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45 Gustavo Urzêda Vitória R1 DE PSIQUIATRIA - Transtorno afetivo bipolar: Fonte: CANMAT, 2018. Conceito: • Transtorno afetivo bipolar (TAB) é uma doença crônica com episódios de humor recorrentes, sendo que a maioria dos pacientes necessitará de tratamento de manutenção. Epidemiologia: Prevalência: • É uma doença mental comum e incapacitante, com significativa morbidade e mortalidade. • Iniciativa Mundial de Pesquisa de Saúde Mental relatou estimativas de prevalência total ao longo da vida de 2,4% e em 12 meses de 1,5% → tipo I, tipo II e/ou outros subtipos. Idade de início: • Frequentemente se manifesta no final da adolescência e início da idade adulta → média de 25 anos. 46 Gustavo Urzêda Vitória • Aqueles pacientes com idade de início mais precoce tendem a ter um atraso maior no tratamento, maior gravidade dos sintomas depressivos e níveis mais elevados de ansiedade comórbida, além de maior chance de estar associado ao uso de substâncias psicoativas. • Embora episódios maníacos possam ocorrer pela primeira vez após os 50 anos, a possibilidade de mania orgânica deve ser considerada e investigada. Carga da doença: • Os pacientes apresentam comprometimento substancial, sendo sintomática de forma sindrômica ou subsindrômica, particularmente da depressão, durante aproximadamente metade de suas vidas. • Muitas vezes são incapazes de manter a função adequada no trabalho, qualidade de vida reduzida (físico, sono, humor, cognição, lazer, social, espiritual, financeiro, familiar, autoestima, autonomia). • 16º principal causa de anos de vida perdidos por morte prematura ou incapacidade em todo o mundo. • 6º principal causa de incapacidade em pessoas de 10-24 anos em nível mundial. • Custo mundial médio por paciente de 1.904-33.090 dólares. Diagnóstico: Critérios diagnósticos do DSM-5: • Espectro de subgrupos divididos de acordo com a gravidade da elevação do humor experimentada durante os episódios agudos. o Tipo I é colocado em um polo devido à presença de episódios maníacos → autoestima inflada, diminuição da necessidade de sono, pressão por fala, pensamentos acelerados, distração, agitação psicomotora e comportamento de risco que leva a comprometimento funcional significativo e pode ter ou não características psicóticas. ▪ Pode ou não necessitar de hospitalização. o Hipomania → qualitativamente semelhante a mania, mas não tem duração ou gravidade suficiente para causar prejuízo funcional significativo, hospitalização ou psicose. o Ciclotimia é o outro extremo → apresentação de sintomas hipomaníacos e depressivos crônicos, mas sem preencher os critérios de TDM ou de mania/hipomania. • DSM-5 substituiu a categoria de TAB sem outras especificações no DSM- 4 por novas categorias: o Outro transtorno bipolar especificado e relacionados. o Transtorno bipolar não especificado e relacionados. o Transtorno bipolar induzido por substâncias ou medicamentos e relacionados. 47 Gustavo Urzêda Vitória o Transtorno bipolar devido a outras condições médicas e relacionados. Estadiamento: • Curso do TAB é heterogêneo, mas, em média, o risco de recorrência aumento com o número de episódios anteriores → associado ao aumento da duração e gravidade sintomática dos episódios subsequentes, além de diminuir o limiar para novos quadros e aumentar o risco de demência a longo prazo. • Episódios múltiplos são chamados de progressão clínica e a base biológica dessa progressão é a neuroprogressão. o 3 estágios clínicos: ▪ Indivíduos com risco aumento de desenvolver TAB devido ao histórico familiar + sintomas subsindrômicos preditivos de conversar em TAB completo. ▪ Pacientes com menos episódios e ótimo funcionamento nos períodos entre os episódios. ▪ Pacientes com recorrência e declínio cognitivo. Triagem e diagnóstico: • Início depressivo frequente → investigar sempre sintomas sugestivos de mania ou hipomania, instabilidade temporal dos sintomas e altas taxas de comorbidades. • Muitos indivíduos recebem diagnóstico tardio, o que cursa com tratamentos iniciais inadequados e pior prognóstico em termos de recorrência e prejuízo funcional. • Características da depressão que podem indicar TAB: o Idade mais precoce da doença. o Episódios depressivos altamente recorrentes. o História familiar de TAB. o Depressão com características psicóticas. 48 Gustavo Urzêda Vitória o Agitação psicomotora. o Sintomas depressivos atípicos, como hiperfagia. o Passado de tentativas de suicídio. o Sintomas maníacos induzidos por antidepressivos ou ciclagem rápida. • Explorar quanto a possibilidade de sintomas de depressão com sintomas hipomaníacos simultâneos (especificador misto). • Geralmente TDM e esquizofrenia são os diagnósticos mais equivocados para TAB. Porém pode haver um sobrediagnóstico em pacientes com personalidade borderline, transtorno por uso de substâncias e TDAH. • Questionário MDQ é um exemplo de instrumento que pode ser utilizado, porém tem baixa acurácia. • Sempre importante colher informações com pessoas próximas e monitorar os sintomas. 49 Gustavo Urzêda Vitória Comorbidades: • Baixo controle de impulso. • Transtornos de ansiedade. • Transtornos de personalidade (especialmente cluster B). Risco de suicídio: • Monitorar frequentemente a ideação suicida e o risco. • Suicídio é uma das principais causas de morte no TAB → 6-7%. o Substancialmente maior que a população em geral. o A letalidade das tentativas também é maior. o Homens tem maior risco de morte por suicídio. • Fatores relacionados a tentativa de suicídio: o Sexo feminino. o Idade mais jovem de início da doença. o Polaridade depressiva no primeiro episódio. o Polaridade depressiva atual ou mais recente. o Transtornos comórbidos → ansiedade, uso de substâncias, personalidade. o História familiar de suicídio. o Tentativas anteriores de suicídio. • Fatores relacionados a morte por suicídio: o Sexo masculino. o História familiar de suicídio. • Durante e após internações hospitalares são períodos de riscos mais elevados. • Lítio e, em menor grau, os anticonvulsivantes, podem contribuir para prevenir as tentativas e mortes por suicídios. • Método mais comum nessa população é o envenenamento → considerar riscos de toxicidade e letalidade dos tratamentos. 50 Gustavo Urzêda Vitória 51 Gustavo Urzêda Vitória Gestão da doença crônica: • Devido à natureza crônica, redicivante e remitente do TAB → tratamento a longo prazo e abordagem multidisciplinar. • Todos os pacientes devem ter acesso a um prestador de cuidados primários para o atendimento necessário de saúde mental e física. • Adesão terapêutica é melhorada com criação de um vínculo forte → decisão compartilhada para preservar autonomia. • Sempre que possível, incluir pessoas próximas no projeto terapêutico. • Monitoramento regular e contínuo dos sintomas de humor e de demais apresentados ou prejuízos, como cognição. • App SIMPLE e diário de humor podem ajudar a perceber gatilhos e pródromos de novos episódios. Intervenções psicoeducacionais: • Intervenções psicossociais adjuvantes também podem ser úteis para episódios depressivos agudos, bem como no tratamento de manutenção para prevenir recaídas e restaurar a qualidade de vida do indivíduo e da família. • Não há recomendações para intervenções psicossociais específicas em mania aguda. Psicoeducação: • Fornecimento de informações sobre a natureza da doença, seus tratamentos e estratégias para enfrentamento para o paciente e sua família. • Ensinar o desenvolvimento de habilidades de detecção e gerenciamento de pródromos de depressão e mania, manejo de estresse, resolução de problemas, reforçar adesão, combater estigmas, estimular estilo de vida mais saudável. • Pode ser individual ou em grupo. •Exemplos de programas estruturados: o Programa Barcelona BDs → 21 sessões em 6 meses. o Programa Life Goals. Terapia cognitivo-comportamental (TCC): • Geralmente na estrutura de 20 sessões ao longo de 6 meses. • Evidências de eficácia para TDM e psicose, mas os resultados para TAB foram mistos. • Difícil definir se os benefícios vieram de mudanças de medicamentos ou da psicologia. • Efeitos sobre os sintomas depressivos ou na recaída permanecem incertos. 