Buscar

E-book_Direito de Família - 06

Prévia do material em texto

ORGANIZAÇÃO 
 Carlos Eduardo Lamas 
 Ana Luiza Berg Barcellos 
 Victor de Abreu Gastaud 
 Alexandre Torres Petry 
 
 
 
 
 
 
NOVOS PARADIGMAS DO DIREITO DE FAMILIA E 
SUCESSÕES 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 2023 
 
 
Copyright © 2023 by Ordem dos Advogados do Brasil 
Todos os direitos reservados 
 
 
Recebimento dos textos, diagramação, ficha catalográfica 
Jovita Cristina Garcia dos Santos 
 
Projeto Gráfico e Capa 
Victor Baldez Silva 
 
Revisora 
Dieniffer de Souza Silva Lemes 
 
 
 
 
 
 
 Bibliotecária Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10º 1.5717 
 
 
 
A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos 
assinados, serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 
 
Escola Superior de Advocacia da OAB/RS 
Rua Manoelito de Ornellas, 55 – Praia de Belas 
 CEP 91110-230 – Porto Alegre/RS 
 
 
N848 
 Novos paradigmas do direito de familia e sucessões//, Carlos Eduardo Lamas, Ana 
Luiza Berg Barcellos, Victor de Abreu Gastaud, Alexandre Torres Petry. 
(Organizadores). – Porto Alegre: OABRS, 284p. 
 
ISBN: 978-65-88371-29-9 
1. Direito de família. 2. Sucessões. I. Título 
 
CDU: 347.6 
 
CDU:cccc 
 
 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL 
DIRETORIA/GESTÃO 2022/2025 
 
Presidente: Beto Simonetti 
Vice-Presidente: Rafael Horn 
Secretária-Geral: Sayury Otoni 
Secretária-Geral Adjunta: Milena Gama 
 Diretor Tesoureiro: Leonardo Campos 
 
ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA 
 
Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte 
 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL 
 
Presidente: Leonardo Lamachia 
Vice-Presidente: Neusa Maria Rolim Bastos 
Secretário-Geral: Gustavo Juchem 
Secretária-Geral Adjunta: Karina Contiero Silveira 
Tesoureiro: Jorge Luiz Dias Fara 
 
ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA 
 
Diretor-Geral: Rolf Hanssen Madaleno 
Vice-Diretor: Eduardo Lemos Barbosa 
Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin 
Diretoras de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osorio, Michelle da Silva G. Vieira 
Diretor de Cursos Especiais: Roger Eridson Dorneles 
Diretores de Cursos Não Presenciais: Jair Pereira Coitinho 
Diretoras de Atividades Culturais: Ana Lúcia Kaercher Piccoli, Eliane Chalmes Magalhões 
Diretor de E-books e da Revista Eletrônica: Alexandre Torres Petry 
 
CONSELHO PEDAGÓGICO 
 
Bruno Nubens Barbosa Miragem 
Simone Tassinari Cardoso Fleischmann 
Gerson Fischmann 
Cristina da Costa Nery 
Raimar Rodrigues Machado 
 
 
 
CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS 
 
Presidente: Pedro Zanette Alfonsin 
Vice-Presidente: Paula Grill Silva Pereira 
Secretária-Geral: Morgana Bordignon 
Secretária-Geral Adjunta: Alessandra Glufke 
Tesoureiro: Matheus Portella Ayres Torres 
 
TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA 
 
Presidente: Airton Ruschel 
Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira 
 
CORREGEDORIA 
 
Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles 
Corregedores Adjuntos 
 Maria Ercília Hostyn Gralha 
Josana Rosolen Rivoli 
Regina Pereira Soares 
 
OABPrev 
 
Presidente: Jorge Luiz Dias Fara 
Diretor Administrativo: Otto Junior Barreto 
Diretora Financeira: Claudia Regina de Souza Bueno 
Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves 
 
COOABCred-RS 
 
Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel 
Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO - Victor de Abreu Gastaud .................................................................................. 8 
APRESENTAÇÃO - Carlos Eduardo Lamas e Ana Luiza Berg Barcellos .......................... 9 
UNIÃO ESTÁVEL, AUTONOMIA PRIVADA E REGIME DE BENS FIXADO 
RETROATIVAMENTE - Ana Luiza Berg Barcellos ............................................................ 11 
O REGIME DE BENS NA UNIÃO ESTÁVEL QUANDO INCIDENTE CAUSA 
SUSPENSIVA - Ana Regina Costa Martins ......................................................................... 24 
LEGADOS NO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO DE DEPENDENTES ECONÔMICOS - 
Anna Carolina Grehs Sulzbach e Nicole Cavalli Gomes da Silva ...................................... 41 
ALIENAÇÃO PARENTAL E SUA NECESSÁRIA REGULAMENTAÇÃO LEGAL - Carlos 
Eduardo Lamas ...................................................................................................................... 55 
FIXAÇÃO DE RESIDÊNCIA BASE NA GUARDA COMPARTILHADA E SUA RELAÇÃO 
COM A ALIENAÇÃO PARENTAL - Carlos Eduardo Lamas e Marina Kayser 
Boscardin ................................................................................................................................. 69 
A NATUREZA JURÍDICA DOS ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS E SUA 
IMPORTÂNCIA NA APLICAÇÃO PRÁTICA - Carlos Eduardo Lamas e Sônia Brizolara 
Fortunato da Silva .................................................................................................................. 81 
MULTIPARENTALIDADE: A AFETIVIDADE COMO FATOR DETERMINANTE DA 
PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA - Fernando Ferreira de Alcântara e José Weidson 
de Oliveira Neto ...................................................................................................................... 91 
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS COMO MEIO VIÁVEL À FISCALIZAÇÃO DA 
PRESTAÇÃO ALIMENTAR DOS FILHOS MENORES - Gisela Brum Isaacsson .......... 112 
CONSTRUINDO PONTES: ADVOCACIA COLABORATIVA E A ABORDAGEM 
INTERDISCIPLINAR NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES - Grasiela 
de Souza Thomsen Giorgi, Marilene Marodin e Maria Izabel Severo ........................... 126 
A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CASOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL: O DANO 
MORAL SOFRIDO PELO GENITOR ALIENADO - Jéssica Nobre Weber...................... 147 
MOROSIDADE NOS PROCEDIMENTOS DE ADOÇÃO NO BRASIL: DESAFIOS E 
PERSPECTIVAS À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - 
Leandro Barbosa de Araujo e Francineide Barbosa de Araújo Costa ............................ 168 
A FAMÍLIA SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DOS SISTEMAS SOCIAIS DE NIKLAS 
LUHMANN - Mariana Galvan dos Santos e Ana Júlia Cecconello Folle ........................ 189 
NEGLIGÊNCIA AFETIVA: A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELO 
ABANDONO AFETIVO - Nathane Von Ahn e Ana Regina Costa Martins.................... 201 
A ORDEM NATURAL DOS PAPÉIS SOCIAIS FAMILIARES - Rafaela Peres 
Castanho ................................................................................................................................ 216 
 
