
A anestesia por bloqueio regional é produzida pela injeção subcutâ-
nea de uma solução do anestésico local para atuar na região distal ao 
ponto injetado. Por exemplo, a infi ltração subcutâ nea da região pro-
ximal da superfície volar do antebraço resulta em uma área ampla 
de anestesia cutâ nea, que começa 2-3 cm depois do local da injeção. 
O mesmo princípio pode ser aplicado com muita efi cácia no couro 
cabeludo, na parede anterior do abdome e no membro inferior.
Os fármacos, as concentrações e as doses recomendadas são 
os mesmos indicados para a anestesia por infi ltração. A vantagem da 
anestesia por bloqueio regional é que se pode usar uma quantidade 
menor do fármaco para conseguir uma área mais ampla de anestesia, 
do que se fosse aplicada a técnica por infi ltração. Evidentemente, o 
conhecimento da neuroanatomia da região é essencial ao sucesso da 
anestesia por bloqueio regional.
Anestesia por bloqueio nervoso
A injeção da solução de anestésico local dentro ou ao redor dos 
nervos periféricos ou plexos nervosos específi cos produz áreas 
ainda maio res de anestesia, do que com as técnicas descritas an-
teriormente. O bloqueio dos nervos periféricos e plexos nervosos 
mistos geralmente também alcança os nervos motores somáticos e 
causa relaxamento dos músculos esqueléticos, que é essencial em 
alguns procedimentos cirúrgicos. Em geral, as áreas de bloqueios 
motor e sensorial começam vários centímetros além do local da in-
jeção. Os bloqueios do plexo braquial são par ticular mente úteis aos 
procedimentos realizados no membro superior e no ombro. Os blo-
queios dos nervos intercostais são efi cazes para conseguir anestesia 
e relaxamento da parede abdominal anterior. O do plexo cervical é 
adequado às cirurgias do pescoço. Os bloqueios dos nervos ciático 
e femoral são úteis às operações distais do joelho. Outros bloqueios 
nervosos úteis para procedimentos cirúrgicos são os dos nervos es-
pecífi cos do punho e tornozelo; dos nervos específi cos do cotovelo, 
como os mediano e ulnar; e dos nervos cranianos sensoriais.
Quatro fatores principais determinam o início da anestesia 
sensorial depois da injeção do anestésico nas proximidades de um 
nervo:
proximidade da injeção ao nervo •
concentração e volume do anestésico •
grau de ionização do fármaco •
tempo •
O anestésico local nunca é injetado intencionalmente den-
tro do nervo, pois isto poderia ser doloroso e causar lesão nervosa. 
Em vez disso, ele é depositado o mais perto possível do nervo. Por 
essa razão, precisa difundir-se do local da injeção para dentro do 
nervo onde deverá atuar. A taxa de difusão é determinada princi-
palmente pela concentração do fármaco, por seu grau de ionização 
(o anestésico local ionizado difunde-se mais lentamente), por sua 
hidrofobicidade e pelas características físicas dos tecidos que cir-
cundam o nervo. As concentrações mais altas do anestésico local 
asseguram um início mais rápido do bloqueio nervoso periférico. 
Entretanto, a utilidade das concentrações mais altas é limitada pelas 
toxicidades sistêmica e neural direta das soluções concentradas dos 
anestésicos locais. Em determinada concentração, os anestésicos 
locais com valores menores de pKa tendem a produzir início de ação 
mais rápido, porque volumes maio res do fármaco são apolares no 
pH neutro. Por exemplo, o início da ação da lidocaína ocorre em 
cerca de 3 min, pois no pH de 7,4 cerca de 35% do fármaco estão 
em sua forma básica. Por outro lado, o início da ação da bupivacaína 
demora cerca de 15 min e apenas 5-10% do fármaco estão na sua 
forma apolar nesse pH. Seria compreensível que a hidrofobicidade 
maior pudesse acelerar o início da ação por aumentar a penetração 
no tecido nervoso. Contudo, isso também aumentaria a ligação aos 
lipídeos teciduais. Além disso, os anestésicos locais mais hidrofóbi-
cos também são mais potentes (e tóxicos) e, por esta razão, devem 
ser usados em quantidades mais baixas, o que diminui o gradiente 
de concentração para a difusão. Fatores teciduais também são im-
portantes para determinar a velocidade de início dos efeitos anesté-
sicos. A quantidade de tecido conjuntivo que precisa ser penetrada 
pode ser signifi cativa em um plexo nervoso em comparação com os 
nervos isolados e isto pode retardar ou até mesmo evitar a difusão 
adequada do anestésico local para as fi bras nervosas.