52 Gustavo Urzêda Vitória • Recomendado como tratamento adjuvante de segunda linha para depressão bipolar aguda. • Segunda linha para tratamento de manutenção em pacientes com menos episódios e formas menos graves da doença. • Não existe evidência e recomendação para TCC na mania. Terapia focada na família (TFF): • Resultados do tratamento de TAB podem ser melhorados com o apoio e a cooperação da família ou de pessoas próximas. • Estrutura de 21 sessões em 9 meses. • Pode ter atividade antidepressiva específica → sugerido pela redução da recaída da depressão em estudos de manutenção. • Não possui eficácia comprovada na mania. Terapia de ritmo interpessoal e social (TRIS): • Amplia o foco no luto, na transição de papéis interpessoais, na disputa por papéis e nos déficits interpessoais, incluindo a regulação dos ritmos sociais e de sono. • 24 sessões em 9 meses. • Recomendado para tratamento adjuvante de terceira linha para depressão aguda e para manutenção. • Nenhuma evidência ou recomendação para mania. Intervenções de pares: • Grupos de pares ou apoio individual, são uma estratégia importante que se acredita reduzir o autoestigma e o isolamento do TAB e ajuda a melhorar o envolvimento com o tratamento. • Pode haver riscos → pares que realizam a intervenção não estivem adequadamente treinados ou promoverem um ponto de vista que não apoia adesão ou promove o uso de substâncias. • Terceira linha como adjuvante. Remediação cognitiva e funcional: • Comprometimento funcional, bem como déficits cognitivos são encontrados em muitos indivíduos com TAB, não apenas durante um episódio agudo, mas mesmo antes entre os episódios, levando à avaliação de vários aspectos psicossociais e estratégias biológicas para resolver esse problema. • Parece ter mais benefícios na cognição do que na funcionalidade. Estratégias online e digitais: • Demonstraram boa adesão pela facilidade de acesso e uso. 53 Gustavo Urzêda Vitória • Relativamente limitado em evidência. Gestão da mania bipolar: Apresentação da mania: • DSM-5: o Critério A: período distinto de alterações de humor e persistência de hipertimia, expansibilidade ou humor irritável ou aumento anormal e persistente da atividade ou energia na maior parte do dia, por quase todos os dias por pelo menos 1 semana (menos tempo se necessidade de hospitalização). o Mais pelo menos 3 (ou 4 se o humor for apenas irritável) critérios: ▪ Autoestima inflada ou grandiosa. ▪ Diminuição da necessidade de dormir. ▪ Aumento da necessidade de falar ou pressão por fala. ▪ Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão rápidos. ▪ Aumento da atividade direcionada a objetivos ou agitação psicomotora. ▪ Envolvimento excessivo em atividades com alto potencial de gerar consequências danosas. ▪ Pode haver necessidade de hospitalização, comprometer a funcionalidade ou ser acompanhado de psicose. o Especificadores: ▪ Ansiedade. ▪ Ciclagem rápida. ▪ Congruente com o humor. ▪ Incongruente com o humor. ▪ Com características psicóticas. ▪ Catatonia. ▪ Início periparto. ▪ Padrão sazonal. Gestão da agitação: • Particularmente frequente em pacientes com características mistas. • Atividade motora excessiva associada a uma sensação de tensão interna. • Vai de um caso leve, como andar de um lado para o outro, até quadros mais agressivos e graves. • Acatisia pode se apresentar como agitação e, portanto, esta deve ser excluída antes da implementação dos princípios gerais de manejo da mania aguda. • Apenas da administração de antimaníacos, pode ser necessário uma abordagem farmacológica adicional de ação rápida. Tratamento farmacológico de episódios maníacos: 54 Gustavo Urzêda Vitória • Lítio, divalproato, antipsicóticos são os agentes mais usados. • Não existe a recomendação de testar todos os agentes em monoterapia antes de combinar fármacos para controlar o quadro de mania. • Avaliar eficácia e tolerabilidade após 7 dias de tratamento. • Passo 1: o Exame de um paciente que se apresenta em estado maníaco deve incluir uma avaliação imediata do risco de comportamento hetero e autoagressivo, risco de suicídio, grau de percepção e capacidade de adesão ao tratamento, comorbidades e presença de rede de apoio social. o Imperativo descartar sintomas secundários ao uso de drogas, medicamentos ou outros transtornos/condições neurológicas. o Qualquer paciente que apresente mania e esteja tomando antidepressivos → descontinuar. o Primeiro surgimento de mania → médicos são aconselhados a confirmar o diagnóstico de TAB e monitorar o paciente por um período de tempo para avaliar persistência dos sintomas. o Aconselhar a interromper o uso de estimulantes, como café, além do álcool. • Passo 2: o Recomenda-se para todos os pacientes iniciar o tratamento com monoterapia de primeira linha disponível ou com combinações. o Monoterapia de primeira linha: ▪ 50% dos pacientes responderam à monoterapia com melhora significativa dos sintomas maníacos entre 3-4 semanas. ▪ Lítio, quetiapina, divalproato, asenapina, ariprapazol, paliperidona (> 6mg), risperidona e cariprazina → devem ser tentados nessa ordem hierárquica. 55 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Carbamazepina, olanzapina, ziprasidona e haloperidol são rebeixados para segunda linha pelos riscos de segurança/tolerabilidade, mas possui eficácia nível 1. o Terapia combinada de primeira linha: ▪ Antipsicóticos atípicos como quetiapina, aripripazol, risperidona ou asenapina e lítio ou divalproato também são recomendados como primeira linha → principalmente naqueles com maior índice de gravidade. ▪ Está associada a mais efeitos adversos. ▪ Se sintomas não forem controlados com monoterapia ou combinação com agentes de primeira linha → otimizar doses, identificar falha na adesão, considerar possível uso de substâncias psicoativas → só depois pensar em mudar esquema. ▪ Espera alguma resposta terapêutica em 1-2 semanas → nenhuma em 2 semanas com doses terapêuticas e sem fatores que poderiam atrapalhar → alterar esquema. • Passo 3: o Se a terapia com um ou mais agentes de primeira linha em doses ideais for inapropriada → agentes de segunda linha. • Passo 4: o Segunda linha: ▪ Monoterapia com olanzapina, carbamazepina, ziprasidona e haloperidol ou terapia combinada com olanzapina + lítio ou divalproato. ▪ Combinação de lítio + divalproato → evidências de eficácias limitadas. ▪ ECT → pulsoterapia breve com 2-3 sessões por semana, sendo que o eletrodo bifrontal é preferível ao eletrodo mordente. ▪ Olanzapina é a primeira escolha desse grupo. • Passo 5: o Monoterapia com clorpromazina, monoterapia com clonazepam, monoterapia ou terapia adjuvante com clozapina ou tamoxifeno associado a lítio ou valproato. o Estimulação magnética transcraniana no córtex pré-frontal direito. o Só devem ser usados em pacientes que não responderam aos agentes de primeira e de segunda linha isoladamente e em combinação. • Agentes não recomendados: o Alopurinol, eslicarbazepina/licarbazepina, gabapentina, lamotrigina, ômega-3, topiramato, valnoctamida, zonisamida. • Características clínicas que ajudam a direcional as escolhas de tratamento: o Lítio é preferido em relação ao divalproato em indivíduos que apresentam mania grandiosa, eufórica, clássica, com poucos 56 Gustavo UrzêdaVitória episódios anteriores de doença, um curso de mania-depressão- eutimia e/ou aqueles com histórico familiar de TAB, especialmente com histórico familiar de resposta ao lítio o Divalproato é igualmente eficaz para pacientes com mania clássica, além de ser recomendado para aqueles pacientes com múltiplos episódios, humor irritável ou disfórico predominante, abuso de substâncias ou história de TCE. ▪ Potencial teratogênico → cuidado com mulheres em idade fértil. o Carbamazepina → TCE, abuso de drogas, esquizoafetivos com delírios incongruentes com o humor ou história negativa de doença bipolar em parentes de primeiro grau. o Angústia ansiosa: ▪ Frequentemente a ansiedade ocorre conjuntamente com a mania e é um preditor de resultados ruins → maior gravidade dos sintomas maníacos, tempo mais longo para remissão, mais efeitos colaterais relatados da medicação. ▪ Não existem recomendações específicas, mas divalproato, quetiapina e olanzapina parecem ter mais benefício. o Recursos mistos: ▪ Os sintomas depressivos ocorrem juntamente com a mania em 10-30% dos casos → indicativos de curso mais grave e incapacitante, além de maior taxa de suicídio. ▪ Uso preferencial de antipsicóticos atípicos (asanapina, aripiprazol, olanzapina, ziprasidona), divalproato e podendo ser necessário a terapia combinada. o Características psicóticas (humor congruente ou incrongruente: ▪ Metade dos episódios maníacos são caracterizados pela presença de psicose. ▪ Humor incongruente tem doença mais grave e com pior prognóstico a longo prazo. ▪ Não há evidência de superioridade de qualquer monoterapia de primeira linha → porém, antipsicóticos atípicos costumam ser mais eficazes, sendo que nos incongruentes pode ser associado a lítio ou valproato. o Ciclagem rápida: ▪ 4 ou mais episódios de humor em um ano. ▪ Investigar hipotireoidismo, uso de antidepressivos e abuso de substâncias. ▪ Não há evidências de superioridade entre os fármacos de primeira linha. o Padrão sazonal: ▪ Dados são confusos sobre os episódios de mania ou depressão bipolar seguem uma variação sazonal consistente. ▪ Não há evidências de superioridade de qualquer agente. 