 
“STRANGER THINGS” E DIREITO DE FAMÍLIA “IN STREAMING”: EXPLORANDO AS 
RELAÇÕES ENTRE A SÉRIE E AS DINÂMICAS FAMILIARES - Roberta Drehmer de 
Miranda e Gabrielle da Silva Wilhelm ............................................................................... 227 
A CONTRATUALIZAÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA E A VALORIZAÇÃO DA 
AUTONOMIA PRIVADA - Rochele da Silva Madruga .................................................... 242 
HERANÇA DIGITAL: REFLEXÕES SOBRE O DIREITO A HERANÇA E O DIREITO A 
INTIMIDADE DO FALECIDO - Sara Daniela Silva de Souza.......................................... 253 
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA POST MORTEM - UM ESTUDO DA 
JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO 
SUL - Victoria Pérez Lacerda Rangel e Gisela Brum Isaacsson ...................................... 269 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
PREFÁCIO 
 
Com enorme satisfação, a Escola Superior de Advocacia do Rio Grande do Sul e demais 
organizadores deste e-book me honraram com convite para redigir o prefácio desta 
relevantíssima obra, denominada “Novos paradigmas do direito de família e sucessões”. 
Trata-se, pois, de projeto vanguardista, ponderado conjuntamente pela ESA/RS, por 
intermédio de Alexandre Torres Petry – diretor de e-books e da revista eletrônica da instituição 
–, e pela Comissão Especial de Direito de Família e Sucessões da Subseção de Pelotas, 
capitaneada pelos ilustres e operosos presidente e vice-presidente:Carlos Eduardo Lamas 
Santos da Silva e Ana Luiza Berg Barcellos, respectivamente. 
Este importante material contempla dezoito artigos, redigidos por advogados e 
advogadas dedicados ao estudo e à prática do direito de família e sucessões, a partir dos temas 
mais contemporâneos acerca da matéria. Formou-se, assim, um substancioso compilado de 
textos, os quais, certamente, engrandecerão o conhecimento dos profissionais voltados às 
questões que tangenciam essa sensível área do direito e do pensamento jurídico. 
Nesse sentido, cumprimento, muito efusivamente, não apenas os seus organizadores, 
mas, também, cada uma das pessoas que dedicou parcela relevante de seu tempo para elaborar 
os excelentes artigos selecionados. Da mesma forma, agradeço, em nome da Subseção de 
Pelotas, o pronto acolhimento da ESA/RS à proposta formulada. 
Esta iniciativa, certamente, suscitará outros projetos desta natureza, que virão para 
proporcionar espaço genuinamente de valorização e capacitação da advocacia, sem descuidar 
de admirável mister da ESA/RS: ascender o nível cultural de advogadas e advogados gaúchos. 
Invito, assim, às leitoras e aos leitores, que usufruam deste e-book, e empreguem o seu 
conteúdo no exercício da advocacia, bem como na academia, pois, a toda evidência, será de 
enorme proveito. Esta é, seguramente, uma proposta da Subseção de Pelotas, da ESA/RS e da 
Seccional gaúcha, liderada pelo presidente Leonardo Lamachia, comprometido a atender, sem 
medir esforços, aos pleitos da classe e, sobretudo, ao aprimoramento intelectual e profissional 
daqueles que compõem o quadro de advogadas e advogados de nosso Estado. 
 
 
Victor de Abreu Gastaud 
Presidente da Subseção de Pelotas 
 
9 
 
APRESENTAÇÃO 
 
São cada vez mais intensas e constantes as mudanças ocorridas na família brasileira, o 
que implica em uma necessária transformação também no direito de família e sucessões. 
 O percurso percorrido pela legislação (mesmo que atrasada às demandas 
contemporâneas) e jurisprudência bem exemplifica este dinamismo: em menos de um século, 
saímos de um patriarcado e caminhamos à possibilidade de famílias poliafetivas, multiparentais 
e até mesmo multiespécie. 
Incontestável que a doutrina familista é uma das grandes responsáveis pelos avanços no 
reconhecimento dos direitos aplicados aos sujeitos destes núcleos familiares, uma vez que 
muitas das transformações se deram em âmbito jurisprudencial, com fundamento único e 
exclusivo em teses doutrinárias, tendo em vista a legislação em total atraso com a sociedade 
contemporânea. 
O interesse que a advogada e o advogado familista despertam ao estudo constante é o 
que nos impulsionou, como representantes da Comissão Especial de Direito de Família e 
Sucessões da Subseção de Pelotas, a criar este projeto, automaticamente abraçado pela diretoria 
da OAB Pelotas, na qual agradecemos na pessoa de seu presidente, Victor Gastaud. 
Diante destes motivos, a Comissão Especial de Direito de Família e Sucessões da OAB 
Pelotas, em conjunto com a Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil 
– Seccional do Rio Grande do Sul, resolveram lançar o E-book Novos Paradigmas do Direito 
de Família e Sucessões. 
Novos paradigmas desafiam novos modelos, abordagens contemporâneas. Os autores 
se desincumbiram deste desafio, com um olhar sensível ao que os temas exigem. 
O E-book Novos Paradigmas do Direito de Família e Sucessões agrega trabalhos que 
contemplam tanto as questões existenciais, como as matérias do direito de família e sucessório, 
com reflexões voltadas às complexidades doutrinárias e jurisprudenciais em assuntos 
controvertidos e inovadores. 
 Os dezoito artigos permeiam os mais diversos e atuais assuntos. Destacamos nesta 
apresentação alguns ramos de reflexão que o leitor encontrará neste E-book. 
A temática da autonomia de vontade e da contratualização no direito de família vem se 
mostrando de grande relevância às famílias contemporâneas, as quais, por força de suas 
especificidades, inclusive patrimoniais, precisam fixar cláusulas que regrarão a relação de 
forma personalizada, impondo-se, pois, reflexão acerca da mitigação das interferências estatais 
10 
 
