Prévia do material em texto
Resumo: O “modelo japonês” de administração. Filosofia enxuta como abordagem de melhoramento. Técnicas de melhoramento. Ciclos de Melhoramento (PDCA). Gestão da Qualidade Total. Prof: Marcio Luiz Marietto, Dr MODELO JAPONÊS DE ADMINISTRAÇÃO Após a segunda guerra mundial o Japão estava devastado. Suas fabricas haviam sido destruídas e escassez de recursos como insumos para produção e mão de obra eram alarmantes. Nesta direção os japoneses sabiam que para se restaurarem precisavam fazer “mais com menos”. O caminho para a prosperidade deveria ser percorrido por meio do aumento da produtividade, da redução de custos, da conquista de mercados e da expansão do emprego. Em 1950, o Sindicato dos Cientistas e Engenheiros do Japão (JUSE) convidou William Edwards Deming para visitar as principais fabricas japonesas. Deming dirigiu seus esforços, então, para a sensibilização dos altos dirigentes sobre a melhoria da qualidade que ele definiu como a redução da variabilidade (mudanças não programadas alteração da média - nos processos produtivos). Conquanto, Deming introduz os alicerces do modelo japonês de qualidade: i) Predominância do cliente; ii) Importância da mentalidade preventiva; iii) Necessidade do envolvimento da alta administração (PALADINI, 2019; MAXIMIANO, 2011). A influência de Deming, entre outros percursos da qualidade como Ishikawa e Feigenbaun, fez com que a historia da administração da qualidade total confunde-se com a historia do modelo japonês de administração. De fato, o modelo japonês é uma combinação dos princípios e técnicas da qualidade total, da administração científica e das tradições culturais japonesas. O desenvolvimento desse modelo é uma história que começa nos anos 1950, quando a economia japonesa estava debilitada e a Toyota, uma empresa de pequeno porte, tinha um programa de produção de 1.000 carros por mês. Eiji Toyoda, da família proprietária da Toyota, e Taiichi Ohno, o chefe da engenharia da empresa, foram os principais responsáveis pelo conjunto de técnicas de manufatura que se tornou conhecido como Sistema Toyota de Produção (Lean Manufacturing - Produção Enxuta)que priorizava a eliminação de desperdícios e produção de veículos com qualidade (Maximiano, 2011). PRODUÇÃO (FILOSOFIA) ENXUTA (LEAN MANUFACTURING) – (MAXIMIANO, 2011; BALLESTERO-ALVAREZ, 2019) As técnicas desenvolvidas na Toyota foram rapidamente adotadas em outras empresas do Japão. Nesse processo de disseminação, outros ingredientes foram agregados, originando um conjunto de soluções que se tornou conhecido como “o modelo japonês de administração”. O conjunto dessas técnicas e soluções também ficou conhecido como Sistema de Produção Enxuta, por causa de sua orientação para a economia de recursos. A primazia encontrava-se na eliminação de desperdícios materiais, humanos e de tempo por meio da aplicação das técnicas de racionalização do trabalho. O “Kaizen” (palavra japonesa que significa melhoria contínua) torna-se central nestes processos, sendo usado para designar os esforços sistemáticos de redução de desperdícios, levados a efeito por meio do procedimento de análise de uma tarefa, proposição de um modo mais eficiente de realizá-la e implantação da tarefa modificada, tudo isto sem comprometer a qualidade do produto. Outro processo que se popularizou no sistema Toyota foi o Just in Time (JIT). O JIT é um método que visa incrementar a qualidade com a máxima redução possível dos estoques. O objetivo do JIT é oferecer respostas rápidas aos clientes e, simultaneamente, minimizar os estoques. Atualmente o JIT é conhecido como o método de entrega de insumos pelos fornecedores somente no tempo exato da produção. O toyotismo destacou os 7 sete pontos principais (7 desperdícios) para a identificação e melhoria os processos produtivos: 1 – Defeitos: erros em materiais, peças, processos e produtos. 