57 Gustavo Urzêda Vitória 58 Gustavo Urzêda Vitória Gestão da depressão bipolar: Apresentação da depressão bipolar: • Mínimo de 2 semanas de humor deprimido e/ou anedonia e pelo menos 4 outros sintomas: o Alteração do sono. o Alteração do apetite/peso. o Alteração da energia. o Alteração da atividade psicomotora. o Alteração da concentração. o Alteração do conteúdo de pensamento (culpa, inutilidade). • Muitas vezes mais debilitante que os estados maníacos. • Especificadores: o Angústia ansiosa. o Características mistas. o Ciclagem rápida. o Melancólica. o Características atípicas. o Características psicóticas congruentes ou incongruentes com o humor. o Início periparto. o Padrão sazonal. Desafios do diagnóstico e tratamento: • Diagnóstico tardio ou incorreto: o São frequentemente diagnosticados erroneamente como TDM, já que a presença de mania ou hipomania de leve a moderada intensidade não são relatados geralmente. o Perguntar rotineiramente sobre sintomas de episódio maníaco/hipomaníaco prévio paciente apresentando um episódio depressivo maior. o Características que aumentam a probabilidade de ser TAB: ▪ Idade mais precoce de início da doença (< 25 anos). ▪ Episódios depressivos breves e altamente recorrentes. ▪ História familiar de TAB. ▪ Depressão com características psicóticas. ▪ Depressão atípica com sintomas vegetativos reversos, como agitação psicomotora e hiperfagia. ▪ Irritabilidade induzida por antidepressivos. ▪ Sintomas maníacos ou ciclagem rápida. • Risco de suicídio: o > 70% das mortes e tentativas de suicídio em pacientes com TAB ocorrem nessa fase, principalmente se tiverem características mistas. 59 Gustavo Urzêda Vitória o Todos os pacientes em risco devem ser encorajados a desenvolver e partilhar um plano de segurança escrito listando estratégias e fontes de enfrentamento de apoio que podem ser aplicadas. o Método mais comum é o envenenamento. • Comprometimento cognitivo e funcional: o Acredita-se que o comprometimento funcional seja mediado pelo desempenho cognitivo → tanto subjetiva quanto objetivamente prejudicados. o Evitar tratamentos que possam exacerbar essas dificuldades cognitivas. • Intervenções psicológicas: o Não há opções de tratamento psicossociais de primeira linha para depressão bipolar aguda. o Segunda linha: TFF e TCC. o Terceira linha: TRIS. • Tratamento farmacológico: o Passo 1: ▪ Avaliação da natureza e gravidade da depressão e sintomas associados, risco de suicídio/comportamento de automutilação, capacidade de adesão a um plano de tratamento, disponibilidade de apoio psicossocial. ▪ Investigação laboratorial. ▪ Investigar outras causas e interromper o uso de substâncias psicoativas. ▪ Psicoeducação e outras estratégias devem ser oferecidas junto com a medicação. o Passo 2: ▪ Iniciada com um ou mais agentes de primeira linha disponíveis. ▪ Primeira linha: • Queitapina, lítio, lamotrigina, lurasidona. • Lurasidona e lamotrigina podem ser usados como adjuvantes de primeira linha. • Dose alvo de quetiapina de 300mg/dia. • Litemia alvo de 0,8-1,2. • Lamotrigina de no mínimo 200mg/dia. o Passo 3: ▪ Melhora precoce de até 2 semana é um bom preditor, enquanto a não melhora é um preditor mais robusto de falha. • Lamotrigina é a exceção devido a necessidade de evoluir dose paulatinamente. ▪ Se precisar trocar o agente, outro de primeira linha deve ser tentado. 60 Gustavo Urzêda Vitória • Um medicamento, como o lítio, pode continuar sendo usado para prevenção de mania, porém pode ser necessário adicionar outro para cobrir a depressão. ▪ Todas as opções de primeira linha devem ser tentadas por tempo e doses adequadas antes de considerar o uso de segunda linha. o Passo 4: ▪ Monoterapia com divalproato, terapia adjuvante com ISRS ou bupropiona + lítio ou valproato ou um antipsicótico atípico. • Olanzapina + fluoxetina é eficaz. ▪ Psicoeducação do paciente e dos familiares. ▪ NÂO usar monoterapia com antidepressivos. ▪ ECT → paciente refratários ou aqueles que há uma necessidade de resposta rápida ou doença grave com risco de suicídio, catatonia ou depressão psicótica. o Passo 5: ▪ Não respondem a múltiplos agentes de primeira e segunda linhas → terceira linha: • Monoterapia com carbamazepina ou olanzapina. • Adjuvantes: aripiprazol, asenapina, levotiroxina, pramipexol. • EMTr direcionada ao córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo ou direito. • Inibidores da recaptação de serotonina- noradrenalina e IMAO. • EPA, N-acetilcisteína e terapia de luz (benefícios adicionais com terapia de privação total do sono). • Cetamina EV → sintomas graves ou ideação suicida significativa. o Agentes não recomendados: ▪ Antidepressivos em monoterapia, monoterapia com aripiprazol, lamotrigina + ácido fólico, ziprasidona em monoterapia ou combinada. • Características clínicas que ajudam a direcionar a escolha da terapia: o Necessidade de resposta rápida: ▪ Quetiapina e lurasidona → já em 1 semana. ▪ ECT. ▪ Cariprazina e olanzapina + fluoxetina também separam do placebo em 1 semana. o Angústia ansiosa: ▪ Sintomas de ansiedade são frequentemente experimentados durante um episódio depressivo e são preditivos de sintomas mais persistentes e aumento da ideação suicida. 61 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Quetiapina é mais eficaz, assim como lurasidona e olanzapina + fluoxetina. o Recursos mistos: ▪ Muitos pacientes com depressão bipolar também experimentam pelo menos características hipomaníacas ou maníacas subsindrômicas → associados a sintomas depressivos mais graves. ▪ Uso de antipsicóticosatípicos (asenapina e lurasidona), além de olazanpina + fluoxetina. o Características melancólicas: ▪ Nenhum estudo avalia a capacidade preditiva de sintomas melancólicos. ▪ ECT é bem eficaz segundo experiências clínicas. o Atípicos: ▪ Tranilcipromina → depressão anérgica. Sob o risco de potencial maníaco, associar a lítio ou valproato ou antipsicótico atípico. o Características psicóticas (humor congruente ou incongruente): ▪ ECT e antipsicóticos. o Ciclagem rápida: ▪ Investigar hipotireoidismo, uso de antidepressivos e abuso de substâncias. ▪ Lítio, valproato, olanzapina e quetiapina. o Padrão sazonal: ▪ Dados são confusos sobre esse padrão. 