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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Denise A. M. de Oliveira 1ª Edição, 2022 EAD Reitor e Diretor Campus Engenheiro Coelho: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor Campus Hortolândia: Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor Campus São Paulo: Afonso Cardoso Ligório Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de graduação: Afonso Cardoso Ligório Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Henrique Melo Gonçalves Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Knoener Educação Adventista a Distância Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Esp. Telson Vargas Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Werter Gouveia Responsável editorial pelo EaD: Luiza Simões Editora Universitária Adventista Presidente Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos Presidente Mantenedora Unasp (IAE): Maurício Lima 1ª Edição, 2022 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Denise Andrade Moura de Oliveira Mestra em Educação pelo UNASP - EC Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Alfabetização e Letramento 1ª edição – 2022 e-book (pdf) OP 00123_006 Coordenação editorial: Késia Santos Conteudista: Denise A. Moura de Oliveira Preparador: Kawanna Cordeiro Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa e Diagramação: William Nunes Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Vanessa Raquel de Almeida Meira Doutora em Teologia pela Faculdades EST. Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO ALFABETIZAÇÃO: A HISTÓRIA SOBRE COMO ENSINAR A LER E A ESCREVER ............................... 13 Introdução ........................................................................................14 Alfabetização: conhecendo a história da escrita ao longo dos tempos ...........................................................15 Conceito de alfabetização ................................................................23 Métodos sintéticos ...........................................................................38 Método alfabético ...................................................................39 Método fônico .........................................................................41 Método silábico .......................................................................45 Métodos analíticos de alfabetização ...............................................48 Método da palavração ............................................................51 Método da sentenciação .........................................................53 Método do conto .....................................................................54 A didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita ...........................................................56 Considerações finais.........................................................................65 Referências .......................................................................................69 COMO A CRIANÇA APRENDE A ESCREVER E LER ................................................. 73 Introdução ........................................................................................74 A ressignificação do ensino da leitura e da escrita .......................................................................75 Psicogênese da língua escrita .................................................82 Definindo psicogênese da língua escrita ................................86 Níveis da psicogênese da alfabetização ...............................................................................88 Procedimentos para classificação dos níveis psicogenéticos .......................................................90 Nível silábico ...........................................................................96 Nível alfabético.......................................................................104 Processos de construção da linguagem escrita .............................................................109 Considerações finais........................................................................114 Referências ......................................................................................117 LETRAMENTO: O SENTIDO DE APRENDER E ENSINAR A LER E A ESCREVER .......................... 121 Introdução .......................................................................................122 Letramento: conceito ......................................................................123 Diferenciando letramento ..............................................................137 O letramento na escola ...................................................................148 Letramento: BNCC e PNA ................................................................158 Considerações finais........................................................................170 Referências ......................................................................................173 ALFABETIZAR LETRANDO: O TEXTO NA SALA DE AULA .................................. 177 Introdução .......................................................................................178 Alfabetizar letrando: centralidade do texto ......................................................................179 Produção escrita a partir do texto ..........................................196 Letramento literário ........................................................................201 Estágios psicológicos da criança ............................................206 Proposta didática com literatura infantil ...............................212 Letramento: um conceito plural .....................................................219 Considerações finais........................................................................225 Referências ......................................................................................229 ALFABETIZAÇÃO: ESTUDO DA ESPECIFICIDADE DA LÍNGUA ................................ 233 Introdução .......................................................................................234 Consciência fonológica ...................................................................235 Conceito de palavra.........................................................................246 VO CÊ ES TÁ A QU I Rimas e aliterações .........................................................................253A sílaba ............................................................................................256 Consciência fonêmica .....................................................................263 Considerações finais........................................................................273 Referências ......................................................................................277 VO CÊ ES TÁ A QU I PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA. EMENTA Estudo das concepções da aquisição da linguagem e do processo sócio-histórico e cultural da alfabetização, articulados ao desenvolvimento das práticas pedagógicas que promovam o letramento do cotidiano e literário na formação do leitor/escritor crítico, consciente e comprometido com a sociedade. - Selecionar atividades pedagógicas adequadas à leitura e à escrita possibilitando a alfabetização e o letramento; - Avaliar atividades para o desenvolvimento da consciência fonológica e as especificidades da língua; - Assumir uma postura crítico reflexiva sobre as próprias práticas pedagógicas. ALFABETIZAÇÃO: ESTUDO DA ESPECIFICIDADE DA LÍNGUA UNIDADE 5 OB JE TI VO S 234 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO INTRODUÇÃO Olá! Seja muito bem-vindo (a) ao nosso conteúdo sobre alfabetização: estudo da especificidade da língua. Como em um jogo de quebra-cabeça, acredito que você já visualizou a panorama sobre que é a língua, o texto e suas funções. Agora é o momento de focarmos nas “peças” do jogo, ou seja, os elementos que compõem a língua escrita. Sem a compreensão dessas partes, a alfabetização não se efetiva, pois é preciso conhecer como a