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DESCRIÇÃO Formas de classificação e avaliação do recém-nascido e da criança sob o olhar do fisioterapeuta. PROPÓSITO Compreender as principais formas de avaliação em saúde da criança e suas técnicas de realização, além de suas implicações clínicas, necessárias ao profissional de saúde com atuação na área pediátrica. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a classificação do recém-nato e os fatores de risco MÓDULO 2 Reconhecer as formas de avaliação dos reflexos primitivos e as etapas do desenvolvimento motor MÓDULO 3 Analisar as estratégias de avaliação fisioterapêutica em saúde da criança INTRODUÇÃO A avaliação fisioterapêutica é a chave para a tomada de decisão e elaboração de planos de tratamento. A partir dos fatores testados e analisados durante a avaliação, o profissional elabora seu raciocínio clínico que é a base do gerenciamento do paciente. Esse raciocínio envolve alguns processos, tais como habilidades, experiências, conhecimento e especialidade do profissional, além de sua capacidade de traçar estratégias de solução de problemas. Quando estudamos as maneiras de avaliação em saúde da criança, é importante destacarmos algumas particularidades. Além do exame físico que envolve testes neurológicos específicos e exames motores clássicos da fisioterapia, também devemos compreender as maneiras de avaliação da criança recém- nascida, como suas classificações e perfis de risco, avaliação relacionada à integridade dos reflexos primitivos e avaliação do desenvolvimento motor, para sermos, então, capazes de identificar os possíveis quadros e sintomatologias ligadas aos diversos tipos de lesões, além de possíveis atrasos no desenvolvimento. A seguir, veremos como realizar uma avaliação fisioterapêutica em saúde da criança, além de identificar, a partir dos sinais e sintomas levantados, a topografia da lesão e os impactos desses achados para a prática clínica, como também para a elaboração de estratégias e planos de tratamento. MÓDULO 1 Identificar a classificação do recém-nato e os fatores de risco CLASSIFICAÇÃO DO BEBÊ RECÉM-NASCIDO Existem algumas formas de classificar o bebê a partir do momento do nascimento e, para tal, os dados antropométricos são bastante utilizados. TAMANHO OU ESTATURA O comprimento do recém-nascido varia em média entre 45 e 53 centímetros. Cerca de 60% do comprimento equivale à cabeça e ao tronco, sendo os outros 40%, portanto, equivalentes aos membros superiores e inferiores. O crescimento não se distribui de maneira igual entre os primeiros meses de vida. Espera-se que, no primeiro trimestre, haja um ganho de cerca de 9 centímetros; no segundo trimestre, um ganho de 7 centímetros; no terceiro, de 5 centímetros; no quarto, cerca de 3 centímetros. Entre o primeiro e segundo ano de vida, estima-se um ganho médio de cerca de 10 centímetros. Foto: shutterstock.com Observe a imagem que caracteriza a curva de crescimento intrauterino: Imagem: Manual de assistência ao recém-nascido. BRASIL, 1994, pág. 159 Curva de crescimento intrauterino. PESO Também podemos classificar o recém-nascido de acordo com o peso ao nascer. Foto: shutterstock.com Um peso considerado dentro dos parâmetros de normalidade está igual ou acima de 2,5 quilogramas (kg) e menor que 4kg, sendo o peso acima de 4kg considerado macrossômico. Foto: shutterstock.com É classificado como baixo peso estando maior ou igual a 1,5kg e menor que 2,5kg. Há algumas subcategorias quando avaliamos um bebê com baixo peso ao nascer, sendo considerado como muito baixo peso ao nascer quando seu peso varia entre 1kg e 1,5kg, e também pode ser considerado como extremo baixo peso ao nascer, quando o peso é inferior a 1kg. PERÍMETRO CEFÁLICO Importante medida que avalia o crescimento do crânio e suas estruturas internas nos dois primeiros anos de vida. A partir dessa idade, o perímetro cresce lentamente e sua medida não reflete alterações importantes. Para realização dessa medida, deve-se posicionar uma fita métrica sobre a proeminência occipital e sobre o arco das sobrancelhas, fixar a cabeça da criança e envolver a fita ao redor do osso frontal sobre o sulco supra orbital, passando-a ao redor da cabeça, no mesmo nível de cada lado, e colocando-a sobre a proeminência occipital máxima. A partir dos parâmetros de normalidade observados na curva de Fenton 2013 (de acordo com o sexo), muito utilizada atualmente, é possível classificar como perímetro cefálico normal ou quadros de microcefalia, por exemplo. FENTON 2013 Curva para prematuros mais utilizada atualmente que considera dados do desenvolvimento fetal dentro do útero materno. “Em 2013, o gráfico de Crescimento Prematuro de Fenton 2003 foi atualizado por uma meta-análise rigorosa que incluiu 3.986.456 nascimentos da Alemanha, Estados Unidos, Itália, Austrália, Escócia e Canadá. Ao fazê-lo, eles atualizaram os escores z para comprimento, perímetro cefálico e javascript:void(0) peso; esses novos escores z podem ser facilmente calculados pelas calculadoras on-line” (PROAÑO et al., 2014). Foto: Shutterstock.com IDADE GESTACIONAL Não deixa de ser uma maneira de classificar o recém-nato, oferecendo parâmetros importantes sobre o acompanhamento pré e pós-natal. O recém-nascido é considerado: A termo - quando nasce a partir de 37 semanas até 42 semanas de gestação. Pós-termo - quando o bebê nasce a partir de 42 semanas. Pré-termo (ou prematuro, um termo bastante conhecido) - quando o nascimento ocorre em tempo inferior a 37 semanas. Este pode ser subclassificado como: PRÉ-TERMO LIMÍTROFE Entre 35 e 36 semanas de idade gestacional. PRÉ-TERMO MODERADO Entre 31 e 34 semanas. PRÉ-TERMO EXTREMO Com nascimento abaixo de 30 semanas de gestação. ATENÇÃO Atenção para a importância da correção da idade gestacional em crianças prematuras, fundamental para que a avaliação e a identificação de atrasos motores não sejam realizados de maneira equivocada. A idade cronológica é a data contada a partir do dia do nascimento do bebê, considerada a “idade real”. A idade corrigida é a ajustada ao grau de prematuridade, ou seja, é a idade que o bebê teria se tivesse nascido a partir de 37 semanas. Para a realização desse cálculo de correção da idade do bebê prematuro, utilizamos a seguinte fórmula: IDADE CORRIGIDA = IDADE CRONOLÓGICA – (40 – IDADE GESTACIONAL) Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal ESSES VALORES DE IDADE CRONOLÓGICA E GESTACIONAL DEVEM ESTAR EXPRESSOS SEMPRE EM SEMANAS, E O NÚMERO 40 DA FÓRMULA SE REFERE AO VALOR DE REFERÊNCIA DE 40 SEMANAS DE UM BEBÊ QUE NASCEU A TERMO. EXEMPLO Vamos supor que queremos corrigir a idade de um recém-nascido que apresente idade cronológica de 6 meses e 1 semana, ou seja, 25 semanas, e que tenha nascido com idade gestacional de 8 meses, ou seja, de 32 semanas: IDADE CORRIGIDA = 25 – (40 – 32) IDADE CORRIGIDA = 17 SEMANAS Ou seja, a idade corrigida do recém-nascido do exemplo acima é de 4 meses e 1 semana. Para fins clínicos, essa informação é muito relevante e necessária, como, por exemplo, ao avaliar as etapas do desenvolvimento motor dessa criança, deve-se levar em conta os parâmetros de normalidade que deverão ser encontrados em um bebê na faixa dos 4 meses, ao invés de um bebê de 6 meses, mesmo sendo sua idade cronológica. ESSE CONHECIMENTO É FUNDAMENTAL PARA O ESTABELECIMENTO DO DIAGNÓSTICO CINESIOLÓGICO, PROGNÓSTICO E PLANO DE TRATAMENTO, SE FOR NECESSÁRIO. No próximo módulo, iremos discutir e conhecer os principais marcos do desenvolvimento que devemos observar em cada faixa etária. RELAÇÃO ENTRE O PESO AO NASCER E A IDADE GESTACIONAL Por fim, outro modo de classificar o recém-nascido, envolve a relação entre o peso ao nascer e a idade gestacional, podendo ser então considerado como: Pequeno para idade gestacional (abaixo do percentil 10). Adequado para idade gestacional (entre os percentis 10 e 90). Grande para idade gestacional (maior que o percentil 90). Essa classificação se dá a partir daobservação da curva de adequação peso/idade gestacional, segundo Battaglia e Lubchenco (1967). Por exemplo, um recém-nascido de 32 semanas pesando 1,6kg está adequado para idade gestacional de acordo com a observação da curva de adequação. Já um recém-nascido de 36 semanas pesando os mesmos 1,6kg é classificado como pequeno para a idade gestacional. ESSAS CLASSIFICAÇÕES AUXILIAM O PROFISSIONAL DE SAÚDE NA ANTECIPAÇÃO DE ALTERAÇÕES CLÍNICAS, PROGNÓSTICO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO. ALÉM DE AJUDAR NA BUSCA DE ALGUMA POSSÍVEL ANOMALIA CONGÊNITA QUE NÃO ESTEJA EVIDENTE OU APARENTE. TESTE DE APGAR Em 1953, a médica inglesa Virgínia Apgar criou um método de avaliação do recém-nascido, realizado logo após o nascimento, que é amplamente difundido e utilizado no mundo todo. Seu objetivo é basicamente investigar a capacidade de ajuste e adaptação imediata do recém-nascido à vida fora do ambiente uterino. Esse teste avalia as condições fisiológicas do neonato e ajuda a identificar os que necessitam de reanimação ou de cuidados especiais. É realizado no primeiro e no quinto minuto de vida, podendo, em alguns casos, também ser repetido no décimo minuto de vida. A avaliação envolve cinco aspectos: frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e coloração da pele. A pontuação varia de 0 a 2 e somando os pontos de cada item se obtém uma nota mínima de 0 e máxima de 10 pontos. Quanto maior a pontuação, melhor o quadro clínico do bebê. Imagem: Shutterstock.com FREQUÊNCIA CARDÍACA Avaliada por meio dos batimentos cardíacos por minuto, sendo a pontuação 0 obtida com ausência desses batimentos. A pontuação 1 é recebida quando ocorre menos de 100 batimentos por minuto e a pontuação 2, quando os batimentos estão acima de 100 por minuto. ESFORÇO RESPIRATÓRIO Já a respiração é avaliada por meio do choro fraco ou vigoroso, sendo a pontuação 0 quando este está ausente, pontuação 1 quando há resposta fraca ou irregular e pontuação 2 quando há resposta forte e com choro. TÔNUS MUSCULAR Avaliado a partir da flexibilidade e movimentação das pernas. Quando o recém-nato se apresenta flácido em todos os segmentos, recebe pontuação 0; quando apresenta flexão dos segmentos distais de membros superiores e inferiores, recebe pontuação 1; quando apresenta boa flexão geral e movimento ativo, atinge pontuação 2. IRRITABILIDADE REFLEXA A resposta reflexa é observada por meio das caretas, tosse ou espirro após uma estimulação específica. Quando não há resposta à estimulação de vias aéreas, recebe pontuação 0; quando apresenta algum movimento, como caretas durante o estímulo, recebe 1 ponto; ao tossir ou espirrar durante a estimulação, recebe 2 pontos. COLORAÇÃO DA PELE A cor da pele se refere à palidez ou coloração azulada, que recebe pontuação 0; pele rosada no corpo e azulada apenas nas extremidades, que recebe pontuação 1; pele rosada em todo o corpo, que recebe pontuação 2. SAIBA MAIS Notas entre 8 e 10 significam nenhuma asfixia; entre 4 e 7 indicam que o neonato é considerado de risco e necessita de maiores cuidados; escores entre 0 e 3 apontam para a necessidade de procedimentos de ressuscitação imediatos. O resultado do teste observado no primeiro minuto é considerado como um diagnóstico da situação presente, podendo traduzir sinal de asfixia e da necessidade de suporte ventilatório. Já a observação do quinto e do décimo minuto é considerada mais acurada e gera informações relacionadas ao prognóstico neurológico. Devemos considerar que há diferentes níveis de escore de Apgar baixo, de acordo com as alterações fisiopatológicas, sendo sua pontuação também dependente da maturidade do recém-nato. Outro aspecto que pode influenciar no escore do teste é a condução materna, como por exemplo, o uso de medicações e obviamente as condições do próprio bebê, como as malformações neurológicas e complicações cardiorrespiratórias. Por fim, a pontuação no teste de Apgar junto com as outras maneiras de classificação do recém-nascido, como peso ao nascer e idade gestacional, são altamente associadas à morbimortalidade ou expressam o bem-estar do bebê, além do sucesso da reanimação, caso ocorra, e de sua maturação. FATORES DE RISCO Agora, vamos discutir brevemente alguns dos principais fatores de risco que podem ocorrer durante o período pré-natal, perinatal e pós-natal, comprometendo a saúde tanto materna quanto infantil. PERÍODO PRÉ-NATAL O período pré-natal compreende toda a gestação, antes do nascimento. Durante essa etapa, podem ocorrer alguns fatores considerados de risco, como a anemia materna, que ocorre em mais de um terço das mulheres durante o terceiro trimestre de gestação, normalmente, devido à deficiência de ferro e/ou folato. A anemia pode se apresentar de maneira crônica, podendo gerar quadro de anoxia cerebral e danos cerebrais leves ao feto, ou de forma aguda, considerada mais agressiva, podendo também levar a quadro de anoxia cerebral associado a lesões cerebrais mais graves. Outro fator de risco durante esse período é a hipertensão gestacional, que pode desenvolver a partir da vigésima semana um quadro bastante conhecido, a pré-eclâmpsia, podendo evoluir para a eclâmpsia, que é uma alteração vascular generalizada. Isso gera um descontrole da pressão arterial, colocando em risco a vida da mãe e do bebê, pois está associada a quadros de proteinúria, quando ocorre a perda excessiva de proteínas por meio da urina, e a quadros de convulsões do tipo tônico-clônicas, com perda súbita de consciência. O diabetes gestacional também é considerado um fator de risco, que ocorre devido às adaptações na produção hormonal materna para o desenvolvimento do bebê. As mulheres que desenvolvem o