62 Gustavo Urzêda Vitória 63 Gustavo Urzêda Vitória Terapia de manutenção: Necessidade de estratégias de longo prazo: • Quase todos os indivíduos com TAB necessitam de manutenção para reduzir sintomas residuais e restaurar funcionalidade e qualidade de vida. • Pode ser uma doença neuroprogressiva em que as recorrências estão associadas a reduções nas substâncias branca e cinzenta cerebral, agravamento do déficit cognitivo, diminuição da recuperação e funcionamento entre os episódios, redução da resposta ao tratamento. • Após um primeiro episódio, o lítio pode ser superior a quetiapina nos resultados volumétricos e cognitivos. • Fatores de risco para recorrência: o Idade mais jovem de início. o Características psicóticas. o Ciclagem rápida. o Episódios anteriores e mais frequentes. o Ansiedade comórbida. o Uso de substâncias. o Sintomas subliminares persistentes. Adesão ao tratamento: • Concordância entre médico e paciente sobre o tratamento → abordagem colaborativa para aliança de tratamento. • Riscos de sobredoses, trocas de medicação, hospitalizações, suicídio e perda de funcionalidade. Intervenções psicossociais para terapia de manutenção: • Embora a farmacoterapia seja a base do tratamento, muitas vezes não é suficiente para prevenir recorrências → entra a psicoterapia adjuvante. • Psicoeducação é a única de primeira linha. • Segunda linha: TCC, TFF, TRIS e suporte de pares. Tratamento farmacológico: • Passo 1: o Muitos agentes recomendados para tratamento de mania ou depressão têm eficácia profilática. ▪ Com exceção dos antidepressivos adjuvantes, os outros tratamentos que fizeram efeito na fase aguda, podem ser continuados na fase de manutenção. o Monitoramento contínuo e dosagens séricas. • Passo 2: o Escolha do agente ou agentes utilizados no tratamento de manutenção deve ser discuta com o paciente e seus familiares. 64 Gustavo Urzêda Vitória o Pode ser necessário diminuir a dose dos medicamentos usados na fase aguda. o Há evidencias de redução do risco de recorrência quando antipsicóticos são associados a lítio ou valproato por pelo menos 6 meses, além desse período, os efeitos dos antipsicóticos são incertos. o Primeira linha: ▪ Quetiapina, valproato, lamotrigina. ▪ Aripiprazol oral ou injetável 1x/mês, mas ainda sem comprovação de prevenção de depressão. ▪ Combinações: • Quetiapina + lítio ou valproato. • Aripiprazol + lítio ou valproato. • Passo 3: o Se a terapia com 1 ou a combinação de agentes de primeira linha em doses ideais for inadequada ou não tolerada → mudar ou adicionar um agente de primeira linha alternativo. o Se não der certo → segunda linha. • Passo 4: o Olanzapina previne depressão e mania → segunda linha por conta do seu perfil de segurança e tolerabilidade. o Monoterapia quinzenal com risperidona de ação prolongada ou terapia adjuvante → para mania e depressão. o Carbamazepina, paliperidona, ziprasidona, terapia adjuvante com lurasidona (aos que responderam bem durante a depressão aguda a essa medicação). • Passo 5: o Tendência de superioridade do aripiprazol adjuvante com lamotrigina em comparação ao uso de lamotrigina em monoterapia. o Clozapina, gabapentina podem ser úteis como adjuvantes. o Olanzapina + fluoxetina por 6 meses para aqueles que responderam bem a essa combinação durante evento agudo. • Agentes não recomendados: o Antidepressivos tricíclicos monoterapia ou adjuvantes. o Perfenazina. • Características clínicas que direcionam as escolhas: o Maioria requer combinação de fármacos. o Lítio é o padrão-ouro para manutenção e parece ter efeitos antissuicidas. • TAB refratário ao tratamento: o Não adesão (psicoeducação, injetáveis), falha na otimização, comorbidades. o Clozapina adjuvante para redução dos sintomas e no uso total de medicamentos em pacientes resistentes. 65 Gustavo Urzêda Vitória 66 Gustavo Urzêda Vitória Transtorno bipolar do tipo II: Apresentação: • Diagnóstico requer um ou mais episódios de hipomania, um ou mais episódios de depressão e ausência de episódios maníacos. • Critérios de hipomania do DSM-5 são semelhantes aos da mania, com sintomas com duração mínima de 4 dias consecutivos, não ser grave o suficiente para exigir hospitalização e deve haver ausência de psicose. • Mesmo sendo menos grave, a incapacidade e as taxas de suicídio são semelhantes entre TAB tipo I e tipo II. Tratamento: • Considerações: o Pouco estudado devido a impressão de longa data de ser uma forma mais leve de TAB. • Manejo agudo da hipomania: o Para alguns pacientes, a hipomania causa nenhuma ou mínima improdutividade e pode até estar associado a breves períodos de funcionamento normal, porém em um quadro prolongado, relativamente mais grave, misto ou irritável, os danos podem ser maiores. o Infelizmente muitos medicamentos padrão para mania, como lítio e antipsicóticos atípicos, não foram bem estudados em hipomania. o Antimaníacos também são eficazes na hipomania, com lítio, valproato e antipsicóticos atípicos. • Manejo aguda da depressão bipolar tipo II: o Primeira linha: ▪ Quetiapina é a única. ▪ Sugerem eficácia também como adjuvante. o Segunda linha: ▪ Lítio, sertralina e venlafaxina, lamotrigina. ▪ ECT para refratários ou que necessitam de resposta rápida. o Terceira linha: ▪ Monoterapia com valproato, fluoxetina, tranilcipromina, ziprasidona (exclusivamente para pacientes com depressão e hipomania mista). ▪ Podem ser considerados: EPA, levotiroxina, pramipexol, bupropiona. ▪ Cetamina EV → necessitam de resposta rápida. • Não recomendado: o Paroxetina. • Manutenção: o Prevenir recaídas, reduzir sintomas residuais e melhorar a qualidade de vida. o Pode ser guiado pelo tratamento da fase aguda. 67 Gustavo Urzêda Vitória o Primeira linha: monoterapia com quetiapina, lítio e lamotrigina. o Segunda linha: monoterapia com fluoxetina ou venlafaxina. o Terceira linha: valproato, carbamazepina, escitalopram, outros antidepressivos e risperidona (principalmente na prevenção de hipomania). o Não existem recomendações para olanzapina. Populações específicas: Mulheres: • Pré-concepção, psicoeducação e aconselhamento contraceptivo: o Aconselhamento pré-concepção para mulheres em idade fértil pelo menos 3 meses antes de considerar a gravidez, e imediatamente para as grávidas. o Efeitos dos medicamentos sobre o feto, medo da recorrência da doença e transmissão genética são as principais dúvidas. o Mulheres com TAB geralmente ganham mais peso e tem mais tendência para usar álcool e tabaco. o Antipsicóticos podem aumentar a prolactina e diminuir as chances de engravidar. o Ir diminuindo as medicações gradualmente antes da concepção, que deverá ser após 4-5 meses de estabilidade clínica. o Interromper a medicação é uma decisão individualizada e se houver necessidade de manter, deverá ser em monoterapia e na menor dose eficaz. o Anticonvulsivantes podem diminuir a eficácia do ACO. o Valproato é teratogênico e deve ser evitado em mulheres em idade fértil. o Psicoeducação sobre gatilhos e pródromos, além de elaborar um cronograma de acompanhamento.o Sempre que apropriado envolva os companheiros no processo. • Triagem de TAB durante a gravidez e pós-parto: o Todas as mulheres com sintomas depressivos devem ser rastreadas para TAB na gravidez e no pós-parto. o Questionário de Transtorno do Humor e Escala de Depressão Pós- Natal de Edimburgo são úteis. • Manejo farmacológico durante a gravidez: o Incentivar a ligação entre as equipes de saúde mental e obstétricas/ginecológicas. o Para quase metade dos pacientes, a recorrência ocorreria no primeiro trimestre, com o tempo médio de recorrência para aquelas que interromperam o tratamento de 2 semanas, e 22 semanas para aqueles que tiveram o tratamento gradualmente diminuído. o A hierarquia de medicação deve ser seguida, sempre respeitando as recomendações da FDA. o Dar preferência as psicoterapias. 68 Gustavo Urzêda Vitória o Em uso de medicação → devem fazer acompanhamento do feto com exame. • Manejo farmacológico no pós-parto: o Elevado risco de recorrência dos quadros. o Escassez de estudos que investiguem a eficácia de medicamentos nesse período. o Benzodiazepínicos, antipsicóticos, lítio para mania pós-parto. o Quetiapina para depressão. o Médicos são encorajados a iniciar ou otimizar a manutenção terapêutica o mais rápido possível após o parto, com preferência a medicamentos que demonstraram sucesso anteriormente. o Monitoramento rigoroso nesse período. o Levar em conta também a segurança do uso durante a amamentação. ▪ Quetiapina e olanzapina. o Privação de sono pode ser um gatilho. o Psicose e mania podem tornar o ato de amamentar um risco. o Como pode ser um gatilho para o aparecimento do primeiro episódio de mania ou hipomania, uso de antidepressivos deve ser feito com cautela. • Impacto do ciclo menstrual nos sintomas: o Alterações hormonais podem impactar o curso da doença. 