frente a autonomia privada. Na seara das questões patrimoniais no âmbito familiar, a obra 
contempla, também, o estudo acerca do regime de bens aplicável à união estável nos casos de 
causa suspensiva ao casamento. 
Outros temas sobre os quais o E-book não poderia se furtar na abordagem são os 
pertinentes ao abandono afetivo e à alienação parental, assuntos de imensa relevância psíquica, 
social e jurídica, e sobre os quais os operadores do direito precisam estar atentos e zelosos em 
seu trato, visando, assim, o melhor atendimento dos interesses das crianças e adolescentes, os 
quais são as vítimas das práticas desta natureza. 
Aspectos relacionados à prática profissional e à morosidade de procedimentos na seara 
do direito de família também permeiam o E-book ora lançado. No primeiro tópico, a discussão 
acerca da advocacia colaborativa e a necessária abordagem interdisciplinar são expostas para 
contribuir com a atuação profissional dos advogados das áreas de direito de família e sucessões. 
E, na segunda temática, são expostas as necessárias reflexões acerca dos procedimentos de 
adoção no Brasil e sua morosidade, que tantos danos causam aos adotandos em potencial. 
Ainda no campo do direito das famílias, temáticas relacionadas à prestação alimentar de 
natureza compensatória e, também, acerca da possibilidade da ação de exigir contas para 
fiscalização da destinação da verba alimentar, estão contempladas no presente E-book. 
Por fim, a reflexão acerca dos papéis sociais familiares, o estudo das famílias como 
sistema social à luz da teoria luhmanniana e, ainda, a investigação sobre a construção de 
relações de multiparentalidade e da paternidade socioafetiva post mortem, contribuem para 
reflexão dos leitores. 
Já no campo no direito sucessório os assuntos expostos igualmente se mostram atuais, 
com a exposição de temáticas relacionadas à herança digital e a constituição de legados. 
Visando, pois, a colaborar para o aperfeiçoamento técnico dos profissionais direito na 
área do de família e sucessões, rogamos que o presente E-book auxilie na necessária atuação 
técnica que se impõe aos operadores do direito. 
Agradecemos aos envolvidos nesta produção, em especial aos autores e autoras. 
Votos de uma excelente leitura! 
 
 Carlos Eduardo Lamas 
Presidente da Comissão Especial de Direito de Família e Sucessões da OAB Subseção 
Pelotas/RS 
Ana Luiza Berg Barcellos 
Vice-Presidente da Comissão Especial de Direito de Família e Sucessões da OAB Subseção 
Pelotas/RS 
 
11 
 
UNIÃO ESTÁVEL, AUTONOMIA PRIVADA E REGIME DE BENS 
FIXADO RETROATIVAMENTE 
 
Ana Luiza Berg Barcellos1 
 
RESUMO 
 
A união estável, nas últimas décadas, consolidou-se como um dos formatos de constituição das 
famílias. Ao longo do tempo, o ordenamento jurídico foi sendo constituído e atualizado para 
acompanhar os anseios sociais neste campo. O Poder Judiciário, por sua vez, pronunciou-se de 
forma inédita em inúmeras circunstâncias, assegurando proteção jurídica aos indivíduos. Os 
operadores do Direito desafiam-se, diariamente, na investigação e constituição de mecanismos 
capazes de protegerem os direitos dos cidadãos. A fixação da retroatividade do regime de bens 
na união estável representa um dos desafios para o tormentoso tratamento patrimonial nas 
uniões estáveis, encontrando-se, contudo, resistência no Poder Judiciário. Os profissionais do 
Direito, porém, seguem defendendo os interesses dos conviventes, argumentando - respeitosa 
e fortemente - o equívoco dos Julgadores. Neste artigo, então, o tema da autonomia privada no 
Direito das Famílias é objeto de breves reflexões, sendo associado ao assunto da retroatividade 
do pacto de convivência no que tange ao regime de bens.Palavras-chave: união estável; regime de bens; retroatividade; autonomia privada; liberdade. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Todos sabemos que nas últimas décadas muito se vem discutindo acerca da intervenção 
do Estado no Direito das Famílias. As mudanças sociais demonstram a necessidade de serem 
revistas as normas não mais compatíveis com as características e anseios sociais, especialmente 
porque o Direito das Famílias ainda se via vinculado ao modelo do Código Civil de 1916, 
inobstante o Código Civil de 2003 tenha apresentado inúmeros avanços. Neste ponto, sublinha-
se que ainda seguimos sofrendo com influências históricas de natureza cultural e jurídica no 
Direito das Famílias, mas desenvolvendo e ampliando novas conjecturas, as quais se propõem 
a atender as demandas e necessidades da sociedade contemporânea. 
 
1 Advogada (OAB/RS 55626); Coordenadora do Curso de Direito das Faculdades João Paulo II – Polo Pelotas; 
Vice-Presidente do Núcleo Pelotas do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM); Especialista em 
Direito Processual Civil pela PUCRS; Especialista em Direito de Família e Sucessões pela Escola Brasileira de 
Direito Mestre em Educação pela UFPEL e Doutora em Política Social e Direitos Humanos pela UCPEL. E-mail 
analuiza@mmouraadvogados.com. 
 
 
12 
 
Hodiernamente, um dos tópicos de suma relevância no âmbito jurídico familiar é a 
possibilidade e os limites para a contratualização entre cônjuges e companheiros. 
Atentando, assim, a evolução do Direito das Famílias, aos anseios e receios da sociedade 
atual, especialmente decorrentes das alterações na forma como as relações afetivas se 
constituem, é que observamos a necessidade de nos debruçarmos sobre os aspectos de liberdade 
contratual e autonomia privada focados no Direito das Famílias. 
O presente artigo, então, objetiva apresentar o tema da contratualização no âmbito do 
Direito das Famílias, em especial a questão da fixação retroativa do regime de bens vigorante. 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
Sabemos que a Constituição Federal de 1988 consolidou inúmeras e necessárias 
alterações em nosso ordenamento jurídico, destacando-se, por exemplo, no §5º do art. 206, o 
exercício igualitário do direitos e deveres da sociedade conjugal entre os homens e as mulheres. 
O reconhecimento de outras formas de família, para além daquela constituída pelo casamento, 
com o acolhimento da união estável e das famílias monoparentais e, ainda, reconhecendo a 
igualdade entre os filhos, concedendo os mesmos direitos, independentemente da origem 
destes, são avanços significativos. Tais questões eram, naquele tempo, indispensáveis à 
proteção social, pois o ambiente sociológico impunha o olhar e o cuidado pelo Direito daquela 
conjuntura social. 
Todavia, a sociedade não parou, as transformações persistem em nosso cotidiano. 
Vejamos que as mudanças em diversas searas da sociedade ocorreram desde a revolução no 
campo e na cidade, com o uso de tecnologias, mas também, e especialmente, trouxeram 
transformações comportamentais. Neste viés, observamos a necessidade de que cada vez mais 
as decisões sejam tomadas rapidamente, movimento este especialmente fortalecido pelos meios 
de comunicação, como, por exemplo, os aplicativos de mensagens instantâneas. Em um 
contexto atual, de globalização, eliminação das distâncias e das fronteiras territoriais, 
observamos que a socialização transportou-se do universo físico e presencial para também 
contemplar o ambiente virtual e, é neste contexto, que as relações familiares e afetivas também 
sofreram profunda mudança, tornando-se – algumas ou muitas vezes – voláteis. 
O Direito, por sua vez, em especial o Direito das Famílias, deve acompanhar tal 
conjuntura, transformando, promovendo e acolhendo mecanismos técnicos que confiram 
segurança jurídica. 
13 
 