diabetes gestacional apresentam aumento do nível de glicose no sangue, já que não ocorre de maneira adequada a produção de insulina pelo pâncreas. Este deveria produzir mais durante esse período, pois alguns hormônios desenvolvidos pela placenta reduzem a ação da insulina. Sendo assim, quando o bebê é exposto a quantidades elevadas de glicose no ambiente intrauterino pode ocorrer o que é conhecido como macrossomia fetal, ocorrendo um aumento do tamanho e peso do feto, o que pode favorecer a partos traumáticos e problemas no controle de glicose da criança, podendo estar associado a quadros de obesidade e até mesmo de diabetes na vida adulta. Algumas outras alterações durante esse período podem ser consideradas fatores de risco, como a placenta prévia, que ocorre quando esta se insere em uma porção mais baixa do útero, obstruindo o colo de modo total ou parcial, sendo a hemorragia sua principal complicação, o que pode ocorrer em qualquer momento da gestação. Não podemos deixar de citar as infecções maternas, tais como doenças venéreas, quadros de infecção urinária, toxoplasmose e citomegalovírus, por exemplo, que apresentam potencial de ocasionar complicações ao feto. O consumo de álcool, drogas e o tabagismo estão associados ao aumento do risco de partos prematuros, complicações durante o parto e malformações congênitas. PERÍODO PERINATAL O período perinatal compreende entre as 22 semanas completas de gestação e os 7 dias completos após o nascimento. Durante esse período, os principais fatores de risco são os quadros de anoxia, que podem ocorrer por bloqueio mecânico, como a circular de cordão e a desproporção cefalo-pélvica, quando o perímetro cefálico do feto é maior que a pelve da mãe, por exemplo. Nesse período, também pode ocorrer o descolamento prematuro da placenta, que normalmente representa uma emergência obstétrica, podendo gerar quadros de hemorragias e aumento do tônus da parede uterina – o que pode induzir o trabalho de parto precoce, devendo ser rapidamente diagnosticado e tratado, devido a sua associação com o aumento do risco de morbimortalidade da mãe, do feto ou do recém-nascido. PERÍODO PÓS-NATAL Já no período pós-natal, as principais alterações e complicações que são consideradas fatores de riscopara o recém-nascido são as alterações metabólicas e sanguíneas, os quadros de desidratação, icterícia, cardiopatias congênitas, problemas neurológicos devido à trauma, convulsão, hemorragia, hidrocefalia, meningite, entre outras, além de prematuridade e sepse. Foto: Shutterstock.com COMO CLASSIFICAR O RECÉM-NASCIDO? A especialista Isabela Andrelino apresentará as principais maneiras de classificar o recém-nascido logo após o nascimento, com exemplos práticos sobre as possíveis complicações que podem ocorrer quando a classificação foge dos padrões de normalidade. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EXISTEM ALGUMAS MANEIRAS DE CLASSIFICAR O RECÉM-NASCIDO, COMO PELO PESO, TAMANHO, PERÍMETRO CEFÁLICO E IDADE GESTACIONAL. QUANDO AVALIAMOS A CRIANÇA LEVANDO EM CONTA A RELAÇÃO ENTRE O PESO E A IDADE GESTACIONAL, É POSSÍVEL IDENTIFICAR SE O PESO ESTÁ ADEQUADO PARA IDADE, A PARTIR DA OBSERVAÇÃO DA CURVA DE ADEQUAÇÃO DESENVOLVIDA POR BATAGLIA E LUBCHENCO. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE ESSE TEMA:. A) Pequeno para a idade gestacional é quando a relação se encontra abaixo do percentil 50. B) Grande para a idade gestacional é quando a relação se encontra acima do percentil 50. C) Adequado para a idade gestacional é quando a relação se encontra entre o percentil 50 e 90. D) Adequado para a idade gestacional é quando a relação se encontra entre o percentil 10 e 90. E) Adequado para a idade gestacional é quando a relação se encontra entre o percentil 10 e 50. 2. O TESTE DE APGAR É UM DOS PARÂMETROS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO NO MOMENTO DO NASCIMENTO. SOBRE ESSE ÍNDICE, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Os sinais avaliados são frequência cardíaca, respiração, tônus, resposta reflexa e cor da pele. B) O teste é realizado após 5 minutos de vida e repetido após 20 minutos de vida. C) A pontuação total do teste pode chegar a 15 pontos e quanto maior a pontuação melhor o quadro do bebê. D) Pontuações abaixo de 8 indicam boa vitalidade e ausência de quadros de hipóxia. E) A anoxia neonatal pode ocorrer quando o escore estiver entre 12 e 15. GABARITO 1. Existem algumas maneiras de classificar o recém-nascido, como pelo peso, tamanho, perímetro cefálico e idade gestacional. Quando avaliamos a criança levando em conta a relação entre o peso e a idade gestacional, é possível identificar se o peso está adequado para idade, a partir da observação da curva de adequação desenvolvida por Bataglia e Lubchenco. Assinale a alternativa correta sobre esse tema:. A alternativa "D " está correta. Um bebê é considerado com o peso adequado para a idade gestacional quando essa relação é observada na curva de adequação entre os percentis 10 e 90. Abaixo do percentil 10, é considerado pequeno para idade gestacional e, acima do percentil 90, grande. 2. O teste de Apgar é um dos parâmetros utilizados na avaliação do recém-nascido no momento do nascimento. Sobre esse índice, assinale a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. O teste é realizado no primeiro, quinto e décimo minuto de vida. Cada um dos cinco itens apresentados na letra A podem apresentar pontuação máxima de 2 pontos, totalizando 10, sendo que, quanto maior a pontuação, melhor se encontra o paciente. MÓDULO 2 Reconhecer as formas de avaliação dos reflexos primitivos e as etapas do desenvolvimento motor AVALIAÇÃO DOS REFLEXOS PRIMITIVOS Os movimentos do recém-nascido são dominados reflexos inatos e reflexos primitivos. Reflexos primitivos são reações não intencionais, ou seja, involuntárias, que se apresentam como respostas automáticas após determinado estímulo externo. Muitos são ativos durante o período pré-natal e continuam presentes ao nascimento, auxiliando o lactente a aprender a organizar o comportamento motor, facilitando sua interação com o ambiente em que está inserido. Foto: Shutterstock.com Com o passar dos meses de vida, espera-se que essas respostas sejam inibidas e há tendência à normalidade quando esses reflexos deixam de estar presentes e visíveis. Essa frase pode nos dar a falsa impressão que eles desaparecem, porém, o correto é dizer que eles se integram. Esses reflexos são integrados e “silenciados” e, caso haja alguma lesão neurológica ao longo da vida, alguns deles podem voltar a aparecer. ATENÇÃO É importante que ocorra a inibição dessas respostas reflexas, pois, muitas vezes, são substituídas pelas reações posturais e pelos movimentos voluntários e, caso persistam, podem gerar alguns efeitos negativos. A partir de agora vamos aprender quais são os