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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MOLÉCULAS, CÉLULAS, GÊNESE E NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DISCIPLINA: FORMAÇÃO CIENTÍFICA DOCENTE: MARÍLIA XAVIER ISNIA FERRAZ DOS SANTOS MARCOS EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS QUEREN HAPUQUE ALBUQUERQUE DE OLIVEIRA RAÍSSA VIEIRA DE SOUZA THIAGO SOUZA LUZ FICHAMENTOS DE ARTIGOS CIENTÍFICOS BELÉM-PA 2022 Fichamento do artigo: Avaliação do controle de hipertensão e diabetes na Atenção Básica: perspectiva de profissionais e usuários Evaluation of the control of hypertension and diabetes in primary care: perspective of professionals and users Francidalma Soares Sousa Carvalho Filha; Lídya Tolstenko Nogueira; Maria Guadalupe Medina. Resumo: O Plano de Reorientação da Atenção à Hipertensão e ao Diabetes, lançado pelo Ministério da Saúde (MS), representa uma importante ferramenta para a realização de ações que objetivam o acompanhamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e da diabetes mellitus (DM) nos indivíduos, de modo que a prevenção, o tratamento e a educação em saúde, assim como uma assistência sistematizada, resolutiva e individualizada são os principais compromissos dessa Política Pública de Saúde. Contudo , por meio de uma pesquisa por triangulação de métodos , que considerou tanto a conformidade das ações dos profissionais em relação ao que está orientado nos documentos do HiperDia, quanto a percepção de profissionais de saúde atuantes na Atenção Básica e a percepção de usuários, observou-se que o plano apresentado é permeado por grandes defasagens, ou sejam elas decorrentes do distanciamento do que é indicado nos protocolos do HiperDia, ou oriundas da dificuldade de acesso a medicamentos , exames e educação em saúde. Portanto, conclui-se por meio desse trabalho a necessidade de medidas que melhorem o referido plano em todos seus aspectos. CARVALHO FILHA, Francidalma Soares Sousa; NOGUEIRA, Lídya Tolstenko; MEDINA, Maria Guadalupe. Avaliação do controle de hipertensão e diabetes na Atenção Básica: perspectiva de profissionais e usuários. Saúde Debate, Rio De Janeiro, v. 38, n. Especial, p. 265-278, 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Hipertensão Arterial Sistêmica para o Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006b. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diabetes Mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2006a. ESPÓSITO, V. H. C. Formação como ação educativa: buscando sentidos – estudos de natureza fenomenológica e hermenêutica. In: SILVA, G. T. R.; ESPÓSITO, V.H. C. Educação e Saúde: cenários de pesquisa e intervenção. São Paulo: Martinari, 2011. p. 25-48. FERNANDES, M. C. P,; BACKES, V. M. S. Educação em saúde: perspectivas de uma equipe da Estratégia Saúde da Família sob a óptica de Paulo Freire. Rev Bras Enferm, Brasília, DF, v. 63, n. 4, p. 567-573, jul./ago., 2010. MINAYO, M. C. S. Conceito de avaliação por triangulação de métodos. In: MINAYO, M. C. S.; ASSIS, S. G.; SOUZA, E. R. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. p. 19-52. MOUSINHO, P. L. 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(...) “Nesse rol incluem-se as afecções cardiovasculares, como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e o diabetes mellitus (DM), além das desordens mentais e neurológicas, bucais, oculares, auditivas, ósseas e articulares e as alterações genéticas” (p. 266). “Dentre essas, ressalta-se a relevância da HAS e do DM por serem importantes fatores de risco para a morbimortalidade cardiovascular e representarem um desafio para o sistema público de saúde, que é garantir o acompanhamento sistemático dos indivíduos identificados como portadores desses agravos, assim como o desenvolvimento de ações referentes à promoção da saúde e à prevenção dessas doenças” (p. 266). “Os profissionais de saúde atuantes na Estratégia Saúde da Família (ESF) devem programar e implementar atividades de investigação e acompanhamento dos usuários. Ademais, a educação em saúde precisa ser incorporada às suas práticas cotidianas, por meio de palestras, visitas domiciliares, reuniões em grupos e atendimento individual, em