escrita é estruturada. A aprendizagem da língua escrita é necessária para a escolarização e para a inserção da criança no mundo letrado. De acordo com os dados da Avaliação nacional de alfabetização (ANA), as crianças chegam ao 3º ano do ensino fundamental com um nível insuficiente de leitura e escrita. Esse baixo rendimento prejudica a criança nos anos seguintes da escolarização. Como ajudar a criança a ser plenamente alfabetizada? Quais os conceitos que ela precisa dominar para saber como a escrita é estruturada? Quais os procedimentos que o professor deve adotar para ajudar a criança a avançar na trajetória da alfabetização? Por meio deste estudo, vamos refletir sobre os conceitos e conhecimentos dos quais a criança deve se 235 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA apropriar para ler e escrever. O tema central discutido por meio das linhas que se seguem é a especificidade da língua escrita. Isso posto, ao final desta leitura, espera-se que você entenda os seguinte tópicos: • Consciência fonológica; • Consciência da palavra; • Percepção das rimas e aliterações; • Consciência silábica; • Consciência fonêmica. Bom estudo! CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA “O gato pulou na lata. O pato pulou o bule. O rato pulou na panela” (FRANÇA; FRANÇA, 2019, p. 7). Esse pequenos texto é um trecho do livro O pote de melado, de Mary e Eliardo França, e é indicado para o leitor iniciante. O livro é divertido e conta a história dos três animaizinhos que, às escondidas, queriam 236 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO pegar melado. Observe as três personagens do texto: o que há de comum e de diferente entre eles? Nós que somos alfabetizados lemos sem pensar, pois essa habilidade já está automatizada, mas para aquele que está no início do processo de alfabetização, a reflexão sobre a escrita não pode passar despercebida. Sob a orientação da professora, o aluno precisa observar que uma letra muda o significado da palavra. Nas três palavras, o radical é o mesmo “ATO” e as letras G, P e R, colocadas no início, formam, respectivamente, GATO, PATO e RATO. A consciência de como são formadas as palavras é uma atividade essencial no processo de alfabetização. Observar a estrutura das palavras comparando semelhanças e diferenças não é uma ação que surge naturalmente— é preciso ser ensinada como parte da escolarização formal. Por isso, para orientar os alunos sobre a especificidade da língua escrita, os professores precisam conhecer com clareza como funciona o sistema de escrita alfabética (SEA) e como a consciência fonológica (CF) é importante para a construção deste sistema. No entanto, a CF na alfabetização deve ser trabalhada a partir do contexto de letramento, pois esses dois processos são 237 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA indissociáveis. Por isso, quando o professor planeja sua aula e as atividades para o estudo da língua, a primeira escolha que deve fazer é a de “um texto que desperte o interesse das crianças e seja compatível com o nível linguístico e cognitivo delas” (SOARES, 2020, p. 39). Ou seja, estudar a língua tendo como centro o texto, para que a compreensão do SEA aconteça no contexto do letramento. Como as crianças estão em contato com a escrita no seu cotidiano, tentam imitar e elaboram ideias, hipóteses sobre a escrita criando, inicialmente, rabiscos. Quando escutam a leitura de um livro ou uma contação de história, preocupam-se mais com o significado das palavras do que com o significante, a pauta sonora. Por isso, é muito comum a criança trazer para a escrita características do objeto, como: escrever o nome de coisas ou seres grandes é necessário muitas letras. Isto é denominado realismo nominal (SOARES, 2020, p. 79). Por isso o professor precisa orientar a criança a compreender o que a escrita representa desvinculando o significado do significante. O alfabetizando precisa compreender que o SEA é orientado pelo significante e não pelo significado. O alfabeto do sistema de escrita representa os sons das palavras e não os seus significados (SOARES, 2020, p.46). 238 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO SAIBA MAIS Saber a diferença entre significado e significante é muito importante, pois ajuda o professor a ser mais eficiente no momento do ensino. Isso posto significado é o con- teúdo semântico da fala; significante são os sons da fala, o que a escrita alfabética grafa decompondo em unida- des mínimas, os fonemas (SOARES, 2018, p. 46). Para se entender com mais profundidade esse assunto, sugeri- mos que você assista ao vídeo “Linguística: significado e significante”. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=cxMri-iFYRk Acesso em 17 jan. 2023. A criança precisa compreender que o SEA necessita de letras, e essas letras têm um significado arbitrário, por isso não possuem um significado em si mesmo. Então, é necessário que reflitam sobre a escrita compreendendo que ela é um sistema notacional ou de representações e não um conjunto de códigos. Sobre sistemas notacionais, pode compreender o seguinte: da mesma forma que a numeração decimal e a moderna notação musical —com pentagrama, claves de sol etc.— a escrita alfabética é um sistema notacional. Nesses sistemas, temos não somente “um conjunto de “caracteres” ou símbolos (números, notas musicais, letras), mas, para cada sistema, há um conjunto de “regras” ou propriedades, que definem https://www.youtube.com/watch?v=cxMri-iFYRk 239 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA rigidamente como aqueles símbolos funcionam para poder substituir os elementos da realidade que notam ou registram”. Isso posto, no processo de aquisição da língua escrita, há duas abordagens (figura 50), a saber: Figura 50- Abordagens Cognitivismo Empirista - Tábula rasa. - Recebe informações prontas. - Repetição. - Memorização. - Uso da mente. - Poder criativo. - Descoberta/ Reconstrução. Fonte: elaborada pela autora. Segundo a concepção empirista, a aprendizagem da escrita é vista como a aquisição de um código aprendido por treinos e repetições. Por essa ótica, a criança memoriza um código como um processo simples de acúmulo de informações recebidas de fora para dentro. Não há necessidade de pensar ou refletir sobre a escrita para compreender como é constituída. Os empiristasensinam que a escrita é dominar um conjunto de códigos de transcrição da língua oral. Por ser uma mera 240 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO lista de correspondências entre letras e fonemas, o alfabeto não teria propriedades ou princípios conceituais que o aprendiz precisaria compreender (MORAIS, 2012, p. 27-28). Conforme a visão cognitivista, a escrita alfabética é vista como um sistema notacional, porque o aprendiz precisa construir na mente as propriedades necessárias para o aprendizado da leitura e escrita. A criança reconstrói a sua própria história da escrita compreendendo como funciona o SEA e isso se dá por um processo de reflexão da língua. Para orientar a criança nesse processo, o professor precisa entender que: a. a escrita alfabética ainda não está pronta na mente do indivíduo; ele ainda não sabe como isso funciona, por isso cria “hipóteses” sobre a escrita; b. é necessário muito tempo para que o aprendiz desvende as propriedades do alfabeto como sistema notacional; c. a criança precisa compreender: o que as letras representam e como as letras criam representações/notações (MORAIS,2012, p. 48-49). 