principais reflexos primitivos, bem como e em que período eles surgem e se integram, além da maneira como testá-los e qual resposta deve ser observada. Esse entendimento é importante para a prática clínica do fisioterapeuta, pois ajuda na avaliação da integridade física e neurológica da criança. A reação automática ou reflexo de defesa está presente no recém-nascido e persiste durante toda a vida. Ao colocar o bebê em posição prona, observa-se um esforço para a realização de rotação da cabeça, a fim de liberação das vias aéreas. O reflexo de busca, também conhecido como pontos cardeais ou veracidade, também está presente a partir do nascimento e se integra no segundo mês de vida. Para testar esse reflexo, deve-se estimular a região da face ao redor da boca do bebê com o dedo ou algum objeto, por exemplo, uma chupeta. Observa-se a abertura da boca e a rotação da cabeça para o estímulo, na tentativa de buscar o objeto. Associado ao reflexo de busca, normalmente, testa-se na sequência o reflexo de sucção, presente desde o nascimento até o quarto mês de vida. Observa-se a sucção vigorosa do objeto estimulante, que pode ser uma chupeta, o dedo do examinador ou o seio da mãe, por exemplo. Sua persistência pode dificultar a aprendizagem e evolução da motricidade oral, impactando no desenvolvimento dos músculos mastigatórios. O reflexo de Galant também está presente desde o nascimento e sua integração ocorre no segundo mês de vida. O teste é realizado com o bebê em posição prona e, ao realizar o estímulo manual na lateral do tronco, observa-se uma inclinação de tronco homolateral ao estímulo. Outro reflexo que também se integra no segundo mês é chamado de glabelar. Após o toque entre as sobrancelhas do bebê, os olhos tendem a se fechar e é possível detectar durante o teste quadros de paresias faciais. O reflexo de marcha está presente desde o nascimento e se integra entre o segundo ou terceiro mês de vida. É considerado um pré-programa para a marcha voluntária. Ao colocar o bebê em pé sobre uma superfície e realizar a inclinação anterior do tronco, são observados passos curtos, ritmados e cruzados, sem extensão de joelho e quadril, que se assemelha à marcha. Presente a partir do nascimento e integrado aos 3 meses de vida, o reflexo dos olhos de boneca apresenta relação com o desenvolvimento das coordenações sensórios-motoras. É observado, após rodar a cabeça do recém-nascido, que os olhos permanecem na posição inicial, sem acompanhar a rotação da cabeça. O reflexo magnético está presente desde o nascimento e permanece até o terceiro mês. Após colocar o bebê em posição supina, com os quadris e joelhos fletidos e comprimir os polegares do examinador sobre a planta do pé do recém-nato, é observado, ao retirar lentamente os polegares, que os membros inferiores se estendem, mantendo o contato entre a planta do pé e o polegar do avaliador. Outro reflexo bastante conhecido é a preensão palmar, presente desde o nascimento e que deve ser integrado no quarto mês de vida. Após um estímulo tátil na palma da mão do recém-nascido, observa-se a flexão dos dedos durante o estímulo. Na mesma linha, há o reflexo de preensão plantar, que está presente até o oitavo mês, sendo observada a flexão plantar dos artelhos, após o estímulo tátil no nível dos metatarsos do bebê. O reflexo tônico-cervical assimétrico, também conhecido como reflexo do esgrimista, é desencadeado após o examinador realizar a rotação dacabeça do recém-nascido para um dos lados, observando a extensão do membro superior do mesmo lado da rotação e a flexão do membro superior contralateral. Esse reflexo está presente desde o nascimento até o quarto mês de vida e está ligado à descoberta de estímulos ambientais. O reflexo de Moro está presente desde o nascimento e sua integração ocorre no quarto mês de vida, podendo também ser conhecido como reflexo do susto, pois a maneira de avaliar essa resposta reflexa é por meio da suspensão em supino da criança e a simulação de uma queda brusca. É observada uma reação semelhante a um susto, uma vez que a criança realiza a extensão e abdução dos membros inferiores. A persistência desse reflexo pode dificultar o aparecimento das aquisições das reações de equilíbrio e proteção. Ao pressionar a planta dos pés do recém-nascido, na postura prona e com os membros inferiores fletidos, é possível investigar a presença da integridade da reação de propulsão, presente até o quarto mês de vida. Como resposta a esse estímulo, observa-se a extensão dos membros inferiores, simulando o “rastejar”. Outro reflexo também presente até o quarto mês é o tônico labiríntico. Após posicionar o bebê em prono e realizar a extensão cervical, observa-se a extensão do tronco e membros. Depois da flexão da cervical, observa-se a flexão de tronco e membros. O reflexo primitivo que persiste por mais tempo na criança é o cutâneo plantar, também conhecido como Babinsky, presente até o primeiro ano de vida. Sua resposta é a extensão do hálux após o estímulo na lateral da região plantar. Depois de sua integração, esse reflexo pode retornar no indivíduo após uma lesão no sistema nervoso central, sendo considerado um sinal patognomônico de lesão da nossa principal via motora, a via córtico-espinhal (DORETTO, 2001). Além dessas atividades reflexas, o bebê também apresenta algumas reações, que apresentam íntima relação com o controle postural. Uma dessas reações é chamada de Landau, que se apresenta a partir dos 4 meses de vida, e deixa de estar evidente a partir de 1 ano. Essa reação é observada ao colocar a criança em suspensão ventral e observar como resposta a extensão de tronco e membros. A reação do anfíbio também surge a partir dos 4 meses e permanece. É observada após a estimulação da crista ilíaca, com o bebê em decúbito ventral, uma elevação da pelve do lado estimulado, associada à flexão e à abdução do membro inferior. A partir de 5 meses de vida, as reações de equilíbrio começam a surgir e permanecem, podendo ser avaliadas ao colocar a criança sentada ou em pé em alguma superfície, de preferência instável, e provocar mudança do centro de gravidade para frente, para trás e para os lados. Então, observa-se a movimentação do tronco e membros da criança em sentidos opostos, a fim de manter o equilíbrio. Por fim, as reações de proteção, também conhecidas como reações de paraquedas, também surgem após 5 meses e permanecem. Essas reações envolvem respostas anteriores, presentes aos 5 meses de vida; respostas laterais, presentes a partir de 8 meses de vida; respostas posteriores, presentes a partir dos 10 meses. Para investigar a presença das reações de proteção, pode-se posicionar a criança sentada e provocar deslocamentos anteriores, laterais e posteriores, e observar o uso dos membros superiores para se proteger contra a queda. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR No primeiro ano de vida, a criança apresenta grande potencial para prevenir, reverter ou minimizar a instalação de distúrbios. Logo, a avaliação é essencial, pois, a partir dela, é possível traçar o diagnóstico fisioterápico e organizar as intervenções adequadas para cada caso, de maneira precoce. Assim, minimiza-se as consequências de curto, médio e longo prazo das desordens motoras. Agora, vamos aprender sobre as principais aquisições motoras que devemos observar, de acordo com a faixa etária, quando realizamos a avaliação de uma criança até 1 ano de vida. É importante compreendermos o processo e as etapas do desenvolvimento motor dentro dos padrões de normalidade, para então sermos capazes de detectar as alterações e comprometimentos nesse sistema. Foto: Shutterstock.com 1 No primeiro mês de vida, esperamos que o recém-nascido realize pouca movimentação, apenas em bloco, de modo bastante simétrico e ainda com um padrão flexor, sem alinhamento da cabeça, mantendo-a inclinada para um dos lados. Nessa fase, portanto, não devem ser observados movimentos rápidos ou exagerados, nem padrões extensores de tronco e membros ̶ fortes indicativos de comprometimento neurológico. A partir do segundo mês, espera-se observar chutes alternados, movimentos mais seletivos e suaves e com maior intensidade respondendo aos estímulos, além de diminuição do padrão flexor. O bebê que permanece com uma postura flexora global, com presença de opistótono, ombros retraídos e punhos fechados com o polegar aduzido, possivelmente apresenta comprometimento no sistema nervoso central. 2 3 Espera-se que, com três meses, a criança consiga trazer as mãos na linha média e permanecer com elas abertas, e que a extensão de cabeça, tronco e membros já esteja mais efetiva, podendo ser observado o início do apoio sobre o antebraço, quando colocada em posição prona. Nessa fase, podem aparecer sinais importantes de comprometimento neurológico, como os movimentos serpenteantes nas extremidades – conhecido como atetose, que veremos no próximo módulo – além de, quando puxada para se sentar, a criança não conseguir sustentar a cabeça e realizar o recrutamento da musculatura extensora. Aos quatro meses, além das mãos serem trazidas à linha média, o bebê alcança os joelhos e começa a explorar suas partes do corpo. Ele já pode começar a rolar e, em posição prona, sustenta bem a cabeça, realizando extensão de quase 90 graus. Quando tracionado para se sentar, apresenta ótimo controle de cabeça. Os sinais de comprometimento neurológico nessa faixa etária costumam se apresentar como pouca movimentação, tendência à extensão, nistagmo, estrabismo e descarga de peso no tronco superior, quando colocado em posição prona, ao invés dos membros superiores. 4 5 Com cinco meses de vida, a criança vira-se facilmente para os lados, sendo capaz de rolar da posição prona para supina, eleva a cabeça e inicia a ponte, realiza movimentos natatórios em prona, alternando a movimentação de membros superiores e inferiores. Nessa fase, são sinais de comprometimento neurológico quando observado quadro de aumento ou diminuição do tônus muscular de maneira expressiva, assimetria entre os membros e dificuldade da cabeça em acompanhar os movimentos do corpo, além de não colaboração ao ser tracionado para se sentar. No sexto mês de vida, o bebê realiza o uso funcional das mãos na posição prona, colabora muito quando tracionado para se sentar. Na posição sentada, consegue permanecer sem apoio de tronco e alguns segundos sem o apoio das mãos. javascript:void(0) 6 7 A partir do sétimo mês, a criança muda-se constantemente de decúbito e pode começar a engatinhar. Já no oitavo mês, espera-se que a criança consiga realizar o movimento de pivotear, ou seja, girar sobre o próprio eixo corporal, engatinhar ainda sem dissociação de cinturas e na posição sentada iniciar rotação de tronco. Entre os nove e dez meses de vida, a criança é capaz de passar da postura supina para sentada, com ou sem rolar, além de conseguir realizar a passagem para a postura em pé com apoio e realizar a pinça, ainda que de maneira grosseira. 8 9 Entre o décimo primeiro e décimo segundo mês, espera-se que a criança realize o gato de maneira madura, consiga realizar a marcha lateral com apoio e que se abaixe e levante de cócoras. Nesses últimos meses do primeiro ano de vida, sinais de atraso no desenvolvimento podem se apresentar como ausência de reações de proteção e equilíbrio, abaixar com muito descontrole e, ao final do primeiro ano, não esboçar a marcha. NISTAGMO Movimentos involuntáriosrepetitivos e não controlados, que variam de intensidade. Os movimentos podem seguir em várias direções e em diferentes velocidades, impossibilitando o paciente fixar o olhar em algo imóvel. Vimos neste final do módulo quais são os movimentos que compõem o repertório motor de uma criança até um ano de vida e a avaliação desses movimentos se dá por meio de observação profissional, ao colocar o bebê nas diversas posturas de análise (prona, supina, sentada e em pé). Também é possível usar materiais que estimulem a criança a realizar determinada atividade que se pretende observar, como o uso do chocalho que oferece estímulo visual e auditivo com a intenção de observar o rolar, por exemplo. REFLEXOS PRIMITIVOS A especialista Isabela Andrelino apresentará o papel dos reflexos e AS reações primitivas do bebê no desenvolvimento motor, bem como as maneiras de avaliar e quais as repercussões negativas caso essas respostas permaneçam. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS REFLEXOS PRIMITIVOS ESTÃO PRESENTES NOS RECÉM-NASCIDOS E SUA AVALIAÇÃO É IMPORTANTE, PODENDO REPRESENTAR A INTEGRIDADE DO SISTEMA NEUROLÓGICO DA CRIANÇA. ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA SOBRE A MANEIRA DE AVALIAR A RESPOSTA REFLEXA DE ALGUNS DELES. A) Moro – realiza-se anteriorização do tronco da criança, em pé sobre uma superfície plana, e observa-se passos ritmados e alternados. B) Galant – com o bebê em posição prona realiza uma estimulação na lateral do tronco e observa-se uma inclinação homolateral ao estímulo. C) Cutâneo plantar – o estímulo é realizado na planta do pé, no sentido lateral para medial e observa-se a extensão do hálus. D) Preensão palmar – realiza o estímulo na palma da mão do bebê e é observado a flexão dos dedos. E) Reflexo de defesa – o estímulo é realizado com o bebê em posição prona, onde esboça um esforço para a realização de rotação da cabeça, a fim de liberação das vias aéreas. 