consultas médicas e de enfermagem, o que favorece a adesão ao tratamento, na medida em que o sujeito é percebido como protagonista do processo” (MOUSINHO; MOURA, 2008, p. 266). “(...) Por esse motivo, este estudo teve como objetivo avaliar o Plano de Reorientação da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes, implementado nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Caxias (MA), na perspectiva de profissionais de saúde e usuários, e apoiou-se nas seguintes questões norteadoras: como os profissionais da Estratégia Saúde da Família avaliam suas ações voltadas aos usuários com hipertensão e/ou diabetes? As atividades desenvolvidas por esses profissionais estão em conformidade com as normas do HiperDia? Como os usuários hipertensos e/ou diabéticos avaliam as ações desenvolvidas pelos profissionais de saúde?” (p. 266). “Trata-se de uma pesquisa avaliativa com três eixos de investigação, utilizando triangulação de métodos” (MINAYO, 2005, p. 267). “(...) a) avaliação de conformidade (ou normativa), em que foram analisadas as ações desenvolvidas pelos profissionais por referência ao que está preconizado nos documentos do HiperDia; b) análise da percepção de profissionais de saúde atuantes na Atenção Básica e c) análise da percepção de usuários que vivenciam a assistência” (p. 267). “A avaliação de conformidade foi feita por referência às atribuições específicas para cada categoria profissional, estabelecidas nos protocolos do HiperDia” (p. 267). “Para avaliação da percepção dos profissionais, foi realizada uma entrevista semiestruturada que considerou as atividades desenvolvidas na UBS [...] as estratégias utilizadas para aumentar o número de usuários cadastrados e intensificar o acompanhamento, a realização de ações de educação em saúde, aspectos positivos e negativos do HiperDia, conforme realizado em Caxias (MA), e a avaliação da assistência prestada” (p. 267). “Quanto aos usuários, foi aplicado um formulário com perguntas fechadas que considerou o grau de instrução, faixa etária, tempo de realização do tratamento, dificuldades para realizar a terapêutica, participação em atividades de educação em saúde, frequência de realização de consultas e exames, dieta alimentar e avaliação da assistência recebida.” (p. 267). “O Plano de Reorientação da Atenção à Hipertensão e ao Diabetes, lançado pelo Ministério da Saúde (MS) em 2001, é uma grande iniciativa e uma importante ferramenta para reestruturar o atendimento aos doentes e proporcionar uma assistência resolutiva e de qualidade a todos os usuários captados por intermédio da Atenção Básica.” (p. 268). “Ressalta-se que o funcionamento do HiperDia em Caxias (MA) revela limitações que, de fato, podem prejudicar o sucesso do Plano: o fornecimento de medicamentos é atrelado à Farmácia Básica do município e, nem sempre, a distribuição supre a necessidade de todos os usuários; o HiperDia não possui financiamento próprio; não existem veículos para a realização de visitas domiciliares e atividades de educação em saúde na comunidade e não há distribuição de materiais educativos sobre a HAS e o DM ” (p. 268). “Observou-se que as ações realizadas se distanciam do que é indicado nos protocolos do HiperDia, fato que demonstra o desconhecimento desses profissionais acerca das normas e rotinas, a resistênciaa realizá-las e/ ou a não percepção de sua importância, embora seja disponibilizado material impresso, distribuído em todas as UBS do município, anualmente, conforme a Coordenação da Atenção Básica” (p. 270). “Neste trabalho verificou-se que os profissionais de saúde realizam importantes atividades junto aos hipertensos e/ou diabéticos, mas, em geral, não planejam essas ações, nem existe uma continuidade na oferta. Além disso, pouco se observa o trabalho em equipe no rastreamento e busca ativa de hipertensos e/ou diabéticos e na implementação das ações coletivas, que, quando são realizadas, partem principalmente da iniciativa de enfermeiros e agentes comunitários de saúde, demonstrando que o HiperDia não tem sido desenvolvido em sua plenitude e, em geral,as atribuições indicadas pelo MS para cada categoria profissional distanciam-se da realidade da SF no município” (p. 270). “(...) Os dados