241 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA De acordo com Cagliari e Cagliari (1999), para uma criança saber ler e escrever, primeiro ela precisa ser falante da língua, ou seja, precisa conhecer os fonemas, as regras e a gramática da língua. Como falantes, elas têm interiorizada uma gramática com todas as regras necessárias para usarem a linguagem de maneira perfeita, segundo seus próprios dialetos (CAGLIARI; CAGLIARI, 1999, p. 135). O desenvolvimento da linguagem oral depende do bom funcionamento de alguns órgãos do corpo humano, pois o ser humano é a única criatura dotada da razão e do dom da fala. A criança começa a falar a partir da percepção da fala dos adultos ao seu redor, isso quer dizer que, sua audição deve estar preservada para perceber a diferença entre os fonemas. Além disso, o aparelho fonador é essencial para a pronúncia dos sons da fala começando com os balbucios até o domínio da linguagem oral. O aparelho fonador é constituído de pulmões que atuam como propulsor do ar, para que este, em sua passagem pela laringe, possibilite a produção da voz (STAMPA, 2009, p. 31). A propósito, um conjunto de movimentos corporais necessários para a produção dos sons que compõe a fala fazem parte da técnica articulatória ao pronunciar os diferentes fonemas da língua (MARTELOTTA, 2008, p. 16). 242 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Portanto, o desenvolvimento e domínio da linguagem oral e escrita faz parte de um sistema bem estruturado e complexo, e o professor precisa compreender como tudo isso funciona para poder perceber as dificuldades dos alunos e buscar estratégias e recursos que os auxiliarão no processo de alfabetização. Este estudo, no entanto, não se propõe a recomendar este ou aquele método de base fonética, mas sim esclarecer os conhecimentos necessários para a apropriação da língua escrita no processo de alfabetização. O professor, antes de preocupar- se em adotar um método, precisa saber como a criança aprende e o que precisa saber para ler e escrever. De acordo com Morais (2012), há algumas propriedades sobre o SEA que a criança precisa reconstruir durante o processo de alfabetização; acompanhe-as por meio da figura 51: Figura 51- Propriedades sobre o SEA 1 Escreve-se com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito e que são diferentes de números e de outros símbolos; 2 as letras têm formatos fixos e pequenas variações que produzem mudanças na identidade delas (p, q, b, d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p); 3 a ordem das letras no interior da palavra não pode ser mudada; 4 uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras, ao mesmo tempo em que distintas palavras compartilham as mesmas letras; 243 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA 5 nem todas as letras podem ocupar certas posições no interior das palavras e nem todas as letras podem vir juntas de quaisquer outras; 6 as letras notam ou substituem a pauta sonora das palavras que pronunciamos e nunca levam em conta as características físicas ou funcionais dos referentes que substituem; 7 as letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos; 8 as letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra; 9 além de letras, na escrita de palavras usam-se, também, algumas marcas (acentos) que podem modificar a tonicidade ou o som das letras ou sílabas onde aparecem; 10 as sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes e vogais (CV, CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC, CCVCC), mas a estrutura predominante no português é a sílaba CV (consoante – vogal), e todas as sílabas do português contêm, ao menos, uma vogal. Fonte: adaptada de Morais (2012, p. 51). A maioria dessas propriedades serão compreendidas por meio do desenvolvimentos de habilidades metalinguísticas, entre elas destacamos a importância da CF no conjunto dessas habilidades. O desenvolvimento da consciência fonológica é o caminho para a compreensão do princípio alfabético fortalecendo a alfabetização, pois promove ações cognitivas de reflexão fonológica da língua. Inclusive, a consciência ou conhecimento fonológico, segundo Zorzi (2003, p. 28) faz parte do que se considera como conhecimento metalinguístico, mais precisamente, uma forma de conhecimento ligado à capacidade de o sujeito poder pensar 244 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO sobre a linguagem e operar com ela em seus distintos níveis: textual, pragmático, semântico, sintático e fonológico. Morais apresenta a CF como um grande conjunto ou uma constelação de habilidades de refletir sobre os segmentos sonoros das palavras (MORAIS, 2012). Para o autor, as habilidades metafonológicas são sinônimo de CF. Essas habilidades nos leva a notar, por exemplo, que casa e cavalo iniciam de modo semelhante “ou que “bola” e “gola” rimam, o que é fundamental para compreendermos por que compartilham, no começo ou no final, as mesmas sequências de letras (C-A-, O-L-A) e nos apropriamos daquelas correspondências som-grafia (MORAIS, 2019, p. 43). Para Morais (2012), desenvolver algumas habilidades de CF constitui uma condição obrigatória para que uma criança sem deficiência auditiva avance em seu aprendizado de um sistema de escrita alfabética. A propósito, a CF é a capacidade de focalizar e segmentar a cadeia sonora que constitui a palavra e de refletir sobre seus segmentos sonoros, que se distinguem por usa dimensão: a palavra, as sílabas, as rimas os fonemas (SOARES, 2020). De acordo com Stampa (2009) a CF é o conjunto de habilidades por meio da percepção acústica sonora da fala que possibilita a manipulação e a diversidade de possibilidades das 245 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA unidades silábicas e fonêmicas, sendo esta um pré-requisito para a construção da linguagem escrita. Desenvolver a CF é, portanto, pensar e analisar a palavra num processo de metacognição para tornar efetiva a alfabetização e o letramento. O desafio é encontrar formas de fazer com que as crianças notem os fonemas, descubram sua existência e a possibilidade de separá-los por meio de atividades envolvendo rima, ritmo, escuta e sons (ADAMS, et. al., 2006). Por isso estudaremos alguns conceitos que constituem o conjunto da formação da CF e algumas estratégias para auxiliar o professor nas intervenções com alunos em fase de alfabetização, porque é muito importante estar atento à relação grafema/ fonema na formação das palavras no período de aquisição da escrita. Como parte deste conjunto que compõe a CF, é necessário trabalhar a consciência da palavra, da sílaba e dos fonemas. METACOGNIÇÃO Segundo o site Psicologiaex- plica, metacognição é a “ha- bilidade de refletir sobre uma determinada tarefa (ler,calcular, pensar, tomar uma decisão) e sozinho selecionar e usar o me- lhor método para resolver essa tarefa”. fonte: https://www. psicologiaexplica.com.br/o- -que-e-metacognicao/. Acesso em: 22 mar. 2022. https://www.psicologiaexplica.com.br/o-que-e-metacognicao/ 246 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO CONCEITO DE PALAVRA O professor precisa auxiliar a criança a compreender que a palavra é uma unidade da fala e da escrita. Por isso, a importância do contato com o texto escrito, pois será mais fácil a percepção das segmentações. Apesar de existirem outros sinais para a expressão, como gestos, por exemplo, a palavra é o principal veículo de comunicação. O uso da palavra só funciona quando o associamos a um contexto, a “um sentido construído em uma situação culturalmente definida” (FERRAREZI, 2008, p. 37). Por isso, o aprendizado da língua não acontece de modo isolado, mas a partir do texto apresentando os usos e funções da escrita. Para isso, a criança precisa aprender que: a. As frases são cadeias linguísticas pelas quais transmitimos nossos pensamentos. b. As frases são, por outro lado, compostas de sequências de palavras com significado, passíveis de serem faladas. c. A presença ou ausência de significado em uma frase depende das palavras que ela venha a 247 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA conter, bem como da ordem específica dessas palavras (ADAMS, et. al., 2006, p. 65). Perceber as palavras em seu contexto e como são constituídas é o desenvolvimento da consciência lexical. Como não identificamos a separação das palavras no momento da fala, “a capacidade de segmentar frases em palavras, e o próprio conceito de palavra, só são claramente compreendidos pela criança quando ela se alfabetiza (SOARES, 2020, p. 78). A palavra, como unidade, só é percebida na escrita porque é separada por espaços. Existem duas categorias de palavras: as de conteúdo e as funcionais. As de conteúdo ou