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Introdução à geometria vetorial e suas aplicações APRESENTAÇÃO No dia a dia, as pessoas estão acostumadas a expressar informações por meio de quantificadores numéricos, certo? Por exemplo, a temperatura, a distância ou a velocidade. Algumas vezes, além do quantificador, é preciso especificar outros componentes. Nesse caso, além da velocidade de um elemento, é possível especificar a direção e o sentido. Esse tipo de informação requer uma notação própria e alguma atenção no momento em que as operações aritméticas são realizadas. Essas questões relacionadas a essa categoria de quantificador numérico são denominadas vetores. Um fator motivacional relacionado aos vetores é que, por meio deles, é possível resolver problemas nas mais variadas áreas, tais como Matemática, Física, Engenharia, Computação, entre outras. Além disso, os vetores são usados extensivamente em todas as múltiplas facetas no desenvolvimento de jogos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar o conceito de vetores e suas representações. Irá aprender como realizar operações entre vetores e, ainda, a reconhecer aplicações de vetores nas áreas de Matemática e Física. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar vetor e suas representações.• Realizar operações entre vetores.• Reconhecer aplicações de vetores nas áreas de Matemática e Física.• DESAFIO Uma das aplicações da geometria vetorial é o deslocamento de personagens ou objetos de um jogo. O desafio proposto traz uma aplicação específica para movimentar personagens considerando um destino específico. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Com base nessas informações, calcule a posição estimada após 04 segundos considerando as especificações e o sentido de deslocamento do gato (considere o percurso uma linha reta). INFOGRÁFICO As operações aritméticas que envolvem números reais devem respeitar algumas propriedades, e isso também ocorre nas operações vetoriais. As propriedades ou leis das operações ajudam a entender as equações mais complexas; além disso, outras propriedades podem ser derivadas das propriedades clássicas. Neste Infográfico, você verá as principais propriedades das operações vetoriais. CONTEÚDO DO LIVRO Um vetor representa um segmento de reta que, além de fornecer seu valor numérico, também contém informação da direção e do sentido em que atua. Posição, velocidade, aceleração e deslocamento são exemplos de grandezas ditas vetoriais. Dadas essas possibilidades de informações que um vetor fornece, você pode imaginar as possiblidades de problemas que podem ser resolvidos com o uso de vetores. No capítulo Introdução à geometria vetorial e suas aplicações, da obra Recursos matemáticos aplicados em jogos, você irá estudar todas as questões envolvendo notação e operação de vetores, tais como cálculo da magnitude, módulo, vetor unitário, produto escalar e demais cálculos aritméticos. Boa leitura. RECURSOS MATEMÁTICOS APLICADOS EM JOGOS Clicéres Mack Dal Bianco Introdução à geometria vetorial e suas aplicações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conceituar vetor e suas representações. � Realizar operações entre vetores. � Reconhecer aplicações de vetores nas áreas de matemática e física. Introdução Neste capítulo, você verá que quantidades numéricas resultantes da geometria, da física e da engenharia são divididas em duas categorias. Algumas delas podem ser descritas usando um único valor, mas outras quantidades só podem ser completamente descritas se associadas a outras características, por exemplo: primeiro, a diferença entre dois pon- tos no espaço é representada pela distância entre ambos (magnitude) e a direção que um dos pontos aponta para outro, ou seja, sabe-se a distância dos pontos e em que direção estão se deslocando; segundo, a força agindo sobre um objeto é representada tanto pela magnitude como pela direção em que é aplicada. Essa categoria é representada pelos vetores, pois a partir deles é possível descobrir, além de um dado quantificador, as características, como o sentido e a direção. Essas características ou componentes são úteis em diversas situações e em diferentes áreas do conhecimento, como matemática e física. 