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Microbiologia e Infectologia 2 (1)

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Duda Guerra 
1 Microbiologia 
Protozoários e vírus 
Os protistas, membros do reino protista, compreendem uma 
grande variedade de organismos que compartilham determinadas 
características. Os protistas são organismos unicelulares e 
eucarióticos, cujas células apresentam um núcleo verdadeiro e 
organelas envoltas por membranas. Os parasitas ocorrem em duas 
formas distintas: protozoários compostos por uma única célula e 
metazoários multicelulares, denominados helmintos ou vermes. 
Os protozoários podem ser divididos em quatro grupos: 
 Sarcodina (amebas) 
 Sporozoa (esporozoários) 
 Mastigophora (flagelados) 
 Ciliata (ciliados) 
Muitos protozoários possuem um ciclo de vida que consiste em um 
trofozóito, forma móvel, que se alimenta e reproduz e é circundada 
por uma membrana flexível, e um cisto, que corresponde a uma 
forma imóvel, sem metabolismo e não reprodutiva, a qual é 
circundada por uma espessa parede celular. A forma encistada 
sobrevive bem no meio ambiente, sendo frequentemente envolvida 
na transmissão do patógeno. 
Certos protozoários, como a Leishmania e o Trypanosoma, 
apresentam formas flageladas, denominadas promastigotas ou 
tripomastigotas, assim como formas não flageladas denominadas 
amastigotas. 
 
A maioria dos protozoários é de vida livre. Alguns são comesais, 
ou seja, vivem no interior ou na superfície de outros organismos 
sem prejudica-los, enquanto outros são parasitas. 
Muitos protozoários vivem em ambientes aquáticos e sofrem 
encistamento quando as condições não são favoráveis. 
Mastigósforos 
Possuem flagelos. Algumas espécies são de vida livre e ocorrem 
em agua doce ou salgada, porém a maioria vive em relações 
simbióticas com plantas ou com animais. 
O simbionte Trichonympha vive no intestino de cupins e contribui 
com enzimas que digerem a celulose. 
Os mastigóforos que parasitam os seres humanos incluem 
membros dos gêneros Leishmania, Giardia e Trichomonas. Os 
tripanossomos causam a doença do sono africana, as leishmanias 
provocam lesões cutâneas ou doença sistêmica com febre, as 
giárdias causam diarreia e as tricômonas provocam inflamação 
vaginal. 
 
Amebozoa 
Os amebozoários (anteriormente chamados de sarconídeos) 
locomovem-se por meio de pseudópodes. Alguns amebozoários 
possuem flagelos em algum estágio de seu ciclo de vida. 
Alimentam-se principalmente de outros microrganismos, incluindo 
outros protozoários e pequenas algas. 
Os amebozoários incluem os foraminíferos e os radiolários, que 
possuem conchas e são encontrados principalmente em ambientes 
marinhos, bem como as amebas, que não têm concha e são 
normalmente parasitas. 
Numerosas espécies de amebas são capazes de habitar o sistema 
digestório humano. 
As amebas formam, em sua maioria, cistos, que as ajudam a 
suportar as condições adversas. 
Os gêneros mais comumente observados – Entamoeba, 
Dientamoeba, Endolimaz e Iodamoeba - cau–am disenterias 
amebianas de gravidade variável. Dientamoeba fragilis, que é 
incomum pela presença de dois núcleos e por não formar cistos, é 
encontrada no intestino grosso de cerca de 4% da população 
humana. Seu modo de transmissão não é conhecido. Embora seja 
habitualmente considerada como comensal, ela pode causar 
diarreia crônica leve. 
 
 
 
 
 
Duda Guerra 
2 Microbiologia 
Apicomplexos/Esporozoários 
São parasitas e imóveis. As enzimas presentes em grupos 
(complexos) de organelas nas extremidades (ápices) de suas 
células digerem o material que está em seu caminho nas células 
hospedeiras, dando ao grupo o nome de Apicomplexa. 
Esses parasitas apresentam habitualmente ciclos de vida 
complexos. Um importante exemplo é o ciclo de vida do parasita 
causador da Malária, Plasmodium, que necessita tanto do ser 
humano quanto de um mosquito como hospedeiros. 
Os parasitas que estão presentes na forma de esporozoítos nas 
glândulas salivares do mosquito infectado, penetram no sangue 
humano por meio da picada de mosquito. Os esporozoítos migram 
até o fígado e transformam-se em merozoítos. Depois de cerca de 
10 dias, emergem no sangue, invadem os eritrócitos e transformam-
se em trofozoítos. Estes, se reproduzem de modo assexuado, 
dando origem a muitos mais merozoitos, que são liberados no 
sangue pela ruptura dos eritrócitos. A multiplicação e a liberação 
dos merozoítos ocorrem repetidamente, várias vezes durante um 
surto de malária. Alguns merozoítos entram na fase reprodutiva 
sexuada e transformam-se em gametócitos ou células sexuais 
masculinas e femininas. Quando o mosquito se alimenta do sangue 
de um ser humano infectado, ele também ingere gametócitos, dos 
quais a maioria amadurece e une-se para formar zigotos no 
revestimento do estomago do mosquito. Os zigotos atravessam a 
parede do estomago e produzem esporozoítos, que finalmente 
seguem o seu trajeto até as glândulas salivares. 
 
 
Ciliados 
O maior grupo de protozoários é constituído pelos ciliados, que 
possuem cílios na maior parte de sua superfície. Os cílios têm um 
corpo basal próximo à sua origem, que os ancora no citoplasma e 
possibilita a sua extensão a partir da superfície celular. Os cílios 
possibilitam a motilidade dos organismos e, em alguns gêneros, 
como Paramecium, auxiliam a captação do alimento. 
Balantidium coli, o único ciliado que parasita o ser humano, provoca 
disenteria. 
Os ciliados possuem várias estruturas altamente especializadas. A 
maioria dos ciliados tem um vacúolo contrátil bem desenvolvido, 
que regula os líquidos celulares. Alguns exibem uma película 
resistente. Outros possuem tricocistos, tentáculos que podem ser 
utilizados para a captura de presas, ou longas hastes pelas quais 
aderem às superfícies. 
Os ciliados também sofrem conjugação nas bactérias, em que um 
organismo recebe informação genética do outro, a conjugação nos 
ciliados possibilita a troca de informação genética entre dois 
microrganismos. 
 
Amebas intestinais 
Os protozoários intestinais podem ser subdivididos em amebas, 
coccídios e flagelados. 
Entamoeba histolytica representa as amebas intestinais, as quais 
devem ser diferenciadas de várias amebas não patogênicas que 
também podem ser encontradas no intestino (a distinção se baseia 
em características morfológicas). Essas amebas podem ser 
adquiridas em viagens para países onde as condições higiênico-
sanitárias são precárias. 
 
Coccídios 
Exemplos de tres coccídios: Cyclospora, Cryptosporidium e 
Cystoisospora. 
As infecções por Cyclospora são geralmente associadas a surtos 
envolvendo alimentos, como frutas ou vegetais crus, provenientes 
de países onde as condições higiênico-sanitárias são precárias. 
Duda Guerra 
3 Microbiologia 
Cryptosporidium e Cystoisospora foram inicialmente implicados na 
causa de infecções intestinais, em portadores de HIV, mas 
atualmente são reconhecidos como patógenos, tanto de indivíduos 
imunossuprimidos quanto de imunocompetentes. 
 