O Código Civil de 2002, é, assim, um destes instrumentos do Direito, que objetivou 
acolher na esfera jurídica as mudanças sociais, todavia, não tem sido o corpo legislativo capaz 
de acompanhar a velocidade das transformações. De todo modo, temos diretrizes desta norma 
que permitem uma interpretação constantemente atualizada, sendo, porém, fundamental que 
operadores do Direito estejam atentos a tais premissas. 
Há uma passagem de Miguel Reale (2001), abordando o teor do Código Civil de 2002, 
que tomamos a liberdade de compartilhar no início deste artigo por ser, sem dúvida, expressão 
dos desígnios desta norma e contributivo para a abordagem aqui proposta. Vejamos: 
 
Quando entrar em vigor o novo Código Civil, perceber-se-á logo a diferença entre o 
código atual, elaborado para um país predominantemente rural, e o que foi projetado 
para uma sociedade, na qual prevalece, em grande parte, a vida urbana. Haverá uma 
passagem do individualismo e do formalismo do primeiro para o sentido socializando 
do segundo, mais aberto às mutações sociais, com substancial mudança no paradigma 
jurídico-social. 
Além disso é superado o apego a soluções estritamente jurídica, reconhecendo-se o 
papel que na sociedade contemporânea voltam a desempenhar princípios de boa-fe e 
correção, para que possa haver real concreção jurídica. 
Sociedade e eticidade condicionam os preceitos do novo Código Civil, no qual 
desempenham grande papel as normas ou cláusulas abertas. 
 
O atual Código Civil está assentado em três diretrizes que nortearam a sua construção 
legislativa, e seguem orientando sua interpretação, quais sejam: socialidade, eticidade e 
operabilidade. Muita sinteticamente, temos que princípio da socialidade está relacionado ao 
preceito constitucional de solidariedade social, visando compor os interesses individuais e 
sociais nas relações constituídas. O princípio da eticidade visa preservar relações pautadas pela 
ética, pela confiança nas relações instituídas e, em especial, pela boa-fé objetiva, que pressupõe 
conduta leal, que permita a manutenção da confiança e das expectativas do negócio. Por fim, o 
princípio da operabilidade visa proporcionar caráter de fácil manejo do Código Civil, com 
estrutura hermenêutica, por exemplo, que se vale de cláusulas abertas, visando, também, 
contemplar tratamento jurídico também aos avanços e às mudanças sociais. Há uma situação 
de Judith Martins Costa (2002, p. 160) que bem pontua tal viés: 
 
[...] é preciso ter presente sua nova racionalidade, que, não mais pretendendo tudo 
regular, requer as contribuições da doutrina e da jurisprudência para continuar e 
completar a sua força normativa, postulando, por igual a consciência de todos os 
cidadãos, destinatários do Código – os reais construtores de sua normatividade – de 
que ‘não existe a plenitude do Direito escrito, mas sim a plenitude ético-jurídica do 
ordenamento. 
 
14 
 
Para compreendermos a temática da autonomia privada e da liberdade contratual, 
precisamos contextualizar tal preceito no Código Civil de 2002, em especial à luz do princípio 
da eticidade, pois, ao contrário do que se possa cogitar à primeira vista, liberdade contratual 
não significa ausência de limites para a manifestação de vontade daqueles que pactuam. 
Devemos, ainda, atentar ao fenômeno sociológico do afeto como relevante tópico a ser 
considerado para orientação do Direito das Famílias contemporâneo. 
O respeitado e tradicional doutrinador Paulo Lobo (2008, p. 47/48) é quem cunhou, pela 
primeira vez, em 1999, o status de princípio jurídico ao afeto, sendo sua lição no sentido de que 
o princípio da afetividade consolida o Direito das Famílias com atenção na estabilidade das 
relações afetivas e na comunhão de vida, sobrepondo-se estas sobre os aspectos relacionados 
aos vínculos biológicos ou, ainda, questões de natureza patrimonial. 
Embora o status concedido ao afeto, e o desenvolvimento do princípio da afetividade 
como uma diretriz ao Direito das Famílias, Dimas Messias de Carvalho, no artigoParentalidade 
Socioafetiva e a Efetividade da Afetividade, publicado nos Anais do IX Congresso Brasileiro 
de Direito das Famílias: Pluralidade e Felicidade, leciona a relevância da adequada 
compreensão sobre a distinção entre os institutos “afeto” e “afetividade”: 
 
Necessário no princípio da afetividade, em razão de vários equívocos que vêm sendo 
cometidos, distinguir a afetividade, como valor jurídico, do afeto, como estado 
psicológico, como sentimento. Da mesma forma que no Direito das Obrigações a 
vontade como valor jurídico é a conscientemente externada, objetiva, no Direito das 
Famílias também não se confundem o afeto, como sentimento, com a afetividade 
externada por comportamentos, por condutas objetivas. 
 
Nesta linha de pensamento, Ricardo Calderón (2017, p. 153) organiza tal tema nos 
seguintes termos: 
 
AMOR É estranho ao Direito e às suas atuais categorias 
jurídicas 
AFETO Sentimento anímico de aspecto subjetivo 
(inapreensível de forma direta pelo Direito) 
AFETIVIDADE Atividade exteriorizadora de afeto; conjunto de atos 
concretos representativos de um dado sentimento 
afetivo por outrem (esses atos concretos são captáveis 
pelo Direito, pelos seus meios usuais de prova) 
15 
 
SOCIOAFETIVIDADE Reconhecimento no meio social de uma dada 
manifestação de afetividade, percepção por uma dada 
coletividade de uma relação afetiva (repercussão 
também captável pelo Direito, pelos seus meios usuais 
de prova) 
 
