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86 Compilado P1 Consumidor

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Nós precisamos distinguir, todavia, 3 tipos de periculosidade, a periculosidade inerente, a periculosidade adquirida e a periculosidade exagerada.
A periculosidade inerente é aquela periculosidade que é típica do produto, então as características e funcionalidade do produto é viabilizada justamente em razão desse nível de periculosidade, então essa periculosidade inerente é normal, previsível e não viola a legitima expectativa do consumidor, portanto, um produto que é inerentemente perigoso não é um produto defeituoso e por isso inexiste a possibilidade de indenização na hipótese de um eventual dano, então é aquela coisa, o que você espera de uma faca? Que ela corte. A mesma situação dos remédios, também das bebidas alcoólicas, dos fogos de artifícios, dos agrotóxicos, os serviços de dedetização, então há nesses produtos e serviços uma periculosidade que é típica deles, então essa periculosidade inerente não induz um vício de qualidade, então o produto não tem nenhum tipo de impropriedade em razão de ter essas características de periculosidade inerente, porque a funcionalidade dos produtos e serviços decorre exatamente dessa periculosidade.
É a mesma ideia do cigarro, o cigarro não é um produto defeituoso, mas ele traz em si um perigo elevado à saúde do consumidor. Em um julgado do STJ que debateu sobre essa característica dos cigarros, o ministro relator do REsp, Luis Felipe Salomão, disse de maneira salutar que o cigarro é um produto de periculosidade inerente e não um produto defeituoso nos termos do que preceitua o CDC.
A periculosidade adquirida possibilita um eventual pleito de indenização, porque a periculosidade adquirida implica um reconhecimento de um defeito no produto ou no serviço, a periculosidade adquirida decorre de um defeito, então se o defeito for sanado o produto não apresenta nenhum risco superior ou legitimamente esperado pelo consumidor. Então a periculosidade adquirida que é um defeito pode se dar tanto na fabricação dos bens, como no processo de montagem, no processo de produção, de manipulação, de construção, pode ser também identificado em um processo de concepção do produto, às vezes trata-se de um defeito de designer, um defeito de projeto ou de fórmula, por exemplo, quando se pensa em uma medicação, em uma vacina, ou produto para pele, ou no que quer que seja, essa periculosidade adquirida, esse defeito, também pode ser identificado no momento da comercialização do bem, lembrem que a falta de informação, a ausência de instruções ao consumidor a cerca do uso daquele produto, a cerca de seus principais riscos, podem se caracterizar a responsabilidade em função daquele defeito, então a periculosidade inerente é a periculosidade que é admitida, que ela é típica do produto ou serviço, a periculosidade adquirida ela caracteriza um defeito e, portanto, admite que o consumidor seja indenizado na hipótese de prejuízos decorrentes dessas circunstâncias e a terceira classificação da periculosidade é a chamada periculosidade exagerada que é aquele circunstância que não é afastada mesmo que o consumidor tenha a informação daquele produto ou serviço, então nem toda informação do mundo é capaz de mitigar os riscos que são típicos desses produtos e serviços, é o caso, por exemplo, de algumas substâncias tóxicas, muitas delas até com sua comercialização proibida, que são utilizadas para matar ratos, fazer desentupimentos severos de pias e esgotos, esse tipo de produto é tão perigoso que nem que você tenha toda a cautela e informações, isso não é suficiente para te proteger enquanto consumidor, essa noção de periculosidade exagerada também tem a ver com os produtos e serviços decorrentes de novas tecnologias, a respeito dos quais não temos informações, dados seguros sobre as suas características, sobre os seus eventuais riscos, então é bem importante que a gente tenha essa distinção de periculosidade, porque isso nos ajuda a identificar o que é normal, o que é previsível e quais são os níveis de periculosidade admitidos no ordenamento jurídico brasileiro. 
O recall é super conhecido e é um instrumento de defesa do consumidor, a massificação da produção possibilitou a disponibilização de muitos mais produtos para muito mais pessoas, então os produtos industrializados são produzidos de maneira muito mais rápida, de maneira muito mais barata do que os produtos produzidos de forma manual, qual que é a questão da produção industrializada é que quando há algum tipo de incongruência em uma máquina, por exemplo, não sai só um produto com impropriedades, saem milhares de produtos com impropriedades, basta lembrarmos do Fox que decepava os dedos do povo, não saiu só um produto com aquele defeito, saíram milhares de produtos, então diante desse reconhecimento da falibilidade do processo industrial o CDC disponibilizou um instrumento de proteção do consumidor que é o recall. 
Continua na próxima aula...
COMENTÁRIOS PRÉVIOS
Na semana passada a gente começou a falar de qualidade e segurança de produtos e serviços. A gente viu que a regra no CDC é que produtos e serviços não sejam colocados no mercado de consumo com riscos, a não ser aqueles considerados normais e previsíveis. E ai a gente viu que existem alguns riscos que são típicos dos produtos e serviços que são comercializados no mercado de consumo.