Protozoários intestinais 
Entamoeba – pseudópodes 
Entamoeba histolytica causa a disenteria amebiana e o abcesso 
hepático. 
O ciclo de vida de E. histolytica possui dois estágios: a ameba 
móvel (trofozoíto) e o cisto imóvel. O trofozoíto é encontrado no 
interior de lesões intestinais e extraintestinais e em fezes diarreicas. 
Os cistos predominam nas fezes não diarreicas. Esses cistos não 
são muito resistentes e são rapidamente mortos por agua fervente, 
mas não por cloração dos suprimentos de água. Eles são removidos 
pela filtração da água. 
O cisto possui quatro núcleos, um critério importante para o 
diagnóstico. Mediante a excistação no trato intestinal, uma ameba 
com quatro núcleos desenvolve-se e divide-se em oito trofozoítos. 
O trofozoíto adulto possui um único núcleo com revestimento 
uniforme de cromatina periférica e um núcleo central proeminente 
(cariossomo). 
O organismo é contraído pela ingestão de cistos transmitidos 
principalmentepela rota fecal-oral em alimentos e água 
contaminados. A transmissão anal-oral também pode ocorrer. Não 
há um reservatório animal. Os cistos ingeridos diferenciam-se em 
trofozoítos no íleo, mas tendem a colonizar o ceco e o colo. 
Os trofozoítos invadem o epitélio do colo e secretam enzimas que 
causam necrose localizada. Uma pequena inflamação ocorre no 
local. Assim que a lesão atinge a camada muscular, ocorre a 
formação de uma ulcera na forma de balão, característica que pode 
debilitar e destruir grandes áreas do epitélio do intestino. A 
progressão dos trofozoítos para a submucosa leva à invasão da 
circulação portal. O local mais frequente da doença sistêmica é o 
fígado, onde se formam abcessos contendo trofozoítos. 
 
 
 
Giárdia – flagelado 
O ciclo de vida consiste em dois estágios: o trofozoíto e o cisto. O 
trofozoíto possui forma de pera com dois núcleos, quatro pares de 
flagelos e um disco de sucção com o qual ele se adere à prede do 
intestino. O cisto oval possui parede espessa com quatro núcleos e 
muitas fibras internas. Cada cisto forma dois trofozoítos durante a 
excistação no trato intestinal. 
A transmissão ocorre pela ingestão de cistos em alimentos e água 
contaminados com fezes. A excistação ocorre no duodeno, onde o 
trofozoíto se fixa à parede do intestino, mas não invade a mucosa e 
não penetra na corrente sanguínea. O trofozoíto causa inflamação 
da mucosa duodenal, levando à má absorção de proteínas e 
gorduras. 
Duda Guerra 
4 Microbiologia 
 
 
Cryptosporidium – coccídio 
Doença cujo principal sintoma é a diarreia. Seu agente etiológico é 
a Crypstosporidium hominis 
Os oocitos liberam esporozoítos, que originam os trofozoítos. 
Seguem-se vários estágios, os quais envolvem-se a formação de 
esquizontes e merozoítos. Por fim, formam-se microgametas e 
macrogametas; estes unem-se para formar o zigoto, o qual se 
diferencia em um oocisto. 
 
O organismo é adquirido pela transmissão fecal-oral de oocistos 
provenientes tanto de fontes humanas (principalmente) quanto de 
fontes animais, como o gado (ocasionalmente). 
Os oocistos excistam no intestino delgado, onde os trofozoítos (e 
outras formas) se aderem à parede intestinal. A invasão não ocorre. 
O jejuno é o local mais infectado. 
 
Protozoários urogenitais 
Trichomonas – flagelado 
Trichomonas vaginalis causa tricomoníase. É um organismo em 
forma de pera com um núcleo central e quatro flagelos anteriores. 
Ele apresenta uma membrana ondulante que se estende por cerca 
de dois terços de seu comprimento. Ele ocorre apenas como 
trofozoíto, não existe forma de cisto. 
O organismo é transmitido pelo contato sexual e, portanto, não há 
necessidade de uma forma resistente do cisto. As localizações 
primárias do organismo são a vagina e a próstata. Ele é encontrado 
apenas em seres humanos; não há um reservatório animal. 
 
Duda Guerra 
5 Microbiologia 
Protozoários do sangue e de tecidos 
Os organismos de importância médica nessa categoria de 
protozoários consistem nos esporozoários Plasmodium e 
Toxoplasma e nos flagelados Trypanosoma e Leishmania. 
Plasmodium – esporozoário 
A malária é causada por quatro plasmódios: Plasmodium vivax, 
Plasmodium ovale, Plasmodium malariae e Plasmodium falciparum. 
O vetos e hospedeiro definitivo para os plasmódios é a femea do 
mosquito Anopheles (somente a femea suga sangue). Existem duas 
fases no ciclo de vida: o ciclo sexuado, que ocorre principalmente 
nos mosquitos, e o ciclo assexuado, que ocorre nos seres humanos, 
os hospedeiros intermediários. 
O ciclo de vida é denominado esporogônico, pois são produzidos 
esporozoítos, e o ciclo de vida assexuado é denominado 
esquizogônico, devido à produção dos esquizontes. 
O ciclo de vida em seres humanos inicia com a introdução de 
esporozoítos no sangue por meio da saliva do mosquito, ao picar. 
Os esporozoítos são absorvidos pelos hepatócitos em 30 min. Essa 
fase “exoeritrocítica” consiste na multiplicação e diferenciação da 
célula em merozoítos. P. vivax e P. ovale produzem uma forma 
latente (hipnozoíto) no fígado. 
Os merozoítos são liberados das células hepáticas e infectam as 
hemácias. Durante a fase eritrocítica, o organismo diferencia-se em 
um trofozoíto em forma de anel. A forma de anel desenvolve-se em 
uma forma ameboide e, então, se diferencia em um esquizonte 
repleto de merozoítos. Após a liberação, os merozoítos infectam 
outros eritrócitos. O período de liberação de merozoítos causa os 
característicos sintomas recorrentes de calafrios, febre e sudorese, 
observados em pacientes com malária. 
O ciclo sexuado inicia nas hemácias humanas quando alguns 
merozoítos se desenvolvem em gametócitos femininos e outros em 
gametócitos masculinos. As hemácias que contêm o gametócito 
são ingeridas pela femea do mosquito Anopheles e, no seu 
intestino, produzem um macrogameta feminino e oito microgametas 
masculinos. Após a fertilização, o zigoto diploide diferencia-se em 
um oocineto móvel que penetra na parede do intestino, onde se 
desenvolve em um oocisto, no interior do qual muitos esporozoítos 
haploides são produzidos. Os esporozoítos são liberados e migram 
para as glândulas salivares, prontos para completar o ciclo assim 
que o mosquito se alimentar de sangue novamente. 
A malária é transmitida principalmente pela picada do mosquito, 
mas também pode ocorrer transmissão por meio da placenta, por 
transfusões de sangue e pelo uso de drogas intravenosas. 
A imunidade parcial baseada em anticorpos humorais que 
bloqueiam a invasão das hemácias por merozoítos ocorre em 
indivíduos infectados. Como resultado, há um baixo nível de 
parasitemia e sintomas brandos; essa condição é conhecida como 
premonição. Em contrapartida, um indivíduo não imune, como um 
viajante presente pela primeira vez em uma área onde a malária é 
endêmica, está em risco de doença grave e potencialmente fatal. 
 