A duração da anestesia por bloqueio nervoso depende das ca-
racterísticas físicas do anestésico local usado e da presença ou ausên-
cia dos vasoconstritores. As características físicas par ticular mente 
importantes são lipossolubilidade e ligação às pro teí nas. Os anestési-
cos locais podem ser classifi cados, grosso modo, em três grupos: 
CAPÍTU
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ESTÉSICOS LOCAIS
577fármacos com duração de ação curta (20-45 min) nos nervos •
periféricos mistos, como a procaína
anestésicos com duração de ação intermediária (60-120 min), •
como a lidocaína e a mepivacaína
fármacos com duração de ação prolongada (400-450 min), como •
a bupivacaína, a ropivacaína e a tetracaína
A duração do bloqueio produzido pelos anestésicos locais de 
ação intermediária (p. ex., lidocaína) pode ser prolongada pelo acrés-
cimo de epinefrina (5 μg/kg). O grau de prolongamento do bloqueio 
dos nervos periféricos depois do acréscimo da epinefrina parece estar 
relacionado com as propriedades vasodilatadoras intrínsecas do anes-
tésico local e, desse modo, é mais acentuado com a lidocaína.
Os tipos de fi bras nervosas bloqueadas quando um anestésico 
local é injetado em torno de um nervo periférico misto dependem da 
sua concentração, do diâmetroda fi bra nervosa, da distância entre 
os nodos de Ranvier e da fre quên cia e padrão da transmissão dos 
impulsos nervosos (ver anteriormente, seções sobre “Fre quên cia e 
Dependência de Voltagem” e “Sensibilidade Diferenciada”). Os fa-
tores anatômicos também são importantes. Um nervo periférico ou 
tronco nervoso misto consiste em nervos independentes circunda-
dos pelo revestimento de epineuro. Em geral, a irrigação sanguínea 
está localizada ao centro. Quando o anestésico local é depositado ao 
redor de um nervo periférico, ele difunde-se da superfície externa 
em direção ao centro atraído por um gradiente de concentração (De-
Jong, 1994; Winnie e cols., 1977). Por essa razão, as fi bras nervosas 
do invólucro externo do nervo misto são bloqueadas primeiramente. 
Em geral, essas fi bras são distribuídas para estruturas anatômicas 
mais proximais do que as fi bras localizadas nas proximidades do 
centro do nervo misto e geralmente são motoras. Se o volume e a 
concentração da solução de anestésico local depositados ao redor do 
nervo forem adequados, o fármaco fi nalmente será difundido para 
dentro em quantidades sufi cientes para bloquear até mesmo as fi bras 
localizadas mais ao centro. Quantidades menores produzirão blo-
queio apenas das fi bras nervosas periféricas e das fi bras centrais me-
nores predominantemente sensoriais. Além disso, como a remoção 
dos anestésicos locais ocorre principalmente ao centro de um nervo 
ou tronco nervoso misto, onde se localizam os vasos sanguíneos, a 
duração do bloqueio das fi bras nervosas localizadas ao centro é mais 
curta do que a das situadas na periferia.
