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15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 1/35 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 a 1964 Prof. Osmani Pontes Descrição Análise da história econômica brasileira na República de 1946 com destaque ao ensaio de desenvolvimentismo típico do período do pós-guerra e antecedente ao golpe militar de 1964. Propósito O entendimento da história econômica brasileira entre 1945-1964 é fundamental para a compreensão dos elementos presentes no modelo desenvolvimentista de crescimento econômico predominante a partir de então e vigente até meados dos anos 1980, com ênfase principal na análise da participação do Estado na condução desse processo de crescimento. Objetivos Módulo 1 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 2/35 Primeiro esforço de desenvolvimento 1946-1955 Descrever o período do pós-guerra à posse de Juscelino Kubitschek com foco no primeiro grande esforço de desenvolvimento orientado pelo Estado. Módulo 2 Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) Analisar o Plano de Metas no contexto do modelo de desenvolvimento econômico na segunda metade dos anos 1950. Módulo 3 Política econômica sob a égide da instabilidade política Identificar a política econômica sob o signo da instabilidade política nos governos Jânio Quadros e João Goulart, com destaque para o debate sobre o Plano Trienal. Neste conteúdo, será analisado o eixo de política econômica que começa a ser desenhado após a queda do Estado Novo e que tem lugar durante a chamada “República de 1946”, em referência à nova Constituição, que entrou em vigor nesse ano e que acabou sendo conhecida como a mais democrática do Brasil até então. O período foi marcado também por uma relativa estabilidade política e por um ensaio de crescimento econômico com maior importância do papel do Estado — num primeiro momento, por meio da criação de empresas estatais, e num segundo momento, por meio de programas voltados para a expansão do crescimento. Introdução 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 3/35 1 - Primeiro esforço de desenvolvimetismo: 1946-1955 Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever o período do pós-guerra à posse de Juscelino Kubitschek com foco no primeiro grande esforço de desenvolvimento orientado pelo Estado. GOVERNO DUTRA (1946-1951) Para compreender esse período seminal do modelo de crescimento econômico que predominou até a década de 1980, este conteúdo se estrutura em três partes, além desta introdução e de uma conclusão. Na primeira, será estudado o esforço de formação de um Estado orientador do desenvolvimento econômico esboçado pelo governo de Eurico Gaspar Dutra e pelo segundo governo de Getúlio Vargas. Na segunda, o tratamento será voltado para o governo de Juscelino Kubitschek em seus três pilares: Plano de Metas, Política Monetária e Plano de Estabilização Monetária. E, finalmente, a terceira parte se dedica ao eixo de política econômica nos governos Jânio Quadros e João Goulart, em que o signo da instabilidade política foi predominante. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 4/35 Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Ao final da Segunda Guerra Mundial, a economia brasileira era bastante dependente em relação aos Estados Unidos, contrários à instalação de uma indústria nacional que viesse a impor concorrência às exportações norte-americanas. Além disso, a partir de 1945, o governo norte-americano tornou-se menos tolerante às ditaduras latino- americanas, e isso teve papel decisivo na queda do Estado Novo, em 1945. Estava iniciada a Quarta República (1946-1964), com o governo de Eurico Gaspar Dutra. Segundo Viana e Villela (2011), o governo Dutra pode ser dividido em duas fases no plano econômico: a fase liberal e a fase intervencionista. A fase liberal foi influenciada pela ascensão do liberalismo pós-guerra, mas na esteira de Bretton-Woods adotou um regime de câmbio fixo, com ligeira folga, mas com paridade sobreapreciada em termos reais. O governo acreditava que havia boas condições externas, com elevadas reservas internacionais e ausência de restrições no balanço de pagamentos, situação que seria mantida pela esperada entrada de capitais norte- americanos. Além disso, esperava-se apreciação dos preços do café no mercado internacional. Paridade sobreapreciada A moeda nacional valia muito, o que facilita importações e dificulta exportações. Isso foi causado pela inflação dos anos anteriores, superior à observada nos Estados Unidos. Saiba mais Bretton-Woods foi um acordo feito no final da Segunda Guerra Mundial pelos países vencedores para organizar a economia e o sistema financeiro internacionais. A ideia era facilitar a compra de bens de capital e matérias-primas no exterior para a indústria, e aumentar a concorrência sobre a indústria local, reduzindo a inflação. Por este último ponto, a política monetária foi mantida restritiva, e a política fiscal foi marcada por ajustes fiscais. A fase intervencionista inicia em meados de 1947, quando passa a haver um entendimento de que o cenário externo não é tão benigno: 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 5/35 Não havia �uxos de capitais su�cientes para o Brasil. Metade das reservas era em ouro, não em dólares, e a maior parte da outra metade estava bloqueada. Para agravar, os superávits correntes eram em moeda inconversível, ou seja, de difícil utilização no mercado internacional. Os capitais norte-americanos tinham como destino preferencial a Europa e não o Brasil, frustrando as expectativas do governo. Aqui, de acordo com Viana (1989a), havia uma questão a ser destacada sobre Bretton-Woods, que era o fato de que somente os Estados