1 Vetores: definições e representações Inicialmente, é necessário conceituar um vetor. Os profissionais das ciências exatas e engenharias diferenciam dados numéricos em dois tipos: os escalares e os vetores. Os escalares são quantidades que podem ser descritas simplesmente por valor numérico, enquanto os vetores requerem, além do valor numérico, um sentido e uma direção. Por exemplo, o carro andou a uma velocidade de 50 km por hora. Assim, é possível se referir à rapidez que o carro se locomoveu e nada mais. Nesse caso, trata-se de uma informação escalar. Quando alguém diz “o carro andou a 50 km no sentido leste”, há duas informações, “50 km” e “leste”. Em um sistema de coordenadas cartesiano, pode-se dizer que essa velocidade é dada pelo ponto (50,0), conforme a Figura 1. Figura 1. Vetor (50,0) projetado no plano cartesiano. Portanto, comprimento, velocidade escalar e temperatura são exemplos de grandezas escalares. Velocidade e força são exemplos de grandezas vetoriais, pois requerem um número que diga “quanto” e “para onde”. Introdução à geometria vetorial e suas aplicações2 Os vetores costumam ser representados, por engenheiros e matemáticos, em duas dimensões, no espaço bidimensional, ou três dimensões, no espaço tridimensional, por setas. A direção e o sentido da seta especificam a direção e sentido do vetor, enquanto o ângulo que essa seta é traçada define seu sentido, como ilustra a Figura 2a. O comprimento da seta determina seu comprimento ou magnitude. É possível observar ainda, conforme a Figura 2b, que o comprimento da seta (magnitude) foi alterado, multiplicando o vetor por um escalar, alterando, assim, sua magnitude. Além disso, se o valor desse escalar é negativo, a direção na qual o vetor aponta é revertida e a seta é movida pelo lado oposto (ponta da seta). Figura 2. (a) Magnitude e direção de um vetor. (b) Segmentos de linha representando vetores. Fonte: Adaptada de (a) Rabin (2013) e (b) Khan Academy ([2017?]). Então, pode-se concluir que um vetor é determinado por seu ponto inicial e por sua extremidade. Por exemplo, o vetor v, ilustrado na Figura 3a, tem ponto inicial na origem (0, 0) e extremidade em (6, 5). Outro exemplo pode ser observado na Figura 1a, que tem ponto inicial na origem (0, 0) e extremidade em (50, 0). De acordo com Axler (2016), algumas vezes, um vetor é especificado indi- cando apenas a extremidade, assumindo que seu ponto inicial seja a origem. Por exemplo, o vetor v mostrado anteriormente pode ser identificado como (6, 5), entendendo que a origem é seu ponto inicial. Ou seja, algumas vezes se pensa em (6, 5) como um ponto no plano das coordenadas e outras vezes em (6, 5) como o vetor que parte da origem e vai até esse ponto. 3Introdução à geometria vetorial e suas aplicações Vetores com os mesmos comprimentos (magnitude), sentidos (setas apontam para o mesmo sentido) e direções (suas retas são paralelas) são ditos equiva- lentes, como o que é ilustrado na Figura 3b, apresentando os vetores v e w que, embora estejam em posições diferentes, são considerados equivalentes, pois deve se considerar os componentes comprimento, sentido e direção, não incluindo a posição. Esse exemplo pode ser denotado como v = w. Figura 3. (a) Coordenadas determinando um vetor. (b) Exemplo de vetores equivalentes. Fonte: (b) Adaptada de Axler (2016). As operações com vetores dependem da direção e do sentido entre eles. Existem várias convenções para se estabelecer sentido e direção. Direção é dada pelo sistema de coordenadas (x, y e z), em que o vetor é projetado. Sentido pode ser indicado pela extremidade daseta e pode variar entre positivo ou negativo, leste, oeste, norte ou sul. Para diferenciar vetor de escalar, em equações e textos, são utilizadas letras minúsculas em negrito, tais como v e u. Algumas literaturas trazem uma seta em cima da letra, que denota vetor (v→). Neste capítulo, será adotada a primeira terminologia para denotar as grandezas