Percebe-se, pois, que tanto a afetividade, como a socioafetividade, são assinaladas como 
condição exteriorizada e percebida no meio social, sendo, em consequência deste 
reconhecimento pela coletividade, que as implicações jurídicas e o tratamento pelo Direito 
merece atenção. 
Reconhecendo-se, como referido acima, a necessidade de proteção jurídica à 
afetividade, enquanto princípio basilar das relações de natureza familiar, nasce, também, a 
indispensabilidade de ser conferida profunda atenção à liberdade e à autonomia dos sujeitos 
para manifestarem suas vontades na regulação dos tratos assentados na afetividade. Contudo, o 
Poder Judiciário Brasileiro sinaliza caminhar na contramão de tal entendimento. 
No ano de 2022, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar um Agravo em Recurso 
Especial (AREsp 1.631.112), entendeu que a definição do regime de bens a regular a união 
estável não tem efeito retroativo, vigorando ex-nunc. 
No caso concreto, o STJ deu provimento ao recurso especial que pretendia a reforma de 
acórdão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, no qual houve o pronunciamento no sentido do 
cabimento da retroatividade da escolha do regime de bens feita pelo casal, no caso, separação 
convencional de bens. 
A união estável, na hipótese sob julgamento, vigorava faticamente desde maio de 2000, 
sendo apenas em 2008 que as partes formalizaram a relação, fixando, então, o regime de 
separação de bens de forma retroativa ao início da união. Quando, porém, realizada a dissolução 
da relação, uma das partes buscou no Poder Judiciário anular a cláusula acerca do regime de 
bens, não obtendo êxito nas instâncias ordinárias, mas vendo a tese acolhida no Superior 
Tribunal de Justiça. 
No âmbito do STJ, os ministros pronunciaram-se pela irretroatividade dos termos 
pactuados, sendo, ainda, ressaltado pela Ministra Maria Isabel Gallotti, que a alteração do 
regime de bens mesmo na união estável depende de autorização judicial, aplicando-se, por 
16 
 
analogia, as regras do art. 1639, §2º, Código Civil, no qual restam previstas as exigências para 
alteração do regime de bens no casamento. 
O Ministro Raul Araújo, de outro lado, restou vencido, sublinhando o posicionamento 
de que não se deve comparar as normas de alteração do regime de bens no casamento, para o 
qual se exige autorização judicial, com a hipótese da união estável, pois esta tem a 
informalidade como premissa e, portanto, quando as partes optam por formalizar e escolhem o 
regime de bens com efeitos retroativos, está-se diante da primeira fixação pelas partes, e não 
alteração do regime. Visando demonstrar de modo fidedigno o voto do Ministro Raul Araújo, 
abaixo segue a transcrição do mesmo: 
 
No caso da união estável, temos que se dá sem as formalidades inerentes ao 
casamento, sendo mais difícil, para terceiros, constatar a precisa data de seu início, 
especialmente se os companheiros divergem acerca disso. Então, temos de ver se 
tratamos aqui de alteração do regime de bens na união estável, porque, em algum 
momento anterior, os conviventes teriam optado por um determinado regime e agora 
querem alterar esse regime anteriormente formalizado para outro. Essa hipótese, seria, 
a meu ver, coincidente com a regra e a exigência prevista no § 2º do art. 1.639. Mas, 
se a união estável teve início e perdurou até um ponto em que veio uma primeira 
formalização de regime de bens, sem expressa adoção anterior de outro regime, não 
estaremos a falar propriamente de alteração do regime de bens e sim da própria 
instituição ou formalização do regime de bens sempre prevalente entre aqueles 
conviventes. Nessa segunda hipótese. Quer dizer, ressalvado o caso de os conviventes 
terem anteriormente optado por um determinado regime, e formalizado essa opção, 
estando agora a pretender alterar tal regime, e nesse caso a mudança teria de ser 
perante o juiz, teríamos ou não o caso de aplicação da regra do § 2º do art. 1.639. 
Porque, se antes não havia regime de bens formalizado entre os conviventes, o que 
fizeram por último foi apenas formalizar o regime de bens da união informalmente já 
ajustado entre os conviventes, dispondo sobre direitos disponíveis, o que me parece 
possível. Não se estaria, nessa hipótese, a tratar de alteração de regime, mas, sim, 
da lícita instituição ou formalização do regime que, desde o início da união, entre 
eles vigorava. Isso, porque ninguém os terá forçado a assim proceder, salvo se 
houver alegação nesse sentido. Anoto que, sempre, em toda e qualquer hipótese 
em que se dê a disposição acerca de regime de bens, ficam ressalvados os direitos 
de terceiros, que tenham confiado na existência daquele casal. Faço essas 
apreciações indagando se, no caso, os conviventes haviam anteriormente formalizado 
regime diferente daquele por último escriturado, configurando, assim, agora, uma 
mera formalização do regime informalmente instituído ou uma efetiva alteração. Sem 
a resposta acerca da indagação, entendo que, neste caso, não tratamos de alteração de 
regime de bens, mas, sim, de formalização do regime de bens vigente na união estável. 
E considero, por isso, possível o efeito retroativo, pois os direitos são disponíveis. 
As partes apenas compareceram a Cartório e fizeram o pacto, formalizando o regime 
de bens desde o início vigente na comunhão estável. (grifamos) (AREsp 1.631.112, 
www.stj.jus.br) 
 
De outro lado, respeitosamente, divergindo do argumento exposto pelo Excelentíssimo 
Ministro, no sentido de que o ato de formalizar o regime vigorante para a união equipara-se à 
instituição do mesmo, entendemos que o Julgador desconsiderou o regime da comunhão parcial 
http://www.stj.jus.br/
17 
 
de bens como o regime legal, o qual vigora independentemente da manifestação de vontade das 
partes. Independentemente desta ressalva, entendemos, todavia, que a interpretação do Ministro 
é coerente e razoável na perspectiva de que a união estável sempre esteve pautada, desde o seu 
surgimento, pela informalidade. Por conseguinte, sendo a matéria do regime de bens direito 
disponível, foge à plausibilidade o tratamento igualitário que o Poder Judiciário tenta conferir 
entre casamento e união estável, equiparando institutos que historicamente pautaram-se pela 
distinção no viés da (in)formalidade. 
Corroborando, ainda, os argumentos interpretativos do Ministro Raul Araújo, 
especialmente o aspecto relacionado à informalidade da união estável e o anseio dosconviventes neste tipo de relação, localizamos o entendimento da Tabelião de Notas Priscila 
Agapito, que destaca os aspectos culturais da união estável, a característica do instituto como 
sendo uma situação de fato e pautada pela informalidade. Portanto, seria mais coerente com as 
premissas do instituto permitir que os interessados efetivamente disciplinem sua relação. 
Ademais, sublinha a Tabeliã a percepção de que a jurisprudência evoluiu de forma inadequada, 
dissociada dos reais interesses sociais, pois muitas vezes é difícil fixar o termo inicial da união 
estável, portanto, igualmente complexa delimitação do regime patrimonial vigente. 
(AGAPITO, 2022) 
O que percebemos é que, embora nas últimas décadas haja um movimento para o Direito 
das Famílias mínimo, ou seja, cada vez mais a intervenção do Poder Judiciário nas relações 
privadas seja diminuta, por vezes, o Judiciário surpreende a sociedade com decisões do gabarito 
da exposta, a qual, inclusive, não é exatamente uma posição inovadora, pois em anos anteriores 
já tivemos pronunciamentos desta estirpe. 
 