2 – Excesso de produção: adquirir mais materiais do que necessário e produzir mais do que o cliente precisa. 3 – Estoques: armazenar produtos em grandes estoques, decorrentes do excesso de produção ou da compra excessiva de matéria-prima. 4 – Processo desnecessário: relatórios, processos e burocracias desnecessárias que não agregam valor ao cliente. 5 – Movimento desnecessário: deslocamentos que poderiam ser evitados ou eliminados para conferir mais tempo e eficiência aos colaboradores. 6 – Transporte desnecessário: tempo perdido com transporte desnecessário de materiais, produtos e logística ineficiente de processos. 7 – Espera: pausas no trabalho ocasionadas por problemas técnicos, falta de profissionais e demora na liberação de alguma operação. O Sistema de produção enxuta desenvolveu e aprimorou técnicas fundamentais para alcançar os resultados de redução de custos e aumento da produtividade: - Mapeamento do Fluxo de Valor: Identifica um processo que precisa de melhoria para, em seguida, mapear todo o seu fluxo de valor, detalhando cada etapa do processo atual. A partir desse diagrama, é possível analisar os pontos fortes, as fragilidades e entraves do processo. - Métricas Lean: Algumas métricas (indicadors) para acompanhar o desempenho da indústria. a) Lead Time – Tempo que o produto passa entre o início da cadeia produtiva até a entrega final para o cliente; b) Cycle Time – Tempo utilizado para executar um processo; c) Throughput – Quantas unidades são fabricadas em determinado período; d) Takt/beat time – Mede a capacidade produtiva da equipe, quanto tempo o grupo consegue produzir uma unidade do produto. e) Eficiência do processo – Mensura quanto tempo é dedicado a atividades que agregam valor ao produto, referente ao período total de fabricação; - Kanban: O sistema Kankan é uma forma de controle e integração entre os departamentos, para indicar quando é necessário produzir um produto ou comprar um material específico para a fabricação. O que começou com cartões de sinalização –origem do nome “kanban”; - 5S: O conceito remete a 5 palavras japonesas: que representam as boas práticas que estimulam a melhoria continua de acordo com a cultura Lean. i) Seiri – Senso de Utilização: refere-se à utilização inteligente dos materiais usados na produção, eliminando recursos desnecessários ao processo; ii) Seiton – Senso de Organização: organiza todas as ferramentas importantes para a realização do trabalho, de maneira que possam ser acessadas facilmente e com rapidez; iii) Seiso – Senso de Limpeza: mantém o ambiente de trabalho limpo e organizado, cuidando de todos os aspectos do espaço físico, inclusive a manutenção dos equipamentos; iv) Seiketsu – Senso de Padronização: os bons costumes da empresa devem se tornar parte da cultura dos colaboradores. O que é bom deve ser incluído como parte do trabalho; e v) Shitsuke – Senso de Disciplina: autogestão, dedicação e empenho para que os colaboradores vivam os 5S diariamente; - Redução de setup: Redução do tempo das operações de preparação das máquinas com o objetivo de diminuir o tempo de setup para aumentar o tempo de produção. - Manutenção Planejada das Máquinas (TPM - Total Productive Maintenance): É um conjunto de ações que visam prever e eliminar as causas de falhas nos equipamentos da indústria. Para isso, aplica-se a estratégia de gestão que maximiza o potencial do maquinário para produzir com mais eficiência, por meio de práticas como redução de quebras, defeitos e acidentes com os dispositivos, além de manutenções preventivas; - Gestão Visual: É uma maneira de organizar as informações mais importantes sobre cada área da empresa, de forma clara e transparente, para que gestores e colaboradores possam acompanhar e entender o desempenho da produção. Com o acesso fácil aos dados da organização, é possível controlar, planejar e desenvolver ações de melhoria continua em todas os setores da empresa. Essa ferramenta é essencial para ajudarna tomada de decisões