lexicais são as palavras que apresentam um sentido, como substantivos, adjetivos ou verbos. A palavras funcionais ou gramaticais são os conectores das palavras de conteúdo para a construção de uma ideia, são elas: conjunções, preposições ou artigos (SOARES, 2020, p. 78). Por isso, é comum crianças, no início da aquisição da escrita, acreditarem que somente se escreve substantivos, pois representam um objeto ou ser, mas artigos ou preposições não são identificados como palavras (GROSSI, 1990, p. 57). Essa forma de pensar é muito comum, principalmente no nível silábico, pois a criança, nessa fase, acredita ser 248 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO necessário muitas letras para escrever (GROSSI, 1990). No entanto, crianças que estão no nível alfabético, têm dificuldade de identificar as segmentações das palavras nas frases, pois escrevem com apoio na oralidade, por isso é comum “escreverem sem deixar espaços entre as palavras quando se trata de uma oração” (FERREIRO; TEBEROSKY 1999, p. 221), como por exemplo: omenino jogabola. As crianças também precisam perceber que as palavras não são definidas por tamanho – curtas ou longas- mas pelo significado. Adams et. al. (2006) propõem um jogo para que as crianças abandonem a ideia de que as palavras são formadas pelas mesmas quantidades de sílabas. Acompanhe-o por meio da figura 52: Figura 52- Exercício com palavras curtas e longas O professor deverá selecionar alguns pares de palavras de tamanhos diferentes. Para jogar, pronuncie um par de palavras (por exemplo, leão e mosquito) e pergunte às crianças qual delas acham que é maior. Quando tiverem respondido, mostre-lhes as palavras escritas para que possam ver se suas avaliações estão corretas. Entre os pares úteis de palavras, estão as seguintes Objeto maior Objeto menor Borboleta Borboleta formiga formiga Casinha Casinha gato gato 249 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA zebra zebra Mosquito Mosquito Passarinho Passarinho flor flor Estrelinha Estrelinha Fonte: adaptada de Adams et. al. (2006, p.73). Para perceber as segmentações da frase em palavras, o professor também pode propor que os alunos pintem os espaços entre as palavras, recorte a frase em palavras para depois remontá-la. Outra proposta de atividade é partir de um texto possibilitando a identificação das frases e palavras, como por exemplo uma música conhecida. Confira a figura 53: Figura 53- Exemplos de atividades O SAPO NãO LAVA O PÉ NãO LAVA PORQUE NãO QUER ELE MORA LÁ NA LAgOA NãO LAVA O PÉ PORQUE NãO QUER MAS QUE CHULÉ! Atividade 1: Perceber a sequência das frases dando sentido à música. A proposta é que, depois de memorizada a música, a criança organize as frases na sequência. Esta atividade tem a intenção de mostrar que as frases precisam estar numa ordem para dar sentido ao texto. NãO LAVA O PÉ PORQUE NãO QUER NãO LAVA PORQUE NãO QUER ELE MORA LÁ NA LAgOA O SAPO NãO LAVA O PÉ 250 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Atividade 2: Completar as palavras que faltam na música. Nesta atividade a criança pode colar ou escrever as palavras. O _____ NãO ______ O ______ NãO _______ PORQUE ______ QUER ELE MORA LÁ NA __________ NãO ______ O _______ PORQUE NãO _____ elaborada pela autora. Outras atividades que podem ser realizadas com o intuito de ajudar esse grupo de crianças que está no início de sua alfabetização são as seguintes: • Identificar as letras do seu nome percebendo que elas podem ser utilizadas na formação de outras palavras; • Identificar o começo e o fim da palavra; • Contar a quantidade de letras que compõe a palavra; Ao chamar a atenção da criança para perceber os “pedacinhos” que compõem a palavra, o professor trabalha a ideia dos morfemas, sem precisar definir o conceito do termo (FERRAREZI, 2008, p. 43). Para Morais (2019) essa é a habilidade metamorfológica, pois a criança é capaz de identificar as partes que compõem unidades de significado das palavras podendo refletir sobre a função gramatical de cada palavra. 251 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA Há um exercício interessante de percepção da palavra, embora na alfabetização não se trabalhe as classes gramaticais intencionalmente, a saber: O professor pode apresentar uma palavra e pedir que as crianças falem outra palavra originada da primeira. Depois que a lista de palavras estiver formada, pode chamar a atenção para os elementos que compõem a estrutura, ajudando a criança a perceber o radical/raiz das palavras, ou seja, a parte que permanece comum na lista de palavras. Veja um exemplo por meio da Figura 54. Figura 54- Exercício sobre radical/raiz das palavras AMEI CASA PEIXE AMAMOS CASEBRE PEIXINHO AMAVA CASARãO PEIXARIA AMOU CASINHA PEIXADA AMAREI CASAMENTO PEIXãO AMANDO CASONA AMADO CASAVA AMAR Fonte: adaptada de Ferrarezi (2008, p. 44). O importante nesta atividade da figura 54 é que as palavras estejam escritas uma abaixo da outra para facilitar a visualização do que é semelhante e diferente. Observe que as classes gramaticais aparecem nesta atividade e a criança já vai se familiarizando com esta composição. 252 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Perceber a palavra é também destacar as “palavras escondidas” em sua estrutura, percebendo que uma palavra pode ser formada por mais de uma palavra apresentando um significado diferente daquelas que a compõe. Por exemplo: em “sapato” temos as palavras “sapa” e “pato”; em “soldado” temos as palavras “sol” e “dado”; em “camaleão” temos as palavras “cama” e “leão”. Essa é uma atividade bem divertida para as crianças, pois se torna um desafio, um mistério a ser desvendado; para ter ideia de como essa atividade pode ser realizada, acompanhe a figura 55. Figura 55- Desafio: descobrindo palavras Palavra dentro de palavra Meta do jogo: • ganha o jogo quem formar mais pares de palavras usando as fichas que recebeu. • Jogadores: 2, 3 ou 4 jogadores ou grupos. Componentes: • 12 fichas de cor azul: contendo as figuras e as palavras correspondentes. • 12 fichas de cor vermelha:contendo figuras cujos nomes se encontram dentro das palavras das fichas azuis. Regras: • As 12 fichas de cor vermelha são distribuídas igualmente entre os jogadores. • As fichas de cor azul devem ficar em um monte, viradas para baixo, no meio da mesa. • Decide-se quem iniciará o jogo e a ordem das jogadas. • Dado o sinal de início do jogo, o primeiro jogador deve desvirar uma ficha do monte e verificar quais, entre as suas fichas vermelhas, apresenta, “a palavra dentro da palavra” da ficha azul que foi desvirada. Caso encontre um par, o jogador deve baixá-lo sobre a mesa; se nenhuma de suas fichas vermelhas tiver uma “palavra dentro da palavra” que foi desvirada, ou o jogador não perceber o par, ela é colocada no final do monte e o jogo continua. • ganha o jogo quem se livrar das suas cartelas primeiro. Repertório de palavras usados no jogo: Mamão – mão; casa – asa; lampião – pião; luva – uva; sacola – cola; fivela – vela; galho – alho; sapato – pato; galinha – linha; tucano – cano; repolho – olho; soldado – dado. Fonte: adaptada de Brandão et.al. (2009, p. 72 - 73). 253 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA RIMAS E ALITERAÇÕES As rimas e as aliterações são dimensões da CF essenciais para a aprendizagem da leitura e escrita. Rimas e aliterações são facilmente percebidas pelas crianças e os jogos com rimas são uma excelente iniciação à CF. Por direcionar a atenção das crianças às semelhanças e diferenças entre os sons das palavras, o jogo com rimas é uma forma útil de alertá-las para a ideia de que a língua não tem apenas significado e mensagem, mas também uma forma física (ADAMS, e.t al., 2006, p. 51). Segundo Zorzi (2003), a sensibilidade à rima implica uma capacidade para detectar estruturas sonoras semelhantes em diferentes palavras. Segundo o autor, a noção de rima auxilia no desenvolvimento da CF e consequentemente na aprendizagem da leitura. Já as aliterações são mais facilmente percebidas quando é solicitado pronunciar uma palavra que inicie com a mesma sílaba, mas identificar o fonema inicial é mais difícil (MORAIS, 2004, p. 187). Observe o exemplo a seguir: 1. Aliteração com base na sílaba– Palavra estí- mulo - Pipoca; palavra produzida – Pipa. 2. Aliteração com base no fonema– Palavra estí- mulo – Boneca; palavra produzida – Batata. 