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Título do Tema Sempre Dentro do Triângulo Verde (máximo 4 linhas) NOME DO AUTOR NO TRIÂNGULO INTRODUÇÃO AO DIREITO MARÍLIA RODRIGUES MAZZOLA Unidade 3 – Noções Gerais de Direito Civil 2 Introdução As relações da vida em sociedade demandam a existência de regramentos específicos para cada situação vivida por seus membros. Essas relações são reguladas pelo direito civil, um ramo do direito que abrange desde direitos e obrigações advindas antes ou após o nascimento e, inclusive, com a morte. Assim, nesta unidade, trataremos dos principais preceitos que regulam o direito civil, de família e sucessório. Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você possa: • Apresentar os conceitos gerais do direito civil. • Abordar os conceitos gerais do direito de família. • Explorar os conceitos gerais do direito sucessório. 3 Direito Civil A vida em sociedade demanda que seus desdobramentos sejam regidos por regras e procedimentos, de modo a se manter a ordem e organização de uma nação. O direito civil nasce justamente para regulamentar os direitos e as obrigações dos indivíduos que vivem em sociedade desde sua concepção até a morte. No ordenamento jurídico brasileiro, é o Código Civil (BRASIL, 2002) que norteia e prevê as regras que devem ser seguidas pelos indivíduos dotados de personalidade jurídica. O Código Civil é a lei dos homens Fonte: Deduca (2022). #pratodosverem: foto de uma balança, um livro aberto e um malhete simboli- zando o Código Civil e a regulação da lei dos homens. Nesse sentido, relações de família, patrimoniais, contratuais e muitas outras estão previstas no Código Civil, conhecido popularmente como a “Lei dos homens”. Personalidade Jurídica Para que o indivíduo seja dotado de personalidade jurídica, é necessário que seja possível contrair obrigações e exercer seus direitos. Nosso ordenamento jurídico detalha de forma específica quando essa personalidade efetivamente se inicia. 4 Artigo 2º da Lei no 10.406/2022 (BRASIL, 2002) prevê que o indivíduo é dotado de personalidade jurídica com o nascimento com vida, destacando, expressamente, a tutela aos direitos do nascituro desde a sua concepção. Nascimento com vida o direito brasileiro adotou a teoria concepcionalista, ou seja, para que haja personalidade civil, é necessário o nascimento com vida. Direitos do nascituro apesar da teoria concepcionalista, o nascituro tem alguns direitos antes de nascer, entre eles podemos citar a vida e os alimentos. Observe como o Código Civil reconhece que o sujeito dotado de personalidade jurídica pode ter ou não capacidade de exercer os atos da vida civil. Existem alguns Projetos de Lei em tramitação no Brasil, assim, vale o acompanhamento de seus desdobramentos, como a instituição do Estatuto do Nascituro (PL no 434/2021). Atenção O Código determina que todas as pessoas são capazes, exceto os absolutamente incapazes (os menores de 16 anos) e os relativamente incapazes (os maiores de 16 anos e menores de 18, os ébrios e viciados, os pródigos e os que não possam exprimir sua vontade), nos termos dos artigos 3, 4 e 5, da Lei nº 10.406/2022 (BRASIL, 2002). 5 Contratos , direitos e capacidade civil Fonte: Freepik (2022). #pratodosverem: duas mãos se cumprimentam e embaixo há um papel de contrato. Portanto, a capacidade determina que aquele indivíduo está apto para exercer sua vida em sociedade, inclusive, respondendo pelos atos contrários à lei, a chamada “maioridade penal”. A personalidade jurídica, um dos institutos tratados pelo Código Civil, é, então, elemento essencial para o exercício de atos da vida civil, como a celebração de contratos, casamento, criação de sociedades, entre outros. Do Domicílio O domicílio de uma pessoa física, naturalmente remete à localização do seu lar, sua casa, o local onde sua vida privada acontece, mas para o direito nem sempre é assim. Os artigos 70 a 73, do Código Civil, reconhecem, como regra, que o domicílio de uma pessoa será o lugar onde ela estabelece sua residência (com ânimo definitivo, local onde se demonstre estabilidade) ou, para fins trabalhistas, o lugar onde se exerce a profissão (BRASIL, 2002). 