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POLÍCIA COMUNITÁRIA 2 Faculdade de Minas 2 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 3 Polícia, sociedade e controle social ................................................................. 5 Origem do Policiamento Comunitário .............................................................. 8 Polícia Comunitária no Mundo ......................................................................... 8 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO .............................................................. 10 Polícia Comunitária no Brasil ......................................................................... 10 Conceitos de Polícia Comunitária .................................................................. 11 Princípios e Benefícios do Policiamento Comunitário .................................... 13 Relação entre o Policial e o Policiamento Comunitário ................................. 20 Principais Diferenças entre Polícia Comunitária e a Polícia Tradicional ........ 21 InterRelacionamento entre a Polícia Comunitária e Moradores .................... 23 Elementos do Policiamento Comunitário ....................................................... 25 Importância e Qualidade para a Polícia Comunitária ..................................... 28 Partícipes da Polícia Comunitária .................................................................. 31 Vantagens, Benefícios e Dificuldades do Policiamento Comunitário ............. 32 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO .............................................................. 38 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 40 3 Faculdade de Minas 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 Faculdade de Minas 4 SEGURANÇA PÚBLICA Segurança Pública é o conjunto de medidas tomadas para assegurar à população princípios básicos, como o direito a vida, ao patrimônio ao bem estar. Tais medidas têm que visar que os delitos, este em sentido amplo, fiquem em limites aceitáveis, pois a necessidade de segurança, segundo Chiavenato (2000) constituem o segundo nível das necessidades humanas, ou seja, são as necessidades de segurança, de estabilidade, a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga ao perigo. Tal teoria das necessidades explica porque a sociedade necessita de segurança, é nesse contexto que viram a necessidade de se agruparem para juntos fortalecerem, para que assim possam galgar outros níveis de realização humana, conforme Figura 01. 5 Faculdade de Minas 5 1* - Necessidades secundárias; 2* - Necessidades primárias. Fonte: Chiavenato (2000) Na idade média onde as sociedades surgiram aos redores dos Castelos ou dentro de muralhas, e os Reis os defendiam de agressões externas. Com as evoluções sociais apareceram as agressões internas e nesse contexto surge a necessidade de criar regras internas para garantir a segurança na comunidade como salienta Lima (1973). Recentemente em nossa história a sociedade entrou e saiu de Estados Autoritários e Democráticos, e no Brasil a transição para o Estado democrático de direito, teve como pilar a Constituição Federal de 1988 que definiu regras, seja em direitos e garantias, e distribuiu competências a diversos órgãos e dentro dessa distribuição trouxe claramente em seu artigo 144 caput quais são os órgãos que integram o sistema de segurança pública, tornou claro também que é um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, cabendo a toda a sociedade contribuir para a sua melhoria. POLÍCIA, SOCIEDADE E CONTROLE SOCIAL Antes de qualquer elucidação a respeito da filosofia de polícia comunitária e direitos humanos, faz-se necessária uma abordagem acerca da Polícia e seu contexto perante a sociedade, face à criminologia, no Estado/Administração e, consequentemente, na segurança pública. 6 Faculdade de Minas 6 Inicialmente cumpre destacar que o crime é um fenômeno social que sempre esteve presente na história da humanidade, independente da forma de se “fazer polícia”. A perspectiva de concepção deste fenômeno e as estratégias de enfrentá-lo se alteraram de acordo com os costumes, cultura e acontecimentos sociais de cada período histórico. A convivência social é um requisito da existência humana, onde o homem no decurso de sua história, sempre se reuniu dentro de grupos, permanentes ou temporários, interagindo de maneira direta com seus iguais, num estreito relacionamento interpessoal, organizando-se socialmente. Segundo o professor Tourinho Filho (2006, p. 1) as sociedades podem ser definidas como “organizações de pessoas para a obtenção de fins comuns, em benefício de cada qual”. No âmbito desses grupos, os interesses podem ser coincidentes ou antagônicos, surgindo, inevitavelmente os conflitos. Assim, do convívio em sociedade surgiu a necessidade da criação de instrumentos que mantivessem a ordem, a paz e o equilíbrio entre os homens. Objetivando a promoção de uma convivência harmoniosa às pessoas, foram estabelecidas normas que disciplinavam o convívio nos diversos ambientes de interação social, normas estas que regulamentam e dirigem o comportamento humano. Deste modo, percebe-se o surgimento do Direito como um sistema de regras concebidas pela sociedade para a sociedade, destinadas a possibilitar a convivência humana, através do controle social. É este o contexto de emergência das instituições policiais, com o objetivo precípuo de assegurar o cumprimento da Lei. De acordo com REGO (1860, p. 77) a polícia surge como instituição encarregada de manter a ordem 7 Faculdade de Minas 7 pública, a liberdade, a propriedade e a segurança dos cidadãos, sendo a vigilância o caráter principal da polícia, e o objeto da sua solicitude é toda a sociedade. Silva (2015) destaca que a polícia se divide em dois ramos principais: a polícia administrativa e a polícia judiciária, embora ambas componham à função administrativa do Estado. A polícia administrativa é também denominada de polícia preventiva, porque exerce sua atividade, a priori, antes do ilícito ocorrer, procurando evitar que eles se verifiquem (CRETELLA JÚNIOR, 1961, p. 39-40). Já a Polícia Judiciária tem natureza predominantemente repressiva, eis que se destina à responsabilização penal do indivíduo (CARVALHO FILHO, 2011, p. 120). No entanto, adverte