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DESCRIÇÃO Os sintomas, o prognóstico e a aplicabilidade fisioterapêutica para nortear a reabilitação dos portadores de desordens neurológicas. PROPÓSITO Compreender as desordens neurológicas para auxiliar a prática profissional na elaboração de uma estratégia de tratamento segura e eficaz para cada paciente. PREPARAÇÃO Antes de iniciar seu estudo, tenha à mão um Atlas de Anatomia Humana para identificar e visualizar com clareza todas as estruturas que serão apontadas no decorrer deste conteúdo. OBJETIVOS MÓDULO 1 Analisar a fisiopatologia da paralisia cerebral e sua relação com os procedimentos fisioterapêuticos MÓDULO 2 Reconhecer a fisiopatologia da paralisia obstétrica e a forma de intervenção fisioterapêutica adequada MÓDULO 3 Relacionar a fisiopatologia da espinha bífida com a aplicabilidade fisioterapêutica MÓDULO 4 Identificar as principais comorbidades respiratórias nas neuropatias e a abordagem fisioterapêutica no tratamento INTRODUÇÃO A criança não é um adulto em miniatura: este é o primeiro pensamento que devemos ter quando estudamos sobre a fase infantil. A criança precisa de cuidados que incluam não só a observação das disfunções motoras, mas também a possibilidade de experiências que auxiliem no processo de desenvolvimento do indivíduo como um todo. PRECISAMOS ENTENDER QUE A CRIANÇA NÃO PODE SER TRATADA DE FORMA FRAGMENTADA (UM BRAÇO OU UMA PERNA, POR EXEMPLO), MAS SIM, DE FORMA GLOBAL. O fisioterapeuta deve identificar como a disfunção apresentada está alterando o desenvolvimento individual da criança. Dessa maneira, a estratégia de tratamento pode compreender “metas e objetivos possíveis de serem alcançados” visando sempre a melhora da qualidade de vida dessas crianças e de suas famílias. A CRIANÇA NÃO VEM PARA O TRATAMENTO SOZINHA: OUTRA PREMISSA IMPORTANTE. POR TRÁS DA CRIANÇA, EXISTE UMA FAMÍLIA ESPERANÇOSA E COM MUITA EXPECTATIVA EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO. Ninguém planeja ter um filho com desordens neurológicas. Além disso, o tempo que o fisioterapeuta fica com seu paciente é muito pequeno — essa criança passa a maior parte do dia com familiares ou cuidador. Por isso, a orientação e a inclusão da família no tratamento se tornam essenciais. De que adianta a intervenção se ela não for continuada em casa? Tenha familiares e cuidadores como seus “aliados”, assim, o tratamento terá um efeito melhor. EXISTE UMA INFINIDADE DE DESORDENS NEUROLÓGICAS QUE PODEM CAUSAR ALTERAÇÕES IMPORTANTES NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, MAS TAMBÉM EXISTEM INÚMERAS TÉCNICAS E INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS POSSÍVEIS. Em nosso estudo, abordaremos algumas dessas desordens neurológicas e os principais objetivos a serem alcançados pelo tratamento fisioterapêutico em cada uma delas. Com o conhecimento da fisiopatologia, você poderá identificar onde e como precisa atuar para atingir determinado objetivo de tratamento e o que esperar da criança de acordo com o prognóstico de cada disfunção. MÓDULO 1 Analisar a fisiopatologia da paralisia cerebral e sua relação com os procedimentos fisioterapêuticos PARALISIA CEREBRAL A paralisia cerebral, também conhecida por encefalopatia crônica não progressiva da infância, é um distúrbio neurológico provocado por lesão ou anomalia que acomete o cérebro ainda imaturo, ou seja, em desenvolvimento. A lesão pode acontecer antes, durante ou após o nascimento (antes dos 3 anos de idade), ou seja, no período pré, peri ou pós-natal (LEVITT, 2014). PRÉ-NATAL Malformação no desenvolvimento do Sistema Nervoso Central, deslocamento de placenta, má posição do cordão umbilical, fatores maternos (abuso de drogas ou presença de alguma doença como eclampsia, javascript:void(0) rubéola, varíola, citomegalovirose, toxoplasmose, sífilis, herpes zoster, varicela, meningite, malária, entre outras). PERINATAL Prematuridade (gestação < 28 semanas, peso do nascimento < 1500g e Apgar < 7) ou fatores traumáticos (quadros de anóxia ou hipóxia). PÓS-NATAL Fatores metabólicos como hiperbilirrubinemia neonatal (bilirrubina > 25 mg/dl), acidentes, infecções do Sistema Nervoso Central ou fatores vasculares como o acidente vascular cerebral. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA PARALISIA CEREBRAL A presença de distúrbios no tônus muscular na postura e nos movimentos é a principal característica da PC, podendo ter ou não um acometimento sensorial e cognitivo/intelectual. A presença de convulsões também é comum nas crianças. Dependendo da extensão da lesão e da área anatômica comprometida, esses acometimentos se apresentarão de forma variada. DICA É necessário observar qual a característica predominante em cada caso para identificar o tônus muscular prevalente (espástico, hipotônico, discinético ou atáxico). TIPOS DE TÔNUS MUSCULAR NA PARALISIA CEREBRAL ESPASTICIDADE Ocasionada por uma lesão nos neurônios da via córtico-espinhal (sistema piramidal), caracteriza-se pela presença de tônus muscular elevado, hiperreflexia (aumento dos reflexos miotáticos, clônus, reflexo cutâneo plantar em extensão, ou seja, sinal de Babinski positivo) e resistência ao movimento passivo. javascript:void(0) javascript:void(0) Sinal de Babinski. A espasticidade é classificada de acordo com a distribuição anatômica do acometimento. Pode ser unilateral (monoplégicas ou hemiplégicas) e bilateral (diplégicas, triplégicas, quadriplégicas ou dupla hemiplegia). Esquema das áreas cerebrais lesionadas na paralisia cerebral. HIPOTONIA A presença de hipotonia faz com que a criança tenha uma co-contração de cabeça e tronco insuficiente, impedindo a aquisição de posturas antigravitacionais. Em PC, normalmente, é um estágio transitório. FLUTUANTE OU ATETÓSICO (DISCINÉTICO) Ocasionado principalmente por uma lesão nos núcleos da base ou nas vias aferentes e eferentes desse núcleo (sistema extrapiramidal), caracteriza-se por movimentos e posturas atípicos quando a criança inicia um movimento voluntário em razão de uma distonia e coreoatetose. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) ATAXIA Ocasionada por uma disfunção no cerebelo, por isso apresenta distúrbio na coordenação dos movimentos em razão da dissinergia (incoordenação do movimento). A criança apresenta tônus postural baixo, falta de co- contração e incapacidade de manter as posturas. Quando chega na fase da marcha, ocorre o aumento da base de sustentação e tremor intencional. MISTO Encontrado na maioria dos pacientes. É muito comum observar um tipo de tônus no tronco (região axial) e outro nos membros (região apendicular). PLEGIA “Falta completa de força muscular, paralisia dos movimentos causada por uma lesão neurológica, que afeta os centros nervosos, as vias motoras, o sistema muscular.” (HOUAISS) Alguns autores utilizam o termo “parético” no lugar do “plégico”. Paresia: “Paralisia incompleta; interrupção parcial do movimento voluntário de uma estrutura corporal (nervosa ou muscular), normalmente causada por alguma lesão neurológica.” (HOUAISS) DISTONIA “Contração que afeta de modo regular um ou vários músculos ou membros e, por vezes, o eixo corporal, e que se inicia com um movimento voluntário ou por se estar numa posição fixa, desaparecendo com repouso.” (HOUAISS) COREOATETOSE “Desordem nervosa caracterizada pelos movimentos involuntários e incontroláveis (coreicos e atetósicos), resultantes de alguma lesão, disquinesia, distonia.” (HOUAISS) DESENVOLVIMENTO MOTOR NA PARALISIA CEREBRAL As crianças com PC apresentam alteração no desenvolvimento motor típico, como podemos observar no quadro a seguir. Desenvolvimento motor típico Crianças com paralisia cerebral Reflexos primitivos Suprimidos Permanecem Reações Integradas Insuficientes Tônus muscular Normotonia Hipertonia, hipotonia ou flutuação tônica Movimentos Sinérgicos, coordenados, variados Estereotipados, pobres, sem seletividade, padrões compensatórios e fixações Habilidades motoras Presentes Débeis ou ausentes Estrutura musculoesquelética Sem encurtamentos e deformidades Pode apresentar encurtamentose/ou deformidades Alterações no desenvolvimento motor em crianças com paralisia cerebral. Elaborado por Eloá Moreira A postura da criança com paralisia cerebral também se altera, conforme mostram as figuras a seguir: Posturas atípicas em supino. Posturas atípicas em prono. Criança sentada em W. Muitas crianças (principalmente, as espásticas) sentam-se em “W”, ou seja, a criança senta-se em cima das pernas, com rotação interna dos quadris. Essa postura proporciona à criança uma sensação de maior estabilidade, mas pode trazer inúmeros prejuízos do ponto de vista estrutural e do desenvolvimento neuropsicomotor. PROGNÓSTICO DA PARALISIA CEREBRAL O prognóstico da PC é muito variado, pois depende do grau de dificuldade motora (grau e tipo de lesão), da intensidade de retrações, das contraturas e deformidades musculoesqueléticas (prejudicam a mobilidade da criança), da resposta ao tratamento e da disponibilidade para reabilitação. Quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, melhor o prognóstico. Ou seja, é mais provável um resultado funcional de longo prazo com base na modulação positiva do desenvolvimento neuropsicomotor (neuroplasticidade). Entretanto, nem sempre é possível fazer um diagnóstico de PC no nascimento. É IMPORTANTE A DETECÇÃO DE FATORES DE RISCOS PRÉ E PERINATAIS QUE POSSAM INDICAR ESSA POSSIBILIDADE. Dessa forma, a família precisa ser orientada e encaminhada para uma equipe de saúde. Durante o acompanhamento médico, os profissionais poderão identificar precocemente o aparecimento de quaisquer disfunções motoras e funcionais que venham a interferir no desenvolvimento da criança. A intervenção multidisciplinar deve iniciar o mais precocemente possível, buscando sempre melhorar as habilidades funcionais e a qualidade de vida da criança e da sua família. ATENÇÃO É importante alertar que o grau de deficiência mental, o número de crises convulsivas e a intensidade do distúrbio de comportamento da criança podem interferir no prognóstico. ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA Não existe apenas um sistema ou método de tratamento fisioterapêutico para a criança com paralisia cerebral. A decisão de usar qualquer intervenção é particular a cada profissional, mas deve ser guiada pelo objetivo do tratamento após uma avaliação cuidadosa do paciente. Cada criança tem sua necessidade individual, e o tratamento dependerá exclusivamente da avaliação médica. A META PRINCIPAL DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA A CRIANÇA COM PC DEVE SER A AQUISIÇÃO OU A MELHORA DA QUALIDADE DO MOVIMENTO E DA HABILIDADE FUNCIONAL, ALÉM DA PREVENÇÃO DE CONDIÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS SECUNDÁRIAS (CONTRATURAS E DEFORMIDADES) PARA EVITAR CIRURGIAS. A aplicação da toxina botulínica pode ser realizada pelo médico responsável para tratar a espasticidade focal. Nesse caso, o objetivo principal será o alongamento muscular e a melhora da amplitude de movimento. O efeito dessa medicação pode durar de 3 a 6 meses, por isso é importante intensificar o tratamento neste período (PICELLI et al., 2019). Entre os principais objetivos a serem alcançados pelo tratamento fisioterapêutico, estão: Inibição da atividade reflexa persistente (de acordo com a faixa etária) Adequação do tônus muscular Força muscular Estímulo sensorial (diferentes texturas e temperaturas, auditivo e visual) Melhora da flexibilidade Melhora da amplitude e da qualidade de movimento Aquisição de habilidades funcionais (autolocomoção, entre outras) Prevenção de contraturas e deformidades Existem inúmeras intervenções para atingir esses objetivos. Seja criativo, para que a criança aceite o tratamento. Brincadeiras são muito bem-vindas, porém, cuidado para não fugir da sua meta. Você vai conhecer agora algumas intervenções para iniciar o seu processo de aprendizagem. Vamos a elas! CINESIOTERAPIA Para realizar a cinesioterapia em crianças, o fisioterapeuta precisa ser criativo. A ludicidade é essencial para que a criança aceite e confie no seu toque. A mobilização passiva e os exercícios ativos e alongamentos devem ser realizados dentro do limite e possibilidade de cada criança. Exercícios de resistência podem ser úteis para o fortalecimento muscular, mas devem ser usados com cautela para não reforçar as reações tônicas anormais já existentes, aumentando assim a espasticidade. A utilização de brinquedos e alguns facilitadores como o rolo, a bola suíça, a estimulação visual