69 Gustavo Urzêda Vitória o Mulheres que apresentam sintomas ou exacerbação no período pré-mentrual tem maior probabilidade de ter uma doença altamente sintomática e propensa a recorrências. • Menopausa: o Estresse e alterações hormonais podem aumentar ou desencadear sintomas. o Taxas aumentadas de episódios depressivos, mas não maníacos. Crianças e adolescentes: • Apresentação e diagnóstico: o 1/3-2/3 dos pacientes com TAB tiveram o primeiro episódio de humor durante a infância ou adolescência. o Baixas taxas de tratamento e diagnóstico, juntamente com altas taxas de suicídio e comorbidades. • Manejo farmacológico: o Os princípios gerais do tratamento de adultos também se aplicam aqui. o Mania: ▪ Lítio, risperidona (preferível ao lítio em não obesos e sem TDAH), aripiprazol, asenapina, quetiapina. ▪ Olanzapina e ziprasidona e adjuvância com quetiapina são segunda linha. ▪ Valproato como terceira linha. ▪ Oxcarbazepina NÃO é recomendada. o Depressão: ▪ Lurasidona, apesar de pouco experiência nessa população. ▪ Lítio e lamotrigina como segunda linha. ▪ Olanzapina + fluoxetina como terceira linha. ▪ Oxcarbazepina NÃO é recomendada. o Manutenção: ▪ Dados muito limitados. ▪ Aripiprazol, lítio, valproato. 70 Gustavo Urzêda Vitória o Comorbidades: ▪ TDAH: • Estimulantes podem ser usados em pacientes estáveis e eutímicos → sais mistos de anfetaminas adjuvantes e metilfenidato. ▪ Uso de substâncias: • Internação hospitalar ou comunitária. • Lítio pode ser eficaz na redução do uso de substâncias, bem como TFF. Idosos: • Apresentação e curso: o Cerca de 90-95% dos idosos com TAB apresentam episódio inicial antes dos 50 anos, embora haja uma minoria que terá início mais tardio → mais frequentemente associado a comorbidades neurológicas ou físicas, além de prognóstico negativo. o Embora os sintomas de mania ou hipomania sejam menos presentes em idosos, os sintomas depressivos e cognitivos são mais frequentemente observados. o Comorbidades psiquiátricas também são menos comuns. • Comorbidades: o Em média, 3-4 consultas sobre comorbidades metabólicas em decorrência do quadro/tratamento. o Redução da expectativa de vida em 10-15 anos. o Acompanhamento com exames físico e complementares (neuroimagem e laboratoriais). • Tratamento: o Apenas um único estudo clínico randomizado → sugere que os medicamentos eficazes em adultos também são eficazes em idosos, embora tolerabilidade e alterações farmacocinéticas devam ser levadas em consideração. o Lítio tem sido associado a efeitos adversos neurológicos e valproato a efeitos motores e metabólicos (ganho de peso e DM), carbamazepina é uma indutora do citocromo P450. Antipsicóticos estão ligados a lesão renal aguda. ▪ Lítio deve ser monitorado a cada 3-6 meses, 5-7 dias após ajuste de dose ou de medicações de uso contínuo (AINEs, BRA, IECAs, diuréticos tiazídicos). o Mania aguda: ▪ Monoterapia com lítio ou valproato como primeira linha. ▪ Quetiapina como segunda linha. ▪ Asenapina, aripiprazol ou risperidona como terceira linha. ▪ Clozapina para episódios resistentes ao tratamento. o Depressão bipolar: ▪ Não há ensaios clínicos. 71 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Eficácia sugerida de quetiapina em monoterapia e lurasidona como primeira linha. ▪ Lítio e lamotrigina tem eficácia limitada. ▪ Valproato e carbazepina são terceira linha. ▪ ECT para resistentes, suicidas ou em pacientes com ingestão inadequada de alimentos ou líquidos. ▪ Antidepressivos são controversos → optar por ISRS ou bupropiona em combinação com estabilizadores do humor. o Manutenção: ▪ Usar o que foi eficaz na fase aguda. ▪ Lítio, lamotrigina, valproato. Transtornos comórbidos: • Uso de substâncias: o Abordado o mais cedo possível, pois interfere no tratamento. o Não deve impedir uma tentativa de tratamento do TAB → tratar em conjunto. ▪ Evitar medicações que podem aumentar o risco de desestabilização do TAB. • Uso de álcool: o Valproato e lítio é o único tratamento para transtorno por uso de álcool comóbido com TAB com níveis de evidência satisfatórios. o Evidências menores para lamotrigina e valproato em monoterapia. o Quetiapina não é recomendada por falta de eficácia. • Uso de cannabis: o Lítio e valproato tem evidência baixa. o Quetiapina não proporcionou nenhum benefício. • Estimulantes: o Terapia adjuvante com citicolina teve um resultado positivo em 2 estudos clínicos em pacientes com TAB + transtorno por uso de cocaína. o Lítio e valproato, isolados ou em combinação, são úteis em pequenos estudos que abordam o transtorno por uso de cocaína. o Quetiapina em monoterapia ou em combinação possui evidências no uso de cocaína e metanfetaminas. ▪ Risperidona isoladamente ou adjuvante também. o Bupropiona tem alguns relatos de benefícios. o Lamotrigina possuía resultados negativos em um primeiro momento, mas positivos no resultado secundário da quantidade de dólares gastos por semana com a compra de cocaína. • Uso de opioides: o Metadona tem maior evidência de eficácia. • Ansiedade: o É frequente e existem poucos estudos que se concentram em sintomas de ansiedade comórbidos com TAB. 72 Gustavo Urzêda Vitória o Antidepressivos, particularmente serotoninérgicos, devem ser empregados com cautela. o Benzodiazepínicos são uma ferramenta importante → doses baixas pelo menor período possível, pelo risco de suicídio, dependência e abuso. o TCC é primeira linha. • TAG e pânico: o Quetiapina foi superior ao placebo e ao valproato. o Para pacientes eutímicos e tratados com lítio, a administração de lamotrigina ou olanzapina demonstrou efeitos ansiolíticos semelhantes. o Fluoxetina e olanzapina foram eficazes na redução da ansiedade em pacientes com depressão bipolar. o Gabapentina pode ser empregada como adjuvante. • TOC: o Mais comum em crianças e adolescentes com TAB do que em adultos. o Sintomas de TOC podem regredir durante o tratamentoeficaz do TAB → estabilizadores de humor ou antipsicóticos atípicos podem ser adequados para resolver os sintomas comórbidos do TOC e os antidepressivos podem não ser necessários para a maioria. o Se os antidepressivos forem usados, os ISRS são os preferidos, mas pelo risco de virada maníaca, os antimaníacos profiláticos devem ser otimizados. o Benefício potencial de: lítio, anticonvulsivantes, olanzapina, risperidona, quetiapina e aripiprazol. • Transtorno de personalidade: o Pode ser um fator de confusão diagnóstica e preditor de pior resposta ao tratamento. o Mais prevalentes são (em ordem): anancástica, borderline, esquiva, paranoide e histriônica. o Pesquisas sobre tratamento são escassas. • TDAH: o 10-20% dos pacientes com TAB atendem aos critérios de TDAH em adultos. E até 20% dos pacientes adultos com TDAH também atendem critérios para TAB. o Estabilizadores do humor e/ou antipsicóticos atípicos para estabilizar o humor antes de considerar o tratamento para os sintomas de TDAH → sais mistos de anfetamina, metilfenidato, atomoxetina, bupropiona, lisdexanfetamina podem ser usados. o Metilfenidato em monoterapia aumenta o risco de virada maníaca. • Distúrbios metabólicos: o Trabalhar em conjunto com outras áreas da saúde. o Incluir intervenções não farmacológicas de mudanças de estilo de vida, substituir medicamentos psiquiátricos com alto risco metabólico. 73 Gustavo Urzêda Vitória Segurança e monitoramento: Avaliação médica e investigações laboratoriais: • Histórico médico completo, incluindo avaliação de IMC e exames laboratoriais básicos. • Lítio: função tireoidiana e renal, cálcio plasmático a cada 6 meses a 1 ano. • História menstrual, perfil hematológico e função hepática para valproato, de 3-6 meses no primeiro ano e depois anual. • Entrar em contato com o médico em qualquer caso de erupção cutânea ou úlceras de mucosas. • Genotipagem em pacientes de origem asiática antes de usar carbamazepina → HLA-B 1502 leva a risco alto de Stevens Johnson e NET. o Dosar os níveis séricos de Na, pelo risco de hiponatremia. • Antipsicóticos atípicos devem ser monitorados mensalmente nos primeiros 3 meses, depois a cada 3 meses, semestral e, por fim, anual → PA, glicemia de jejum, perfil lipídico. Monitoramento dos níveis séricos dos medicamentos: • Lítio, valproato e carbamazepina devem ser monitorados regularmente → 12h após a última dose. • A cada 3-6 meses ou quando for pertinente. • Verificar presença de faixas tóxica e terapêutica. • Lítio: o Tratamento agudo: 0,8-1,2mEq/L (0,4-0,8 em idosos). o Manutenção: 0,6-1mEq/L. o 5 dias após ajuste de dose. • Valproato: o 350-700mM/L (50-100mcg/mL). o 3-5 dias após ajuste de dose. • Carbamazepina: o Indutora enzimática → verificar os psicotrópicos associados. Ganho de peso: • É comum que pacientes com TAB fiquem com sobrepeso ou obesos → vários medicamentos podem agravar essa situação. • Fator de não adesão → > 60%. • Olanzapina, clozapina, risperidona, quetiapina, gabapentina, valproato, lítio. • Carbamazepina, lamotrigina e ziprasidona são mais seguros. Sintomas gastrointestinais: • Lítio e valproato podem causar comumente náuseas, vômitos e diarreia. 