Cretella Júnior (1961, p. 41) que o termo “repressivo” merece reparos porque não reprime delitos, mas funciona como auxiliar do Poder Judiciário nessa função. As polícias inserem-se na perspectiva do controle social, cujas estratégias são diversas e exercidas por variados órgãos. Nesse sentido, Zaffaroni e Pierangeli preceituam que:O controle social se vale, pois, desde meios mais ou menos “difusos” e encobertos, até meios específicos e explícitos, como é o sistema penal (polícia, juízes, agentes penitenciários, etc). A enorme extensão e do fenômeno do controle social demonstra que uma sociedade é mais ou menos autoritária ou mais ou menos democrática, segundo se oriente em um ou outro sentido a totalidade do fenômeno e não unicamente a parte do controle social Institucionalizado ou explícito. (ZAFFARONI e PIERANGELI, 2006, p. 61) Esse controle social, de acordo com seu direcionamento e sistematização, pode amparar a emergência de um regime autoritário ou democrático, com ou sem direitos civis. Convém ponderar que controle social pode ser compreendido como o conjunto de sistemas normativos – religião, ética, costumes, usos, terapêutica e 8 Faculdade de Minas 8 direito (todos os seus ramos, mas especialmente o campo penal), cujos portadores, através de processos seletivos, seja a estereotipia, criminalização e estratégias de socialização, estabelecem uma rede de contenções que garantem a fidelidade (ou submissão) das massas aos valores do sistema de dominação (CASTRO, 2005). ORIGEM DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO O conceito de policiamento comunitário vem como uma proposta inovadora com a visão de uma nova proposta, muitos governantes apostam nessa ferramenta e nos seus projetos, com o intuito de resgatar a credibilidade da polícia e de sua própria imagem perante a sociedade. A premissa básica da polícia comunitária é que tanto a comunidade como a polícia são co-produtoras da segurança pública, como bem preconiza SENASP (2007). A origem da existência da polícia comunitária tem como iniciativa a preocupação em aproximar polícia e comunidade, tendo como pano de fundo a percepção das questões sociais, enfoque este que se faz presente nos princípios da polícia comunitária, abaixo seguem informações sobre a implementação desse trabalho em um contexto mundial, a ação no Brasil e no local de pesquisa. POLÍCIA COMUNITÁRIA NO MUNDO 9 Faculdade de Minas 9 Com a busca de melhoria na segurança pública brasileira o Ministério da Justiça por intermédio da Secretária Nacional de Segurança Pública começou a desenvolver estudos na busca de um sistema onde envolvesse todos na construção de uma sociedade mais segura. Tal necessidade levou a busca pelo mundo, onde foi observado o modelo de policiamento do Japão que consiste num sistema de policiamento fardado. Desenvolve um dos processos mais antigos de Policiamento Comunitário no mundo (criado em 1879), montado numa ampla rede de postos, num total de 15.000 em todo o país, denominados KOBANS E CHUZAISCHOS, conforme salienta (SENASP, 2007). O Chuzaischo, segundo SENASP (2007), é um posto policial instalado em uma casa fornecida pela prefeitura onde o policial reside com sua família, existindo mais de 8.500 em todo o Japão; o policial executa sua ronda, fardado, nos horários de expediente e sua esposa o auxilia quando ele está ausente do posto, atendendo telefone, rádio e as pessoas que comparecem ali, no entanto, ela não é considerada funcionária do Estado, mas seu marido recebe uma vantagem a mais por isso. Os Kobans são instalados em áreas de maior necessidade policial, próximo a lugares de alta concentração de pessoas e de comércios, são construídos em dimensões racionais contendo uma sala para atendimento ao público e local para alojamento (com camas e armários), nesse local trabalham de 3 (três) a 4 (quatro) policiais durante 24 horas do dia. Eles trabalham desenvolvendo atividades de patrulhamento a pé, de bicicletas ou motorizado, e são responsáveis por uma pequena área de atuação, cabendo então fazer visitas a residências, comércios, conseguindo assim um controle detalhado daquela área. (SENASP, 2007). 10 Faculdade de Minas 10 O Policiamento Comunitário no Japão é o centro das atividades policiais contando com 40% do efetivo. Outro grande programa de Policiamento Comunitário está nos Estados Unidos da América, onde, observou-se que por mais que se investisse em contratação de policial, mais tecnologia e aparelhamento policial os índices de criminalidade continuavam aumentando, isso fez com que a polícia norte- americana revisse alguns conceitos. Foi observado que com a modernização a polícia deixou de fazer sua ronda a pé ou a cavalo passando a utilizar automóvel, e com isso passou a se distanciar da comunidade. Surgiram então programas tentando aproximar a polícia com a comunidade, e um desses é o Policiamento Orientado ao Problema que se baseia no conceito de que a polícia de reagir ao crime e passa a mobilizar os seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais, conforme SENASP (2007). Assim contribui para o encaminhamento de soluções aos problemas, a polícia atrairá a cooperação dos cidadãos, além de contribuir para eliminar condições propiciadoras de sensação de insegurança. POLICIAMENTO COMUNITÁRIO POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL O modelo de Policiamento Comunitário foi introduzido no Brasil a partir da década de 80 quando as polícias militares estaduais buscavam a reestruturação de seus processos com base na Constituição Federal de 1988. SENASP (2007) relata que começaram a aparecer modelos de policiamento comunitário após o I Congresso 11 Faculdade de Minas 11 de Polícia e Comunidade, promovido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo no ano de 1991, considerado para muitos como o marco inicial sobre o tema no Brasil. Nesse mesmo ano deram início o programa de Policiamento Comunitário no bairro de Copacabana no Estado do Rio de Janeiro, e em São Paulo teve como marco a cidade de Ribeirão Preto. Logo a filosofia de Policiamento Comunitário foi se alastrando pelo país e outros Estados aderiram também. Em 1985 criou-se o projeto Polícia Interativa na Cidade de Guaçui no Estado do Espírito Santo, dando um passo importante para a fixação no Estado. Costa (1995, p. 88), afirma que: Tal