Buscar

88 Compilado P1 Consumidor

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

2
RECALL: CULPA DO CONSUMIDOR QUE NÃO ATENDEU AO CHAMAMENTO
Sobre responsabilidade, a gente precisa saber o que o STJ pensa em relação a essa matéria . Nesse precedente de 2004, de autoria do Ministro Aldir Passarinho Júnior, afirma que:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL E MATERIAL. VEÍCULO. INCÊNDIO. PEÇA DEFEITUOSA. PROCEDIMENTO 'RECALL'. MATÉRIA DE PROVA. REEXAME. SÚMULA N. 7-STJ. AGRAVO IMPROVIDO. (STJ, AgRg no Ag 555049/PB, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 06/05/2004, DJ 23/08/2004 p. 243): “Veja que o acórdão foi minucioso em sua argumentação, citando, inclusive, casos semelhantes em outros Estados da Federação; esclarecendo que o procedimento Recall é muito comum, atualmente, entre as fábricas de automóveis; que só haveria culpa do consumidor, caso ele não atendesse ao chamado da fábrica para o conserto da peça, mas que, como a correspondência foi enviada muito após o evento danoso, o consumidor fica isento de qualquer responsabilidade; além de outros fundamentos, conforme podem ser constatados às fls. 426/434”.
Aqui o consumidor sofreu um acidente decorrente da peça defeituosa que causou o chamamento. Só que ele só foi notificado do recall quando ele já tinha sofrido o acidente. Óbvio que não há o que se falar em nenhum tipo de contribuição do consumidor. Mas na parte grifada, o Ministro ventila que só se poderia falar em responsabilidade do consumidor, ou seja, contribuição do consumidor no resultado danoso, se ele não tivesse atendido o chamado da fabrica para consertar a peça, ou seja, para fazer o recall.
 Aqui o Ministro fala do caso concreto, qual o caso concreto? Que o veiculo do consumidor tinha um defeito, em razão do defeito ele sofreu um acidente, com repercussões físicas, econômicas etc... com danos patrimoniais e extrapatrimoniais. Aí o Ministro disse, “aqui não tem o que dizer porque o porque o consumidor só foi notificado quando a desgraceira já tinha acontecido, MAS, se o consumidor eventualmente foi notificado e negligenciou o chamamento, aí talvez a gente possa pensar em responsabilidade do consumidor, ou seja, esse é um precedente que poderia indicar, a principio, pois ele é antigo, de 2004, que se o consumidor não atende ao chamado, é possível afastar ou pelo menos mitigar a responsabilidade do fornecedor. 
Já em outro precedente, que é de 2006, tem uma outra camada de discussão no que diz respeito ao recall e dano moral. Caso de relatoria do mesmo Ministro da Jurisprudência anterior e é outro caso de recall:
CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. INDENIZAÇÃO. PRETENSÃO. MONTADORA. CHAMAMENTO. CORREÇÃO DE DEFEITO. "RECALL". DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. (...) I. O STJ recebe o quadro probatório tal como delineado pelo Tribunal Estadual e o reexame de provas encontra o óbice da Súmula n. 7 desta Corte. II. Inconvincente a tese de que o chamamento de veículo em "recall" gera, por si só, danos morais. III. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no Ag 675453/PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 14/02/2006, DJ 13/03/2006 p. 327): “A recorrente insiste na tese da ocorrência de dano moral quando, na verdade, ‘não há dúvidas de que o defeito alegado nem se apresentou de forma concreta no veículo da autora e se é que existia, foi corrigido com o reforço realizado no mencionado ‘recall’’ (fl. 306-destacamos).
Qual que é a treta aqui? A pessoa queria receber indenização por dano moral porque o carro dela foi objeto de recall, o defeito nem se apresentou. Aí não, né? No caso dessa pessoa o defeito nem se apresentou, mas o vexame não parou por aí, olha o que o Ministro diz nesse pedacinho do voto. 
O reexame do conjunto fático-probatório faz incidir a Súmula n. 7 desta Corte e conforme os fundamentos do aresto estadual, não existe relevância jurídica a ponto de merecer a agravante qualquer indenização, uma vez ser descabida a tese de ter sofrido a recorrente “choque emocional”. Na verdade, o contrário desse entendimento contribuiria para o enriquecimento ilícito. Absolutamente não convence a tese recursal, de que o “recall” teria o condão de causar dano moral à compradora do veículo. O “recall” é uma prática favorável ao consumidor e não um instrumento de oportunismo para alimentar infundados pleitos indenizatórios, como o presente.” (grifos apostos)
O recall é uma tendência na medida em que quanto mais industrializada e massificada a produção, maior o risco que um defeito se repita milhares de vezes, característica própria desse tipo de produção massificada. Então, o simples fato de um automóvel ser objeto de um chamamento não gera dano moral.