Unidos forneciam matéria-prima para o resto do mundo e não havia realmente concorrência para essas exportações. Assim, a segunda metade dos anos 1940 foi marcada por fortes desequilíbrios nas transações em ouro e dólar no mundo, caracterizados por uma escassez de dólares no mercado global. Após o Plano Marshall e a Doutrina Truman, fica claro que haveria uma maior atenção dos Estados Unidos com a reconstrução da Europa como tentativa de deter o avanço comunista. Essa mudança de orientação provocou, segundo o autor, uma mudança na política econômica. Como resposta, o governo brasileiro manteve a moeda apreciada para evitar um aumento na base monetária, já que o câmbio era fixo à paridade de 1939 e o mercado livre com abolição das restrições a pagamentos. Naquele momento, havia inflação crescente e cada vez mais ficava claro que a moeda brasileira estava sobreapreciada. Plano Marshall Plano de apoio para reconstrução da economia europeia após a Segunda Guerra Mundial. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 6/35 Doutrina Truman Política externa americana que buscava evitar a expansão da influência soviética no mundo. Relembrando Uma moeda sobreapreciada tem como causa comum uma inflação no país maior que no exterior; e como consequência, dificuldade para exportar e facilidade para importar. Havia uma demanda contida por matérias-primas e pela liberalização de importações de bens de consumo. A ideia era que os saldos menores na conta comercial reduziriam as reservas em dólares e combateriam indiretamente a inflação. Era esperado também que a política livre de câmbio permitiria saídas de capital mais estímulos de ingressos no futuro. Houve, nesse caso, a opção intencional do governo de não depreciar a moeda por conta de quatro motivos básicos, segundo Viana(1989a): A demanda externa por café era inelástica de tal maneira que uma taxa de câmbio mais desvalorizada não seria um estímulo a uma maior exportação. Havia a prioridade do governo em combater a inflação, de modo que uma depreciação da taxa de câmbio provocaria forte repasse cambial (os preços aumentariam porque os produtos importados, assim como os produtos que competem com importados, ficariam mais caros). Das exportações do país, 40% eram para áreas de moedas inconversíveis ou bloqueadas e, assim, a entrada dessas moedas só expandiria a base monetária sob um regime de câmbio fixo. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 7/35 Em julho de 1947, o governo instaurou um regime de controles cambiais pelo qual os bancos que operassem câmbio deveriam vender ao Banco do Brasil (BB) 30% das compras de câmbio livre, o equivalente à taxa de compra. O governo forneceria câmbio de acordo com as prioridades que favoreceriam as importações tidas como essenciais. Após essas medidas, houve melhora do déficit corrente de 313 milhões de dólares, em 1947, para 108 milhões em 1948 e superávit de 18 milhões em 1949. Houve ainda queda das importações da área de moedas conversíveis, queda dos preços dos importados por conta da recessão norte-americana de 1949 e alta dos preços do café. Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Viana (1989) observa que, embora essa política de controle de importações tenha sido adotada como forma de evitar desequilíbrios no balanço de pagamentos, isso acabou beneficiando a indústria interna. Em março de 1949, foi adotado o regime de câmbio com licenças e houve aumento das divisas de café no país, ou seja, maiores entradas de recursos externos para comprar café brasileiro. Na prática, isso significou uma maior coordenação entre disponibilidade de câmbio e emissão de licença de importação. O regime era de câmbio apreciado e restrições à importação de bens com similares nacionais, o que acabou contribuindo para a instalação da indústria de bens de consumo duráveis pela dupla via cambial: reserva de mercado e custo de operação. Essa política intervencionista teve três efeitos sobre a indústria: Câmbio com licenças Era necessário obter autorização prévia do governo para realizar importações. Havia ainda inelasticidade relativa a preços por parte da demanda por importações, e a desvalorização não ajudaria a conter o déficit corrente, ou seja, a desvalorização deixaria os produtos brasileiros mais baratos no exterior, mas isso não seria suficiente para aumentar as exportações. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 8/35 Efeito subsídio Preços relativos mais baratos para insumos. Efeito protecionista Impedimento da entrada de produtos estrangeiros na economia. Efeito combinado ou lucratividade Mais estímulo para a produção voltada para o mercado interno que para o externo. Foram, porém, efeitos indiretos, sendo o plano SALTE o único efeito direto com metas voltadas para quatro áreas: Saúde Alimentação Transporte Energia A partir de 1949, a ortodoxia na orientação do governo, que o levava a ter mais preocupações com a inflação, deu lugar a uma fase de expansão da política monetária via crédito, especialmente a partir da oferta de crédito do Banco do Brasil. A mudança de direção se deu pela proximidade das eleições presidenciais, pelo fortalecimento da indústria local que demandava mais crédito e pela esperança de lenta conversibilidade de moedas. O resultado foi um aumento do crescimento do PIB e da inflação. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 9/35 GOVERNO VARGAS II (1951-1954) Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954). O cenário interno no começo do segundo governo Vargas era de aceleração da inflação e desequilíbrio fiscal. Externamente, houve aumento dos preços do café e boa expectativa de investimento norte-americano. Foi criada a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU), que visava garantir o financiamento de projetos que resolveriam gargalos de infraestrutura e atrair novos investimentos. O financiamento seria de responsabilidade do Banco Mundial e do Eximbank. O plano do governo era uma política econômica em duas fases: Fase Campos Salles Com ajuste fiscal e política monetária restritiva para combater a inflação. Fase Rodrigues Alves 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 10/35 Com realização de obras. Como citam Viana e Villela (2011), a referência foi dada pelo ministro da Fazenda Horácio Lafer e adotada por Vargas como alusão aos governos Campos Salles (1898-1902), marcado por austeridade, e Rodrigues Alves (1902-1906), marcado por amplo programa de obras públicas. Houve a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e da Petrobras e, num primeiro momento, ocorreu redução de gastos, aumento da arrecadação e contração do crédito. Manteve-se o controle de câmbio e de importações, mas, em seguida, houve uma flexibilização para evitar uma crise de abastecimento (devido à Guerra da Coreia) e combater a inflação. Essa liberalização de importações, segundo Viana (1989b), é atribuída em ordem de importância aos seguintes fatores: Em relação à inflação ser causada pela repressão às importações, é preciso lembrar da oferta interna inelástica e da expansão dos meios de pagamento associadas às causas da inflação no diagnóstico ortodoxo. Em 1951, houve um ligeiro aperto nas licenças de importação, e o superávit comercial fechou positivo. Elevada inflação interna e crescente propensão a importar. Abastecimento precário por conta de anos de restrições anteriores. Perspectiva de escassez de matérias-primas. Expectativas favoráveis para a evolução das exportações que configurariam melhora da balança comercial. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 11/35 Já em 1952, houve manutenção no valor das importações: uma defasagem temporal do aperto de licenças gerou redução de compras. Por fim, as exportações caíram por conta da sobrevalorização da moeda brasileira, da crise mundial na indústria têxtil e da expectativa de desvalorização da moeda nacional, o que levou os exportadores a reterem estoques. Em relação às fases Campos Salles/Rodrigues Alves, sua continuidade é interrompida em razão da queda do saldo da balança comercial, levando ao retorno do controle de importações por parte do governo e à consequente queda das reservas internacionais. O ano de 1953 começa com inflação, crise cambial e interrupção do ciclo de financiamento norte-americano para a CMBEU, com a vitória de Dwight Eisenhower nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que, após a interrupção das fases, o governo procurava enxugar o gasto público, a política monetária permitiu uma expansão do crédito do Banco do Brasil por duas razões: I A recomposição de parte dos recursos para empréstimos pelo setor público, em 1951. II O recebimento de atrasados comerciais de importadores para com o governo, em 1952, o que garantiu uma fonte adicional de recursos. Em 1953, o governo estabeleceu taxas múltiplas de câmbio para aumentar exportações, mas não obteve êxito. Havia nesse mecanismo cinco taxas de câmbio diferenciadas: uma fixa, três flutuantes e uma de livre mercado. A inefetividade da medida se deu porque, por um lado, exportadores retiveram estoques e, por outro, importadores estrangeiros atrasaram as compras — ambos apostaram que ocorreria uma depreciação cambial em relação às taxas de câmbio que precisariam usar de acordo com o sistema diferenciado. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra:1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 12/35 Osvaldo Aranha (1884-1960). Em 1953, Osvaldo Aranha assumiu o Ministério da Fazenda com a mesma orientação ortodoxa, mas privilegiando o ajuste cambial. Tal ajuste se fez necessário, pois havia queda das exportações e interrupção do financiamento externo. Como parte da liberação do empréstimo junto ao Eximbank, a contrapartida assumida pelo governo brasileiro foi a promessa de conduta de austeridade. Em seguida, é imposta a Instrução nº 70 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), que determina: No entanto, os resultados são inflação, via repasse cambial, queda do produto, por conta do choque agrícola adverso, e aumento dos déficits públicos, por causa dos gastos em infraestrutura. O quadro externo só Monopólio cambial pelo Banco do Brasil. Fim do controle quantitativo de importações. Bonificações cambiais para exportadores. Controle qualitativo de importações. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 13/35 melhorou em 1954, quando a queda do valor das importações gerou superávit comercial, mas a inflação acelerou e houve queda das exportações, o que contraiu o produto. A despeito da tentativa de ajustamento interno, a posição do Tesouro Nacional (TN) junto ao BB passou de credora para devedora em razão de obras públicas, ajuste do funcionalismo e gastos para eleições municipais. O déficit público aumentou ainda por conta do pagamento pelo Banco do Brasil de um empréstimo internacional para salvar o governo de São Paulo da crise. Ao final de 1953, a inflação pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getulio Vargas (FGV), saiu de 12% para 20,8% em virtude das sucessivas desvalorizações cambiais e da expansão da dívida pública. Com a queda da agricultura e do investimento na economia, o produto interno bruto (PIB) cresceu apenas 2,5%, abaixo dos anos anteriores. GOVERNO CAFÉ FILHO (1954-1955) Eugênio Gudin Filho (1886-1986). Em meio à crise cambial, o governo obteve empréstimos com bancos oficiais e bancos privados, tendo como contrapartida a garantia das reservas em ouro do país. Eugenio