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- -1 ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO SERVIÇO SOCIAL II O SERVIÇO SOCIAL E O OBJETO DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL - -2 Olá! Historicamente, o Serviço Social adquiriu cunho de cientificidade buscando embasamento teórico e epistemológico para qualificar as intervenções. A prática do Assistente Social não funciona mais como uma ação que tem começo, meio e fim, mas, como processo contínuo, investindo na capacitação teórico-metodológica dos seus profissionais. As transformações na sociedade atual demandam novas exigências às práticas profissionais, aos processos da formação profissional e à organização dos sujeitos da profissão, suscitado a reflexão sobre o objeto de intervenção profissional. É necessário dialogar sobre o processo educativo-formativo dos assistentes sociais, realizando uma avaliação crítica do atual estágio do capitalismo, do significado da profissão na divisão sociotécnica do trabalho, de seus vínculos com o real e da opção política que os profissionais imprimem no trabalho desempenhado. Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Conhecer o valor do Serviço Social enquanto profissão, refletindo sobre o seu objeto de intervenção. 1 Introdução Historicamente, o Serviço Social adquiriu cunho de cientificidade. buscando embasamento teórico e epistemológico para qualificar as intervenções. A prática do Assistente Social não funciona mais como uma ação que tem começo, meio e fim, mas, como processo contínuo, investindo na capacitação teórico-metodológica dos seus profissionais. As transformações na sociedade atual demandam novas exigências às práticas profissionais, aos processos da formação profissional e à organização dos sujeitos da profissão, suscitado a reflexão sobre o objeto de intervenção profissional. É necessário dialogar sobre o processo educativo-formativo dos assistentes sociais, realizando uma avaliação crítica do atual estágio do capitalismo, do significado da profissão na divisão sociotécnica do trabalho, de seus vínculos com o real e da opção política que os profissionais imprimem no trabalho desempenhado. - -3 2 A nova configuração social alicerçada no sistema capitalista A nova configuração social alicerçada no sistema capitalista, no neoliberalismo exige dos profissionais constante aprimoramento e qualificação visando respostas às demandas advindas da realidade social. O Serviço Social é regulamentado como uma profissão liberal, dispondo de estatutos legais e éticos que atribuem uma autonomia teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativo e à condução do exercício profissional. Ao mesmo tempo, o exercício da profissão realiza-se, mediante um contrato de trabalho com organismos empregadores - públicos ou privados -, em que o assistente social afirma-se como trabalhador assalariado. 3 Tensão entre autonomia profissional e condição assalariada Estabelece-se uma tensão entre autonomia profissional e condição assalariada. Iamamoto (2004) nos recomenda que: “O assistente social é também um(a) trabalhador(a) assalariado(a), qualificado(a), que depende da venda de sua força de trabalho especializada para a obtenção de seus meios de vida. A objetivação - -4 dessa força de trabalho qualificada enquanto atividade (e/ou trabalho) ocorre no âmbito de processos e relações de trabalho, organizados por seus empregadores, que detêm o controle das condições necessárias à realização do trabalho profissional. Assim, as alterações que incidem no chamado ‘mundo do trabalho’ e nas relações entre o Estado e a sociedade - que têm resultado em uma radicalização da questão social –, atingem diretamente o trabalho cotidiano do assistente social” (P.11). 4 Prestação de serviços sociais Prossegue Iamamoto (2004), destacando que o trabalho profissional é, pois, parte do trabalho coletivo produzido pelo conjunto da sociedade, operando a prestação de serviços sociais que atendem a necessidades sociais e realizando, nesse processo, práticas sócio-educativas, de caráter político-ideológico, que interferem no processo de reprodução de condições de vida de grandes segmentos populacionais alvos das políticas sociais. E para compreender cada vez mais a profissão, é preciso ler com muita atenção os diversos estudos produzidos. Iamamoto (2004) continua sua exposição nos dizendo que o Serviço Social reproduz-se como uma especialização do trabalho por ser socialmente necessário: o agente profissional produz serviços que têm um valor de uso, porque atendem as necessidades sociais. Por outro lado, os assistentes sociais também participam, enquanto trabalhadores assalariados, do processo de produção e/ou de redistribuição da riqueza social. Seu trabalho não resulta apenas em serviços úteis, mas ele tem um efeito na produção -ou na redistribuição- do . Assim, por exemplo, na empresa industrial,valor e/ou da mais valia e nas relações de poder político e ideológico o assistente