obtidos a partir das entrevistas realizadas com os profissionais da SF, quanto ao seu desempenho no Plano foram organizados em um quadro, no qual se dispuseram as percepções destes profissionais quanto aos aspectos positivos e negativos do HiperDia” (p. 271). “(...) Verificou-se que os profissionais de saúde contradiziam suas próprias respostas e, aquilo que consideravam aspecto positivo em um momento, em outro representavam como negativo” (p.271). “(...) Ressalta-se que, quando a UBS deixa de ofertar o medicamento, os usuários interrompem o tratamento, pois na maioria das vezes não podem adquiri-lo.” (p.273)” “(...) Também se visualizaram intercorrências quanto ao encaminhamento de usuários aos especialistas, devido à demora no agendamento, que conforme Costa, Silva e Carvalho (2011) compromete a qualidade da atenção ofertada” (p.273). “(...) O processo de educação em saúde é, antes de tudo, um procedimento político em que a metodologia aplicada deve favorecer a aquisição de conhecimentos, além de desalienar e emancipar os sujeitos envolvidos. Isso exige que a ação educativa não seja exclusivamente informativa, mas que produza modificações, levando os usuários a refletirem sobre suas vidas e sua saúde” (ESPÓSITO, 2011, p. 274). “(...) nas entrevistas realizadas com os profissionais dessa pesquisa verificou-se, o anseio quanto à terapêutica prescrita, pois para eles alguns dos fármacos distribuídos pela Farmácia Básica não produzem o efeito que muitos pacientes precisam, exigindo a prescrição de outros medicamentos, os quais os usuários não conseguem comprar” (p. 274). “(...) o ACS representa o elo entre o usuário e a equipe, de forma a encorajar a participação ativa do hipertenso e/ou diabético, ajudando-o a seguir as orientações alimentares, de atividade física e de não fumar, bem como de tomar os medicamentos de maneira regular” (BRASIL, 2006A; 2006B, p. 275). “(...) Fernandes e Backes (2010) referem que a educação em saúde é reconhecida pelos profissionais de saúde como uma responsabilidade, contudo sua prática se depara com entraves culturais e ainda recebe pouco destaque no cotidiano de trabalho” (p. 277). “(...) A relação profissional-usuário deve ser permeada pela educação em saúde, o que possibilita o empoderamento dos indivíduos para a tomada de decisões concernentes à sua saúde e ao seu bem-estar, com base no pressuposto de que todo profissional de saúde deve ser um educador e, sobretudo, libertador, emancipador e transformador” (p. 277). “(...) importantes iniciativas precisam ser implantadas para melhorar o HiperDia, como a ampliação do acervo e da quantidade de medicamentos, a intensificação do rastreamento de doentes, o melhoramento do acompanhamento de usuários diagnosticados e a descentralização dos pontos de coleta de exames, sobretudo na zona rural, para facilitar o acesso a tais serviços” (p. 277). “É importante também envolver a rede de assistência social, como os Centros de Convivência de Idosos e Centros de Referência da Assistência Social, para difundir o conhecimento acerca da hipertensão e do diabetes, abordando os perigos advindos do controle inadequado, suas principais complicações e sequelas e a efetivação dos serviços de referência e contrarreferência” (p. 277). “Destaca-se, ainda, a necessidade de intensificar as ações de capacitação dos profissionais com vistas a estabelecer um atendimento qualificado e vinculação aos hipertensos e/ou diabéticos sob sua responsabilidade sanitária. Além disso, essas atividades devem envolver a equipe multiprofissional, instigando em cada trabalhador em saúde o interesse e a participação no tratamento” (p. 277). Fichamento do artigo: Distribuição espacial da hanseníase em menores de 15 anos de idade, no município de Belém, estado do Pará, Brasil. Spatial distribution of leprosy cases in children under 15 years old, in Belém, Pará State, Brazil Mayumi Aragão Fujishima; Lanna Xantipa de Oliveira Lemos; Haroldo José de Matos. RESUMO: O artigo em questão trata-se de um estudo epidemiológico que busca identificar a distribuição espacial dos casos de hanseníase em menores de 15 anos de idade, no município de Belém, estado do Pará, Brasil, entre 2005 e 2014, e como os indicadores