254 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Uma forma lúdica, atrativa e cativante para trabalhar a CF são textos que exploram rimas e aliterações, como: cantigas, parlendas, trava-línguas, poemas, quadras e canções. Segundo Morais (2019), os trava-línguas são textos marcados por aliterações e repetições de palavras; esses textos são desafiadores e divertidos, pois realmente travam a língua. Alguns são curtinho e sem sentido e outros envolvem mais frases, veja: 1. O peito do pé do pai do padre Pedro é preto. 2. O rato roeu a roupa do rei de Roma E a rainha, de raiva, rasgou o resto. As parlendas, por sua vez, são brincadeiras com as palavras e são ricas em rimas; envolvem diferentes temáticas e finalidades - existem parlendas para ensinar coisas, para decidir quem começa uma brincadeira, para cantar enquanto brinca (Morais, 2019). Também temos as cantigas populares que, inclusive, podem variar bastante. Existem cantigas de ninar, de roda e cirandas infantis. Essas cantigas são transmitidas de geração para geração, elas tendem a não ser muito longas, contêm muitas rimas e refrãos. Além de serem facilmente memorizadas, 255 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA propiciam brincadeiras em que os participantes repetem certos gestos (rodopios, cumprimentos, palmas) quando alguns versos são recitados. Numa família com bisavós e bisnetos, certamente todos, em algum momento, já brincaram com uma cantiga. Para ver exemplos de parlenda e cantiga popular, confira a figura 56: Figura 56- Parlenda e cantiga popular PARLENDA CANTIGA Hoje é domingo, pé de cachimbo O cachimbo é de ouro, bate no touro. O touro é valente, bate na gente. A gente é fraco, cai no buraco. O buraco é fundo, acabou-se o mundo. A canoa virou pois deixaram virar, foi por causa de [fulana/o], que não soube remar. Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar, eu tirava [fulana/o] do fundo do mar. Siri pra cá, Siri pra lá, [fulana/o] é bela (o) E quer casar. Fonte: adaptada de Morais (2019, p. 159 – 161). Ainda sobre essas atividades que prendem a atenção das crianças e que sejam úteis para o ensino infantil, temos a sugestão de jogos com rimas. As rimas, em geral, são uma ótima ferramenta para ensinar esse público que gosta de novidade e de uma aprendizagem lúdica. Abaixo segue um exemplo de atividade envolvendo rimas. Confira a figura 57: 256 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Figura 57- Caça - rimas Palavra dentro de palavra Meta do jogo: • Vence o jogo quem localizar corretamente mais figuras cujas palavras rimam com os nomes das figuras que estão numa cartela. • Jogadores: 4 ou duplas Componentes: • 4 cartelas iguais com 20 figuras. • 20 fichas pequenas com uma figura em cada. Regras: • Cada jogador recebe uma cartela. • As 20 fichas de figuras são distribuídas igualmente entre os jogadores (cinco fichas para cada jogador). • Dado o sinal de início do jogo, cada jogador deve localizar, o mais rápido possível, na sua cartela, as figuras cujas palavras rimam com as fichas que estão em suas mãos. Cada ficha deve ser colocada em cima da figura correspondente na cartela. • O jogo é finalizado quando o primeiro jogador encontrar o par de todas as fichas que recebeu. Este jogador deve gritar “parou” e todos devem contar quantas fichas foram colocadas corretamente por cada jogador. Repertório de palavras usados no jogo: Avião – leão; rato – gato; faca – vaca; jarro – carro; mamadeira – cadeira; chupeta – borboleta; dinheiro – brigadeiro; garrafa – girafa; ovelha – abelha; rainha – galinha; dente – presente; piscina – buzina; vassoura – tesoura; mola – bola; tijolo – bolo; anel – pincel; barriga – formiga; roda – corda; laço – palhaço; luva – chuva. Fonte: adaptada de Brandão et.al. (2009, p. 40 e 41). A SÍLABA Depois que os alunos entenderam que as frases são formadas por palavras, deverão aprender que as palavras são compostas por sequências menores, as sílabas. A identificação das sílabas orais são facilmente percebida por crianças nos níveis silábico, silábico-alfabético e alfabético com excelente capacidade de refletir sobre a sílabas iniciais das palavras, mas o mesmo não acontece com o nível pré-silábico (MORAIS, 2004, p. 188). 257 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA As sílabas escritas, ao contrário das sílabas orais, não são tão fáceis de serem percebidas. No início do processo de alfabetização, o alfabetizando já consegue contar, oralmente, a quantidade de sílabas de uma palavra, principalmente a criança que se encontra no nível silábico. Essa criança, no entanto, entende que cada projeção de som equivale a uma letra, por isso, agora precisa compreender como as sílabas são constituídas. Esse é um momento importante na compreensão da escrita, como comenta Magda Soares (2018, p. 187): O passo inicial da fonetização da escrita é a escrita silábica: capaz de recortar oralmente a palavra em sílabas, e já compreendendo que a escrita representa os sons das palavras, e que estes são representados por letras, a criança começa a escrever silabicamente – a usar as letras para representar os recortes orais que identifica nas palavras: neste momento inicial, as sílabas. A criança que está no nível silábico, ou seja, no processo de fonetização, precisa compreender que a quantidade de sílabas (de vezes que abre a boca para pronunciar as palavras) é diferente da quantidade de letras usadas para escrever a palavra. Quando a criança é incentivada a esse exercício de metacognição, começa a refletir sobre sua hipótese e avança na compreensão do SEA. É importante compreender que as sílabas são unidades fonológicas constituídas por uma margem esquerda ou ataque silábico,um 258 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO núcleo vocálico e uma margem direita ou coda (CASTILHO, 2019, p. 50). Esta é a estrutura da sílaba. Confira a figura 58: Figura 58- estrutura da sílaba Fonte: adaptada de Castilho (2019, p. 50). Uma sílaba pode não conter todos os elementos, mas, obrigatoriamente, toda sílaba tem uma vogal que é o seu núcleo, por isso existem sílabas com apenas a vogal, mas sílabas somente com consoante não é possível na nossa língua. Há muitas combinações de sílabas, e as crianças precisam familiarizar-se com as diferentes composições silábicas. As mais comuns na língua portuguesa são as sílabas canônicas de combinação CV (consoante/vogal) – como em: macaco – ma-ca-co. Mas a criança também deve ter contato com outras formações silábicas, como: V, (a-ve); 259 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA CCV, (tra-po); CVV (mau); CVC (pan- da); VC (on-ça); VCC (ins-cre-ver); CCVCC (trans-por-te). Diferentemente das palavras, as sílabas não têm significado, por isso as crianças podem nunca ter analisado ou refletido sobre elas. As sílabas podem ser ouvidas e sentidas: elas correspondem às pulsações de som da voz, bem como aos ciclos de abertura e fechamento das mandíbulas (ADAMS, et.al., 2006, p. 77). Uma forma de identificar as sílabas é o trabalho com o próprio nome das crianças. Quando a professora explora a chamada dos nomes em sala, ela está oportunizando que as crianças entrem em contato com uma variedade de informações linguísticas. Entrar em contato com a escrita dos nomes ajuda na percepção visual da escrita, ajudando, não somente na observação das sílabas, mas também dos fonemas. As crianças também irão perceber que diferentes nomes podem ter a mesma quantidade de sílabas. Atividades lúdicas, brincadeiras e jogos são bem significativas para a percepção dos elementos que compõem a palavra. Na alfabetização, os jogos podem ser aliados poderosos para o aluno refletir sobre a escrita, sem precisar fazer exercícios enfadonhos e sem sentido (BRANDÃO, 2009, p. 13). O jogo favorece e consolida o aprendizado do 260 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO funcionamento do SEA. A seguir, por meio da figura 59, confira uma sugestão de jogo: Figura 59- Atividade para o desenvolvimento da consciência silábica Pensar sobre as sílabas Na primeira coluna, deve ficar uma imagem. Na segunda coluna, a escrita da palavra. Na terceira coluna, a criança deve identificar quantas vezes abre a boca para pronunciar a palavra, ou seja, a quantidade de sílabas. Na última coluna, deve escrever a quantidade de letras necessárias para escrever a palavra. Esta atividade é interessante para a criança que está no nível silábico, pois irá repensar sua hipótese avançando na compreensão do SEA. Fonte: elaborada pela autora. Ainda sobre desenvolvimento de consciência silábica, poderíamos seguir a sugestão de Adams et. al. (2006, p. 80) descrita por meio da figura 60. Como forma de exercitar essa 261 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA consciência, os autores sugerem alguns jogos; separamos dois deles como exemplo, acompanhe: Figura 60- Jogos para desenvolvimento da consciência silábica Jogo 1 - Pegue uma coisa na caixa 1. Junte uma série de objetos em uma caixa ou em um cesto. 