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18 Gustavo Urzêda Vitória R1 DE PSIQUIATRIA - Transportadores, receptores e enzimas como alvos da ação de psicofármacos: Fonte: Psicofarmacologia; Stephen M. Stahl, 2022. Introdução: • Os psicofármacos contam com muitos mecanismos de ação, porém todos têm como alvos sítios moleculares específicos, que exercem efeitos profundo sobre a neurotransmissão. • Existem apenas alguns locais de ação para todos esses agentes terapêuticos. o 1/3 dos psicofármacos tem como alvo específico um dos transportadores de neurotransmissores. o 1/3 é direcionado para receptores acoplados às proteínas G. o 10% tem enzimas como alvo. o O restante tem como alvo diversos tipos de canais iônicos. • Com efeito, esses alvos moleculares constituem a base de como os psicofármacos são agora nomeados → há uma tendência atual de nomear os fármacos psicotrópicos de acordo com seu mecanismo de ação farmacológico, e não em sua indicação terapêutica. • Existem variantes genéticas conhecidas para muitos alvos dos fármacos psicotrópicos, há um esforço contínuo para determinar até que ponto essas variantes genéticas podem aumentar ou diminuir a probabilidade 19 Gustavo Urzêda Vitória de determinado paciente apresentar uma boa resposta clínica ou efeitos colaterais a fármacos direcionados a alvos específicos → farmacogenômica. Transportadores de neurotransmissores: Classificação e estrutura: • Membranas neuronais servem para manter o meio interno do neurônio constante, atuando como barreias à intrusão de moléculas externas e ao extravasamento de moléculas internas. o Permeabilidade seletiva → possibilitar liberação e captação de moléculas específicas em resposta às necessidades do funcionamento celular. o Essa recaptação é efetuada para que o neurotransmissor possa ser reutilizado em uma neurotransmissão subsequente. o Dentro do neurônio, os neurotransmissores são transportados novamente dentro de vesículas sinápticas para armazenamento, proteção o contra o metabolismo e uso imediato durante uma descarga de neurotransmissão futura. • Recaptação pré-sináptica e armazenamento vesicular → utilizam um transportador molecular que pertence a uma superfamília de proteínas de 12 regiões transmembranares → constituem um tipo de receptor que se liga ao neurotransmissor antes de transportá-lo por meio da membrana. • Subclassificação: o Transportador de membrana plasmática. ▪ Pré-sinápticos. 20 Gustavo Urzêda Vitória • Transportadores acoplados ao sódio/cloreto → família do gene SLC6 de carreadores de soluto. • Transportadores de monoaminas (serotonina, noradrenalina e dopamina), GABA e o aminoácido glicina. ▪ Membranas gliais. • Transportadores de glutamato de alta afinidade → família do gene SLC1 carreador de soluto. o Transportador de vesículas sinápticas intracelulares: ▪ Família do gene SLC18 → transportadores vesiculares de monoaminas (VMAT; serotonina, dopamina, noradrenalina e histamina) e o transportador de acetilcolina (VAChT). ▪ Família do gene SLC32 e seus transportadores vesiculares de aminoácidos inibitórios (VIAAT). ▪ Família do gene SLC17 e seus transportadores vesiculares de glutamato (vGluT1-3). 21 Gustavo Urzêda Vitória Transportadores de monoaminas (família do gene SLC6): • Recaptação para monoaminas utilizam transportadores pré-sinápticos únicos em cada neurônio monoaminérgico diferente, porém o mesmo transportador vesicular. o Transportadores pré-sinápticos: ▪ Serotonina: SERT. ▪ Noradrenalina: NAT. ▪ Dopamina: DAT. o Em seguida são transportadas em vesículas sinápticas de seus neurônios respectivos pelo mesmo transportador vesicular, conhecido como VMAT2 (transportador de monoaminas vesicular 2). • Apesar de SERT, NAT e DAT serem exclusivos nas suas sequências de aminoácidos e afinidades de ligação às monoaminas, cada um apresenta uma considerável afinidade por aminas diferentes daquela que corresponde a seu próprio neurônio → podem pegar carona se estiverem próximos. o NAT tem alta afinidade para o transporte de dopamina. o DAT apresenta grande afinidade para o transporte de anfetaminas. o SERT tem afinidade para o transporte de ecstasy. • Monoaminas não são transportadas passivamente no neurônio pré- sináptico devido a necessidade de energia para as concentrar em um neurônio pré-sináptico. o Energia fornecida por transportadores da família do gene