vetoriais. Introdução à geometria vetorial e suas aplicações4 Observe as diferenças entre um ponto e um vetor relacionadas a seguir. Em termos numéricos, podem ser a mesma coisa, mas com semântica diferente. Ponto (P) Vetor (v) Representa uma posição Representa um deslocamento Não tem sentido Tem sentido Não tem direção Tem direção Não tem magnitude Tem magnitude Tem posição Não tem posição específica Vamos comentar a questão da posição e deslocamento: se você deseja especificar uma posição, por exemplo, um lugar A com latitude = 23 e longitude = 46, irá projetar um ponto (23, 46). Agora, para denotar um deslocamento entre A (23, 46) e B (50,50), precisará deslocar 27 unidades no eixo x e 4 unidades em y, resultando em [27,4], o que é diferente de um ponto C na posição (27,4). Matematicamente, é possível associar pontos e vetores da seguinte forma: � A − B = v � A + v = B � v + n = z 2 Aritmética de vetores Para a adição vetorial entre dois vetores, v e w, ilustrada na Figura 4a, realiza- -se colocando o início de w no final de v e, desse modo, resultando em novo vetor, que começa em v e termina em w, como mostra a Figura 4b. De acordo com Rabin (2013), se considerar cada vetor como a distância e a direção ao longo das quais se pode percorrer, então, essa soma representa a distância acumulada e a direção que seria percorrida se primeiro se percorresse ao longo de v e, em seguida, ao longo de w. Efetivamente, a adição é realizada entre os 5Introdução à geometria vetorial e suas aplicações componentes correspondentes. Se v = (a, b) e w = (c, d), então v + w = (a + c, b + d). Essa correspondência é válida para n-dimensões. Assim, também se está manipulando os componentes de um vetor. O número de componentes corresponde à dimensão de um vetor. Em geral, refere-se aos componentes x, y e z do vetor. Já na subtração será percorrido um trajeto ao longo do vetor subtraído na direção oposta. Nesse caso, a diferença entre v e w é formada pela inversão da direção de w, como mostra a Figura 4c. Se v = (a, b) e w = (c, d), então v – w = (a – c, b – d). Figura 4. (a) Dois vetores v e w. (b) A soma de dois vetores, v e w, é dada pela concatenação desses vetores. (c) A diferença entre dois vetores é dada pela inversão da direção que w aponta. Fonte: Adaptada de Axler (2016). Adicionamos ou subtraímos os componentes individuais de dois vetores desde que tenham a mesma dimensão. Se v e w são n-dimensionais, tal como: v + w = V1 + w1, V2 + w2, ... , Vn + wn) v – w = V1 – w1, V2 – w2, ... , Vn – wn) Os índices 1, 2, ..., n denotam a posição dos componentes no vetor. Em três dimensões, esses índices teriam o mesmo significado que x, y e z. Introdução à geometria vetorial e suas aplicações6 Agora, será analisado o que ocorre quando se multiplica um vetor por um escalar. A palavra escalar é utilizada para enfatizar que uma quantidade é um número e não um vetor. A multiplicação por escalar resultará em um vetor. Suponha-se que v seja um vetor e t seja um número real, então, se v = (a, b), logo, vt = (ta, tb). É possível observar que cada componente é multiplicado pelo mesmo escalar. Na maioria das vezes, o interesse é saber o comprimento de um vetor. O comprimento também é conhecido como magnitude. Se v = (a, b) en- tão . Para um vetor v tridimensional, a magnitude é dada por . Nesses casos, a magnitude v pode ser pensada como a distância da origem. As barras diante v são a notação para módulo, o que signi- fica que o resultado faz parte de R (conjunto de números reais não negativos). A fórmula utilizada para o cálculo da magnitude é o teorema de Pitágo- ras. Segundo Rabin (2013), a distância entre dois pontos p e q corresponde ao comprimento (magnitude) de p – q, uma vez que a diferença é o vetor cuja direção e comprimento representam o caminho direto iniciando em p e terminando em q. Ressalta-se que a multiplicação por um escalar altera a magnitude de um vetor. Outra questão envolvendo a magnitude diz respeito a vetores com magni- tude igual a 1 ou uma unidade de comprimento. Vetores com essa magnitude são denominados normalizados, muito