social, como parte de um trabalhador coletivo, participa do processo de reprodução da força de trabalho, essencial à produção da riqueza. Na esfera estatal, participa do processo de redistribuição da mais valia, via fundo público. Aí seu trabalho se inscreve, também, no campo da defesa e/ou realização de direitos sociais de cidadania, na gestão da Pode contribuir para o partilha do poder e sua democratização -coisa pública. no processo de construção de uma “contra-hegemonia” no bojo das relações entre as classes - ou ainda, para o reforço das estruturas e relações de poder pré-existentes. Complementa Iamamoto (2004), convidando a refletir sobre o grau de autonomia profissional, ao falar que embora o assistente social disponha de uma relativa autonomia na sua condução de seu trabalho – o que lhe permite atribuir uma direção social ao exercício profissional – os organismos empregadores também interferem no estabelecimento de metas a atingir. - -5 5 As atribuições e competências específicas Detêm poder para normatizar as atribuições e competências específicas requeridas de seus funcionários, definem as relações de: Portanto, articulam um conjunto de condições que informam o processamento da ação e condicionam a possibilidade de realização dos resultados projetados. Importante Ao final da exposição anterior, Iamamoto (2004) segue, afirmando que as atividades profissionais desenvolvidas pelo assistente social sofrem outro vetor de demandas: as necessidades dos usuários, que, condicionadas pelas lutas sociais e pelas relações de poder, transformam-se em demandas profissionais, reelaboradas na ótica dos empregadores, no embate com os interesses dos usuários dos serviços profissionais. É - -6 nesse terreno denso de tensões e contradições sociais que se situa a atividade profissional. Exige caminhar da análise da profissão ao seu efetivo exercício, o que supõe articular projeto profissional e trabalho assalariado. 6 As atribuições e competências específicas Mas, para elaborar o projeto profissional, é preciso refletir sobre o objeto de intervenção profissional. Faleiros (2001) nos aponta que o Serviço Social, atualmente, vê-se constrangido a reprocessar seu objeto de intervenção, referindo-o às situações de desemprego, de desencanto com o futuro, de dês-responsabilização do Estado e responsabilização dos grupos, famílias e comunidades pelo seu sustento, de nova gestão de políticas sociais. Nesse sentido, Faleiros (2001, p. 32) nos sinaliza que a relação com os novos movimentos sociais vai exigir um repensar da relação entre sociedade, cultura, economia e subjetividade, implicando, pois uma articulação mais complexa com estes movimentos na construção da estima de si, da identidade individual e coletiva, na defesa de seus direitos e busca de sua autonomia. Prossegue o referido autor, apontando que a reflexão sobre o objeto do Serviço Social passa pela discussão sobre as relações de saber e poder, aprofundando um olhar crítico sobre o contexto de mudanças permanente da realidade. As reflexões sobre poder institucional e saber profissionalcolocam o objeto profissional numa outra ótica que aquela exclusiva de classe contra classe, mas articulada a ela na análise das relações de poder. O que isto quer dizer para quem está no exercício do estágio curricular? Que é preciso observar e analisar as diversas relações de poder presentes naquela realidade, ou seja, relação entre os diversos profissionais, usuários versus usuários, profissionais versus usuários, profissionais versus instituição, usuários versus instituição etc., para que possa contribuir na reflexão sobre o objeto profissional de intervenção. 7 Fundamentação como especialização do trabalho Compreendendo que o Serviço Social tem, na questão social, a base da sua fundamentação como especialização do trabalho, Iamamoto (2001, p. 27) coloca que: - -7 “Questão Social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” 8 Fixando Vamos trabalhar com alguns exemplos para que possamos entender melhor a mensagem desta aula. O objeto de estudo e intervenção da profissão é a questão social. Então isso quer dizer que o assistente social dentro de um hospital deverá trabalhar e aprofundar todas as demandas oriundas do objeto de intervenção profissional? Qual é a sua resposta como aluno estagiário? Pensando um pouco mais sobre o assunto, imaginando o trabalho dentro de um hospital. No atendimento social, o usuário apresenta a suspeita de abuso de sexual referente a uma criança na família. O profissional após a realização de uma escuta cuidadosa o informa sobre a necessidade de encaminhar o caso para outras instâncias para que o caso seja acompanhado em seus diversos aspectos, seja jurídico, policial, assistencial, visando à implementação das medidas protetivas. - -8 Por que estamos abordando sobre as diversas instâncias envolvidas, e seus respectivos papéis? Porque em cada área tem sua equipe de trabalho multiprofissional, inclusive o assistente social. E neste contexto, cabe uma análise cuidadosa de até aonde vai à intervenção de cada profissional da mesma categoria trabalhando sobre o mesmo caso social, digo: assistente social do hospital, assistente social do conselho tutelar e o assistente social do campo judiciário. Todos com o objeto profissional em comum, mas com papéis permeados das especificidades pertencentes à respectiva área de atuação. 