No caso a seguir é outro precedente, dessa vez do Ministro Humberto Gomes de Barros, de 2008, e aqui ele explora o fato do consumidor ter ficado inerte, nesse caso não houve comparecimento do comprador para realizar o serviço objeto do chamamento: 
CIVIL. CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE DANOS. RESPONSABILIDADE. RECALL. NÃO COMPARECIMENTO DO COMPRADOR. RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE. A circunstância de o adquirente não levar o veículo para conserto, em atenção a RECALL, não isenta o fabricante da obrigação de indenizar. (STJ, REsp 1010392/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/03/2008, DJe 13/05/2008): “Para o acórdão recorrido, o não atendimento ao recall e a falta de revisões do veículo não afasta a responsabilidade objetiva da fabricante do veículo. A recorrente alega que a negligência dos recorridos no atendimento ao chamado do recall feito e em não efetuar a manutenção do veículo, rompe o nexo causal. Não houve ofensa ao Art. 13, § 3º, III, do Código de Defesa do Consumidor. Houve defeito na fabricação do produto, publicamente reconhecido pela recorrente, ao chamar para o recall. No mais, o perito do juízo concluiu que um curto circuito no sistema do airbag causou a abertura inoportuna da bolsa de proteção (fl. 376). Houve defeito do produto fabricado pela recorrente e nexo causal entre este defeito e o dano sofrido pelos recorridos consumidores.” 
O Ministro não afastou a responsabilidade do fabricante mesmo que o proprietário do automóvel não tenha atendido ao chamamento ou feito as revisões do veiculo. Foi demonstrado em prova pericial, que a ausência que revisão não deu causa ao acidente, que foi a abertura do nada do airbag. É um entendimento hiperprotetivo do direito do consumidor.
O que a literatura tem apontado é que se o consumidor foi notificado sobre o chamamento, tinha ciência inequívoca do recall e mesmo assim não atendeu ao recall, a responsabilidade do fornecedor permanece, mas esse desleixo, negligência, impacta no momento do juiz arbitrar eventual indenização por dano moral. Então quanto ao dano material a responsabilidade permanece, já que é provado documentalmente no curso da instrução processual, mas os danos morais podem ser, inclusive, afastados, a depender do caso, tendo o consumidor se recusado a responder ao chamamento.
O que justifica o argumento unânime no âmbito do STJ sobre permanecer a responsabilidade? É o fato da regra sobre os produtos e serviços não serem colocados no mercado de consumo com defeito, esse é o pressuposto. O recall atende à verificação de que o ideal é que esses produtos não apresentem nenhum tipo de defeito, eventualmente pode aparecer e podem ser identificados quando estes estão em circulação e o recall vem ser o aviso, não sendo por si só capaz de concretizar dano moral, buscando a proteção da saúde, segurança e vida do consumidor. Porém, a negligência do consumidor não é capaz de afastar o dano material por ser decorrente do acidente de consumo que teve como como origem justamente o defeito identificado, ou que seria sanado com o chamamento.
TEORIA DA QUALIDADE
Agora vamos falar sobre teoria da qualidade. A gente vai começar a discutir sobre a responsabilidade do fornecedor por produtos e serviços com defeitos e produtos e serviços com vícios. Antes disso, é bem importante a gente discutir alguns aspectos da teoria da qualidade e pontuar que no CDC aresponsabilidade civil em regra é objetiva (havendo exceções, a gente vai ver que a responsabilidade dos profissionais liberais sobre defeitos da prestação de serviço é uma exceção, pois é subjetiva), a regra é que a responsabilidade dos fornecedores é objetiva.
A segunda regra é que a responsabilidade seja solidária, ou seja, engloba toda a cadeira de fornecedores, quando eu falo de fornecedor, eu falo do gênero, de que são espécies: comerciantes, transportadores, montadores, etc). Além disso, sobre responsabilidade civil, é importante levar em consideração a teoria unitária da responsabilidade civil. Então, a configuração da responsabilidade civil em direito do consumidor independe de vínculo contratual. Esse, inclusive, era um dado bastante óbvio considerando que o CDC reconhece, classifica, o consumidor enquanto ordinário, comum, e o consumidor equiparado que é o consumidor Bystander.
Aqui em direito do consumidor é indiferente se o vinculo estabelecido entre os parceiros é contratual ou apenas fática. 
Quando a gente estava falando sobre a qualidade-segurança de produtos e serviços, naquela parte mais geral, a gente viu que não poderá circular no mercado de consumo produtos e serviços que gerem riscos aos consumidores a não ser os considerados normais e previsíveis, ai a gente conheceu a teoria da qualidade que foi estruturada pelo ministro Herman Benjamin, que diz que produtos e serviços colocados no mercado de consumo devem atender à um dever de qualidade, que se bifurca em dois outros deveres específicos: qualidade-segurança; qualidade-adequação. 
Quando a gente fala sobre o dever de qualidade-segurança, significa que produtos e serviços não irão implicar em riscos a vida, a saúde e segurança dos consumidores, a não ser aqueles riscos normais e previsíveis como a gente já viu. 