A escolha do anestésico local e a quantidade e concentração 
administradas são determinadas pelos nervos e tipos de fi bras a serem 
bloqueados, pela duração da anestesia necessária e pelo tamanho e 
condições de saú de do paciente. Para conseguir bloqueios de 2-4 h, 
pode-se aplicar lidocaína (1-1,5%) nas quantidades recomendadas 
anteriormente (ver “Anestesia por infi ltração”). A mepivacaína (até 
7 mg/kg da solução a 1-2%) produz anestesia que se estende por um 
perío do praticamente igual ao da lidocaína. A bupivacaína (2-3 mg/kg 
da solução a 0,25-0,375%) pode ser usada quando for necessária uma 
ação mais prolongada. O acréscimo de 5 μg/mL de epinefrina retarda 
a absorção sistêmica e, por isso, prolonga a duração e reduz a concen-
tração plasmática dos anestésicos locais de ação intermediária.
As concentrações plasmáticas máximas dos anestésicos locais 
dependem da quantidade injetada, das características físicas do anes-
tésico, da presença de epinefrina, da taxa de fl uxo sanguíneo para 
a área injetada e da superfície exposta ao anestésico local. Isso é 
par ticular mente importante para a aplicação segura da anestesia por 
bloqueio nervoso, pois a possibilidade de reações sistêmicas está rela-
cionada com as concentrações séricas máximas do fármaco livre. Por 
exemplo, as concentrações sanguíneas máximas da lidocaína depois 
da injeção de 400 mg sem epinefrina para bloquear os nervos inter-
costais oscilam em torno de 7 μg/mL; a mesma quantidade usada para 
bloquear o plexo braquial produz concentrações sanguíneas máximas 
em torno de 3 μg/mL (Covino e Vassallo, 1976). Desse modo, com 
o objetivo de atenuar os efeitos adversos, a quantidade do anestésico 
local que pode ser injetada deve ser ajustada de acordo com a locali-
zação anatômica do(s) nervo(s) a ser(em) bloqueado(s). O acréscimo 
de epinefrina pode reduzir as concentrações plasmáticas máximas em 
20-30%. Os bloqueios de vários nervos (p. ex., bloqueios intercostais) 
ou os realizados em regiões vascularizadas impõem a necessidade de 
reduzir a quantidade do anestésico que pode ser administrada sem 
riscos, tendo em vista que a superfície disponível para a absorção ou 
a taxa de absorção aumenta.
Anestesia regional intravenosa (bloqueio de Bier)
Essa técnica conta com a irrigação sanguínea para levar a solução 
anestésica local aos troncos nervosos e às terminações dos nervos. 
Com essa técnica, o membro é exsanguinado com uma bandagem 
(elástica) de Esmarch e o torniquete aplicado em posição proximal é 
infl ado cerca de 100-150 mmHg acima da pressão arterial sistólica. 
A bandagem de Esmarch é retirada e o anestésico local é injetado 
em uma veia que já havia sido cateterizada. Em geral, a aneste-
sia total do membro começa em 5-10 min. A dor provocada pelo 
torniquete e a possibilidade de ocorrer lesão isquêmica do nervo 
limitam a insufl ação a 2 h ou menos. Contudo, o torniquete deve 
permanecer infl ado por no mínimo 15-30 min para evitar que quan-
tidades tóxicas do anestésico local entrem na circulação depois do 
seu esvaziamento. O preferido para essa técnica é a lidocaína em 
solução a 0,5% sem epinefrina no volume de 40-50 mL (0,5 mL/kg 
nas crianças). Para a anestesia regional intravenosa dos adultos com 
a solução a 0,5% sem epinefrina, a dose administrada não deve pas-
sar de 4 mg/kg. Alguns médicos preferem a prilocaína (0,5%) em 
vez da lidocaína, tendo em vista seu índice terapêutico mais amplo. 