 
 
 
Toxoplasma – 
Toxoplasma gondi causa a toxoplasmose. 
O hospedeiro definitivo é o gato doméstico e outros felinos; seres 
humanos e outros mamíferos são hospedeiros intermediários. A 
infecção dos seres humanos inicia com a ingestão de cistos 
presentes na carne mal cozida ou pelo contato acidental com cistos 
presentes em fezes de gatos. No intestino delgado, a ruptura dos 
cistos libera formas que invadem a parede do intestino, onde eles 
são ingeridos pelos macrófagos e diferenciam-se em trofozoítos 
com multiplicação rápida (taquizoítos), os quais matam as células 
infectadas e infectam outras células. 
A imunidade celular geralmente limita a dispersão dos taquizoítos, 
e os parasitas entram nas células do hospedeiro no encéfalo, no 
Duda Guerra 
6 Microbiologia 
musculo e em outros tecidos, onde eles se desenvolvem em cistos 
em que o parasita multiplica-se lentamente. Essas formas são 
chamadas de bradizoitos. 
O ciclo no interior do gato inicia com a ingestão dos cistos na carne 
crua (ratos). Os bradizoitos são liberados dos cistos no intestino 
delgado, infectam as células mucosas e diferenciam-se em 
gametócitos masculinos e femininos, cujos gametas se fundem para 
formar os oocistos que são excretados nas fezes do gato. O ciclo é 
completado quando o solo contaminado com fezes de gato é 
acidentalmente ingerido. A infecção humana geralmente ocorre por 
meio da alimentação de carne mal cozida (cordeiro e porco) de 
animais que pastaram em solo contaminado com fezes de gato. 
Após a infecção do epitélio intestinal, os organismos espalham-se 
para outros órgãos, sobretudo para o encéfalo, os pulmões, o fígado 
e os olhos. Quando contidos, os organismos persistem como cistos 
no interior dos tecidos. 
 
 
Pneumocystis 
Pneumocystis jiroveci é uma importante causa de pneumonia em 
indivíduos imunocomprometidos. 
Clinicamente, esse organismo é tratado como um protozoário. No 
tecido, ele aparece como um cisto que se assemelha a cistosde 
protozoários. 
As espécies são encontradas em animais domésticos, como 
cavalos e ovelhas, e em variedade de roedores, mas esses animais 
não são considerados reservatórios para infecções humanas. 
A transmissão ocorre por inalação, e a infecção é predominante nos 
pulmões. A presença de cistos nos alvéolos induz uma resposta 
inflamatória consistindo principalmente em células plasmáticas, 
resultando em um exsudato espumoso que bloqueia a troca de 
oxigênio. O organismo não invade o tecido pulmonar. 
A pneumonia ocorre quando as defesas do hospedeiro (p. ex., o 
número de células TCD4+) são reduzidas. Isso explica a 
proeminência de Pneumocystis em pacientes com Aids e em 
crianças prematuras ou debilitadas. 
Trypanosoma 
Inclui tres patógenos principais: Trypanosoma cruzi, Trypanosoma 
gambiense e Trypanosoma rhodesiense. 
Trypanosoma cruzi é o agente causador da doença de Chagas. 
Seu ciclo de vida envolve o inseto reduvídeo (barbeiro) como vetor, 
e animais e seres humanos como hospedeiros reservatórios. Os 
reservatórios animais incluem gatos e cachorros domésticos e 
espécies selvagens, como tatu, guaxinim e ratos. 
O ciclo de vida no barbeiro inicia com a ingestão de tripomastigotas 
no sangue do hospedeiro reservatório. No intestino do inseto, eles 
se multiplicam e se diferenciam em epimastigotas e, então, em 
tripomastigotas. Quando o inseto pica novamente, o local é 
contaminado com fezes (do inseto) contendo tripomastigotas, que 
penetram no sangue da pessoa e formam amastigotas não 
flagelados no interior da célula hospedeira. 
Muitas células podem ser afetadas, mas células do miocárdio, da 
glia e reticuloendoteliais são os locais mais frequentes. 
Para completar o ciclo, amastigotas diferenciam-se em 
tripomastigotas, os quase penetram no sangue e são adquiridos 
pelo barbeiro. 
Os amastigotas podem matar as células e causar inflamação, 
consistindo principalmente em céllas mononucleares. O musculo 
cardíaco é o tecido afetado com mais frequência e gravidade. Além 
disso, o dano neuronal leva à arritmia cardíaca e à perda do tônus 
no colo (megacolo) e esôfago (megaesôfago). Durante a fase 
aguda, ocorrem tripomastigotas no sangue e amastigotas 
intracelulares nos tecidos. Na fase crônica, o organismo persiste na 
forma 
amastigota. 
 
 
 
 
 
 
Duda Guerra 
7 Microbiologia 
 
 
Trypanosoma gambiense e Trypanosoma rhodesiense causam 
a doença do sono (tripanossomíase africana). Também são 
conhecidos como Trypanosoma brucei gambiense e Trypanosoma 
brucei rhodesiense. 
A morfologia e o ciclo de vida das duas espécies são similares. O 
vetor é a mosca tsé-tsé, glossina, embora diferentes espécies de 
mosca estejam envolvidas para cada organismo. 
Os seres humanos são o reservatório de T. gambiense, enquanto 
T. rhodesiense possui reservatórios em animais domésticos 
(sobretudo o gado bovino) e animais selvagens (antílopes) 
O ciclo de vida de três semanas na mosca tsé-tsé inicia pela 
ingestão de tripomastigotas em um repasto sanguíneo a partir do 
hospedeiro reservatório. Multiplicam-se no intestino do inseto e 
migram para as glândulas salivares, onde se transformam em 
epimastigotas, multiplicam-se novamente e formam tripomastigotas 
metacíclicos, que são transmitidos pela picada da mosca tsé-tsé. 
Os organismos na saliva são injetados na pele, onde penetram na 
corrente sanguínea, diferenciam-se na forma de tripomastigotas 
sanguíneos e multiplicam-se, completando o ciclo. 
Esses tripanossomas exibem extraordinária variação antigênica de 
suas glicoproteínas de superfície, havendo centenas de tipos 
antigênicos. Um tipo antigênico revestirá a superfície dos parasitas 
por aproximadamente 10 dias, seguido sequencialmente por outros 
tipos na nova progênie. Essa variação deve-se ao movimento 
sequencial dos genes da glicoproteína para um local preferencial no 
cromossomo, onde apenas o gene específico é transcrito em 
mRNA. Essas variações antigênicas permitem ao organismo evadir 
continuamente a resposta imune do hospedeiro. 
Os tripomastigotas disseminam-se a partir da pele até a corrente 
sanguínea, para os linfonodos e o encéfalo. A sonolência típica 
(doença do sono) progride ao coma como resultado de uma 
encefalite desmielinizante. 
Na forma aguda, ocorre um pico de febre cíclica (aproximadamente 
a cada 2 semanas) relacionado à variação antigênica. À medida que 
ocorrem aglutinação mediada por anticorpos e lise dos 
tripomastigotas, a febre regride. 
 
 
Leishmania 
Inclui quatro patógenos importantes: Leishmania donovani, 
Leishmania tropica, Leishmania mexicana e Leishmania 
braziliensis. 
A Leishmania donovani causa a leishmaniose visceral. Seu ciclo 
de vida envolve o mosquito pólvora como vetor e uma variedade de 
mamíferos, como cães, raposas e roedores, como reservatórios. 
Apenas as moscas fêmeas atuam como vetores, uma vez que 
somente as fêmeas são hematófagas (um requisito para a 
maturação dos ovos). Quando o mosquito suga o sangue de um 
hospedeiro infectado, ingere macrófagos contendo amastigotas. 
Após a dissolução dos macrófagos, os amastigotas liberados 
diferenciam-se em promastigotas no intestino. Eles se multiplicam 
e, então, migram para a faringe e probóscide, onde podem ser 
transmitidos na próxima picada. O ciclo do mosquito é de 
aproximadamente 10 dias. 
Pouco tempo depois de um mosquito pólvora infectado picar um ser 
humano, os promastigotas são capturados por macrófagos, onde 
se transformam em amastigotas. Esses podem permanecer no 
citoplasma de macrófagos, pois eles podem evitar a fusão de 
vacúolos com lisossomos. 
As células infectadas morrem e liberam a progênie de amastigotas, 
os quais infectam outros macrófagos e células reticuloendoteliais. 
O ciclo é completado quando o mosquito ingere macrófagos 
contendo amastigotas. 
Duda Guerra 
8 Microbiologia 
 
