Buscar

84 Compilado P1 Consumidor

Prévia do material em texto

2
O inciso VII prevê que é direito básico do consumidor o acesso aos órgãos judiciais ou administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica administrativa e técnica aos necessitados, o que convoca automaticamente a atuação da defensoria pública, na garantia não só de acesso ao poder judiciário, mas a garantia de acesso à uma ordem jurídica justa, nesse sentido vale a pena mencionar também a importância paradigmática dos juizados especiais cíveis e das relações de consumo, bem como o acesso aos órgãos administrativos de proteção ao consumidor, como são os Procons e como deveriam ser as agências reguladoras, por exemplo, a Anatel, Anel, da MS, que apesar de estarem com uma atuação um pouco tímida, também têm responsabilidade no acautelamento do interesse do consumidor.
O inciso VIII prevê que é direito básico a facilitação da defesa dos seus direitos, inclusive com a inversão do ônus prova em seu favor no processo civil quando a critério do juiz for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente segundo as regras extraordinárias de experiência.
O CDC prevê a facilitação da defesa dos direitos do consumidor, isso se aplica em ação individual e coletiva, um dos principais instrumentos a viabilizar a facilitação da defesa dos direitos do consumidor é a inversão do ônus da prova o que é, portanto, é um direito básico do consumidor e por isso ela não dar-se ope legis, ou seja, ela não dar-se a priori por determinação legal, como direito básico do consumidor ela dar-se ope iudicis, que quer dizer que para que a inversão do ônus da prova beneficie o consumidor em uma ação individual ou coletiva é preciso haver decisão judicial nesse sentido, o inciso VIII fixou duas condições para a inversão do ônus da prova, essas condições não são cumulativas, então basta que esteja presente uma dessas condições para que a inversão do ônus da prova seja determinada judicialmente. O primeiro é a verossimilhança da alegação, ou seja, a pertinência do que o consumidor sustenta com a realidade dos mundos reais, a realidade dos fatos, isso é o critério da verossimilhança. O segundo é a hipossuficiência, hipossuficiência não é a mesma coisa de vulnerabilidade, vulnerabilidade é um pressuposto do consumidor e é uma característica de cunho material, a hipossuficiência por outro lado é uma versão processual da vulnerabilidade, a hipossuficiência é uma fragilidade, uma fraqueza, uma dificuldade do consumidor no processo civil de demonstrar ou sustentar a sua alegação, então para que o juiz inverta o ônus da prova é suficiente a presença da verossimilhança ou da hipossuficiência, de novo, o direito básico do consumidor à inversão do ônus da prova depende de decisão judicial, veremos ao longo da disciplina que há situações em que o próprio CDC determinou o ônus da prova, ou seja, fixou as condições dentro das quais determinadas circunstâncias devem ser comprovadas no processo civil, aqui como direito básico do consumidor a inversão do ônus da prova depende de decisão judicial.
Temos uma controvérsia que foi bastante comum no âmbito do Superior Tribunal de Justiça sobre a natureza da decisão que inverte o ônus da prova, com a edição Código de Processo Civil de 2015 não restou mais dúvidas, a inversão do ônus da prova é uma regra de procedimento, é uma regra de instrução, então o momento oportuno para inversão do ônus da prova não é quando o juiz vai proferir a sentença, é no despacho saneador, é no saneamento que é o momento oportuno para inversão do ônus da prova, algo importante sobre isso é que o juiz precisa inverter o ônus da prova mediante decisão fundamentada, pontuando os fatos sobre os quais haverá a inversão, para que o fornecedor, a parte adversa consiga provas, consiga no curso da instrução processual demonstrar, promover as diligências, tomar as providências necessárias para a sua melhor defesa, então a inversão do ônus da prova é um direito básico do consumidor e depende de decisão judicial, essa decisão judicial vai apreciar os critérios de verossimilhança ou hipossuficiência e a presença de um dos dois critérios é o suficiente para que o juiz inverta o ônus da prova, a inversão do ônus da prova é uma regra de procedimento e não uma regra de julgamento, de modo que o momento oportuno para a decisão sobre a inversão do ônus da prova é o despacho saneador.
O inciso IX ele foi vetado, mas fiz questão de transcrevê-lo aqui para vermos que foi um veto absolutamente inócuo, porque o dispositivo previa que é direito básico do consumidor a participação dos consumidores na formulação de políticas que o afetem e isso é uma decorrência do princípio democrático, então se nós somos os beneficiários da norma jurídica, nada mais razoável que nós sejamos envolvidos no processo de tomada de decisão.
O ultimo inciso desse artigo 6º é o inciso X que prevê que é direito básico do consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, quando falávamos de relação jurídica de consumo, nós levamos um tempinho discutindo o que poderia ser objeto das relações de consumo, produtos e serviços, então nós vimos que alguns serviços públicos estão submetidos ao CDC que são os serviços públicos individualizáveis, os serviços públicos singulares, que são aqueles remunerados por tarifas, são os serviços públicos explorados por concessão ou por meio de permissão pela iniciativa privada, esses serviços públicos individualizáveis que estão submetidos às normas do CDC como distribuição de energia elétrica, água e telefonia, esses serviços públicos devem ser adequados e seguros e os essenciais devem ser contínuos.
Esse inciso X prevê que é direito básico do consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, isso significa dizer que os serviços públicos que são fornecidos por concessionárias e, portanto, são individualizáveis e remunerados por tarifas estão submetidos ao CDC, o artigo 22 do CDC menciona que os serviços públicos devem ser adequados, seguros, eficazes e os essenciais devem ser contínuos, nesse sentido para dar densidade ao inciso X é que se contempla a importância das agências reguladoras, a Anatel, Anel, Ans, elas têm um poder normativo de conformar a atuação dessas concessionárias, então quanto mais essas agências reguladoras estiverem compromissadas com a defesa do consumidor maior é a probabilidade desses serviços públicos atenderem a essas normas previstas no inciso X, lembrem-se que serviços prestados a partir de contratos de trabalho a eles não se aplicam o CDC, mas a CLT.
O parágrafo único do artigo 6º foi alterado em 2015 e que diz o que é óbvio e a gente precisa repetir sempre, existem consumidores que são pessoas com deficiências e essas pessoas têm o mesmo direito básico das demais, então quando o inciso III, do artigo 6º prevê que é direito básico do consumidor a informação clara e adequada, esse inciso III também se aplica, obviamente, aos consumidores com deficiência, então se o consumidor tem deficiência visual ou auditiva ou qualquer que seja, é obrigação do fornecedor disponibilizar informações que sejam adequadas, considerando a deficiência daquele consumidor, é exatamente o que está previsto no parágrafo único do artigo 6º que foi inserido pela lei 3.146, que é o Estatuto da Pessoa com Deficiência, então essa informação adequada e clara deve ser adequada e clara inclusive e especialmente ao consumidor com deficiência, o que é um caos. 
No parágrafo único do artigo 7º prevê a regra da solidariedade, ele diz que tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. Em regra, as demandas contra os consumidores são demandas que podem atingir toda a cadeia de fornecimento, então aos consumidores é conferida a possibilidade de ajuizar medidas judiciais contra todos os fornecedores que estiverem na cadeia de responsabilidade, que foi, no final das contas, a cadeia que propiciou a colocação do produto/serviço no mercadode consumo, então veremos que existem exceções a regra da solidariedade, mas essa solidariedade inclusive facilita a defesa do consumidor, porque algumas vezes é muito difícil para o consumidor identificar, por exemplo, quem foi a montadora, ou quem foi o produtor daquele bem, então quanto mais agentes da cadeia de fornecimento puderem ser contemplados, maior é a probabilidade de garantia de reparação integral de danos sofridos pelo consumidor, e essa regra da solidariedade se aplica tanto nas demandas individuais, quanto nas demandas coletivas. 
 
