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Organizadores Alexandre Torres Petry Teresa Cristina Fernandes Moesch Cristiano de Moraes Franco Ricardo Ferreira Breier Rosângela Maria Herzer dos Santos DIREITO DO CONSUMIDOR: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Porto Alegre, Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil Todos os direitos reservados Organizadores Alexandre Torres Petry Diretor da Revista da ESA/OABR/RS Teresa Cristina Fernandes Moesch Presidente da Comissão Especai de Defesa do Consumidor/OAB/RS Cristiano de Moraes Franco Coordenador do Grupo de Estudo de Direito do Consumidor Ricardo Ferreira Breier Presidente da OAB/RS Rosângela Maria Herzer dos Santos Diretora-Geral da ESA-OAB/RS Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10/1517 A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos assinados, são de responsabilidade dos seus autores. Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS D635 Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas/. Alexandre Torres Petry, Teresa Cristina Fernandes Moesch...[et.al] (Organizadores). Porto Alegre, 2021. 255p. ISBN: 978-65-88371-07-7 1. Direito do consumidor. 2. Defesa do consumidor I Título. CDU: 347.451.031 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 Presidente: Felipe Santa Cruz Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz Secretário-Geral: José Alberto Simonetti Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL Presidente: Ricardo Ferreira Breier Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth Tesoureiro: André Luis Sonntag ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry CONSELHO PEDAGÓGICO Alexandre Lima Wunderlich Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira Jaqueline Mielke Silva Vera Maria Jacob de Fradera CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS Presidente: Pedro Zanette Alfonsin Vice-Presidente: Mariana Melara Reis Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel Tesoureiro: Gustavo Juchem TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA Presidente: Cesar Souza Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira CORREGEDORIA Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles Corregedores Adjuntos Maria Ercília Hostyn Gralha, Josana Rosolen Rivoli, Regina Pereira Soares OABPrev Presidente: Jorge Luiz Dias Fara Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves COOABCred-RS Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 6 SUMÁRIO PREFÁCIO - Teresa Cristina Fernandes Moesch ...................................................................... 8 APRESENTAÇÃO - Cristiano de Moraes Franco ..................................................................... 9 O GREENWASHING E A (DES)NECESSIDADE DE SUA REGULAMENTAÇÃO ESPECÍFICA – Andreza Sordi ................................................................................................ 11 A REDUÇÃO DA MENSALIDADE NA REDE PRIVADA DE ENSINO EM PERÍODO PANDÊMICO: BREVES CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS E ANÁLISE JURISPRUDENCIAL – Bárbara Peixoto Nascimento Ferreira de Souza e Maria Luiza de Almeida Carneiro Silva ............................................................................................................ 30 CONSUMO E LOGÍSTICA REVERSA: A RESPONSABILIDADE NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS – Bruno pinto Coratto ....................................................................................... 45 O DIREITO DO CONSUMIDOR: UM OLHAR SOB A PSICOLOGIA E O SUPERENDIVIDAMENTO ANTE A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NAS RELAÇÕES DE CONSUMO – Camila Possan de Oliveira, Luiz Guedes Sorino e Susandra Dorneles .................................................................................................................................... 58 PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NA RESCISÃO CONTRATUAL EM DECORRÊNCIA DA PANDEMIA DA COVID-19 NOS CASOS DE CANCELAMENTOS DE SHOWS E EVENTOS CULTURAIS – Camila Queiroz de Medeiros Santos, Marina Linna Pinheiro Cruz e Fabrício Germano Alves ........................................................................................................ 75 MARKETPLACE E DIREITO DO CONSUMIDOR: DESAFIOS E PERSPECTIVAS – Carlos Bender Konrad .......................................................................................................................... 90 A PANDEMIA E A SOCIEDADE DE CONSUMO: A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA COMO FATOR DE VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR – Cristiano de Moraes Franco ..................................................................................................................................... 105 PUBLICIDADE REDACIONAL/NATIVA: ABUSO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NO MEIO EDITORIAL – Fabrício Germano Alves, Mariana Câmara de Araújo e Pedro Henrique da Mata Rodrigues de Souza ......................................................... 119 Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 7 OS PRINCÍPIOS CONSUMERISTAS COMO ESCUDO ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS EM MEIO A PANDEMIA DA COVID-19 – João Vitor Martins David e Marcelo Melchior .... 133 O SUPERENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR COMO PERDA DAS CAPACIDADES – Jovana De Cezaro ................................................................................................................ 148 CONSUMO E ENDIVIDAMENTO: UMA ANÁLISE DAS MUDANÇAS DE HÁBITOS E DE COMPORTAMENTO ORIGINADOS PELO CORONAVÍRUS – Luciane Dienstmann Ferreira.................................................................................................................................... 161 A DIFICULDADE COM A ACESSIBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO COMÉRCIO ELETRÔNICO – Isadora Leitão Wild Santini Picarelli e Luíza Severnini Sima ................................................................................................................................................ 172 ASPECTOS PROCESSUAIS DA PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR TITULAR DE DADOS PESSOAIS – Oscar Valente Cardoso ..................................................................................... 182 DEFESA DO CONSUMIDOR E O CUMPRIMENTO DE CONTRATOS EM TEMPO DE PANDEMIA – Soeli Teresinha Schilling Dienstmann .......................................................... 193 GEOPRICING DIANTE DO ORDENAMENTO JURÍDICO CONSUMERISTA – Vinícius Wdson do Vale Rocha, Ingrid Altino de Oliveira e Ermana Larissa Soares .......................... 207 PARTICIPAÇÃO ESPECIAL OS DIREITOS DO CONSUMIDOR EM TEMPOS DE PANDEMIA: ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO GOVERNO FEDERAL E LEGISLATIVO PARAA PROTEÇÃO DOS CONSUMIDORES – Claudia Lima Marques, Lúcia Souza d’Aquino, Guilherme Mucelin, Maria Luiza Baillo Targa e Tatiana Cardoso Squeff .............................................................. 223 Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 8 PREFÁCIO Honrada e sensibilizada, recebo a deferência de prefaciar o E-book/2021, Direito do Consumidor- desafios e perspectivas, mais uma importante obra, dentre outras tantas, editada pela ESA- Escola Superior da Advocacia, braço cultural da OAB/RS – Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Sul, que tem por finalidade precípua o aperfeiçoamento profissional da advocacia gaúcha. Neste E-book são tratados importantes temas, todos pontuais e instigantes, da lavra de ícones e estudiosos do Direito do Consumidor, para nos auxiliar na atuação em prol do equilíbrio das relações de consumo. Com maestria, e em excelente momento, nos são trazidos, para leitura e reflexão, artigos pertinentes ao Direito do Consumidor, com abordagem técnica, precisa e clara. Parabenizamos o Dr. Alexandre Torres Petry, Diretor da Revista Eletrônica da ESA, pela competência e empenho de sempre. Agradecemos à ESA, na pessoa de sua diretora Rosângela Maria Herzer dos Santos, que a vem conduzindo com brilhantismo ao longo de tantos anos, sempre na busca do aprimoramento técnico da advocacia gaúcha. Em especial, agradecemos ao nosso grande mestre e Presidente da OAB/RS, Dr. Ricardo Ferreira Breier, que comanda nossa entidade com firmeza e dedicação exemplares. Que todos tenham uma boa leitura! Teresa Cristina Fernandes Moesch Presidente da Comissão Especial de Defesa do Consumidor da OAB/RS Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 9 APRESENTAÇÃO O avanço da Pandemia causada