6 Existe uma diferença doutrinária em relação aos conceitos de moradia e residência, nesse sentido se deve observar que o primeiro tem o ânimo provisório ou transitório, já o último denota a estabilidade de lar, o ânimo definitivo e de segurança Atenção Contudo, existem algumas situações específicas que a norma prevê: (i) se a pessoa tiver diversas residências: qualquer uma delas será considerada seu domicílio; ou (ii) se a pessoa não tiver residência habitual: seu domicílio será considerado o lugar onde for encontrada. Além do exposto, para as pessoas jurídicas, o Código Civil prevê no artigo 75 o seguinte regramento para a instituição do domicílio: Regramento para instituição do domicílio Pessoa jurídica Domicílio Entes da União Distrito Federal Entes estaduais e de território As capitais Entes municipais Local da administração Demais pessoas jurídicas Local definido no estatuto ou ato constitutivo, ou onde opera a diretoria e administração Fonte: adaptado de Brasil (2002). O que se verifica é que a questão do domicílio é importante não só para as pessoas físicas, mas também para as pessoas jurídicas, sejam elas de direito privado (como empresas, sociedades), ou de direito público, como as entidades e os órgãos da Administração Pública e representantes do estado e governo. 7 O Código Civil prevê, no artigo 76, algumas particularidades para determinar o domicílio necessário, ou seja, determinado por lei, de pessoas que exercem funções específicas e de pessoas privadas de sua liberdade, vejamos: (i) do servidor público: o lugar onde exercer suas funções; (ii) do militar: local onde servir; (iii) do militar da Marinha ou da Aeronáutica: a sede do comando a que esteja subordinado; (iv) do marítimo: local onde o navio estiver matriculado; e (v) do preso: local onde estiver cumprindo pena. Curiosidade A instituição do domicílio de uma pessoa, possibilita que ela seja identificável e localizada para qualquer finalidade em direito admitida, inclusive, sendo considerado como uma condição favorável para quem pratica um crime. Dos Bens Os bens são as coisas que têm valor econômico ou jurídico, aquele que, de alguma forma, poderá ser objeto de uma relação jurídica. No ordenamento jurídico brasileiro, os bens são classificados da seguinte forma: (i) bens considerados em si mesmos; (ii) bens reciprocamente considerados; e (iii) bens públicos e privados. Segundo o código, eles são conceituados da seguinte forma: a. Bens considerados em si mesmos: (i) imóveis e móveis; (ii) fungíveis e infungíveis; (iii) consumíveis e inconsumíveis; (iv) divisíveis e indivisíveis; e (v) singulares e coletivos. b. Bens reciprocamente considerados: (i) principal e acessório. Bens públicos e privados. (COELHO, 2012). Dos Bens Imóveis Os bens imóveis são aqueles que não podem ser levados de um lugar para o outro, são os bens compostos pelo solo e por tudo que fizer parte dele, naturalmente ou artificialmente, como as casas e edificações. 8 Bens Fonte: Freepik (2022). #pratodosverem: uma maquete de casa equilibrada em cima de moedas e cédulas monetárias, de duas mãos em forma de concha ao lado da maquete e um caderno. O Código Civil prevê, no artigo 80, que os direitos reais sobre imóveis (usufruto, habitação etc.) e ações, além do direito à sucessão aberta (artigo 1.793, do Código Civil (BRASIL, 2002)), são considerados bens imóveis. Dos Bens Móveis Os bens móveis são aqueles que podem ser levados de um lugar para o outro, que têm movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social, nos termos do artigo 82 do CC (BRASIL, 2002), como veículos automotores, animais, roupas, dispositivos informáticos, eletrodomésticos, móveis de escritório ou casa etc.As energias, direitos reais sobre objetos móveis e ações correspondentes e os direitos pessoais de caráter patrimonial também são considerados bens móveis por força da determinação legal prevista no artigo 83 do CC (BRASIL, 2002). Dos Bens Fungíveis Os bens fungíveis são os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade ou quantidade, como dinheiro (artigo 85, do Código Civil, (BRASIL, 2002)). 9 Dos Bens Infungíveis Os bens infungíveis são aqueles que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade ou quantidade, como uma obra autoral (livros, músicas), obras de artes, artefatos artesanais, determinado animal premiado e único. Bens Consumíveis e Inconsumíveis Os bens consumíveis são definidos no artigo 86, do Código Civil (BRASIL, 2002), como os bens móveis que o uso importa destruição imediata da própria substância (os alimentos) e os destinados à alienação (as mercadorias vendidas em supermercados, lojas e comércio em geral). Ao contrário dos consumíveis, os bens inconsumíveis não importam na destruição imediata da própria substância, portanto, são aqueles que seu uso e durabilidade são continuados e não perecem. Bens Divisíveis e Indivisíveis Os bens divisíveis podem ser fracionados ou divididos sem que haja alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam (artigo 87, do Código Civil, (BRASIL, 2002)), como saco