Buscar

85 Compilado P1 Consumidor

Prévia do material em texto

2
Esse artigo 8º tem relação direta com os direitos básicos do consumidor previstos no artigo 6º, que foi objeto de nossa última aula, então observem que o CDC, na medida em que nós vamos avançando por seus dispositivos ele vai mostrando o encadeamento normativo dispensado para compreensão dos seus dispositivos, agora vamos tentar compreender o que são os riscos normais e previsíveis. Primeiramente o CDC tolera alguns riscos, desde que haja informação ao consumidor, lembrem que a informação além de ser um direito básico do consumidor é um princípio da política nacional das relações de consumo e essa informação sobre os riscos é uma informação que precisa ser ostensiva, gritante e captada pelo consumidor direta e imediatamente sem quaisquer dúvidas a respeito dela, o CDC tutela a informação de maneira tão significativa que ele considera possível inclusive a existência e configuração de um defeito em um produto justamente por falta de informação, então veja, qual é o pressuposto do CDC que produtos e serviços oferecidos no mercado não acarretem riscos à saúde e segurança do consumidor, quais são os riscos tolerados pelo CDC? Aqueles que sejam normais e previsíveis, ou seja, há alguns produtos e serviços cuja própria natureza engendra riscos que lhe são inerentes, há, portanto, um dever de qualidade que eu já mencionei anteriormente, que é anexo à atividade do fornecedor.
Para identificar quais são os riscos que podem ser considerados normais e previsíveis, nós podemos nos beneficiar de dois critérios, o professor Leonardo Garcia apresenta esses critérios em sua obra que está citada aqui nas referências finais desse slide. A normalidade e previsibilidade são verificáveis no caso concreto, então é analisando as circunstâncias do caso concreto que vamos averiguar o nível de segurança e de insegurança daquele produto ou serviço observando a legítima expectativa do consumidor, para ficar no exemplo que dei ainda há pouco, o que você espera de uma faca? Você espera que a faca corte, essa é a legítima expectativa do consumidor. O que você espera do banco de um automóvel? É que ele se mova para adequar as suas necessidades, às vezes você precisa de um pouco mais de espaço no seu veículo e tendo a possibilidade de rebater os bancos traseiros, você espera que os bancos traseiros se movam com tranqüilidade, essa é a legítima expectativa do consumidor, não parece razoável que você, ao manipular os bancos traseiros do automóvel você pensar: Eu preciso manipular isso aqui com cuidado, porque eu posso perder a cabeça do meu dedo, agora você sabe que ao manipular uma faca você ter cautela, porque aí sim tem o risco concreto e previsível de você cortar a cabeça do seu dedo. Então para averiguar quais são esses critérios de normalidade e previsibilidade desses riscos nós vamos nos beneficiar de dois parâmetros, um de cunho objetivo e um de cunho subjetivo.
O critério objetivo para averiguar se um produto ou serviço contempla riscos que sejam normais e previsíveis é a verificação da periculosidade de acordo com o tipo específico de produto ou serviço, é aquela coisa, você espera que uma faca corte, então existe um risco normal e previsível que você se corte com ela, agora você não espera que abrindo uma lata de molho de tomate você tenha seu dedo decepado, então existe por outro lado alguns produtos que têm uma periculosidade que são inerentes a eles, por exemplo, os remédios, você precisa ter uma série de cuidados tanto do armazenamento dessas remédios, quanto ao consumir esses produtos, atendendo às prescrições médicas, observando as prescrições. Existem alguns produtos, portanto, que possuem um nível admitido de periculosidade, a depender do tipo específico do produto. 
O outro critério é subjetivo, então a questão é, será que naquele caso concreto o consumidor tinha condições de prever o risco? Será que naquele contexto, naquela época, estavam disponíveis as informações necessárias para que o consumidor se protegesse de danos à sua saúde e segurança? Então essas são perguntas que irão nortear a nossa averiguação do que é um risco normal e previsível, para nos ajudar um pouco mais eu trouxe aqui o caso da massa de tomate, é um caso super antigo, foi decidido pelo STJ e trata exatamente desse caso, uma pessoa foi abrir uma lata de tomate e teve o dedo decepado, então será que havia informações, por exemplo, na embalagem, de que o consumidor precisava ter uma cautela diferenciada na manipulação do produto? Lembrem que a falta de informação pode implicar responsabilidade do fornecedor, então nesse caso aqui, o ministro relator desse Resp. o ministro Ruy Rosado de Aguiar ponderou que o fabricante de massa de tomate que coloca no mercado um produto acondicionado em latas cuja abertura requer determinados cuidados, sob pena de risco à saúde do consumidor e sem prestar a devida informação deve indenizar os danos materiais e morais daí resultantes, então o ministro não considerou normal e nem previsível, aplicando critérios objetivos e subjetivos, ele verificou que não era razoável, portanto, frustrava a expectativa do consumidor que o consumidor perdesse a cabeça do dedo na tentativa de abrir uma lata de massa de tomate.
Outro caso muito conhecido é o do carro Fox, em 2003 a Volkswagen lançou o Fox, um projeto inovador, trazia várias novidades, era um carro compacto, um ano depois esse carro virou notícia, começaram a surgirem os primeiros relatos de dedos decepados pelo sistema de rebatimento do banco traseiro, o sistema não era fácil de utilizar, uma alça no porta-malas deveria ser puxada para que a trava do banco fosse liberada e permitisse o rebatimento do encosto e do acento, que eram corrediços, então isso permitia uma flexibilidade para os ocupantes ou para a área do porta-malas, os acidentes ocorriam porque essa alça ficava presa em uma argola, e em todos os casos com pessoas feridas ficaram com o dedo preso nessa argola, então a argola puxada com força pelo mecanismo quando destravado acabou decepando parte do dedo de alguns usuários.
