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GESTÃO E RESPOSTA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES 2 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 GESTÃO DE RISCOS E DESASTRES ........................................................... 5 DEFESA CIVIL ................................................................................................ 5 Políticas de redução de risco de desastres ................................................... 13 DESASTRES ................................................................................................. 21 SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA E ESTADO DE CALAMIDADE .................... 25 Urgência e Emergência ................................................................................. 27 Emergência Pré-hospitalar ............................................................................ 30 Atendimento Pré-Hospitalar e Avaliação Inicial da Vítima ............................. 33 O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ..................................................................................................... 37 Acolhimento e classificação de risco ............................................................. 41 REFERENCIAS ............................................................................................. 43 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 INTRODUÇÃO Antes de iniciar a leitura do conteúdo da apostila veja os vídeos indicados, que têm como objetivo auxiliar e apoiar na compreensão, de forma mais clara e objetiva, o assunto que será abordado. Vídeo 1: Gestão de riscos em emergências e desastres, com Luiz Henrique Hargreaves | Risco em Evidência Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=0jAr-UuqzYE> Sinopse: O vídeo apresenta um bate papo descontraído, ondes será transmitido conhecimentos através de uma abordagem informal. O vídeo propõe a você entender o porquê a concepção de controle do risco constitui uma das ideias centrais que distinguem os tempos modernos das civilizações antigas e como esse desafio ocorre nos diversos segmentos de nossa sociedade, colocando o futuro a serviço do presente, substituindo destino por escolhas e decisões através de técnicas e processos estruturados. Esse é o propósito do nosso programa quinzenal - Risco em Evidência - um programa ao vivo, transmitido pelo Canal do Youtube do CT Segurança, das 20:00 às 21:00 horas, toda primeira e terceira terças-feiras do mês. Conta com a participação de convidados especiais, que compartilham suas experiências e aprendizados nos mais variados segmentos da Gestão de Riscos. Todos os episódios ficam gravados, disponíveis Gestão de Riscos em Emergências e Desastres | Luiz Henrique Hargreaves | RISCO EM EVIDÊNCIA 5 GESTÃO DE RISCOS E DESASTRES Ameaças naturais ou tecnológicas podem se transformar em desastres seja de pequena, média ou grande intensidade, sendo capaz de acarretar impactos significativos na vida das crianças e de seus familiares. Pavan (2009) afirma que uma preparação antecipada de crianças e jovens, garante a autoproteção além de poderem alertar a própria família, e assim minimizar ou evitar danos, e consequentemente reduzirem as vulnerabilidades, tornando desta maneira atores de suma importância na resolução de problemas. A Gestão de Risco e Desastre deve-se iniciar no nível escolar proporcionando uma reflexão sobre essas ameaças, fazendo com que a escola assuma um papel fundamental na redução dos riscos de desastres, tendo potencial de ser implementada como prática social em todas as instituições de ensino. Considerando a realidade brasileira, muitas defesas civis possuem limitação de equipe e recursos, daí surge à necessidade do governo local investir nas ações de gestão de risco de desastre, preparando e capacitando sua defesa civil a fim de que possam prevenir e se preparar para agir em situações de risco que podem resultar em desastre, fomentando a cultura de percepção de risco na comunidade e nas instituições de ensino, fortalecendo a resiliência de forma articulada com as demais secretarias municipais. DEFESA CIVIL A defesa civil é um órgão que está presente em todo território nacional e tem como seu principal objetivo a redução de desastres. Mas é notória para os profissionais que atuam nesta área que a atividade não tem seu devido valor reconhecida, como consequência, uma defesa civil despreparada e sem recursos necessários para criação de planos de ações voltados para a prática da prevenção, 6 da mitigação e da preparação, que envolva a população situada em áreas vulneráveis para que possam estar preparadas para emergência quando da ocorrência de rompimento de barragem. A falta de preparação da coordenadoria de defesa civil nos municípios suscita uma deficiência na elaboração de planos estratégicos que possibilitem reduzir a vulnerabilidade das comunidades à jusante de barragem, conforme afirma Gonçalves, Marchezini e Valencio (2009, p.168): Esse desconhecimento do Poder Público municipal no que tange à existência de barragens e o baixo nível de preparação das COMPDECs não permite a criação de planos preventivos como práticas de mitigação de ameaças que envolvam as populações situadas em áreas vulneráveis, a partir do monitoramento das condições pré-impacto, nem permite a tessitura de relações de confiança que possam trazer eficácia ao Estado se for necessária a execução de práticas de preparo para emergências quando do colapso de barragens. Em suma, o baixo nível de preparação das COMPDECs e o desconhecimento do poder público municipal acerca dos riscos não criam pontos de acesso capazes de tecer estratégias que diminuam a vulnerabilidade. Segundo o Ministério da Integração Nacional, a defesa civil esteve relacionada de forma direta ou indiretamente em confrontos na segunda guerra mundial em 1942, onde as primeiras ações, estruturas e estratégias de proteção e segurança foram dirigidas à população, mas somente a partir de 1966, após a ocorrência de fortes chuvas na região sudeste e secas no nordeste que se tornou imprescindível à estruturação e fortalecimento destes órgãos no atendimento às situações de anormalidade. (Ministério da Integração Nacional). A defesa civil concentrou suas atividades nas ações de resposta, estas ações eram ligadas ao socorro e a assistência à população afetada por calamidades, sendo de origem natural ou tecnológica. A Defesa Civil atua com o foco em reduzir desastres. Diante dessa perspectiva se torna imprescindível à definição de normas, planos e procedimentosque visem à 7 prevenção, socorro e assistência da população e recuperação de áreas de risco ou quando estas forem atingidas por desastres, buscando através da soma de esforços com empresas, estabelecimentos de ensino, comunidade e instituições de segurança pública uma participação de forma ativa e consciente dentro de todo o processo, para garantir uma ação conjunta de toda a sociedade nas ações de segurança global da população. Castro (1998, p.151) conceitua segurança global da população como: Conjunto de medidas objetivando garantir o direito à vida, à saúde, à segurança pública e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, em todas as circunstâncias e, em especial, em circunstâncias de desastre. A segurança global da população é dever do Estado, direito e responsabilidade da cidadania. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, reconheceu os direitos à vida, à saúde, à segurança, à propriedade e à incolumidade das pessoas e do patrimônio como direito constitucional, conforme previsto no artigo 5º. Compete a Defesa Civil a garantia desses direitos, em circunstância de desastres. (BRASIL, 1988). A Instrução Normativa 02, de 20 de Dezembro de 2016 conceitua Proteção e Defesa Civil como: Conjunto de ações de Prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação destinadas a evitar desastres e minimizar seus impactos sobre a população e a promover o retorno à normalidade social, econômica e ambiental. (Ministério da Integração Nacional, 2016). A Proteção e Defesa Civil são organizadas por meio de um sistema, o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), instituído pela Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei 12.608/12). Este sistema é constituído por órgãos e entidades da Administração Pública Federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e pelas entidades públicas e privadas de atuações significativas nas áreas de proteção e defesa civil. (BRASIL, 2012). Para assegurar as condições sociais, econômicas e ambientais adequadas para garantir a dignidade da população e garantir a promoção do desenvolvimento 8 sustentável, a Gestão de Risco de Desastre é de suma importância, assim a Política de Proteção e Defesa Civil traz princípios, objetivos e instrumentos de como será efetivada no Brasil Os desastres de grande impacto que ocorriam no Brasil resultavam em significativas perdas humanas, e isso fez com que repensassem sobre as ações da defesa civil. Hoje a defesa civil se organiza em sistema com a participação dos governos locais e da população, surgindo assim as ações prospectivas, ou seja, atividades com objetivo de prevenir desastres antes que eles aconteçam. No município de Mariana-MG a defesa civil não atuou de maneira diferente. Em 1997 foi criada uma Comissão de Defesa Civil em caráter de emergência como resposta aos eventos que vinham ocorrendo na época. Os demais gestores apenas revalidavam essa forma de voluntarista que imperava em todos os níveis de governo. (Defesa Civil de Mariana, 2010). Para fortalecer as ações de prevenção, em 2005 o Estado de Minas Gerais atendeu as recomendações da Secretaria Nacional de Defesa Civil, desta maneira o Município de Mariana extingue a Comissão de Defesa Civil e cria a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, sendo legitimada em 20 de outubro de 2009 através da Lei Nº 2.303. Em janeiro de 2010 foi criado o Conselho Municipal de Defesa Civil através do Decreto Nº 5.268. (Defesa Civil de Mariana, 2010). Em 10 de Abril de 2012 foi aprovada a Lei 12.608 que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, que direciona esforços de gerenciamento de risco de desastre para o âmbito preventivo, com o intuito de criar uma cultura nacional de prevenção de desastres. A Lei 12.608/12, que Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) apoia e sugere atividades de educação para desastres para crianças e adolescentes (BRASIL, 2012). O artigo 26, §7°da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 9.394/1996, possibilita a implantação de temas voltados para proteção e defesa civil nas escolas, incorporando os conceitos de redução de risco de desastre à educação escolar. (BRASIL, 1996). 