de café e a água. Já os bens indivisíveis não podem ser fracionados, como celular, computador, animal e até mesmo herança. É importante ressaltar que os bens naturalmente divisíveis podem se transformar em bens indivisíveis por força de determinação legal ou por vontade das partes, conforme elucida o artigo 88, do Código Civil (BRASIL, 2002). Bens Singulares e Coletivos Os bens singulares, de acordo com os artigos 89, 90 e 91, do Código Civil (BRASIL, 2002), são caracterizados por sua individualidade (uma obra de arte, um relógio, uma caneta, um animal), já os bens coletivos se caracterizam pela composição de vários bens singulares, como uma galeria de arte que tem um acervo de diversas obras de arte. Bens Principais e Acessórios O bem acessório presume a existência de um bem principal, como acontece, por exemplo, com os frutos (acessório) advindos de determinada árvore (principal), ou 10 até mesmo o recebimento de aluguéis, fruto da existência de um bem principal, o imóvel, nos termos dos artigos 92 e seguintes, do Código Civil (BRASIL, 2002). Bens públicos e privados O ordenamento jurídico brasileiro prevê que os bens públicos são aqueles que pertencem às pessoas jurídicas de direito público (União, estados, Distrito Federal, territórios, municípios, autarquias, associações públicas e outros entes definidos em lei, conforme determina o artigo 41, do Código Civil (BRASIL, 2002). Praças – bens públicos Fonte: Freepik (2022). #pratodosverem: uma praça com um lago, árvores e um coreto. Ao fundo, prédios. Nesse sentido, o artigo 99, do Código Civil (BRASIL, 2002) determina que bens de uso comum do povo (p. ex., ruas, praças, praias etc.), de uso especial (por exemplo, edifícios da administração pública) e dominicais (bens que compõem o patrimônio público, p. ex., títulos da dívida pública) são considerados públicos. 11 Classificação dos bens Bens Imóveis Móveis Fungíveis Infungíveis Consumíveis Inconsumíveis DivisíveisIndivisíveis Singulares Coletivos Principais Acessórios Públicos Privados Fonte: adaptado de Brasil (2002). #pratodosverem: a ilustração mostra os bens de acordo com sua classifica- ção. No centro, a palavra “bens”. Em seu entorno, os diferentes tipos de bens. Começando da esquerda para a direita, acima de “bens” está a palavra “Imó- veis”. Na sequência, as seguintes palavras: “Móveis”, “Fungíveis”, “Infungí- veis”, “Consumíveis”, “Inconsumíveis”, “Divisíveis”, “Indivisíveis”, “Singulares”, “Coletivos”, “Principais”, “Acessórios”, “Públicos” e “Privados”. Família O direito de família é o instituto que regulamenta as relações de família desde questões patrimoniais até mesmo demandas de guarda, poder familiar e filiação. A instituição familiar e seus desdobramentos mudam conforme a sociedade também muda, e o direito deve acompanhar e auxiliar os membros da família a exercer seus direitos e obrigações. 12 A Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 e o Código Civil de 2002 transformaram, definitivamente, o conceito da instituição e família, observando e respeitando a dignidade da pessoa humana e a liberdade de escolha dos membros que a compõem. Tanto é assim que há reconhecimento de direitos dos adotados na Constituição Federal e possibilidade de constituição de famílias diversas segundo decisões judiciais, que respeitam a diversidade da contemporaneidade. O Código Civil de 1916 consolidava a instituição familiar patriarcal, prevendo, expressamente, que o marido figurava como chefe, administrando os bens, representando a família legalmente e constituindo obrigação individual de sustentar a entidade familiar. Tipos de Família Com as mudanças da sociedade, o Poder Judiciário começa a enfrentar demandas específicas sobre o que é, efetivamente, uma família, de que forma é constituída e quem faz parte desse núcleo. Para conceituar o que é uma família e como ela é reconhecida no direito, é preciso compreender que vivemos em um mundo que está em constante mudança, novas tecnologias, internet e redes sociais são ferramentas que influenciam nas escolhas e vontades das pessoas. No Código Civil em vigor (BRASIL, 2002), o casamento se realiza quando o homem e a mulher manifestam, perante o juiz ou por autoridade religiosa, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal e, assim, declarados casados. De certo que a condição de ser formada por homem e mulher deve ser atualizada e já foi objeto de Projeto de Lei, mas, até o ano de 2022, nada mudou no texto de lei. A legalidade da constituição do casamento e união estável por pessoas do mesmo sexo foi reconhecida a partir de uma decisão do Supremo Tribunal Federal