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AUTOS DE AGRAVO DE 
INSTRUMENTO NA ORIGEM - INVENTÁRIO - DECISÃO MONOCRÁTICA 
QUE PROVEU O APELO NOBRE. INSURGÊNCIA DA COMPANHEIRA 
SUPÉRSTITE. 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a eleição de regime de 
bens diverso do legal, que deve ser feita por contrato escrito, tem efeitos apenas ex 
nunc, sendo inválida a estipulação de forma retroativa. 2. Na linha dos precedentes do 
STJ, os argumentos trazidos em agravo interno que não foram objeto do acórdão do 
Tribunal a quo, nem das contrarrazões ao recurso especial, não são passíveis de 
conhecimento, por importar em inovação recursal, a qual é considerada indevida em 
virtude da preclusão consumativa. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp 
1751645/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 
04/11/2019, DJe 11/11/2019.) 
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DAS 
FAMÍLIAS. ESCRITURA PÚBLICA DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO 
ESTÁVEL. REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS. ATRIBUIÇÃO DE EFICÁCIA 
RETROATIVA. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTES DA TERCEIRA TURMA. 
1. Ação de declaração e de dissolução de união estável, cumulada com partilha de 
bens, tendo o casal convivido por doze anos e gerado dois filhos. 
18 
 
2. No momento do rompimento da relação, em setembro de 2007, as partes 
celebraram, mediante escritura pública, um pacto de reconhecimento de união estável, 
elegendo retroativamente o regime da separação total de bens. 
3. Controvérsia em torno da validade da cláusula referente à eficácia retroativa do 
regime de bens. 
4. Consoante a disposição do art. 1.725 do Código Civil, "na união estável, salvo 
contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que 
couber, o regime da comunhão parcial de bens". 
5. Invalidade da cláusula que atribui eficácia retroativa ao regime de bens pactuado 
em escritura pública de reconhecimento de união estável. 
6. Prevalência do regime legal (comunhão parcial) no período anterior à lavratura da 
escritura. [...] 9. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp 1597675/SP, Rel. 
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 
25/10/2016, DJe 16/11/2016) 
 
De todo modo, o ponto central neste assunto é: diante deste tipo de entendimento, 
exarado pelo Superior Tribunal de Justiça, como restam, os princípios da autonomia privada, 
da liberdade contratual neste contexto? 
Parte considerável da doutrina brasileira vem se posicionando no sentido de ser 
perfeitamente viável a contratualização no Direito das Famílias, justamente por respeito à 
autonomia privada, devendo, entretanto, respeitar-se as normas cogentes, como é premissa 
básica do direito pátrio. 
A título ilustrativo, Flávio Tartuce (2021) arrola algumas matérias cujas cláusulas serão 
nulas se previstas em pacto antenupcial ou em contrato de convivência: 
 
a) previsão contratual que estabelece que o marido, nos regimes da comunhão 
universal ou parcial de bens, possa vender imóvel sem outorga conjugal, afastando o 
art. 1.647, inc. I, do CC; b) cláusula que determina a administração dos bens de forma 
exclusiva pelo marido, pois a mulher é incompetente para tanto, afastando a isonomia 
constitucional; c) cláusula que estabeleça a renúncia prévia aos alimentos, infringindo 
a absoluta regra do art. 1.707 do CC; d) cláusula que regulamenta previamente as 
regras referentes à guarda dos filhos, para o caso de divórcio do casal; e) cláusula que 
imponha multa para caso de infidelidade, sendo certo que as perdas e os danos não 
podem ser fixados previamente em casos tais, pois a eventual responsabilidade que 
surge do fim do vínculo tem natureza extracontratual, envolvendo questões de ordem 
pública; f) cláusula que afaste o regime da separação obrigatória de bens nas hipóteses 
descritas pelo art. 1.641 do CC; e g) cláusula que exclui expressamente o direito 
sucessório do cônjuge sobrevivente, afastando as regras da sucessão legítima e 
trazendo a renúncia prévia à herança, havendo claro pacto sucessório, em infringência 
ao art. 426 do Código Civil. 
 A respeito do último exemplo, a propósito, em hipótese concreta em que houve a 
tentativa de se criar um regime de separação total de bens com efeitos sucessórios, 
para que não houvesse herança no caso concreto, violando a proibição das pacta 
corvina, julgou-se que "as normas de direito sucessório dispostas no Título II, 
Capítulo I, do Código Civil (artigos 1.829 e seguintes) são de caráter cogente, não se 
admitindo disposição em contrário, revestindo-se de nulidade, nos termos do artigo 
1.655 do Código Civil, toda e qualquer norma que confronte disposição legal" (TJMT, 
Apelação 15809/2016, Capital, Rel. Des. Sebastião Barbosa Farias, j. 21.06.2016, 
DJMT 24.06.2016, p. 82). 
19 
 
 A impossibilidade de contratação de forma contrária às normas cogentes é premissa do 
direito pátrio e temática sobre a qual não se instaura qualquer celeuma (ou pelo menos não 
deve). O ponto, porém, objeto de reflexão no presente artigo está na possibilidade de 
contratualização sobre assuntos não relacionados às normas cogentes, como é a hipótese de 
pactuação da retroatividade do regime de bens ao tempo da constituição da união estável, e não 
apenas ex nunc ao tempo da formalização do relacionamento. 
 Considerando os argumentos referenciados pelo Superior Tribunal de Justiça para vedar 
a retroatividade em comento, nos cabe ponderar alguns argumentos para refutar a tese da corte 
superior. 
 Inicialmente, deve-se pontuar que autonomia privada é premissa do Estado Democrático 
de Direito, e, ainda que caiba ao Estado fixar limites à liberdade dos sujeitos, visando o 
equilíbrio de forças sociais, e, portanto, a proteção daqueles que não se encontrem em condições 
de igualdade, há áreas de contratualização sobre as quais descabe ao Estado intervir, sendo o 
Direito das Famílias uma delas. Nesta linha, como já mencionado, historicamente observamos 
o fortalecimento da concepção de Direito das Famílias mínimo. Christiano Chaves de Farias e 
Nelson Rosenvald (2016), sobre o tema, lecionam: 
 
Forçoso reconhecer, portanto, a suplantação definitiva da (indevida e excessiva) 
participação estatal nas relações familiares, deixando de ingerir sobre aspectos 
personalíssimos da vida privada, que, seguramente, dizem respeito somente à vontade 
e à liberdade da autodeterminação do próprio titular, como expressão mais pura de 
sua dignidade. O Estado vai se retirando de um espaço que sempre foi lhe estranho, 
afastando-se de uma ambientação que não lhe diz respeito (esperando-se, inclusive, 
que venha, em futuro próximo, a cuidar, com mais vigor e competência das atividades 
que, realmente, precisam de sua direta e efetiva atuação). Nas relações familiares, a 
regra é autonomia privada, com a liberdade da atuação do titular. A intervenção estatal 
somenteserá justificável quando for necessário para garantir os direitos (em especial, 
os direitos fundamentais reconhecidos em sede constitucional) de cada titular, que 
estejam periclitando. 
 