9 O ensino de defesa civil nas escolas do Brasil não é algo inédito. Em 1942, com o afundamento dos navios mercantes nas costas brasileiras e a iminente entrada do país na 2ª Guerra Mundial, foi criado o primeiro esboço de uma estrutura organizando o Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, com a obrigatoriedade do ensino da defesa passiva em todos os estabelecimentos de ensino, oficiais e particulares, existentes no País. (Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de Tocantins). Pavan, (2009, p.105) deixa claro a importância do desenvolvimento do tema de desastre nas escolas para promoção de medidas de proteção civil: O desenvolvimento, no conteúdo escolar, do tema dos desastres deveria ser uma preocupação pública para que um conhecimento formal fosse introduzido às crianças, ajudando-as a organizar cognitivamente suas curiosidades, temores ou vivências em desastres, um tema indubitavelmente importante diante das dezenas de ameaças da modernidade. Envolver as crianças na redução dos desastres, por meio de atividades que promovam o seu interesse pelo tema, auxilia para que as mesmas sintam-se dispostas a identificar os riscos e adotar medidas de proteção civil. Dentro desta perspectiva, e em consonância com a legislação 12.608 de 2012 que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, que estabelece em seu artigo 9º “medidas preventivas de segurança contra desastres em escolas e hospitais situados em áreas de risco”, a inserção da temática de Defesa Civil nas escolas, vem a desenvolver princípios que proporcionem uma nova construção de valores e capacidades fundamentais para reflexão e transformação gradual da realidade da comunidade escolar, assim, as escolas se constituem em um espaço propício para fomentar o senso de percepção de risco de desastre e um meio de ampliação de conhecimento dos princípios que envolva a proteção e defesa civil. Castro (2005, p. 17 e 18) aborda o tema senso de percepção como sendo: Impressão ou juízo intuitivo sobre a natureza e a grandeza de um risco determinado. Percepção sobre a importância ou gravidade de um risco determinado, com base no repertório de conhecimentos que os indivíduos acumularam durante seu desenvolvimento cultural e no juízo político e moral de sua significação. 10 Segundo Londe, Soriano, Coutinho e Marchezini (2014, p.5) a percepção do risco por crianças e adolescentes revela o perfil de um público importante, caracterizando-se como um significativo ponto de partida para trabalhos de educação e prevenção de desastres. A inclusão de conteúdos relacionados com a defesa civil na grade curricular das instituições de ensino é de suma importância, pois, possibilitará a disseminação do conhecimento que poderá promover a minimização das vulnerabilidades aos desastres, de forma que influenciaria no comportamento das futuras gerações, com o estabelecimento de uma cultura de prevenção e de preparação para desastres. A Secretaria da Estratégia Internacional para a Redução de Desastres (EIRD) empreendeu uma campanha global, a “Redução do Risco de Desastres começa na escola”, mobilizando esforços globais para integrar a redução do risco de desastres (RRD) nos currículos escolares, bem como infraestruturas escolares e procedimentos de segurança (UNISDR, 2007) Em 2012 o Governo Federal instituiu o Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situação de Risco e Desastre, que tem por objetivo principal assegurar a proteção dos direitos de crianças e adolescentes em situação de riscos e desastres, com vistas a reduzir a vulnerabilidadea que estiverem expostos. Conforme Pavan (2009, p.96), as crianças apresentam uma fragilidade física diante dos desastres, aumentando sua vulnerabilidade, e uma das maneiras de elas superarem possíveis traumas ou mesmo evita-los seria refletir, discutir e dimensionar os riscos e perigos ali vividos. O Ministério da Integração Nacional (2016) define vulnerabilidade como: “exposição socioeconômica ou ambiental de um cenário sujeito à ameaça do impacto de um evento adverso natural, tecnológico ou de origem antrópica”. Desenvolver a percepção de risco de desastre para o corpo docente e discente sobre rompimento de barragem proporcionará um estreitamento do contato com os órgãos de defesa civil, difundindo as medidas preventivas e mitigadoras que podem 11 reduzir as vulnerabilidades aos riscos que envolva colapso de barragens e assim, contribuir de forma positiva para identificar e conhecer os riscos, construindo uma cultura de risco pautada na informação e no diálogo, buscando a redução dos danos provocados por este tipo de desastre. Soriano e Valencio (2009) define o risco sendo, a relação entre ameaça e vulnerabilidade, onde existe um potencial de ocorrência de algum evento desastroso. A inserção de noções de defesa civil no ambiente escolar vem a aumentar a percepção do risco, e isso implica na construção da cidadania voltado a mudança cultural relacionada com a participação da comunidade escolar e com a segurança global da população, conforme afirma Elida Séguin. (2013, p.221). A educação funciona como ponto de partida para a conscientização e a necessidade do ser humano de se aperfeiçoar, numa valorização do contexto natural em que a pessoa vive, bem como tomar decisões que não venham posteriormente a lhe prejudicar, como construir em solo vulnerável. A percepção do risco de problemas possibilita uma mudança de postura e a sua superação, o que muito auxilia nas tomadas de decisões individuais sobre segurança e proteção civil. No Brasil, os desastres provocados pela água, como: enchentes, alagamentos, enxurradas, inundações, secas e estiagem, constituem os desastres observados com maior frequência que afeta milhares de pessoas, o que acarreta um número considerável de desabri gados e desalojados. Somando-se a esses eventos, têm-se os desastres envolvendo o rompimento de barragens e risco de inundações a jusante. Estes, muito embora surjam em menor proporção em relação aos demais, manifestam consequências não menos drásticas para as populações. Os desastres relacionados com o rompimento de barragens e risco de inundação à jusante são classificados como desastres tecnológicos e estão relacionados com a construção civil. O colapso de barragens acarreta uma perturbação da normalidade, além de intensos danos humanos, materiais e ambientais e relevantes prejuízos socioeconômicos. 12 O Ministério da Integração Nacional (2016) define desastre como: O resultado de eventos adversos, naturais, tecnológicos ou de origem antrópica, sobre um cenário vulnerável exposto a ameaça, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. As barragens representam uma ameaça que muitas das vezes são mal avaliadas, faltando uma compreensão mais ampla do risco, e assim o risco se torna significativo, aumentando de maneira considerável a vulnerabilidade das populações que vivem a jusante das mesmas. Para Valencio (2009, p.194), as barragens são fatores de perigo para a população a jusante: Muito comumente, os desastres constituem-se da soma de diversos riscos ignorados ou mal gerenciados, isto é, de ameaças mal avaliadas assim como de uma compreensão incompleta da vulnerabilidade humana frente às mesmas. Os barramentos de rios não são apenas incitadores de oportunidades múltiplas de uso da água; são, igualmente, fatores de perigo para a população a jusante, modificando o tipo de susceptibilidade em que a mesma se encontra no território. O desastre tecnológico envolvendo o rompimento da barragem de Fundão em Mariana, não foi o primeiro caso em Minas Gerais, tivemos, por exemplo, a de 1986 da Mina do Fernandinho em Itabirito, a de Rio Verde em Macacos distrito de Nova Lima no ano de 2001, em 2003 a barragem de um dos reservatórios da Indústria Cataguases de Papel LTDA no Município de Cataguases, em 2007 em Miraí a barragem da mineradora Rio Pomba Cataguases e, em 2014 um ano antes do acontecido em Mariana a barragem da Herculano Mineração em Itabirito se rompe. Mas, estes desastres parecem não ter alertado “AQUELES” que deveriam realizar ações que protegessem a comunidade, o desastre de Mariana conhecido popularmente como “Mar de Lama”, foi um divisor de águas no que diz respeito à gestão de risco de desastre envolvendo barragens, pois, a partir daí, Sociedade e Governo uniram forças para cobrarem contramedidas por parte das empresas proprietárias de barragens. 