2. ESPERA-SE QUE A CRIANÇA SEJA CAPAZ DE PASSAR DA POSTURA SUPINA PARA SENTADA, COM OU SEM ROLAR, QUE CONSIGA REALIZAR A PASSAGEM PARA A POSTURA EM PÉ COM APOIO E INICIE A REALIZAÇÃO DA PINÇA AINDA GROSSEIRA. ESSAS AQUISIÇÕES MOTORAS SÃO ESPERADAS A PARTIR DE QUAL FAIXA ETÁRIA? A) 3 meses B) 5 meses C) 7 meses D) 9 meses E) 15 meses GABARITO 1. Os reflexos primitivos estão presentes nos recém-nascidos e sua avaliação é importante, podendo representar a integridade do sistema neurológico da criança. Assinale a alternativa incorreta sobre a maneira de avaliar a resposta reflexa de alguns deles. A alternativa "A " está correta. Para avaliação do reflexo de Moro deve-se simular um “susto” ou uma queda da criança, quando é possível observar a extensão e abdução dos membros superiores. 2. Espera-se que a criança seja capaz de passar da postura supina para sentada, com ou sem rolar, que consiga realizar a passagem para a postura em pé com apoio e inicie a realização da pinça ainda grosseira. Essas aquisições motoras são esperadas a partir de qual faixa etária? A alternativa "B " está correta. Uma criança aos 3 meses está iniciando os movimentos extensores de cervical e membros, aos 5 meses consegue rolar, mas ainda não se senta sem apoio. Aos 7 meses se senta bem com apoio e faz uso das mãos nessa posição, podendo iniciar o engatinhar. Aos 9 e 10 meses é capaz de passar da postura supina para sentada, com ou sem rolar, além de conseguir realizar a passagem para a postura em pé com apoio e realizar a pinça, ainda que de maneira grosseira. Aos 15, espera-se que a criança realize a marcha de modo mais maduro. MÓDULO 3 Analisar as estratégias de avaliação fisioterapêutica em saúde da criança AVALIAÇÃO FÍSICA A avaliação física é uma etapa muito importante e fundamental para que o diagnóstico fisioterapêutico possa ser feito com qualidade e assim possibilitar a criação de intervenções adequadas para cada criança, além de permitir a intervenção precoce com o objetivo de minimizar as consequências de curto, médio e longo prazo de desordens motoras. Vamos agora discutir sobre os principais itens que compreendem o exame físico e neurológico em saúde da criança. Portanto, não será discutido sobre o momento da anamnese e da coleta de informações iniciais. DICA Vale lembrar que todo exame físico deve iniciar com a coleta de informações sobre a criança, a história da gestação e do parto, antecedentes obstétricos e familiares, além da história da doença atual e da doença pregressa. Também é importante coletar informações sobre a linguagem, contato social, audição e localização de sons, além de exames complementares e uso de medicação. INSPEÇÃO O exame físico inicia-se a partir da inspeção, no qual o profissional observa alguns dados, tais como: Com quem o paciente chegou acompanhado. Se o paciente se apresenta comunicativo e colaborativo. Como se locomove e deambula, além da necessidade de algum dispositivo auxiliar para locomoção. Se há presença de algum padrão patológico instalado, deformidades, assimetrias, lesões ou cicatrizes aparentes. Se a inspeção ocorrer em ambiente hospitalar, é importante coletar informações sobre postura no leito, uso de acessos e sondas, além de padrões respiratórios e dispositivos auxiliares, como uso de cateter ou máscaras de oxigenação, ventilação não invasiva ou invasiva. PALPAÇÃO Durante a palpação, é possível observar a presença de edemas, dor, temperatura, pulsos arteriais e trofismo muscular. Vale lembrar que, na avaliação dos pulsos arteriais, os valores de batimento cardíaco por minuto (bpm) em crianças podem variar conforme a idade, sendo mais elevado até o primeiro ano de vida, com média de 120bpm. De 1 a 2 anos, a média é de 110bpm. Dos 2 aos 6 anos, média de 100bpm. A partir dos 6 anos, os batimentos se assemelham ao do adulto, com média de 90bpm. Foto: Shutterstock.com Ainda sobre a palpação, a avaliação de trofismo envolve o toque nos principais grupos musculares e que tendem a ser mais volumosos, tais como flexores e extensores de cotovelo, flexores e extensores de joelho, e plantiflexores, devendo sempre ser realizado de maneira bilateral e de maneira comparativa. Pode ser encontrado o trofismo normal, chamado de normotrofia; trofismo diminuído, a hipotrofia; ou aumentado, a hipertrofia. O tônus muscular também deve ser avaliado e representa a integridade neurológica da criança. Ele envolve a investigação do estado de semicontração basal da musculatura estriada esquelética, que deve ser realizado a partir da movimentação passiva das articulações, tanto do membro superior quanto do inferior, e observado o grau de resistência existente. É importante realizar essa movimentação em diferentes velocidades e graus de amplitude de movimento, pois o tônus é sensível a esses aspectos, e sempre de modo comparativo com os dois lados do corpo. Classificamos como normotonia o tônus muscular considerado normal. Hipotonia, quando está diminuído ou flácido, comum em doenças que comprometam o Sistema Nervoso Periférico, o cerebelo e também algumas síndromes, como é o caso da síndrome de Down, por exemplo. Ainda podemos classificar como hipertonia quando há aumento do tônus, que, por sua vez, pode ser dividida em dois tipos: HIPERTONIA ELÁSTICA OU SELETIVA Conhecida como sinal do canivete, quando há lesão na via piramidal. HIPERTONIA PLÁSTICA OU GENERALIZADA Conhecida como cano de chumbo ou roda denteada, que está presente quando há lesão em vias extrapiramidais. javascript:void(0) javascript:void(0) A avaliação de amplitude de movimento pode ser realizada de algumas maneiras, como de forma passiva, mobilizando todas as articulações e observando se há limitação de movimento e por qual motivo, como encurtamentos, deformidades ósseas, bloqueios articulares, tônus muscular ou dor, por exemplo. Além disso, também é possível realizar a avaliação por meio da goniometria, com o uso de um instrumento que mensura a angulação articular. OBSERVAÇÃO O movimento pode ser avaliado por meio da movimentação voluntária, movimentaçãosolicitada e testes de força muscular. A maneira mais utilizada de avaliação do movimento em crianças é a partir da observação, levando em conta as fases do desenvolvimento motor, como discutimos no módulo anterior, além da observação da movimentação de forma global: se há dissociação, simetria e alinhamento durante os movimentos, mudanças de postura, controle de tronco e cabeça, entre outros. SAIBA MAIS Também é possível solicitar a movimentação ao paciente, desde que ele apresente algum grau de compreensão, e assim observar se ele realiza o movimento solicitado, se o faz com bom controle e coordenação, se completa todo arco de movimento e atinge o alvo proposto. Se a criança apresentar um bom grau cognitivo e boa colaboração, podem ser realizados testes específicos de força muscular, colocando o grupo muscular a ser examinado em posição de teste. Assim, realizando a aplicação de resistência isométrica e graduando o nível de força muscular, segundo a escala MRC, além de atribuir graus de força que variam de 0 a 5, uma vez que 5 é considerado grau de força satisfatória, vencendo