iniciativa diminuiu a criminalidade na cidade em 25,4 % em 1993, e aumento a credibilidade da Polícia perante a sociedade e proporcionou uma maior sensação de segurança na comunidade. CONCEITOS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA O conceito de polícia comunitária é amplo abrangendo toda a sociedade na busca de uma melhoria. Segundo Trajanowicz (1994, p. 4): 12 Faculdade de Minas 12 Outro importante conceito é o de Ferreira (1995, p. 56), pois relata que “Polícia Comunitária é uma atitude, na qual o policial, como cidadão, aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes de ser uma força pública”. Partindo desse pondo tem-se que Polícia Comunitária é a interação entre polícia e comunidade com o objetivo comum que é a melhoria da qualidade de vida, interação que acontece através do diálogo e da ação de ambas as partes. Segundo Wadman (1994), é uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e os talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a repetidas chamadas por auxílio local. Inovadora porque revê os conceitos e direciona os esforços em uma ação mais preventiva, atacando o crime em sua raiz. Direciona um serviço prestado com qualidade e eficiência a comunidade. Argumenta Murphy apud Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP (2007) numa sociedade democrática, a responsabilidade pela manutenção da paz e a observância das leis e da comunidade, não é somente da Polícia. É necessária uma polícia bem treinada, mas o seu papel é o de complementar e ajudar os esforços da comunidade, não de substituí-los. A ideia é que a comunidade deve ser mais participativa nas decisões sobre o que ocorre no bairro. Ela deixa de ser a plateia e passa a fazer parte do elencode atores, com isso ela se torna cada vez mais responsável pelo que acontece ao seu redor. 13 Faculdade de Minas 13 Outro ponto importante a salientar é o conceito de policiamento comunitário, segundo Trajanowicz (1994, p. 7) “o Policiamento Comunitário, portanto, é uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial trabalha na mesma área, agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas”. Então o policiamento comunitário diz respeito às ações desenvolvidas pela polícia, seja no planejamento realizado ou através de diretrizes que focam as melhorias e também no próprio comprometimento do policial com a comunidade. PRINCÍPIOS E BENEFÍCIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO A polícia comunitária tem como pilar dez princípios que servem para sua sustentação, toda instituição ligada aos princípios tem que se orientar por eles, conforme vários grupos de estudos salientam e a SENASP (2007, p. 46-47), traz a seguinte ordem: I - Filosofia e estratégia organizacional – tem como base a comunidade que orienta as novas ações direcionando quais ideias têm que ser implementadas, deixando de lado ideias pré-concebidas sobre policiamento. II - Comprometimento da organização com a concessão de poder a comunidade – todo cidadão deve participar como parceiro na busca de soluções dos problemas sociais, dividindo assim direitos e responsabilidade. 14 Faculdade de Minas 14 III - Policiamento descentralizado e personalizado – o policial deve conhecer a realidade do local onde trabalha, assim ele deve ser um policial plenamente envolvido com a comunidade. IV - Resolução preventiva de problema a curto e a longo prazo - o policial deve prever futuras ocorrências, evitando assim que ele seja somente acionado por rádio, com isso diminui o número de chamadas do COPOM. V - Ética, legalidade, responsabilidade e confiança – o policiamento comunitário prevê um novo contrato entre sociedade e polícia com base nesses. VI - Extensão do mandato policial - maior autonomia ao policial que atua no local, dando a ele liberdade na tomada de iniciativas dentro dos parâmetros rígidos de responsabilidade. VII - Ajuda às pessoas com necessidades específicas – valorizar as pessoas mais vulneráveis da comunidade, como criação, idosos, deficientes, sem teto, etc. VIII - Criatividade e apoio básico – ter confiança nas pessoas que estão em linha de frente do policiamento comunitário, confiar em seu discernimento, sabedoria e experiências. Isso propiciará abordagens mais criativas na resolução dos problemas da comunidade. IX - Mudança interna – exige um comprometimento de toda a organização. É fundamental uma reciclagem no seu quadro de pessoal. É uma mudança que se projeta para 10 ou 15 anos. 15 Faculdade de Minas 15 X - Construção do futuro – deve-se oferecer à comunidade um serviço personalizado e descentralizado. A ordem não deve ser imposta de fora par dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia com um recurso a ser utilizado na resolução de seus problemas atuais. Para a implantação de policiamento comunitário na sociedade brasileira orienta-se de acordo com esses princípios e determinações adotados pela filosofia de policiamento comunitário. Portanto, polícia e comunidade buscam juntas identificar os principais pontos que afligem a comunidade e, a partir de então, apresentar soluções viáveis para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, criando uma cultura participativa em um novo jeito de fazer segurança pública. Assim, a análise dos princípios que regem a Polícia Comunitária deixa claro que o maior objetivo dessa filosofia de trabalho é a participação da comunidade, de forma organizada e estruturada, visando à melhoria da qualidade de vida. Os benefícios do policiamento comunitário são a redução da criminalidade através de medidas preventivas, uma sociedade confiante no sistema de segurança pública, melhoria na qualidade de vida sabendo que o setor público tem uma atenção especial voltada com políticas claras de combate a violência. Os agentes da lei também conquistam com a aproximação das pessoas a quem prestam seus serviços. Bayley e Skolnick (2002, p. 45), enumeram os benefícios do Policiamento Comunitário: I – Benefícios Políticos - O Policiamento Comunitário é um jogo em que a polícia sempre ganha. Caso o programa seja bem sucedido a polícia fica com os créditos. Na hipótese de um fracasso total, poderá 16 Faculdade de Minas 16 argumentar que a redução da violência requer a intensificação dos métodos tradicionais. II – Apoio Popular - O Policiamento Comunitário é uma oportunidade, para