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QIB126 Química Inorgânica I: Estudo dos sólidos II Prof° Everton Tomaz da Silva Everton.silva@ifrj.edu.br 1 Estudo dos sólidos II: • Compostos iônicos • Energia reticular e entalpia de rede • Ciclo de Born-Haber • Equação de Born-Mayer • Equação de Kaputinskii • Entalpia de hidratação e solubilidade • Regra de Fajans 2 Bibliografia Básica Livros • WELLER, M.; OVERTON, T.; ROURKE, J.; ARMSTRONG, F. Química Inorganica. 6ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. • BENVENUTTI, E.V. Química Inorgânica. 1ª ed. Porto Alegre: UFRGS, 2011. • LEE, J.D. Química Inorgânica não tão concisa. 5ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2009. • MIESSLER, G.L.; FISCHER, P.J.; TARR, D.A.; Química Inorgânica. 5ed. Pearson, 2014. 3 Compostos iônicos Os compostos iônicos são formados por íons que se atraem por atração eletrostática: M+ + X- → M+X- 4 E = q+q- e2 4r Equação 1 Onde: E= energia da interação eletrostática q+ e q-= carga do cátion e ânion, respectivamente. e= carga do elétron (constante) 1/4= constante elétrica de proporcionalidade r= soma dos raios do cátion e do ânion Propriedades gerais dos compostos iônicos • Tem alto ponto de fusão e portanto são sólidos a temperatura ambiente. Exceção: NH4NO3 PF= 170°C • Não conduzem eletricidade no estado sólido. • São solúveis em água. Há muitas exceções: CaF2, por exemplo. • São formados por íons arranjados em estruturas cristalinas. Ex: NaCl tem estrutura de sal gema. 5 Energia do retículo cristalino (U) É a energia liberada (sinal negativo = exotérmico) quando um mol de pares de íons, no estado gasoso, se aproximam para formar um sólido iônico. Também é chamada de energia reticular: M+(g) + X - (g) → MX(s) 6 Figura 1: Íons gasosos formando a estrutura cristalina. Disponível em: ca.wikipedia.org Energia do retículo cristalino (U) 7 Figura 2: Energia reticular para o NaCl. Disponível em: ca.wikipedia.org ✓ Ela vai indicar o quanto uma estrutura cristalina é estável. Quanto mais negativa, mais estável. Entalpia de rede padrão(DHR 0) 8 É a variação da entalpia molar padrão que acompanha a formação de íons gasosos à partir dos sólidos: MX(s) → M + (g) + X - (g) DHR 0 Figura 3: A estrutura cristalina formando íons gasosos. Disponível em: modificada - ca.wikipedia.org A quebra da rede é sempre um processo endotérmico, logo, os valores serão positivos. ✓ Quanto maior a DHR 0, mais estável é a estrutura. Entalpia de rede padrão(DHR 0) Os valores absolutos da entalpia de rede e da energia reticular são praticamente equivalentes com pequena diferença. Quadro 1: Entalpia de rede para alguns compostos iônicos. 9 Ciclo de Born-Haber É uma sequência de etapas em um caminho fechado que permite o cálculo da entalpia de rede (DHR). Ex1: KCl K (g) K (s) + 1/2Cl 2(g) DH sub. Cl (g) DH diss DH f Cl- (g) K+ (g) + DH R KCl (s) EI 1 AE 1 DH f = DH sub. + DH diss + EI 1 + AE 1 + DH R 10 Parâmetro Significado DHsub Var. da entalpia de sublimação DHdiss Var. da entalpia de dissociação DHf Var. da entalpia de formação EI1 1ª energia de ionização AE1 1ª afinidade eletrônica Ciclo de Born-Haber Exercício resolvido: Calcule a DHR do KCl. K (g) K (s) + 1/2Cl 2(g) DH sub. Cl (g) DH diss DH f Cl- (g) K+ (g) + DH R KCl (s) EI 1 AE 1 DH f = DH sub. + DH diss + EI 1 + AE 1 + DH R − = +89 + (+) + 425 - 355 + DH R 11 Parâmetro Valor em kJ/mol DHsub K +89 DHdiss Cl2 +244 DHf KCl -438 EI1 K +425 AE1 Cl -355 DH R = -719 kJ/mol http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http://conceito.de/interrogacao&ei=FqfQVIg-hqCDBOS8hMAL&bvm=bv.85076809,d.cWc&psig=AFQjCNEwLGE0Te3hvgrC5SGzrVu4h6lWxw&ust=1423046787640743 Ciclo de Born-Haber Ex2: LiF 12 Li (s) Li (g) DH sub =+161kJ/mol Sublimação (1) 1/2F 2(g) F (g) DH diss =+79kJ/mol Dissociação (2) Li (g) Li+ (g) + e- EI 1 = +531kJ/mol Energia de ionização (3) F (g) + e- F- (g) AE 1 = -328kJ/mol Afinidade eletrônica (4) Li+ (g) + F- (g) LiF (s) DH R = -1239kJmol Entalpia de rede (5) Li (s) + 1/2F 2(g) LiF (s) DH f = -796kJmol Entalpia de formação (6) Equação de Born-Mayer Outra maneira de calcular a DHR é por esta equação: 13 DH R = N A . Z A .Z B . e2 . 1 - d d 0 4 0 d 0 Equação 2 Onde: DHR= Entalpia de rede NA= constante de Avogadro = 6,022x10 23 mol-1 = constante de Madelung dependente da estrutura ZA e ZB= número de oxidação do cátion e do ânion d0= soma dos raios iônicos (r + + r-) e= carga do elétron (constante) = 1,602x10-19C 0= permissividade no vácuo (constante)= 8,854x10 -12 J-1C2m-1 d= constante de repulsão entre íons (34,5 pm) Equação de Born-Mayer O quadro abaixo traz as constantes de Madelung conforme o tipo de estrutura adotada pelo composto. 14 Quadro 2: Valores da constante de Madelung conforme estrutura Tipo de estrutura Valor da constante () Cloreto de Césio 1,763 Esfalerita 1,638 Fluorita 2,519 Rutílio 2,408 Sal-gema 1,748 Wurtzita 1,641 Córindon 4,040 Equação de Born-Mayer ✓Esta equação permite avaliar o quanto um composto é iônico. Se o valor calculado apresentar bom acordo com o experimental (Ciclo Born-Haber), consideramos o composto como predominantemente iônico. 15 ✓A equação de Born-Mayer, na realidade, fornece o valor da energia de rede (U). No entanto, a T=0 a diferença entre energia e entalpia de rede pode ser ignorada. Equação de Born-Mayer • Análise qualitativa da DHR 16 Pela equação descrita, podemos fazer uma análise qualitativa com base nas variáveis: DH R Z A .Z B d 0 1-Um valor de d0 grande resulta em DHR pequeno. 2-Um valor de [ZA.ZB] grande resulta em DHR grande. Equação de Born-Mayer • Análise qualitativa da DHR 17 1- Variação da d0 DH R Z A .Z B d 0 Composto DHR (kJ/mol) NaF 923 NaCl 786 NaBr 747 NaI 704 2- Variação do [ZA.ZB] Composto [ZA.ZB] DHR (kJ/mol) LiF 1.1=1 1030 MgF2 2.1=2 2922 MgO 2.2=4 3795 TiO2 4.2=8 12150 Equação de Born-Mayer Cálculo de DHR do NaCl (estrutura de sal-gema) 18 DH R = N A . Z A .Z B . e2 . 1 - d d 0 4 0 d 0 NA= constante de Avogadro = 6,022x10 23 mol-1 = 1,748 (sal-gema) ZA e ZB= 1.1=1 raioNa+= 102pm d0= 283pm = 2,83x10 -10m + raio Cl- = 181pm d= 34,5 pm e2 4 0 = 2,3071x10-28 J.m Equação de Born-Mayer Cálculo de DHR do NaCl (estrutura de sal-gema) Substituindo na fórmula: 19 DH R = 6,022x1023.1,748.1 . (1,602x10-19)2 . 1 - 34,5pm 48,854x10-12 x10-10m 283pm DH R = 3,71959576x1033 . 2,3071x10-28 . 0,878091872 DH R = 753.532 J = 753kJ/mol Equação de Born-Mayer Caráter iônico ✓ Quanto mais próximo os valores da entalpia de rede calculado (Born-Mayer) e o experimental (Born-Haber), maior o caráter iônico do composto. 