assertivas. - Poka-Yoke (Mistake Proofing): São técnicas ou equipamentos de inspeção que identificam falhas antes que elas se transformem em defeitos percebidos pelo cliente. A filosofia da produção enxuta como abordagem de melhoramento de produção evidenciou que melhorar a qualidade não depende apenas dos engenheiros e dos especialistas do controle da qualidade. Todos, na organização, são responsáveis pela qualidade, desde as pessoas que estão no início da hierarquia, até o presidente. Essa responsabilidade de todos pela qualidade e a garantia da qualidade dos produtos e serviços, do começo ao fim do processo, exige um enfoque sistêmico para integrar ações das pessoas, máquinas, informações e todos os outros recursos envolvidos na administração da qualidade. Estes pressupostos fundamentam o sistema d Controle da Qualidade Total (Total Quality Control – TQC). GESTÃO DA QUALIDADE TOTAL Carpinetti (2016) e Maximiano (2011) afirmaram que Armand Feigenbaum apresentou ideias sobre o comportamento organizacional em relação à qualidade na década de 1960, criando o rotulo TQC - Total Quality Control. O TQC não é a qualidade, mas um sistema de gerenciamento que permite chegar a ela. O TQC é um sistema de gestão da qualidade com o objetivo de garantir a satisfação total dos fabricantes e clientes com um produto ou serviço, superando expectativas de ambas partes. Esse método permite transcender o conceito de qualidade não só pela ausência de defeitos, mas também para as condições em que o produto é fabricado e está totalmente ligado ao Toyotismo. Kaoru Ishikawa é outro especialista que trabalhou com o conceito de qualidade total. Para Ishikawa, o desenvolvimento dos princípios e das técnicas da qualidade total tiveram sua própria evolução no Japão, vindo posteriormente a encontrar-se com as ideias de Feigenbaum. Ishikawa foi o criador dos círculos da qualidade, ou Círculos de Controle da Qualidade (CCQ). No formato original, o círculo da qualidade é um grupo de voluntários de um mesmo setor ou área de trabalho, que se reúnem regularmente para estudar e propor a solução de problemas que estejam comprometendo a qualidade e a eficiência dos produtos. Essa ideia disseminou-se rapidamente, primeiro no Japão e logo em seguida em outros países. Ao final, a administração da qualidade combinou as proposições de Feigenbaum e de Ishikawa: a qualidade é uma responsabilidade de todos, coordenada e orientada por uma gerência de qualidade (Maximiano, 2011). Com processos padronizados e controlados corretamente, o TQC permite criar testes e pesquisas para garantir que o valor entregue esteja de acordo com as demandas dos clientes. Carpinetti (2016) e Paladini (2019) resumem os principais benefícios do Controle da Qualidade Total (TQC): • Aumento do faturamento; • Aumento da produtividade; • Maior colaboração das pessoas relacionadas com a empresa; • Desenvolvimento dos colaboradores; • Melhor ambiente de trabalho; • Maior satisfação dos clientes; Os autores também apontaram os oito pilares que fazem parte da filosofia do Controle da Qualidade Total: • Satisfação do cliente em primeiro lugar durante todo o processo; • Aperfeiçoamento contínuo; • Integração entre funcionários e setores da empresa; • Valorização do trabalhador; • Predisposição para a ação; • Relacionamento com o cliente; • Autonomia; • Produtividade; • Atuação orientada por padrão de qualidade; O método central de gerenciamento da qualidade proposto pelo TQC é o PDCA. Esse método gerencial é composto de quatro etapas básicas sequenciais, formando um ciclo fechado que são: planejar (Plan), executar (Do), verificar (check) e agir corretivamente (Action). PDCA na implantação do TQC Outra contribuição fundamental de Deming, juntamente com Walter Shewhart, foi o ciclo de Deming-Shewhart, ou Ciclo PDCA, como se tornou mais conhecido (Carpinetti, 2016). O PDCA que significa Plan, Do, Check, Act (Planejar, Executar, Checar e