Gudin, ministro da Fazenda, estabeleceu a Instrução nº 113 da SUMOC: o Banco do Brasil emitiria licenças de importação de bens de capital sem cobertura cambial para atrair capitais estrangeiros. Se a taxa de câmbio livre estivesse mais apreciada que a de bens de capital, seria mais vantajoso aos estrangeiros comprar bens do que emprestar recursos financeiros ao Brasil, como comentam Viana e Vilella (2011). A fase Gudin, com clara orientação ortodoxa, começa com a queda dos preços do café e a contração das exportações, como nota Pinho Neto (1989). Gudin vai aos Estados Unidos a fim de buscar empréstimos de 300 milhões de dólares, mas consegue apenas a renovação dos 80 milhões da gestão anterior e mais 80 milhões. Na gestão da política econômica interna, Gudin pretendia promover um ajuste fiscal e a contração da base monetária e do crédito. Tais medidas se deram por aperto monetário por meio de diversas instruções da 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 14/35 SUMOC, com destaque para a de nº 108, que aumentava os compulsórios sobre depósitos à vista de 4% para 14%, e sobre os depósitos a prazo de 3% para 7%. Essa gestão acabou sendo das mais ortodoxas da história econômica brasileira e provocou uma severa crise de liquidez que levou à liquidação de diversos bancos. Para acalmar os ânimos junto aos cafeicultores paulistas, Café Filho nomeou José Maria Whitaker para a Fazenda. Pela Instrução nº 116 da SUMOC, o novo ministro recompôs as taxas anteriores de compulsório que vigoravam antes de Gudin. Para Whitaker, as emissões de moeda com destino ao setor produtivo não eram inflacionárias — somente aquelas destinadas ao financiamento do déficit público. João Fernandes Campos Café Filho (1899-1970). A política cambial de Whitaker procurou unificar as taxas de câmbio a fim de alcançar um patamar mais depreciado, com as bênçãos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Revisão Neste vídeo, você verá um resumo do conteúdo que você acabou de estudar. Vem que eu te explico! 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 15/35 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. MÓDULO 1 Vem que eu te explico! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A segunda parte da política econômica do governo Dutra foi caracterizada por uma fase intervencionista que se deu com a constatação de que haveria divisas internacionais direcionadas ao Brasil (“ilusão das divisas”). Sobre esse fenômeno, é correto afirmar que A Ocorria pela volatilidade dos ativos em que as reservas estavam denominadas. B Havia superávits inconversíveis e parcela relevante sob a forma de contas bloqueadas. C Ruiu com o fim do regime de câmbio fixo, o que levou à desvalorização e perda de reservas. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 16/35 D Ficou marcado pelo fim do financiamento externo, que deflagrou uma crise no balanço de pagamentos. E Houve reversão de capitais por conta da mudança de postura do governo Dutra. Parabéns! A alternativa B está correta. Com parte significativa das reservas em ouro e parte sob a forma de contas bloqueadas, o balanço de pagamentos brasileiro dependia somente dos fluxos externos que se davam sob a forma de recursos superavitários em moeda inconversível. Na prática, o governo não podia contar com a liquidez externa que esperava no começo do governo Dutra. Questão 2 O segundo governo de Getúlio Vargas teria uma inflexão de política econômica após a chamada fase Campos Salles. No entanto, essa inflexão não ocorreu, nem houve continuidade do plano original. A que se atribui essa mudança nos rumos da política econômica? A Choque externo que impôs restrições ao balanço de pagamentos. B Viés autoritário assumido pelo presidente, que passou a rejeitar os pontos centrais do programa de governo. C Pressões do governo norte-americano para que ainda houvesse uma política fiscal restritiva. D Queda do PIB, que fez com que a arrecadação impossibilitasse a continuidade de projetos. E Fechamento da CMBEU e interrupção do financiamento externo. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 17/35 2 - Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o Plano de Metas no contexto do modelo de desenvolvimento econômico na segunda metade dos anos 1950. O governo Juscelino Kubitschek (JK) foi marcado pelo Plano de Metas e pelo envolvimento do setor público no estímulo ao desenvolvimento econômico, com metas tanto para o setor público quanto para o setor privado. Juscelino Kubitschek (1902-1976). Parabéns! A alternativa A está correta. Após a fase de ajuste fiscal, teria início um programa de obras públicas inspirado nos anos do presidente Rodrigues Alves, o que fez com que a fase tivesse esse nome. No entanto, a deterioração dos saldos comerciais impediu a continuidade do plano, e o governo foi obrigado a adotar um regime de controle de importações para evitar a acelerada queda das reservas internacionais. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 18/35 PLANO DE METAS O Plano de Metas foi desenhado com base nos diagnósticos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) eda Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e definiu setores prioritários para receber aportes do governo sob a forma de investimentos em infraestrutura que induziriam o investimento do setor privado. Os setores contemplados foram energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação. O setor público seria responsável por 50% dos gastos (via fundos de orçamento vinculado), o privado por 35%, e os 15% restantes viriam de agências públicas. O déficit externo estava previsto para ser zerado em 1961. Segundo Lessa (1982), havia quatro peças básicas no plano: Tratamento preferencial ao capital externo. Política monetária expansionista para financiar parte do plano. Ampliação da participação do setor público na formação bruta de capital fixo (FBCF). Estímulo à iniciativa privada. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 19/35 Saiba mais A formação bruta de capital fixo (FBCF) é um indicador calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra como o investimento em ativos fixos pode aumentar a capacidade produtiva da economia. O setor privado seria estimulado por três maneiras: Entre 1957 e 1961, a economia brasileira experimentou um crescimento anual de 8,2%, aumento de 5,1% ao ano da renda per capita e inflação média de 22,6%. Como houve resistência do empresariado a uma reforma tributária ampla que financiasse o plano, o financiamento acabou sendo inflacionário e houve aumento dos desequilíbrios regionais e sociais, a despeito da aceleração do crescimento e do sucesso das metas alcançadas. Uma das fontes de expansão do déficit público foi o custo das empresas públicas de transporte, que visavam manter as tarifas baixas para a população. A alta da arrecadação puxada pelo crescimento econômico evitou que a alta dos gastos levasse a aumentos ainda maiores do déficit público. Comentário Vale lembrar que o governo controlava diretamente a produção de setores como petróleo, minério de ferro e aço. Política cambial para facilitar a demanda por bens essenciais e lei de similares que vedava importação de bens disponíveis no mercado interno, capazes de atender à demanda interna. Crédito do Banco do Brasil (BB) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) a prazos e juros favoráveis (juros reais negativos, já que a inflação era alta). Emissão de avais do BNDE para captação de crédito no exterior. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 20/35 POLÍTICA MONETÁRIA A política monetária era exercida pela Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) e pelo Banco do Brasil (BB). A SUMOC era responsável por política cambial, juro do redesconto, compulsórios e fiscalização de registro de capitais externos. Já o BB desempenhava o papel de banco central e controlava: Juro do redesconto Taxa de juros que o governo cobra para fazer empréstimos a bancos comerciais, caso os bancos necessitem de recursos para cumprir suas obrigações. Se essa taxa é muito alta, os bancos são mais conservadores em sua política de crédito. I A carteira de redescontos (CARED), responsável pelo controle de liquidez. II A caixa de mobilização bancária, responsável pelo empréstimo de última instância. III A carteira de comércio exterior (CACEX), responsável pela política de exportação e importação. IV A carteira de câmbio, responsável pela compra e venda de moedas à taxa estabelecida pela SUMOC. O BB também era agente do Tesouro Nacional (TN), recebendo a arrecadação tributária e realizando operações de crédito. O TN emitia papel-moeda e amortizava a emissão por meio da caixa de amortização. O conselho da SUMOC controlava todo o sistema. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 21/35 A emissão era controlada pelo TN, mas quem colocava em circulação o papel moeda era a CARED, que possuía contabilidade independente do BB, que por sua vez era responsável pela distribuição do papel moeda aos bancos comerciais. Logotipo da Secretaria do Tesouro Nacional. A dinâmica se dava da seguinte forma: Para Orenstein e Sochaczewski (1989), havia, portanto, uma incompatibilidade do BB na função de banco central, por conta da falta de limites à emissão de moeda. O banco era ao mesmo tempo depositário das reservas de bancos comerciais e banco comercial — ou seja, havia expansão ilimitada de sua atuação. Além disso, a cobertura do déficit do tesouro era feita por meio de empréstimos do BB ao TN. Como o BB era banco central, essa operação implicava aumento de base monetária. PLANO DE ESTABILIZAÇÃO MONETÁRIA (PEM) O período de maior aceleração inflacionária foi entre 1957 e 1958, o que levou o governo a criar o Plano de Estabilização Monetária (PEM), que tinha duas fases. A primeira, que iria até 1959, era de transição e ajustamento e buscava corrigir distorções inflacionárias como reajustes constantes nos salários nominais. A segunda seria a de estabilização propriamente dita e respeitaria o crescimento econômico na expansão dos meios de pagamento. I O BB precisava de papel moeda para repassar aos bancos comerciais. II O BB levava títulos comerciais para a CARED em troca de papel moeda. III A CARED por sua vez pedia empréstimo no TN que enviava papel moeda e recebia os títulos 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 22/35 Porém, o PEM levou ao rompimento do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que desejava um plano mais austero. Esse plano acabou ficando pelo caminho e o governo tentou sucessivos planos de contenção da despesa orçamentária. Em outras palavras, o governo tentou uma série de pequenos ajustes fiscais para conter a inflação logo após o fracasso do plano. A política cambial teve como principal característica a volta da Instrução nº 113 da SUMOC, que incluía quase que a totalidade dos bens industriais na taxa de câmbio preferencial. Em 1957, outra iniciativa de intervenção: a criação do conselho de política aduaneira para definir alíquotas para determinados produtos com o objetivo de fortalecer a substituição de importações de bens de capital. Na segunda metade dos anos 1950, essa indústria cresceu 26,4%. Em 1959, teve destaque a Instrução nº 167 da SUMOC, que libera exportações de manufaturados, e a nº 192, que faz o mesmo para as demais exportações, exceto café, óleo, cacau e mamona. A Instrução nº 181 liberou fretes. Em geral, esse conjunto de reformas acabou por congelar o câmbio, enquanto os preços domésticos subiram 80% no período, evitando, portanto, a correção da taxa de câmbio real. Revisão Veja, no vídeo a seguir, um resumo do conteúdo estudado neste módulo. Vem que eu te explico! 