que a polícia penetre na comunidade conquistando seu apoio para as atividades de segurança. Desse modo, a polícia tem aberto um canal para falar e ser ouvida, no qual pode explicar seus métodos e associar- se às iniciativas da comunidade. III – Construindo o Consenso - O Policiamento Comunitário é um meio de desenvolver o consenso, entre polícia e público, sobre o uso apropriado da lei e da força. As forças policiais têm obrigação não apenas de capturar os criminosos, mas também de manter a ordem nas locais públicos. IV – Moral Policial - Contatos positivos são estabelecidos por meio do programa, assim, o policial recebe apoio do público, que necessita de seu auxílio, para o exercício de sua atividade, sendo sua presença aceita e desejável, mudando o ânimo do agente de trabalhar sob o olhar de hostilidade e desconfiança. V – Estatura Profissional - O Policiamento requer um novo tipo de profissional que tenha iniciativa e saiba lidar com as novas dinâmicas estratégicas do serviço. Não basta, agora, ser grande e forte, outros atributos são necessários: empatia, flexibilidade, capacidade analítica e de comunicação. VI – Desenvolvimento de Carreira - Considerando-se esses novos atributos, surgem novas formas de avaliação interna do trabalho policial, 17 Faculdade de Minas 17 ao mesmo tempo, novas oportunidades de carreira para os policiais mais diversificados. Esses benefícios permitem que o policial tenha atitudes mais ativas possibilitando maior flexibilidade na desenvoltura de seu trabalho, ganhando com isso maior prestígio pessoal e reconhecimento da sociedade. No âmbito da corporação cria uma visão de polícia cidadã, quebrando paradigmas de uma visão oriunda do regime militar, de uma polícia autoritária que não respeita os Direitos Humanos, que grande parte da população nos dias atuais ainda a interpreta assim. Segundo SENASP - Secretaria Nacional de Segurança Pública (2007) os princípios da policia comunitária são filosofia e estratégia organizacional, comprometimento da organização com a concessão de poder a comunidade, comprometimento da organização com a concessão de poder a comunidade, policiamento descentralizado e personalizado, resolução preventiva de problemas a curta e em longo prazo, ética, legalidade, responsabilidade e confiança, extensão do mandato policial, ajuda as pessoas com necessidades especificas, criatividade e apoio básico, mudança interna, construção do futuro. A seguir serão apresentados todos os princípios, segundo a SENASP (2007): a) Filosofia e Estratégia Organizacional: o policiamento comunitário permite a polícia militar e as pessoas da comunidade trabalhar juntas em buscar de uma maneira criativa através de opiniões e novas maneiras de resolver os problemas e enfrentá-los conjuntamente pela comunidade de forma ampla além das situações criminais; 18 Faculdade de Minas 18 b) Comprometimento da Organização com a concessão de poder a comunidade: essa estratégia organizacional exige a participação de todos, incluindo a comunidade, devem buscar formas de trazer para pratica mudançasvoltadas para resolução de problemas da comunidade, ou seja, concedendo autonomia aos policiais para tomada de decisões e resolução do problema onde os cidadãos devem participar na identificação, priorização e solução do problema; c) Policiamento descentralizado e personalizado: é necessário que a polícia militar desenvolva um novo tipo de polícia operacional, passando a manter contato direto com as pessoas da comunidade a que sevem em áreas bem definidas de patrulhamento na tentativa de diminuir a criminalização e aumentar a sensação de segurança que todos almejam; d) Resolução preventiva de problemas a curto e à longo prazo: os policiais comunitários atuam de modo mais amplo na medida em que desenvolvem práticas criativas de modo a desenvolver iniciativas mais abrangentes além de atenderem chamados e efetuar prisões. Essas novas práticas têm efeito de longo prazo e podem envolver todos os segmentos da comunidade para melhorar a qualidade de vida. Também, o policial comunitário atua como um elo entre comunidades e outras instituições públicas e privadas que possam ser úteis em uma dada situação; e) Ética, legalidade, responsabilidade e confiança: este novo relacionamento entre o policial militar e as pessoas da comunidade, 19 Faculdade de Minas 19 baseados na confiança sugerem que a polícia militar seja responsável pela qualidade de vida da comunidade e os cidadãos a que ele atende em uma forma de contrato com o policiamento militar acarretará maior liberdade a polícia para trabalhar o desenvolvimento e trazer soluções para os problemas através de métodos que incentivam da responsabilidade e da confiança mutua que deve existir; f) Extensão do mandato policial: a polícia militar é uma instituição que trabalha 24 horas por dia, 7 dias da semana, desse modo o policiamento comunitário responde imediatamente as situações criminais, além de trabalhar com a prevenção e repressão tradicional da polícia, atua de modo a produzir impacto na prática de transformações que venham coincidir com os anseios da comunidade de viver em um lugar mais seguro e com tranquilidade; g) Ajuda as pessoas com necessidades especificas: a polícia comunitária possui estratégias de prevenção e enfatiza novos caminhos para proteger e valorizar a vida de pessoas mais vulneráveis - crianças, adolescentes, idosos, deficientes, minorias, pobres; h) Criatividade e apoio básico: a polícia comunitária, apesar do uso de tecnologias, inocula confiança nas pessoas, ou seja, acredita que os resultados são mais satisfatórios trocando experiência e trabalhando juntos. Isto propiciara abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade; i) Mudança interna: o policiamento comunitário deve ser uma abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a polícia militar, 20 Faculdade de Minas 20 servindo os policiais comunitários como uma ponte entre a polícia e a população atendida.O policiamento comunitário exerce um papel importante no esclarecimento sobre os problemas da comunidade e como estratégia de curto e médio prazo, onde os policiais militares devem praticá-lo para melhorar o dia-a-dia de atuação; j) Construção do futuro: o policiamento comunitário deve oferecer a comunidade um serviço policial descentralizado e personalizado, no