9 A construção do objeto profissional A construção do objeto profissional é um processo teórico, histórico, mas também político, ou seja, imbricado e implicado tanto das relações sociais mais gerais como nas relações particulares e específicas do campo das políticas e serviços sociais e das relações interprofissionais. Faleiros (2001) destaca que: Fique ligado Não cabe ao Assistente Social o papel de detetive, pois isto é de competência do poder judiciário, com o trabalho complementar do conselho tutelar. O papel do profissional dentro do hospital deve ser de oficializar ao conselho tutelar a situação, colocar-se a disposição para contribuir ao caso, e disponibilizar a rede de serviços da política de saúde para a vítima e familiares. - -9 E sobre isso nos diz que: “O foco da intervenção social se constrói nesse processo de articulação do poder dos usuários e sujeitos da ação profissional no enfrentamento das questões relacionais complexas do dia, pois envolvem a construção de estratégias para dispor de recursos, poder, agilidade, acesso, organização, informação, comunicação. É nessas contradições que se vai desconstruir e construir sua identidade profissional e o objeto de sua intervenção profissional, nas condições históricas dadas, com os sujeitos da ação profissional. O objeto de intervenção do Serviço Social se constrói na relação sujeito /estrutura e na relação usuário/instituição em que emerge o processo de fortalecimento do usuário diante da fragilização de seus vínculos, capitais ou patrimônios individuais e coletivos”. (FALEIROS, 2001, P. 44) Isso quer dizer que o processo de ação ou intervenção profissional não se constrói num conjunto de passos preestabelecidos (a chamada receita). Exige do profissional uma profunda capacidade teórica para estabelecer pressupostos da ação, uma capacidade analítica para entender e explicar as particularidades das conjunturas e situações, uma capacidade de propor alternativas com a participação dos sujeitos na intrincada trama em que se correlacionam as forças sociais, e em que se situa, inclusive, o assistente social. (FALEIROS, 2001) Sendo assim, precisamos evitar o pragmatismo! - -10 Você sabe o que é pragmatismo? Segundo Faleiros (1987), o pragmatismo é uma atitude voltada para soluções imediatizadas sem a reflexão teórica e histórica da problemática. E alerta para esta prática que pulveriza as ações, atendendo o “que vai aparecendo na estrutura e dinâmica institucionais”. (P. 35) 10 Alternativas de intervenção Iamamoto (2001, p. 21) fala que as alternativas de intervenção não saem de uma suposta ‘cartola mágica’ do assistente social: “...as possibilidades estão dadas na realidade, mas não são automaticamente transformadas em alternativas profissionais. Cabe aos profissionais apropriarem-se dessas possibilidades e, como sujeitos, desenvolvê-las transformando-as em projetos e frentes de trabalho. (...) Essa compreensão é muito importante para se evitar uma atitude fatalista do processo histórico e, por extensão, do serviço social, como se a realidade já estivesse dada em sua forma definitiva. (...) Mas é necessário, também, evitar uma outra perspectiva, que venho chamando de messianismo profissional: uma visão - -11 heróica do serviço social que reforça unilateralmente a subjetividade dos sujeitos, a sua vontade política sem confrontá-la com as possibilidades e limites da realidade social.” 11 Armadilhas da formação profissional feito pela ABESS No balanço da formação profissional feito pela ABESS, apud Iamamoto (2001, p. 53), foram identificadas três armadilhas, das quais a categoria se viu prisioneira nos últimos anos – sobre as quais é preciso refletir. Vejamos: Teoricismo “O primeiro pressuposto é o de que a apropriação teórico-metodológica no campo das grandes matrizes do pensamento social permitiria a descoberta de novos caminhos para o exercício profissional. A primeira assertiva é que a busca de novos caminhos passaria por uma apropriação mais rigorosa da base teórico metodológica.” Politeísmo “O segundo pressuposto é de que o engajamento político nos movimentos organizados da sociedade e nas instâncias de representação da categoria garantiria – ou seria uma condição fundamental para tanto - a intervenção profissional articulada aos interesses dos setores majoritários da sociedade. A segunda afirmação é o reconhecimento da dimensão política da profissão e as suas implicações mais além do campo estrito da ação profissional, pensada a partir da inserção nos movimentos organizados da sociedade.” Tecnicismo “O terceiro pressuposto é de que o aperfeiçoamento técnico-operativo mostra-se como uma exigência para inserção qualificada no assistente social no mercado de trabalho.” 