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 23/35 Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. MÓDULO 2 Vem que eu te explico! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O Plano de Metas se caracterizou por um esforço ousado do governo em promover a expansão da oferta de bens públicos na economia. Tal esforço pode ser medido pela opção de o governo continuar com o plano, a despeito dos problemas de expectativas sobre a arrecadação. Uma das consequências foi o aumento do déficit público causado: A pelos custos represados ao longo da cadeia de produção, que levaram ao subsídio do governo. B pela depreciação cambial, que aumentou a dívida externa pública. C pela manutenção de preços baixos nas tarifas públicas, que aumentou o custo das estatais. 15/01/2022 17:06 Período Democrático noPós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 24/35 D pela obtenção de empréstimos pelo governo para continuar a manter o plano. E pelo aumento dos juros externos, que impôs um aumento do serviço da dívida na conta corrente. Parabéns! A alternativa C está correta. Um dos objetivos do Plano de Metas era fortalecer a oferta de bens públicos a preços acessíveis para a população, e o governo lançou mão do recurso de controle de preços públicos, que se mantiveram baixos por longos períodos de tempo, impondo um elevado custo a empresas estatais que viam aumento de custos sem ter aumento de receita. Questão 2 O plano de estabilização monetária do governo JK não foi concluído por uma série de questões. O que se viu na sequência foi uma política cambial intervencionista e voltada para a proteção de exportadores e facilitação de algumas importações. Qual, no entanto, foi a primeira medida após o abandono do plano? A Aceitação de uma taxa de inflação mais alta que a esperada. B Liberalização da política fiscal que se tornou flagrantemente expansionista. C Política monetária restritiva para compensar a frustração com o plano. D Uma série de pequenos ajustes fiscais para conter a inflação. E Um grande e profundo ajuste salarial para compensar o câmbio preferencial. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 25/35 3 - Política Econômica sob a égide da instabilidade política Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a política econômica sob o signo da instabilidade política nos governos Jânio Quadros e João Goulart, com destaque para o debate sobre o Plano Trienal. GOVERNO JÂNIO Parabéns! A alternativa D está correta. Após o fracasso do PEM, não houve nova tentativa de ajuste salarial, tampouco a opção foi pela política monetária. A saída encontrada pelo governo foi uma sucessão de ajustes fiscais relativamente pequenos para deter os choques inflacionários. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 26/35 Jânio Quadros (1917-1992). Jânio Quadros tomou posse em meio a um cenário de aceleração inflacionária, aumento dos gastos públicos e deterioração do balanço de pagamentos. A Instrução nº 204 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) unificou as taxas de câmbio e depreciou a taxa, buscando um ajuste real. Para suavizar o Balanço de Pagamentos (BP), foi adotado um sistema de letras de importação pelo qual os importadores deveriam depositar por cinco meses no BB o valor das importações. A alternativa para o governo, caso não adotasse essa medida, como ressalta Abreu (1989), seria o financiamento inflacionário por meio da emissão de dívida. Nesse ponto, a política cambial seria na verdade também uma política anti-inflacionária. Para Furtado (1975), essa política levou a uma aceleração inflacionária. Como contraponto, o governo conseguiu o que pretendia ao gerar recursos internos no mercado de câmbio, aumentando sua liquidez, e poderia financiar os gastos em moeda nacional. Atenção! Importante notar que, sob esse ponto de vista, Furtado tinha uma visão ortodoxa que inclusive o levava a atribuir a correção dessa distorção de gastos às reformas fiscais realizadas posteriormente. No plano da dívida externa, houve reescalonamento do passivo, com redução do serviço da dívida e aumento do estoque de dívida. O coeficiente dívida/exportações, no entanto, aumentou. GOVERNO JANGO E O PLANO TRIENAL 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 27/35 João Goulart (1919-1976). O governo João Goulart teve início com um regime parlamentarista em que o país seria comandado pelo gabinete do então primeiro-ministro Tancredo Neves. O banqueiro Moreira Salles foi indicado para o Ministério da Fazenda a fim de acalmar o temor de uma guinada à esquerda. Foram elaborados três planos para conter os gastos, aumentar a poupança e estabilizar o BP: Plano Perspectiva Plano Quinquenal Plano de Emergência Curiosidade O Plano Perspectiva teria horizonte de vinte anos. A política monetária era contraditória, pois ao mesmo tempo contraiu crédito e depósitos compulsórios sobre depósitos à vista e manteve uma política cambial sem taxas múltiplas. Havia a preocupação em domar a inflação via repasse cambial, que corroía salários reais. O plano de investimentos buscava ser não inflacionário com investimentos plurianuais e uma reforma administrativa. A ideia era expandir a formação bruta de capital fixo (FBCF). Na esteira do plano, havia a tentativa de combater o baixo crescimento do produto interno bruto (PIB) por conta da dificuldade de financiamento encontrada na economia. Mas, ao mesmo tempo, houve arrocho monetário e ajuste fiscal — este último em parte deteriorado pelo reajuste salarial de 40% no salário mínimo. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 28/35 A política externa foi prejudicada pelas mudanças na lei de remessas de lucros e pelo cancelamento de concessões de empresas norte-americanas e, nesse sentido, foi mantida a política externa independente de Jânio, além da saída de capitais dos Estados Unidos. Saiba mais O ano de 1961 encerrou com crescimento de 8,6% do PIB e inflação de 30%. Houve queda da FBCF e melhora do BP com a renegociação da dívida externa e o aumento das exportações. Nesse ano, o investimento foi mantido pelo setor público, já que foi verificada a retração do investimento privado. Em março de 1962, um fracasso de ajuste �scal enfraqueceu o governo junto a setores �scalistas. Dois fatores adversos ocorreram em maio de 1962: o fracasso em nova renegociação da dívida; e o aumento do déficit fiscal por conta da alta de despesas de empresas públicas, o que levou à renúncia do gabinete Neves, substituído por Brochado da Rocha. O novo gabinete se inclinou mais à reforma agrária e ao combate à inflação, pretendendo reduzir a taxa de inflação para 60% em 1962 e 30% em 1963. O novo governo tentou passar no Congresso uma proposta de aumento de poderes para promover reformas, mas fracassou nas negociações, o que levou à nova renúncia do gabinete. Em junho de 1962, Moreira Salles afrouxou a austeridade, conferindo aumento ao funcionalismo público. Após o plebiscito que deu a vitória ao presidencialismo, houve o abandono definitivo do plano de estabilização. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 29/35 No �nal do ano, as contas estavam descontroladas, a in�ação em alta e houve contração do crescimento do PIB para 6,6%. Para Melo, Bastos e Araújo (2006) foi preciso situar a política econômica de João Goulart no aspecto do modelo de substituição de importações, inspirado nos autores de tradição estruturalista latino-americana. Para eles, seria impossível para os países periféricos que as taxas de crescimento convergissem para as taxas dos países ricos, já que o custo dessa tentativa seria a obtenção de déficits correntes crescentes. A causa desse obstáculo seria a existência de uma sociedade heterogênea e com péssima distribuição de renda, o que dificultou a criação de um mercado consumidor para bens de consumo duráveis. Seria necessário, portanto, um conjunto de reformas estruturais que removesse essas desigualdades. Era essa a justificativa das reformas de base que ganharam corpo na fase presidencialista: permitir o avanço do modelo de substituição de importações. Exemplo Um exemplo desse tipo de reforma seria a reforma agrária, que teria o efeito direto de aumentar a produtividade e a renda no campo, e um efeito indireto de evitar o êxodo rural e contribuir para nãoaumentar o desemprego urbano nem pressionar para baixo o salário médio nas cidades. Essa tese chamada de estagnacionista foi criticada por Tavares (1972), que argumentava que as reformas até poderiam reorientar o desenvolvimento no caminho de uma sociedade menos desigual, mas não eram peça fundamental na engrenagem do crescimento, que deveria vir por meio da expansão e generalização do crédito para sustentar o mercado de bens duráveis. Nessa concepção, diferenciam-se aspectos estruturais ligados a questões de longo prazo, como tendência à estagnação e deterioração dos termos de troca, e aspectos conjunturais, como a reversão de um ciclo de investimento, piora da balança comercial e choques de câmbio e de matérias-primas. Celso Furtado (1920-2004). O Plano Trienal foi elaborado por Celso Furtado e implantado em 1963, sendo facilitado pela vitória do presidencialismo como sistema de governo. O diagnóstico do plano para a inflação era ortodoxo: excesso de demanda por conta do gasto público. As soluções seriam: 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 30/35 Havia metas para o crescimento econômico (7%) e para a in�ação (25%). Na prática, a expectativa de controle de preços antecipou reajustes e levou a uma alta de 20% nos preços da indústria. O governo encerrou os subsídios e promoveu um amplo reajuste das tarifas públicas. No plano monetário, houve forte aumento dos compulsórios. No segundo trimestre, porém, o governo voltou com os subsídios mesmo em meio à desvalorização cambial de 30%. As negociações salariais levaram a ajustes nominais acima do prometido ao Fundo Monetário Internacional (FMI). No segundo semestre de 1963, houve um relaxamento das restrições de crédito. O déficit do governo aumentou, embora os preços tenham permanecido estáveis. O crescimento do produto interno bruto (PIB) despencou para 0,6% em 1963, com forte redução dos investimentos públicos e privados. Há debate sobre as causas da queda do PIB. Optou por analisar os dados desagregados de investimento público e privado para concluir que o Plano Trienal foi a causa da recessão ao contrair o crédito e a liquidez que suportavam o crescimento de diversos setores. Nesse sentido, diverge dos dados de FBCF da Fundação Getulio Vargas (FGV), que mostram expansão de 13,1% em 1961 para 17% em 1963 (ABREU, 1989). Correções de preços defasados Redução do déficit público Restrições de crédito ao setor privado Wells (1977) Furtado (1968) e Tavares (1972) 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 31/35 Enfatizam a perda de dinamismo do modelo de substituição de importações, o aumento da relação capital/produto e a variação do investimento em plantas maiores que o mercado desde o plano de metas. Revisão Finalize seu estudo assistindo a um resumo do conteúdo que você acabou de ver. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. MÓDULO 3 Vem que eu te explico! 