úteis no desenvolvimento de jogos. De acordo com Lengyel (2012), o termo vetor normal também existe e se refere à propriedade independente em que a direção de um vetor é perpendicular a uma superfície. Um vetor normal é, muitas vezes, tratado como se não carregasse informação de magnitude, mas puramente direção. A Figura 5 mostra essa ideia, em que as setas pretas são os vetores unitários, a circunferência tem raio 1 e o comprimento do vetor é desprezado, mantendo a direção. Inúmeras são as situações, em cenários de jogos, que o interesse é saber a direção de deslocamento dos personagens. Qualquer vetor v pode ser normalizado, basta dividi-lo por sua magnitude, tal como: 7Introdução à geometria vetorial e suas aplicações Figura 5. Vetores representados pelas setas cinzas e os unitários pelas setas pretas. Fonte: Tavares (2014, documento on-line). O circunflexo, na equação que define o vetor normalizado, é uma notação comum para indicar que o vetor tem magnitude igual a 1. Os vetores î, ĵ, k̂ são, normalmente, utilizados para indicar vetores alinhados com três eixos das coordenadas. O produto escalar entre vetores é uma operação entre dois vetores que resulta em um escalar. Logo, dado dois vetores v e w e seus componentes, tal como segue: v = (v1, v2, v3) e w = (w1, w2, w3). Então p será: p = v ⋅ w = ∑ni=1 vi ⋅ wi, ou seja, considerando um vetor tridimensional, p se torna: p = v1 · w1 + v2 · w2 + v3 · w3 A definição geométrica do produto escalar de dois vetores v e w é dada pelo produto dos módulos multiplicado pelo cosseno do ângulo entre eles, ou seja: v · w = ||v||||w|| cos θ Introdução à geometria vetorial e suas aplicações8 Onde o ângulo corresponde a um ângulo planar entre as duas direções para as quais os vetores v e w apontam. A partir do exemplo da Figura 6, em que o triângulo é formado pela subtração de v e w, é possível identificar o cosseno do ângulo entre esses vetores usando o produto vetorial. Essa equação pode ser verificada pela lei do cosseno. O produto escalar é fundamental para o cálculo de operações comuns na área de jogos, como o cálculo de ângulos, a projeção de um vetor na direção e sentido de outro, a projeção de um vetor numa direção perpendicular à di- reção de outro, a reflexão de um vetor em torno de outro e a distância de um ponto a um plano. Em todos esses cálculos, pode-se simplificar o problema considerando que o vetor de referência é unitário. Então, deve-se normalizar o vetor antes de fazer os cálculos. Figura 6. O produto escalar pode ser aplicado para verificar o cosseno do ângulo formado entre os vetores v e w. Fonte: Lengyel (2012, p. 16). Algumas considerações importantes surgem a partir da equação do produto escalar. A primeira é que v e w são perpendiculares se v · w = 0, devido ao fato que a função cosseno é zero em um ângulo de 90º. Outra questão é que os vetores cujo ponto escalar resulta em zero são ortogonais. 9Introdução à geometria vetorial e suas aplicações 3 Aplicações Até o momento, foram apresentados vetores e as equações relacionadas às suas operações de maneira muito genérica, ou seja sem exemplos de aplicação. A seguir, serão exemplificados alguns casos para demonstrar a aplicação dos vetores, focando nas áreas da matemática e física, pois, nesses casos, também há relação com o desenvolvimento de jogos. Os vetores estão presentes de maneira considerável na física, especialmente, na mecânica, em que grandezas físicas, como força e velocidade, podemser representadas por vetores. Na área da cinemática, é possível aplicar vetores para estimar ou calcular deslocamentos. Axler (2016) exemplifica o uso de vetores para encontrar a velocidade. Imagine um avião que estamos interessados em descobrir sua velocidade (rapidez). Dado que o vento na altitude do avião seja de 50 milhas (80 km) por hora (em relação ao solo), movendo-se a 20º para o sudeste. Relativamente ao vento, o avião está voando a 300 milhas (480 km) por hora em direção a 35° para o norte em relação ao vento. Para determinar a rapidez do avião, vamos considerar essas informações como sendo componentes de