e sonora são aconselhados. Alguns equipamentos podem ser utilizados como auxiliares: esteira, andador, prancha ortostática, plataforma vibratória, entre outros. Exemplo de recursos utilizados pelo fisioterapeuta. INDICAÇÃO DE ÓRTESE A órtese pode ser indicada com o objetivo de manter posição estável e promover melhoria no alinhamento biomecânico funcional e nas habilidades motoras das atividades diárias. A mais utilizada na paralisia cerebral é a AFO (A-ankle, F-foot, O-orthosis), ou seja, órtese tornozelo-pé, podendo ser articulada ou fixa. A órtese abdutora do polegar também pode ser indicada para possibilitar o aumento da amplitude de movimento ativo da mão. Órtese AFO. CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH Utiliza como base o desenvolvimento neuropsicomotor típico com técnicas de inibição, facilitação e estimulação de padrões de movimentos, para possibilitar a aquisição de habilidades funcionais na criança. Muito utilizado nos primeiros anos de vida. As técnicas devem ser usadas de acordo com o tônus muscular do paciente. THERASUIT É uma técnica utilizada na reabilitação de disfunções sensoriais e neurológicas (programa intensivo) que usa cordas e roupas elásticas com o objetivo de colocar o paciente em um padrão mais próximo do “normal” possível. FISIOTERAPIA AQUÁTICA A água possui propriedades físicas que proporciona à criança uma sensação acolhedora e uma liberdade de movimentos que muitas vezes são complexos no solo (ação antigravitacional). Além de melhorar a autoestima, promove relaxamento, facilitando o alongamento muscular e a mobilização das articulações. A fisioterapia aquática também pode ser usada para exercícios que aumentem a força muscular, melhorem o equilíbrio, a coordenação e o treino da marcha. EQUOTERAPIA Utilizar técnicas de equitação e o cavalo como instrumento de trabalho terapêutico auxilia nos níveis psicológicos, físicos e posturais da criança. A equoterapia tem sido usada com uma abordagem interdisciplinar nas áreas da saúde, educação e equitação. Na PC, pode melhorar o autocontrole e a autoconfiança, além de atuar na adequação do tônus muscular, mobilidade articular, equilíbrio, obtenção da lateralidade, percepção do esquema corporal e coordenação motora. Um fator muito importante nesta técnica é a melhora da integração social. Equoterapia. REALIDADE VIRTUAL Como é capaz de ampliar os canais multissensoriais (visão, audição, tato etc.) com o auxílio de dispositivos tecnológicos, a realidade virtual tem sido cada vez mais utilizada. Dependendo do dispositivo utilizado, consegue-se trabalhar a função física, cognitiva, sensitiva e psicológica. Exemplo de dispositivo tecnológico usado na realidade virtual. AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL A especialista Eloá Moreira Marconi abordará os principais aspectos de uma avaliação fisioterapêutica em crianças com paralisia cerebral. Quais as informações a serem colhidas, as observações referentes ao quadro clínico funcional da criança e como orientar os responsáveis/cuidadores para um melhor manejo dessa criança. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Reconhecer a fisiopatologia da paralisia obstétrica e a forma de intervenção fisioterapêutica adequada PARALISIA OBSTÉTRICA A paralisia obstétrica é definida como uma lesão no plexo braquial que causa uma paralisia ou paresia flácida nas musculaturas do membro superior que são inervadas pelos nervos do plexo braquial. O plexo braquial é formado por um conjunto de cinco raízes nervosas que se originam na região anterior da medula espinhal,passando próximo à região da clavícula como um emaranhado nervoso. É responsável pela inervação cutânea e muscular da região da cintura escapular e de quase todo membro superior do lado correspondente, exceto o trapézio e uma área de pele próximo à região axilar. Por se localizar em uma área com grande mobilidade (entre a região cervical e a parte superior do braço), o plexo braquial é um segmento nervoso sujeito a lesões. Paralisia obstétrica. Distócia de ombros. A PO é provocada pelo estiramento dos troncos nervosos ou pela avulsão radicular do plexo braquial durante o nascimento (mais comum no parto normal), frequentemente associada à distócia de ombro. A lesão neural pode ser leve, possibilitando uma recuperação espontânea (no caso de neuropraxia, há preservação da estrutura do nervo), ou grave, quando ocorre a destruição das estruturas neurais gerando sequela permanente (no caso de neurotmese, há descontinuidade do nervo). Os fatores de risco para a PO mais comuns são: Feto com peso > 4.000g ou quando existe algum grau de desproporção entre o feto e a pelve materna para fetos com peso < 4.000g Obesidade materna Pós-datismo (≥ 42 de gestação) Diabetes gestacional Parto prolongado ou laborioso Uso de fórceps Apresentação pélvica ATENÇÃO A PO pode vir associada a algumas comorbidades como: paralisia facial, torcicolo, fratura de clavícula e úmero, subluxação de ombro ou hemiparesia do diafragma. TIPOS DE PARALISIA OBSTÉTRICA ERB-DUCHENNE OU PARALISIA ALTA É o tipo mais comum de PO e o que apresenta melhor prognóstico. Acontece quando há um envolvimento das raízes de C5 a C7, ou seja, do tronco superior do plexo braquial. Os bebês com esse tipo de PO mantêm o membro superior acometido ao lado do corpo, adução com rotação interna do braço, extensão com pronação do antebraço e flexão do punho. Não apresentam alteração na sensibilidade tátil e dolorosa na região do antebraço e mão. Na paralisia alta, o reflexo de Moro e o RTCA (reflexo tônico cervical assimétrico) encontram-se alterados. Os bebês têm incapacidade para abdução e rotação externa do braço, flexão de cotovelo e supinação de antebraço. Os movimentos da mão e punho não estão comprometidos, dessa forma, o reflexo de preensão palmar fica preservado. KLUMPKE OU PARALISIA BAIXA É o tipo mais raro de PO. Acontece quando há um envolvimento das raízes de C8 e T1, ou seja, do tronco inferior do plexo braquial. Os bebês com esse tipo de PO mantém o cotovelo em flexão, supinação do antebraço, extensão do punho, extensão das metacarpofalangeanas e semiflexão das interfalangeanas (mãos em “garra”). O reflexo de preensão palmar está alterado nesse tipo de PO, pois há um comprometimento da musculatura flexora do punho, intrínseca da mão e flexora longa dos dedos. ERB-KLUMPKE OU PARALISIA TOTAL Esse tipo PO acontece quando há um envolvimento das raízes de C5 à T1, ou seja, lesão total do plexo braquial. É o tipo mais grave de lesão, pois acomete tanto a parte motora quanto a sensitiva. Nos bebês com esse tipo de PO, observamos uma plegia no membro superior acometido, conhecido como braço de “boneca de pano”. Neste caso, todos os reflexos estão abolidos. ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA Para traçar uma boa estratégia de tratamento, é essencial entender a biomecânica de cada musculatura que possa estar afetada na PO. Então, vamos recordar? PRINCIPAIS MOVIMENTOS E MÚSCULOS ACOMETIDOS PELA PARALISIA OBSTÉTRICA A especialista Eloá Moreira abordará quais os principais músculos acometidos pela lesão do plexo braquial e quais os movimentos realizados por eles que estarão comprometidos na paralisia obstétrica. ATENÇÃO A paralisia obstétrica é uma lesão flácida de um dos membros superiores e pode ter diferentes graus de gravidade, o que influencia o seu prognóstico. QUANTO MAIS RÁPIDO FOR DADO O DIAGNÓSTICO E INICIADA A INTERVENÇÃO, MELHOR SERÁ A RESPOSTA AO TRATAMENTO. A recuperação espontânea é esperada até aproximadamente 18 meses (com reabilitação), entretanto, caso ela não ocorra, há indicação cirúrgica para melhorar a postura articular e facilitar a recuperação funcional da criança. A fase inicial do tratamento foca a melhora do posicionamento da criança. O primeiro passo a ser dado, logo após o diagnóstico, é a retirada do estresse mecânico do membro superior afetado. Isso se dá imobilizando e posicionando corretamente a criança, ou seja, o braço junto ao corpo com flexão do cotovelo (enfaixamento do tipo toracobraquial), evitando movimentos e proporcionando analgesia e cicatrização. O posicionamento do membro afetado no dia a dia da criança é essencial para evitar a piora do quadro. Por isso, a orientação aos familiares/cuidadores é parte essencial do tratamento. As órteses de membro superior podem ser indicadas para um melhor posicionamento durante o sono, evitando contraturas, principalmente para as crianças que apresentam atrofia de punho e mão. Independentemente do tipo de PO diagnosticado, a lesão irá causar algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. POR ISSO, A INTERVENÇÃO PRECOCE E O INCENTIVO PARA AQUISIÇÃO DE HABILIDADES FUNCIONAIS SÃO DE GRANDE IMPORTÂNCIA PARA A AQUISIÇÃO DA ETAPA NEUROPSICOMOTORA CORRESPONDENTE À FAIXA ETÁRIA. O membro superior faz parte de um todo (corpo inteiro), dessa forma, quando há uma alteração como a PO, devemos levar em consideração que a criança poderá ter uma assimetria corporal e/ou um desvio postural. Por isso, o desenvolvimento neuropsicomotor da criança deve ser observado em todas as suas etapas pelo fisioterapeuta. Assim, quaisquer alterações poderão ser identificadas rapidamente, favorecendo a intervenção específica o mais precocemente possível. A CRIATIVIDADE PARA A ELABORAÇÃO DE ATIVIDADE LÚDICA E A ESTIMULAÇÃO SENSORIAL SÃO MUITO IMPORTANTES NA FISIOTERAPIA, PODENDO UTILIZAR BRINQUEDOS OU MATERIAIS QUE AUXILIAM NA AQUISIÇÃO DAS HABILIDADES FUNCIONAIS E FORTALECIMENTO MUSCULAR. LEMBRAMOS QUE O MOVIMENTO PASSIVO DEVE SER APLICADO LEVEMENTE PARA EVITAR O AGRAVAMENTO DA LESÃO. As metas a serem alcançadas pelo tratamento fisioterapêutico, de um modo geral, devem ser: Evitar aderências e as contraturas. Controle da dor e edema no membro superior acometido. Fortalecimento muscular. Manter ou aumentar a amplitude de movimento. Promover um desenvolvimento neuropsicomotor apropriado (manter e estimular as atividades e força dos músculos não lesados) e estimular trocas posturais. Realizar estímulos sensoriais. Orientar os familiares/cuidadores quanto ao manuseio, posicionamento e à estimulação para movimentos ativos. Assim como foi descrito na abordagem fisioterapêutica da PC, existem diversas intervenções a serem aplicadas pelo fisioterapeuta no tratamento da PO, porém, não podemos esquecer que a colaboração da criança é a base para a aquisição de todas as metas do tratamento, ou seja, é preciso que a criança se sinta estimulada a realizar os movimentos da forma mais ativa possível. Para que isso ocorra, o fisioterapeuta deve não só adequar o objetivo do tratamento a essas intervenções, como também ter consciência de que poderá mudar a proposta de tratamento a qualquer momento, caso não seja correspondido conforme o esperado. ATENÇÃO Todas as intervenções mencionadas no módulo anterior podem ser utilizadas nas crianças com PO. Independentemente da técnica escolhida pelo fisioterapeuta, a cinesioterapia baseada no desenvolvimento neuropsicomotor é a base para uma boa avaliação e para todo o tratamento da criança com PO. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Relacionar a fisiopatologia da espinha bífida com a aplicabilidade fisioterapêutica ESPINHA BÍFIDA A espinha bífida é uma malformação embrionária do Sistema Nervoso Central que ocorre durante o primeiro mês de gestação. É decorrente da falta de fusão dos arcos vertebrais posteriores, o que gera o fechamento incompleto do tubo neural, envolvendo os tecidos sobrejacentes à medula espinhal, o arco vertebral, os músculos dorsais e a pele. Sua gravidadedepende do tipo e da altura da lesão. Formação do tubo neural. Existem diversos fatores (genéticos e ambientais) que podem causar a EB como: diabetes materna, deficiência de zinco ou folato (forma natural de ácido fólico), etilismo durante os três primeiros meses de gestação, drogas anticonvulsivantes ou ilícitas, entre outros. O fator de risco mais importante para o não fechamento do tubo neural é a deficiência de ácido fólico, pois ele age na síntese de DNA, essencial para que ocorra a rápida divisão celular durante o desenvolvimento fetal. Espinha bífida. TIPOS DE ESPINHA BÍFIDA ESPINHA BÍFIDA OCULTA É considerada a forma mais branda de EB. Apresenta malformação, porém sem o extravasamento da medula espinhal, ou seja, ela permanece dentro do canal vertebral. Geralmente, é identificada em razão da presença de alterações da pele da região sacrococcígea (angiomas, tufos de pelos, lipomas, fístulas com fundo cego ou não, entre outros). MENINGOCELE É uma lesão cística (EB aberta), constituída pelo extravasamento do líquido cefalorraquidiano (líquor), meninge e recoberto por pele. Geralmente os nervos não estão prejudicados, por isso as crianças com essa malformação podem apresentar pouca incapacidade. MIELOMENINGOCELE É a forma mais grave e mais comum de EB. Também é uma lesão cística (EB aberta), porém, com o extravasamento não só do líquido cefalorraquidiano e meninge, como também do tecido neural (parte da medula espinhal), formando um saco visível no dorso da criança. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Tipos de espinha bífida. Nas formas abertas de EB (mielocele e mielomeningocele), a cirurgia deve ser realizada o mais rápido possível (primeiras 24 horas de vida) para diminuir o risco de infecção e tentar preservar a função nervosa. PRINCIPAIS COMORBIDADES DA ESPINHA BÍFIDA Existem algumas comorbidades associadas à EB. Vejamos as mais comuns. HIDROCEFALIA Esta comorbidade surge frequentemente após o fechamento da EB aberta. É caracterizada pela dilatação ventricular associada à hipertensão intracraniana e ao aumento do perímetro cefálico (cabeça). Hidrocefalia. A hidrocefalia acontece devido a um desequilíbrio entre a produção e a absorção do líquido cefalorraquidiano. Pode haver aumento de produção desse líquido, dificuldade de absorção ou obstrução, como a presença da malformação de Arnold Chiari (descida das amídalas cerebelares e da parte inferior do cerebelo, que se “encaixam” no orifício occipital em direção ao canal vertebral impedindo o fluxo de líquor). No caso de malformação de Arnold Chiari, a criança pode apresentar estrabismo, crises de apneia, dificuldades na alimentação, respiração ruidosa, distúrbios do sono e alterações funcionais em membros superiores. O tratamento cirúrgico, ou seja, a instalação de um sistema de derivação ventrículo peritoneal (DVP) para drenar o líquido acumulado nos ventrículos para a cavidade peritoneal onde será absorvido, pode diminuir as complicações associadas à hidrocefalia, como a dificuldade no desenvolvimento neuropsicomotor. Derivação ventrículo peritoneal. É importante observar os sintomas relacionados à hidrocefalia, pois algumas crianças podem apresentar a absorção do líquor de forma lenta, não desenvolvendo a hidrocefalia por meses ou anos. Nos casos das crianças com DVP, pode ocorrer uma obstrução na válvula. Os sintomas podem ser: cefaleia recorrente, alteração no desenvolvimento escolar, na linguagem ou na personalidade, estrabismo ou diminuição da acuidade visual, náuseas ou tonteiras frequentes ou convulsões. ÚLCERAS POR PRESSÃO Úlceras por pressão (UP) são feridas causadas por uma pressão prolongada sobre os tecidos moles, provocadas por alterações de mobilidade e de sensibilidade. Podem ocorrer em região corporal, principalmente, em locais com proeminências ósseas. UP é considerada uma complicação grave, pois, além de limitar a execução de exercícios necessários para o processo de recuperação funcional, pode infeccionar, o que complica o quadro para uma possível amputação ou, na pior das hipóteses, evoluir para uma sepse — podendo levar a criança ao óbito. A orientação e o cuidado, tanto aos familiares/cuidadores quanto à própria criança quando tiver condições de entendimento, são essenciais como medida preventiva da úlcera por pressão. Em razão da falta de sensibilidade e da imobilidade da criança, é preciso observar atentamente alguns fatores que podem contribuir para o aparecimento da UP como: ajuste das roupas (apertadas ou presença de dobras), mudança de decúbito, alívio da pressão em algumas posições (pressão nos acidentes ósseos), temperatura da água do banho (evitar queimaduras) e observação da pele para prevenção da abertura das feridas. BEXIGA E INTESTINO NEUROGÊNICOS A bexiga neurogênica é a falta da capacidade de controlar a bexiga, o que causa incontinência urinária. As crianças têm infecções urinárias recorrentes e podem apresentar distúrbios renais como a hidronefrose (bloqueio nos ureteres que impedem a passagem da urina dos rins para a bexiga) e o refluxo vesicouretral (retorno da urina da bexiga para o ureter, podendo retornar até o sistema coletor renal). O intestino neurogênico é a falta da capacidade de sentir as fezes no reto e de controlar o esfíncter anal, podendo também afetar o movimento das fezes através do cólon (peristalse). DISTÚRBIOS ORTOPÉDICOS É muito comum a associação de distúrbios ortopédicos em crianças com EB, principalmente na mielomeningocele. Pé torto congênito, fraturas, luxação de quadril, hipercifose, hiperlordose e escoliose são distúrbios comuns, que podem ser agravados durante a vida em razão da paralisia dos membros inferiores e tronco, de posicionamentos viciosos ou falta de sensibilidade. PARALISIA DE MEMBROS INFERIORES E TRONCO Dependendo da altura da lesão, pode ocorrer comprometimento não só dos membros inferiores, como também do controle do tronco. Nesse caso, o uso de órteses é altamente indicado para prevenir distúrbios ortopédicos e facilitar as habilidades funcionais da criança. A escolha do tipo de órtese se dá de acordo com a altura da lesão e da limitação apresentada pela criança. RGO (Reciprocal Propulsion Orthosis) Órtese de reciprocação avançada: é um tipo de órtese dinâmica que facilita a locomoção (durante a extensão do quadril, o colateral automaticamente entra em flexão). HKAFO (Hip-hip, K-knee, A-ankle, F-foot, O- orthosis) Órteses pelvicopodálicas (quadril-joelho-tornozelo-pé) ou tutores longos com cinta pélvica. KAFO (K-knee, A-ankle, F-foot, O-orthosis) Órteses cruropodálicas (joelho-tornozelo-pé) ou tutores longos. AFO (A-ankle, F-foot, O- orthosis) Órtese suropodálica (tornozelo-pé). Principais órteses utilizadas na espinha bífida. Elaborado por Eloá Moreira OUTRAS COMORBIDADES As crianças com EB também podem apresentar déficit cognitivo, alergia ao látex (muito comum), crises convulsivas, diminuição da densidade mineral óssea e acúmulo de tecido adiposo corporal. CARACTERÍSTICAS DA ESPINHA BÍFIDA As características da EB variam de acordo com o tipo e a altura da lesão. Normalmente, a EB oculta é assintomática, por isso, muitas vezes, é diagnosticada tardiamente. Nos outros tipos de EB (mielocele e mielomeningocele), a criança apresenta comprometimento