em 2011 (Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI no 4277 e Arguição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF no 132). Atenção 13 A união estável é comparada ao casamento desde que seja configurada a convivência pública, contínua e duradoura com o objetivo de constituir uma família, nos termos do artigo 1.723, do Código Civil (BRASIL, 2002). O direito deve acompanhar as demandas dos indivíduos que vivem em sociedade, respeitando a liberdade de escolha, a evolução tecnológica e cientifica. Família Fonte: Plataforma Freepik (2022). #pratodosverem: ilustração de uma senhora, um menino de estatura média, um homem segurando uma menina no colo, uma mulher e um senhor com uma bengala, simbolizando uma família. A família pode ser advinda do casamento ou da união estável, também pode ser monoparental (um dos pais ou dependentes), anaparental (sem pais, apenas irmãos), unipessoal (apenas uma pessoa), reconstituída (pais separados que constituem nova família), paralela (casamento e união estável, ao mesmo tempo) e eudemonista (socioafetivas, sem vínculo consanguíneo). Os Regimes de Bens O casamento é o nascimento de uma relação jurídica que demanda obrigações e constitui direitos. Por isso, é concedido ao casal (nubentes) a liberdade de estabelecer, antes do casamento, o regime de bens que regulamentará seu patrimônio. Caso o regime não seja definido ou seja considerado nulo ou ineficaz, a regra estabelecida pelo ordenamento jurídico é a adoção do regime da comunhão parcial de bens (artigo 1.640, do Código Civil), inclusive para união estável. 14 Se o casal que constitui união estável não estabelecer formalmente o regime de bens, o Código Civil estabelece que a regra será a da comunhão parcial, conforme previsto no artigo 1.725. Atenção O Código Civil reconhece quatro tipos de regimesde bens: (i) comunhão parcial; (ii) comunhão universal; (iii) participação final nos aquestos; e (iv) separação de bens. Cada tipo de regime impactará em direitos e obrigações de cada cônjuge, inclusive de seus herdeiros. Sucessões O direito sucessório regulamenta a transferência/transmissão do patrimônio de uma pessoa física que morreu (de cujus) aos seus herdeiros. Esse patrimônio é constituído por uma universalidade de direitos e deveres, que correspondem à herança do falecido. Para definir quem são os herdeiros do patrimônio, é importante elucidar que existem duas espécies de sucessão, a legítima e a testamentária. A sucessão legítima é aquela estabelecida em lei, a qual o legislador prevê, expressamente e por ordem de preferência, quem são os herdeiros legítimos do falecido nos termos do artigo 1.829, do Código Civil. Os herdeiros legítimos são definidos como: descendentes, ascendentes, cônjuge sobrevivente e os colaterais. A sucessão testamentária é estabelecida por manifestação da vontade do proprietário do patrimônio que dispõe do todo ou de parte de seus bens aos herdeiros testamentários, aqueles definidos por si, no ato de testar. O ordenamento jurídico prevê que algumas pessoas poderão ser excluídas da sucessão por indignidade ou por deserdação. Por indignidade serão excluídos: (i) aqueles que foram autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso contra o de cujus; (ii) aqueles que cometerem os crimes de calúnia ou difamação contra o falecido ou seu cônjuge; e/ou (iii) aqueles que inibiram ou atrapalharam o falecido no ato de última vontade (testamento). Por deserdação, serão excluídos aqueles que o falecido manifestou sua vontade por testamento. 15 Conclusão A vida em sociedade e o direito são revistos a partir de mudanças tecnológicas, científicas e sociais. As relações instituídas na vida civil impactam, diretamente, nas situações vividas no passado, no presente e no futuro, inclusive após a morte de qualquer pessoa, daí a importância de se regulamentar e atualizar os regramentos de direito civil, direito de família e direito sucessório. As pessoas que vivem em sociedade, que constituem personalidade jurídica, que exerçam seus atos da vida civil, precisam de segurança jurídica, de regramentos que protegerão seus atos, vontades e patrimônio durante e após sua vida. 16 Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em 30 dez. 2022. BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406compilada.htm. Acesso em 30 dez. 2022. COELHO, FÁBIO ULHOA. Curso de direito civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1. GAGLIANO, P. S.; FILHO, R. P. Novo curso de direito civil: parte geral. 14. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1.
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