pelo Coronavírus trouxe consigo situações de preocupação e reflexão inevitáveis em um dos setores que mais é afetado em tempos de mudanças de cenário na economia: o mercado de consumo. Obviamente que a normalidade da sociedade foi afetada e inúmeras transformações sociais foram observadas, o que motivou a necessidade de adequação para que a proteção aos direitos dos consumidores seguisse sua linha inclusiva e plural. Acompanhar os desdobramentos legais e alterações no modo de consumo pressupõe a constante e indispensável atualização acadêmica, objetivo principal do Grupo de Estudos de Direito do Consumidor e que deu ensejo a presente obra, cujo intuito maior é o de estimular discussões, reflexões e mudanças práticas para uma melhor relação entre consumidores e fornecedores, vislumbrando o progresso das boas práticas de consumo. Em atenção às angústias quanto a eventuais atividades lesivas às boas práticas de consumo, o e-book “Direito Do Consumidor: Desafios e Perspectivas” surge da comunhão de esforços entre a OAB/RS, Escola Superior de Advocacia (ESA), Comissão de Defesa do Consumidor e o Grupo de Estudos de Direito do Consumidor ao verificar a necessidade de aprofundamento técnico e teórico na defesa dos preceitos consumeristas, principalmente em razão dos acontecimentos recentes e marcantes nas relações de consumo, as quais, devido à Pandemia e ampliação dos meios de acesso ao consumo, principalmente pelas plataformas digitais, ocasionaram no aumento de práticas abusivas e ilegais por parte dos fornecedores de produtos e serviços, gerando preocupação quanto a imprescindibilidade da busca de meios capazes de evitar, ou frear, eventuais litigiosidades. Assim, alinhado ao tema proposto foram selecionados e aprovados trabalhos que abrangem as mais diversas áreas do direito do consumidor, incluindo, como contribuição especial, o artigo de Cláudia Lima Marques, Lúcia Souza d’Aquino, Guilherme Mucelin, Maria Luiza Baillo Targa e Tatiana Cardoso Squeff sobre “Os direitos do consumidor em tempos de pandemia: análise das respostas do Governo Federal e Legislativo para a proteção dos consumidores”. Ainda na linha da perspectiva da análise dos direitos dos consumidores afetados pela Pandemia, seguem os artigos de Bárbara Peixoto Nascimento Ferreira de Souza e Maria Luiza de Almeida Carneiro Silva (A redução da mensalidade na rede privada de ensino em período pandêmico: breves considerações doutrinárias e análise jurisprudencial), Camila Queiroz de Medeiros Santos, Marina Linna Pinheiro Cruz e Fabrício Germano Alves (Proteção do consumidor na rescisão contratual em decorrência da pandemia da covid-19 nos casos de cancelamentos de shows e eventos culturais), Cristiano de Moraes Franco (A pandemia e a sociedade de consumo: a obsolescência programada como fator de vulnerabilidade do consumidor), João Vitor Martins David e Marcelo Melchior (Os princípios consumeristas como escudo às práticas abusivas em meio a pandemia da covid-19), Luciane Dienstmann Ferreira (Consumo e endividamento: uma analise das mudanças de hábitos e de comportamento originados pelo coronavírus) e Soeli Teresinha Schilling Dienstmann (Defesa do consumidor e o cumprimento de contratos em tempo de pandemia). Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 10 Outros importantes temas acolhidos dizem respeito à crescente utilização dos meios eletrônicos de consumo e a observância à proteção de dados, os quais foram explorados por Carlos Bender Konrad (Marketplace e direito do consumidor: desafios e perspectivas), Fabrício Germano Alves, Mariana Câmara de Araújo e Pedro Henrique da Mata Rodrigues Sousa (Publicidade redacional/nativa: abuso da vulnerabilidade do consumidor no meio editorial), Isadora Leitão Wild Santini Picarelli e Luíza Severnini Sima (A dificuldade com a acessibilidade das pessoas com deficiência no comércio eletrônico), Oscar Valente Cardoso (Aspectos processuais da proteção do consumidor titular de dados pessoais) e Vinícius Wdson do Vale Rocha, Ingrid Altino de Oliveira e Ermana Larissa Soares (Geopricing diante do ordenamento jurídico consumerista). Uma das grandes preocupações atuais entre consumidores e fornecedores é a evolução para um consumo mais consciente, sustentável e menos agressivo ao meio ambiente, tema abordado através dos artigos de Andreza Sordi (O greenwashing e a (des)necessidade de sua regulamentação específica) e Bruno Pinto Coratto (Consumo e logística reversa: a responsabilidade nos processos logísticos). Completam a presente obra artigos que tratam de relevante alteração legislativa e que traz um novo paradigma ao direito do consumidor, que é a questão do superendividamento, temática abarcada por Camila Possan de Oliveira, Luiz Guedes Soriano e Susandra Dorneles (O direito do consumidor: um olhar sob a psicologia e o superendividamento ante a vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo) e Jovana De Cezaro (O superendividamento do consumidor como perda das capacidades). Assim, a presente obra é fruto da reunião de esforços para que a defesa dos consumidores seja viabilizada e concretizada através do conhecimento, pois, muito além do estudo direcionado na matéria que engloba todos os atores do mercado de consumo, avançar em tópicos controvertidos e debatê-los se mostra como o verdadeiro caminho para o progresso. Boa leitura! Cristiano de Moraes Franco Coordenador do Grupo de Estudos de Direito do Consumidor da ESA/RS Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 11 O GREENWASHING E A (DES)NECESSIDADE DE SUA REGULAMENTAÇÃO ESPECÍFICA Andreza Sordi1 Resumo: O presente estudo objetiva traçar considerações acerca do greenwashing. Tal prática verifica-se quando, utilizando-se de estratégias de marketing e motivadas pelo intuito de alavancar suas vendas a um público ambientalmente responsável, organizações empresariais vendem a ideia de que seus produtos são sustentáveis e, portanto, respeitam o meio ambiente,contudo, essa informação não encontra respaldo na realidade. Diante disso, pretende-se investigar se os efeitos possivelmente ocasionados pelos apelos contidos implícita ou explicitamente nos bens de consumo, frutos do greenwashing já se encontram regulamentados no conjunto legislativo do ordenamento pátrio. Por meio de uma perspectiva hermenêutica, abordam-se aspectos atinentes ao surgimento e aos impactos causados pela prática no meio ambiente e na sociedade. A importância do assunto em tela ganha destaque na medida em que se constata que o greenwashing já é amplamente utilizado por grande parte das empresas, em âmbito nacional e mundial. A conclusão alcançada é a de que as leis, resoluções e a principiologia constitucional e infraconstitucional que já existe no ordenamento jurídico brasileiro é suficiente para regular as relações decorrentes da prática, não havendo a necessidade de criação de nova regulamentação sobre o tema. Palavras chave: Greenwashing, consumo sustentável, meio ambiente, publicidade, direito do consumidor. 1 INTRODUÇÃO Nunca foi tão fácil ser um consumidor consciente. Basta adquirir um produto que “cuida do meio ambiente”. Tendo essa premissa como ponto de partida, o presente trabalho versa sobre a prática conhecida como greenwashing, tendo por intuito investigar se o estabelecimento de uma legislação específica sobre o tema se faz necessário – ou não – no ordenamento jurídico brasileiro. Justifica-se a importância da pesquisa pelo fato de este ser um assunto que está presente no quotidiano de todos os consumidores, manifestando-se por meio de apelos – implícitos ou explicitamente contidos nos bens de consumo. Além disso, o instituto em tela afeta consideravelmente o meio ambiente, na medida em que traz informações que, em muitos casos, não são verdadeiras, induzindo o consumidor em erro e gerando um efeito adverso: ao invés de proteger, acaba por poluir o ecossistema. 1 Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Pós-graduada em Ciências Jurídicas – Atividades de Magistratura pelo Centro Universitário Projeção – Uniprojeção. Advogada, inscrita na OAB/RS sob nº 106.703/RS. E-mail para contato: andreza.sordi@hotmail.com. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 12 Isso ocorre devido ao fato de o consumidor ser levado a acreditar que está adquirindo um produto ambientalmente responsável, produzido de acordo com as normas técnicas e com base no respeito à natureza, quando, isso, em verdade, trata-se de uma estratégia de marketing. Confiando em elementos provenientes unilateralmente do fornecedor, o consumidor adquire o produto de boa-fé, mesmo que, na maioria dos casos, tais informações estejam desprovidas de dados comprobatórios e inseridas unicamente com o intuito de alavancar as vendas. Diante disso, busca-se enfrentar a seguinte problemática: a criação de novas leis ou regulamentos específicos para combater o greenwashing é, realmente, necessária, ou a prática já encontra suficientes regulamentações no ordenamento jurídico pátrio, ainda que de forma implícita? Com base nesta indagação, o presente trabalho possui como objetivo geral investigar a prática definida como greenwashing, e como objetivos específicos averiguar suas origens e o seu surgimento, através de um panorama sociológico, ambiental e constitucional, tudo à luz do direito do consumidor e do ordenamento jurídico-constitucional. Ainda, visa perquirir quais as principais razões pelas quais a sua regulamentação por meio de uma legislação específica se faz - ou não, necessária. Visando responder a questão apresentada, optou-se por realizar uma pesquisa de revisão bibliográfica, por meio da abordagem qualitativa. Para tanto, foram analisadas diversas obras doutrinárias, textos e artigos científicos atinentes ao assunto em debate, os quais tiveram uma delimitação temporal abrangente, envolvendo publicações desde os anos 1992 até 2020. Como critérios de inclusão à pesquisa, foram selecionados materiais já publicados em renomados periódicos, livros e sites que mantivessem relação direta com o tema, escritos tanto em língua portuguesa quanto em inglesa. Publicações que não contemplassem o tema proposto no presente estudo, bem como, que não estivessem disponíveis na íntegra, juntamente com pesquisas provenientes de fontes desconhecidas foram os critérios de exclusão adotados para a realização do trabalho. A investigação bibliográfica foi realizada tendo como fontes diversos repositórios e bases de dados, como por exemplo a Biblioteca Virtual Pearson, a Scientific Electronic Library Online (SciELO), e o Google Acadêmico. Além disso, também foram utilizadas obras doutrinárias, bem como, dados provenientes de pesquisas de campo realizadas por instituições de renome na área e pela Secretaria Nacional do Consumidor. Também foram consultadas legislações em vigor atualmente, extraídas diretamente do site oficial da Presidência da República. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 13 No que tange à apresentação do presente estudo, optou-se por ordená-lo em dois capítulos, sendo o primeiro denominado de: greenwashing: a sustentabilidade disfarçada e o segundo denominado de: principais regulamentações atinentes ao greenwashing no ordenamento jurídico brasileiro. O primeiro capítulo foi dividido em dois subtópicos, denominados “contextualização” e “o greenwashing: breves noções conceituais” e visa trazer breves noções a respeito do surgimento do instituto, bem como, traçar algumas definições que auxiliam na tentativa de sua conceituação. Já o segundo capítulo é responsável por trazer exposições acerca de como a prática é regulamentada, mostrando que existem várias regras e princípios que cuidam do tema no ordenamento pátrio, ainda que de forma indireta. Este, por sua vez, foi dividido em três subtópicos, sendo eles: regulamentação – CONAR; projeto de lei nº 4.752-b, de 2012 e o greenwashing e a (des)necessidade de sua regulamentação específica. Por último, importa ressaltar que o presente estudo não possui o intuito de esgotar a matéria objeto de debate, mas sim, servir como caminho para possibilitar maiores reflexões. Isto porquê, não se trata de um tema simples que pode ser esgotado em breves linhas, mas algo instigante e que comporta inúmeras discussões. 2. GREENWASHING: A SUSTENTABILIDADE DISFARÇADA 2.1 Contextualização Cada vez mais, temas como o esgotamento de recursos naturais, os altos níveis de consumo e de descarte e a elevada poluição ambiental vêm ganhando destaque e sendo debatidos de maneira mais intensa por grande parte dos estudiosos e da população mundial. Inegavelmente, “vivemos em uma era de mudanças planetárias aceleradas sem precedentes. De fato, muitos cientistas acreditam que nosso consumo crescente e o consequente aumento da demanda por energia, solo e água estão moldando uma nova época geológica: o Antropoceno”2 (Relatório Planeta Vivo - WWF, 2018, p. 03). 2 O surgimento do conceito do Antropoceno tem sido amplamente discutido na literatura. O termo foi usado pela primeira vez pelo biólogo Eugene F. Stoemer na década de 1980, mas só foi formalizado em 2000, numa publicação conjunta com o Prêmio Nobel de Química, Paul Crutzen, na Newsletter do International Geosphere Biosphere Programme (IGBP) do mês de maio. Nessa comunicação, os autores propõem o uso do termo Antropoceno para a época geológica atual, para enfatizar o papel central do homem na geologia e ecologia, e o início dessa época nos finais do século XVIII, que coincide com o aumento nas concentrações de CO2 e CH4, e, também, com a invenção da máquina a vapor, em 1784, por James Watt. (...) Em 2002, Crutzen publicou um artigo sucinto, intitulado “Geologyof Mankind” na revista Nature. Para Crutzen, o homem tem se convertido em uma poderosa força geológica e será uma força predominante no meio ambiente no futuro, fazendo necessário distinguir esta nova época com um termo que descreva apropriadamente esta “Idade dos Humanos” (“Age of Humans”) (DA SILVA, Cleyton; ARBILLA, Graciela, 2018, p. 1621-1622). Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 14 Apesar de ser um dos assuntos mais debatidos nos dias atuais, a preocupação com o meio ambiente não é um tema tão recente. É sabido que a origem dos movimentos ambientalistas remonta ao Século XVIII, quando especialistas já demonstravam preocupações afetas a temas ligados a questões ambientais, como a poluição e o esgotamento das riquezas naturais (MENDONÇA; DIAS, 2019, p. 208, apud RODRIGUES, 2009). A partir da tomada de consciência quanto a finitude dos recursos ambientais, os consumidores passaram a atentar para a necessidade de mudanças nos padrões de consumo. Diante disso, temas como consumo e desenvolvimento sustentáveis começaram a ser debatidos. Declarado pela Resolução ONU nº 153/1995, o chamado consumo sustentável exsurge como nova preocupação da ciência consumerista. Com efeito, o próprio consumo de produtos e serviços, em grande parte, pode e deve ser considerado como atividade predatória dos recursos naturais. E, como se sabe, enquanto as necessidades do ser humano, sobretudo quando alimentado pelos meios de comunicação em massa e pelos processos de marketing, são infinitas, os recursos naturais são finitos, sobretudo quando não renováveis. A nova vertente, pois, do consumerismo visa exatamente a buscar o necessário equilíbrio entre essas duas realidades, afim de que a natureza não seja privada de seus recursos, o que, em consequência, estará a ameaçar a própria sobrevivência do ser humano neste planeta (...) (GRINOVER, 2019, pg. 11). Impulsionado pelos meios de comunicação em massa, como por exemplo, a internet, constata-se o surgimento de um “despertar da atenção da sociedade” com relação aos impactos causados pela ação humana no meio ambiente. Em decorrência disso é que os consumidores passaram a analisar dados referentes a como os produtos que eles consomem afetam o ecossistema (MÉO, 2017, pg. 12). Em 2019, o instituto de pesquisas NIELSEN entrevistou mais de 21 mil consumidores brasileiros e constatou que a sustentabilidade é um tema que está em pauta. Segundo dados coletados, “42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir seu impacto no meio ambiente e 30% dos entrevistados estão atentos aos ingredientes que compõem os produtos” (NIELSEN, 2019). Assim, é possível afirmar que o consumidor moderno está tendente a optar, diante da ampla oferta de bens de consumo, por aqueles cuja produção causa menos impactos ambientais. Dados retirados da pesquisa “Vida Saudável e Sustentável”, realizada no ano de 2019 pelo Instituto Akatu, em parceria com a GlobeScan, corroboram esta afirmação, mostrando que 57% (cinquenta e sete por cento) dos consumidores analisam informações sobre questões socioambientais na hora de adquirir um produto (AKATU; GLOBESCAN, 2019, p. 17). Além Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 15 disso, uma parcela significativa afirmou que deseja reduzir o impacto negativo gerado pelos produtos que consomem no meio ambiente (AKATU; GLOBESCAN, 2019, p. 16). Nesse cenário, fica clara a necessidade de as empresas mudarem sua forma de produção se quiserem