qual as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um recurso que possa ajudá-las a resolver os problemas da comunidade. RELAÇÃO ENTRE O POLICIAL E O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO A relação criada entre o policiamento comunitário e o policial militar são as mais diversas, tanto no âmbito interno quanto no âmbito externo. Os fatores internos interferem nessa relação criando barreiras preconceituosas, pelo fato de desenvolver atividades novas em relação ao trabalho tradicional, muitos policiais acabam taxando essa atividade como atípica da função. Segundo SENASP (2007) essa barreira chega a muitas vezes a taxar o policial que desenvolve um trabalho de proximidade com a comunidade local visto como “vagabundo ou protetor de civis”. Os fatores externos não são muitos diferentes dos internos, a sociedade cobra uma polícia atuante e eficaz contra o crime, mas quando essa atuação vem em forma de medidas preventivas sociais muitos taxam como policiais fora de suas funções principais. A comunidade não sabe qual é a sua relação com a polícia, exige apenas 21 Faculdade de Minas 21 policiamento, mas não toma atitudes preventivas e de reeducação e muito menos exige providências de outros órgãos públicos. Tanto fatores internos como externos e mais as visões pessoais dos policiais militares sobre como um policial deve ser acaba criando barreiras que os tornam inflexíveis a essa nova filosofia. PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE POLÍCIA COMUNITÁRIA E A POLÍCIA TRADICIONAL Em sentido amplo, a polícia comunitária, ou ainda a polícia voltada à solução de problemas criminais, pode ser definida como “uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar, e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, e desordens fiscais e morais” (TROJAJOWICZ e BUCQUEROUX, 1994, p.5). Para aclarar mais a distinção marcante que existe entre o policiamento tradicional e o comunitário, apresenta-se a seguir uma pequena comparação ilustrativa entre estas formas de atuação. Quadro 1: Polícia Comunitária X Polícia Tradicional 22 Faculdade de Minas 22 23 Faculdade de Minas 23 Fonte: SENASP (2007) O policiamento comunitário baseia-se também no estabelecimento dos policiais como “mini-chefes” de polícias descentralizados em patrulhas constantes, onde eles gozam da autonomia e liberdade de trabalhar como solucionadores locais do problema da comunidade, trabalhando em contato permanente com a comunidade, visando à resolução do problema antes que eles ocorram ou tornem mais graves. Ou seja, as estratégias da filosofia de polícia comunitária têm um caráter preferencialmente preventivo e visam não apenas reduzir o número de crimes a sua metodologia implica numa mudança de paradigma no modo de ser e estar a serviço da comunidade. Portanto, é possível identificar os principais pontos entre os dois modelos distintos de polícia. Na concepção tradicional, o povo é objeto de intervenção policial e na concepção da polícia comunitária, o povo permite avaliar as mudanças nos padrões tradicionais com maior interação. INTERRELACIONAMENTO ENTRE A POLÍCIA COMUNITÁRIA E MORADORES Segundo Moscovici (2002), o relacionamento interpessoal pode tornar-se e manter-se harmonioso e prazeroso, permitindo trabalho cooperativo em equipe, com integração de esforços conjugando as energias, ou seja, a habilidade de lidar com situações interpessoais exigem varias habilidades onde, ver vários ângulos ou aspectos da mesma situação tendo uma conduta que varia de acordo com as 24 Faculdade de Minas 24 exigências da situação e as necessidades de cada pessoa. As ações de polícia comunitária exigem aos que desenvolvem a tarefa, a necessidade de trabalhar em equipe, com lideres, com culturas, climas de grupos variados e ate com conflitos. A eficácia do relacionamento interpessoal, o processo de percepção ao outro exige um processo de crescimento pessoal que envolve a alta percepção, alto conscientização e auto aceitação para possibilitar a percepção dos outros e da situação interpessoal. A redução da criminalidade e também o aumento da confiança da comunidade na polícia como as principais evidências da eficácia do policiamento comunitário, e acreditam que a efetiva implantação do policiamento comunitário contribui para a prevenção docrime e o aumento da sensação de segurança da população. Para Gardner (1999) no relacionamento interpessoal será a comunicação à habilidade que colocara em evidencia. Através da comunicação, verbal ou não, é possível identificar as alterações de humor e de temperamento, os desejos e as intenções do outro. Em que os vínculos de respeito e solidariedade só podem constituir uma boa base de auto-estima. No relacionamento é comum que tenha divergências de percepções e idéias, transformando muitas vezes em situações conflitivas podem ser leve ou grave, inevitável e necessário na existência de um grupo. Assim o conflito é tratado, a intensidade, o cenário e sua evolução, com isso ele pode trazer conseqüência positivas, como a busca de novas soluções para um problema, o estimo e a curiosidade para vencer desafios, onde pode provocar mudanças nas pessoas, nos grupos e na sociedade. 25 Faculdade de Minas 25 ELEMENTOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO Observar-se-á que os elementos do policiamento comunitário talvez se confundam um pouco com alguns princípios, por tratar de itens inerentes ao bom desenvolvimento do mesmo sistema. Entretanto, aqui, a abordagem dar-se-á de forma diferenciada. Em virtude de ser o policiamento comunitário uma filosofia de policiamento personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma área numa base permanente, a partir de um local descentralizado, trabalhando numa parceria preventiva com os cidadãos para identificar e resolver os problemas. Faz-se necessário analisarmos cada elemento, destacado acima, para que aja uma melhor compreensão e entendimento do policiamento comunitário, conforme será descrito. A filosofia, conforme visto anteriormente, baseia-se na idéia de que a polícia atue de uma forma mais abrangente, realizando desde o trabalho preventivo e até o repressivo, além de contar com a ajuda da comunidade na identificação, priorização e solução dos problemas da comunidade. Então, para que esta nova filosofia seja aplicada, é necessário haver um novo entendimento para o desenvolvimento do papel e da função policial, já que este terá que atuar sobre o controle do crime e na manutenção da ordem pública. Em virtude desta nova filosofia a polícia deverá investir em novas estratégias em conjunto com a comunidade, na adoção de novas políticas e procedimentos para a consecução dos objetivos emanados da filosofia do policiamento comunitário. 