13 Os desastres envolvendo rompimento de barragens é uma realidade presente na sociedade brasileira, diante disso, a discussão deste assunto e de temas voltados para a defesa civil junto às comunidades e as instituições de ensino inseridas a jusante, irá contribuir para redução dos riscos e das vulnerabilidades e consequentemente para minimização dos danos provocados por este tipo de evento adverso. POLÍTICAS DE REDUÇÃO DE RISCO DE DESASTRES Vídeo 2: Soluções baseadas na Natureza para reduzir riscos e desastres Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=QpkX6uRh9vU> Sinopse: O podcast SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA NA REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES aborda os benefícios e os desafios para implementação dessas estratégias na redução do risco de desastres e adaptação às mudanças climáticas, discute sobre como as cidades têm se organizado nesse sentido e também aborda o processo de construção da proposta do plano de adaptação de Recife, que incorporou Soluções Baseadas na Natureza. O podcast faz parte da Série "Perspectivas sobre a Gestão de Risco e Desastre no Brasil" que aborda saberes e visões sobre cenários de riscos e desastres no país para fortalecer a articulação entre governos, universidades, organizações sociais e sociedade civil. Este material é resultado de um trabalho coletivo de especialistas do Instituto Siades, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), com a supervisão técnica da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), dentro do Projeto de Cooperação Técnica Internacional BRA/12/017 - Fortalecimento da Cultura de Gestão de Riscos de Desastres no Brasil, firmado entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), por meio da SEDEC. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Muitas são as comunidades vulneráveis a ampla variedade de fenômenos adversos, tanto de origem natural como provocados pela atividade humana. Esses 14 eventos, principalmente aqueles destacados neste projeto de pesquisa, como os deslizamentos de terra, inundações, enxurradas, causam a interrupção da vida cotidiana da população e produz uma série de efeitos para a sociedade, inclusive no Setor Saúde. O risco de um desastre de origem natural ocorrer está diretamente relacionado com a presença de uma ameaça e de vulnerabilidade. Em outras palavras, a vulnerabilidade interage com as ameaças, produzindo novas condições de risco, dimensionadas de diferentes formas em cada território (PORTO, 2016). Na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, as características ambientais combinam montanhas e muitos rios, subsolo composto de rocha e pequena camada de terra, associadaao fato de já ter ocorrido muita extração de madeira nativa, desmatamento e implantação de florestas com espécies exóticas para fins industriais, o que, ao longo dos anos, tornou-a propícia para a ocorrência de deslizamentos. Os processos de degradação ambiental e ocupação irregular em áreas de riscos, combinados com as características geológicas e hidro meteorológicas, tornaram a região vulnerável a ameaças naturais, como os deslizamentos de terra e enchentes (FREITAS, CARVALHO, XIMENES, 2012). Nessa perspectiva estima-se a necessidade de elaboração de estratégias de redução de riscos em desastres e construção da resiliência. Para tal, em 2005, durante a Conferência Mundial sobre a redução de desastres celebrada pela Organização das Nações Unidas (ONU), na província de Hyogo, Japão, foi aprovado o chamado Marco de Ação de Hyogo (MAH) para o período de 2005-2015, com o tema “O aumento da resiliência das nações e das comunidades diante de um desastre” (ONU, 2013). A Conferência destacou os pontos prioritários de ação para reduzir os riscos de desastres de origem natural e os resultados a serem alcançados, para que seja possível buscar uma redução considerável de perdas, tanto no que se refere a vidas humanas como de bens sociais, econômicos e ambientais. Para a aplicação do MAH 2005-2015 foi orientado que Estados-Membros, o sistema das Nações Unidas, as instituições financeiras internacionais, as organizações sub-regionais e internacionais e a sociedade civil afirmassem o seu compromisso, visando alcançar a consecução do seu objetivo central. 15 Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável/Rio +20 foi reiterado o pedido para redução de riscos de desastres, e proposta a inclusão do tema na agenda de desenvolvimento pós-2015. Sendo assim, um novo marco internacional de ação, com elementos e propostas para a redução de riscos de desastres pós-2015 foi adotado na 3ª Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Redução do Risco de Desastres, que foi realizado em Sendai, Japão, em março de 2015 (ONU, 2012). O Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030 visa completar a avaliação e revisão da implementação do Marco de Ação de Hyogo 2005- 2015: “Construindo a resiliência das nações e comunidades frente aos desastres”. O Marco de Sendai constitui-se em importante documento norteador das práticas de gestão do risco de desastres entre diversos setores, inclusive no que se refere à Saúde. A adoção desse Marco também deu oportunidade para que os países pudessem: considerar a experiência adquirida com estratégias/instituições e planos regionais e nacionais para a redução do risco de desastres e suas recomendações, bem como acordos regionais relevantes no âmbito da implementação do Marco de Ação de Hyogo; identificar modalidades de cooperação com base nos compromissos para implementar um quadro pós-2015 para a redução do risco de desastres; determinar modalidades para a revisão periódica da implementação de um quadro pós-2015 para a redução do risco de desastres (UNISDR, 2015). O Marco de Sendai tem por objetivo alcançar o seguinte resultado ao longo de 15 anos: redução substancial nos riscos de desastres e nas perdas de vidas, meios de subsistência e saúde, bem como de ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais de pessoas, empresas, comunidades e países (UNISDR, 2015). Para tal, quatro áreas foram priorizadas: 1. Compreensão do risco de desastres - As políticas e práticas para a gestão do risco de desastres devem ser baseadas em uma compreensão clara do risco em todas as suas dimensões de 16 vulnerabilidade, capacidade, exposição de pessoas e bens, características dos perigos e meio ambiente. Tal conhecimento pode ser aproveitado para realizar uma avaliação de riscos pré-desastre, para prevenção e mitigação, e para o desenvolvimento e implementação de preparação adequada e resposta eficaz a desastres. 2. Fortalecimento da governança do risco de desastres para gerenciar o risco de desastres - A governança do risco de desastres nos níveis nacional, regional e global tem grande importância para uma gestão eficaz e eficiente dos riscos de desastres. É necessário ter visão clara, planos, competências, orientação e coordenação intrassetorial e intersetorial, bem como a participação das partes interessadas. O fortalecimento da governança do risco de desastres para prevenção, mitigação, preparação, resposta, recuperação e reabilitação é, portanto, necessário e promove colaboração e parceria entre mecanismos e instituições para a implementação de instrumentos relevantes para a redução do risco de desastres e para o desenvolvimento sustentável. 3. Investir na redução do risco de desastres para a resiliência - O investimento público e privado na prevenção e na redução de riscos de desastres, através de medidas estruturais e não estruturais, é essencial para melhorar a resiliência econômica, social, cultural e de saúde de pessoas, comunidades, países e ativos, bem como do meio ambiente. Tais medidas são custo-eficientes e fundamentais para salvar vidas, prevenir e reduzir perdas e garantir a recuperação e reabilitação eficaz. 4. Melhorar a preparação para desastres a fim de providenciar uma resposta eficaz e para reconstruir melhor em recuperação, reabilitação e reconstrução - O crescimento constante do risco de desastres, incluindo o aumento da exposição de pessoas e ativos, combinado com as lições aprendidas com desastres do passado, indica a necessidade de reforçar ainda mais a preparação para resposta a desastres, tomar medidas com base na previsão de eventos, integrar a 17 redução do risco de desastres na preparação para resposta e assegurar que exista capacidade para resposta e aumento da resiliência. Nesse sentido, afirma-se a necessidade de investimentos na área de gestão de risco de desastres, o que envolve um conjunto de decisões administrativas, de organização e conhecimentos operacionais desenvolvidos pelas sociedades e comunidades para implementar políticas, estratégias e fortalecer suas capacidades, a fim de reduzir o impacto de ameaças naturais e de desastres socioambientais consequentes (ESTRATÉGIA INTERNACIONAL PARA LA REDUCCIÓN DE DESASTRES, 2004). Assim, o fortalecimento de infraestrutura, com medidas de mitigação e preparação para responder da melhor forma aos eventos, visa garantir que os serviços de saúde estejam disponíveis nos momentos em que a população mais necessita. Para tal é mister a atuação do governo (em suas diversas esferas) como gestor dos riscos de desastres, delegando funções e projetos, com o fim de atingir o melhor resultado possível (REGINALDO, et al, 2013). Tendo em vista que a prevenção e controle dos fatores de riscos à saúde humana decorrentes dos desastres de origem natural são de competência da Vigilância em Saúde Ambiental, é de fundamental importância estabelecer um programa que possa nortear sua implementação no país (BRASIL, 2006, p.5). No que diz respeito ao Ministério da Saúde, diversos órgãos e instituições desenvolvem programas, projetos e ações relacionados à saúde ambiental. Um programa que merece ser destacado para essa pesquisa é o de Vigilância em Saúde Ambiental dos Riscos decorrentes dos Desastres Naturais – VIGIDESASTRES. Este é subordinado à Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS) (MUSMANNO et al, 2016). Tem como objetivo desenvolver um conjunto de ações continuadas para reduzir a exposição da população aos riscos de desastres com ênfase nos desastres “naturais”, inundações, deslizamentos, secas e incêndios florestais, assim como a redução das doenças e agravos decorrentes dos mesmos (BRASIL, 2007, p.183). 