se manter competitivas no mercado e, efetivamente, vender os bens que produzem. A adaptação voltada à preocupação ambiental deve se dar desde a parte inicial da fabricação, no que tange ao cuidado com os insumos utilizados, até o pós-consumo, com o tratamento que é dado aos dejetos resultantes da fabricação, bem como, com o destino que terá o produto quando de seu descarte. Em outros termos, levando em conta essa mudança de mentalidade do consumidor, os produtos e serviços que passaram a se destacar e a ganhar valor de mercado são os que fazem uso de sistemas de produção ecologicamente corretos, seja por meio da utilização de matérias primas menos danosas, alterações do modo de extração e práticas pouco nocivas que causam menos impactos ambientais (PAVIANI, 2019, p. 93). A partir desses alertas e da crescente preocupação ambiental, surgiram diversas iniciativas que prometiam cuidado com o meio ambiente, dentre as quais os selos de sustentabilidade, que representam um elo entre produtor e consumidor e identificam produtos que não causam (ou causam menos) impactos ao meio ambiente. Sob uma identificação visual, trata-se de um diagrama informativo para bens produzidos no âmbito das especificações ambientais. A iniciativa tem origem principalmente na Europa, tendo recebido impulso de Organizações Não-Governamentais (ONGs). (STELZER; GONÇALVES, 2016, p. 133). Tendo isso em vista, em decorrência da crescente preocupação com a conservação do meio ambiente, as empresas se viram obrigadas a adotar novos posicionamentos e a criar novas formas de produção, voltadas à conservação ambiental. O consumidor ecologicamente correto, cada vez mais preocupado com o que consome e em como o seu consumo afeta a vida no planeta, impôs, de certa forma, o desenvolvimento de produtos que resultem em menos impactos negativos ao ecossistema. Cientes destes dados, cada vez mais empresas buscam adaptar suas formas de produção, de modo que menos consequências negativas sejam sentidas pelo meio-ambiente. O problema ocorre quando as empresas dizem estar utilizando métodos de produção sustentáveis apenas como forma de marketing, no intuito de aumentar os índices de vendas, sem, contudo, estarem adotando essas condutas na prática. Daí é que tem surgimento a prática que se convencionou chamar de greenwashing. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 16 2.2 O greenwashing: breves noções conceituais A expressão greenwashing não é algo que comporta uma definição simples. Mediante breve pesquisa, é possível encontrar inúmeras tentativas de estabelecer um conceito para essa complexa prática. Uma delas define o greenwashing como: aglutinação do inglês green, que significa verde, e washing, lavando, o termo greenwashing, corresponde, em tradução livre, lavagem verde, mas também pode ser compreendido como “maquiagem verde”, ocorrendo quando as organizações se valem da política ambiental para promoverem um produto ou serviço, sendo que na realidade, busca-se apenas o lucro (PAVIANI, 2019, pg. 98). Existem registros sobre o termo que datam de 1992. Nesse ano, o Greenpeace3 publicou um livro denominado “The Greenpeace book of Greenwash”, no qual há menção acerca do surgimento dessa prática. Conforme o registro, por volta das décadas de 1970 e 1980 foi constatado um aumento com a preocupação ambiental. Isso se deu em decorrência de diversos fatores, dentre os quais, o surgimento de movimentos de cidadãos de diversos países contrários à degradação ambiental, bem como, a maior exposição da mídia quanto aos problemas relacionados ao meio ambiente (GREENPEACE FOUNDATION, 1992, p. 2-3). Mas foi mais precisamente no fim dos anos 80 que esse movimento se intensificou, quando as pessoas começaram a correlacionar temas como a poluição das águas e da camada de ozônio, a extinção das florestas e a alta quantidade de emissão de resíduos tóxicos às empresas multinacionais. Diante disso, tornou-se extremamente difícil para elas negarem a sua contribuição com a degradação ambiental, e foi aí que nasceu a estratégia Greenwash (lavagem verde), como um projeto desenvolvido pela indústria com o intuito de convencer os consumidores de que as empresas transnacionais preocupam-se e adotam medidas voltadas à preocupação ambiental (GREENPEACE FOUNDATION, 1992, p. 2-3). Com o passar do tempo, essaprática tornou-se amplamente difundida em âmbito mundial, e vastamente utilizada pelas mais diversas companhias empresariais. No Brasil, não foi diferente. Uma pesquisa realizada em 2019 pelo IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), conseguiu comprovar que o greenwashing está presente também no mercado brasileiro. Referida pesquisa utilizou dados coletados em grandes supermercados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, sendo que os produtos analisados foram delimitados por categorias (cosméticos, higiene, produtos de limpeza e 3 O Greenpeace é uma organização internacional sem fins lucrativos e totalmente financiada por seus apoiadores. Está presente em mais de 55 países e desenvolve campanhas globais coordenadas entre vários escritórios (GREENPEACE BRASIL). Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 17 utilidades domésticas). A pesquisa teve por objetivo analisar se os produtos avaliados continham indícios da prática do greenwashing, levando em conta os dados apresentados nas embalagens e comparando as alegações com sites de referência de certificadoras independentes e canais de serviço de atendimento das empresas (SACs) (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 2019, p. 6). As informações coletadas mostraram que, dentre os produtos analisados, “509 continham alguma alegação cunho socioambiental, sendo que 67% (341 produtos) corresponde à categoria de higiene e cosméticos, seguido de limpeza, 17% (89 produtos); e utilidades domésticas, 16% (79 produtos)” (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 2019, p. 9). A partir da avaliação feita, foi constatado que 48%, sendo 243 produtos analisados praticam Greenwashing e a categoria que mais o faz proporcionalmente é a de utilidades domésticas. Foram encontradas alegações irregulares em 75% dos itens dessa categoria, o que indica que 3 em cada 4 produtos desse tipo apresentaram alguma irregularidade. No caso dos produtos de limpeza, o Greenwashing apareceu em 66% dos rótulos analisados - portanto, 2 em cada 3 produtos. Na categoria de higiene e cosméticos, enfim, a prática foi constatada em 37% dos produtos estudados, o que indica que o Greenwashing esteve presente em 1 em cada 3 embalagens. O problema mais recorrentemente encontrado nos rótulos analisados foi o da falta de provas das vantagens ambientais dos produtos - especialmente das “alegações animais”, que informam a não realização de testes ou a ausência de ingredientes de origem animal. Os fabricantes dos produtos estudados pelo Idec que incorreram nessa irregularidade não disponibilizaram na embalagem dos produtos, em seu site, pelo canal do SAC ou após serem notificados extrajudicialmente documentos que embasassem suas alegações. Além da falta de provas, a pesquisa encontrou diversos produtos com alegações irrelevantes, destacando-se os aerossóis que alegam não conter CFC e os produtos saneantes que indicam fazer uso de tensoativos biodegradáveis (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 2019, p. 10-11). Assim, fica claro que, mesmo sendo uma prática com surgimento não tão recente, o fenômeno greenwashing está cada dia mais presente no dia a dia dos consumidores. É fato que existem empresas que demonstram preocupação verdadeira com o meio ambiente, e que, com base nisso, prezam pela sua conservação na elaboração dos produtos que oferecem ao mercado. Ocorre, contudo, que infelizmente, essas não são a maioria. O problema surge exatamente na hora de diferenciar as fabricantes que realmente cumprem seu papel ambiental das que apenas vendem a ideia, mas não a implementam na prática. O ordenamento jurídico brasileiro, preocupado com a parte vulnerável das relações de consumo, possui diversos comandos protetivos voltados aos consumidores, os quais podem ser utilizados como manto protetor contra possíveis abusos cometidos por parte dos fornecedores. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 18 3. PRINCIPAIS REGULAMENTAÇÕES ATINENTES AO GREENWASHING NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO A Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88) demonstrou particular preocupação com a defesa da parte vulnerável da relação de consumo. Nesse ímpeto, elencou, em seu art. 5º, XXXII CF/884, a promoção da defesa do consumidor como sendo um direito fundamental. Ademais, mediante breve análise do inciso V do artigo 170 da CF/885, verifica- se que a defesa do consumidor também foi tratada pela Carta Maior como um dos princípios que regem a ordem econômica brasileira. Nessa senda, como forma a dar efetividade ao comando estabelecido no artigo 5º, XXXII da CF/88, foi criada, em 1990, a Lei 8.078/90, denominada Código de Defesa do Consumidor (CDC). O referido diploma foi considerado um marco de extrema importância na busca pela efetivação e proteção dos direitos dos consumidores. Contudo, apesar de trazer conceitos e previsões extremamente afrentes de seu tempo, o Código em debate não apresentou nenhuma regulamentação que tratasse, especificamente, sobre a prática do greenwashing. Não obstante, mesmo diante da ausência de uma normatização específica, constata-se que dentre os princípios e regras que o Código, efetivamente, prevê, existem alguns que podem ser utilizados para acautelar e combater a prática. Dentre os princípios, vale destacar os que demandam uma atuação transparente por parte do fornecedor, reconhecem a vulnerabilidade do consumidor frente o mercado consumerista, determinam que o comportamento dos atores integrantes da relação de consumo deva se pautar na boa-fé e no fornecimento de informações quanto a seus direitos e deveres (MÉO, 2017, pg. 329). Ênfase maior merece o princípio da informação, o qual auxilia na construção de uma consciência voltada ao desenvolvimento sustentável. Referido princípio pode ser conceituado como a obrigação que as empresas possuem de prestar ao consumidor informações que sejam claras, verdadeiras e precisas, além disso, também encerra o direito que este possui de ser devidamente informado sobre o desenvolvimento sustentável da sociedade em que vive (LOVATO, p. 167-170). 4 Art. 5º CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. 5 Art. 170 CF. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 19 Além disso, o artigo 6º, inciso III do CDC prevê que a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem é um direito básico do consumidor, bem como, um dever do fornecedor. O CDC também regulamenta a prática da publicidade no ordenamento jurídico brasileiro. É possível comprovar a preocupação do microssistema com a tutela desse tema mediante a regulamentação da proteção contra a publicidade enganosa e abusiva como um dos direitos básicos6 do consumidor. Tendo em vista as diversas formas pelas quais o greenwashing se manifesta, verifica-se que em muitos casos, pode caracterizar espécie de publicidade enganosa nas modalidades comissiva e por omissão7 (fulcro no artigo 37 CDC). Assim, tem-se que não somente o fornecimento de informações falsas, mas também a ausência de informações essenciais aoconsumidor é considerada pelo CDC como publicidade enganosa (SENACON, 2013, p. 138). Mais precisamente, a proteção contra publicidade enganosa e abusiva, consideradas como práticas comerciais condenáveis é conferida pelo CDC a partir de seu artigo 30. A oferta publicitária é tratada pelo CDC como um dos mais relevantes aspectos do mercado consumerista e, diante disso, a ela é atribuído caráter vinculativo. Assim, conforme o diploma, tudo o que disser respeito a um produto ou a um serviço deve, obrigatoriamente, corresponder à expectativa que foi incutida no consumidor, sob pena de sofrer sanções especificadas na Seção II do Capítulo V do CDC (GRINOVER, 2019, pg. 145). O artigo 378 veda qualquer modalidade de publicidade enganosa. É importante ressaltar que o dispositivo não proíbe a publicidade. Posiciona-se somente contra dois tipos de publicidade perniciosa ao consumidor (GRINOVER, 2019, pg. 340). 6 Art. 6º CDC. São direitos básicos do consumidor: IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. 7 Em primeiro lugar, podemos identificar dois tipos de publicidade enganosa: a por comissão e a por omissão. Na publicidade enganosa por comissão, o fornecedor afirma algo capaz de induzir o consumidor em erro, ou seja, diz algo que não é. Já na publicidade por omissão, o anunciante deixa de afirmar algo relevante e que, por isso mesmo, induz o consumidor em erro, isto é, deixa de dizer algo que é (GRINOVER, 2019, pg. 343). 8 Art. 37 CDC. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. § 4° (Vetado). Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 20 De acordo com a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (SENACON), a “enganosidade” nos anúncios publicitários pode se manifestar de várias formas, dentre elas: a falta de comprovação dos benefícios socioambientais alegados; a aposição de informação dessa natureza em locais de difícil identificação pelo consumidor, colocando-o em dúvida se a qualidade se refere ao produto ou à sua embalagem; informar que o produto é reciclável sem que haja sistema de logística reversa ou coleta seletiva que viabilize a sua real reciclagem; e sustentar seu aspecto “natural” mesmo após ter sido industrializado (SENACON, 2013, p. 138-139). Além de configurar prática vedada e de ferir os direitos básicos do consumidor, realizar afirmação falsa ou enganosa, e a omissão de informação relevante sobre as características, qualidade, quantidade, segurança e desempenho dos produtos são considerados crimes pela legislação consumerista, conforme os arts. 669 e 6710, do CDC (SENACON, 2013, p. 139). 3.1 Regulamentação - CONAR Diante da constatação da inexistência de normas específicas no CDC - ou em qualquer outro diploma, sobre vedação ao greenwashing, o anexo U do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR traz apelos à publicidade voltada à responsabilidade socioambiental e à sustentabilidade. O CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) é uma organização não governamental criada em 1980, com o intuito de regulamentar a publicidade no Brasil. Possui como missão “impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas e defender a liberdade de expressão comercial”. Em cumprimento aos objetivos que motivaram a sua criação, a entidade define princípios básicos que definem a ética na publicidade: Os preceitos básicos que definem a ética publicitária são: todo anúncio deve ser honesto e verdadeiro e respeitar as leis do país, deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social, evitando acentuar diferenciações sociais, deve ter presente a responsabilidade da cadeia de produção junto ao consumidor, deve respeitar o princípio da leal concorrência e deve respeitar a atividade publicitária e não desmerecer a confiança do público nos serviços que a publicidade presta (CONAR). 9 Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa. 10Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena Detenção de três meses a um ano e multa. Parágrafo único. (Vetado). Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 21 O CONAR recebe denúncias provenientes de consumidores, associados e outras autoridades, a cerca de irregularidades praticadas por fornecedores em atos publicitários. É possível encontrar menção de dois casos11 nos quais foram feitas representações acerca de supostas práticas de greenwashing, julgados pela ONG. Em ambos, foi reconhecida a ocorrência da prática. Contudo, tendo em vista que o CONAR não é um órgão estatal, ele não é dotado do poder de aplicar multas, bem como, suas normas são de natureza não vinculativa. Ao analisar as denúncias recebidas, se verificada a sua procedência, o CONAR apenas expede recomendações para alterar ou suspender a veiculação do anúncio (CONAR). Entretanto, apesar de não possuir força judicial, os pareceres emitidos pelo CONAR influenciam nas decisões, bem como nas escolhas dos consumidores e de investidores externos (PAVIANI, 2019, pg. 101). 