A atratividade dessa técnica está em sua simplicidade e suas des-
vantagens principais são que ela pode ser usada apenas em algumas 
regiões anatômicas, a sensibilidade (i.e., dor) retorna rapidamente 
depois da liberação do torniquete e o esvaziamento prematuro ou a 
sua falha podem produzir níveis tóxicos do anestésico local (p. ex., 
50 mL da solução de lidocaína a 0,5% contêm 250 mg do anesté-
sico). Por essa razão e pelo fato de as durações mais longas das 
ações não oferecem quaisquer vantagens, o anestésico local mais 
cardiotóxico, bupivacaína, não é recomendado com essa técnica. A 
anestesia regional intravenosa é usada mais comumente nas cirur-
gias do antebraço e da mão, mas pode ser adaptada para os pés e a 
parte distal da perna.
Anestesia espinal
A anestesia espinal ocorre depois da injeção do anestésico local no 
líquido cerebrospinal (LCS) do espaço lombar. Por algumas razões, 
incluindo-se a possibilidade de produzir anestesia em uma parte sig-
nifi cativa do corpo usando uma dose do anestésico local que atinge 
níveis plasmáticos insignifi cantes, a anestesia espinal ainda é uma 
das técnicas mais populares. Na maioria dos adultos, a medula es-
pinal termina acima da segunda vértebra lombar; entre este ponto 
e a terminação do saco tecal no sacro, as raízes lombares e sacrais 
fi cam banhadas pelo LCS. Desse modo, nessa região há um volume 
relativamente grande de LCS no qual o fármaco pode ser injetado, 
reduzindo assim a possibilidade de traumatismo direto dos nervos.
A seguir, há uma revisão sucinta dos efeitos fi siológicos da 
anestesia espinal com relação à farmacologia dos anestésicos lo-
cais usados. Ver detalhes adicionais nos textos mais especializados 
(p. ex., Cousins e cols., 2008).
Efeitos fi siológicos da anestesia espinal. A maioria dos efeitos 
colaterais fi siológicos da anestesia espinal é decorrente do bloqueio 
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SEÇÃO II
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simpático produzido pelo anestésico local, que bloqueia as fi bras 
simpáticas das raízes dos nervos espinais. O conhecimento detalhado 
desses efeitos fi siológicos é necessário à aplicação segura e efi caz 
da anestesia espinal. Embora alguns possam ser deletérios e exigir 
tratamento, outros podem ser benéfi cos ao paciente ou melhorar as 
condições operatórias. A maioria das fi bras simpáticas emerge da 
medula espinal entre T1 e L2 (ver Capítulo 8, Figura 8-1). Embora 
o anestésico local seja injetado abaixo dessas vértebras na porção 
lombar do saco dural, a disseminação proximal ocorre com todos 
esses fármacos, a menos que o volume injetado seja pequeno. Essa 
disseminação proximal tem importância signifi cativa na prática da 
anestesia espinal e possivelmente está sob o controle de diversas 
variáveis, entre as quais as mais importantes são a posição do pa-
ciente e a baricidade (densidade do fármaco em relação à densidade 
do LCS) (Greene, 1983). A intensidade do bloqueio simpático está 
relacionada com o nívelda anestesia sensorial; em geral, o nível do 
bloqueio simpático fi ca vários segmentos vertebrais acima, pois as 
fi bras simpáticas pré-ganglionares são mais sensíveis às concentra-
ções baixas do anestésico local. Os efeitos desse bloqueio incluem 
as ações do sistema nervoso parassimpático (neste caso, parcial-
mente livre para atuar) e a resposta dos segmentos não bloqueados 
do sistema nervoso simpático. Desse modo, à medida que o nível do 
bloqueio simpático sobe, as ações do sistema nervoso parassimpá-
tico fi cam cada vez mais dominantes e os mecanismos compensa-
tórios do sistema nervoso simpático não bloqueado são atenuados. 
Como a maioria das fi bras nervosas simpáticas emerge da medula 
em T1 ou abaixo, alguns efeitos adicionais do bloqueio simpático 
são observados com os níveis cervicais da anestesia espinal. As con-
sequências do bloqueio simpático variam nos diversos pacientes 
em função da idade, do condicionamento físico e da coexistência 
de doen ças. Curiosamente, durante a anestesia espinal o bloqueio 
simpático parece ser mínimo em crianças saudáveis.