18 Possui como base as diretrizese os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS).Dentre suas ações básicas para redução do risco encontram-se: identificação das áreas de risco de desastres com probabilidade de impacto na saúde humana; identificação das comunidades vulneráveis e caracterização dessas vulnerabilidades; elaboração de plano de contingência de vigilância em saúde ambiental relacionado aos desastres “naturais”; adoção de medidas que facilitem a tomada de decisão das instituições visando à redução do risco; entre outras (BRASIL, 2006, p.28). A atuação do VIGIDESASTRES é baseada na gestão do risco, compreendendo ações de redução do risco (prevenção, mitigação e preparação), manejo do desastre (alerta e resposta) e recuperação (reabilitação e reconstrução), por meio de ações de planejamento, gerenciamento, acompanhamento, monitoramento e avaliação, com o objetivo de proteger a saúde da população, sempre em conformidade e em articulação com os órgãos que integram o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) (MUSMANNO, et al, 2016). Outro aspecto a considerar é a Lei 12.608/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), dispondo sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC) e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil (CONPDEC), e autorizando a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres (BRASIL, 2012b). As instituições de Proteção e Defesa Civil são parte crucial do sistema de prevenção, preparação, resposta e reabilitação a desastres no Brasil, uma vez que propõe soluções dentro dos diversos níveis de governo. Sua estruturação efetiva deve ser permeada por conhecimento técnico, com profissionais capacitados e instruídos para trabalhar na prevenção de desastres e prontos para enfrentá-los, o que consiste em medidas de curta e longa duração, planejadas para salvar vidas e limitar os danos que possam ser causados (LONDE, SORIANO, COUTINHO, 2015). A atuação da Proteção e Defesa Civil na fase de preparação a um desastre de origem natural está intimamente interligada à fase de mitigação, cujas principais 19 ações envolvem a avaliação do risco e a redução do risco de desastres. A primeira delas permite delimitar áreas geográficas vulneráveis e com maior risco de desastre ocorrer, representando um importante instrumento para a fase de preparação durante o gerenciamento do desastre. A segunda ação contempla medidas não estruturais que envolvem o planejamento, uso e ocupação do solo em função das áreas de risco, e medidas estruturais que englobam obras de engenharia de qualquer especialidade (SHADECK, et al, 2013). Ainda sobre a gestão de risco, outra ação essencial é o monitoramento de eventos naturais, como o controle de níveis, vazões e velocidade de um rio, que podem oscilar entre valores abaixo e acima da média. Tais oscilações podem vir a representar risco de ocasionar inundações ou enxurradas (SHADECK, et al, 2013). Sendo assim, eventos que possam ser considerados ameaças para uma determinada região devem sempre ser avaliados e monitorados, a fim de prever uma situação de desastre. Na fase de preparação em si, inicia-se a transição da gestão do risco para o gerenciamento do desastre. Em vista da atividade de monitoramento e em vista da iminência do impacto, as ações de preparação devem ser desencadeadas para que, assim, sejam poupadas vidas e danos sejam minimizados. Para isso são preconizados projetos de desenvolvimento institucional e de recursos humanos, comunicação estratégica, envolvimento e articulação com setor privado e empresarial, planejamento operacional e de contingência, mobilização das forças institucionais de resposta, apoio logístico, além de exercícios simulados periódicos (SHADECK, 2013). No entanto, de acordo com dados fornecidos pelos Estados Membros da OPAS / OMS, 67% de seus quase 18.000 hospitais estão localizados em áreas de risco de desastres (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 2005). Em média, um hospital que não funciona deixa cerca de 200.000 pessoas sem atenção em saúde, e a perda dos serviços de urgência durante os desastres diminuem consideravelmente a possibilidade de salvar vidas (ENSP, 2015). A destruição de um estabelecimento de saúde não se restringe à perda da estrutura física. É importante lembrar dos 20 equipamentos, mobiliários, medicamentos, insumos e, principalmente, dos possíveis danos aos pacientes, aos visitantes e aos profissionais de saúde que se encontram na unidade. A interrupção do funcionamento dos serviços de saúde pode ser o diferencial entre a vida e a morte, por isso torna-se prioritário conseguir que todos os estabelecimentos de saúde disponham de uma edificação resistente aos impactos dos fenômenos naturais, que seus equipamentos não sofram danos, que os serviços essenciais (água, eletricidade, gases medicinais, coleta dos resíduos de saúde, saneamento, telecomunicações, acesso etc.) sigam funcionando, e que o pessoal de saúde seja capaz de continuar oferecendo atenção clínica. Com vistas a esse quadro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) vêm trabalhando no sentido de gerar uma consciência pública acerca do tema da segurança para os estabelecimentos de saúde com a proposta denominada “Hospitais seguros frente aos desastres”, em que solicita que os Estados Membros a adotem como uma política nacional de redução de riscos. 21 Vídeo 3: Redução do Risco de Desastres e o enfoque sistêmico Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=ddnFJwl3eEo> Sinopse: este vídeo trata dos conceitos de Redução do Risco de Desastres (RRD) / "Disaster Risk Reduction (DRR)" - aceitos internacionalmente de acordo com as decisões da Assembleia Geral da ONU e a UNDRR (United Nations Office for Disaster Risk Reduction / Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres). No dia 13 de outubro comemora-se no mundo todo o "Dia Internacional da Redução de Risco de desastres", uma oportunidade para refletir sobre as ações que cada país (estados e municípios) realiza, tendo em vista a aplicação dos conceitos de Resiliência e RRD. No vídeo - uma conversa entre André Argollo (Coordenador do Ceped Unicamp) e Sidnei Furtado (Coordenador da Defesa Civil Regional Campinas) - apresentam-se as 5 ações estratégicas para o enfoque sistêmico sobre Resiliência e RRD, quais sejam : prevenção, mitigação, preparação, resposta, recuperação. O sistema de proteção e defesa civil do estado de São Paulo, assim como nos demais estados do Brasil, obedece os preceitos da Lei Federal 12.608/2012 que estabelece diretrizes para a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e cria o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (incluindo nesse sistema a criação nos estados dos CEPEDs: Centro de Estudos e Pesquisas em Desastres). No estado de São Paulo, o CEPED-SP/USP (criado em 2013) ganhou a companhia do CEPED- SP/UNICAMP (criado em 2020), além de outros a serem criados no estado. Os CEPEDs, assim como as ações da Defesa Civil em São Paulo e em todo o Brasil, hão de atuar de acordo com os conceitos de Resiliência e RRD estabelecidos no Marco de Sendai (2015-2030), que - dentre outros aspectos - considera essencial o enfoque sistêmico para tratar das questões afetas à proteção e defesa civil. Esperamos que apreciem o vídeo. Saudações, André Argollo. Coordenador Ceped / Unicamp. DESASTRES 22 O primeiro grande desastre da Era Moderna foi o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1º de novembro de 1755, de 9.0 de magnitude na escala Richter, ocasião em que 90.000 (noventa mil) pessoas morreram. No Brasil, o registro de um grande desastre por escorregamentos se deu em janeiro de 1966, no então município de Guanabara, atual Rio de Janeiro, um desastre sem precedentes, quando centenas de vidas foram ceifadas e milhares depessoas desabrigadas. A magnitude do desastre resultou na incapacidade do Estado em responder ao evento, o que fez com que o Governo Federal criasse um órgão especifico para coordenar ações de defesa permanente contra calamidades. Dos desastres que atingiram o Estado de Santa Catarina, estão as enchentes de 1974, no município de Tubarão, as enchentes no Vale do Itajaí nos anos de 1982 e 1983, o Furacão Catarina em 2004, os deslizamentos de 2008, as tempestades de 2009, as fortes chuvas, granizo e ventos fortes de 2010 e 2011, causando deslizamentos, inundações e danos materiais e humanos significativos, mostrando que o Estado tem sido constantemente atingido por desastres, principalmente os naturais. Oportuno saber o que é um desastre. O conceito pode ser encontrado com mesmo texto na Política Nacional de Defesa Civil e no Glossário de Defesa Civil,como sendo: Resultado de eventos adversos, naturais ou provocado pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. Para administrar os desastres, segundo Castro, a defesa civil atua em quatro fases: prevenção, preparação para emergências, resposta aos desastres e a reconstrução dos danos causados. 