20 Composto DHR Calculado DHR Experimental Diferença absoluta LiF 1029 1030 1 LiCl 834 853 19 LiBr 788 807 19 LiI 730 757 27 AgF 920 953 33 AgCl 832 903 71 AgBr 815 895 80 AgI 777 882 105 Quadro 3: Comparação do caráter iônico de composto de Li e Ag. Equação de Born-Mayer Caráter iônico 21 O triângulo ou diagrama de ketelaar classifica os compostos binários em covalente, iônico ou metálico considerando os valores da diferença de eletronegatividade e a média daseletronegatividades. Equação de Born-Mayer Caráter iônico ✓ De um modo geral, quanto maior a diferença de eletronegatividade, maior o caráter iônico (Dc>2 no mínimo). Isso explica o fato de os compostos de lítio apresentarem maior caráter iônico que os de Ag. A Ag tem maior eletronegatividade que o Li diminuindo a diferença. Podemos ver que os compostos de Ag possui grande contribuição covalente em seu caráter. 22 Regra de Fajans: polarizabilidade 23 O poder polarizante é quanto um íon é capaz de deformar a nuvem eletrônica de outro íon em sua direção. Os cátions são polarizantes e os ânions são polarizáveis. ✓ Cátion pequeno e com grande carga é altamente polarizante. ✓ Ânion grande e com grande carga é facilmente polarizável, ou seja, é fácil deformar sua nuvem eletrônica. Caráter covalente em compostos iônicos 24 Regra de Fajans: polarizabilidade Caráter covalente em compostos iônicos Cátions polarizando os ânions e deformando a nuvem eletrônica. 25 Fajans estabeleceu 4 regras: 1- Um cátion pequeno favorece a covalência na ligação. 2- Um ânion grande favorece a covalência na ligação. 3- Carga elevada nos íons favorece a covalência. 4- O poder polarizante de cátions sem configuração de gás nobre (metais d e f) favorece a covalência. Regra de Fajans: polarizabilidade Caráter covalente em compostos iônicos 26 Em resumo: Compostos formados por um cátion pequeno e ânion grande tendem a ter grande caráter covalente influindo assim nas suas propriedades fisico-químicas. Regra de Fajans: polarizabilidade Caráter covalente em compostos iônicos 27 Consequências do caráter covalente em compostos iônicos 1- Ponto de fusão Ex1: Composto Ponto de fusão em °C BeCl2 405 CaCl2 782 ✓ Por ser muito polarizante o Be2+ confere grande caráter covalente ao composto. Logo, o PF BeCl2 será menor que o do CaCl2. Caráter covalente em compostos iônicos 28 Consequências do caráter covalente em compostos iônicos 1- Ponto de fusão Ex2: Composto Ponto de fusão em °C LiF 845 LiCl 605 LiI 449 ✓ Conforme o ânion aumenta de raio (mais polarizável), o caráter covalente da ligação aumenta e o PF diminui. Caráter covalente em compostos iônicos 29 Consequências do caráter covalente em compostos iônicos 1- Ponto de fusão Ex3: Composto Ponto de fusão em °C NaBr 747 MgBr2 700 AlBr3 97,5 ✓ Com o aumento da carga do cátion (Na+, Mg2+, Al3+), aumenta o poder polarizante e o caráter covalente, diminuindo o PF. Caráter covalente em compostos iônicos 30 Consequências do caráter covalente em compostos iônicos 1- Ponto de fusão Ex4: Composto Ponto de fusão em °C BeCl2 405 CaCl2 782 HgCl2 276 ✓ O cátion sem configuração de gás nobre Hg2+ confere caráter covalente a ligação e portanto seu PF é menor que os demais. Caráter covalente em compostos iônicos 31 Consequências do caráter covalente em compostos iônicos 2- Temperatura de decomposição: Ex: ✓ Quanto mais polarizante o cátion for, menor a temperatura de decomposição devido ao caráter covalente conferido à ligação. Composto Ponto de fusão em °C BeCO3 instável MgCO3 350 CaCO3 900 SrCO3 1290 BaCO3 1360 Caráter covalente em compostos iônicos Equação de Kaputinskii Esta é outra equação para o cálculo de DHR. Ela considera as estruturas como derivadas do tipo sal-gema e devido a isso não necessita da constante de Madelung. Além disso calcula compostos com ânions com mais de um elemento. 