vetores. Então, vamos representar por w a velocidade do vento. Portanto, w tem magnitude 50 e orientação –20°. Isso implica que o vetor vento w tem coor- denadas (50 cos (–20°), 50 sen (–20°)). Seja a o vetor indicando o movimento do avião se não houver vento; esse vetor é denominado vetor velocidade no ar. Em relação ao vento, o avião está apontando 35° para o norte, o que significa que a tem módulo 300 e direção 15°. Então, o vetor velocidade no ar a tem coordenadas (300 cos 15°, 300 sen 15°). A Figura 7 ilustra os vetores plotados no gráfico. Figura 7. Vetores indicando a velocidade do vento (w) e o deslocamento do avião (a). Ao somar a + w é obtido o vetor g. Fonte: Axler (2016 p. 495). 80 40 a g W w 100 200 300 Introdução à geometria vetorial e suas aplicações10 A versão inferior de w tem seu ponto inicial no mesmo local que o ponto inicial de a. Pense nesse ponto como a origem. A segunda versão de w tem seu ponto inicial na extremidade de a, de tal forma que podemos visualizar a soma g = a + w. Seja g o vetor indicando o movimento do avião em relação ao solo; esse vetor é denominado vetor velocidade em relação ao solo. As propriedades do movimento implicam que a velocidade em relação ao solo é igual ao ve- tor velocidade em relação ao ar adicionado do vetor velocidade do vento. Em outras palavras, g = a + w. Em termos de coordenadas, tem-se (observação: os valores dos cosθ são obtidos com auxílio de calculadora): g = a + w = (300 cos 15°, 300 sen 15°) + (50 cos 20°, −50 sen 20°) = (300 cos 15° + 50 cos 20°, 300 sen 15° − 50 sen 20°) ≈ (336,762, 60,5447). Agora, a rapidez do avião em relação ao solo é o módulo de g: Logo, relativamente ao solo, o avião está viajando a aproximadamente 342,2 milhas (547,52 km) por hora. Agora, serão ilustrados alguns exemplos na área da matemática, especifi- camente, no campo da álgebra, focando no produto escalar. O produto escalar é a multiplicação entre vetores. Assim, será apresentada uma das aplicações mais comuns: o ângulo formado entre dois vetores é dado pelo produto escalar. Então, dada a equação geométrica do produto escalar, v · w = ||v||||w|| cosθ, pode-se isolar o cosseno do ângulo, de modo que: Para exemplificar, considere os vetores e seus componentes v = (2,1, −2) e w = (4, 4,2). Vamos substituir os valores da equação na v · w = ||v||||w|| cosθ: Resolve-se o lado esquerdo: v . w = (2,4 + 4,1 + −2,2) => 8 11Introdução à geometria vetorial e suas aplicações Calcula-se o módulo do vetor v: Calcula-se o módulo de w: Substituem-se esses valores na equação: v · w = ||v||||w|| cosθ 8 = 3,6 cos θ 8 = 18 cos θ cosθ = 0,44 Segundo Kreyszig (2013), esse resultado permite classificar o ângulo formado por dois vetores. Essa classificação é interessante, pois permite determinar o sentido de deslocamento dos objetos, conforme a seguir: � se v · w > 0, então cosθ > 0, logo, o ângulo é agudo; � se v · w < 0, então cosθ < 0, logo, o ângulo é obtuso; � se v · w = 0, então cosθ = 0, logo, o ângulo é reto. Esses ângulos são apresentados na Figura 8. Voltando ao resultado anterior- mente obtido, cosθ = 0,44, nesse caso, é classificado como agudo, além disso, pode-se inferir que os dois vetores estão se deslocando no mesmo sentido. Introdução à geometria vetorial e suas aplicações12 Figura 8. Alguns exemplos de ângulos formados por dois vetores. Como exemplo na área da geometria, será apresentado o cálculo da distância de um ponto para uma linha. Dado que o ponto seja uma formiga, é necessário verificar qual a distância entre ela e a borda de uma janela. É possível realizar esse cálculo utilizando o produto escalar. Suponha que o ponto (a formiga) se encontra na extremidade do vetor v. Será necessário realizar uma projeção do vetor, ilustrado pela seta azul na Figura 9, e subtrair dele sua componente perpendicular ao vetor que se deseja projetar. Figura 9. Projeção sobre a reta w permitindo o cálculo de d. Fonte: Adaptada de Rabin (2013). A proj é a projeção do vetor v sobre o vetor w. Podemos escrever a projeção como proj = d w. Subtraindo essa projeção do vetor v encontraremos um vetor