Na prática clínica, os efeitos mais importantes do bloqueio 
simpático produzido pela anestesia espinal referem-se ao sistema 
cardiovascular. Com exceção dos níveis mais baixos de bloqueio 
espinal, sempre há algum grau de vasodilatação. E ela é mais pro-
nunciada na circulação venosa do que na arterial, em virtude do ar-
mazenamento do sangue nos vasos de capacitância venosos. Essa 
redução do volume sanguíneo circulante é bem tolerada com os 
níveis baixos de anestesia espinal nos pacientes saudáveis. Com a 
elevação do nível do bloqueio, o efeito torna-se mais marcante e o 
retorno venoso passa a ser dependente da gravidade. Se esse retorno 
diminuir demais, o débito car día co e a perfusão dos órgãos dimi-
nuem subitamente. Ele pode ser aumentado pela inclinação mode-
rada (10-15 graus) da cabeceira da mesa cirúrgica, ou pela elevação 
das pernas do paciente. Com os níveis mais altos de bloqueio espi-
nal, as fi bras aceleradoras da fre quên cia car día ca que emergem em 
T1-T4 também são bloqueadas. Isso é deletério aos pacientes que 
dependem do tônus simpático elevado para manter o débito car día co 
(p. ex., na insufi ciência car día ca congestiva ou hipovolemia) e tam-
bém suprime um dos mecanismos compensatórios disponíveis para 
sustentar a perfusão dos órgãos em presença de vasodilatação. Desse 
modo, à medida que o nível do bloqueio espinal sobe, a gravidade 
da disfunção cardiovascular pode aumentar, caso não seja cuidado-
samente monitorada e tratada. Também pode haver assistolia súbita, 
possivelmente atribuída à supressão da inervação simpática em pre-
sença da atividade parassimpática livre no nodo sinoatrial (Kaplan e 
cols., 1988). Nas situações clínicas habituais, a pressão arterial serve 
como marcador indireto do débito car día co e da perfusão dos ór-
gãos. O tratamento da hipotensão geralmente estará indicado quando 
a pressão arterial diminuir em cerca de 30% abaixo dos valores em 
repouso. O tratamento tem como objetivo manter a perfusão e oxi-
genação do cérebro e do coração. Para conseguir isso, as opções são 
administrar oxigênio, infundir líquidos, alterar a posição do paciente 
e administrar vasopressores. Na prática, os pacientes geralmente re-
cebem um volume rápido (500-1.000 mL) de líquido antes da admi-
nistração da anestesia espinal na tentativa de evitar alguns dos efeitos 
deletérios do bloqueio espinal. Como a causa habitual da hipoten-
são é a redução do retorno venoso, com possível complicação pela 
diminuição da fre quên cia car día ca, os fármacos com propriedades 
predominantemente venoconstritoras e cronotrópicas são preferidos. 
Por essa razão, a opção mais usada é a efedrina na dose de 5-10 mg 
IV. Além da sua utilização para controlar os efeitos deletérios do blo-
queio simpático, os agonistas dos receptores α1-adrenérgicos de ação 
direta, como a fenilefrina (ver Capítulo 12), podem ser administrados 
por bolo ou infusão contínua.
No intestino, a anestesia espinal produz um efeito benéfi co 
parcialmente mediado pelo sistema nervoso simpático. As fi bras sim-
páticas que se originam de T5-L1 inibem a persistalse e, desse modo, 
seu bloqueio causa contração e redução do tamanho do intestino. So-
mado à musculatura abdominal fl ácida, isso oferece condições ope-
ratórias excelentes para alguns tipos de procedimentos intestinais. 
Os efeitos da anestesia espinal no sistema respiratório são mediados 
principalmente pelos efeitos na musculatura esquelética. A paralisia 
dos músculos intercostais diminui a capacidade de o paciente tossir 
e eliminar secreções e isto pode produzir dispneia nos pacientes com 
bronquite ou enfi sema. A parada respiratória observada durante a 
anestesia espinal raramente é causada pela paralisia dos nervos frêni-
cos, ou pelos níveis tóxicos do anestésico local no LCS que banha o 
quarto ventrículo. Na maioria dos casos, essa complicação é causada 
pela isquemia medular secundária à hipotensão.