3.2 Projeto de lei nº 4.752-B, de 2012 Diante dessa aparente falha legislativa, no intuito de realizar uma regulamentação específica da prática do greenwashing, mais recentemente, no ano de 2012, foi apresentado à 11 CASO 1: ACHOLATADO ORGÂNICO NATIVE. Mês/Ano Julgamento: MAIO/2013. Representação nº: 087/13. Autor(a): Grupo de consumidores Anunciante: Usina São Francisco. Relator(a): Conselheiro Manoel Zanzoti Câmara: Sétima Câmara Decisão: Alteração Fundamentos: Artigos 1º, 3º, 6º, 27, 36 e 50, letra "c" do Código e seu Anexo U Resumo: Grupo de consumidores reunidos pela Proteste questiona embalagem do Achocolatado Orgânico Native, em especial a menção "Aço - Reciclável - Ecológico", considerada irrelevante e passível de induzir o consumidor a erro. Em sua defesa, a anunciante alude a documento da ABNT, intitulado Simbologia de Identificação de Materiais. O relator considerou a denúncia pertinente. Segundo o seu entendimento, a lata é reciclável, mas o aço não é ecológico. "A prática do greenwashing como estratégia de marketing é conhecida do mercado e cabe a instituições como o Conar e aos consumidores fazer com que ela seja reduzida", escreveu o relator em seu voto. Ele considerou importante a denúncia formulada, demonstrando o crescimento do nível de consciência das pessoas. Recomendoua alteração da embalagem, de forma que seja retirada a palavra "ecológico". Seu voto foi aceito por unanimidade (CONAR. Disponível em: http://www.conar.org.br/processos/detcaso.php?id=3546. Acesso em: 15 ago. 2020). CASO 2: ORGANIQUE BRASIL. Mês/Ano Julgamento: ABRIL/2013. Representação nº: 046/13. Autor(a): Conar, mediante queixa de consumidor. Anunciante: Organique Brasil. Relator(a): Conselheira Tânia Pavlovsky. Câmara: Segunda Câmara. Decisão: Alteração. Fundamentos: Artigos 1º, 3º, 23, 27 e 50, letra "b" do Código. Resumo: Consumidora de Osasco (SP) queixa-se de anúncio em internet da Organique, uma empresa fabricante de cosméticos. No entendimento da denunciante, a empresa divulga usar ingredientes naturais em seus produtos, o que não corresponderia à verdade, na medida em que vários componentes químicos fazem parte das fórmulas. Não estaria havendo, questiona a consumidora, greenwashing? Em sua defesa, a empresa esclarece que comercializa três linhas de produtos, sendo que em uma delas não são empregados conservantes, matérias-primas de origem animal e petróleo. Para a defesa, a consumidora estendeu essa propriedade específica de uma das suas linhas para as demais. A relatora não julgou suficientes esses argumentos. Ela considerou que as alegações de cuidados com o meio ambiente frisados no site da empresa não estão devidamente provados. "O site deixa muitas dúvidas em aberto e foi isso o que causou a queixa da consumidora", escreveu em seu voto. Ela recomendou a alteração, de forma a esclarecer que a empresa também comercializa linhas de produto que não se enquadram na apresentação geral do site, além de comprovar as ações que diz promover em benefício do meio ambiente. Seu voto foi aceito por unanimidade (CONAR. Disponível em: http://www.conar.org.br/processos/detcaso.php?id=3420. Acesso em: 15 ago. 2020). http://www.conar.org.br/ Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 22 Câmara dos Deputados o Projeto de Lei número 4.752/2012, que regulamentava o greenwashing de maneira expressa. Referido projeto tinha por intuito obrigar “organizações e empresas que utilizam propaganda sobre sustentabilidade ambiental de seus produtos ou serviços a explicarem-na a partir dos rótulos dos produtos e do material de publicidade (...) (BRASIL; Câmara dos Deputados, 2012). Além disso, o projeto também previa as sanções a serem aplicadas em caso de prática da “maquiagem verde”, conforme denominada pelo projeto. O Art. 4º estabelecia que “A prática da maquiagem verde sujeita as pessoas físicas e jurídicas por ela responsáveis às sanções previstas no art. 72 da Lei n o 9.605, de 12 de fevereiro de 1998” (BRASIL; Câmara dos Deputados, 2012). Ou seja, o greenwashing, quando comprovadamente praticado pelas empresas no Brasil, passaria a configurar uma infração administrativa ambiental, prática lesiva ao meio ambiente que poderia acarretar como punição desde uma simples advertência, até a destruição ou inutilização do produto. O projeto foi recebido e analisado pela Câmara dos Deputados, contudo, ao ser emitido o parecer da Comissão de Defesa do Consumidor, a proposição foi considerada inapropriada. Dentre as diversas razões adotadas para o indeferimento do projeto, a principal delas foi a afirmação que a prática do greenwashing já é regulamentada, ainda que indiretamente, pelo CDC, quando este se refere à publicidade enganosa, em seu artigo 37 (BRASIL; Câmara dos Deputados, 2012). Além disso, alegou-se que o projeto extrapolaria a seara consumerista, uma vez que estabelecia punições previstas na legislação ambiental aos que praticassem a referida conduta. Não obstante, também foi arguido que a criação de exigências de que as empresas obtivessem certificação por parte de terceiros, ou comprovassem as alegações por meio de dados científicos “implica um grande desincentivo às mencionadas ações, por criar insegurança jurídica flagrante às empresas, além de criar ônus adicionais imprevisíveis” (BRASIL; Câmara dos Deputados, 2012). Tendo isso em vista, a Comissão responsável pelo parecer apontou as soluções que entendeu serem cabíveis e suficientes para a prevenção e repressão da “maquiagem verde”. De acordo com ela, “o que se deveria incentivar é a criação de critérios claros para a utilização de apelos ambientais e/ou de sustentabilidade na publicidade de produtos e, com estas regras, Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 23 criar penalidades para as empresas que estiverem usufruindo destes apelos, sem cumprir os critérios estabelecidos” (BRASIL; Câmara dos Deputados, 2012). Assim, verifica-se que apesar da tentativa de criação de uma norma que tratasse, especificamente, da prática do greenwashing, optou-se pela não conversão do projeto em lei. Um dos principais argumentos para tanto foi a alegação de que a prática já se encontra devidamente acautelada no ordenamento pátrio, não necessitando de maiores regulamentações. 3.3 O greenwashing e a (des)necessidade de sua regulamentação específica Diante do panorama apresentado, no qual o greenwashing aparece como prática responsável por ocasionar danos não só ao meio ambiente, mas também aos consumidores como um todo, surge a necessidade de intervenção por parte do direito, através de mecanismos aptos a possibilitar a proteção e defesa da parte vulnerável da relação de consumo. Contudo, como ocorre com outras condutas ilícitas já reconhecidas pelo ordenamento jurídico, nem sempre a regulamentação específica sobre o assunto é necessária, uma vez que, em grande parte dos casos, as normas já existentes são suficientes para reger o tema e disponibilizar instrumentos capazes de coibir e reprimir a prática. Nessa senda, ganham destaque as previsões estabelecidas no CDC, as quais, somadas, constituem um manto protetor ao consumidor-vítima (efetiva ou potencial) do greenwashing. O arcabouço protetivo inicia-se no artigo 3112 do referido diploma e prossegue nos artigos seguintes, ganhando destaque o parágrafo único do artigo 36, que estabelece uma obrigação que deve ser cumprida pelo fornecedor, no intuito de acautelar a veracidade das informações que são disponibilizadas nos produtos. Aponta o referido dispositivo que, “o fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”. Constata-se que este artigo é uma das mais importantes ferramentas no combate ao grenwashing, uma vez que estabelece a obrigatoriedade de o fornecedor estar munido dos dados comprobatórios das informações que disponibiliza nos invólucros dos bens de consumo. Assim, não seria suficiente a mera alegação de que o produto respeita o meio ambiente, uma vez que o 12 Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 24 consumidor poderia solicitar acesso às informações para conferir se aquilo que está descrito no produto realmente foi cumprido. Contudo, é no artigo 37 do CDC que encontramos o dispositivo que mais se coaduna e é capaz de acautelar o consumidor para que ele não se torne vítima do greenwashing, prática que, conforme já ressaltado, amolda-se perfeitamente ao conceito de publicidade enganosa. O artigo 3713 veda qualquer conduta que seja capaz de iludir ou ludibriar o consumidor. Nesse ímpeto, conforme artigo 66 do CDC, “fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade,quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços”, configura crime contra as relações de consumo, estando o fornecedor sujeito à pena de detenção que varia de três meses a um ano e multa. Importa ressaltar que, ainda que a conduta seja culposa, seu autor pode sofrer sanções de detenção, de um a seis meses ou multa. Além disso, a conduta de “fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva” também é considerada crime pelo CDC, sujeito a pena de detenção, que pode ser de três meses a um ano e multa”, conforme preceitua o artigo 67 do referido diploma legislativo. Não obstante, além das diversas sanções penais, outras, de índole administrativa, também podem ser impostas ao fornecedor que pratica greenwashing. Tais sanções encontram previsão no artigo 56 do CDC14, e podem ser aplicadas inclusive de forma cumulativa. Diante disso, fica claro que o ordenamento pátrio possui diversos mecanismos que estão previstos legalmente e que são capazes de combater o greenwashing. Além disso, outros instrumentos, não jurídicos, também podem ser invocados para fazer frente à prática. Citam-se como exemplo as já mencionadas recomendações expedidas pelo CONAR, a importância da 13 Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. 