1. As ações de prevenção são aquelas medidas que visam avaliar e reduzir o risco de desastre. Importante salientar que as medidas preventivas buscam a redução e também sua eliminação, mesmo sabedores que na maioria dos casos não se possuí o controle sobre os eventos causadores dos desastres. A prevenção compreende a 23 avaliação e a redução de riscos de desastres, voltada ao estudo das ameaças, do grau de vulnerabilidade do sistema, permitindo a avaliação e a hierarquização dos riscos de desastres e a definição das áreas de maior risco. Já a redução caracteriza-se pelo conjunto de medidas estruturais e não estruturais que visam reduzir os riscos de desastres, através da minimização da vulnerabilidade. 2. A fase da preparação de desastres compreende um conjunto de ações para fazer frente a um desastre, através de projetos de desenvolvimento institucional, cientifico e tecnológico, a capacitação de recursos humanos, monitoramento, alarme, planejamento operacional e de contingência, proteção da população, aparelhamento e apoio logístico, atualização de legislação pertinente e principalmente mudança comportamental. 3. A fase de resposta caracteriza-se por ações de socorro, assistenciais das populações vitimadas e da reabilitação do cenário do desastre, desenvolvidas imediatamente após a ocorrência do desastre, objetivando o restabelecimento das condições de normalidade. As ações compreendem atividades de logística, assistenciais e de promoção da saúde, avaliação de danos; vistoria e elaboração de laudos técnicos; desmontagem de estruturas danificadas, desobstrução e remoção dos escombros; sepultamento, limpeza, descontaminação do ambiente; reabilitação dos serviços essenciais e a recuperação de unidades habitacionais de baixa renda, e outros. 4. Finalmente a fase de reconstrução das áreas afetadas, possui a finalidade de restabelecer os serviços públicos, a infra-estrutura, a moral social e o bem-estar da população. Confunde-se muitas vezes com a prevenção, visto que a reconstrução deve acontecer com foco na prevenção, eliminando-se a vulnerabilidade frente a um novo desastre. Os desastres naturais no Brasil se intensificaram e seus registros aumentaram, prova disso são os números de decretações de situação de emergência ocorridas a partir de novembro de 2008. 24 Verifica-se como agravante o crescimento descontrolado das cidades, o êxodo rural, a redução dos terrenos em áreas seguras e sua consequente valorização provocando o adensamento da população mais vulnerável em áreas de riscos mais intensos. Os desastres, além das consequências imediatas, possuem efeitos associados que afetam as condições de vida da população, aumentam o déficit público decorrente das despesas inesperadas e contraídas com as atividades de socorro e assistência, reduzem a receita com impostos, aumentam o do custo de vida causado pela falta de bens de consumo essenciais e pela especulação, e diminuem a atividade econômica na área afetada. Como visto, e pelo entendimento da maioria dos técnicos de defesa civil, existe a necessidade de se estar pronto para conviver com os eventos adversos, tornando nosso ambiente menos vulnerável, diminuindo assim o risco até se tornar aceitável e aprender a conviver com ele, porque na ocorrência de desastres não sobrevivem os mais fortes e sim os mais preparados. Classificação dos Desastres De acordo com a Política Nacional de Defesa Civil, os desastres, são classificados quanto à origem, à evolução e à intensidade. a) classificação dos desastres quanto à origem: Os desastres quanto à sua origem são compreendidos como sendo, naturais, humanos e mistos. Os desastres naturais são resultantes de fenômenos e desequilíbrio da natureza, causados por fatores de origem externa, independente da ação humana. Os humanos resultam de ações ou omissões, classificados como tecnológicos, sociais e biológicos. Finalmente os desastres mistos são os que ocorrem das ações ou omissões do homem, contribuindo para intensificar e agravar os desastres naturais. Salienta-se que a tendência é de classificar os desastres como sendo mistos, visto que uma corrente de pesquisadores entende que na maioria das vezes existe a intervenção do homem para que os desastres ocorram. b) classificação dos desastres quanto à evolução: 25 Os desastres quanto à sua evolução são classificados como sendo súbitos ou de evolução aguda, de evolução crônica ou gradual e por somação de efeitos parciais. c) classificação dos desastres quanto à intensidade: A caracterização da intensidade resulta da necessidade dos recursos para o restabelecimento da situação de normalidade e dos recursos despendidos pelo município atingido. São classificados em níveis: • Nível I, acidentes, são desastres de pequeno porte ou intensidade, os danos e os desastres são de pouca importância, facilmente suportáveis pela comunidade; • Nível II, desastres de médio porte ou intensidade, os danos e prejuízos, embora sendo importantes, podem ser suportados, recuperados com recurso pela comunidade atingida, necessitando apenas de mobilização; • Nível III, desastres de grande porte ou intensidade, grandes danos e prejuízos vultuosos, os recursos existentes são insuficientes, necessitando de auxilio regional, estadual e até mesmo federal. Todavia, estes desastres podem ser suportáveis desde que a comunidade esteja preparada, e; • Nível IV, desastres de muito grande porte ou intensidade, que exigem além dos recursos próprios, os do Estado e da União e em muitos casos até Internacionais. SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA E ESTADO DE CALAMIDADE Vídeo 4: Situação de emergência x situação de calamidade Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=JlIaRjN24bU> Sinopse: uma das principais medidas do Governo Federal para ajudar cidades afetadas por chuvas intensas e outros desastres naturais é reconhecer o estado de emergência ou de calamidade pública nesses locais. 26 Vídeo 5: CALAMIDADE PÚBLICA o que é e o que muda a partir de agora Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=iyWCkyBKezQ> Sinopse: o que significa e quais os efeitos jurídicos da calamidade pública? Neste vídeo nós analisamos os efeitos jurídicos da calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional em razão da pandemia do Coronavirus Covid-19. Contamos com a participação de um especialista em Direito Tributário: o Professor Vinicius Dalazoana. Ao ser afetada a ordem social devido a uma alteração da normalidade em decorrência de um desastre, dependendo da sua intensidade, dos danos e dos prejuízoscausados, existem duas possibilidades de decretação por parte do Poder Público Municipal, a Situação de Emergência ou o Estado de Calamidade Pública, assim definidos no Manual para Decretação de Situação ou Emergência ou de Estado de Calamidade Pública. Situação de Emergência - Reconhecimento (legal) pelo poder público de situação anormal, provocada por desastre, causando danos superáveis (suportáveis) pela comunidade afetada. Estado de Calamidade Pública - Reconhecimento (legal) pelo poder público de situação anormal, provocada por desastres, causando sérios danos à comunidade afetada, inclusive à incolumidade e a vida de seus integrantes. Conceito diferente é dado pelo Decreto Federal n° 7.257, de 04 de agosto de 2010, que dentre outras providências dispõem sobre o reconhecimento de situação de emergência ou estado de calamidade pública, in verbis: Art. 2° Para os efeitos deste Decreto, considera-se: [...] III – situação de emergência: situação anormal, provocada por desastre, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido; IV – estado de calamidade pública: situação anormal, provocada por desastre, causando danos e prejuízos que impliquem o 27 comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido. Na grande maioria o estado de calamidade pública resulta de um agravamento da situação de emergência, considerando a intensidade dos danos e a ponderação dos prejuízos e fazendo-se necessária uma análise coerente das necessidades dos recursos humanos, materiais, institucionais e financeiros. Recomenda-se que a análise seja realizada por uma equipe especializada. URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Devido ao crescente aumento no número de atendimentos de urgência e emergência no país, gerados pelos “acidentes” de trânsito, violência, e doenças de varias etiologias, sobretudo cardiovasculares, surge no Brasil à necessidade de um atendimento rápido e especializado em prestar os primeiros socorros a estes doentes de traumas e males súbitos, ainda na cena do fato. Para promover este atendimento, são enviadas ambulâncias de suporte básico e avançado, de acordo com o quadro da vítima, contando ainda com equipes de saúde, altamente qualificadas, mostrando que este cuidado reduz o número de óbitos e suas complicações atribuídas a ausência de socorro imediato e adequado. O atendimento pré-hospitalar, seja móvel, seja fixo, tem como premissa o fato de que, dependendo do suporte imediato oferecido à vítima, lesões e traumas podem ser tratados sem gerar sequelas significativas. Para Malvestio e Sousa (2002), embora ainda existam muitas dúvidas a respeito do impacto da assistência pré- hospitalar sobre o êxito do tratamento alcançado pelas vitimas por ele atendidas, não O vídeo 6, sob o título de “dispensa de licitação por emergência ou calamidade pública (lei 8.666/93, art. 24, iv)”, disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=sfR8-O1ACLk>, trata de uma assunto de gestão e vale a pena assistir, antes de iniciar a leitura do conteúdo do item Urgência e Emergência. 