Farmacologia da anestesia espinal. Atual mente nos EUA, os fár-
macos usados mais comumente em anestesia espinal são lidocaína, 
tetracaína e bupivacaína. Ocasionalmente, a procaína é usada nos 
bloqueios diagnósticos, quando a duração da ação desejada for 
breve. A escolha do anestésico local é determinada principalmente 
pela duração desejada da anestesia. As recomendações gerais são 
usar lidocaína para procedimentos de curta duração, bupivacaína 
para operações intermediárias ou longas e tetracaína para os proce-
dimentos demorados. Como já foi mencionado, os elementos que 
contribuem para a distribuição dos anestésicos locais no LCS têm 
sido muito enfatizados, tendo em vista sua importância como deter-
minantes do nível do bloqueio. Os fatores farmacológicos mais im-
portantes são a quantidade e, possivelmente, o volume do fármaco 
injetado e sua baricidade. A velocidade da injeção da solução do 
anestésico local também pode afetar o nível do bloqueio, da mesma 
forma que a posição do paciente pode infl uenciar tanto a taxa de 
distribuição do anestésico local e o nível do bloqueio produzido 
descrito na próxima seção. Com determinada preparação do anes-
tésico local, a administração de quantidades crescentes leva a au-
mentos razoavelmente previsíveis no nível do bloqueio produzido. 
Por exemplo, com 100 mg de lidocaína, 20 mg de bupivacaína ou 
12 mg de tetracaína, geralmente se consegue bloqueio sensorial em 
T4. Tabe las mais detalhadas dessas relações podem ser encontradas 
nos textos clássicos de anestesiologia. A epinefrina geralmente é 
acrescentada aos anestésicos locais para aumentar a duração ou a in-
tensidade do bloqueio. O seu efeito na duração do bloqueio depende 
da técnica usada para quantifi cá-la. Uma medida usada comumente 
para avaliar a duração do bloqueio é o tempo decorrido até que ele 
retroceda dois dermátomos a partir do nível máximo bloqueado, 
enquanto outra é a sua duração em algum nível especifi cado (ge-
ralmente L1). Em muitos estudos, a adição de 200 μg de epinefrina 
às soluções de tetracaína prolongou a duração do bloqueio avaliado 
por esses dois parâmetros. Entretanto, o acréscimo da epinefrina 
às soluções de lidocaína ou bupivacaína não afeta esse primeiro 
 
Dica do professor
O vídeo apresenta os mecanismos de ação e efeitos farmacológicos dos fármacos usados para 
induzir anestesia local. Confira!
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Exercícios
1) 
Os anestésicos locais mais amplamente utilizados são bupivacaína, mepivacaína, procaína, 
tetracaína e lidocaína, sendo esta última a mais empregada. A bupivacaína se destaca por sua 
cardiotoxicidade, e a mepivacaína não deve ser usada na anestesia de gestantes por conta da 
toxicidade aos recém-nascidos. Qual das afirmativas abaixo não se aplica às características 
farmacológicasdo anestésico local?
A) a) A lidocaína produz anestesia mais rápida, intensa, prolongada e ampla do que as 
concentrações equivalentes da procaína. Além das preparações injetáveis, a lidocaína é 
formulada para uso tópico, oftálmico, transdérmico e nas mucosas. Os efeitos colaterais da 
lidocaína observados com o aumento progressivo das doses são sonolência, vertigem e 
tremores, e, à medida que as doses aumentam, o paciente apresenta convulsões, coma, 
depressão e parada respiratória.
B) b) A mepivacaína é uma aminoamida de ação intermediária, e suas propriedades 
farmacológicas são semelhantes às da lidocaína. Contudo, a mepivacaína é mais tóxica em 
recém-nascidos, não sendo utilizada na anestesia obstétrica.