 
Leishmania tropica, Leishmania mexicana causam leishmaniose 
cutânea e Leishmania braziliensis causa leishmaniose muco 
cutânea. 
Os mosquitos pólvora são os vetores desses tres organismos e 
roedores silvestres são seus principais reservatórios. O ciclo de vida 
é o mesmo já descrito. 
Morfologia 
Os protozoários são organismos unicelulares e eucariontes. Sua 
célula pode ser comparada às de um animal pluricelular. 
O citoplasma tem duas camadas: o ectoplasma, mais externo e 
gelatinoso, e o endoplasma, interno e mais fluido. As mudanças no 
grau de viscosidade do citoplasma permitem as constantes 
alterações na forma do animal, relacionadas com o seu 
deslocamento e com o englobamento de partículas alimentares. 
O núcleo é o centro controlador do metabolismo celular e é 
responsável pela determinação de suas características 
hereditárias. Em algumas espécies, como o paramécio, encontram-
se dois núcleos de tamanhos diferentes: o macronúcleo e o 
micronúcleo. O macronúcleo controla todas as atividades celulares 
e o micronúcleo é responsável pela reprodução sexuada (troca de 
genes). 
As trocas de gases acontecem por simples difusão, pela 
membrana plasmática. Também é dessa forma que os protozoários 
eliminam resíduos do seu metabolismo para o ambiente. 
Os protozoários são divididos de acordo com a sua locomoção, em 
quatro grupos principais: 
 Flagelados: também chamados de mastigóforos, são 
aqueles que se locomovem graças ao batimento dos seus 
flagelos. Os flagelos podem ser únicos, como no 
Trypanosoma cruzi, ou múltiplos, como na Giardia 
lamblia. 
 Rizópodes: ou sarcodinos, representados pelas amebas, 
são os protozoários que se locomovem pela emissão de 
pseudópodes. Possuem morfologia variável, ou seja, a 
sua formação não é constante, pela continua mudança na 
viscosidade do seu citoplasma. Há sarcodinos marinhos, 
de agua doce e outros parasitas. 
 Ciliados: protozoários que se locomovem por meio de 
cílios. A sua superfície celular é recoberta por centenas 
ou milharesde cílios, que são projeções citoplasmáticas 
curtas e muito mais numerosas que os flagelos. A maioria 
é de vida livre, sendo raros os ciliados parasitas. O ciliado 
mais conhecido é o paramécio. 
 Esporozoários: protozoários desprovidos de qualquer 
estrutura locomotora. Todos os representantes desse 
grupo são parasitas, alguns dos homens, como o 
Toxoplasma gondii (causador da toxoplasmose) e os 
representantes do gênero Plasmodium (causadores da 
malária). Esses protozoários alimentam-se por meio da 
superfície celular, absorvendo substancias diretamente 
dos tecidos do hospedeiro. 
Os protozoários apresentam processos de reprodução assexuada, 
como a divisão binária, e processos de reprodução sexuada, como 
a conjugação. 
Na divisão binária, a célula aumenta o seu tamanho e divide-se, 
originando dois novos indivíduos geneticamente iguais. Esse 
processo é importante para aumentar o número de organismos da 
população. 
Na conjugação, realizada pelo paramécio, dois indivíduos trocam 
micronúcleos (responsáveis pela reprodução sexuada) previamente 
duplicados. Em cada organismo, o micronúcleo original une-se com 
o micronúcleo recebido e ocorre a mistura dos genes. No final da 
conjugação, cada organismo origina quatro novos indivíduos, 
totalizando, ao todo, oito novos paramécio. 
 
Imunidade 
A maioria dos parasitas passa por ciclos de vida complexos, parte 
dos quais ocorre em seres humanos (ou outros vertebrados) e parte 
em hospedeiros intermediários, como moscas, carrapatos e 
caracóis. 
Imunidade inata 
Embora tenha sido demonstrado que diferentes protozoários 
parasitas ativam diferentes mecanismos de imunidade inata, esses 
Duda Guerra 
9 Microbiologia 
organismos frequentemente conseguem sobreviver e se replicar em 
seus hospedeiros, por estarem bem adaptados para resistir às 
defesas do hospedeiro. 
A principal resposta imune inata aos protozoários é a fagocitose, 
mas muitos desses parasitas são resistentes ao killing fagocítico e 
podem até mesmo se replicar no interior dos macrófagos. 
Alguns protozoários expressam moléculas de superfície 
reconhecidas por TLRs e ativam fagócitos. Espécies de 
Plasmodium (protozoários responsáveis pela malária), Toxoplasma 
gondii (agente causador de toxoplasmose) e espécies de 
Cryptosporidium (uma das principais causas de doença diarreica 
em pacientes infectados por HIV) expressa, todos, glicolipídeos que 
podem ativar TLR2 e TLR4. 
 
Imunidade adaptativa 
Diferentes parasitas induzem respostas imunes adaptativas 
distintas. Alguns protozoários patogênicos evoluíram para 
sobreviver dentro de células hospedeiras, por isso a imunidade 
protetora contra esses organismos é mediada por mecanismos 
similares àqueles que eliminam bactérias e vírus intracelulares. 
O principal mecanismo de defesa contra os protozoários que 
sobrevivem nos macrófagos é a imunidade celular, particularmente 
a ativação de macrófagos por citocinas derivadas de células Th1. 
A infecção de camundongos por L. major, um protozoário que 
sobrevive no interior dos endossomos dos macrófagos, ilustra como 
a dominância das respostas Th1 ou Th2 determina a resistência ou 
a suscetibilidade à doença. 
A resistência à infecção está associada à ativação de células Th1 
leishmania-específicas, as quais produzem IFN-Y e, dessa forma, 
ativam os macrófagos para destruir parasitas intracelulares. 
A ativação das células Th2 pelos protozoários resulta em 
aumentada sobrevivência de parasitas e exacerbação das lesões, 
pois as citocinas Th2 inibem a ativação clássica dos macrófagos. 
Os protozoários que se repicam dentro de várias células 
hospedeiras e as lisam, estimulando respostas específicas de 
anticorpo e CTL (TCD8+), similarmente aos vírus citopáticos. Um 
exemplo desse tipo de organismo é o parasita da malária, que 
reside principalmente nas hemácias e em hepatócitos durante seu 
ciclo de vida. É evidente que a resposta de CTL contra os parasitas 
residentes nos hepatócitos é uma defesa importante contra a 
disseminação desse protozoário intracelular. 
A citocina IFN-Y comprovadamente é protetora em muitas infecções 
por protozoários, incluindo malária, toxoplasmose e 
criptosporidiose. 
As respostas imunes adaptativas a parasitas também podem 
contribuir para a lesão tecidual. Alguns parasitas e seus produtos 
induzem respostas granulomatosas com fibrose concomitante. Os 
ovos de Schistosoma mansoni depositados no fígado estimulam 
células TCD4+ que, por sua vez, ativam macrófagos e induzem 
reações DTH. As reações DTH resultam na formação de 
granulomas ao redor dos ovos; uma característica incomum desses 
granulomas, especialmente em camundongos, é sua associação 
com as respostas Th2 (geralmente é Th1). 
Esse tipo de granulomas Th2-induzidos serve para conter os ovos 
de equistossoma, porém a fibrose interna associada a esta resposta 
imune celular crônica leva à cirrose, interrupção do fluxo de sangue 
venoso no fígado e hipertensão portal. 
Imunoevasão por parasitas 
Os parasitas alteram seus antígenos de superfície durante o ciclo 
de vida nos hospedeiros vertebrados. A primeira forma de variação 
é uma alteração estágio-específica na expressão antigênica, de 
modo que os estágios teciduais maduros dos parasitas produzem 
antígenos diferentes daqueles dos estágios infectivos. 
Por exemplo, quando o sistema imune tiver respondido à infecção 
pelos esporozoítas, o parasita terá se diferenciado, expressará 
novos antígenos e já não será alvo da imunoeliminação. 
A segunda forma de alteração antigênica é a variação continua dos 
principais antígenos de superfície vistos em tripanossomos 
africanos. A variação antigênica contínua nos tripanossomos é em 
virtude, principalmente, das alterações na expressão dos genes 
codificadores do principal antígeno de superfície. Pacientes 
infectados mostram ondas de parasitemia no sangue, e cada onda 
consiste em parasitas expressando um antígeno de superfície que 
é diferente da onda precedente. Desse modo, no momento em que 
o hospedeiro produz anticorpos contra o parasita, um organismo 
antigenicamente diferente já está crescido. 
Os parasitas também se tornam resistentes aos mecanismos 
imunes efetores durante o período em que residem nos hospedeiros 
vertebrados. Talvez, os melhores exemplos são as larvas de 
esquistossoma, que viajam para os pulmões de animais infectados 
e, durante essa migração, desenvolvem um tegumento que é 
resistente ao dano causado pelo complemento e pelos CTLs. 
Os parasitas protozoários podem se ocultar do sistema imune, seja 
vivendo dentro das células hospedeiras ou desenvolvendo cistos 
resistentes aos efetores imunes. 
Os parasitas também podem soltar suas coberturas antigênicas, 
seja de modo espontâneo ou após a ligação a anticorpos 
específicos. A descamação dos antígenos torna os parasitas 
resistentes a ataques subsequentes mediados por anticorpo. 
 