2. Certifique-se de que haja objetos que se distinguem por terem diferentes números de sílabas, por exemplo, va-ca (2), lá-pis (2), ca-va-lo (3), bor-bo-le-ta (4). 3. Convide um aluno a fechar os olhos, escolher um objeto e nomeá-lo (por exemplo, “isto é um lápis”). Todas as crianças devem repetir o nome do objeto escolhido enquanto acompanham suas sílabas com palmas, lá-pis. 4. Pergunte quantas sílabas foram ouvidas. 5. Podem ser feitos movimentos físicos no lugar de palmas, como: balançar a cabeça, marcar com os pés ou balançar o tronco corpo. Jogo 2 - Escutar primeiro, olhar depois Este jogo requer um conjunto de figuras, cada uma mostrando um objeto familiar. Escolha figuras de objetos que tenham nomes com diferentes números de sílabas – por exemplo, computador (4), telefone (4), boneca (3) casa (2). Mostre seu conjunto de figuras e explique que dirá o nome de cada uma, mas de forma muito estranha – uma sílaba de cada vez. faça com que as crianças escutem com atenção e descubram o nome de cada objeto citado. Ao citar cada figura, fale em tom monocórdio (mesmo tom, sem alteração) e faça uma pausa clara entre cada sílaba. Quando as crianças descobrirem cada palavra, levante a figura e faça-as repetir a palavra, tanto na forma normal, como sílaba por sílaba. Fonte: adaptada de Adams et. al. (2006, p. 80 – 84). Por fim, para elucidar a nossa compreensão sobre como levar os alunos a praticarem tal teoria, sugerimos este dois últimos jogos. Dessa vez poderemos enfatizar a formação de palavras por 262 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO meio de suas respectivas sílabas. Essa é uma mecânica que ajudará o aluno a desenvolver de forma prática a sua consciência silábica. Acompanhe essas sugestões por meio da figura 61 a seguir: Figura 61- As sílabas e a formação de palavras Jogo 1 - Jogo de sílabas Componentes: • Caixas de fósforo com figuras na parte de cima; • Sílabas correspondentes a cada figura dentro da caixa; • Palavra completa escrita no fundo da “gaveta” da caixa de fósforo; Para jogar: Este jogo pode ser individual. A criança escolhe uma caixa, retira as sílabas e monta a palavra que a se refere a figura na parte de cima da caixa. Após montar a palavra, a criança confere, no fundo da “gaveta” da caixa, se as sílabas foram organizadas corretamente para a formação da palavra (ver na imagem). Jogo 2 - Encaixe de sílabas Componentes: • O jogo deve ser composto de fichas com imagens e palavras de 3 ou mais sílabas. • As fichas devem ser recortadas em “pedaços”, de acordo com a quantidade de sílabas que contém a palavra da imagem correspondente. Para jogar: Colocar todas as fichas viradas para baixo, como no jogo de memória. O primeiro jogador vira duas fichas. Se pertencerem à mesma imagem, deve pegar para si. Caso tenha errado, passa a vez para o próximo jogador. Depois que cada jogador conseguir acertar duas fichas, na próxima jogada deve virar apenas uma ficha para ver se completa a imagem. Fonte: elaborada pela autora. 263 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA CONSCIÊNCIA FONÊMICA Depois que a criança percebe a palavra e a sílaba, é necessário identificar e reconhecer os fonemas. Consciência fonêmica é o conhecimento consciente das menores unidades fonológicas da fala (fonemas) e a capacidade de manipulá-los intencionalmente (BRASIL, 2019, p. 33). Palavras e sílabas são facilmente percebidas na oralidade, mas a percepção dos fonemas não é espontânea. Os fonemas não são audíveis e nem observáveis diretamente, são a unidade mínima da estrutura fonológica e, embora portadora de significados, por si mesmo não tem significado (CASTILHO, p. 48). São difíceis de serem percebidos, pois, ao contrário das sílabas, não são segmentados na fala. É necessária a intervenção do professor conduzindo atividades apropriadas para o alfabetizando perceber essas unidades sonoras. Uma unidade sonora é identificada como fonema não por se distinguir como um segmento isolável de seu contexto linguístico (da cadeia sonora da palavra), mas por estar em oposição a outras unidades sonoras que ocorrem em um mesmo contexto linguístico produzindo significados diferentes: identificamos /p/ e /b/ como fonemas porque distinguimos pata de bata; identificamos /c/ e /g/ como fonemas porque distinguimos fica de figa (SOARES, 2018, p. 195). 264 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO SAIBA MAIS Na literatura, os fonemas são representados entre barras inclinadas “/ /” (CASTILHO, 2019, p. 48), assim podemos entender que aquele que escreve refere-se ao “som” de determinada letra. Para conhecer melhor como os fone- mas são representados, veja o Alfabeto fonético interna- cional (AFI), que é um sistema de notação fonética.Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/escolar-espanhol/transcricao-fonetica-do-por- tugues/. Acesso em: 23 mar. 2022. A identificação da consoante depende da vogal a que está associada, ou seja, uma consoante sempre apoia- se numa vogal para que possa ser distinguida. Sendo assim, percebe-se os fonemas implicitamente, mas não são reconhecidos explicitamente. No entanto, a compreensão da sensibilidade ao fonema só se dá no nível silábico – alfabético (MORAIS, 2004, p. 188). Os fonemas, além de serem as menores unidades da língua, são mais difíceis de serem percebido, porque não possuem significados em si mesmos. Por isso, crianças que estão no nível pré-silábico ainda encontram dificuldade de identificar e perceber os sons das palavras ou segmentá-las em sílabas (SOARES, 2018, p. 187). https://michaelis.uol.com.br/escolar-espanhol/transcricao-fonetica-do-portugues/ 265 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA A transição da consciência silábica para a fonêmica segue uma rota diferente. Primeiro a criança apoia-se na oralidade para perceber a palavra fonológica de sua segmentação em sílabas e, depois, compreende a representação dos sons na escrita. A propósito, para atingir a representação fonêmica, constitutiva da escrita alfabética, a direção é outra: é a escrita que suscita a consciência fonêmica, ao mesmo tempo que esta, por sua vez, impulsiona e facilita a aprendizagem da escrita, na medida em que dirige a atenção do aprendiz para os sons da fala no nível do fonema (SOARES, 2018, p. 205). Segundo a autora, como os fonemas não são pronunciáveis e audíveis, são observáveis ao serem representados pelos grafemas/letras, por isso a importância da compreensão da relação grafema/fonema (SOARES, 2018, p. 2007). Essa habilidade faz parte da faceta linguística da alfabetização e precisa ser ensinada, pois sem orientação ou ajuda, o aprendiz terá dificuldade de compreender as relações entre grafemas e fonemas. Quando a criança aprende a falar, estão envolvidos uma série de automatismos que não exigem uma consciência ativa em termos de processamento sonoros, 266 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO mas o