sensório-motor abaixo da lesão. Quanto mais alto o nível de envolvimento das estruturas nervosas e mais alta a lesão, maior também o comprometimento. No quadro a seguir, reunimos os principais acometimentos de acordo com o nível da lesão e as órteses normalmente indicadas para cada um deles. Nível da lesão Altura da lesão Possíveis grupos musculares ativos nos MMII Principais acometimentos Órteses indicadas Torácico T12 para cima Nenhum Paralisia flácida completa de MMII + comprometimento no controle de tronco + alteração de sensibilidade Cadeira de rodas, mas podem se sustentar de pé com auxílio da RGO Lombar alto L1 a L3 Flexores e adutores dequadril ou extensores de joelho (fracos) Controle de tronco normal Normalmente, com alteração de sensibilidade abaixo dos quadris, paralisia dos músculos extensores e abdutores dos quadris, joelhos e pés RGO e HKAFO Lombar baixo L4 e L5 Flexores dos quadris normais Adutores dos quadris (com movimentos) Quadríceps fracos e tibial anterior com vestígios de contração podem levar a movimento Paralisia dos extensores e abdutores dos quadris, flexores dos joelhos e dos inversores e eversores dos pés KAFO ou AFO de dorsiflexão dos pés Controle de tronco normal Sacral S1 e S2 Força no quadril próximo ao normal Movimento bom dos joelhos Alguns movimentos nos pés Fraqueza dos extensores dos quadris e flexor plantar Possibilidade de deambular usando apenas AFO Principais níveis de lesões e as respectivas órteses mais apropriadas. Elaborado por Eloá Moreira ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA Normalmente, a criança com EB aberta é logo encaminhada para o serviço de fisioterapia. Alguns cuidados iniciais devem ser observados, como a pele do bebê, a cicatrização da EB e o seu posicionamento (postura). É de suma importância posicionar corretamente a criança, a fim de evitar deformidades que possam atrasar ou impedir o progresso da marcha. O FISIOTERAPEUTA PODERÁ ORIENTAR OS FAMILIARES/CUIDADORES QUANTO AO MANUSEIO DA CRIANÇA, EVITANDO CONTRATURAS E APARECIMENTO DE COMPLICAÇÕES. Os cuidados com a cicatriz são importantes. Normalmente, há uma alteração de sensibilidade local. Além disso, a mobilização da cicatriz pode evitar maiores aderências e queloides. As comorbidades também devem ser registradas, para que os objetivos do tratamento possam contemplar as disfunções causadas por elas. Mesmo sabendo a altura da lesão, a avaliação dos movimentos e da sensibilidade deve ser criteriosa. Cada criança pode apresentar uma característica particular, como já vimos. DICA Além do nível da lesão, devemos levar em consideração os aspectos psicológico (da criança e da família), social e ambiental. O desenvolvimento neuropsicomotor fica alterado na criança com EB e, dependendo da altura da lesão, esse comprometimento acontece de forma diferente. Mesmo que a criança não consiga realizar alguns movimentos, será preciso proporcionar a ela uma experiência de desenvolvimento o mais próximo possível do “normal”. Para isso, temos que utilizar as órteses e outros dispositivos que facilitam o processo, como bola suíça, rolos, carrinhos (andadores), faixas elásticas, pranchas ortostáticas etc. Os membros superiores devem ter um cuidado especial quanto ao fortalecimento muscular, pois, muitas vezes, as crianças dependerão deles para se deslocar — usando muletas, andadores ou cadeira de rodas mecânica. As principais metas da abordagem fisioterapêutica na criança com EB são: Prevenção da instalação de aderências, contraturas e deformidades. Fortalecimento muscular. Manter ou aumentar a amplitude de movimento. Promover desenvolvimento neuropsicomotor apropriado (manter e estimular as atividades e a força dos músculos não lesados) e estimular trocas posturais. Proporcionar independência com a aquisição de habilidades funcionais, mesmo que necessite de adaptações. Realizar estímulos sensoriais. Orientar os familiares/cuidadores quanto ao manuseio, ao posicionamento e à estimulação para movimentos ativos. As comorbidades presentes na EB também podem sofrer abordagem fisioterapêutica. A bexiga e o intestino neurogênicos se beneficiam com a fisioterapia uroginecológica; já a cicatriz, com a fisioterapia dermatofuncional. A laserterapia pode ser utilizada na úlcera por pressão, mas com cautela, pois a pele da criança é muito delicada e não pode ter a presença de infecção. No caso de infecção, a melhor opção é a terapia fotodinâmica (PDT). As intervenções como equoterapia, fisioterapia aquática (exceto quando há feridas abertas) e a realidade virtual também são muito utilizadas nas crianças com EB. Como vimos anteriormente, essas técnicas influenciam não só questões de desenvolvimento motor e habilidades funcionais, como também as partes sensorial, social e emocional da criança. POR QUE O FISIOTERAPEUTA PRECISA ABORDAR ASPECTOS PSICOLÓGICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS DA CRIANÇA COM EB? A especialista Eloá Moreira abordará quais os aspectos psicológicos (criança e família), sociais e ambientais que podem interferir no objetivo e tratamento fisioterapêutico nas crianças com EB. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 4 Identificar as principais comorbidades respiratórias nas neuropatias e a abordagem fisioterapêutica no tratamento COMORBIDADES RESPIRATÓRIAS Em crianças com neuropatias, pode ocorrer uma série de doenças respiratórias associadas (comorbidades), seja por lesão direta no SNC (centro respiratório bulbo raquidiano e na ponte), seja por diversas alterações que interferem na mecânica respiratória. Trajeto do ar durante a respiração. Fatores que contribuem para o aparecimento de comorbidades respiratórias nas neuropatias: PARALISIA OU DIMINUIÇÃO DA FORÇA MUSCULAR A fraqueza dos músculos inspiratórios causa diminuição da expansão torácica, podendo gerar microatelectasias, alteração na ventilação-perfusão e hipoxemia. Já a fraqueza dos músculos expiratórios pode causar ineficiência da tosse (tosse ineficaz), gerando um acúmulo de secreção ou broncoaspiração. O acúmulo de secreção aumenta a resistência nas vias aéreas, elevando o risco de desenvolver atelectasias e pneumonias. A broncoaspiração pode se dar lentamente e retardar o aparecimento dos sintomas — ocorrer com a alimentação ou a própria saliva