SLC6: ▪ Acopla o transporte de sódio corrente abaixo (a favor de um gradiente de concentração), com o transporte de monoamina corrente acima (contra o gradiente). ▪ São cotransportadores dependentes de sódio. ▪ Maioria envolve cotransporte adicional de cloreto e alguns de contratransporte de potássio. ▪ Acoplamento do transporte com a atividade de uma bomba de Na-K-ATPase. ▪ Estrutura de um transportador de monoamina da família SLC6 com sítios de ligação para monoamina e 2 íons sódio → forma de dímeros ▪ Existem outros sítios de ligação nesse transportador para diversos fármacos, que ainda não estão bem definidos → como os ISRS que se ligam ao receptor e inibem a recaptação de serotonina, sendo que não se ligam ao sítio do substrato, são designados alostéricos. ▪ Na ausência de sódio, o transportador de monoaminas tem baixa afinidade pelo seu substrato de monoamina → não há ligação ao sódio e nem a monoamina. o Normalmente, após a liberação de um neurotransmissor por um neurônio pré-sináptico, os neurotransmissores têm apenas o 22 Gustavo Urzêda Vitória tempo para uma breve ação com seus receptores sinápticos → monoaminas voltam a subir em seus transportadores para retornar ao neurônio pré sináptico. ▪ Inibir a recaptação leve a aumentar ou restaurar a atividade sináptica. Outros transportadores de neurotransmissores (famílias SLC6 e SLC1): • Apenas 1 psicofármaco de uso clínico que se liga comprovadamente a qualquer um desses transportadores. • Não existem nenhum fármaco conhecido direcionado para o transportador pré-sinápticos de colina, precursor da acetilcolina. • Há vários transportadores para o neurotransmissor inibitório GABA: o GAT1-4. o GAT1 é transportador pré-sináptico essencial do GABA → seletivamente bloqueado pelo anticonvulsivante tiagabina, aumentando as concentrações sinápticas de GABA. o Esse aumento de GABA pode ter ações terapêuticas na ansiedade, nos transtornos do sono e na dor. • Diversos transportadores para 2 neurotransmissores de aminoácidos, glicina e glutamato. o Não há nenhum fármaco utilizado na prática clínica que seja capaz de bloquear os transportadores de glicina. • Todos os transportadores de glicina, colina e GABA são membros da família do gene SLC6, mesma família dos transportadores de monoaminas → estruturas semelhantes. • Transportadores do glutamato pertencem a família SLC1 e apresentam uma estrutura singular e funções ligeiramente diferentes. o Transportadores de aminoácidos excitatórios 1-5. o Captação de glutamato na glia constitui um sistema-chave para recaptação e reutilização após sua liberação. o Transporte na glia resulta em conversão do glutamato em glutamina, em seguida, a glutamina entra no neurônio pré-sináptico para ser reconvertida em glutamato. o Nenhum fármaco utilizado na prática clínica tem a capacidade de bloquear os transportadores de glutamato. o Não parece realizar o cotransporte de cloreto, mas sim o contratransporte de potássio. o Transportadores podem atuar juntos com trímeros, em vez de dímeros. Transportadores de histamina e de neuropeptídeos: • Aparentemente, nem todos os neurotransmissores são regulados por transportadores de recaptação. 23 Gustavo Urzêda Vitória • A histamina não tem um transportador pré-sináptico, embora seja transportada por vesículas sinápticas pelo VMAT2, o mesmo das monoaminas. o Inativação da histamina é totalmente enzimática.• O mesmo vale para os neuropeptídeos → não foram encontradas bombas de recaptação nem transportadores pré-sinápticos para eles. o Inativação ocorre, aparentemente, por difusão, sequestro e destruição enzimática. Transportadores vesiculares – subtipo e função: • Transportadores vesiculares de monoaminas (VMAT) são membros da família do gene SLC18. • Transportador vesicular da acetilcolina (membro da família do gene SLC18), VAChT. • Transportador vesicular de GABA, VIAAT, membro da família do gene SLC32. • Transportadores vesiculares de glutamato, vGluT1-3, membros da família do gene SLC17. • Transportador SV2A é um novo transportador vesicular sináptico de 12 regiões transmembranares, com mecanismo incerto e substratos ainda não definidos → estão dentro da membrana da vesícula sináptica e se ligam ao anticonvulsivante levetiracetam. • Transportadores vesiculares, o armazenamento dos neurotransmissores é facilitado por uma ATPase de prótons → utiliza energia