aprendizado da escrita é diferente. Ao escrever uma palavra, a criança trabalha com imagens mentais, mais especificamente, ela deve evocar em sua mente imagens acústicas e articulatórias (ZORZI, 2003, p. 65). Dessa forma será capaz de segmentar a palavra produzindo a escrita, mas este processo deve estar bem claro na mente de quem escreve, pois se não conhecer bem os valores sonoros das letras, as correspondências não poderão ser precisas (ZORZI, 2003, p. 66). Inclusive, os valores sonoros das consoantes, por exemplo, devem ser percebido de acordo com o ponto de articulação que envolve os movimentos dos lábios, língua, dentes e mandíbulas: a. Bilabiais: lábios + lábios para a pronúncia de palavras com: P, B e M - como em: pato, bala, mato; b. Labiodentais: lábios + dentes superiores para a pronúncia de palavras com: F, V - como em: faca, vaca; c. Linguodentais: lábios + dentes superiores para a pronúncia de palavras com: T, D - como em: tatu, dado; 267 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA d. Alveolares: língua + alvéolos dos dentes para a pronúncia de palavras com: S, Z - como em: sapato, zebra; e. Palatais: dorso da língua mais céu da boca para a pronúncia de palavras com: X, G - como em: xícara, girafa; f. Velares: parte superior da língua + palato mole para a pronúncia de palavras com: NH, LH - como em: ninho, lhama; Em relação à produção sonora é necessário que a criança perceba os elementos fonéticos fazendo distinção entre fonemas sonoros e surdos. Nos fonemas sonoros, a glote (espaço entre as cordas vocais) está semifechada, fazendo com que o ar, ao passar, ponha as cordas vocais em vibração (MARTELOTTA, 2008), como em “bode”. Já nos fonemas surdos a glote está aberta, o que faz com que o ar passe sem dificuldade e sem causar a vibração das cordas vocais (MARTELOTTA, 2008), como em “pode”. Essas diferenças devem ser percebidas tanto na fala como na escrita. Para desenvolver a consciência fonêmica, é necessário um ensino intencional e sistematizado, que pode ser 268 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO acompanhado de atividades lúdicas, com o apoio de objetos e melodias (BRASIL, 2019, p. 33). A seguir, algumas atividades que podem ser realizadas com as crianças para o desenvolvimento da consciência fonêmica. Essas atividades devem oportunizar a reflexão da escrita de forma atrativa e significativa. Confira a Figura 62: Figura 62- Identificação de fonemas Identificação de fonemas Disponibilizar para as crianças várias figuras para serem organizadas em grupos. Solicitar à criança que separe dois conjuntos, conforme o som que a palavra representa; por exemplo, o grupo das figuras que tem o som /f/ e o grupo das que tem o som /v/. As figuras podem ser divididas em caixas demarcadas com as letras correspondentes. Em seguida, escrever as palavras tomando como referência o som que elas possuem, e a letra que pode escrever tal som. Levar a criança a identificar o som alvo, em seguida, nomear a letra que deve escrevê-lo. Realizar substituições intencionais: por exemplo, perguntar como ficará a palavra “vela”, se tiramos o som /v/ e, no lugar, colocarmos o com /f/; Levar a criança a segmentar palavras, realizando a produção forçada de fonema por fonema e, em seguida, fazer a correspondência letra a letra, como numa soletração: “Que som que tem, que lera que escreve”. Fonte: adaptada de Zorzi (2003, p. 69). A seguir, apresentaremos uma série de atividades (figuras 63, 64, 65, 66, e 67) que trazem consigo outras atividades sugestivas para que você aplique à sua vida profissional e, podemos dizer, até pessoal, pois o nosso lar é a primeira escola 269 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA que uma criança frequenta e, independentemente da idade, para qualquer pessoa que não seja alfabetizada, essas atividades poderão ser muito úteis. Figura 63- Uso de música Música: O sapo não lava o pé Uma atividade bem divertida para as crianças é cantar a tradicional cantiga: “O sapo não lava o pé”, assim elas perceberão como a mudança de um fonema altera todo o significado: O sapo não lava o pé Não lava porque não quer Ele mora lá na lagoa Não lava o pé porque não quer Mas que chulé! Cantar normalmente a cantiga na primeira vez. Nas próximas vezes, substituir as vogais, primeiro usar somente a vogal “A”, depois a “E” e assim sucessivamente a cantiga utilizando somente a vogal “A”, ficaria assim: A sapa na lava a pá Na lava parca na cá Ala mara lá na lagaa Na lava a pá parcá na cá Mas cá chalá! É interessante fazer a criança analisar quais palavras mudaram o sentido e quais não mudaram. Fonte: elaborada pela autora. Este jogo tem a intenção de levar o aluno a formar palavras por meio da troca de letras, levando em consideração o som 270 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO que cada grafema/letra representa. Assim, o professor poderá reforçar a consciência fonêmica de cada um de seus alunos, levando-os a se familiarizar com cada som e cada letra que formam um vocábulo. Acompanhe na Figura 64 a seguir: Figura 64- Troca de letras Meta do jogo: • ganha o jogo quem acertar a maior quantidade de palavras formadas a partir da troca de letras. • Jogadores: 2, 3 ou 4 grupos. Componentes: • 1 quadro de pregas. • 20 fichas com figuras (10 pares de figuras cujas palavras são semelhantes, com diferença apenas em relação a uma das letras). • ficha com as letras. Regras: • São formados 2, 3 ou 4 grupos e decide-se qual grupo iniciará o jogo. • O desafiador (professor) coloca no quadro de pregas 5 figuras e, ao lado, forma com as fichas das letras as palavras correspondentes a essas figuras, deixando na mesa as demais fichas de letras. • Coloca, em ciam de uma das fichas, outra ficha com uma figura cuja palavra é muito semelhante à palavra representada pela figuraque primeiramente foi colocada (por exemplo, se antes tinha a ficha da figura pato, coloca-se a ficha que tem a figura do rato). • faz o desafio ao grupo que estiver na vez de jogar: “Que letra devo trocar para que a palavra PATO vire RATO?” • O grupo escolhe a letra e a coloca no lugar certo, em cima da letra que precisa ser modificada para formar a nova palavra. • Se o grupo acertar ganha cinco pontos, e o professor prossegue com a equipe seguinte. • O jogo termina quando o desafiador (professor) fizer 8, 9 ou 10 substituições (desafios): 4 grupos, são feitos dois desafios; 3 grupos, são feitos 3 desafios; e 2 grupos, são feitos cinco desafios. Fonte: adaptada de Brandão et.al. (2009, p. 63-64). 271 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA Figura 65- Encontros consonantais Identificação de fonemas Pronuncie uma palavra que comece com uma consoante e use-a em uma frase para ter certeza de que ela é reconhecida (O rato gosta de queijo). faça com que as crianças repitam a palavra e, trabalhando com seus blocos, analisem os fonemas. Convide as crianças para revisarem suas análises, certificando-se de que todas elas dividiram a palavra corretamente: “[r]...[a]...[t]...[o]”. Produza uma nova palavra que comece com um encontro consonantal. A nova palavra deve ser apresentada fonema por fonema (por exemplo, “[p]...[r]... [a]... [t]... [o]”). O deságio para as crianças é modificar a sequência de seus blocos para representar essa nova palavra com mais fonemas. Enquanto apontam para seus respectivos blocos elas devem repetir os fones várias vezes, e cada vez mais rápido, em sequência, como aprenderam a fazer nos jogos anteriores. Quando tiverem conseguido combinar os fonemas e reconhecer sua palavra, devem levantar a mão e se preparar para usá-la em um frase. Em função da dificuldade especial de entender a natureza dos encontros consonantais, os membros de cada par devem ser revisados e comparados explicitamente antes de se avançar. Isso deve ser feito retirando-se e substituindo-se repetidas vezes o bloco mais à esquerda, enquanto as duas palavras são pronunciadas no momento certo: “rato... prato... rato... prato...rato... prato...rato”. Fonte: adaptada de Adams et. al. (2006, p.112-113). Figura 66- Reconhecimento de fonemas Atividade 1- Adivinhe o fonema O jogo consiste em figuras com a respectiva palavra escrita e recortadas coladas em prendedores de roupa. Deve estar faltando uma das letras/fonema. A criança deve dizer qual o nome da letra que está faltando e seu respectivo fone. Para confirmar se acertou, aperta o prendedor certificando se sua resposta foi correta. 