do paciente, podendo evoluir para uma pneumonia aspiratória. Em alguns casos, a criança pode apresentar fraqueza dos músculos bulbares, ou seja, músculos da face, orofaringe e laringe. Esses músculos podem causar alteração na deglutição (disfagia) e na eliminação de secreção, causando a broncoaspiração. A paralisia de parte da musculatura inspiratória, expiratória e bulbar também causa essas alterações, porém, se houver uma paralisia grave, o paciente dependerá de ventilação mecânica. A fraqueza da musculatura abdominal, torácica e de membros superiores causam limitação da mobilidade da caixa torácica. A presença de contraturas e deformidades nessa região e de alterações estruturais na coluna vertebral pode limitar ainda mais a mobilidade torácica. Isso pode causar diminuição da ativação do centro respiratório (ponte e bulbo) e facilitar o aparecimento de doenças respiratórias restritivas (complacência diminuída). FALTA DE MOVIMENTO ATIVO Algumas neuropatias limitam os movimentos. Essa imobilidade associada ao aumento de secreção ou de sialorreia pode causar complicações respiratórias como pneumonia e atelectasias. Crianças que não apresentam controle cefálico e de tronco e que não possuem movimento ativo de membros superiores estão mais suscetíveis a ficarem em uma mesma postura por tempo prolongado. javascript:void(0) As alterações do tônus muscular, da postura e dos movimentos involuntários, frequentemente encontradas em crianças com neuropatias, podem interferir diretamente na biomecânica na região toracoabdominal, prejudicando o funcionamento adequado das estruturas do trato respiratório (mecânica respiratória). AUSÊNCIA OU DIMINUIÇÃO DO REFLEXO DE TOSSE Estes fatores causam um acúmulo de secreção/sialorreia, gerando complicações respiratórias da mesma forma que acontece na fraqueza da musculatura expiratória. OUTROS FATORES Algumas crianças apresentam refluxo gastroesofágico (RGE), o que facilita a ocorrência de broncoaspiração. Podemos citar também o aumento da produção de secreção por uso de certas medicações, como alguns anticonvulsivantes. É comum crianças apresentarem inabilidade na coordenação entre a deglutição e a respiração, predispondo à broncoaspiração. MICROATELECTASIAS A atelectasia pulmonar é uma complicação respiratória que impede a passagem de ar suficiente, devido ao colapso dos alvéolospulmonares. Nas microatelectasias fibrosas ou difusas, há deficiência no surfactante pulmonar. O surfactante pulmonar é o que cobre o revestimento dos alvéolos e reduz a tensão superficial alveolar, evitando o seu colapso. Quando os bebês prematuros têm uma deficiência do surfactante pulmonar, desenvolvem a síndrome da angústia respiratória neonatal. COMORBIDADES RESPIRATÓRIAS MAIS COMUNS PNEUMONIA Uma das principais afecções respiratórias nas neuropatias é a pneumonia; é também a maior causa de mortalidade nessa população, juntamente com a insuficiência respiratória. A pneumonia pode acontecer isoladamente ou de forma recorrente, dependendo do quadro geral da criança. Na maioria das vezes, é causada por broncoaspiração (saliva, alimento, refluxo gastroesofágico), podendo ser viral ou bacteriana. A pneumonia caracteriza-se pelo acúmulo de secreção, aumento de resistência nas vias aéreas, diminuição da complacência torácica e alteração na ventilação e trocas gasosas. Em alguns casos, pode ser secundária a outras infecções, como as infecções urinárias ou as úlceras por pressão infeccionadas. Na maioria das vezes, a criança apresenta febre e dor ao inspirar (dor pleurítica). ATELECTASIA A atelectasia é o colabamento do tecido pulmonar associado a uma perda de volume. Normalmente, é transitória, podendo ser recorrente em algumas crianças (com mais comprometimento motor). O sintoma é dispneia ou insuficiência respiratória nos casos mais graves. Pode estar associada a doenças respiratórias restritivas, como asma, bronquite, entre outras. BRONQUIOLITE A bronquiolite é uma infecção que acomete os bronquíolos, frequente em crianças menores de 2 anos de idade. Pode ocorrer devido a microbroncoaspirações e ao acúmulo de secreção nas crianças com neuropatias. Os sintomas são: tosse, obstrução nasal e coriza, podendo apresentar chiado no peito semelhante a uma crise asmática ou de bronquite. DISPNEIA DE ESFORÇO Crianças com fraqueza muscular (comum nas neuropatias) podem apresentar dispneia de esforço. Ou seja, quando realiza algum esforço, apresenta “falta de ar”, “aperto” ou pressão no peito, náuseas, tosse ou dor torácica com consequente aumento da frequência respiratória (FR) e redução dos volumes pulmonares. Essa alteração respiratória pode gerar hipoxemia, em razão de mudança na ventilação-perfusão. DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO Existem três tipos de distúrbios respiratórios do sono: apneia obstrutiva do sono (AOS), causada por hipotonia muscular ou obstrução das vias aéreas; apneia central do sono (ACS), causada por disfunção do SNC; e apneia mista do sono (associação das duas). Crianças com as características descritas anteriormente (“fatores nas neuropatias que podem contribuir para o aparecimento de comorbidades respiratórias”) podem apresentar qualquer tipo de distúrbio respiratório do sono. BRONQUITE A bronquite é uma inflamação da árvore traqueobrônquica (infecção da via respiratória superior) que pode ser aguda ou crônica. A causa quase sempre é uma infecção viral, mas também existe a bronquite bacteriana. O sintoma mais comum é tosse, com ou sem a presença de febre e, possivelmente, produção de secreção. Normalmente, são indicados antibióticos e broncodilatadores como tratamento clínico. A mobilização da secreção é importante e acelera a melhora dos sintomas da doença. ASMA A asma é caracterizada por inflamação, estreitamento e edema das vias aéreas associados a um aumento na produção de secreção. Dessa forma, há uma obstrução do fluxo de ar causando aumento do esforço respiratório, dor no peito, tosse e hipóxia. Normalmente, é controlada com medicações inalatórias (bombinhas ou nebulização). As crianças com neuropatia que apresentam asma como comorbidade exigem atenção especial, pois as limitações físico-funcionais (descritas anteriormente) podem agravar o quadro da doença e ser fatal. RINITE E SINUSITE Embora a rinite e a sinusite sejam doenças muito comuns, as crianças com neuropatia são mais suscetíveis a apresentá-las de forma recorrente. Essas crianças devem ser observadas de forma especial, pois tanto a rinite quanto a sinusite podem evoluir para infecções mais graves devido às condições físicas da criança. Rinite é a inflamação da mucosa do revestimento nasal que leva a congestão nasal, coriza, espirros e prurido. Sinusite é a inflamação da mucosa dos seios da face (localizados ao redor do nariz, região frontal do crânio e abaixo dos olhos). Ambas podem ser causadas por uma infecção, quadro alérgico ou por algum fator que impeça a drenagem correta de secreção dos seios da face. Normalmente, são tratadas com antibioticoterapia. Os principais sintomas são: cefaleia, dor na região da face, secreção nasal, congestão nasal e pode também apresentar febre e odor fétido na secreção. ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA Normalmente, a criança com neuropatia é encaminhada para fisioterapia devido ao acometimento no desenvolvimento neuropsicomotor. Porém, como vimos no decorrer deste módulo, muitas complicações respiratórias são decorrentes das limitações motoras causadas pela neuropatia. Para prevenir ou melhorar as comorbidades respiratórias em crianças com neuropatia, o fisioterapeuta deve ter os seguintes objetivos: Prevenção da instalação de aderências, contraturas e deformidades (principalmente, na região torácica, coluna vertebral e membros superiores) e manutenção da simetria do tórax. Fortalecimento muscular (inspiratórios, expiratórios, bulbares e membros superiores). Manutenção ou aumento da expansibilidade torácica (padrão respiratório e complacência pulmonar). Manutenção das vias aéreas higienizadas (orientação aos familiares/cuidadores). A ausculta pulmonar deve ser uma rotina do fisioterapeuta, mesmo que o paciente não esteja com queixas respiratórias. Assim, a detecção de secreção nos pulmões pode ser precoce e rapidamente mobilizada, para evitar o acúmulo e a permanência da secreção em um determinado local, pois isso resultaria em uma possível infecção. A tosse crônica e a falta de ar também podem indicar microbroncoaspiração recorrente. Através da ausculta, também é possível identificar se há diminuição do fluxo respiratório. Caso seja identificado, pode ser estimulado através de manobras reexpansivas. Se a diminuição do fluxo persistir, deve ser investigada uma possível atelectasia (MARPOLE, et al., 2020). VOCÊ SABIA Lavar e higienizar as vias aéreas com soro fisiológico deve ser procedimento frequente, porque diminui a permanência de secreção. Isso facilita o trânsito do fluxo de ar e evita possíveis infecções. Os familiares/cuidadores devem ser orientados quanto a importância dessa conduta. Algumas crianças precisam ser aspiradas com frequência, quando existe fraqueza dos músculos expiratórios ou ausência de reflexo de tosse. Normalmente o familiar/cuidador já é orientado para realizar a aspiração, porém é importante observar como está sendo realizada para não lesionar as vias aéreas da criança. Para facilitar a mobilização do fluxo de ar nos pulmões, brincadeiras como bolinha de sabão, cata-vento, bola de encher ou outra brincadeira que incentive a inspiração e expiração são recomendadas. No caso de crianças mais debilitadas fisicamente, ou seja, que não conseguem um movimento ativo eficiente, recomenda-se a mobilização da caixa torácica com manobras de compressão-descompressão. A postura de drenagem também pode ser utilizada para direcionar a secreção para as vias aéreas superiores, a fim de obter melhor expectoração ou aspiração. RESUMO SOBRE MECÂNICA RESPIRATÓRIA A especialista Eloá Moreira abordará como é realizada a mecânica respiratória de uma forma clara e objetiva, para que o aluno possa relembrar fatores importantes sobre a respiração, facilitando a compreensão do assunto abordado neste módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo, conhecemos melhor a paralisia cerebral, a paralisia obstétrica, a espinha bífida e as principaiscomorbidades respiratórias nas neuropatias. Resumimos os objetivos do tratamento fisioterapêutico e os possíveis métodos e condutas a serem aplicados em cada condição. Acreditamos que, ao final desse estudo, você será capaz de identificar as principais disfunções em cada uma das neuropatias apresentadas e terá requisitos para beneficiar essas crianças através de uma boa abordagem fisioterapêutica. Faça bom uso dessas informações no campo profissional! PODCAST Agora, a especialista Eloá Moreira encerra com uma revisão sobre os tópicos mais importantes em relação ao conteúdo. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS GALBIATTI, J. A.; CARDOSO, F. L.; GALBIATTI, M. G. P. Paralisia obstétrica: De quem é a culpa? Uma revisão sistemática de literatura. Rev. Bras. Ortop., São Paulo, v. 55, n. 2, p. 139-146, 2020. HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. Consultado na internet em: 13 mai. 2021. LEVITT, S. O tratamento da paralisia cerebral e do retardo motor. 5. ed. São Paulo: Manole, 2014. MARPOLE, R.; BLACKMORE, A. M.; GIBSON, N.; COOPER, M. S.; LANGDON, K.; WILSON, A. C. Evaluation and management of respiratory illness in children with cerebral palsy. Front Pediatr., n. 24, p. 333, 2020. PICELLI, A.; SANTAMATO, A.; CHEMELLO, E.; CINONE, N.; CISARI, C.; GANDOLFI, M.; RANIERI, M.; SMANIA, N.; BARICICH, A. Adjuvant treatments associated with botulinum toxin injection for managing spasticity: an overview of the literature. Ann Phys Rehabil Med., n. 62, p. 291-296, 2019. EXPLORE+ Para saber mais sobre as ferramentas que podem auxiliar na avaliação funcional da criança com PC, consulte: O Sistema de Classificação da Função Motora Grossa, ampliado e revisto (Gross Motor Function Classification System, GMFCS, E & R), no site do Centro de Estudos CanChild, da Mc Master University. A tradução para a língua portuguesa é fornecida pelo CanChild. O Sistema de Classificação da Habilidade Manual (The Manual Ability Classification System, MACS). A tradução do MACS para a língua portuguesa está disponível on-line. CONTEUDISTA Eloá Moreira Marconi CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); javascript:void(0);
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