C) c) A bupivacaína é um potente anestésico capaz de produzir anestesia prolongada, e essa 
ação, combinada com sua tendência a produzir mais bloqueio sensorial do que motor, tornou 
esse anestésico popular para produzir analgesia prolongada durante o trabalho de parto ou 
período pós-operatório. Tem vantagem sobre a lidocaína por ser menos cardiotóxica.
D) d) A potência e a duração da ação da tetracaína são significativamente maiores do que as da 
procaína. Esse anestésico é amplamente utilizado em anestesia espinal, quando há 
necessidade de usar um fármaco com duração prolongada.
E) e) A prilocaína é um anestésico aminoamídico de ação intermediária, e suas propriedades 
farmacológicas são semelhantes às da lidocaína, mas o uso é restrito à odontologia por causar 
metemoglobinemia.
2) 
A ação anestésica local é resultado de bloqueio do movimento de qual dos seguintes canais 
iônicos?
A) a) Cálcio.
B) b) Cloreto.
C) c) Potássio.
D) d) Sódio.
E) e) Nenhum dos canais citados.
3) 
Uma mulher de 25 anos está realizando tratamento para uma laceração do antebraço. A 
anestesia local é usada antes da sutura. Uma reação alérgica pode ocorrer mais 
provavelmente com qual dos seguintes anestésicos locais?
A) a) Bupivacaína.
B) b) Lidocaína.
C) c) Ropivacaína.
D) d) Procaína.
E) e) Adrenalina.
4) 
Qual dos seguintes agentes é frequentemente combinado com anestésicos locais para 
impedir a distribuição e absorção sistêmica a partir do local de injeção?
A) a) Histamina.
B) b) Dopamina.
C) c) Epinefrina.
D) d) Ácido γ-aminobutírico (GABA).
E) e) Acetilcolina.
5) 
Com relação às características farmacológicas dos anestésicos locais, qual afirmação é a 
correta?
A) a) Afetam somente as fibras nervosas pequenas e amielínicas.
B) b) Quando o pH do tecido é diminuído por infecção ou inflamação, a maior parte do 
anestésico está na forma catiônica ionizada, o que aumenta a difusão para o interior do nervo 
e pode aumentar o efeito anestésico.
C) c) Têm uma ligação amida e uma ligação éster.
D) d) Não são afetados pelo pH do tecido nem pelo pKa do fármaco.
E) e) Na sua forma ionizada, interagem com o receptor proteico dos canais de cálcio.
Na prática
A duração da ação do anestésico local é proporcional ao tempo de contato com o nervo. Por essa 
razão, as manobras usadas para conservar o fármaco no nervo prolongam a duração da anestesia. 
Na prática clínica, o agente vasoconstritor (geralmente a epinefrina) é, com frequência, 
acrescentado aos anestésicos locais.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
KATZUNG, B.G.; MASTERS, S.B.; TREVOR, A.J. Farmacologia 
básica e clínica. 12.ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
FLORES, M.P.; CASTRO, A.P.C.; NASCIMENTO, J.S. 
Analgésicos tópicos. Rev Bras Anestesiol. 2012 Mar-APr;62(2).
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
QUEIROZ, G.R.S.; CUNHA, A.M.F.; MAIA, P.F.C.; RIZZO, J.A.; 
SARINHO, E.S.C. Alergia aos anestésicos locais: aspectos 
atuais. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-fac. 2008 Oct-Dec;8(4):9-
16.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Curso de Farmacologia: Aula 10 - Anestesicos locais - 
Mecanismo de ação.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942012000200010
http://www.revistacirurgiabmf.com/2008/V8n4/01%20-%20ALERGIA%20AOS%20ANESTESICOS%20LOCAIS.pdf
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Curso de Farmacologia: Aula 10 - Anestésicos locais - 
Características.
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https://www.youtube.com/watch?v=q99JwG8EFm8
https://www.youtube.com/watch?v=pUWVSrOz0To

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