28 se pode negar sua contribuição no sentido de redução do tempo de chegada ao hospital adequado, bem como das intervenções iniciais apropriadas a manutenção da vida. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, a unidade de emergência é destinada a promover serviços de saúde requeridos com caráter de emergência e urgência para prolongar a vida da vítima ou prevenir consequências críticas, os quais devem ser proporcionados imediatamente. Os serviços de emergência possuem como características inerentes o acesso irrestrito; o número excessivo de pacientes; a extrema diversidade na gravidade no quadro inicial, tendo-se pacientes críticos ao lado de pacientes mais estáveis; a escassez de recursos, a sobrecarga da equipe de enfermagem; o número insuficiente de profissionais na área de saúde; o predomínio de jovens profissionais; a fadiga; a supervisão inadequada; a descontinuidade do cuidado e a falta de valorização dos profissionais envolvidos (DALCIN,2005). De acordo com Guido (1995), o atendimento inicial do paciente traumatizado acontece em três etapas sucessivas: na cena do acidente; durante o transporte e no centro hospitalar. As unidades de emergência são locais apropriados para o atendimento de pacientes com afecções agudas específicas onde existe um trabalho de equipe especializado e podem ser divididos em pronto atendimento, pronto socorro e emergência (ANDRADE et al, 2000). Salientando-se que a emergência representa uma situação ameaçadora e brusca que requer medidas imediatas de correção e defesa, diferenciando-se do atendimento em consultórios, unidades de saúde básica, ou de tratamento programado, pois os sujeitos apresentam uma ampla variedade de problemas atuais ou potenciais, podendo seu estado alterar-se de minuto a minuto. Desse modo, a decisão da equipe necessita ser imediata, baseada num atendimento sistematizado e preciso, geralmente estabelecendo prioridades através de protocolos de emergência. 29 Para abordar a temática urgência e emergência se faz necessário compreender ambos os significados. Sendo assim o Conselho Federal de Medicina (1995) em sua Resolução CFM nº 1451/95, dispõe do seguinte conceito: Define- se por urgência a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata; Define-se por emergência a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2014). Segundo SANTOS (2008), considera-se urgência uma prioridade moderada de atendimento, cujo portador necessita de atendimento mediato, pois não há risco de morte. A mesma autora citada acima conceitua emergência uma alta prioridade de atendimento, cujo individuo necessita de tratamento médico imediato, pois há risco de morte. O Ministério da Saúde determina que os procedimentos dos serviços de urgência e emergência devem ser caracterizados em três modalidades, considerando como critério a gravidade e a complexidade do caso a ser tratado (MINISTÉRIO DA SAÚDE apud VALENTIN; SANTOS, 2008). Segue abaixo as modalidades: a) Urgência de baixa e média complexidade: quando o paciente não corre risco de morte; b) Urgência de alta complexidade: O paciente apresenta um quadro crítico ou agudo, porém não há risco de morte. c) Emergência: casos em que há risco de morte. A emergência é caracterizada como sendo a situação onde não pode haver uma protelação no atendimento, o mesmo deve ser imediato. Nas urgências o atendimento deve ser prestado em um período de tempo que, em geral, é considerado como não superior a duas horas. As situações não urgentes podem ser referidas para o pronto atendimento ambulatorial ou para o atendimento ambulatorial convencional, pois não tem a premência que as já descritas anteriormente (LOPES, 2009, p.09). O termo emergência é definido como uma categoria na triagem onde a assistência é prestada em casos de prejuízo á saúde com risco de vida potencial ou 30 qualquer alteração no organismo que exigem tratamento imediato. Da mesma forma que a emergência, a urgência é considerada uma categoria de triagem, no entanto o cuidado é fornecido em casos de doença grave ou dano a saúde que não conduz um risco de morte (BRUNNER e SUDDARTH, 2011). EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR É o atendimento que procura chegar à vítima nos primeiros minutos após ter ocorrido o agravo à sua saúde que possa levar à deficiência física ou mesmo à morte, sendo necessário, portanto, prestar-lhe atendimento adequado e transporte a um hospital devidamente hierarquizado. Princípios gerais e específicos de socorrode urgência O socorro de urgência tem como fundamento principal à agilidade no atendimento, levando à vítima chances maiores de sobrevida durante a situação em que ela está. Dentro desta lógica, em que o melhor atendimento é o atendimento de urgência, com isso foi criado a corrente da sobrevida ou chain of survival, com consequências rápidas e com grande eficácia, baseia-se no princípio em que um elo da corrente não funciona sem estar interligado ao próximo elo. Em sequência corrente da sobrevida, adulta, mostra que o primeiro elo deve- se chamar por ajuda rápida. Em seguida devemos identificar rápido uma Parada Cardiorrespiratória e iniciar rapidamente as manobras de Reanimação (RCP), seguido de mais um elo ao qual se refere à desfibrilação precoce, essa que precede o último elo, onde temos a chegada do suporte avançado de vida. A prevenção é o melhor tratamento para o trauma, sabemos que 50% das mortes por trauma morrem no local, sem chance de receber o atendimento Vídeo 7: Primeiros Socorros - Princípios de Segurança Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=GVYRWybNxfk> 31 especializado, essas mortes somente poderiam ser evitadas mediante as campanhas preventivas, nas quais têm grandes resultados. Uma sequência didática e até mesmo lógica é muito utilizada em países mais desenvolvidos onde o trauma não tem índices tão elevados de morte. Essas são: Educação básica de SBV (suporte básico de vida) e prevenção, campanhas educativas, campanhas preventivas e ensino maciço de SBV. O protocolo internacional de atendimento de emergência foi criado para padronizar os atendimentos realizados aos mais diversos tipos de emergência. Para padronizar e facilitar os provedores de saúde a realizar o atendimento, criou-se o A B C da vida aos quais seguem uma sequência de procedimentos ou tentar a morte clínica da vítima.Vamos iniciar a sequência de atendimento seguindo os elos da “Corrente da Sobrevida” Segundo Santos et al (1999), a emergência é uma propriedade que uma dada situação assume quando um conjunto de circunstâncias a modifica. A assistência em situações de emergência e urgência se caracteriza pela necessidade de um paciente ser atendido em um curtíssimo espaço de tempo. A emergência é caracterizada com sendo a situação onde não pode haver uma protelação no atendimento, o mesmo deve ser imediato. A necessidade da formação do enfermeiro em atuação nas unidades móveis apresenta a importância dos procedimentos teóricos que aprendemos como enfermeiros que o socorro nos momentos após um acidente, principalmente as duas primeiras horas são os mais importantes para se garantir a recuperação ou a sobrevivência das pessoas feridas. Os casos de urgência se caracterizam pela necessidade de tratamento especifico, o paciente será encaminhado para a especialidade necessária, ortopedia, cirurgia geral, neurologia e clinica médica. Neste caso o risco de vida é pouco provável (ROCHA, 2020). 32 Os casos de emergência se caracterizam pela avaliação de todas as especialidades, pois o risco de vida é eminente e o inicio do tratamento terá que ser imediato, há no setor a sala de Politrauma, local que possui suporte completo e equipe sintonizada aos procedimentos necessários ao atendimento. Após o quadro clínico estabilizado o cliente é removido às unidades básicas de apoio, onde receberá continuidade ao tratamento (ROCHA, 2020). Os casos de rotina são casos que podem aguardar até o dia seguinte, onde será acompanhado pela Unidade Básica de Saúde mais próxima (ROCHA, 2020). Através das unidades básicas de saúde são priorizadas as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes, de forma integral e contínua. Representa o primeiro contato da população com o serviço de saúde do município, assegurando a referência e a contra referência para os diferentes níveis do sistema. Criado no Brasil na década de 90, inspirado em experiências advindas de outros países cuja Saúde Pública alcançou níveis de qualidade, com investimento na promoção de saúde, como Cuba, Inglaterra e Canadá (BRANDÃO, 2003). Este serviço foi idealizado para aproximar dos serviços de saúde da população e cumprir o princípio constitucional do Estado de garantir ao cidadão seu direito de receber atendimento integral à saúde, mediante a construção de um modelo assistencial de atenção baseado na promoção, proteção, diagnóstico precoce e recuperação da saúde, permitindo que os responsáveis pela oferta dos serviços de saúde, os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), aprofundem o conhecimento sobre aqueles a quem devem servir. A estratégia destas unidades reafirma e incorpora os princípios básicos do SUS: universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade. Quanto à atenção hospitalar às vítimas de acidentes e violências reúne-se de forma complexa a estrutura física, a disponibilidade de insumos, o aporte tecnológico e os recursos humanos especializados para intervir nas situações de emergência decorrentes dos acidentes e violências. As emergências são as principais portas de entrada desses pacientes no hospital; considerando a gravidade das lesões, a 33 assistência demandará ações de diferentes serviços e poderá exigir um tempo considerável de internação, acarretando um custo elevado. ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR E AVALIAÇÃO INICIAL DA VÍTIMA O Suporte Básico de Vida (SBV), oferecido aos pacientes no ambiente extra- hospitalar, consiste no reconhecimento e na correção imediata da falência dos sistemas respiratório e/ou cardiovascular, ou seja, a pessoa que presta o atendimento deve ser capaz de avaliar e manter a vítima respirando, com batimento cardíaco e sem hemorragias graves, até a chegada de uma equipe especializada. Em outras palavras, o profissional de saúde que presta o socorro, (que aqui o identificaremos como “socorrista”, para fins didáticos), ao iniciar o suporte básico estará garantindo, por meio de medidas simples, não invasivas e eficazes de atendimento, as funções vitais do paciente e evitando o agravamento de suas condições. São inúmeras as situações de urgências e emergências que necessitam do atendimento de um profissional de saúde ou de um socorrista especializado: traumatismos, queimaduras, doenças cardiovasculares, parada cardiorrespiratória, crise convulsiva, afogamento, intoxicações, etc. E para cada caso específico, o profissional deverá estar apto a prestar um socorro adequado e de qualidade. É preciso definir e diferenciar o que vem a ser então uma situação de urgência ou emergência. Segundo o Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM nº 1451/95), “define-se por urgência a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata.” Já o conceito de emergência é entendido como “a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato.” 34 De forma mais objetiva, a urgência é uma situação onde não existe risco imediato à vida (ou risco de morte). O atendimento requer rapidez, mas o paciente pode aguardar tratamento definitivo e solução em curto prazo (algumas literaturas se referem a um prazo de até 24 horas). A emergência geralmente implica estarmos diante de uma situação de aparecimento súbito e imprevisto, grave, crítica e que exige ação imediata, pois a ameaça à vida é grande. Como o próprio nome diz, o serviço de Atendimento Pré-hospitalar (APH) envolve todas as ações efetuadas com o paciente, antes da chegada dele ao ambiente hospitalar. Compreende, portanto, três etapas: 1) Assistência ao paciente na cena (no local da ocorrência); 2) Transporte do paciente até o hospital; 3) Chegadado paciente ao hospital. O APH divide-se, ainda, basicamente em duas modalidades de atendimento: • Suporte Básico à vida (SBV): caracteriza-se por não realizar manobras invasivas. • Suporte Avançado à Vida (SAV): tem como característica a realização de procedimentos invasivos de suporte ventilatório e circulatório, como, por exemplo, a intubação orotraqueal, acesso venoso e administração de medicamentos. Geralmente, o suporte avançado é prestado por equipe composta por médico e enfermeiro. O APH tem como objetivos específicos preservar as condições vitais e transportar a vítima sem causar traumas iatrogênicos durante sua abordagem, como, por exemplo, danos ocorridos durante manipulação e remoção inadequada (do interior de ferragens, escombros, etc.). O socorrista deve ter como princípio básico evitar o agravamento das lesões e procurar estabilizar as funções ventilatórias e hemodinâmicas do paciente. 35 As condições essenciais para que esses objetivos sejam alcançados são: pessoal qualificado e devidamente treinado; veículos de transporte apropriados e equipados, sendo inclusive dotados de meio de comunicação direta com o centro que receberá a vítima e hospitais de referência estrategicamente localizados, com infraestrutura material e recursos humanos adequados. Uma atenção pré-hospitalar qualificada é de suma importância para que a vítima chegue viva ao hospital. Nos locais onde esse sistema é inadequado, a mortalidade hospitalar por trauma, por exemplo, é baixa, porque os pacientes graves morrem no local do acidente, ou durante o transporte. Para conhecer mais sobre a caracterização dos serviços de urgência e emergência, SAMU, normatização e legislação do Atendimento Pré-hospitalar (APH) no Brasil, leia sobre a Política Nacional de Atenção às Urgências, documento disponível no site do Ministério da Saúde: O socorrista, ao decidir intervir em determinada ocorrência no ambiente pré- hospitalar, deverá seguir algumas regras básicas de atendimento: 1) AVALIAR CUIDADOSAMENTE O CENÁRIO – Qual a situação? Observar, reconhecer e avaliar cuidadosamente os riscos que o ambiente oferece (para você, sua equipe e terceiros – paciente, familiares, testemunhas, curiosos), qual o número de vítimas envolvidas, gravidade, etc. – Como a situação pode evoluir? Tenha sempre em mente que o ambiente pré- hospitalar nunca está 100% seguro e uma situação aparentemente controlada pode tornar-se instável e perigosa a qualquer momento. Portanto, a segurança deverá ser reavaliada constantemente! – Identifique as ameaças ao seu redor, tais como riscos de atropelamento, colisão, explosão, desabamentos, eletrocussão, agressões, etc. Na existência de qualquer perigo em potencial, aguarde o socorro especializado. Lembre-se: não se torne mais uma vítima! Quanto menor o número de vítimas, melhor. 36 – Que recursos devem ser acionados? Verifique se há necessidade de solicitar recursos adicionais, tais como corpo de bombeiros, defesa civil, polícia militar, companhia elétrica, etc. 2) ACIONAR A EQUIPE DE RESGATE especializado e autoridades competentes, caso seja necessário, conforme avaliação anterior. Não devemos esquecer que solicitar o serviço de socorro pré-hospitalar profissional é tão importante quanto cuidar da própria vítima. Na maioria das cidades brasileiras, os principais números para acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), serviço de salvamento e resgate (Corpo de Bombeiros) e Polícia Militar, são respectivamente: 192, 193 e 190. 3) SINALIZAR O LOCAL: isso é especialmente importante em casos de acidentes automobilísticos, portanto não se esqueça de sinalizar a cena e torná-la o mais segura possível. Utilize o triângulo de sinalização, pisca – alerta, faróis, cones, galhos de árvores, etc. 4) UTILIZAR BARREIRAS DE PROTEÇÃO contra doenças contagiosas. Ao examinar e manipular a vítima, o socorrista deverá tomar todas as precauções para evitar a sua contaminação por agentes infecciosos, sangue, secreções ou produtos químicos. O uso de equipamento de proteção individual (EPI), tais como luvas descartáveis, óculos de proteção, máscaras e aventais, é essencial para a segurança do profissional de saúde em atendimento. Portanto, proteger-se de qualquer contaminação e minimizar os riscos de exposição fazendo uso das precauções universais é uma obrigação da pessoa que presta o socorro. Lembre-se do bom- senso: a sua segurança em primeiro lugar, correto? Lembramos ainda que a lavagem de mãos com água e sabão deverá ser feita rigorosamente antes e após cada atendimento. Esse é um hábito imprescindível a ser adotado tanto no ambiente pré- hospitalar quanto hospitalar, por todos os profissionais de saúde. 5) RELACIONAR TESTEMUNHAS para sua própria proteção pessoal, profissional e legal enquanto prestador de socorro. 