Aula 06 – Dia 14/09
Artigo 8º do CDC prevê a obrigação dos fornecedores colocarem no mercado de consumo produtos e serviços que não violem os direitos básicos do consumidor à saúde e segurança, vimos na semana passada que entre os direitos básicos do consumidor, do artigo 6º, está a proteção de sua vida, saúde e segurança, vimos também que o fornecedor quando se lança no mercado de consumo, esse fornecedor tem obrigação de qualidade, ou seja, os produtos/serviços colocados no mercado de consumo devem ser seguros e adequados, quer dizer que o dever de qualidade gera para o fornecedor o dever de qualidade segurança e qualidade adequação, quer dizer que esses produtos e serviços devem ser seguros, não podem colocar em risco a saúde e segurança dos consumidores de maneira que a violação desse dever de qualidade segurança pode gerar responsabilidade do fornecedor e esse dever de qualidade também diz respeito à qualidade adequação, a violação desse dever de qualidade adequação implica na possível responsabilidade do fornecedor, então vejam que há uma interface, uma correlação entre o artigo 6º do CDC e esse artigo 8º, o dispositivo tem a seguinte redação: Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretaram riscos à saúde e segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição obrigando os seus fornecedores em qualquer hipótese a darem as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
A determinação primeira desse artigo é que produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde e segurança dos consumidores, então há aqui um dever de não se violar esse direito básico que é a saúde e segurança dos consumidores. A determinação é que esses produtos e serviços não acarretarão riscos à saúde e segurança dos consumidores, a não ser os riscos considerados normais e previsíveis, o que vamos discutir hoje é justamente esse conceito do que é normal e o que pode ser considerado previsível, em decorrência de sua natureza e fruição, isso quer dizer que a depender de suas especificidades do escopo de existência daquele produto ou serviço algum nível de insegurança é permitido, por conta das características do bem em si, o fato é que tendo em vista esses riscos, em qualquer hipótese o fornecedor tem obrigação de informar o consumidor de maneira adequada a respeito desses riscos, lembrem que o direito básico do consumidor à informação está previsto também lá no artigo 6º do CDC.
O que eu quero dizer com riscos normais e previsíveis? Isso depende do próprio escopo do produto, quando você compra uma faca, o que você espera de uma faca? Que ela corte, então se você manipular a faca com falta de atenção é possível que você corte a cabeça do seu dedo enquanto você corta uma carne se você não manuseá-la com um mínimo de cuidado, um mínimo de cautela. Então cortar seu dedo com o manuseio de uma faca é diferente de você cortar fora a cabeça do seu dedo quando você vai rebater o banco de um veiculo, ou então quando você vai abrir uma lata de extrato de tomate, quem vai abrir uma lata de extrato de tomate para fazer uma comida, cheio de cautela e vai imaginar que está correndo o risco de cortar fora a cabeça do seu dedo.
Então é normal e previsível que uma faca corte, agora não é normal e nem previsível que você tenha cortada fora a cabeça do seu dedo porque você vai manipular uma lata de extrato de tomate ou porque você foi ajustar o banco de um veículo, então qual é o pressuposto do artigo 8º do CDC? Produtos e serviços não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, esse é o pressuposto. O que o CDC admite? Que produtos e serviços que tenham riscos que sejam normais, é admitida a comercialização, o uso de produtos e serviços cujos riscos sejam normais e previsíveis.

Continue navegando