74 Gustavo Urzêda Vitória • Lítio → para reduzir esses efeitos, pode ser feito a titulação gradual de dose, administrar a medicação na hora de dormir, tomar junto com alimentos ou preparações de liberação lenta. Toxicidade renal: • Lítio tem um potencial bem reconhecido para toxicidade renal → diabetes insipidus nefrogênico, tubulopatias, nefropatia parcial, NTA, polúria; diminuição da TFG e DRC à longo prazo. • Monitorar de 3-6 meses se alterações leves. • Consulta com nefrologista se houver declínio rápido da TFG (> 5ml/min por 1,73m² em 1 ano ou > 10ml/min por 1,73² em 5 anos). • TFG < 45 em duas medidas consecutivas → alerta. Exames hematológicos: • Carbamazepina pode causar leucopenia, geralmente reversível com redução ou descontinuação da dose. o Rápida supressão de MO por hipersensibilidade, principalmente em idosos. • Clozapina altera a contagem de glóbulos brancos → antes de iniciar, adquirir um perfil hematológico basal e monitorar semanalmente no início e depois a cada 2-4 semanas. Efeitos cardiovasculares: • Lítio pode aumentar o risco de prolongamento anormal do intervalo QT ou anomalias da onda T. • Antipsicóticos (risperidona, olanzapina, ziprasidona, asenapina) estão associados a arritmias e prolongamento de QT. • Clozapina tem o risco de acontecimentos raros e graves, como cardiomiopatia dilatada, miocardite e pericardite. • Aripiprazol e lurasiona são considerados seguros, embora aripiprazol possa elevar a PA. Efeitos endócrinos: • Tratamento de manutenção com o lítio → hipotireoidismo, o que pode levar a aumento do risco de episódios de humor, ciclagem rápida e depressão mais grave. o Pode também causar hiperparatireoidismo → dosar cálcio sérico. • Triagem de rotina tireoidiana. • Oligomenorreia ou hiperandrogenismo com valproato → SOP induzida por essa medicação, costuma regredir após suspensão. • Hiperprolactinemia com irsperidona, amisulprida e paliperidona → amenorreia, disfunção reprodutiva, galactorreia, e a longo prazo, ginecomastia e osteoporose. 75 Gustavo Urzêda Vitória Cognição: • Lítio pode levar ao prejuízo na velocidade de processamento e na memória. • Anticonvulsivantes, com exceção da lamotrigina, podem estar associados ao comprometimento cognitivo subjetivo. Sedação: • Valproato e antipsicóticos atípicos são os com maior probabilidade de causar sedação. • Quetiapina, clozapina, olanzapina. Efeitos neurológicos: • Tremor pode ser uma causa significativa de frustração para muitos pacientes → 10% dos usuários de valproato e lítio. • Valproato pode causar encefalopatia potencialmente fatal, mas é raro. • Haloperidol pode causar síndrome extrapiramidal → pseudoparkinsonismo, acatisia, distonia aguda e distonia tardia. o Risco menor nos antipsicóticos atípicos, porém risperidona, aripiprazol, cariprazina, ziprasidona e lurasidona são os que tem maior probabilidade, particularmente em doses mais altas. • Síndrome neuroléptica maligna é uma doença potencialmente fatal associada ao uso de antipsicóticos, principalmente os típicos. o Risco maior durante a fase inicial do tratamento ou nas mudanças de dosagem, polifarmácia, pacientes contidos ou desidratados, altas temperaturas ambientais, idosos e pacientes com comorbidades, além de histórico pessoal ou familiar. Reações dermatológicas: • 10% dos usuários de lamotrigina tem erupção cutânea não grave, e 0,3- 1% em erupções graves (necrólise epidérmica tóxica, Stevens Johnson) → iniciar com 25mg e titular gradualmente, aumentando 25mg a cada 15 dias, diminui o risco. • Carbamazepina está associada a erupções e Stevens Johnson, especialmente nas primeiras 6 semanas. • Valproato tem um risco muito baixo. • Lítio → acne, eczema, queda de cabelo, hidroadenite supurativa, distrofia ungueal, lesões de mucosas. Síndrome metabólica, hiperglicemia, DM 2 e dislipidemia: • Antipsicóticos atípicos e estabilizadores de humor → clozapina e olanzapina principalmente, seguidas pela quetiapina e risperidona. • Aripiprazol, ziprasidona, asenapina e lurasidona têm impactos mínimos. 76 Gustavo Urzêda Vitória • Lítio e valproato podem induzir o ganho de peso. Risco de fraturas e osteoporose: • Anticonvulsivantes, antidepressivos e antipsicóticos podem aumentar o risco de fratura em pacientes que já possuem risco alto. • Rastreamento indicado, já que pacientes com transtorno de humor tem mais chance de sedentarismo, tabagismo e má qualidade dietética. 77 Gustavo Urzêda Vitória - Transtorno afetivo bipolar: Fonte: DSM-5; Tratado de Psiquiatria da ABP, 2021; Compêndio de Psiquiatria Kaplan & Sadock,2017. História: • Velho Testamento → rei Saul descreve uma síndrome depressiva. • Ajax, em Ilíada, descreve um suicídio. • Por volta de 400 a.C., Hipócrates usou os termos mania e melancolia para descrever distúrbios mentais. • 30 d.C., o médico romano Celsus descreveu melancolia como uma depressão causada pela bile negra. • Anatomia da melancolia de Robert Burton, 1621. • 1854, Jules Falret → folie circulaire → pacientes vivenciam estados de humor alternados de depressão e mania. • 1882, Karl Kahlbaum, um psiquiatra alemão, usou o termo ciclotimia e descreveu mania e depressão como estágios de uma mesma doença. • 1899, Emil Kraepelin, descreveu psicose maníaco-depressiva, com critérios que ainda hoje são usados para TAB tipo I. Descreveu a depressão também, como melancolia involutiva. Conceito: • Distúrbio com alterações patológicas do humor, caracterizado pela recorrência de episódios de depressão e de euforia (mania e/ou hipomania). • Diferencia das depressões unipolares pela ocorrência de episódios maníacos e/ou hipomaníacos. Epidemiologia: 78 Gustavo Urzêda Vitória • Prevalência ao longo da vida é de aproximadamente 1%, mas salta para 3-11% se considerar todo o espectro. • 6° maior causa de incapacidade segundo a OMS e, quando não tratado, cursa com taxas de suicídio de 15%. • Pode ter início em qualquer fase da vida → entre os 10 e os 35 anos tem mais risco. • Incidência do tipo I é igual entre os sexos, mas o tipo II é mais frequente em mulheres (1,5-3:1). • Homens tem mais mania, mas mulheres têm mais quadros mistos. Fisiopatologia: • Neurobioquímica: o Os sistemas de neurotransmissão noradrenérgicos, serotoninérgicos, dopaminérgicos, GABAérgicos e glutamatérgicos já foram estudados. ▪ Aumento de metabolitos de noradrenalina em líquor, urina e sangue nas fases maníacas (hiperatividade adrenérgica) e diminuição nas fases depressivas. ▪ Diminuição da atividade serotoninérgica na mania. ▪ Aumento dos receptores D1 em hipocampo, diminuição da concentração de GABA no líquor e no sangue na maníaca. ▪ Aumento de glutamato em líquor de bipolares deprimidos, e do glutamato em espectroscopia e aumento do receptor excitatório AMPA na mania. ▪ A transdução de sinais na membrana neuronal parece estar alterada na TB, com aumento da atividade de proteínas G, hiperatividade da PIP2 na mania e na depressão, aumento do Ca2+ intracelular e da proteína C quinase. o Há evidências de alterações neuroendócrinas e imunológicas, como a diminuição de receptores de glicorticoides em córtex pré- frontal e amígdala cerebral, e ausência de suspensão no teste com dexametasona na mania e na depressão. ▪ Aumento da atividade de IL-2 na mania e de IL-2 e IL-6 na ciclagem rápida. • Neuroimagem: o Achado mais consistente é a diminuição do córtex pré-frontal. o Na mania tem significativa redução do metabolismo do córtex pré- frontal dorsolateral esquerdo, aumento do metabolismo no córtex pré-frontal subgenual. o Hipometabolismo cerebral na depressão. • Genética: o Importante componente genético. o Parentes de primeiro grau de bipolares tem risco 3 vezes maior para depressão unipolar, e 7 vezes maior para transtorno bipolar. o Herdabilidade é de aproximadamente 70%. 