6) ABORDAGEM E AVALIAÇÃO DA VÍTIMA 37 Após avaliar o ambiente e tomar todas as precauções de segurança e proteção individuais, o socorrista deverá se identificar e se apresentar à vítima dizendo: “Sou um profissional de saúde. Posso ajudar?” Em seguida, devidamente autorizado a prestar auxílio e observando todos os aspectos pessoais e legais da cena do acidente (ou doença aguda), o profissional poderá intervir diretamente no atendimento. É fundamental que o socorrista profissional classifique a vítima em adulto, criança ou bebê, pois os procedimentos de SBV, caso sejam necessários, serão adotados respeitando-se essa classificação, de acordo com as últimas recomendações (2005) da American Heart Association. • Bebê (“lactente”): do nascimento ao primeiro ano de vida. • Criança: do primeiro ano de vida até o início da puberdade (por ex: desenvolvimento das mamas em meninas e pelos axilares nos meninos). • Adulto: a partir da puberdade. O ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR (APH) E O SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA (SAMU) O serviço de APH móvel representa um esforço conjunto das três esferas do governo, sendo dotado de estrutura física e equipe multiprofissional: profissionais de enfermagem, médicos e profissionais de apoio, a disposição 24 horas por dia em condições de prestarem suporte básico e avançado de vida (BRASIL, 2006). A principal característica do serviço de APH consiste em atender a vítima nos primeiros minutos após o agravo, de maneira a prestar atendimento adequado e transporte rápido para um estabelecimento de referência (MARTINS; PRADO, 2003). Tem o objetivo de estabilizar as condições vitais e reduzir a morbimortalidade, por meio de condutas adequadas durante a fase de estabilização e transporte, assim 38 como as iatrogenias que possam culminar com adventos variados, desde as incapacidades físicas temporárias ou permanentes até a morte (FONSECA, 2007). Dados históricos evidenciam que o APH surgiu no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em 1893, como medida de intervenção por parte do Estado, através do Setor de Saúde e Segurança Pública. Sua finalidade era proporcionar atendimento precoce, rápido, com transporte adequado a um serviço emergencial definitivo, a fim de diminuir os riscos, complicações, sequelas e aumentar a sobrevida das vítimas (MACHADO, 2007). Nesse mesmo ano, por força do Decreto nº 395, o Estado de São Paulo, estabeleceu a responsabilidade do Serviço Legal da Polícia Civil do Estado para atender as ocorrências. A partir de 1910, com o Decreto nº 1392, tornou-se obrigatório a presença de profissionais médicos em acidentes e incêndios (AZEVEDO, 2002). Por definição, o APH é qualquer assistência realizada fora do ambiente hospitalar, utilizando meios e recursos disponíveis, com resposta adequada à solicitação. Portanto, pode variar desde uma simples orientação telefônica ao envio de uma ambulância de suporte básico ou avançado até o local do evento, visando a manutenção da vida, prevenção de agravos e atémesmo à minimização de sequelas (FONSECA, 2007). Já o Ministério da Saúde conceitua APH como a assistência prestada em um primeiro nível de atenção, aos portadores de quadros agudos de natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando ocorrem fora do ambiente hospitalar, podendo acarretar sequelas ou até mesmo a morte (RAMOS; SANNA, 2005). O modelo de APH adotado no Brasil foi o modelo francês de atendimento, em que as viaturas de suporte avançado possuem obrigatoriamente a presença do médico, diferentemente dos moldes americanos em que as atividades de resgate são exercidas primariamente por profissionais paramédicos (FONSECA, 2007). Em São Paulo, no ano de 1989, foi criado o Projeto Resgate ou SAMU, chefiado por um capitão médico, baseado no modelo francês, mas com influências do sistema americano que foi adaptado à realidade local (MINAYO; DESLANDES, 2008). 39 De acordo com estas autoras, o Projeto Resgate vinculou-se inicialmente ao Corpo de Bombeiros e, na ocasião, os profissionais bombeiros eram capacitados através de um curso nacionalmente padronizado e denominados de agentes de socorros urgentes, hoje conhecido de socorristas. Devido o corpo de bombeiros não ser uma instituição de saúde, o Projeto Resgate encontrou vários obstáculos, principalmente quanto à limitação da responsabilidade moral, ética, penal, civil e, sobretudo limitação do conhecimento científico. Mediante estas limitações tornou-se inviável ao corpo de bombeiros assumir a atribuição assistência préhospitalar de saúde avançada. Por isso, e com base em protocolos padronizadores da assistência, o corpo de bombeiros passou a responder por atendimentos de suporte básico de vida (MACHADO, 2007). A regulamentação dos serviços de APH no Brasil ocorreu por meio da Portaria 2.048/GM, Ministério da Saúde (MS), de 5 de novembro de 2002, denominando o atendimento pré-hospitalar móvel como Serviço de Atendimento móvel de Urgência (SAMU). Este serviço deve ser entendido como uma atribuição da área de saúde, sendo vinculado a uma Central de Regulação, com equipe de profissionais, frotas de veículos compatíveis com as necessidades da população (BRASIL, 2002). Nesse período, foi dimensionada sua real função frente à população local e às autoridades competentes, vinculando de forma definitiva, o atendimento médico emergencial ao paciente crítico, agora em ambiente pré-hospitalar (MACHADO, 2007). Reconhecendo a prioridade da organização e qualificação da atenção às urgências, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção às Urgências por meio da Portaria 1863, de 29 de maio de 2003 (BRASIL, 2006). Em 2004, o SAMU foi definitivamente oficializado pelo MS, por meio do Decreto nº. 5.055, sendo acompanhado por várias portarias que o regulam de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências (MINAYO; DESLANDES, 2008). Nos termos da Portaria MS/GM nº 1.010, de 21 de maio de 2012, o SAMU caracteriza-se por oferecer atendimento às pessoas em situações de urgência ou emergência, no próprio local de ocorrência do evento, 40 garantindo um atendimento precoce. Tais serviços são acionados por telefonia de discagem rápida por meio do número 192, padronizado em todo o território brasileiro (FIGUEIREDO; COSTA, 2009). Este serviço, sendo parte do Sistema de Saúde, deve ter um papel integrador das ações realizadas nas instâncias da assistência, comunidade e colaborar na formulação de medidas e intervenção nas diferentes áreas do Sistema, como trânsito, locais de trabalho e nos poderes públicos. Além disso, deve atuar como um sinalizador de problemas a serem enfrentados, na perspectiva de melhorar e qualificar o atendimento às urgências, diminuir o tempo de internação hospitalar e os prognósticos de reabilitação (BRASIL, 2006). O sistema APH se divide em serviços móveis e fixos. O pré-hospitalar móvel, que constitui o foco deste estudo, tem como missão o socorro imediato das vítimas, que são encaminhadas para o atendimento pré-hospitalar fixo ou para o atendimento hospitalar. O atendimento pré-hospitalar, seja móvel, seja fixo, tem como premissa o fato de que dependendo do suporte imediato oferecido à vítima, lesões e traumas podem ser tratados sem gerar sequelas significativas (MINAYO; DESLANDES, 2008). No contexto do APH, as ações são divididas em suporte básico (SBV) e suporte avançado de vida (SAV). O SBV é a estrutura de apoio oferecida a vítimas com risco de morte desconhecidas por profissionais de saúde, por meio de medidas conservadoras nãoinvasivas, tais como: imobilização cervical, contenção de sangramento, curativo oclusivo e imobilização em prancha longa. Inclui ainda ações que visam à qualidade da circulação e oxigenação tecidual, aumentando a chance de sobrevida. O SAV corresponde à estrutura de apoio oferecida por profissionais médicos onde há risco de morte, por intermédio de medidas não invasivas ou invasivas, tais como: intubação endotraqueal, toracocentese, drenagem torácica, pericardiocentese, etc (RAMOS; SANNA, 2005; KNOBEL, 2006). 41 ACOLHIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE RISCO O setor de urgência e emergência é classificado como principal porta de acesso do sistema de saúde e ampara os usuários com as mais diversificadas queixas e agravos à saúde em caráter de urgência ou não. Essa realidade assistencial é agravada por problemas organizacionais dos serviços, entre eles a ausência de acolhimento com classificação de risco, o que define o atendimento por ordem de chegada, ocasionando graves prejuízos aos usuários (BRASIL, 2002). A Portaria 2048 propõe a implantação nas unidades de atendimento às urgências o “acolhimento com classificação de risco”. Esse processo deve ser realizado por profissional de saúde, de nível superior, mediante treinamento específico e utilização de protocolos pré-estabelecidos e tem por objetivo avaliar o grau de urgência das queixas dos pacientes, colocando-os em ordem de prioridade para o atendimento (BRASIL, 2002, p.83). A crescente demanda neste setor e o fluxo desordenado do setor ocasionam sobrecarga de serviço e prejuízos na qualidade da assistência prestada. A classificação de risco é um recurso dinâmico de reconhecimento de pacientes que necessitam de tratamento imediato, de acordo com o possível risco, prejuízo à saúde ou intensidade de sofrimento, devendo o atendimento ser priorizado de acordo com a gravidade clínica do paciente, e não por ordem de chegada ao serviço (BRASIL, 2004). Fortalecendo as diretrizes do SUS, a Política Nacional de Humanização cita que todo usuário que procura atendimento, deve receber atenção resolutiva, humanizada e acolhedora a partir do reconhecimento de seu problema. Dessa maneira, essa política sugere que todas as unidades de atendimento médico elaborem protocolos clínicos de classificação de risco para priorizar os mais enfermos, para respaldo do profissional, estruturar o fluxo de usuários e atender de forma a garantir o direito de todo cidadão a saúde, evitando assim a restrição do usuário na porta de entrada (BRASIL, 2009). O acolhimento com classificação de risco permite a extensão da resolutividade ao incorporar critérios que abordam toda complexidade dos fenômenos saúde/doença, o nível de sofrimento dos usuários e seus familiares, a priorização da 42 atenção no tempo, reduzindo o número de mortes evitáveis, sequelas e internações (SERVIN et al. 2009). Para o enfermeiro que realiza a classificação de risco é crucial a habilidade da escuta qualificada, avaliação e registro completo da queixa principal, saber trabalhar em equipe, ter raciocínio crítico e rapidez para tomada de decisões, e ainda, conhecer os sistemas de apoio da rede assistencial para melhor encaminhamento do usuário (SOUZA et al., 2009). Para Lopes (2011), a inter-relação
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