26 Faculdade de Minas 26 Theodomiro Dias Neto, traz a filosofia como sendo uma nova filosofia operacional possibilitando ao policial uma maior compreensão dos problemas vivenciados pelos cidadãos, através de três características (1) uma concepção mais ampla da função policial que abrange a variedade de situações não-criminais que levam o público a invocar a presença da polícia; (2) descentralização dos procedimentos de planejamento e prestação de serviços para que as prioridades e estratégias policiais sejam definidas de acordo com as especificidades de cada localidade; (3) maior interação entre policiais e cidadãos visando ao estabelecimento de uma relação de confiança e cooperação mútua. Em razão destas considerações, percebe-se que a filosofia está diretamente ligada a mudanças na forma de pensar e agir da polícia em relação a comunidade, haja vista que além de contar com a participação da população, a polícia deverá atuar de maneira diferenciada do modelo de polícia tradicional, se preocupando em possibilitar maior autonomia aos policiais comunitários, além destes atuarem de maneira preventiva e não somente repressiva. Outro elemento é a personalização, onde o policial comunitário conhece as pessoas da comunidade em que atua, quebrando o anonimato de ambos os lados, a ponto de se conhecerem pelo nome. O policiamento comunitário se preocupa em solucionar os problemas preventivamente da comunidade, porém, não abandona o papel de policial repressivo quando precisa atender as chamadas locais e até mesmo efetuar prisões. A resolução dos problemas se dará através da identificação das preocupações específicas da comunidade, para então, polícia e comunidade buscarem os instrumentos mais apropriados para a solução destes problemas. 27 Faculdade de Minas 27 Quanto ao patrulhamento, este deve ser feito de forma mais próxima do cidadão, ou seja, o policial deve deixar de lado o uso da rádio-patrulha ou outro meio de transporte, para frequentemente fazer a ronda a pé, possibilitando uma aproximação maior entre policial comunitário e cidadão. 28 Faculdade de Minas 28 IMPORTÂNCIA E QUALIDADE PARA A POLÍCIA COMUNITÁRIA As profundas mudanças ocorridas nas ultimas décadas alteraram o comportamento humano aumentando o nível de exigência da população. Atualmente o cidadão tem exigido serviços públicos de ótima qualidade, sendo necessário superar e melhorar-los continuamente. Para Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000, p. 240) “a satisfação do cliente com a qualidade do serviço pode ser definida pela comparação da percepção do serviço prestado com a expectativa do serviço desejado”. O movimento da qualidade surge a partir da década de 80 no Brasil como forma de adequação da pratica de gestão as necessidades de um mercado ávido por produtos e serviços de qualidade que envolve transformações no processo produtivo e de gerenciamento nas organizações. Assim, o atual desafio da gestão pública exige formas flexíveis de ação onde a qualidade e um dos preceitos básicos. A qualidade implica estabelecer um sistema eficaz de liderança, que garante coesão e uniformidade a atividades da organização, estimulando e desenvolvendo todos os servidores dentro do compromisso de satisfazer o usuário do serviço público. Para Trojanowicz e Bucqueroux (1999) identificar, priorizar e resolver problemas são uma das grandes demandas da segurança pública em que toda a organização pública se dota de estrutura que propicia prestar serviço de qualidade. A implementação da polícia comunitária vem sendo intensivamente utilizando como policiamento a pé, ciclo patrulha ou posto de policiamento comunitário como uma estratégia policial para de apresentar à comunidade e solucionar problemas do bairro. A filosofia comunitária pede que os policiais escapem da lógica, em que há mudanças 29 Faculdade de Minas 29 na seleção, recrutamento, formação e treinamento e sim busca uma solução criativa para solucionar o problema, o crime ou a desordem no momento. E este novo modelo de policiamento comunitário, procurando através do contato direto com a população analisar os problemas e restaurar a segurança, ou seja, um avanço no serviço público. A qualidade em serviço é uma disciplina recente e fundamental no atual cenário da sociedade, pela necessidade de melhoria na prestação dos serviços de segurança ao cidadão quanto da melhoria dos processos para se atingir tais resultados. Os policiais comunitários devem permanecer numa mesma área de ronda afim de que conheça os moradores da região e também, se torne mais conhecido pela comunidade. Por isso não deve acontecer uma rotatividade entre os policiais comunitários e, muito menos serem deslocados de sua área de atuação para cobrir a ausência de policiais que faltaram ao serviço ou estão de férias. A área de atuação do policial deve ser restrita e bem definida, sendo ela subdividida em bairros ou vizinhanças. “O policiamento comunitário descentraliza os policiais, fazendo com que eles possam ser “donos” das rondas da sua vizinhança, atuando como se fossem “mini chefes” de polícia adequando a resposta às necessidades específicas da área que estão patrulhando”. Outrossim, essa descentralização do policiamento comunitário proporciona maior autonomia e poder na atuação do policial comunitário, visando a resolução de problemas com baseno policiamento comunitário. Ainda, como outro forte elemento, a prevenção aparece “no intuito de proporcionar um serviço completo à comunidade, o policiamento comunitário equilibra 30 Faculdade de Minas 30 as respostas aos incidentes criminais e às emergências, com uma atenção especial na prevenção dos problemas antes que eles ocorram ou se agravem”. Estas formas de prevenção se dividem em Programação de Prevenção e Programa de Integração, onde o primeiro consiste na implantação de programas que visam a adoção de medidas de prevenção, como: prevenção de delitos e segurança