Quando a gente fala em violação do dever de qualidade-segurança, estamos falando sobre uma inadequação, impropriedade no produto ou serviço que gera danos para além do produto ou serviço atingindo a incolumidade física, psíquica do consumidor. A violação do dever de qualidade-segurança, significa que aquele produto ou serviço tem um defeito. Isso significa que o fornecedor, considerado genericamente, vai ser responsabilizado tanto em ações individuais quanto coletivas, tanto em relação a danos materiais quanto extrapatrimoniais sofridos pelo consumidor por acidente de consumo. 
Produtos e serviços devem atender a um dever de qualidade, esse dever de qualidade se bifurca em dois deveres: dever de qualidade-segurança e qualidade-adequação. 
O dever de qualidade-segurança impõe que produtos e serviços colocados no mercado de consumo não gerem nos consumidores risco a sua vida, saúde ou segurança. A violação do dever de qualidade-segurança implica que aqueles produtos ou serviços tem defeitos. Então, os fornecedores, aqui genericamente considerados, serão responsabilizados por acidentes de consumo. 
A segunda repercussão do dever de qualidade e o dever de qualidade-adequação. Qualidade-adequação significa que aquele produto ou serviço vai ser funcional, ele tem prestatividade ao consumidor e isso significa que quando um produto ou serviço atende ao dever de qualidade adequação, ele protege o bolso do consumidor, a sua incolumidade econômica, de maneira genérica. A violação do dever de qualidade-adequação implica no reconhecimento de que aquele produto tem um vicio, que pode ser de qualidade, de quantidade. 
Há uma distinção basilar entre produtos ou serviços com defeito em sentido estrito e com vicio em sentido estrito. Na literatura tem-se uma definição, como gênero, do que seja vício, é como se vicio fosse gênero, de que é espécie o defeito. O que significa isso? Que todo produto defeituoso tem um vicio, que é um vicio de segurança, mas nem todo produto que tem um vicio, tem um defeito. 
É como se vicio de maneira geral fosse ao mesmo tempo gênero e espécie, e defeito fosse sempre uma espécie de vício, ou seja, uma impropriedade, uma inadequação que viola a vida, saúde, a incolumidade física/psíquica do consumidor. A gente consegue distinguir vicio em sentido estrito de defeito pelo fato de o produto ou serviço com um defeito, ele tem uma impropriedade que gera danos para além do produto, por exemplo, você compra um liquidificador, ai o liquidificador esta com um problema na lamina de rotação, ela não gira, o produto não é funcional. Esse produto tem um vicio, porque ele não tem mais a funcionalidade pela qual ele era desenhado. 
Agora se esse liquidificador tiver uma impropriedade na lamina e essa lamina saca e afeta o seu olho, então temos um defeito, porque aquela impropriedade ultrapassa os limites do bem para atingir o consumidor. Por isso que quando foi falado em teoria da qualidade, especificamente o dever de qualidade-segurança, foi dito que um produto ou um serviço com defeito, ou seja, que viola o dever de segurança, ele tem uma inadequação, uma impropriedade que gera danos para além do produto. 
Imaginem que uma pessoa comprou uma televisão, quando liga a televisão, percebe que a televisão está sem som, imagem perfeita, 4K, mas o som não está funcionando. Essa impropriedade não avança para além dos limites do próprio bem, você não vai morrer nem ter um problema grave de saúde porque a televisão está sem som, mas ela não tem prestatividade, essa TV teve um vicio, houve uma violação de dever de qualidade-adequação, esse produto é inadequado para os fins a que ele se destina. 
Agora quando você compra uma televisão, vai ligar ela, houve um problema no cabo que fez a TV explodir e queimar sua mão, essa televisão tem um defeito, ela violou o dever de qualidade-segurança, então aquela inadequação, aquela impropriedade repercute para além dos limites daquele produto.
Essas distinções entre defeito e vicio são imprescindíveis para a gente identificar e diferenciar a responsabilidade dos fornecedores, que é o que será feito a seguir: 
A gente vai começar a discutir responsabilidade, quando a gente fala em responsabilidade, a gente precisa distinguir tipos de fornecedores e tipos de impropriedades em produtos e serviços. Esse é o ponto de partida para a gente distinguir responsabilidades distintas no âmbito do Código de Defesa do Consumidor. 
Aqui a gente começa a explorar o art. 12 do CDC, nesse art. 12 o CDC se preocupou em identificar de que fornecedores ele está falando. O art. 12 inaugura a responsabilidade por defeitos de produtos. Então a gente primeiro vai discutir a responsabilidade por defeito de produtos e de serviços e depois a gente vai discutir a responsabilidade por vícios de produtos e de serviços, aí em vicio a gente vai discutir de produtos, de serviços, de quantidade e de qualidade, produtos e serviços durável ou não durável.

Continue navegando