 
 
Duda Guerra 
10 Microbiologia 
Os vírus são os microrganismos mais simples e, em geral, os 
menores que existem. São parasitas intracelulares obrigatórios, que 
dependem de sua célula hospedeira para sobreviver e se 
reproduzir. Também são filtráveis, ou seja, seu tamanho permite 
passagem por filtros projetados para bactérias. 
Contêm uma quantidade mínima de informações genéticas, na 
forma de DNA ou RNA (mas não ambos) e possuem uma estrutura 
proteica simples (denominada capsídeo) sendo, em alguns casos, 
envolvida por um envelope de membrana. 
Seu ciclo de vida consiste em encontrar a célula hospedeira 
apropriada (definida por receptores específicos para os diferentes 
vírus), penetrar e então permanecer latente na célula, integrando-
se a seu DNA ou assumir o controle de sua maquinaria metabólica 
direcionando-a para a replicação viral. 
Após um determinado período, quando muitas partículas virais 
forem produzidas, elas poderão ser lentamente liberadas da célulahospedeira (para preservar sua integridade e sobrevivência) ou 
virtualmente explodi-las, em busca de novos alvos celulares. 
A replicação dos vírus e a patologia da maioria das infecções virais 
são restritas a tipos específicos de células hospedeiras (células do 
sistema hematopoiético, trato respiratório, trato gastrintestinal, 
sistema nervoso central, fígado, etc). 
Sua reprodução não se dá por fissão binária, mas sim por 
montagem dos componentes sintetizados durante a replicação. 
Seu material genético é composto por apenas um único tipo de 
ácido nucleico, podendo ser DNA ou RNA. 
Não são capazes de produzir energia, nem de replicar-se de forma 
autônoma. Os vírus não são considerados estruturas vivas, devido 
a tais propriedades, devendo manter suas capacidades infecciosas 
para permanecer na natureza. 
Classificação 
A classificação dos vírus tem sido tradicionalmente baseada em 
suas características estruturais: 
 Presença de DNA ou RNA 
 Presença de ácidos nucleicos de fita simples ou dupla 
 Forma da estrutura proteica (icosaédrica, esférica, outra) 
 Presença ou ausência de envelope 
 Tamanho 
Quanto a características bioquímicas: leva em consideração o 
tipo de material genético, forma de replicação, massa molecular do 
vírion, etc. 
Quanto à morfologia: considera tamanho e morfologia (ex. 
picornavirus = pequeno RNA vírus), existência ou não de 
glicoproteínas, envelope, simetria do capsídeo, etc. 
Quanto à sua forma de transmissão: critérios o contato direto, 
indireto, por vetores, transmissão transplacentária, transmamária e 
etc. 
Quanto à doença causada: considera o tropismo do vírus por 
algum tecido específico, mecanismos fisiopatológicos, etc. 
A classificação por características bioquímicas é a forma corrente 
da classificação taxonômica dos vírus. a nomenclatura dos vírus é 
independente de outras nomenclaturas biológicas científicas, 
assim, não se aplicam os termos binomiais em latim para se 
descrever os vírus. 
Estrutura morfológica 
Um vírion (partícula viral completa) consiste em um genoma de 
ácido nucleico empacotado em um envoltório proteico, chamado e 
capsídeo. Um vírion ainda pode ou não ser envolto por uma 
membrana, chamada de envelope e podem ainda conter algumas 
enzimas essenciais ou acessórias que facilitam o processo de 
replicação viral dentro da célula. 
As proteínas do capsídeo, juntamente com o genoma formam um 
nucleocapsídeo. O material genético que o compõe pode ser: 
 DNA: 
- Fita dupla: circular ou linear 
- Fita simples: circular ou linear 
 RNA: 
- Fita dupla: segmentado 
- Fita simples: linear, segmentado ou circular 
DNA de fita dupla é aquele que apresenta fitas complementares 
ligadas entre si. DNA fita simples é aquele que apresenta apenas 
uma única fita contendo o material genético. 
Já o RNA, que pode se apresentar de modo linear (inteiro) ou 
segmentado (fragmentos), ainda pode apresentar polaridades 
diferentes em suas fitas. A polaridade das fitas de RNA define a 
maneira como são traduzidas as proteínas virais. Aqueles com 
polaridade positiva, atuam como RNAm, com tradução direta. 
Aqueles com polaridade negativa, devem ser transcritos a RNAm 
antes de serem traduzidos. 
 
O capsídeo viral é uma estrutura rígida capaz de resistir às 
condições do ambiente como ressecamento, acidez, agentes 
detergentes e bile. Para alguns vírus, o capsídeo se forma em torno 
do genoma, para outros, ele se forma para depois ser preenchido 
pelo material genético. 
As estruturas helicoidais e icosaédricas são simétricas, as 
estruturas complexas são aquelas assimétricas e, em geral, estão 
associadas a bacteriófago. 
 