32 DH R = n Z A .Z B . 1 - d . d 0 d 0 Onde: DHR= Entalpia de rede n= número de íons por fórmula ZA e ZB= número de oxidação do cátion e do ânion d0= soma dos raios termoquímicos tabelados (r + + r-) d= constante de repulsão entre íons (34,5 pm) = 1,21x105 kJ pm mol-1 Equação de Kaputinskii Raios termoquímicos tabelados: 33 Ânion Raio termoquímico em pm CO3 2- 185 CN- 182 NO3 - 189 NO2 - 155 PO4 3- 238 AsO4 3- 248 OH- 140 O2 2- 180 SO4 2- 230 SeO4 2 243 ClO4 - 236 IO4 - 249 CrO4 - 230 MnO4 - 240 Quadro 4: Raios termoquímicos de alguns ânions. Equação de Kaputinskii Cálculo do DHR para KNO3 34 DH R = n Z A .Z B . 1 - d . d 0 d 0 DHR= ? n= 2 íons ZA e ZB= 1 raio K+= 138pm d0= 327pm + raio NO3 - = 189pm d= 34,5 pm = 1,21x105 kJ pm mol-1 Equação de Kaputinskii Cálculo do DHR para KNO3 Substituindo na fórmula: 35 DH R = 2 1 . -1 . 1 - 34,5 . 1,21x105 327 327 DH R = 662kJ/mol Entalpia de hidratação e solubilidade A solubilidade de sólidos iônicos envolve basicamente duas etapas: 1- Quebra do retículo cristalino do sólido para separação dos íons. Para que ocorra a quebra é necessário absorção (endotérmico) de energia no valor da entalpia de rede ou energia reticular. 2- A solvatação ou hidratação, quando a água é o solvente, dos íons separados pelas moléculas de água. A água reorganiza os íons através de interação dipolo- dipolo. A energia liberada (exotérmico) nesse processo é a entalpia de hidratação. 36 Entalpia de hidratação e solubilidade 37 Figura 4: Etapas da dissociação do NaCl em água. ✓A solubilidade de um composto pode ser predita pela diferença das entalpias de rede e de hidratação. Entalpia de hidratação e solubilidade 38 Prevendo a solubilidade: 1 Li 2 SO 4(s) 2Li+ (g) + SO 4 2- (g) DH R = 2110 kJ/mol 2 2Li+ (g) + SO 4 2- (g) 2Li+ (aq) + SO 4 2- (aq) DH hid = -2140 kJ/mol Total Li 2 SO 4(s) 2Li + (aq) + SO 4 2- (aq) DH diss = -30 kJ/mol No caso do Li2SO4 a DHhid compensou a DHR, logo ele é solúvel em água. DHdiss negativo = dissolução favorável! Entalpia de hidratação e solubilidade 39 Exercício resolvido: Que compostos apresentarão maior solubilidade em água? Composto DHR (kJ/mol) DHhid (kJ/mol) LiF 1025 -1025 LiI 745 -812 CsF 724 -782 CsI 590 -569 ✓ Os compostos LiI e CsF apresentarão maior solubilidade porque o DHhid compensou DHR. http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http://conceito.de/interrogacao&ei=FqfQVIg-hqCDBOS8hMAL&bvm=bv.85076809,d.cWc&psig=AFQjCNEwLGE0Te3hvgrC5SGzrVu4h6lWxw&ust=1423046787640743 Entalpia de hidratação e solubilidade 40 Apesar dessas predições usando DHhid e DHR, a solubilidade pode depender de outros fatores como formação de polímero, caráter metálico ou covalente da ligação. Tendência geral da solubilidade: ✓ Compostos formados por dois íons pequenos ou dois íons grandes serão menos solúveis que os formados por um íon pequeno e outro grande. 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