para bombear continuamente prótons para fora da vesícula sináptica → os neurotransmissores podem ser concentrados contra um gradiente e substituir a carga positiva dentro da vesícula. Transportadores vesiculares – família do gene SLC18: • Transportadores vesiculares de acetilcolina, GABA e do glutamato não constituem alvos de qualquer fármaco. • VMAT, particularmente dos neurônios dopaminérgicos, constituem alvos de diversos fármacos, incluindo anfetamina e tetrabenazina e seus derivados. Receptores ligados a proteínas G: Estrutura e função: • Todos contam com uma estrutura de 7 regiões transmembranares, agrupam-se em torno de um núcleo central que contém um sítio de ligação para um neurotransmissor. • Os fármacos podem interagir com esse sítio de ligação de neurotransmissores ou em outros sítios alostéricos do receptor. 24 Gustavo Urzêda Vitória • Ampla gama de modificações nas ações do receptor devido a simulação ou bloqueio, parcial ou total, da função do neurotransmissor que normalmente ocorre nele → capazes de modificar eventos moleculares a jusante. • Ações dos fármacos nos receptores ligados às proteínas G podem determinar a expressão ou o silenciamento de um gene a jusante → proteínas que são sintetizadas e as funções neuronais que são amplificadas, desde a sinaptogênese, até a síntese de receptores e enzimas e a comunicação com neurônios a jusante inervados pelo neurônio que apresenta o receptor ligado à proteína G. Alvos de psicofármacos: • Eles formam uma grande superfamília de receptores que interagem com muitos neurotransmissores e com numerosos psicofármacos. • Neurotransmissor natural interage com todos os subtipos de seu receptor, porém muitos fármacos são mais seletivos do que o próprio neurotransmissor para determinados receptores → subtipo farmacológico de receptor com o qual interagem especificamente. • Ausência de agonista: o Ausência de agonista não significa necessariamente que nada esteja ocorrendo com a transdução de sinais nos receptores ligados às proteínas G. ▪ Agonistas produzam uma mudança de conformação nos receptores ligados às proteínas G que leva à ativação do receptor total → transdução completa dos sinais. o Na ausência de agonista, essa mesma mudança conformacional ainda pode ocorrer em alguns sistemas de receptores, porém em uma frequência muito baixa → atividade constitutiva. ▪ Quando algo ocorre em uma frequência muito baixa, porém entre um número elevado de receptores, ainda é possível produzir uma transdução de sinais detectável. • Agonista: o Produz uma mudança na conformação no receptor ligado às proteínas G, que ativa a síntese de um segundo mensageiro no mais elevado grau possível. 25 Gustavo Urzêda Vitória o Agonista total é representado pelo próprio neurotransmissor de ocorrência natural, embora alguns fármacos também possam atuar de maneira tão integral quanto eles. o Dentro da perspectiva da neurotransmissão química, que todo o conjunto de transdução de sinais a jusante é desencadeado por um agonista total → ocorre fosforilação máxima das proteínas a jusante e há impacto máximo dos genes. o Existem duas maneiras principais de estimular os receptores ligados às proteínas G com a ação de agonistas totais: ▪ Agonistas de ação direta: • Diversos fármacos se ligam diretamente ao sítio do neurotransmissor no próprio receptor ligado a proteína G → podem produzir a mesma gama completa de efeitos de transdução de sinais de um agonista total. ▪ Capazes de atuar indiretamente para elevar os níveis do neurotransmissor → liga-se ao sítio no receptor ligado a proteína G. • Quantidades aumentadas de agonista total ocorrem quando: o Os mecanismos de inativação dos neurotransmissores são bloqueados → inibição de: SERT, NAT, DAT, GAT1. o Bloqueio da destruição enzimática dos neurotransmissores → bloqueio da monoamino oxidase (MAO) e acetilcolinesterase. 26 Gustavo Urzêda Vitória 27 Gustavo Urzêda Vitória 28 Gustavo Urzêda Vitória • Antagonista: o As vezes é necessário bloquear a ação → antagonistas produzem uma mudança conformacional no receptor ligado às proteínas G que não causa nenhuma mudança na transdução de sinais ou na atividade constitutiva. o São neutros e silenciosos. o Alguns deles podem atuar como agonistas inversos. o Bloqueiam todas as ações no espectro agonista → bloqueia, mas não exerce nenhuma ação própria → simplesmente restaura o estado de conformação do receptor àquele existente na ausência de agonista. o Reverte um agonista inverso. 