pessoal, prevenção de acidentes de trânsito e prevenção de combate às drogas. Estes programas de prevenção tem a finalidade de reduzir a delinquência e limitar as oportunidades para o cometimento do delito. O segundo, tem como objetivo principal incutir nos cidadãos que a polícia é parte da comunidade. Este programas de integração se concretizam a partir de programas de orientação e esclarecimento à comunidade, programas de encontro com as lideranças da comunidade, programas de pesquisas com coleta de informações e, programas de vigilância de bairros. O elemento central da polícia comunitária, conforme já se sabe, é a parceria da polícia com a comunidade para a identificação, prioridade e resolução de problemas, visando a redução desses problemas. “A consequência dessa parceria é a melhoria na qualidade de vida da comunidade e o benefício à polícia, por não ter que enfrentar sempre os mesmos problemas”. Outro elemento que já foi mencionado anteriormente é a responsabilidade dos cidadãos na busca da segurança pública, não sendo esta tarefa exclusiva do Estado à proteção da sociedade em geral. Os policiais recebem orientação para a prestação de serviço, através de “treinamento sistemático, pois o policial deve ser um planejador, um solucionador de problemas, um mediador de conflitos, um coordenador e sobretudo um agente de relações públicas”. 31 Faculdade de Minas 31 Diante desses elementos, não restam dúvidas da importância exercida desta nova filosofia e estratégia utilizada pela polícia como um novo caminho a ser percorrido à busca incessante de segurança pública para as comunidades, sendo estas corresponsáveis à sua própria segurança. PARTÍCIPES DA POLÍCIA COMUNITÁRIA Para que se obtenha êxito no policiamento comunitário, é necessário a participação ativa não somente da polícia e da comunidade, mas de outros setores que contribuirão para o bom desenvolvimento desta nova filosofia e estratégia. O primeiro envolvido é o departamento de polícia, que inclui desde o chefe de polícia até os policiais e funcionários civis. Como outro partícipe, cita-se a comunidade, onde são inserido os líderes comunitários, os presidentes de associações cívicas, sacerdotes, educadores, organizadores de atividades comunitárias e os cidadãos comuns. Além desses dois, são considerados partícipes as autoridades - cívicas eleitas, incluindo o prefeito, vereadores, além dos funcionários federais ou estaduais; a comunidade de negócios, incluindo os estabelecimentos comerciais, sejam elas grandes ou pequenas empresas; outras instituições, abrangendo instituições públicas – justiça, serviços públicos, serviços de saúde - e instituições sem fins lucrativos, como grupos de caridade e grupos de voluntariado; e, por último partícipe tem-se a mídia, seja ela escrita ou eletrônica 32 Faculdade de Minas 32 Portanto, como se vê, somente polícia e comunidade não sejam capazes de alcançar os objetivos sugeridos e almejados no policiamento comunitário. Sabe-se que se cada um fizer a sua parte e em conjunto, melhor e mais rápido serão colhidos os louros deste novo modelo de polícia. VANTAGENS, BENEFÍCIOS E DIFICULDADES DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO Para constatar quais são as vantagens, benefícios e dificuldades desta nova filosofia aplicada pela polícia, interessa averiguar quais são seus objetivos, conforme será visto a seguir. Ressalte-se que como principal objetivo do policiamento comunitário a parceria entre polícia e comunidade, para que juntas encontrem soluções para os problemas de segurança em sua própria comunidade, mas que além desse apresenta outros que contribuirão para a consecução da segurança pública em sua localidade. Por isso, podem ser citados para este fim os seguintes objetivos: a) Coordenação de estratégias para a solução de problemas específicos da comunidade; b) Produzir programas de segurança pública comunitária; c) Intensificar a participação comunitária em atividades de policiamento; d) Proteger as pessoas, seus bens e atividades, fazendo cumprir a lei com imparcialidade; e, e) Combater o crime tanto prevenindo como reprimindo os infratores. 33 Faculdade de Minas 33 Esses objetivos serão alcançados se tanto a polícia como a comunidade adotarem a filosofia e as estratégias oferecidas pelo modelo de policiamento comunitário. E após sua implementação ter-se-á quais suas vantagens, benefícios e dificuldades, de acordo com o que se verá adiante. Julio César Araujo Peres considera que este sistema de policiamento comunitário traz vantagens, mas quando se pensa num sistema que apresenta vantagens ela também deverá trazer desvantagens, porém não é isso que ocorre com a polícia comunitária, que conforme o pensamento do autor ela traz dificuldades e não desvantagens, de acordo com o que será visto a seguir. As vantagens são elencadas conforme cita Julio César Araujo Peres: a) Inclusão da comunidade no planejamento; b) Predominância do policiamento a pé; c) Estimula o contato do policial com o cidadão; d) Os policiais são solucionadores de problemas; e) Controle de corrupção com o apoio da população; f) Maior visibilidade dos policiais; g) Necessidade de mudanças no sistema de avaliação, recompensando o espírito comunitário; h) Redução do uso do telefone de emergência, ficando só para emergências reais. A população tem outros canais de comunicação com a polícia. 34 Faculdade de Minas 34 i) Aumenta a eficácia das ações desenvolvidas. Diante dessas vantagens, observa-se que inúmeros são os benefícios, e estes ocorrem para ambos os lados, isto é, tanto os policiais como os cidadãos são beneficiados com a implantação deste novo modelo de polícia. Portanto, os benefícios ao policial são os que seguem: a) Aumento da responsabilidade; b) Liberdade para explorar novas ideias; c) Solução de problemas da comunidade; d) Profissionalismo; e) Retorno positivo da comunidade; f) Assistência comunitária; g) Redução de estresse; h) Senso de realização; i) Redução de cinismo; j) Trabalho com orgulho; k) Aumento da segurança Embora haja alguma semelhança entre alguns benefícios apresentados e os que serão agora citados, vale a pena trazer os benefícios descritos por Skolnick e 35 Faculdade de Minas 35 Bayley, que são “benefícios políticos, apoio popular, construindo o consenso, moral policial, satisfação, estatura