perpendicular a w, o que implica que o seguinte produto escalar é nulo. (v – dw) · w = 0 13Introdução à geometria vetorial e suas aplicações Das propriedades: v · w – d(ww) = 0 v · w – d(w) = 0 d = Isso resulta na seguinte fórmula: Voltando ao nosso exemplo, considere v o ponto e w a linha v = (1,2,7) e w = (2,1,2). Aplicando a fórmula, teremos a projeção: Diante do vetor da projeção, pode-se calcular a magnitude (d) entre essa projeção e o v (formiga), para obter a distância entre elas. Para isso, utilizaremos a equação da distância: d = 3,60 Encontra-se, assim, a distância entre a formiga e a borda. Outra questão que não pode deixar de ser abordada é a aplicabilidade da regra do paralelogramo para a adição de vetores. Nesse caso, será feita uma conexão com a área da física. Introdução à geometria vetorial e suas aplicações14 Segundo os autores Anton e Busby (2007), se v e w são vetores que estão posicionados de tal modo que seus pontos iniciais coincidem, então, os dois vetores formam lados adjacentes de um paralelogramo. Assim, a soma v + w é o vetor representado pela seta desde o ponto inicial comum de v e w até o vértice oposto do paralelogramo, conforme a Figura 10a. Observe que a regra descreve corretamente o comportamento aditivo de forças, velocidades e deslocamentos na física. Por exemplo, o efeito de se aplicar as duas forças, representadas por F1 e F2, ao bloco da Figura 10b, é o mesmo que aplicar a única força F1 + F2 ao bloco (os sentidos das setas indicam o sentido que a força está sendo aplicada). Da mesma forma, se o motor do barco da Figura 10c atribui uma velocidade v e o vento uma velocidade w, então, o efeito combinado de motor e vento impõem a velocidade v + w ao barco. Figura 10. A regra do paralelogramo sendo aplicada na soma dos vetores. Fonte: (b) Adaptada de Anton e Busby (2007). Outro foco da física diz respeito aos deslocamentos de partículas. Considere uma partícula que se move ao longo de um caminho de um ponto a a um ponto b no plano (espaço bidimensional ou tridimensional). Então, a distância em linha reta entre a e b, junto com a direção entre a e b e o sentido de a para b, formam uma quantidade vetorial denominada vetor deslocamento de a e b, como ilustra a Figura 11. O vetor deslocamento descreve a mudança posicional da partícula sem levar em conta o particular trajeto que a partícula percorre entre as posições inicial e final. 15Introdução à geometria vetorial e suas aplicações Figura 11. Deslocamento de a para b. Fonte: Adaptada de Anton e Busby (2007). Os exemplos de aplicações envolvendo vetores são inúmeros. Por exemplo: um sistema mecânico, em que seis partículas se movem ao longo da mesma reta coordenada de tal modo que no instante t suas coordenadas são x1, x2, ... , x6 e suas velocidades são v1, v2, ... , v6, respectivamente. Essas informações podem ser representadas pelo vetor v = (x1,x2,x3,x4,x5,x6,v1,v2,v3,v4,v5,t). O vetor será denominado o estado do sistema de partículas no instante t. Enfim, é possível listar inúmeros outros exemplos relacionados à força, torque, conversão de sistemas 3D para 2D, entre outros. ANTON, H.; BUSBY, R. Álgebra linear contemporânea. São Paulo: Bookman,2007. AXLER, S. Pré-cálculo: uma preparação para o cálculo. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. KHAN ACADEMY. Vector magnitude and direction review. [2017?]. Disponível em: https://www.khanacademy.org/math/precalculus/x9e81a4f98389efdf:vectors/ x9e81a4f98389efdf:component-form/a/vector-magnitude-and-direction-review. Acesso em: 11 mar. 2020. KREYSZIG, E. Matemática superior para engenharia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC. 2013. 3 v. LENGYEL, E. Mathematics for 3D game programming and computer graphics. 3rd ed. Boston: Cengage Learning, 2012. RABIN, S. Introdução ao desenvolvimento de games. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. 2 v. TAVARES, A. Revisão álgebra linear (básico e visual). 