Agir) possui metas e objetivos específicos em cada uma destas etapas que se repetem em um ciclo, gerando melhorias contínuas no processo produtivo – sendo um aliado importante na aplicação do modelo Kaizen. Dessa forma, a ferramenta ajuda a entender quando surge uma dificuldade e como solucioná-la, mantendo o foco nas causas. Abaixo explicamos cada uma das etapas: 1) Planejar (Plan): A primeira fase do ciclo consiste em elaborar um planejamento detalhado com os objetivos de cada etapa da cadeia produtiva. São levados em consideração a identificação do problema, o estabelecimento de metas, a análise do fenômeno, a análise do processo e o plano de ação: - Identificação do problema: fique atento aos resultados indesejados, eles indicam que há falhas ou oportunidade de melhoria no processo. - Definição da meta: encare o obstáculo como uma meta não alcançada e divida-o em objetivo geral, prazo e valor. - Análise do fenômeno: faça uma descrição detalhada da situação com base nas informações coletadas. - Análise do processo: identifique o que causa essa dificuldade a partir do levantamento de atividades, recolhimento de dados, detalhamento do fluxo de valor e monitoramento dos itens. - Plano de ação: crie um resumo de toda essa etapa, descrevendo metas e as ações propostas. 2) Executar (Do): Colocar em prática o que foi planejado. Esta etapa é subdividida em duas, sendo que a primeira é composta pela necessidade de treinamento e educação, das pessoas, a fim de prepará-las adequadamente para a compreensão e a aplicação dos padrões definidos (aprendizagem organizacional). A segunda parte é composta pelo fazer, ou seja, colocar em prática os padrões definidos na etapa de planejamento e coletar dados relativos a eficiência e eficácia do processo operacionalizado. Durante essa etapa, a coleta de dados é usada para verificar o andamento das mudanças; 3) Checar (Check): Nesta etapa os resultados obtidos devem ser comparados com os indicadores definidos no planejar. Neste ponto deve-se fazer uma análise crítica buscando identificar a conformidade ou não do resultado obtido. Se a resposta for “sim” o processo deve ser mantido, se for “não” devemos analisar as causas do não atendimento e promover as devidas correções, com possíveis mudanças nos padrões definidos 4) Agir (Act): Depois de implantar as mudanças e mensurar os resultados, o próximo passo é incorporar as melhores práticas para aperfeiçoar o processo. Para isso, são adotadas ações corretivas e é feito o alinhamento entre as etapas produtivas. Isso não significa que todas as decisões sejam para retificar erros. Se o projeto apresentar bom desempenho, deve-se dar continuidade ao trabalho realizado sem alterações. O método do PDCA implica que, posteriormente, as medidas usadas para solucionar as falhas podem se tornar normas, procedimentos ou padrões com o objetivo de evitar que o dano se repita. A simplicidade do PDCA é sua virtude e faz dele um instrumento muito flexível e que nos permite utilizá-lo e aplicá-lo tanto na gerência da empresa como em cada um dos processos existentes em uma organização, em qualquer setor ou área. Cada vez que um problema é identificado e solucionado, o sistema produtivo passa para um patamar superior de qualidade integrando-se a filosofia dos ciclos de melhoramentos e trabalhando dentro da ótica da melhoria contínua, em que problemas são vistos como oportunidades para melhorar o processo (BALLESTERO-ALVAREZ, 2019; CARPINETTI, 2016). REFERENCIAS BALLESTERO-ALVAREZ, M. E. Gestão de Qualidade, Produção e Operações. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2019. CARPINETTI, L. C. . Gestão da qualidade: conceitos e técnicas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2016. MAXIMINIANO, A. C. A. Introdução à Administração. São Paulo. Atlas, 2011. PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: Teoria e Prática. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2019.