29 Gustavo Urzêda Vitória • Agonista parcial: o É possível produzir uma transdução de sinais que seja mais do que um antagonismo, porém menos do que um agonismo total → mudança conformacional no receptor ligado às proteínas G que é intermediária entre a causada por um agonista total e a conformação basal do receptor na ausência de agonista. o Ligeiro aumento do ganho produzido pelas ações do antagonista silencioso, mas não integralmente até um agonista total → grau de proximidade desse agonista parcial em relação a um agonista total ou a um antagonista no espectro determinará o impacto desse parcial sobre os eventos de transdução de sinais a jusante. o São denominados estabilizadores → têm a capacidade teórica de encontrar uma solução estável entre os extremos de ação demasiada do agonista total e a ausência de ação agonista. ▪ Cada agonista parcial tem seu próprio ponto de ajuste incorporado na molécula. ▪ Na ausência de um agonista total → atuará como agonista efetivo. ▪ Na presença de um agonista total → atuará como antagonista efetivo. • Agonistas inversos: o São mais do que simples antagonistas, não são neutros e nem silenciosos → exercem uma ação de supostamente produzir uma mudança na conformação do receptor ligado às proteínas G, estabilizando-o em uma forma totalmente inativa. 30 Gustavo Urzêda Vitória o Interrompe até mesmo a atividade constitutiva do sistema de receptores ligados às proteínas G. o Do ponto de vista clínico, ainda não foi esclarecido quais são as diferenças relevantes entre agonista inverso e antagonista. Enzimas: • As enzimas estão envolvidas em múltiplos aspectos da neurotransmissão química → toda enzima é um alvo teórico de uma substância que atue como inibidor enzimático. • Apenas uma minoria dos fármacos atualmente conhecidos e utilizados são inibidores enzimáticos. • Atividade consiste na conversão de uma molécula em outra → substrato em produto. o Substratos de cada enzima são únicos e seletivos, assim como os produtos. • Inibidores enzimáticos também são únicos e seletivos para determinada enzima → incapaz de se ligar ao substrato e formar o produto. • Tipos de ligação: o Essa ligação pode ser covalente e irreversível (inibidor suicida) → funçãosó restaurada quando novas moléculas enzimáticas são sintetizadas. o Podem ser reversíveis → o substrato da enzima tem a capacidade de competir com o inibidor reversível por meio de sua ligação à enzima → um deles, substrato ou inibidor, devem vencer e predominar, a depender da maior afinidade pela enzima e/ou maiores concentrações. • Várias enzimas estão envolvidas na síntese e na destruição de neurotransmissores, bem como na transdução de sinais → como a MAO, a acetilcolinesterase e a glicogênio sintase quinase (GSK). o GSK → o agente antimaníaco lítio pode ter como alvo essa enzima na via de transdução de sinais de fatores neurotróficos → ação neuroprotetora, antiapoptótica e promove a plasticidade a longo prazo. ▪ Valproato e ECT parecem ter ações sobre a GSK. Enzimas do citocromo P450 envolvidas no metabolismo de substâncias como alvos: • As ações farmacocinéticas são mediadas por meio do sistema de metabolização de substâncias pelo fígado e pelo intestino → sistema enzimático do citocromo P450 (CYP450). • Muitos psicofármacos também são direcionados para as enzimas do CYP450 → metabolismo de substâncias como substrato, inibidor e/ou indutor. • Existem mais de 30 enzimas conhecidas do CYP450, mas nem todos os indivíduos apresentam as mesmas formas genéticas dessas enzimas e 31 Gustavo Urzêda Vitória atualmente é possível determinar prontamente os tipos de enzimas de qualquer indivíduo por meio do teste farmacogenético. o Genotipagem para auxílio terapêutico: ▪ Metabolizadores extensivos: taxas normais de metabolismo de fármacos. ▪ Metabolizadores intermediários ou pobres: variantes genéticas dos extensivos, apresentando redução da atividade enzimática, o que pode resultar em aumento do risco de níveis elevados de fármacos, interações medicamentosas e quantidades reduzidas de metabólitos ativos. ▪ Metabolizadores ultrarrápidos: atividade enzimática elevada, níveis subterapêuticos dos fármacos e baixa eficácia com doses padrões.
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