2014. Disponível em: http://vision. ime.usp.br/~acmt/hakyll/posts/2014-03-07-linear-algebra.html#magnitude. Acesso em: 11 mar. 2020. Introdução à geometria vetorial e suas aplicações16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Introdução à geometria vetorial e suas aplicações DICA DO PROFESSOR Em alguns casos, a aritmética de vetores produz um resultado que é um escalar (como no cálculo da magnitude e do produto escalar). Em outras situações, é necessário que o resultado seja um vetor. Essa necessidade é comum em: - sistemas tridimensionais para identificar se um ponto pertence a um plano, em técnicas de iluminação e conversão de uma vista em perspectiva (3D) para um dispositivo (2D); - cálculos de áreas de figuras geométricas; - situações envolvendo características físicas como a força e o torque. Nesta Dica do Professor, você irá conhecer o produto vetorial que multiplica vetores e produz um vetor como resultado. Esse produto tem muitas aplicações nas áreas de Física e Matemática e na área de jogos. O produto vetorial permite realizar a multiplicação entre vetores, e o resultado será também um vetor. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Uma grande diferença entre produto escalar e produto vetorial é que o produto vetorial produz um vetor como resultado, já o produto escalar irá produzir um escalar (um número). Além disso, o produto vetorial exige que ambos os vetores sejam tridimensionais. É amplamente empregado para calcular a área de paralelogramo, bem como em conversão de sistema 3D para 2D. Diante disso, considere os dois vetores a = ⟨2,1,-1⟩ e b = ⟨-3 ,4 ,1⟩, resolva as alternativas a seguir e marque a alternativa correta: i) a × b ii) b x a A) i = (10,12,20); ii = (-10,-12,-20)• B) i = (5,1,11); ii = (-5,-1,-11) C) i = (1,6,5); ii = (-1,-6,-5) D) i = (-3,-6,8); ii = (3,6,-8) E) i = (3,-1,11); ii = (-3,1,- Você já deve ter percebido que o produto escalar tem intepretação geométrica importante. Para calcular a área de um paralelogramo, também é possível determinar o volume de um paralelepípedo. Perceba que os vetores u, v e w formam o paralelepípedo. O produto vetorial de u e v forma um vetor perpendicular. O módulo desse vetor refere-se à área. Para o volume, precisamos realizar a seguinte operação: 2) V = |w· (u x v)| Essa operação também é denominada pelo produto mitro (usa 0 produto vetorial e o escalar). Diante disso, você recebeu a missão de encontrar o volume de um paralelepípedo dado pelos seguintes vetores: w = <6,3-4>, v = <0,2,1>, u = <5, -1, 2>. Calcule o volume do paralelepípedo e marque a alternativa correta: A) 85. B) 110. C) 320. D) 75. E) 15. 3) Você recebeu um mapa de um labirinto e precisa se deslocar entre uma porta até uma provável saída. Nesse trajeto, é necessário que se caminhe 480m em certa direção e 200m em uma direção perpendicular à primeira. Calcule a distância em linha reta da porta até a saída. Marque a alternativa correta: A) 700. B) 520. C) 500. D) 220. E) 300. 4) O deslocamento de elementos é uma prática comum em um cenário de jogo, tanto para demonstrar movimentação quanto para criar animações. Em alguns momentos, também é necessário calcular os deslocamentos. Agora, veja um exemplo de deslocamento da forma A para B usando um vetor v = (m,n). Encontre os valores de m e n. A) (3,3). B) (-2,3). C) (0,-5). D) (0,5). E) (4,-6). 5) Várias são as operações possíveis usando vetores. Uma dessas operações é o produto escalar, um recurso muito utilizado dentro da Geometria. Você recebeu dois vetores, a e b, e precisa calcular o escalar ou produto escalar entre eles. Qual seria a resposta a = <i+ 2j- 3k> e b =<2i – j + k>? A) - 7. B) -8. C) 6. D) -3. E) 12.• NA PRÁTICA Alguns recursos provenientes do uso de vetores são fundamentais para se resolver inúmeras situações. Essa situação é bem recorrente também em jogos, em que é preciso identificar, por exemplo, a direção em que um inimigo está se locomovendo. Neste Na Prática, você verá um exemplo do uso de vetores. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O produto vetorial Veja, a seguir, alguns detalhes sobre as propriedades do produto vetorial. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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