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Resumo - AULA 03 - O conceito de Cultura (1)

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AULA 03
O conceito de Cultura (1)
Carlos Abraão Moura Valpassos
Neiva Vieira da Cunha
Sobre as diferenças culturais: “ Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.), o influente teórico político e filósofo chinês, já refletia sobre a questão: “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados” (p. 47). Heródoto (484 a.C. - 424 a.C.) também viria se debruçar sobre o tema ao observar o sistema matrilinear dos lícios (exemplificando: o casamento de uma mulher livre com um escravizado gerava filhos livres; o de um homem livre e com uma estrangeira não garantia qualquer direito à cidadania por parte de seus filhos). A monogamia dos povos germânicos gerou admiração em Tácito (55 - 120). 
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DETERMINISMO BIOLÓGICO
As explicações de que as diferenças de hábitos e costumes entre os povos é de caráter natural, ligada a biologia desses grupos (da anatomia à herança genética), que hoje encontramos no senso comum, foram outrora formuladas de um modo científico. “Foram as teorias formadas no século XIX e que depois se tornaram conhecidas sob o título de Determinismo Biológico” (p. 48). Adotar tais perspectivas implica em entender o mundo de determinada forma: os alemães sempre seriam os melhores em produzir carros, todo americano deveria amar hambúrgueres e a Seleção Brasileira de futebol deveria ganhar todas as competições. Aceitar essa perspectiva permite a hierarquização de uma humanidade não mais vista como unidade. O discurso racista bebe desse determinismo.
Exemplo em contraponto: uma criança russa adotada por uma família brasileira em seus primeiros meses de vida teria como língua materna o Portugês, comemoraria aniversário com os hábitos brasileiros (que, por si só, já são diversos), pensaria o mundo através da ótica do ambiente em que foi criada.
Para os antropólogos, a diversidade de hábitos e costumes não está em fatores biológicos, mas nos processos de socialização.
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DETERMINISMO GEOGRÁFICO
Ideia de que os ambientes físicos podem condicionar os povos que ocupam esse ambiente a adotarem determinados comportamentos sociais específicos. Ápice dessas teorias: século XIX, sendo muitas vezes associadas ao geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844 - 1904). 
Premissa básica: o espaço geográfico influencia na humanidade, definindo até mesmo sua fisiologia e psicologia. Proposição deficitária de base, já que povos com hábitos diferentes se desenvolveram em ambientes semelhantes. 
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CONCEITO DE CULTURA
Edward Burnett Taylor (1832 - 1917) e o primeiro conceito antropológico de cultura, 1871, no artigo “A ciência da cultura”: “é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade”. Para ele, a diversidade de costumes estava relacionada à desigualdade entre os diferentes estágios da evolução social.
Charles Darwin e “A origem das espécies”, 1859: obra de grande impacto. As ciências sociais buscaram aplicar os métodos das ciências naturais a seus objetos. A palavra “evolução” estava enraizada e se relacionava à palavra “progresso”. Darwin, no entanto, só passou a usar a palavra “evolução” na sexta edição desta obra, 13 anos após a publicação original. A ideia de “evolução” em Herbert Spencer (1820 - 1903): avanço do simples para o complexo. Em Darwin, a evolução poderia ocorrer de diferentes maneiras, sem pré-determinações. Em Spencer, a evolução social era unilinear, reduzindo a diversidade social aos estágios dessa evolução das sociedades. Pensando assim, toda a humanidade seguia o mesmo trajeto evolutivo, em estágios indo dos mais simples aos mais complexos, do mais primitivo ao mais civilizado. 
Tylor falha: atribui à humanidade uma “unidade psíquica”, mas não destaca a multiplicidade de possibilidades oferecidas pelas culturas, insistindo na evolução unilinear.
Surge o contraponto em Franz Boas (1858 - 1942): passagem da visão universalista da cultura para uma atenção às diversidades das culturas, empregando o conceito pautado no plural. Figura fundamental na consolidação da Escola Cultural Americana, “onde se acentuavam os particularismos históricos que proporcionavam às culturas um desenvolvimento que seguia caminhos próprios” (p. 56). Diversidade cultural passa a ser explicada pelos múltiplos eventos de suas histórias (não apenas pensando em diferentes eventos, mas eventos que ocorreram de maneiras diferentes para diferentes povos) - além disso, o contexto era importante para os estudos culturais. Boas sobre o agrupamento de artefatos em coleções museográficas: insistia no agrupamento não por categorias de invenção, mas por sua unidade sociocultural. Exemplo: uma flecha pode ser um objeto de caça para um povo, mas um objeto sagrado ritualístico para outro (e que nunca seria usado para a caça). Para ele, era necessário organizar os objetos por seu contexto cultural ao invés de suas características.
Os trabalhos de Boas representam a explosão da base das teorias deterministas e o culturalismo americano contribuiu para afastar os perigos dessas teorias, já que não hierarquizam diferentes culturas. Além disso, a perspectiva culturalista traz a ideia de afastamento entre humanidade e mundo animal. Os animais se adaptaram biologicamente, morfologicamente, para garantir a sobrevivência. O homem se adapta sem alterar suas características físicas.
As sociedades são influenciadas por sua localização e até por aspectos biológicos (todos precisamos comer, dormir, etc.), mas estes aspectos não são determinantes da satisfação dessas necessidades e das adaptações a esses locais. Há povos que dormem em camas, em redes; povos que se alimentam de carne de vaca, povos que possuem a vaca como animal sagrado. 
As capacidades de adaptação humana: “Todas essas capacidades são fruto das inúmeras possibilidades proporcionadas pela cultura. O homem é, neste sentido, o resultado do ambiente cultural no qual se deu sua socialização. Como toda cultura é cumulativa, cada homem representa um herdeiro das experiências e dos conhecimentos de várias gerações que o antecederam” (p. 57).

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