profissional e desenvolvimento de carreira”. Como se vê, os benefícios aos policiais que atuam neste novo sistema proporcionam ao policial um trabalho mais prazeroso, já que observa de perto o que realmente está acontecendo, além de ter um retorno mesmo que não seja imediato, da evolução da segurança na comunidade em que atua. Também, a comunidade é beneficiada com esta nova filosofia adotada pela polícia já que terá resultados que contribuem para a melhoria da qualidade de vida em sua comunidade. Então, os benefícios apresentados são: a) Sensação de segurança (redução do medo do crime); b) Canal direto de comunicação da polícia com a comunidade em relação ao crime; c) Mútuo respeito e confiança; d) Indicação das necessidades e prioridades da comunidade à polícia; e) Interação comunitáriacom a polícia; f) Eliminação da mentalidade “Nós X eles”); g) Envolvimento na solução dos próprios problemas; h) Tratamento individualizado; i) Redução das tensões com a polícia; j) Contato com a polícia face a face; 36 Faculdade de Minas 36 k) Prevenção do crime; l) Movimento das forças do bairro. Além desses benefícios mencionados, Skolnick e Bayley apresentam outros, que são “a possibilidade de melhorar a prevenção do crime, maior atenção com o público por parte da autoridade policial, maior responsabilização da polícia frente à comunidade, e o encorajamento de esforços para recrutar mulheres e minorias para o trabalho policial”. Por estar o cidadão diretamente envolvido nas questões de segurança de sua comunidade, ele se sente mais seguro além de útil, por estar contribuindo para ter uma localidade melhor para morar. O policiamento comunitário apresenta algumas dificuldades por ser um sistema novo que está sendo implantado aos poucos nas comunidades, e, a maior dificuldade é a resistência que existe por parte dos departamentos de polícia, conforme seguem: a) Desconhecimento por parte do policial, do que seja policiamento comunitário; b) Falta de doutrina sobre o policiamento comunitário; c) Nível de instrução do Policial Militar; d) desinteresse do Policial Militar pela profissão; e) Deficiência na formação e no treinamento; f) Centralização excessiva. Talvez um outro ponto que possa ser citado como dificuldade, é de que as pessoas pensam que o policiamento comunitário seja uma panacéia, isto é, que seja 37 Faculdade de Minas 37 o remédio para todos os males que ocorrem na sociedade. Entretanto, não é somente o trabalho do policiamento comunitário que irá resolver todos os problemas de segurança, são necessárias outras medidas para que se obtenha tal fim, que é a paz e segurança nas comunidades. A polícia comunitária é o final de um movimento contínuo de reformas operacionais, que começaram nos anos 60 com o team policing (policiamento de grupo) e o neighborhood watch (vigilantes de bairro). A premissa é que a polícia não pode lidar sozinha com o problema do crime. Para construção de uma estratégia de polícia comunitária devem ser buscados como objetivos: parceria, fortalecimento, solução de problemas, prestação de contas e orientação para o cliente. A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o sistema de justiça criminal. A palavra de ordem deve ser: “Como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?” Portanto, as lideranças da comunidade devem estar envolvidas em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário. Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento os dos policiais e o da própria comunidade. O policiamento comunitário valoriza a capacidade dos cidadãos em participar das decisões sobre o policiamento e de outras agências de serviço para prover maior impacto nos problemas de segurança. Poder de decisão, criatividade e inovação são atitudes que devem ser encorajadas em todos os níveis da polícia. É uma estratégia que representa um renascimento da abordagem do policiamento pela solução de problemas. A meta da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens para reduzir as taxas de ocorrências e o medo do crime com planejamentos a curto, médio e longo prazo. 38 Faculdade de Minas 38 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO POLÍCIA COMUNITÁRIA (https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal- pm/52bpm/conteudo.action?conteudo=1886&tipoConteudo=itemMenu) A polícia comunitária como estratégia institucional muda os fins, os meios, o estilo administrativo e o relacionamento da polícia com a comunidade. O objetivo é para além do combate ao crime, pois permite a inclusão da redução do medo do crime, da manutenção da ordem e de alguns tipos de serviços sociais de emergência. Os meios englobam toda a sabedoria acumulada pela resolução de problemas (método IARA). O estilo administrativo muda de concentrado para desconcentrado, de policiais especialistas para generalistas.. O papel da comunidade evolui de meramente informar ou alertar a polícia, para participante do controle do crime e na criação de comunidades ordeiras”. Fonte: Diretriz para a produção de serviços de segurança pública nº 3.01.06/2011 – CG No 52º Batalhão da Polícia Militar são desenvolvidas diversas ações que buscam a interação com a comunidade da região visando estreitar o relacionamento e aprimorar as atividades relativas a segurança pública objetivando a promoção da paz social. Entre os programas e ações comunitárias o 52º BPM implementou o PROERD (Programa de Resistência a Drogas e a Violência) onde professores policiais militares ministram aulas para alunos de diversas escolas visando prevenir a violência entre as crianças e jovens. 39 Faculdade de Minas 39 Outro Projeto realizado é o POLÍCIA E FAMÍLIA, sendo que uma equipe de Policiais Militares são lançados diariamente, visando atender as demandas relativas às relações de famílias buscando assim a resolução de problemas de uma forma alternativa e amigável prevenindo a incidência de violência doméstica. Várias ações comunitárias são desenvolvidas pelos policiais militares do 52º BPM sendo que todos os policiais são preparados e instruídos para desenvolver técnicas de policiamento comunitário e assim prestar um serviço mais qualificado e aprimorar o aspecto preventivo por meio da participação comunitária. 40 Faculdade de Minas 40 REFERÊNCIAS BRASIL, Constituição (1988). 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