socioeconômicos estão relacionados com este indicativo. Para isso, foi feito um estudo ecológico utilizando 356 casos novos de hanseníase nesta faixa etária, registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, no município de estudo. As variáveis clínico- epidemiológicas avaliadas foram: sexo, faixa etária, classificação operacional, forma clínica, grau de incapacidade física no diagnóstico, modo de detecção e coeficiente de detecção em menores de 15 anos de idade. Realizou-se o georreferenciamento, a partir do endereço registrado na ficha de notificação, para a produção de mapas com divisão por bairros, e correlacionou-se a taxa de incidência com os dados socioeconômicos de cada bairro, a partir da regressão linear. O município de Belém foi classificado como hiperendêmico para hanseníase em menores de 15 anos de idade, sendo destacados cinco bairros que concentravam aproximadamente 35% dos casos. Dos 71 bairros, 22 foram considerados hiperendêmicos pela taxa de detecção, e o georreferenciamento identificou duas áreas de clusters. A correlação com dados socioeconômicos demonstrou significância para falta de renda, ausência de coleta de lixo e ausência de coleta de esgoto. Perante o exposto, concluiu-se que a distribuição da hanseníase entre menores de 15 anos de idade não ocorre de forma homogênea, visto que existem áreas mais suscetíveis, indicando que as crianças e jovens dessas localidades, como da ilha do Mosqueiro ou os bairros localizados nos clusters, estão mais vulneráveis ao adoecimento por hanseníase. A produção de mapas baseados em georreferenciamento com populações na faixa etária de menos de 15 anos contribui com a vigilância em saúde e possibilita direcionar os recursos para as áreas de maior risco de transmissão. Com isso, sugere-se a capacitação da equipe de saúde para o diagnóstico precoce, sobretudo por meio da busca ativa, e a notificação adequada, visando à redução da transmissão na localidade e das sequelas que a hanseníase não tratada precocemente pode acarretar. FUJISHIMA, Mayumi Aragão; LEMOS, Lanna Xantipa de Oliveira; MATOS, Haroldo José de. Distribuição espacial da hanseníase em menores de 15 anos de idade, no município de Belém, estado do Pará, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude, Ananindeua, v. 11, e202000229, fev. 2020. Ministério da Saúde (BR). Registro ativo: número e percentual, casos novos de hanseníase: número, taxa e percentual, faixa etária, classificação operacional, sexo, grau de incapacidade, contatos examinados, por estados e regiões, Brasil, 2016. Brasília: Ministério da Saúde; 2017. MONTEIRO, L.D.; MARTINS-MELO, F.R.; BRITO, A.L.; ALENCAR, C.H.; HEUKELBACH, J. Spatial patterns of leprosy in a hyperendemic statein Northern Brazil, 2001-2012. Rev Saude Publica. 2015;49:84. DIAS, M.C.F.S.; DIAS, G.H.; NOBRE, M.L. Distribuição espacial da hanseníase no município de Mossoró/RN, utilizando o Sistema de Informação Geográfica - SIG. An Bras Dermatol. 2005 nov-dez;80(supl 3):S289-94. FARIA, R.M.; BORTOLOZZI, A. Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da geografia da saúde no Brasil. 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(...) os municípios localizados na Amazônia brasileira são considerados locais de alta endemicidade para a doença e de baixa infraestrutura social” (MONTEIRO et al., 2015). “A distribuição desigual da hanseníase também pode ser observada quando se aumenta ou diminui a escala de análise, como setores ou bairros dos municípios” (DIAS et al., 2005). (...) “o componente espaço torna-se de suma importância para a compreensão epidemiológica da hanseníase. Assim, parte-se do espaço como categoria de análise que não se limita às concepções físicas e geométricas, mas se compreende a partir de uma ótica relacional e indissociável de uma perspectiva social” (FARIA et al., 2009; MENCARONI et al, 2004). (...) “conforme as pessoas se apropriam de determinadas áreas e, em contrapartida, são privadas de outras, se delimitam os diferentes acessos aos serviços de infraestrutura urbana e aos riscos de adoecer. Portanto, o espaço torna-se um determinante no processo saúde-doença” (MENCARONI et al., 2004; BONFIM et al., 2008). “Diversos fatores