79 Gustavo Urzêda Vitória o Estudos para mapear os genes ainda são inconclusivos → pode ser uma transmissão poligênica. Quadro clínico: • Maioria passa a maior parte do tempo experimentando sintomas depressivos (e não maníacos), subsindrômicos ou em episodio depressivo pleno, sendo os períodos de eutimia mais raros. • Os ciclos podem começar com mania e depois depressão, ou o inverso. • Grande parte não apresenta qualquer padrão identificável de ciclagem, com imensa variação interindividual e ao longo do tempo. • Costuma demorar anos para ser corretamente diagnosticado, podendo ser confundido com depressão, esquizofrenia, borderline, histriônica etc. • Geralmente não se queixa de sintomas de hipomania ou não reconhece o antecedente maníaco, queixando-se, geralmente, de depressão. • Comorbidades: o É alta a prevalência de comorbidades no bipolar, principalmente com transtornos do eixo I (abuso e dependência de álcool e drogas, transtorno do pânico, TOC, TAG, fobia social, TEPT, TDAH). o Com frequência se faz o diagnóstico da comorbidade e não do TB (bipolar), sendo o último é hierarquicamente mais importante, uma vez que, molda a gênese e a patoplastia da comorbidade, além de impactar negativamente o tratamento. • Depressão bipolar: o Exibe basicamente o mesmo repertório psicopatológico das depressões unipolares. o Geralmente o padrão atípico é mais comum na TB tipo II e o melancólico na TB tipo I. o Deve-se atentar a sinais sugestivos de TB em um episódio depressivo: ▪ Hipersonia, hiperfagia, pouca tristeza aparente, sintomas psicóticos, grave retardo psicomotor, não consegue desligar a noite, idade de início antes dos 25 anos e remissões abruptas, início no pós-parto, história familiar de TB, sinais e sintomas de síndrome maníaca durante o episódio depressivo (impulsividade, hiperatividade, taquipsiquismo, muita irritabilidade), recorrência muito grande de sintomas, perda da resposta terapêutica ao antidepressivo ou falta de resposta a vários antidepressivos. • Mania: o Durante as fases maníacas, o humor se apresenta mais comumente irritável (euforias são mais raras), podendo o paciente exibir graus variados de impaciência, ira, raiva, ódio, irritabilidade, hostilidade ou heteroagressividade nas manias graves, ou pode ficar muito desconfiado, podendo ter delírios de perseguição nos episódios psicóticos. 80 Gustavo Urzêda Vitória o Quando está eufórico, ele experimenta sentimentos de autossuficiência, onipotência, otimismo extraordinário ou alegria incomum, podendo ter delírios de grandiosidade. o É comum a labilidade afetiva, com acessos de choro abruptos. o Há aceleração dos processos psíquicos, raciocínio mais rápido, pensamentos acelerados ou não consegue parar de pensar. ▪ Pode chegar ao ponto de não conseguir discernir entre os vários pensamentos. o Pode haver fuga de ideias, tangencialidade, arborização de pensamento, distraibilidade e pensamento mais rápido do que consegue falar (atrapalha a dicção). o Paciente fala muito e muito rápido (logorreia), sendo difícil interrompê-lo (pressão de discurso). o Libido fica aumentada, o comportamento desinibido e impulsivo, podendo o paciente cometer indiscrições. o Pode exagerar no gasto com compras desnecessárias, fazer negócios tolos, viagens súbitas ou se engajar em inúmeras atividades simultâneas, começando e não terminando a maioria delas. o Dorme pouco e não se sente cansado. o Há prejuízo psicossocial e ocupacional para o indivíduo, inclusive com risco a saúde física (acidentes de trânsito, brigas, suicídios, ISTs). • Hipomania: o Os sintomas fundamentais da mania estão presentes (euforia ou irritabilidade, aceleração psíquica, hiperatividade), mas os sintomas não são suficientemente graves para causar prejuízo psicossocial e ocupacional. o Pode se sentir extremamente bem, produtivo, energizado e sociável → apenas as pessoas que convivem costumam perceber as mudanças. • Episódios mistos: o Concomitância de um episódio depressivo maior e de um episódio maníaco ou a rápida alternância entre os dois em um mesmo dia. o Mania mista: predomínio dos sintomas de mania. o Depressão mista: predomínio dos sintomas de depressão. o Fenomenologia é rica e variada: desespero, aflição, agonia, raiva injustificada, aumento da ansiedade, agitação, abuso de drogas, frangofilia (vontade de quebrar as coisas), autoagressão e comportamento suicida. o Quadros mais leves podem referir variações no estado de energia ao longo do dia, com dificuldade de arranque matinal e progressiva aceleração, culminandocom inquietação ou hiperatividade noturna (insônia etc.). • Ciclagem rápida: 81 Gustavo Urzêda Vitória o Especificar o curso de pacientes com TB que ocorrem 4 ou mais episódios em um período de 12 meses. Subtipos: • Tipo I: o A característica essencial de um episódio maníaco é tida como um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento persistente da energia, com duração de pelo menos uma semana e presente a maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração se precisar ser internado), acompanhado de pelo menos 3 sintomas adicionais. o Se o humor é irritável ao invés de elevado ou expansivo, pelo menos 4 sintomas adicionais. o Pode ter labilidade e o irritável é mais comum que o eufórico. o Em crianças, a felicidade, tolice e estupidez são normais no contexto de ocasiões especiais → porém se forem recorrentes, inadequados ao contexto e além do esperado para o nível de desenvolvimento da criança, pode ser mania. ▪ Se a felicidade for incomum para a criança e a mudança de humor ocorrer concomitante aos sintomas adicionais para mania → aumenta a certeza de diagnóstico. o Projetos da mania: inicia várias atividades com pouco preparo ou conhecimento, tem níveis de energia elevados, autoestima inflada, delírios de grandeza são comuns, supervalorização de si próprio. ▪ Diminuição da necessidade de sono, que inclusive pode abrir o quadro de mania. o Fala rápida, pressionada, alta e difícil de ser interpretada → piadas, trocadilhos, bobagens, teatralidade, maneirismo dramático, gestos excessivos. ▪ Quando irritados, podem ser reclamões, hostis e mal educados. o Pode haver fuga de ideias, pela velocidade de pensamento ser maior do que a da fala. o Distraibilidade acentuada com grande incapacidade de filtrar estímulos externos. o Impulso, fantasias e comportamento sexuais estão geralmente aumentados. o Agitação e inquietação psicomotora. o Podem se envolver em projetos imprudentes por conta do prejuízo no julgamento crítico, tendo comportamentos de risco. o Pode provocar prejuízos no funcionamento psicossocial e profissional, e até necessitar de hospitalização em alguns casos. o Sinais e sintomas maníacos induzidos por drogas ou fármacos não satisfazem os critérios de mania, mas se o quadro persistir após o efeito dos mesmos, pode caracterizar episódio maníaco. 82 Gustavo Urzêda Vitória o Durante a mania, é comum os pacientes não perceberem que estão doentes ou necessitando de tratamento, resistindo as tentativas de instituição terapêutica. o Critérios diagnósticos: 83 Gustavo Urzêda Vitória 84 Gustavo Urzêda Vitória • Tipo II: o Caracteriza-se por um curso de episódios de humor recorrentes, consistindo em um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco. ▪ Depressivo: duração de pelo menos 2 semanas. ▪ Hipomaníaco: duração de pelo menos 2 semanas. 