Duda Guerra 
11 Microbiologia 
O envelope é obtido a partir da membrana da célula hospedeira. 
Trata-se de uma membrana lipídica, contendo proteínas e 
glicoproteínas. Sua estrutura só pode ser mantida em soluções 
aquosas. Não resiste ao ressecamento, condições ácidas, 
detergentes e solventes. Como consequência, esses vírus devem 
se manter em ambientes úmidos (ex. secreções respiratórias). 
Logo, vírus envelopados são mais sensíveis a condições 
ambientais do que os vírus não envelopados. É uma estrutura 
similar a membrana celular, entretanto, as proteínas nelas 
encontradas raramente são celulares, mesmo que o envelope tenha 
sido obtido de membranas celulares. 
As proteínas associadas ao envelope são divididas em: 
 Proteína matriz: camada na superfície interna do 
envelope 
 Proteínas de superfície: glicoproteínas que se projetam 
na superfície do envelope. 
Ácidos nucleicos 
O vírus utiliza seu genoma, sua informação genética, para se 
replicar em células hospedeiras. O resultado frequentemente 
consiste em interrupção das atividades celulares ou morte do 
hospedeiro. 
Os genomas virais são constituídos de DNA ou RNA. A replicação 
viral depende da expressão do genoma viral para a formação de 
proteínas virais e a replicação de novos genomas virais no interior 
da célula hospedeira infectada. 
O ácido nucleico viral pode ser de fita simples ou de fita dupla e 
também pode ser linear, circular ou segmentado. 
Capsídeos 
Na maioria dos casos, o ácido nucleico de um vírion individual está 
contido dentro de um capsídeo, que o protege e determina o 
formato do vírus. os capsídeos também desempenham um 
importante papel na adesão de alguns vírus às células hospedeiras. 
Cada capsídeo é composto por subunidades proteicas, 
denominadas capsômeros. Em alguns vírus, as proteínas 
encontradas no capsômero são de um único tipo. Em outros vírus, 
pode-se observar a presença de várias proteínas diferentes. 
Envelopes 
Os vírus envelopados possuem uma membrana típica em 
bicamada, localizada externamente aos capsídeos. Esses vírus 
adquirem o envelope após a sua montagem na célula hospedeira, 
quando brotam ou se movem através de uma ou mais membranas. 
O nucleocapsídio de um virion compreende o genoma viral 
juntamente com o capsídio. 
A composição do envelope é, em geral, determinada pelo ácido 
nucleico do vírus e pelas substancias derivadas das membranas do 
hospedeiro. Os envelopes são, em sua maioria, formados por 
combinações de lipídeos, proteínas e carboidratos. 
Dependendo do vírus, projeções denominadas espículas podem 
ou não se estender a partir do envelope viral. Essas projeções de 
superfície consistem em glicoproteínas, que servem para a fixação 
dos virions a sítios receptores específicos na superfície das células 
hospedeiras suscetíveis. 
Como os envelopes são adquiridos a partir das membranas da 
célula hospedeira e, portanto, são semelhantes a elas, os vírus 
podem ficar “escondidos” do ataque do sistema imune do 
hospedeiro. Além disso, os envelopes ajudam os vírus a infectar 
novas células por meio de sua fusão com a membrana celular ou 
plasmática do hospedeiro. 
Por outro lado, os vírus envelopados são facilmente danificados. As 
condições ambientais que destroem as membranas – aumento da 
temperatura, congelamento e descongelamento, pH abaixo de 6 ou 
acima de 8, solventes lipídicos e alguns desinfetantes químicos com 
cloro, peróxido de hidrogênio e fenol – também destruirão o 
envelope. 
Tamanhos e formas 
Embora alguns vírus sejam variáveis quanto à forma, a maior parte 
tem um formato específico, que é determinado pelos capsômeros 
ou pelo envelope. 
O capsídeo helicoidal é constituído por uma proteína semelhante a 
uma fita, que forma uma espiral em torno do ácido nucleico. Os vírus 
poliédricos têm muitos lados. Uma das formas mais comuns de 
capsídios poliédricos é o icosaedro; os vírus icosaédricos 
apresentam 20 faces triangulares. Um capsídeo complexo refere-
se a uma combinação de formas helicoidal e icosaédrica, e alguns 
vírus possuem um capsídeo em forma de bala de revolver. 
 
 
Os vírus envelopados apresentam, em sua maioria, uma forma 
esférica. 
Classificação dos vírus 
Os virologistasclassificam os vírus pelo tipo de hospedeiro 
infectado ou pelo tipo de estruturas infectadas no hospedeiro. 
Duda Guerra 
12 Microbiologia 
Assim, os vírus foram classificados em vírus bacterianos 
(bacteriófagos), vírus de plantas ou vírus de animais. E os vírus de 
animais foram agrupados, com base nos tecidos que eles atacam, 
em dermotrópicos, quando infectam a pele, neurotrópicos, 
quando infectam o tecido nervoso, viscerotrópicos, quando 
infectam órgãos do sistema digestório, ou pneumotrópicos, 
quando infectam o sistema respiratório. 
 
 
 
Replicação viral 
Em geral, os vírus passam pelas cinco etapas seguintes em seus 
ciclos de replicação para produzir mais vírions: 
1- Adsorção: que é a fixação dos vírus às células 
hospedeiras 
2- Penetração: a entrada dos virions (ou de seu genoma) 
nas células hospedeiras 
3- Síntese: que se refere à síntese de novas moléculas de 
ácido nucleico, proteínas do capsídeo e outros 
componentes virais no interior das células hospedeiras, 
utilizando a maquinaria metabólica dessas células. 
4- Maturação: que se refere à montagem dos componentes 
virais recém-sintetizados em virions completos 
5- Liberação: a saída dos novos virions das células 
hospedeiras. Em geral, a liberação mata (lisa) as células 
hospedeiras. 
Replicação dos bacteriófagos 
Os bacteriófagos, ou simplesmente fagos, são vírus que infectam 
as bactérias. A fagoterapia é particularmente efetiva no tratamento 
de infecções em biofilmes. Enquanto houver mais bactérias 
hospedeiras, os fagos continuam se alimentando delas, até que 
todas desapareçam. 
Os fagos, que se replicam em uma taxa de centenas de novos vírus 
para cada acesso a uma célula bacteriana, podem rapidamente 
superar em numero a população bacteriana, que no mesmo 
período, só pode duplicar o seu numero por fissão binária. Uma vez 
eliminada a população de bactérias-alvo, os fagos remanescentes 
não podem se reproduzir e são removidos no decorrer de um 
período de vários dias pelo sistema reticuloendotelial. 
 
À semelhança de outros vírus, os bacteriófagos podem ter a sua 
informação genética na forma de RNA ou de DNA de fita dupla ou 
de fita simples. Eles podem exibir uma estrutura simples ou 
complexa. 
A infecção e a replicação de novos fagos T4 ocorrem em uma série 
de etapas. 
Adsorção 
Se os fagos T4 entrarem em contato com a célula hospedeira na 
orientação correta, eles irão aderir à superfície de célula 
hospedeira. 
A adsorção é uma atração química; exige a presença de fatores de 
reconhecimento de proteínas específicas encontradas nas fibras da 
cauda do fago, que se ligam a sítios receptores específicos nas 
células hospedeiras. As fibras se curvam e permitem que os pinos 
entrem em contato com a superfície celular. 
Duda Guerra 
13 Microbiologia 
Penetração 
A enzima lisozima, que está presente na cauda dos fagos, 
enfraquece a parede celular da bactéria. Quando a bainha da cauda 
se contrai, o tubo oco (cerne) da cauda é forçado a penetrar na 
parede celular enfraquecida e a estabelecer contato com a 
membrana celular da bactéria. Em seguida, o DNA viral move-se da 
cabeça, através do tubo, para o interior da célula bacteriana. Ainda 
não está bem esclarecido se o DNA é introduzido diretamente no 
citoplasma; de acordo com evidencias recentes, os fagos T4 
introduzem o seu DNA no espaço periplasmático, entre a 
membrana celular e a parede celular. De qualquer modo, o 
capsídeo do fago permanece fora da bactéria. 
Síntese 
Os genomas virais, que consistem em apenas alguns milhares a 
250 mil nucleotídeos, são muito pequenos para conter toda a 
informação genética necessária para a sua própria replicação. Por 
esse motivo, eles precisam utilizar a maquinaria de biossíntese 
presente nas células hospedeiras. 
Quando o DNA do fago entra na célula hospedeira, seus genes 
assumem o controle da maquinaria metabólica dessa célula. Em 
geral, o DNA bacteriano é fragmentado, de modo que os 
nucleotídeos dos ácidos nucleicos hidrolisados possam ser 
utilizados como blocos de construção para um novo fago. 
O DNA do fago é transcrito em mRNA, utilizando a maquinaria da 
célula hospedeira. O mRNA, traduzido nos ribossomos do 
hospedeiro, dirige então a síntese das proteínas do capsídeo e das 
enzimas virais. Algumas dessas enzimas consistem em DNA 
polimerases que replicam o DNA do fago. Assim, a infecção pelo 
fago dirige a célula hospedeira para que ela sintetize apenas 
produtos virais – isto é, DNA viral e proteínas virais. 
Maturação 
Ocorre montagem da cabeça de um fago T4 no citoplasma da célula 
hospedeira a partir das proteínas do capsídeo recém-sintetizadas. 
Em seguida, uma molécula de fdDNA viral é acondicionada no 
interior de cada cabeça. Ao mesmo tempo, ocorre montagem das 
caudas dos fagos a partir das placas basais, bainhas e colares 
recém-formados. 
Quando a cabeça está adequadamente acondicionada com DNA, 
cada cabeça liga-se a uma cauda. Somente após a ligação da 
cabeça com a cauda é que as fibras da cauda são adicionadas para 
formar um fago maduro e infectante. 
Liberação 
A enzima lisozima, que é codificada por um gene do fago, 
decompõe a parede celular, possibilitando o escape dos vírus. 
Nesse processo, ocorre lise da célula hospedeira bacteriana. Desse 
modo, os fagos como T4 são denominados fagos virulentos (líticos), 
porque eles lisam e destroem as bactérias que infectam. Nesse 
estágio, os fagos liberados podem infectar mais bactérias 
suscetíveis, iniciando mais uma vez todo o processo de infecção. 
Essas infecções por fagos virulentos representam o ciclo lítico da 
infecção 
O tempo decorrido entre a adsorção e a liberação é denominado 
tempo de liberação viral; varia de 20 a 40 min. 
 