a resistência manual do examinador. Ainda em relação à motricidade, devemos avaliar as respostas motoras de caráter involuntário, característico de alterações nas vias extrapiramidais, que é também avaliado por meio de observação da criança. Os principais movimentos involuntários encontrados são as atetoses, os movimentos coreicos e as distonias, alterações que cursam com flutuações de tônus. AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE NEUROLÓGICA A avaliação da integridade neurológica da criança também envolve as respostas reflexas, que podem ser os reflexos primitivos, como já estudado no módulo anterior, além dos superficiais e profundos. Entre os reflexos superficiais avaliados, destacamos o sinal de Hoffman, que é realizado a partir da percussão da falange distal do dedo médio; sua presença se expressa com a flexão dos dedos, sendo um sinal indicativo de lesão na via córtico-espinhal. Destacamos, ainda, o cutâneo plantar, uma vez que é realizado o estímulo no sentido de lateral para medial da planta do pé da criança e, se a resposta for em extensão do hálux, também é um indicativo de lesão na via córtico-espinhal. Os reflexos profundos são os tendíneos, nos quais o profissional realiza a percussão de alguns tendões com um instrumento, conhecido como martelo de reflexos. Essa percussão gera um pequeno estiramento da estrutura tendínea e, a partir disso, observa-se a resposta reflexa, por meio da ativação do arco reflexo. Assim, essas respostas podem ser classificadas como hiporreflexia (diminuição), hiperreflexia (aumento) e normorreflexia (normal). Respostas reflexas exaltadas são sinais de lesões no sistema nervoso central e respostas diminuídas são características de lesão no sistema nervoso periférico (POUNTNEY, 2008). Ainda sobre esses reflexos profundos, os principais de membro superior são o bicipital, tricipital, estiloradial e cubitopronador; os de membro inferior são o adutor, patelar e aquileu. Também vale lembrar que eles devem ser testados sempre de maneira bilateral e comparativamente. AVALIAÇÃO DE CLÔNUS Na mesma linha das respostas reflexas, devemos conhecer a avaliação de clônus, que é realizada a partir de um movimento brusco de estiramento nos tendões dos flexores de punho, tendão patelar e tendão aquileu. ATENÇÃO Em situações como essa, observa-se a presença de uma resposta exagerada da musculatura agonista e antagonista desse movimento, apontando para lesão no Sistema Nervoso Central. AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE Outro tópico importante da avaliação é sobre a sensibilidade, que pode ser dividida em superficial ou profunda. ATENÇÃO Vale ressaltar que, embora seja um tópico importante do exame físico, ela depende da colaboração do paciente, então, a realização desses testes não será fidedigna em crianças muito pequenas ou com déficits cognitivos. De uma maneira geral, a sensibilidade superficial investiga a integridade das sensações táteis nos segmentos corporais. Algumas particularidades devem ser levadas em conta ao avaliar a sensibilidade superficial após lesão neurológica. Ao avaliar uma criança com lesão encefálica, o teste de sensibilidade deve ser realizado passando um pincel nos segmentos corporais, tais como braço, antebraço, mão, tronco, coxa, perna e pé. Essa distribuição segue a representação das partes do corpo representadas a partir do Homúnculo de Penfield, localizado no lobo parietal (imagem abaixo). Então, por esse motivo, a avaliação deve ser feita por segmento corporal. Imagem: OpenStax College/ Wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0 Homúnculo de Penfield. Já quando a criança apresenta alguma lesão ou alteração na medula espinhal, o teste de avaliação sensitiva deve ser realizado a partir dos dermátomos, que irá investigar o local na medula espinhal em que há a lesão sensitiva. Se a lesão for no Sistema Nervoso Periférico, comprometendo raízes e nervos, essa avaliação deve ser feita a partir dos territórios de inervação cutânea dos nervos que estão sendo investigados. DERMÁTOMOS Um dermátomo é uma área da pele que é inervada por fibras nervosas que se originam de um único gânglio nervoso dorsal. Já a avaliação de sensibilidade profunda é realizada da mesma forma, independentemente do local da lesão neurológica, e tem como função investigar a propriocepção consciente, que é a capacidade da criança em reconhecer sua articulação no espaço, se ele está parado ou em movimento (cinética) e em qual posição se encontra (postural), sem o auxílio da visão. O membro a ser avaliado deverá ser movimentado e, então, o paciente é questionado se o mesmo está parado ou em movimento e em qual posição se encontra. javascript:void(0) ATENÇÃO A classificação dos testes de sensibilidade, seja superficial ou profunda, se refere: à diminuição da sensação, chamada de hipoestesia; ao aumento da sensação, conhecida como hiperestesia; à sensação normal, normoestesia; ou ainda a uma sensação estranha ou desagradável, chamada de parestesia. Novamente, é importante destacar que a avaliação deve ser realizada de forma bilateral e comparativamente. AVALIAÇÃO DE EQUILÍBRIO A avaliação de equilíbrio pode ser realizada de maneira estática ou dinâmica. De forma estática, existem alguns testes específicos que podem ser utilizados, como: A postura em Romberg – é solicitado ao paciente que permaneça com os pés juntos. A postura em Tanden – realiza-se com um pé posicionado à frente do outro. A postura unipodal – realiza-se em pé com o apoio apenas de um membro inferior. ESSES TESTES DEVEM SER CRONOMETRADOS, REALIZADOS SEMPRE DE MODO BILATERAL (NAS POSTURAS EM TANDEN E UNIPODAL), SENDO INCENTIVADA SUA AVALIAÇÃO TANTO COM OS OLHOS FECHADOS QUANTO ABERTOS. Além da informação em segundos sobre o tempo que a criança consegue permanecer em cada postura, também é importante descrever como foi essa permanência, se ocorreu de forma estável ou se houve desequilíbrios e reações exageradas para auxiliar na manutenção da postura, por exemplo. A avaliação do equilíbrio dinâmico envolve a observação e descrição durante as atividades, por exemplo, de saltar, correr, caminhar e durante as transições posturais, devendo ser observada a maneira de realização, se há compensação, como é o alinhamento postural, a dissociação dos movimentos e a base de suporte. AVALIAÇÃO DA COORDENAÇÃO MOTORA Também devemos investigar a coordenação motora, que pode ser feita a partir de alguns testes especiais, lembrando novamente que, para que a criança consiga realizar o teste, ela deve apresentar boa função cognitiva. Algumas provas de coordenação são conhecidas como: A) INDEX-INDEX O teste de index-index avalia a capacidade do paciente em encontrar os dois dedos indicadores, a partir da elevação dos membros superiores, de olhos abertos e fechados. B) INDEX-NARIZ Avalia