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 32/35 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A política cambial de Jânio foi anti-inflacionária visto que foi uma alternativa à emissão de dívida. Por que tal política cambial foi criticada por Celso Furtado? A Provocou uma aceleração de preços por conta do repasse da depreciação cambial. B A política cambial fracassou ao não conseguir ajustar o câmbio real como o desejado. C Era uma visão heterodoxa de Celso Furtado. D Não seriam necessárias reformas fiscais para lidar com o problema posterior. E Ele afirma ter havido redução de liquidez nos mercados cambiais. Parabéns! A alternativa A está correta. De acordo com a crítica de Furtado, embora fosse uma política que visava combater a inflação, o resultado não foi de redução de inflação e sim de aceleração, uma vez que a depreciação cambial subjacente na unificação das taxas aumentou a cotação do dólar em moeda nacional. Questão 2 Na política monetária do governo Jango, havia uma contradição dada pelos polos A taxas de juros baixas e recolhimentos compulsórios exagerados. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 33/35 Considerações �nais Como tratado ao longo deste texto, entre 1946 e 1964, a orientação de política econômica brasileira foi direcionada para um ensaio de desenvolvimento econômico que deu centralidade ao papel do Estado como indutor do desenvolvimento. Em alguns momentos, como nos anos Dutra e Vargas, as políticas foram compostas por uma fase mais ortodoxa, com vistas ao ajuste de contas, e uma fase mais intervencionista, com atuação mais presente do governo. Nem sempre essa divisão foi bem demarcada, muitas vezes interrompida por choques externos. Durante os anos JK, o país experimentou um modelo de desenvolvimento mais intenso com metas traçadas para os setores público e privado, e, como era de se esperar, uma forte proteção à indústria nacional, com vistas à formação bruta de capital fixo. Finalmente, vimos os anos de instabilidade dos governos Jânio e Jango, nos quais há discussão sobre se o Plano Trienal foi ou não responsável pela recessão. Para os defensores do plano, apenas houve um desgaste B política monetária expansionista e taxa de câmbio apreciada. C contração de crédito e taxas múltiplas de câmbio. D expansão do crédito e taxas de juros restritivas. E política de emprego e redução do salário real. Parabéns! A alternativa C está correta. Ao mesmo tempo que havia uma política de crédito restrita para deter um choque de demanda, a política cambial procurou estabelecer taxas múltiplas para favorecer determinados setores. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 34/35 do modelo de substituição de importações, enquanto para os críticos o plano partiu de um diagnóstico ortodoxo e provocou recessão pela contração do crédito e da liquidez. Em geral, os anos da República de 1946 podem ser vistos como um primeiro esforço estatal de crescimento e desenvolvimento econômico cujos elementos estariam presentes de alguma forma em governos posteriores, mesmo naqueles de caráter autoritário. Revisão Neste podcast, você poderá ouvir um resumo de todo o conteúdo estudado. Referências ABREU, M. P. Inflação, estagnação e ruptura: 1961-1964. In: ABREU, M. P. A ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana: 1889-1989. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. FURTADO, C. Um projeto para o Brasil. Rio de Janeiro: Saga, 1968. FURTADO, C. A hegemonia dos Estados Unidos e o subdesenvolvimento da América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. LESSA, C. Quinze anos de política econômica. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1982. MELO, H. P.; BASTOS, C. P. M.; ARAÚJO, V. L. A política econômica e o reformismo social: impasses de um governo sitiado. In: FERREIRA, M. M. João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro: FGV, 2006. 15/01/2022 17:06 Período Democrático no Pós-Guerra: 1945 A 1964 https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02699/index.html#imprimir 35/35 ORENSTEIN, L.; SOCHACZEWSKI, A. C. Democracia com desenvolvimento: 1956-1961. In: ABREU, M. P. A ordem do progresso: cem anos de política econômica republicana: 1889-1989. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. PINHO NETO, D. M. O interregno Café Filho: 1954-1955. In: ABREU, M. P. A ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana: 1889-1989. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. TAVARES, M. C. Além da estagnação: uma discussão sobre o estilo de desenvolvimento recente doBrasil. [S. l.]: CEPAL, 1972. VIANA, S. B. Política econômica externa e industrialização: 1946-1951. In: ABREU, M. P. A ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana: 1889-1989. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989a. VIANA, S. B. Duas tentativas de estabilização: 1951-1954. In: ABREU, M. P. A ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana: 1889-1989. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989b. VIANA, S. B.; VILLELA, A. O pós-Guerra. In: GIAMBIAGI, F. et al. Economia brasileira contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2011. WELLS, J. Growth and fluctuations in the Brazilian manufacturing sector during the 1960's and early 1970’s. Cambridge: Cambridge University, 1977. Explore + Para uma visão estendida do período que abrange desde os anos JK até as vésperas do golpe de 1964, recomenda-se a leitura do capítulo Dos “anos dourados” de JK à crise não resolvida (1956-1963), de André Villela, que compõe o livro de Fabio Giambiagi e colaboradores, Economia brasileira contemporânea, 2. ed., publicado pela Campus Elsevier, no Rio de Janeiro, em 2011. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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