85 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Devem estar presentes na maior parte do dia, quase todos os dias, além de representarem uma mudança notável do comportamento e do funcionamento habituais. o Presença de um episódio maníaco durante o curso da doença, exclui o diagnóstico de TB tipo II. o Não pode ser levado em consideração efeitos colaterais de fármacos e ação de drogas, a menos que os mesmos persistam além dos efeitos fisiológicos deles. o Devem causar sofrimento ou prejuízo em todas as esferas da vida. ▪ Geralmente causados pela depressão e não pela hipomania. o Episódios depressivos costumam ser mais recorrentes e duradouros na TB tipo II. o Não confundir hipomania com períodos de recuperação de um estado depressivo unipolar. o Tende a ser menos crônico, mas pode ser igualmente incapacitante e perigoso para o paciente. o Hipomania pode gerar aumento de produtividade e criatividade, dificultando o reconhecimento da doença e a aceitação de tratamento. o Critérios diagnósticos: 86 Gustavo Urzêda Vitória 87 Gustavo Urzêda Vitória • Transtorno ciclotímico: o Tem como característica essencial a cronicidade e a oscilação do humor, envolvendo vários períodos de hipomania e de sintomas depressivos distintos entre si. ▪ Os episódios de depressão e hipomania não conseguem preencher totalmente os critérios diagnósticos desses quadros. 88 Gustavo Urzêda Vitória o Durante o período inicial de 2 anos (1 ano para crianças e adolescentes), os sintomas precisam ser persistentes, presentes na maior parte dos dias, e qualquer intervalo sem sintoma não pode durar mais do que 2 meses. o Diagnóstico só é fechado quando os critérios para mania, depressão bipolar e hipomania não são fechados. ▪ Se o subsequente (após o período inicial) apresenta um episódio de depressão, mania e/ou hipomania → diagnóstico muda para TB tipo I ou tipo II. o Deve haver prejuízos significativos em todas as esferas da vida. o Critérios diagnósticos: Diagnósticos diferenciais: • Mania secundária é rara e geralmente acontece em idosos. • Síndromes de desinibição: demência fronto-temporal, síndrome de Kluver-Bucy. • Hipertireoidismo, AIDS, policitemia, esclerose tuberosa, sarcoidose, hidrocefalia de pressão normal, esclerose múltipla, neurossífilis, neurocisticercose, uso de corticoides etc. 89 Gustavo Urzêda Vitória Tratamento: • Deve envolver obrigatoriamente o componente médico-clínico e o psicoterapêutico. • Pode geralmente ser feito ambulatorialmente, com exceção de casos com risco de suicídio, falta de crítica e não adesão ao tratamento, comportamento francamente desorganizado ou auto/heteroagressivo → internação psiquiátrica. • Uso de estabilizadores de humor é o ponto chave. o Não existe ainda um estabilizador que alcance todos os objetivos do tratamento, por isso, normalmente são combinados entre si ou com outras classes de psicofármacos. • Lítio: o Foi o primeiro estabilizador a ter sua eficácia antimaníaca comprovada em ensaio duplo-cego controlado. o Eficácia em torno de 70-80% no tratamento de mania → principalmente de mania pura. o Latência de resposta de 2-3 semanas. o Tem moderado efeito antidepressivo e é considerado o mlehor estabilizador de humor na profilaxia de TB tipo I sem ciclagem rápida, com episódios bem delimitados e com boa recuperação interepisódica (mania > depressão). o Carbonato de lítio com meia vida de eliminação de 18-24h, posologia de 1-2x/dia, iniciado com 600mg/dia → titulando até dosagem sérica ficar entre 0,8-1,2mEq/L. (Depressão) 90 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Coletar sangue 4-7 dias após o início da terapia e de 10-14 dias após a última tomada. ▪ Repetida sempre que houver dúvidas sobre toxicidade ou adesão. o Contraindicações absolutas: IAM recente, arritmias graves, psoríase e IRA. o Efeitos adversos comuns: tremor fino de mãos, náuseas, polidipsia, poliúria, ganho de peso e acne. o Aproximadamente 20% desenvolvem hipotireoidismo subclínico a médio-longo prazo (aumento do TSH) → corrigir. o Nefropatia induzida por lítio é rara, mas pode levar a suspensão do medicamento. • Valproato: o Ou ácido valproico → comprovada eficácia antimaníaca, principalmente nas manias mistas, na ciclagem rápida, na comorbidade com transtornos ansiosos e no abuso de álcool e de outras substâncias. o É a primeira opção, em alternativa ao lítio, no tratamento de mania aguda (ou em combinação). o Doses em torno de 20mg/kg → melhora o quando em mais ou menos 1 semana. o Níveis séricos entre 45 e 125mcg/ml são necessários, sendo guiado pela tolerância do paciente. o 1-2x/dia, dependendo se a liberação é prolongada ou não. o Eficácia na depressão e na profilaxia é menor. o Efeitos adversos comuns: náuseas, tremores dose-dependentes, aumento do apetite e do peso, queda ou modificaçãodos cabelos e discreta elevação de transaminases. o Hemograma e enzimas hepáticas periodicamente. • Carbamazepina: o Eficácia antimaníaca, sobretudo nas disfóricas e ciclagem rápida → opção para tratamento de casos menos graves. o Eficácia antidepressiva é menor. o Eficácia profilática é significativa. o 2x/dia, com dose máxima de 1200mg/dia → nível sérico ideal de 4- 12 mcg/ml. o Efeitos adversos comuns: diminuição benigna dos leucócitos, tontura, visão turva, sonolência. o Enzimas hepáticas e hemograma periódicos. o Oxcarbazepina é um análogo com menos efeitos colaterais e eficácia semelhante → dose de 600-2400mg/dia. • Lamotrigina: o É um anticonvulsivante e tem papel importante no tratamento da depressão bipolar e na profilaxia de episódios depressivos. o Não há evidências da eficácia no tratamento e na prevenção de mania. 91 Gustavo Urzêda Vitória o 1x/dia, na dose de 50-200mg/dia. o Efeitos colaterais: rash cutâneo (pode evoluir para Stevens- Johnson), por isso a dose é escalonada gradualmente. o Deve ser evitada em associação ao valproato devido ao aumento do risco de rash e síndrome de Stevens-Johnson. • Antipsicóticos: o Tem um papel importante no manejo do TB, principalmente os antipsicóticos de 2ª geração ou atípicos. o 1ª geração tem eficácia na agitação e hiperatividade maníaca, mas devem ser evitados por conta do risco de síndrome extrapiramidal e discinesia tardia. o Dentre os atípicos, a olanzapina tem eficácia antimaníaca aguda e alguma eficácia antidepressiva. ▪ Quetiapina: antimaníaca e antidepressiva. ▪ Risperidona, ziprasidona e aripiprazol: antimaníaca aguda. ▪ Clozapina: tratamento de casos refratários pelo risco de agranulocitose. o Episódios agudos: antipsicótico + estabilizador de humor → resposta mais rápida. o Os atípicos têm risco de desenvolvimento de obesidade e síndrome metabólica (prováveis exceções: ziprasidona e aripiprazol). • Antidepressivos: o Deve ser evitado no tratamento de TB → pode induzir episódios de mania e de hipomania, acelerar a ciclagem, piorando a evolução da doença. o Reservado para casos em que as estratégias de primeira linha não tenham sido eficazes no tratamento ou profilaxia de episódio depressivo. ▪ Preferir ISRS ou bupropiona. • Eletroconvulsoterapia: o Indicada na mania refratária. o 1ª escolha para depressões com estupor grave ou aumento do risco de suicídio. o 1ª linha para depressões psicóticas. • Algoritmo: o Mania aguda: ▪ 1º linha: lítio, valproato, olanzapina, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona; lítio ou valproato + risperidona; lítio ou valproato + quetiapina; lítio ou valproato + olanzapina. ▪ 2º linha: carbamazepina, oxcarbazepina, ECT, lítio + valproato. ▪ 3ª linha: haloperidol, clorpromazina, lítio ou valproato + haloperidol, lítio + carbamazepina, clozapina. 92 Gustavo Urzêda Vitória ▪ Não recomendado: monoterapia de gabapentina, topiramato, lamotrigina, verapamil, risperidona + carbamazepina. o Depressão bipolar: ▪ 1ª linha: lítio, lamotrigina, lítio ou valproato + ISRS, olanzapina + ISRS, lítio + valproato, lítio ou valproato + bupropiona, quetiapina. ▪ 2ª linha: quetiapina + ISRS, lítio ou valproato + lamotrigina. ▪ 3ª linha: carbamazepina, olanzapina, valproato, lítio + IMAO, ECT. ▪ Não recomendado: monoterapia com gabapentina. o TB: ▪ 1ª linha: lítio, lamotrigina (mania leve), valproato, olanzapina. ▪ 2ª linha: carbamazepina, lítio + valproato, lítio + carbamazepina, aripiprazol, quetiapina, risperidona. ▪ 3ª linha: adjuvantes: fenitoína, clozapina, ECT, topiramato, ácidos graxos ômega-3, oxcarbazepina, gabapentina. ▪ Não recomendado: flupentixol adjuvante. • Não farmacológico: 93 Gustavo Urzêda Vitória o Intervenções psicossociais: pacientes e familiares são orientados sobre a doença e o tratamento → diminui 50% o número de recaídas e o impacto da doença, além de aumentar a adesão. o Psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC): dispõe de mais recursos e evidencias de eficácia.
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