14 Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas: I - multa; II - apreensão do produto; III - inutilização do produto; IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente; V - proibição de fabricação do produto; VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII - suspensão temporária de atividade; VIII - revogação de concessão ou permissão de uso; IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI - intervenção administrativa; XII - imposição de contrapropaganda. Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 25 educação ambiental, bem como, medidas preventivas que podem ser adotadas pelos próprios consumidores antes da aquisição dos produtos. Ressalta-se que a prevenção e cuidado na hora da aquisição do produto é uma das formas mais eficazes de não ser vítima da prática. Assim, algumas condutas são recomendadas para que o consumidor não seja enganado com afirmações inverídicas. A primeira é fugir de afirmações falsas, desconfiando de “produtos que possuem afirmações ambientais vagas como “ecológico”, “sustentável” ou “amigo do meio ambiente”” contudo, não apresentam nenhum dado comprobatório ou suporte para comprovação. Além disso, mas não menos importante, é fundamental ter cuidado com imagens que parecem selos oficiais, mas na verdade, são desenhos criados pela própria empresa para confundir os adquirentes de seus produtos (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 2019, p. 25). Outra dica importante é ter cuidado com as mensagens que são inseridas nos produtos, sempre pesquisando se elas são realmente compatíveis com o alegado pelos fornecedores, uma vez que muitas empresas colocam recomendações e sugestões em suas embalagens, como “Preserve o Meio Ambiente, ele agradece”, “Economize água”, “Por favor, recicle essa embalagem”. No entanto, a empresa carece de política socioambiental e de ações voltadas à sustentabilidade de seus produtos. A responsabilidade com o meio ambiente é tanto do consumidor, quanto da empresa. É comum encontrar casos em que o consumidor quer reciclar a embalagem do produto, mas o fabricante não investiu em embalagens 100% recicláveis ou biodegradáveis e não consegue. Até mesmo casos nos quais a empresa pede para o consumidor economizar água, mas a sua empresa não tem a prática de fazer reuso de água, reaproveitamento e até mesmo racionamento (INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, 2019, p. 26). A conduta mais indicada para confirmar a veracidade dos dados contidos nos produtos é entrar em contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da empresa, por meio de telefone ou e-mail, os quais precisam estar informados no rótulo do produto, solicitando provas concretas das afirmações realizadas. Deste modo, constata-se que “o consumo sustentável apenas é bem sucedido se a maioria dos consumidores participarem dele voluntariamente, sendo educados para traduzir as informações que recebem sobre o tema em novos comportamentos, aqui e agora” (MÉO, p. 186). Somada a isso, a educação ambiental15 é outro importante instrumento no combate ao greenwashing. Prevista na Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, desempenha importante papel 15 Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 26 de conscientização e sensibilização dos consumidores e também das empresas, auxiliando no reconhecimento de práticas que “possam realmente ser comprovadas através da oferta de informações claras, uma vez que as embalagens devem trazer informações verdadeiras e com linguagem adequada ao entendimento do público geral” (SIQUEIRA; VARGAS, 2013, p. 03). Assim, constata-se que o sistema jurídico brasileiro é rico e completo ao prever regras e princípios suficientemente capazes de proteger o consumidor do greenwashing. Diante disso, verifica-se que não é indispensável a edição de uma regulamentação específica para combater a prática e viabilizar a proteção do consumidor. Isto porque, ainda que indiretamente, encontram-se disposições principiológicas e regramentos dispostos no ordenamento jurídico brasileiro capazes de combater e regular os efeitos possivelmente causados pelo greenwashing. 4. CONCLUSÃO No presente trabalho estudou-se a prática conhecida como greenwashing, sua relação com o meio ambiente e com a sociedade atual. O intuito principal foi aferir se existe (ou não) a necessidade de serem criadas leis específicas para sua regulamentação. Constatou-se que é notória a preocupação mundial com o impacto que os altos índices de consumo vêm ocasionando ao meio ambiente no decorrer dos últimos séculos. Em decorrência disso, se tornou urgente a mudança nos padrões de produção e consumo, principalmente no que tange ao cuidado com a finitude dos recursos naturais. Assim, os movimentos ambientalistas influenciaram osconsumidores do século XXI a adquirirem produtos que são feitos de modo a causar menos prejuízo ao ecossistema, tanto na fase de produção, quanto no descarte. Tendo isso em vista e imbuídos do intuito de alavancar suas vendas, muitos fabricantes começaram a inserir nas embalagens dos bens de consumo que ofertam informações que levam a entender que eles são feitos de modo ambientalmente correto, contudo, isso não é o que ocorre na realidade. Esta prática ficou conhecida como greenwashing. O Código de Defesa do consumidor foi publicado em 1990 de forma a dar efetividade ao comando constitucional que estabelecia a obrigatoriedade de sua criação. Apesar de configurar um diploma com normas consideradas bastante avançadas para seu tempo, o Código não trouxe nenhuma regulamentação que tratasse especificamente do greenwashing. Com o passar dos anos e com o aumento da prática, foram surgindo questionamentos acerca da necessidade de criação de uma lei que previsse de forma especifica condicionantes à sua ocorrência. Assim, em 2012 foi apresentado o Projeto de lei nº 4.752-B, de 2012 à Câmara dos Deputados, o qual estabelecia normas específicas sobre o greenwashing. Referido projeto, Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 27 no entanto, não foi convertido em lei sob o principal argumento de que regulamentava algo que já encontra previsão legal no ordenamento jurídico, ainda que implicitamente. Deste modo, conclui-se que, apesar de não possuir uma legislação que trate de maneira particularizada sobre o tema, o ordenamento jurídico brasileiro contém instrumentos capazes de combater o greenwashing. Exemplos desta alegação são os pareceres expedidos pelo CONAR, os quais, apesar de não serem dotados de força judicial, influenciam nas decisões do público consumerista. Além disso, as normas do Código de Defesa do Consumidor que regulamentam a publicidade no ordenamento jurídico brasileiro também podem ser utilizadas no combate à prática. Igualmente, do CDC, podem ser extraídos diversos princípios aplicáveis. Assim, com base na transparência, na vulnerabilidade do consumidor, na boa-fé e na informação, é possível estabelecer vedações e combater o greenwashing. Por fim, também existem outras formas de combate à referida prática, como a educação ambiental e outras que podem ser adotadas pelo próprio consumidor. Medidas simples e não jurídicas, como a busca de dados comprobatórios no próprio site da fornecedora para se certificar de que as alegações contidas na embalagem do produto são verdadeiras, e o acompanhamento de pesquisas feitas por instituições ambientalistas, são alguns exemplos disso. Deste modo, conclui-se que, a criação de novas leis ou regulamentos específicos para combater o greenwashing não se faz necessária no ordenamento jurídico brasileiro. Isto porque, apesar de não possuir uma legislação que trate de maneira particularizada sobre o tema, é possível constatar que existem inúmeras normas (tanto regras quanto princípios) suficientemente capazes de regulamentar a prática, protegendo de maneira satisfatória a parte mais fraca da relação de consumo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKATU; GLOBESCAN. Pesquisa Vida Saudável e Sustentável, 2019. Disponível em: <https://www.akatu.org.br/wp-content/uploads/2020/04/Apresentac%CC%A7a%CC%83o- Webinar-VSS_com-me%CC%81dia-internacional_final_v.3_final_utilizada_FF.pdf>. Acesso em 25 jul. 2020. BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 29 ago. 2020. BRASIL, Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 4752/2012. Obriga organizações e empresas que utilizam propaganda sobre sustentabilidade ambiental de seus produtos ou serviços a Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 28 explicarem-na a partir dos rótulos dos produtos e do material de publicidade e estabelece as sanções à prática da maquiagem verde, previstas na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=560705>. Acesso em: 26 set. 2020. BRASIL, Lei Federal n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm>. Acesso em: 29 ago. 2020. BRASIL, Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 13 fev. 2021. BRASIL. 