Esses riscos que são inerentes à esses bens, não implicam, não admitem a possibilidade de eventual reparação de danos sofridos pelo consumidor, porque aqueles riscos são esperados, são típicos daquele produto ou serviço. 
RECALL: CHAMADA DO CONSUMIDOR
Hoje nós vamos discutir o tema do RECALL. Em produções massificadas, quando ocorre algum tipo de defeito no produto, aquele defeito se replica aos milhares. Essa é uma característica de um mercado massificado de produção e de consumo. Então, o Recall é um instrumento de proteção do consumidor que atende à essa peculiaridade, qual seja, o fato de que produtos e serviços que são industrializados de maneira massificada possam apresentar defeitos, riscos de forma igualmente massificada. O recall nesse sentido é um instrumento por meio do qual esses riscos, esse defeito é sanado e esses riscos são afastados do mercado de consumo. 
Existe, todavia, as controvérsias em torno do recall. Por isso, vale a pena a gente dedicar atenção para ele e o modo que o CDC tratou da matéria. Bom, o CDC prevê que o recall é um instrumento e proteção do consumidor. O objetivo do Recall, que em tradução literal significa chamamento, ele tem como escopo básico proteger a vida, saúde e segurança do consumidor, objetivando impedir que um produto que já esteja circulando no mercado cause algum tipo de dano ao consumidor. Então, nem o recall sempre acontece quando a coisa já desandou, como no caso do Fox que a gente conversou na semana passada, o recall só aconteceu após vários consumidores notificarem a fábrica do automóvel de que o sistema de rebatimento do banco traseiro do carro estava decepando o dedo das pessoas. Mas grande parte das vezes, antes mesmo de quaisquer acidentes ocorrerem é realizado o chamamento. 
Uma característica básica do recall é que aconteça após o lançamento do produto no mercado de consumo. 
O dispositivo do CDC que regula o recall é o art. 10:
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
Observem aqui o que o legislador está falando, a regra é que não se coloque no mercado produto ou serviço que apresente alto grau de nocividade ou de periculosidade à saúde ou segurança do consumidor. Observem ainda no caput que o legislador afirma que o fornecedor que não sabe do alto grau de nocividade ou periculosidade do produto ou do serviço, se ele não sabe, ele deveria saber. Por que o CDC fez essa previsão? Porque o pressuposto é que produtos e serviços colocados no mercado de consumo não oferecendo risco à vida, saúde e segurança do consumidor. Esse é o pressuposto. Isso significa dizer que o fornecedor tem conhecimentotécnico, quer dizer, essa obrigação de não colocar no mercado produto ou serviço que cause risco à vida, saúde e segurança do consumidor, parte do reconhecimento de que o fornecedor tem conhecimentos técnicos sobre as características e sobre os eventuais riscos daquele produto ou serviço. 
Se isso é assim, se o fornecedor tem esse conhecimento técnico, é dele a responsabilidade de saber e identificar a eventual nocividade, qual o grau de lesividade, que um produto seu pode causar ao consumidor. 
O recall é um instrumento que é aplicado quando o produto ou serviço já está circulando no mercado, instrumento de proteção do consumidor:
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
O recall é um instrumento de proteção do consumidor, é um instrumento que é acionado depois que o produto já está circulando no mercado, em virtude disso, identificado o defeito que pode causar algum tipo de dano ao consumidor, o fornecedor deve notificar as autoridades e os consumidores sobre o risco, havendo uma dupla obrigação de notificar tanto às autoridades quanto aos consumidores. Exemplo: se for alimento, certamente a ANVISA deverá ser notificada, assim como seus consumidores. 
Como será a notificação dos consumidores? Mediante anúncios publicitários, para tanto vai utilizar de todos os meios de comunicação, mais contemporaneamente as redes sociais, para atingir a maior quantidade possível de pessoas. Tanto consumidores diretos quanto indiretos daquele produto que está sendo objeto do Recall.
Um dado importante é que estes anúncios publicitários deverão ser custeados pelo fornecedor. Então ele pode publicar em outdoor, deve fazer essa anuncio no seu site, nas suas redes sociais, publicar anuncio sobre o recall em redes de televisão, sistema de rádios, jornal de circulação nacional etc. Enfim, tomar todas as medidas para alcançar esse consumidor.
§ 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
Notificar e alcançar esses consumidores acarretará, certamente, em custos, de obrigação do fornecedor arcar.
§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
Essa é uma outra possibilidade, caso as autoridades públicas tenham conhecimento anterior, pois essas têm papel fiscalizatório sobre a qualidade de produtos e serviços. Exercendo a fiscalização, se tiverem conhecimento sobre a periculosidade de produtos ou serviços, essas autoridades públicas deverão informar os consumidores e notificar o fornecedor a respeito de sua responsabilidade.

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