À semelhança do crescimento das bactérias, o crescimento viral 
pode ser descrito por uma curva de replicação, que em geral se 
baseia em observações de bactérias infectadas por fagos em 
culturas de laboratórios. 
A curva de replicação de um fago inclui um período de eclipse, que 
se estende da penetração até o estágio de biossíntese. Durante o 
período da eclipse, não é possível detectar virions maduros nas 
células hospedeiras. 
O período de latência estende-se da penetração até o momento 
de liberação dos fagos. 
 
Lisogenia 
Os bacteriófagos descritos, fagos virulentos, destroem suas células 
hospedeiras. Os fagos temperados nem sempre passam por um 
ciclo lítico. Na maioria das vezes, eles exibem lisogenia, que é uma 
relação estável e duradoura entre o fago e seu hospedeiro, em que 
o ácido nucleico do fago torna-se incorporado ao ácido nucleico do 
hospedeiro. 
As bactérias que participam dessa relação são denominadas 
células lisogênicas. Um dos fagos lisogênicos mais amplamente 
estudados é o fago lambda de Escherichia coli. Os fagos lambda 
aderem às células bacterianas e inserem o seu DNA linear no 
interior do citoplasma da bactéria. Entretanto, uma vez no 
citoplasma, o DNA do fago torna-se circular e, em seguida, integra-
se ao cromossomo circular da bactéria em um local específico. Esse 
DNA viral dentro do cromossomo da bactéria é denominado 
prófago. A combinação de uma bactéria com um fago temperado é 
denominada lisógeno. 
Duda Guerra 
14 Microbiologia 
A inserção de um fago lambda em uma bactéria altera as 
características genéticas da bactéria. 
 
 
A conversão llisogenica pode ser de importância médica, visto que 
os efeitos tóxicos de algumas infecções bacterianas são causados 
pelo prófagos que as bactérias contêm. A conversão do estado de 
não produção de toxina para o estado de produção de toxina é 
responsável, em grande parte, pelo dano tecidual observado na 
difteria e no botulismo. Na ausência de prófagos, as bactérias não 
causam doenças. 
Uma vez estabelecido como prófago, o vírus pode permanecer 
latente por um longo período. Toda vez que uma bactéria se divide, 
o prófagoé copiado e faz parte do cromossomo bacteriano na 
progênie da bactéria. Desse modo, esse período de crescimento 
bacteriano com um prófago representa um ciclo lisogênico. No 
entanto, seja de modo espontâneo ou em resposta a algum 
estímulo externo, o prófago pode tornar-se ativo e iniciar um ciclo 
lítico típico. Esse processo, denominado indução, pode ser devido 
a uma falta de nutrientes para o crescimento da bactéria ou à 
presença de produtos químicos tóxicos para o lisógeno. O pró-vírus 
parece perceber que as condições de “vida” estão se deteriorando 
e que já é hora de encontrar um novo lar. Por meio da indução, o 
pró-vírus retira-se do cromossomo bacteriano. O DNA do fago 
codifica então proteínas virais para a montagem de novos fagos 
temperados, de modo semelhante ao processo utilizado pelos fagos 
líticos. Como resultado, novos fagos temperados amadurecem e 
são liberados por meio de lise da célula. 
Imunidade aos vírus 
Os vírus são microrgansimos intracelulares obrigatórios que usam 
componentes do ácido nucleico e a maquinaria de síntese proteica 
do hospedeiro para se replicar. Os vírus tipicamente infectam vários 
tipos celulares, por endocitose mediada por receptor, após a ligação 
a moléculas de superfície celular normais. 
A replicação viral interfere na síntese proteica e na função da célula 
normal, levando à lesão, e por fim, à morte da célula infectada. Esse 
resultado é um tipo de efeito citopático dos vírus, e a infecção é dita 
lítica porque a célula infectada é lisada. 
As respostas imunes inatas e adaptativas aos vírus são destinadas 
a bloquear a infecção e a eliminar células infectadas. 
Imunidade inata 
Os principais mecanismos da imunidade inata contra vírus são a 
inibição da infecção por interferons do tipo I e o killing das 
células mediado por células NK. 
A infecção por muitos vírus está associada à produção de 
interferons (IFNs) do tipo I pelas células infectadas, bem como por 
células dendriticas, especialmente do tipo plasmacitoide, em 
resposta aos produtos virais. 
Diversas vias bioquímicas disparam a produção de IFN. Entre essas 
vias, estão o reconhecimento de RNA e DNA viral por TLRs 
endossômicos e a ativação de receptores tipo RIG citoplasmáticos, 
bem como da via STING, pelo RNA e DNA viral, respectivamente. 
Essas vias convergem na ativação de proteínas quinases que, por 
sua vez, ativam fatores de transcrição IRF, que estimulam a 
transcrição do gene de IFN. 
Os IFN do tipo I atuam inibindo a replicação viral tanto em células 
infectadas como nas células não infetadas. 
As células NK matam células infectadas por vírus e constituem um 
importante mecanismo de imunidade contra vírus no início do curso 
da infecção, antes de as respostas imunes adaptativas terem se 
desenvolvido. A expressão de MHC de classe I frequentemente é 
“desligada” nas células infectadas por vírus, como mecanismo de 
escapar dos CTLs (TCD8+). Isso permite que as células NK matem 
as células infectadas, uma vez que a ausência de classe I libera as 
células NK de um estado normal de inibição. 
 