Na época a Volkswagen alegou que não precisava recall, que o sistema não apresentava problemas se as instruções de uso fossem seguidas, a marca alegava que os acidentes estavam acontecendo por mau uso do recurso por parte dos consumidores, mesmo assim houve um recall, o então Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor realizou um recall e houve também demanda judicial contra o fabricante, em 2008 a Volkswagen teve que recolher 3 milhões de reais para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, a empresa também realizou um TAC, Termo de Ajustamento de Conduto e por esse TAC se comprometeu a realizar um recall de 477 mil carros Fox, CrossFox e SpaceFox, além de outras 343 mil unidades que foram exportadas, nesse recall a Volkswagen precisou oferecer um anel de borracha que foram fixados sobre a argola onde era fixada a fita que servia para acionar o sistema de rebatimento dos bancos. Assim evitou-se que os usuários colocassem o dedo na argola durante o ajuste dos acentos. 
Aqui nós veremos o §1º do artigo 8º direciona o ônus de disponibilizar informação clara e precisa ao fabricante, lembrem quando estávamos falando da definição de consumidor, fornecedor, produto e serviço, nós vimos que o fornecedor pode ser o fabricante, o comerciante, o produtor, montador, importador, construtor, então são muitos os sujeitos que podem se enquadrar como fornecedor, mas aqui especificamente a obrigação de informar de maneira clara e ostensiva está dirigida ao fabricante no caso de produtos industrializados, o artigo 8º em seu §1º prevê que em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere esse artigo, ou seja, as informações sobre os eventuais riscos daquele produto, e o fabricante deve fazer isso através de impressos apropriados que devem acompanhar os produtos, é por isso que produto industrializado vem com manual de instrução, com manual de uso, com manual de instalação, porque essa obrigação de informar adequada, clara e ostensivamente é dirigidaao fabricante. 
 Se a obrigação de disponibilizar as informações sobre os riscos é de titularidade do fabricante, então a contrário senso nas hipóteses de recondicionamento dos produtos ou no fornecimento de serviços, o encargo pertence respectivamente aos comerciantes e aos prestadores de serviços e poderão se utilizar de qualquer meio informativo para prestar esclarecimento aos consumidores. Isso é super comum, principalmente em produtos, os produtos são comprados em grandes quantidades e vendidos a granel, ou são reembalados pelo comerciante, então nessa hipótese de recondicionamento de produtos, a responsabilidade de informar sobre os seus eventuais riscos é transmitida ao comerciante.
Esse §2º prevê que o fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços ou colocados a disposição do consumidor e informar de maneira ostensiva e adequada quando for o caso sobre o risco de contaminação.
Sobre a higienização isso é super importante especialmente na manipulação de produtos alimentícios, em relação à informação ostensiva sobre risco de contaminação, isso é super importante especialmente para pessoas que são alérgicas ou que tenha a doença celíaca, se vocês observarem nos rótulos de produtos alimentícios têm sempre lá, ou deveriam ter, a informação da possibilidade de contaminação cruzada, como por exemplo, uma máquina não é utilizada exclusivamente para industrializar um mesmo tipo de alimento, se outros produtos são industrializados e passam por aquela máquina específica podem restar traços daquela substância, por exemplo, de ovos, de castanha ou de glúten, então na existência de traços é suficiente para impactar a saúde de pessoas que sejam alérgicas, de pessoas que sejam intolerantes e de pessoas que tenham a doença celíaca, então esse §2º do artigo 8º é bem importante nesse sentido, não apenas para quem manipula diretamente o alimento para servi-lo em bares, restaurantes e lanchonetes que têm essa obrigação de higienizar os equipamentos e utensílios, mas também a obrigação especialmente do fabricante de informar sobre o risco de contaminação especialmente em alimentos ultra processados.
 O artigo 9º do CDC diz o seguinte: o fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde e segurança deverá informar de maneira ostensiva e adequada a respeito da sua nocividade ou periculosidade sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. Aqui o CDC mais uma vez dirigiu a responsabilidade ao fornecedor de maneira geral. o que o artigo 9º contempla é a informação ostensiva e adequada sobre esses riscos como sendo uma obrigação do fornecedor. Uma informação é ostensiva quando ela se exterioriza de forma tão manifesta e translúcida que uma pessoa de mediana inteligência não poderá alegar ignorância ou desinformação. A informação é adequada quando de uma forma apropriada e completa presta todos os esclarecimentos necessários ao uso ou consumo de um produto ou serviço.
A falta de informação ostensiva e adequada sobre os riscos do produto, sobre a possibilidade de aquele produto implicar alguma repercussão negativa para vida, saúde e segurança do consumidor, o descumprimento dessa obrigação tem repercussão penal, o artigo 63 do CDC diz que é crime omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos nas embalagens, invólucros, recipientes ou publicidade. A pena de é de 6 meses a 2 anos e multa e tem a possibilidade de ser crime culposo.

Continue navegando