Buscar

Resumo - AULA 02 - Etnocentrismo e Relativismo

Prévia do material em texto

AULA 02
Etnocentrismo e Relativismo
Carlos Abraão Moura Valpassos
Neiva Vieira da Cunha
“O conceito de Etnocentrismo surgiu no século XX, sendo utilizado pela primeira vez pelo antropólogo W. G. Summer, em 1907. (...) o termo se aplica a uma atitude coletiva de repúdio aos modos de vida de outras sociedades” (p. 1).
Pode ser facilmente percebido em classificações de múltiplas sociedades, que se percebem como “os verdadeiros” ou “os homens”, deixando para os outros, os estrangeiros, o status de “os falsos” - ou, ainda, não-homens e, portanto, pertencentes ao campo do que é natural/”selvagem”, mas não cultural. 
***
O CONCEITO DE ETNOCENTRISMO
Everardo Rocha: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde [sic] o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc.”
O pressuposto para a existência do Etnocentrismo é a relação entre duas sociedades - relação esta baseada em julgamentos sobre os hábitos, religião, vestimentas, etc. “O Etnocentrismo, assim, é um verdadeiro julgamento a distância. É uma crítica feita de longe, que termina por desqualificar aquilo que é diferente e exaltar tudo o que é próximo e, portanto, cotidiano” (p. 4). Seu princípio costuma ser o que os antropólogos chamam de “choque cultural”. 
“Assim, ao perceber que existem formas de vida diferentes das minhas e que existem valores distintos dos meus, busco logo reafirmar a qualidade de minhas práticas, criticando aquilo que é novo e que põe em risco a forma como conduzi minha vida até então. As religiões diferentes da minha, classifico-as como demoníacas ou supersticiosas; os modos de vestir que diferem dos meus, rotulo-os 
como “exóticos”, imorais ou mesmo “esquisitos”; as danças que se mostram diferentes daquelas de meu grupo, trato logo de identificá-las como espalhafatosas, primitivas, “sem graça”, ou qualquer coisa que dê rapidamente uma ideia de inferioridade. Ao agir desse modo, estamos agindo etnocentricamente” (p. 5).
Toda perspectiva etnocêntrica é julgamento de valor. Há uma hierarquização do mundo. 
Exemplos e casos ilustrativos:
1. O antropólogo americano George Foster dedicou-se ao estudo dos impactos de novas tecnologias sobre populações tradicionais. Constatou que muitas obras e políticas públicas direcionadas a tais populações não consideravam os aspectos da cultura local. O que havia dado certo em um lugar (uma sociedade) era tido como suficiente para alcançar o mesmo êxito em outros. (Ele ilustra isso com uma fábula oriental do gato e do peixe em uma enchente - o macaco se segurou em uma árvore para salvar-se da enchente e, ao ver o peixe se debatendo, movido por um desejo humanitário, tirou o peixe da água). 
Não se trata apenas de olhar para “o outro”, mas olhar sob outra ótica.
No Nepal, a tentativa de um grupo de especialistas em agricultura estrangeiros de ajudar os rizicultores locais a aumentarem sua produção trouxe-lhe problemas. Os especialistas introduziram um arroz japonês que produziria até 200% mais do que o arroz nativo. No entanto, este arroz era mais difícil de ser colhido, exigindo maquinário específico (ao qual os rizicultores não tinham acesso), além de seu talo ser extremamente menor, reduzindo também a alimentação dos animais e causando diversos problemas. 
“Na medida em que a busca da relação se pauta apenas nos critérios do grupo do “eu”, descartam-se as singularidades do grupo dos “outros”. (...) O Etnocentrismo, no entanto, não se faz presente nas situações de aplicação de obras de benefício social. Entre nós, todos os dias é possível observar manifestações da mesma natureza” (p. 10). 
2. O exemplo da KKK: “surgiu no Sul dos Estados Unidos, em 1865, logo após o fim da Guerra Civil americana. Um dos objetivos do grupo era manter a supremacia branca, lutando para que fosse impedida a integração dos negros aos chamados direitos sociais, o que os tornaria cidadãos como os brancos. Não demorou muito para que a KKK adotasse métodos violentos na busca de seus objetivos. Assim, já em 1872 a entidade seria considerada terrorista, sendo então banida dos EUA. Em 1915, no entanto, na cidade de Atlanta, um novo grupo foi fundado, adotando o mesmo nome. O objetivo era criar uma organização fraternal de brancos protestantes que lutasse para dominar negros, judeus, católicos e imigrantes. O grupo chegou a ter cerca de 4 milhões de membros na década de 1920, tornando-se conhecido por suas atitudes violentas, pelos linchamentos e assassinatos promovidos. (...) O interessante para nossa discussão aqui é mostrar como uma postura etnocêntrica pode, em alguns casos, transformar-se em manifestações vivas de violência e ódio contra as pessoas que não pertencem ou não se enquadram nos valores e normas de um determinado grupo. A KKK é apenas um exemplo extremo disto” (p. 12-13).
***
RELATIVIZAR: A ATITUDE OPOSTA AO ETNOCENTRISMO
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra (Suiça), em 1712. Sua infância foi marcada por dificuldades: perdeu a mãe no nascimento e o pai aos 10 anos de idade. Estudou Filosofia e Artes. “Lévi-Strauss chegou mesmo a afirmar que “Rousseau não se limitou a prever a etnologia: ele a fundou”, ou seja, Rousseau, com mais de um século de antecipação, adotou um ponto de vista antropológico em sua obra” (p. 14).
Rousseau foi o primeiro a introduzir a ideia de que para que consigamos aceitar-nos nos outros, é necessário recusarmos a nós mesmos. Rousseau falará de “piedade”, e ”sua origem na identificação com um outro, sendo que este outro não se restringe a alguém da mesma família, nem da mesma cidade ou país, podendo ser um outro homem qualquer, pelo simples fato de compartilhar da mesma humanidade” (p. 15). Rousseau vai além e diz que tal identificação pode ocorrer com outros seres vivos, pois com eles compartilhamos a vida.
Assim se entende o pensamento relativista: “um modo de observar o mundo não pautado por determinismos, ideologias, dogmas ou quaisquer outras coisas, mas sim por uma busca pelo entendimento do outro, de suas peculiaridades, sutilezas, idiossincrasias e minúcias” (p. 15). Significa abrir mão dos próprios valores para compreender o “outro”. 
“Roberto da Matta escreveu que um dos principais desafios do trabalho de campo em Antropologia seria transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico” (p. 15). 
Etnocentrismo = Julgamento X Relativismo = Busca pela identificação.

Continue navegando