 Especificamente sobre o regime de bens e a possibilidade de sua retroatividade nos casos 
de formalização da união estável, devemos considerar dois aspectos centrais: a disponibilidade 
dos direitos patrimoniais e nuances históricas e sociológicas que constituíram e fortaleceram o 
instituto da união estável. 
 No que tange ao primeiro item acima referido, devemos ponderar que a autonomia 
privada vem sendo tão profundamente fortalecida que a autocomposição está legalmente 
assegurada até mesmo acerca de direitos indisponíveis que admitam transação. Tal previsão 
20 
 
está contemplada na Lei de Mediação, Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015, a qual fixa no 
art. 3º que “pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre 
direitos indisponíveis que admitam transação”. 
 Ora, se a autocomposição significa que os sujeitos em conflito realizam concessões nos 
direitos/obrigações de que são titulares a fim de eliminarem a contenda e, assim podem fazê-lo 
até mesmo em relação a direitos classificados como indisponíveis, tudo indica inexistir 
coerência e razoabilidade em serem os conviventes tolhidos da possibilidade de expressarem 
suas autonomias e liberdades quanto ao termo inicial do regime de bens escolhido para regular 
a união estável. 
 Se o pacto apresentar agentes capazes, objeto lícito e formação prescrita ou não defesa 
em lei, bem como manifestação de vontade pronunciada isenta de quaisquer vícios, temos 
atendidos os pressupostos contratuais, tal como previsto no art. 104, Código Civil. Importante 
ponderação sobre o assunto encontramos por Francisco Cahali (2002), para quem a liberdade 
dos conviventes em disciplinar o tratamento de seus bens, sejam os preexistentes ou os futuros, 
merece ser preservada sob pena de estarmos impondo limitações ao exercício pleno da 
capacidade civil dos conviventes, bem como ao exercício dos poderes inerentes ao direito de 
propriedade, o que implica em ofensa à Carta Magna, especificamente ao art. 5º, incisos XXII, 
XXIII e art. 170, inciso III, os quais versam, o primeiro, sobre garantia do direito de 
propriedade, e os dois últimos, acerca exigência de que a propriedade atenda sua função social. 
 Rolf Madaleno, de outro lado, posiciona-se em sua consistente obra Direito das Famílias 
com firme crítica à possibilidade de alteração do regime legal de bens da união estável de forma 
retroativa. Vislumbra sérios riscos de convalidação de fraudes, assinalando que a admissão da 
renúncia indireta de bens após a aquisição do patrimônio “só poderia ser considerar válida 
quando não prejudicasse terceiros e quando não atentasse contra a ordem pública, tampouco 
prejudicasse o próprio convivente atingido pela súbita perda de sua meação”. Ademais, destaca 
Madaleno (2020, p. 1233): 
 
A renúncia dissimulada por simples contrato escrito de convivência, utilizado para 
afastar a presunção de comunhão parcial dos aquestos, deve ser rejeitada por seu 
infausto efeito de enriquecer sem justa causa apenas o companheiro beneficiado pela 
renúncia do outro, e por atentar contra a moral e o direito, ao permitir restrições de 
ordem material de sequela retroativa. Apagar acordos tácitos de comunhão parcial 
justamente quando a lei presume a comunicação dos bens pela inércia contratual dos 
conviventes, para depois permitir a renúncia patrimonial por mero contrato, surgido 
quase sempre no auge do desgaste da relação, seria admitir uma forma ilícita e imoral 
de empobrecer inadvertida e gratuitamente um dos parceiros em benefício do outro, 
tanto que o STJ tem negado o efeito retroativo ao regime da separação de bens. 
 
21 
 
 
 Sem dúvida, são relevantes as ponderações de Rolf Madaleno, todavia, respeitosa e 
humildemente, ousamos discordar. O risco de que o contrato que fixa o regime de bens da 
separação total de forma retroativa se dê com a finalidade de lesar o outro convivente, não pode 
ser fundamento para que, de forma genérica, se dê a presunção de que todos os conviventes 
apresentam o interesse de fraudar o parceiro em pactos desta ordem. Se a separação de bens 
retroativa representa renúncia patrimonial, comunhão universal retroativa representa 
comunicação de bens não contemplada desde o início da convivência e pode, igualmente, 
implicar em sérios prejuízos ao parceiro com maior patrimônio. Esta obviedade precisa ser 
destacada para sublinhar que não devemos analisar a (im)possibilidade de um instituto jurídico, 
assentado na autonomia privada, presumindo a má-fé dos conviventes. Ao contrário, o Código 
Civil traz entre suas premissas a eticidade, ou seja, a boa-fé pauta as relações privadas. 
 Cabe, ademais, considerar que a união estável tem sua origem nas relações fáticas, sendo 
sua instituição fruto do desejo dos conviventes em constituírem uma conexão sem as 
formalidades do casamento. Se o anseio dos sujeitos fosse formalizar o liame desde seu início, 
optariam pelo casamento, sendo a união estável instituto eleito justamente para escaparem dos 
formalismos. Assim, geralmente, quando deliberam por formalizar a união estável, o fazem em 
um momento de maturidade do relacionamento e opção em registrar o vínculo estabelecido, 
sendo a escolha do regime de bens de forma retroativa o mecanismo de cautela e segurança 
desejável nestes casos. 
 
3 CONCLUSÃO 
 
Face aos elementos expostos, devemos sublinhar que o Direito das Famílias inclinou-se 
nos últimos anos para a intervenção mínima do Estado, priorizando-se o respeito à autonomia 
privada. 
Ademais, as relações afetivas também sofreram enormes alterações em sua 
configuração, constituindo liames - muitas vezes – não tão profundos e com lapso temporal 
enxuto, viabilizando que uma pessoa, ao longo de sua vida, constitua e desfaça vários 
casamentos/uniões estáveis e, nesta gangorra de relacionamentos, a necessária maturidade para 
dialogar e formalizar aspectos de natureza patrimonial só é alcançado com o decorrer do tempo 
da relação. Portanto, a fixação retroativa do regime de bens para a união estável, quando atende 
os pressupostos basilares dos negócios jurídicos, não deve ser obstada pelo Poder Judiciário, 
pois contraria os anseios da sociedade contemporânea. 
22 
 