a capacidade de encostar o dedo indicador na ponta do nariz, também com os membros superiores em elevação.C) CALCANHAR-JOELHO Consiste em solicitar que o paciente deslize o calcanhar sobre a tíbia oposta até a altura dos joelhos e retorne para a posição de início. Esse teste, além do index-index e index-nariz, quando se encontra positivo, pode ser classificado como com presença de dismetria (quando o paciente não acerta ou ultrapassa o alvo), ou com presença de decomposição de movimentos (sinais de incoordenação motora). D) DIADOCOCINESIA Diadococinesia é a capacidade que uma pessoa tem em realizar movimentos rápidos, alternadamente. A prova consiste em solicitar que o paciente repouse suas mãos sobre suas coxas, uma com a palma virada para cima e a outra virada para baixo, sendo, então, solicitado que alterne a posição das mãos, com alteração da velocidade. Se o paciente não consegue realizar o comando, ele apresenta uma adiadococinesia. Se ele realiza, mas com dificuldade, pode ser classificado como disdiadococinesia, que representa a perda dessa função, além de ser um sinal característico de lesão cerebelar e de alterações na coordenação motora. E) RECHAÇO Por fim, o teste de rechaço consiste em posicionar o membro superior do paciente apoiado em uma superfície, com flexão de cotovelo. O terapeuta deve aplicar uma resistência manual no antebraço do paciente, no sentido de uma extensão de cotovelo, e soltar de maneira abrupta, para observar o controle da musculatura agonista e antagonista em frear o movimento e impedir que a mão do paciente acerte seu rosto, apontando também deficits de coordenação. Durante esse teste, é importante que a mão livre do terapeuta esteja protegendo o rosto do paciente. Novamente, vale ressaltar que esses testes de coordenação são bastante utilizados, porém, em algumas crianças, não é possível a realização devido aos níveis de compreensão. Nesses casos, é possível avaliar a coordenação motora dos pacientes por meio de observação das atividades realizadas, como durante as passagens de postura, durante a marcha, atividades com os membros inferiores e atividades manuais. AVALIAÇÃO DA MARCHA Para finalizarmos este módulo, não podemos deixar de discutir sobre a avaliação de marcha, que, de maneira geral é realizada a partir da solicitação para que o paciente caminhe normalmente, observando-se a maneira como é executada. É importante analisar e descrever o alinhamento anteroposterior e médio-lateral do tronco, se a dissociação de cinturas escapular e pélvica está ocorrendo de modo satisfatório, se há balanceio dos membros superiores, como está a base de suporte, se está alargada ou diminuída, além de, claro, as fases da marcha. AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA EM SAÚDE DA CRIANÇA A especialista Isabela Andrelino apresentará os principais itens da avaliação neurológica, bem como suas maneiras de realização, descrevendo a importância para a prática clínica a partir das respostas encontradas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O EXAME FÍSICO É UMA ETAPA MUITO IMPORTANTE DA AVALIAÇÃO FÍSICA, POIS PERMITE A ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO A PARTIR DOS SINAIS E SINTOMAS OBSERVADOS, ALÉM DA POSSIBILIDADE DE INVESTIGAÇÃO DA TOPOGRAFIA DA LESÃO. UM PACIENTE QUE APRESENTE HIPERTONIA DO TIPO ELÁSTICA PODE TER SOFRIDO LESÃO EM QUAL ESTRUTURA? A) Cerebelo B) Nervos periféricos C) Vias piramidais D) Vias extrapiramidais E) Muscular 2. A AVALIAÇÃO DE RESPOSTAS REFLEXAS DIZ RESPEITO À INTEGRIDADE DO SISTEMA NEUROLÓGICO DA CRIANÇA. SOBRE ESSE TEMA, QUAIS OS TIPOS DE REFLEXOS QUE PODEM SER AVALIADOS? A) Sensitivos profundos e superficiais B) Proprioceptivos conscientes C) Primitivos, superficiais e profundos D) Motricidade voluntária e involuntária E) Musculares GABARITO 1. O exame físico é uma etapa muito importante da avaliação física, pois permite a elaboração de estratégias de tratamento a partir dos sinais e sintomas observados, além da possibilidade de investigação da topografia da lesão. Um paciente que apresente hipertonia do tipo elástica pode ter sofrido lesão em qual estrutura? A alternativa "C " está correta. A hipertonia elástica é um sinal patognomônico de lesão do Sistema Nervoso Central, especificamente na via córtico-espinhal, que compõe as vias piramidais. 2. A avaliação de respostas reflexas diz respeito à integridade do sistema neurológico da criança. Sobre esse tema, quais os tipos de reflexos que podem ser avaliados? A alternativa "C " está correta. Os reflexos avaliados são os de natureza primitiva e superficial, tais como Hoffman e cutâneo plantar, além de reflexos profundos ou tendíneos. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim do estudo dos principais aspectos que devemos levar em conta ao avaliar uma criança clinicamente, tais como as formas de classificação do recém-nascido e alguns fatores de risco envolvidos, além das formas de avaliar o desenvolvimento motor infantil, que leva em conta as respostas reflexas primitivas e o desenvolvimento motor voluntário. Outro ponto importante e fundamental para a elaboração de um plano de tratamento adequado em saúde da criança foi a compreensão das formas de realizar uma boa avaliação física e quais as maneiras de classificação dos achados. Você compreendeu a necessidade deste assunto como base para o entendimento dos diversos sinais e sintomas que a criança pode apresentar após algum quadro de lesão. Consequentemente, quando aprender sobre as principais estratégias de tratamento para essas afecções, ficará ainda mais clara a necessidade deste estudo. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BATTAGLIA, F. C.; LUBCHENCO, L. O. A practical classification of newborn infants by weight and gestational age. J. Pediatr., p. 159-63, 1967. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de assistência ao recém-nascido. Brasília, 1994. Consultado na internet em: 29 abr. 2021. DORETTO, D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso: fundamentos semiologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu 2001. POUNTNEY, T. Fisioterapia pediátrica. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. PROAÑO, A.; ARAGÓN, R. E. & PROAÑO, J. L. Z‐Score: Fenton 2013. Atualização de dez anos. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, 2014. EXPLORE+ Para ampliar seus conhecimentos sobre o conteúdo dado, procure na internet o artigo Classificação da função motora e do desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral, que investigou o desempenho motor de crianças com paralisia cerebral e utilizou algumas escalas muito comuns em pediatria CONTEUDISTA Isabela Andrelino de Almeida Shigaki CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); javascript:void(0);
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