272 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Atividade 2- Varal de letras Cartela com imagem e espaços abaixo equivalente à quantidade de letras. Este é um recurso diferente para escrever as palavras. É interessante que os espaços devem ser preenchidos, portanto, um conflito para as crianças na fase silábica e silábica-alfabética. Fonte: elaborada pela autora. Figura 67- Reconhecimento audível dos fonemas Sussurrofone Objeto confeccionado com cano/joelho de PVC imitando um telefone. Recurso muito utilizado nas escolas para as crianças ouvirem a própria voz ao pronunciar as palavras. É usado como se fosse um telefone convencional: uma dos lados no ouvido e o outro na altura da boca. Pode ser utilizado no momento de um ditado, por exemplo. A criança pode falar baixinho (por isso o nome sussurrofone) a palavra que ela mesma falou para perceber o som dos fonemas. Fonte: elaborada pela autora. As atividades e jogos são inumeráveis; há uma vastidão deles. Portanto, cabe aqui a sugestão de que você pesquise mais ainda em livros ou na internet. Assim fazendo você vai ter à sua disposição várias maneiras de ensinar conteúdos diversos aos seus futuros alunos; a prática da constante pesquisa nos faz melhorar profissionalmente, pois nos torna profissionais 273 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA diferenciados com um olhar a mais sobre os processos que envolvem nosso trabalho. Essa diferença se dar por causa do interesse em buscar novidades e inovação. As escolas de hoje em dia precisam de educadores a cada dia mais preocupados em ensinar com qualidade. Bons estudos CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo avaliamos a importância de conhecer a especificidade da língua no processo de alfabetização. Como vimos anteriormente, compreender o uso e a função da escrita é o primeiro passo para pertencer ao mundo letrado, mas refletir sobre a estrutura da língua escrita é a concretização da trajetória da alfabetização. Por isso este conteúdo teve como foco a formação da consciência fonológica, pois faz parte da compreensão do sistema de escrita alfabético como sistema notacional. Para que a criança se aproprie da leitura e da escrita, essas habilidades e conceitos devem ser construídos a partir de uma conduta de reflexão sobre a linguagem. Sendo assim, a criança precisa compreender que a frase é segmentada em 274 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO palavras; o que só pode ser percebido na escrita, pois na língua oral não há segmentação de palavras. Também precisa desenvolver a consciência silábica, ou seja, compreender que as palavras são segmentadas em parte menores, as sílabas. Por fim, precisa perceber que as sílabas são segmentadas em fonemas. ao contrário das sílabas, os fonemas são mais difíceis de serem percebidos, por isso a importância de o professor intervir neste processo. Portanto, esses conceitos não são aprendidos de forma espontânea, mas precisam ser ensinados sistematicamente para o alfabetizando construir a relação grafema/fonema e apropriar-se da língua escrita. Para isso é necessário que o professor tenha um conhecimento de como a língua funciona e como a criança aprende podendo escolher as intervenções adequadas para o aprendizado efetivo da língua. A escrita não é simplesmente o domínio de um código por meio de atividades mecânicas, mas um processo mental e cognitivo de construção da linguagem. Portanto, concluímos que o desenvolvimento da consciência fonológica, além de contribuir, é um pilar para uma alfabetização efetiva quando esse processo é construído sob a perspectiva do letramento, pois alfabetização e letramento são processo indissociáveis. 275 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA RESUMO Nesta unidade, aprendemos que: • O aprendizado do Sistema de escrita alfabético (SEA) acontece num processo de reflexão da língua, ou seja, é reconstruído pela criança, não é simplesmente memorizado ou adquirido como um acúmulo de informações; • A escrita alfabética é vista como um sistema notacional, pelo qual o aprendiz precisa construir em sua mente as propriedades necessárias para o aprendizado da leitura e escrita. A criança passa por um processo de reconstrução da história da escrita compreendendo como funciona o SEA; • O desenvolvimento da CF é o caminho para a compreensão do princípio alfabético fortalecendo a alfabetização, pois esse aprendizado acontece mediante ações cognitivas de reflexão fonológica da língua. É um conjunto de habilidades que permite a observação da língua segmentando a cadeia sonora para analisar seus elementos: palavra, sílabas e fonemas; • As atividades metalinguísticas possibilitam o pensar sobre a língua para melhor compreensão do SEA. Uma dessas capacidades é a consciência da palavra ou lexical, permitindo 276 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO a percepção das unidades que compõem a frase. Essa habilidade não é observável na fala, por isso é preciso vivenciar com a escrita para perceber a segmentação no texto; • As rimas e as aliterações são conceitos importantes na formação da CF. Como são fáceis de serem percebidas, direcionam a atenção das crianças para as semelhanças e diferenças entre os sons das palavras. É uma forma das crianças perceberem que, além de significados, as palavras também têm uma forma física; • A consciência silábica é a percepçãoda menor unidade da fala, por isso é facilmente percebida na língua oral. Quando a criança começa a perceber a segmentação silábica das palavras, dá um passo importante para a aprendizagem da escrita, é o início da fonetização da escrita; é a capacidade de recortar as palavras em sílabas; • A consciência fonêmica é o conhecimento das menores unidades fonológicas, mas diferente das sílabas, os fonemas não são tão simples de serem percebidos, por isso devem ser ensinados. Eles são difíceis de serem percebidos, pois, diferentemente das sílabas, não são segmentados na fala, por isso a percepção dos fonemas não é espontânea. 277 ALfABETIzAçãO: ESTUDO DA ESPECIfICIDADE DA LíNgUA REFERÊNCIAS ADAMS, M. J.; FOORMAN, B. 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Alfabetização: a história sobre como ensinar a ler e a escrever Introdução Alfabetização: conhecendo a história da escrita ao longo dos tempos Conceito de alfabetização Métodos sintéticos Método alfabético Método fônico Método silábico Métodos analíticos de alfabetização Método da palavração Método da sentenciação Método do conto A didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita Considerações finais Referências Como a criança aprende a escrever e ler Introdução A ressignificação do ensino da leitura e da escrita Psicogênese da língua escrita Definindo psicogênese da língua escrita Níveis da psicogênese da alfabetização Procedimentos para classificação dos níveis psicogenéticos Nível silábico Nível alfabético Processos de construção da linguagem escrita Considerações finais Referências Letramento: o sentido de aprender e ensinar a ler e a escrever Introdução Letramento: conceito Diferenciando letramento O letramento na escola Letramento: BNCC e PNA Considerações finais Referências Alfabetizar letrando: o texto na sala de aula Introdução Alfabetizar letrando: centralidade do texto Produção escrita a partir do texto Letramento literário Estágios psicológicos da criança Proposta didática com literatura infantil Letramento: um conceito plural Considerações finais Referências Alfabetização: estudo da especificidade da língua Introdução Consciência fonológica Conceito de palavra Rimas e aliterações A sílaba Consciência fonêmica Considerações finais Referências Botão 16: Botão 17: Botão 18:
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