Duda Guerra 
15 Microbiologia 
Imunidade adaptativa 
Mediada por anticorpos, os quais bloqueiam a ligação e a entrada 
dos vírus nas células hospedeiras, e por CTLs (TCD8+), que 
eliminam a infecção destruindo as células infectadas. 
Os anticorpos mais efetivos são anticorpos de alta afinidade 
produzidos nas reações de centros germinativos T-dependentes. 
Os anticorpos são efetivos contra os vírus somente durante o 
estágio extracelular das vidas desses microrganismos. Os vírus 
podem ser extracelulares antes de infectarem as células 
hospedeiras, ou quando são liberados das células infectadas por 
brotamento viral ou com a morte das células infectadas. 
Os anticorpos antivirais se ligam ao envelope viral ou aos antígenos 
do capsídeo e atuam principalmente como anticorpos 
neutralizadores, para prevenir a fixação e a entrada dos vírus nas 
células hospedeiras. Assim, os anticorpos previnem tanto a 
infecção inicial como a disseminação célula à célula. 
Os anticorpos secretados, especialmente do isotipo IgA, são 
importantes para neutralizar os vírus juntos aos tratos respiratório e 
intestinal. 
Além da neutralização, os anticorpos podem opsonizar partículas 
virais e promover sua eliminação pelos fagócitos. 
A ativação do complemento também pode participar na imunidade 
viral mediada por anticorpo, principalmente via promoção de 
fagocitose e, possivelmente, pela lise direta dos vírus contendo 
envelopes lipídicos. 
A importância da imunidade humoral na defesa contra infecções 
virais é sustentada pela observação de que a resistência a um vírus 
particular, induzida por infecção ou vacinação, costuma ser 
espe´cifica para o tipo sorológico (anticorpo-definido) do vírus. Um 
exemplo é o vírus influenza, em que a exposição a um tipo 
sorológico não confere resistência aos outros sorotipos do vírus. 
Os anticorpos neutralizantes bloqueiam a infecção viral das células 
e a disseminação viral célula à célula, entretanto, depois que os 
vírus entram e passam a se replicar no meio intracelular, tornam-se 
inacessíveis aos anticorpos. 
A eliminação de vírus residentes nas células é mediada por TCD8+ 
que matam as células infectadas. A maioria dos CTLs vírus 
específicos são células TCD8+ que reconhecem peptídeos virais 
citosólicos, em geral sintetizados endogenamente, apresentados 
por moléculas de MHC de classe I. se a célula infectada for uma 
célula tecidual e não uma célula apresentadora de antígeno (APC), 
como uma célula dendrítica, a célula infectada pode ser fagocitada 
pela célula dendrítica que processa os antígenos virais e os 
apresenta às células TCD8+ naive. 
A diferenciação integral dos CTLs TCD8+ muitas vezes requer 
citocinas produzidas por células auxiliares TCD4+ ou 
coestimuladores expressos em células infectadas. 
As células TCD8+ sofrem uma intensa proliferação durante a 
infecção viral, e a maioria das células que proliferaram são 
específicas para alguns peptídeos virais. Algumas células T tivadas 
se diferenciam em CTLs efetores capazes de destruir qualquer 
célula nucleada infectada. Os efeitos antivirais dos CTLs são 
devidos principalmente ao killing das células infectadas, porém, 
outros mecanismos são a ativação de nucleases nas células 
infectadas, as quais degradam os genomas virais, e também à 
secreção de citocinas, como o IFN-Y que ativa fagócitos e pode ter 
alguma atividade antiviral. 
Nas infecções latentes, o DNA viral persiste nas células 
hospedeiras, porém o vírus não se replica nem mata as células 
infectadas. A latência frequentemente é um estado de equilíbrio 
entre infecção e resposta imune. Os CTLs gerados em resposta aos 
vírus podem controlar infecção, mas são incapazes de erradica-la. 
Como resultado, os vírus persistem nas células infectadas, as 
vezes, por toda a vida do indivíduo. A reativação da infecção está 
associada à expressão de genes virais responsáveis pelos efeitos 
citopáticos e pela disseminação do vírus. Esses efeitos citopáticos 
podem incluir a lise das células infectadas ou a proliferação 
descontrolada das células. 
Imunoevasão por vírus 
Os vírus desenvolveram numerosos mecanismos para evadir a 
imunidade do hospedeiro: 
- Os vírus podem alterar seus antígenos e, portanto, deixarem de 
ser alvos das respostas imunes. Os antígenos afetados são mais 
comumente glicoproteínas de superfície reconhecidas por 
anticorpos, porém os epítopos (porções do antígeno que reúnem 
aspectos físicos e químicos que favorecem o reconhecimento de 
regiões especificas dos anticorpos) da célula T também podem 
sofrer variação. Os principais mecanismos de variação antigênica 
são as mutações pontuais e o rearranjo dos genomas de RNA (em 
vírus de RNA), que levam à deriva antigênica e à variação 
antigênica. Esses processos são de grande importância na 
disseminação do vírus influenza.Os dois antígenos principais desse 
vírus são a hemaglutinina viral trimérica e a neuraminidase. Os 
genomas virais sofrem mutações nos genes codificadores dessas 
proteínas de superfície, e a variação resultante é chamada deriva 
antigênica. Os genomas de RNA segmentado de várias cepas do 
vírus influenza que normalmente habitam diferentes espécies de 
hospedeiro podem se recombinar nas células hospedeiras, e esses 
vírus recombinados podem diferir de forma bastante drástica das 
cepas prevalentes. 
A recombinação de genes virais resulta em alterações significativas 
na estrutura antigênica, chamadas variação antigênica, que cria 
vírus distintos como o da gripe aviária ou o da gripe suína. 
- Alguns vírus produzem moléculas que inibem a resposta imune. 
Os poxvírus codificam moléculas que são secretadas por células 
infectadas e se ligam a várias citocinas, incluindo IFN-Y, TNF, IL-1, 
IL-18 e quimiocinas. As proteínas ligantes de citocinas podem atuar 
como antagonistas competitivos das citocinas. 
A identificação dessas moléculas origina a intrigante possibilidade 
de que os vírus adquiram genes codificadores de inibidores 
endógenos de repostas imunes durante sua passagem pelos 
hospedeiros humanos e, portanto, evoluíram para infectar e 
colonizar seres humanos. 
- Algumas infecções virais crônicas estão associadas à falha das 
respostas de CTLs, chamada exaustão, a qual permite a 
persistência viral. 
- Os vírus podem infectar e destruir ou inativar células 
imunocompetentes. O exemplo evidente é o HIV, que sobrevive 
Duda Guerra 
16 Microbiologia 
infectando e eliminando as células TCD4+, principais indutoras das 
respostas imunes a antígenos proteicos. 
 
Diferenciação genética dos vírus 
Os vírus evoluem. Isto é, o pool gênico de uma população de vírus 
pode mudar ao longo do tempo. Em alguns casos, os vírus em uma 
população podem evoluir por seleção natural. Características 
hereditárias que ajudam um vírus a se reproduzir (como a alta 
infectividade para o influenza, ou resistência a drogas para o HIV) 
tenderão a se tornar mais e mais comuns na população de vírus ao 
longo do tempo. 
A seleção natural só pode ocorrer quando tem a matéria-prima 
correta: variação genética. Significa que há algumas diferenças 
genéticas (hereditárias) em uma população. Nos vírus, a variação 
vem de duas fontes principais: 
 Recombinação: os vírus trocam pedações de material 
genético (DNA ou RNA) 
 Mutação aleatória: ocorre uma alteração na sequência 
de DNA ou RNA de um vírus. 
Recombinação 
Acontece geralmente quando dois vírus infectaram a mesma célula 
ao mesmo tempo. Como ambos estão usando a célula para produzir 
mais partículas de vírus, vai haver muitas peças de vírus – incluindo 
genomas recém produzidos – flutuando na célula. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sob essas circunstancias, a recombinação pode acontecer de duas 
maneiras diferentes. Primeiro, regiões similares de genomas virais 
podem se parear e trocar pedaços, fisicamente quebrando e 
reconectando o DNA ou o RNA. Segundo, vírus com segmentos 
diferentes (mais ou menos como pequenos cromossomos) podem 
trocar alguns desses segmentos, um processo chamado de 
rearranjo. 
Mutações virais 
Uma mutação é uma mudança permanente no material genético 
(DNA ou RNA) de um vírus. Uma mutação pode acontecer se 
houver um erro durante a cópia do DNA ou RNA do vírus. 
Alguns vírus têm taxas de mutação muito elevadas, mas isso não é 
universal. De forma geral, vírus de RNA tendem a ter altas taxas de 
mutação, enquanto vírus de DNA tendem a ter baixas taxas de 
mutação. A maioria dos vírus de DNA copiam seu material genético 
usando enzimas da célula hospedeira, chamadas DNA 
polimerases, que revisam o DNA (reconhecem e consertam os 
danos enquanto realizam a cópia). Já os vírus de RNA usam 
enzimas chamadas RNA polimerases, as quais não fazem correção 
e, portanto, cometem muito mais erros.

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