socioeconômicos têm se mostrado importantes, como condições precárias de habitação, baixa escolaridade, baixa renda e movimentos migratórios” (MONTEIRO et al., 2015; AMARAL et al., 2008). “Reconhecer precisamente as correlações possíveis entre a hanseníase e as conjunturas socioeconômicas, que possibilitam que a doença se torne endêmica em uma localidade, colaboram para o desenvolvimento de estratégias de combate mais eficazes, como a implantação de medidas de busca ativa e vigilância em saúde no território” (FUJISHIMA et al., 2020). “(...) a presença de hanseníase em menores de 15 anos de idade normalmente está vinculada à transmissão intradomiciliar, pois a doença tem um período de incubação prolongado, de forma que os contatos intradomiciliares são um importante meio para a manutenção da endemia. Portanto, a incidência de hanseníase nessa faixa etária é um indicador epidemiológico de transmissão ativa da doença, ao revelar precocidade na transmissão e persistência de pessoas bacilíferas não tratadas. Além disso, esse indicador aponta alta endemicidade e ações insuficientes de vigilância, controle e educação em saúde no que tange à doença, tornando-se um importante demarcador” (FUJISHIMA et al., 2020). “O município possui 71 bairros, dos quais 23 encontram-se nas ilhas de Mosqueiro (no extremo norte) e de Outeiro, além de compreender áreas não urbanas. No presente estudo, foram utilizados os bairros do município como unidade de análise. A população residente, no ano de 2010, era de 1.393.399, com densidade populacional de 1.315,26 habitantes/km², onde 321.092 tinham menos de 15 anos de idade12, 13” (FUJISHIMA et al., 2020). "Dos 384 casos de hanseníase em menores de 15 anos de idade notificados no período, somente os casos novos foram incluídos, totalizando 356 registros. (...) o quadro epidemiológico da hanseníase em menores de 15 anos de idade, no município de Belém, para o período analisado, apresentou predominância entre o sexo masculino (proporção de 1,2 casos) e a faixa etária de 10 a 14 anos de idade, com um valor superior à metade dos casos (64,9%). Houve predomínio dos casos com classificação operacional de paucibacilares (59,6%) e a forma clínica tuberculoide (37,9%), além de dois casos que não foram classificados. No que tange ao grau de incapacidade, 10,1% (36 notificações) dos casos possuíam alguma incapacidade no momento do diagnóstico, sendo 11 (3,1%) com grau 2 de incapacidade e 43 (12,1%) não classificados. O encaminhamento foi o modo de detecção mais recorrente (62,4%), seguido da demanda espontânea (29,2%), enquanto o exame de coletividade ocorreu em quatro (1,1%) casos e o exame de contato em 24 (6,7%) casos. Desse modo, a busca ativa constituiu 7,9% dos casos, enquanto a busca passiva representou 91,6% dos casos” (FUJISHIMA et al., 2020). (...) “existia um caso de hanseníase em cada 9.017 menores de 15 anos de idade. A proporção de casos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física, no momento do diagnóstico, entre os casos novos detectados e avaliados no ano, foi de 3,5%” (FUJISHIMA et al., 2020). “Foram considerados clusters os bairros com mais de 5% dos casos mapeados, representando aglomerados acima de 16 casos. Os bairros enquadrados nessa categoria foram Guamá (41 casos), Jurunas (24 casos), Tapanã (23 casos), Montese (20 casos) e Benguí (18 casos), de modo que esses cinco bairros representaram aproximadamente 35% de todos os casos registrados. Assim, foi possível observar dois agrupamentos de bairros por proximidade física, a região Montese–Guamá–Jurunas e a região Tapanã–Benguí” (FUJISHIMA et al., 2020). “Foi observado que 22 dos 71 bairros foram considerados hiperendêmicos. Os bairros Bonfim (119,92 casos/100.000 habitantes) e Praia Grande (105,82 casos/100.000 habitantes), ambos localizados na ilha do Mosqueiro (ilha no extremo norte do mapa), apresentaram os piores cenários epidemiológicos, seguidos pelos bairros Val-de-Cães (82,22 casos/100.000 habitantes), Fátima (46,12 casos/100.000 habitantes), Guanabara (23,31 casos/100.000 habitantes) e Carananduba (23,30 casos/100.000 habitantes), esse último também situado na ilha do Mosqueiro” (FUJISHIMA et al., 2020). “O bairro Sucurijuquara foi registrado