12 Desafios profissionais e acadêmicos ao Serviço Social na atualidade Iamamoto (2010), em outra obra de sua autoria, fala que rumo ao fazer profissional qualitativo, aponta alguns desafios profissionais e acadêmicos ao Serviço Social na atualidade, dentre os quais (p.39): • A exigência de rigorosa formação teórico-metodológica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das finanças e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil, assim como suas implicações na órbita das políticas públicas e consequentes refrações no exercício profissional. • Rigoroso acompanhamento da qualidade acadêmicada formação universitária ante a vertiginosa expansão do ensino superior privado e da graduação à distância no país. • A articulação com entidades, forças políticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em • • • - -12 • A articulação com entidades, forças políticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis, políticos e sociais. • O cultivo de uma atitude crítica e ofensiva na defesa das condições de trabalho e da qualidade dos atendimentos, potencializando a nossa autonomia profissional. • Precisamos nos manter sempre atualizados, em constante processo de formação profissional, seja qual for o campo de atuação. • As transformações na sociedade atual demandam novas exigências às práticas profissionais, aos processos da formação profissional e à organização dos sujeitos da profissão. • É necessário refletir sobre o processo educativo-formativo dos assistentes sociais, realizando uma avaliação crítica do atual estágio do capitalismo, do significado da profissão na divisão sociotécnica do trabalho, de seus vínculos com o real e da opção política que os profissionais imprimem no trabalho desempenhado. • É preciso buscar delimitar quais são as atuais demandas que são colocadas pelo atual contexto sócio- econômico à formação profissional em Serviço Social, ou melhor, elencar as exigências e desafios atuais à formação profissional dos assistentes sociais no país. 13 Desigualdades sociais Para Iamamoto (2012), poder-se-ia dizer que, na América Latina, os assistentes sociais há muito acenaram a bandeira da esperança - essa rebeldia que rejeita o conformismo e a derrota, contradizendo a cultura da indiferença, do medo e da resignação que conduz à naturalização das desigualdades sociais, da violência, de preconceitos de gênero, raça e etnia. E conseguiu manter viva a capacidade de indignação ante o desrespeito aos direitos humanos e sociais de homens e mulheres, crianças, jovens e idosos das classes subalternas com os quais trabalhamos cotidianamente. Ressalta Iamamoto (2012): “A categoria profissional desenvolve uma ação de cunho sócio-educativo na prestação de serviços sociais viabilizando o acesso aos direitos e aos meios de exercê-los, contribuindo para que necessidades e interesses dos sujeitos de direitos adquiram visibilidade na cena pública e possam, de fato, ser reconhecidos. Esses profissionais afirmaram o compromisso com os direitos e interesses dos usuários, na defesa da qualidade dos serviços prestados, em contraposição à herança conservadora do passado. Importantes investimentos acadêmico-profissionais foram realizados no sentido de se construir uma nova forma de pensar e fazer o Serviço Social, orientadas por uma perspectiva teórico-metodológica apoiada na teoria social crítica e em princípios éticos de um humanismo radicalmente histórico, norteadores do projeto de profissão no Brasil.” (P.11) • • • • • • Saiba mais Sugerimos reservar um momento para refletir sobre parte do roteiro para elaboração do - -13 O que vem na próxima aula Na próxima aula, você vai estudar: Sobre o a produção científica do conhecimento, a partir da prática profissional. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Estudou sobre a profissão que você está em processo de formação, discutindo sobre o objeto de intervenção profissional. Destacando que o processo de formação profissional é contínuo. E que esta dinâmica auxilia na identificação do objeto de intervenção do Serviço Social. Sugerimos reservar um momento para refletir sobre parte do roteiro para elaboração do relatório da experiência de Estágio supervisionado. Reveja as seguintes questões, e realize o diálogo com a supervisora do estágio: • A quem o Serviço Social é subordinado? Caracterize como se processa esta subordinação. • Planejamento. Como e por quem é planejado o processo de trabalho do Serviço Social? • Quem gerencia o trabalho do Serviço Social? • Articulação com os demais agentes institucionais. Trabalho multi ou interdisciplinar? • Principais objetivos do Serviço Social. São identificados objetivos Gerais? • Referencial teórico-metodológico. Qual o referencial utilizado? Como ele se expressa no trabalho? • • • • • • •
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