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Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 30 A REDUÇÃO DA MENSALIDADE NA REDE PRIVADA DE ENSINO EM PERÍODO PANDÊMICO: BREVES CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS E ANÁLISE JURISPRUDENCIAL Bárbara Peixoto Nascimento Ferreira de Souza1 Maria Luiza de Almeida Carneiro Silva2 Resumo: O presente trabalho trata das solicitações, realizadas por alunos e pais/responsáveis, de redução da mensalidade na rede privada de ensino, que veio à tona como uma das consequências da pandemia da Covid-19, em virtude da ausência de aulas presenciais em meio ao risco de contaminação e, consequentemente, risco à saúde e à vida de todos os envolvidos no ambiente acadêmico. Nesse contexto, serão abordados os posicionamentos a favor e contra à redução da mensalidade nas escolas e faculdades da rede privada de ensino, bem como o posicionamento os Tribunais Superiores. As dificuldades com relação à matéria são determinar medidas que não sobreponham os interesses de uma das partes, considerando as famílias e as instituições envolvidas nessa relação jurídica, e a construção de uma jurisprudência sólida nesse sentido. O estudo do tema escolhido é necessário e importante, pois traz consequências para a realidade social, econômica e jurídica. À vista das dificuldades apontadas, o presente trabalho tem como objetivo apresentar o debate relativo ao tema e apontar como solução viável o preenchimento de certos critérios para que seja a lide decidida, retirados do entendimento jurisprudencial. Como procedimentos metodológicos foram utilizados a pesquisa explicativa e exploratória, bem como a técnica de pesquisa documental indireta e o método dedutivo. Conclui-se que a temática não se encontra pacificada jurisprudencialmente, demandando estudos mais aprofundados para solucionar as questões práticas que lhe são inerentes. Palavras-chave: Ensino privado. Redução da mensalidade. Prestação de serviço. Pandemia. 1 INTRODUÇÃO Diante da incidência do coronavírus (Sars-Cov-2), em nível de pandemia, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, sobrevieram recomendações e restrições de isolamento social impostas pelo Ministério da Saúde, de modo que os governos estaduais e municipais foram levados a tomar diversas medidas visando tutelar direitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos como o direito à vida e à saúde, sendo uma delas a suspensão das atividades presenciais nas escolas e faculdades. Esta medida, em especial, proporcionou mais à frente a utilização da educação à distância ou ensino remoto como forma de substituir as aulas presenciais e dos estudantes não serem de todo prejudicados. 1 Mestra em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2020). Especialista em Direito Constitucional e Tributário pela Universidade Potiguar (2015). Parecerista ad hoc da Revista Antinomias. Advogada – OAB/RN n° 11.970. E-mail: barbarapeixoto_nfs@hotmail.com. 2 Mestra em Direito pela Universidade do Rio Grande do Norte (2020). Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade de Anhanguera – MS (2016). Pós-graduanda em Direito Constitucional pela Damásio Educacional. Parecerista ad hoc da Revista Antinomias. E-mail: marialuiza.acs@hotmail.com. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 31 A somar, em razão do cenário pandêmico existente, surgiram inúmeras consequências deletérias na saúde pública, bem como nas mais diversas relações de mercado, ante à paralisação da atividade econômica ou à sua significativa redução, refletindo integralmente na situação socioeconômica da população e das próprias empresas. Justamente nesse quadro, verificou-se por parte dos pais/responsáveis - nos casos em que os alunos são menores de idade - e dos próprios discentes a necessidade de adoção de providências conducentes ao reequilíbrio das obrigações contratuais, que terminaram por ser afetadas em razão da pandemia, considerando, para tanto, que o advento desse fato extraordinário impôs a cobrança desproporcional das mensalidades escolares, assim como uma prestação de serviço supostamente irregular. Em razão desta solicitação, de outro lado estão as Instituições de Ensino privadas, que, por sua vez, alegam que as consequências da pandemia enfrentada são comuns às partes contratantes, portanto, não somente um lado vivencia os inconvenientes do momento de extrema excepcionalidade social e econômica. Além disso, esclarecem que a interrupção ocorrida não foi causada por sua vontade ou conduta, dentre outros motivos. Destarte, em meio a essa discussão jurídica, o trabalho propõe a exposição e análise dos posicionamentos a favor e contra à redução da mensalidade nas escolas e faculdades da rede privada de ensino, a fim de se determinar solução ou soluções através de preenchimento de certos critérios argumentativos para que seja a lide decidida, retirados do entendimento jurisprudencial pátrio. Para tanto, em um primeiro momento buscou-se destacar os argumentos positivos à redução da mensalidade e o porquê ela seria o caminho jurídico mais acertado, para posteriormente analisar, de igual forma, as dificuldades enfrentadas pelas Instituições de Ensino privadas a serem consideradas na modificação do negócio jurídico, como redução de receita, manutenção dos profissionais contratados e de sua estrutura etc., para, por fim, apontar alguns critérios a serem levados em consideração no ato decisório, mediante a jurisprudência, de maneira a favorecer o acesso à educação aos alunos e ao mesmo tempo não prejudicar em demasia a rede privada. Ressalta-se que, para a realização deste estudo, utilizou-se do método dedutivo, partindo das premissas previamente definidas na legislação e doutrina, por intermédio de pesquisa de documentação indireta, tendo como base, para tanto, documentos que não somente abordem o tema, mas que sejam necessários para a discussão dele. Direito do Consumidor: Desafios e Perspectivas 32 Foi efetuada uma pesquisa explicativa, visando identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a redução das mensalidades no ensino privado, a fim de compreender qual seria o melhor caminho; e exploratória, buscando, ao explicitar a temática em seu atual estado e aprimorar o conhecimento já existente. 2 A REDUÇÃO PELO DIREITO FUNDAMENTAO SOCIAL DE ACESSO À EDUCAÇÃO Do Estado exige-se, para a proteção do direito à vida, em seu duplo aspecto (direito de nascer e direito de subsistir), tanto abstenções, quanto ações, traduzidas em prestações negativas e positivas, respectivamente. No cenário pandêmico, como mencionado anteriormente, houve a imposição de restrições, através de normas governamentais, com o propósito de tutelar, a partir do direito à vida, como mencionado, o direito à saúde, constitucionalmente definidos nos artigos 5° e 6° da Constituição Federal (BRASIL, 1988), respectivamente, sendo uma delas o lockdown, medida de cunho mais rigoroso, imposta para restringir ao máximo a circulação dos cidadãos em locais públicos, sendo permitida apenas a saída por motivos essenciais. A educação, considerada como não essencial, sofreu impacto decisivo desde então e diante dessa nova realidade, surgiram normas com o objetivo de permitir que o processo de ensino-aprendizagem continuasse através do ensino remoto; no âmbito das instituições federais de ensino, o Ministério da Educação publicou a Portaria nº 343, de 17 de março de 2020, seguida das Portarias de nº 345/2020 e nº 395/2020, dispondo sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus – COVID-19 (BRASIL, 2020). Destarte, convém
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