em cinco indicadores; Bonfim e Caruara, em três; e Ariramba, Aurá, Natal do Murubira e São Francisco, em dois indicadores cada um. Desses sete bairros, seis pertencem à ilha do Mosqueiro” (FUJISHIMA et al., 2020). “A hanseníase em menores de 15 anos de idade foi considerada hiperendêmica no município de Belém no período analisado,segundo os parâmetros para a taxa de detecção do Ministério da Saúde. (...) a busca ativa representou menos de 1/10 das formas de detecção. Houve baixa proporção de casos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física, no momento do diagnóstico, entre os casos novos detectados e avaliados no ano; no entanto, a proporção de casos novos de hanseníase com grau de incapacidade física, avaliado no diagnóstico, foi classificado como regular (avaliados entre ≥ 75 a 89,9%), também segundo os critérios do Ministério da Saúde” (FUJISHIMA et al., 2020). “(...) a distribuição da hanseníase não demonstrou homogeneidade ao longo do território do município (...). A distribuição espacial dos casos de hanseníase em menores de 15 anos de idade na cidade de Belém possuiu áreas de cluster, sendo os bairros de maior relevância Guamá, Jurunas, Montese, Benguí e Tapanã. (...) maior concentração na região sul da cidade, formando um corredor de expansão em direção ao norte, e pouca expressão de casos na região sudoeste. (FUJISHIMA et al., 2020). Esse fato coincidiu com a distribuição socioeconômica da cidade, com áreas de maior concentração de renda a sudoeste e conglomerados populacionais de menor recurso financeiro ao sul” (CARDOSO et al., 2013). (...) “foi registrada a falta de notificação em 27 bairros (38% dos bairros). Dentre esses, há bairros que fazem fronteira com aqueles considerados como clusters, tais como Cidade Velha (fronteira com o bairro Jurunas) e São Clemente (fronteira com os bairros Benguí e Tapanã). Tal dado pode sugerir baixa cobertura ou fragilidade da atenção básica nessas localidades, ressaltando a hanseníase como doença negligenciada e que muitas vezes não é diagnosticada. Nesse sentido, a subnotificação dos casos pode mascarar outras áreas de cluster, sobretudo nas regiões com maior concentração populacional e de menores recursos financeiros” (FUJISHIMA et al., 2020). (...) “muitos bairros (22 de 71 bairros) foram classificados como hiperendêmicos, segundo os parâmetros do Ministério da Saúde14, demonstrando a vulnerabilidade do município para a hanseníase em menores de 15 anos de idade. Além disso, observou-se que há locais relevantes para a hanseníase diferentes das áreas classificadas como clusters, como a ilha do Mosqueiro, localizada ao extremo norte. A ilha contém os bairros onde foi constatada a maior taxa de detecção, os quais existem ao lado de bairros com taxa de detecção baixa ou igual à zero, o que sugere a subnotificação de diversos casos na área e a fragilidade nos serviços de saúde. Quando analisada a taxa de detecção em conjunto com os indicadores socioeconômicos dos bairros do município, revelaram-se as condições precárias dos bairros da ilha de Mosqueiro” (FUJISHIMA et al., 2020). “No que diz respeito à relação das condições socioeconômicas com a incidência de hanseníase em menores de 15 anos de idade, observou-se que nem todas as variáveis socioeconômicas analisadas possuíam influência significativa no município de Belém, no período analisado. Demonstrou-se significância para as variáveis renda, esgoto e coleta de lixo, sendo a variação de renda mais impactante para a incidência da doença nessa faixa etária” (FUJISHIMA et al., 2020). (...) “não se exclui a combinação de baixa condição de vida e ocorrência de hanseníase em menores de 15 anos de idade como um critério importante ao assinalar uma área de prioridade para intervenção. (...) as causas para essa distribuição ainda não se mostraram totalmente claras, tendo em vista que diversos outros fatores, além dos socioeconômicos, podem estar correlacionados ao desenvolvimento da enfermidade, como fatores genéticos e infecções subclínicas (DUARTE-CUNHA et al., 2012; BAKKER et al., 2005), além da ausência ou da baixa qualidade de serviços de saúde” (FUJISHIMA et al., 2020).
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