Além disso, havendo vícios de consentimento nesta espécie negocial, terá o convivente 
lesado os meios próprios para declarar a nulidade ou pleitear a anulabilidade do ato jurídico, a 
depender do vício existente. Alguns estudos sobre o tema ponderam o risco de coação no âmbito 
das relações familiares, o que implicaria na produção de contratos lesivos a um dos conviventes. 
Contudo, mais uma vez, não podemos pautar como não retroativos os pactos sob o argumento 
da existência de risco de sujeitos mal-intencionados, pois, nesta circunstância, estamos 
deixando desamparados outros tantos conviventes que de forma livre e consciente elegem o 
regime de bens e pretendem sua incidência de modo retroativo. 
De todo modo, considerando que a celeuma sobre o assunto está instaurada, e que em 
face do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, os Tabelionatos de Notas não mais vêm 
lavrando escrituras de união estável com fixação do regime de bens de modo retroativo, tem-se 
a possibilidade de que os sujeitos firmem tais pactos pela via dos instrumentos particulares. 
Neste caso, se a opção dos conviventes for o regime da separação convencional de bens, podem, 
também, fixar no ato contratual que, reciprocamente, conferem quitação patrimonial até aquele 
momento. 
Entendemos, no tratamento da matéria em comento, que especialmente o princípio da 
eticidade, lado a lado ao princípio da autonomia privada, respaldam a validade e eficácia dos 
contratos com efeitos retroativos no que tange ao regimede bens, zelando-se, ainda, pelas 
históricas distinções sociológicas e jurídicas entre união estável e casamento. 
 
REFERÊNCIAS 
 
Acórdão proferido no AREsp 1.631.112, disponível em consulta pública de processos no 
Superior Tribunal de Justiça, www.stj.jus.br, disponível em: 
<https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=AREsp+1631112&aplicacao=processos
.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO>. Acesso 
em 13 ago. 2023. 
AGAPITO, Patrícia. Assessoria de Comunicação do IBDFAM. STJ: Definição de regime de 
bens em união estável por escritura pública não retroage; especialistas comentam. Disponível 
em: 
<https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+b
ens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retro
age%3B+especialistas+comentam#, 2022>. Acesso em: 12 ago. 2023 
Assessoria de Comunicação do IBDFAM. STJ: Definição de regime de bens em união estável 
por escritura pública não retroage; especialistas comentam, disponível em: 
<https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+b
http://www.stj.jus.br/
https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=AREsp+1631112&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO
https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=AREsp+1631112&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam
23 
 
ens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retro
age%3B+especialistas+comentam#, 2022>, acesso em: 12 ago. 2023. 
 
CAHALI, Francisco José. Contrato de convivência da união estável. São Paulo: Saraiva, 2002. 
CARVALHO, Dimas Messias. Parentalidade Socioafetiva e a Efetividade da Afetividade, IX 
Congresso Brasileiro de Direito das Famílias Famílias: Pluralidade e Felicidade, 2013, 
Araxá/MG. Anais. Disponível em 
<https://ibdfam.org.br/publicacoes/anais/detalhes/985/IX%20Congresso%20Brasileiro%20de
%20Direito%20de%20Fam%C3%ADlia>. p. 311-334. 
COSTA, Judith Martins. O Novo Código Civil Brasileiro: em busca da “Ética da Situação”. In: 
MARTINS-COSTA, Judith; BRANCO, Gerson Luiz Carlos. Diretrizes Teóricas do Novo 
Código Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 88-168 
FARIAS, Cristiano Chaves e ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias, 
Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. 
LÔBO, Paulo. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. 
MADALENO, Rolf. Direito das Famílias. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. 
REALE, Miguel. Visão Geral do Projeto do Código Civil. Revista da Associação dos 
Magistrados brasileiros. V.5, n 10, p. 61-73, 2001. 
TARTUCE, Flavio. Autonomia privada e Direito das Famílias - Algumas reflexões atuais, 
25/08/2021.Disponível em: 
<https://ibdfam.org.br/artigos/1742/Autonomia+privada+e+Direito+de+Fam%C3%ADlia+-
+Algumas+reflex%C3%B5es+atuais#:~:text=Essa%20%C3%A9%20a%20liberdade%20de,n
a%20grande%20maioria%20das%20vezes>. Acesso em: 12 ago. 2023. 
 
 
 
 
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam
https://ibdfam.org.br/publicacoes/anais/detalhes/985/IX%20Congresso%20Brasileiro%20de%20Direito%20de%20Fam%C3%ADlia
https://ibdfam.org.br/publicacoes/anais/detalhes/985/IX%20Congresso%20Brasileiro%20de%20Direito%20de%20Fam%C3%ADlia
https://ibdfam.org.br/artigos/1742/Autonomia+privada+e+Direito+de+Fam%C3%ADlia+-+Algumas+reflex%C3%B5es+atuais#:~:text=Essa%20%C3%A9%20a%20liberdade%20de,na%20grande%20maioria%20das%20vezes
https://ibdfam.org.br/artigos/1742/Autonomia+privada+e+Direito+de+Fam%C3%ADlia+-+Algumas+reflex%C3%B5es+atuais#:~:text=Essa%20%C3%A9%20a%20liberdade%20de,na%20grande%20maioria%20das%20vezes
https://ibdfam.org.br/artigos/1742/Autonomia+privada+e+Direito+de+Fam%C3%ADlia+-+Algumas+reflex%C3%B5es+atuais#:~:text=Essa%20%C3%A9%20a%20liberdade%20de,na%20grande%20maioria%20das%20vezes
24 
 
O REGIME DE BENS NA UNIÃO ESTÁVEL QUANDO INCIDENTE 
CAUSA SUSPENSIVA 
 
 
 
Ana Regina Costa Martins1
 
 
RESUMO 
 
O presente estudo parte da inexistência de legislação que regulamente os efeitos das causas 
suspensivas matrimoniais à união estável e por consequência, a aplicabilidade ou não da 
obrigatoriedade do regime de separação de bens aos companheiros. Desta forma, o trabalho 
busca a partir do reconhecimento da inexistência da previsão legal compreender qual tem sido 
a forma como a doutrina e a jurisprudência tem entendido adequado suprir esta lacuna legal e 
qual regime de bens tem entendido aplicável aos companheiros que estão sob efeito das causas 
suspensivas matrimoniais. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a pesquisa 
bibliográfica, utilizando-se como apoio às contribuições de diversos autores sobre o assunto, 
assim como, tomou-se por base o entendimento jurisprudencial. 
 
Palavras-chave: casamento; união estável; causas suspensivas; separação de bens. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A Constituição Federal de 1988, expressamente reconhece como entidades 
familiares o casamento, a união estável e a família monoparental, embora não mais se 
discuta existirem outras tessituras familiares além dos numerus clausus (LÔBO, 2004). 
Até o advento da Constituição Federal de 1988, apenas o casamento era considerado 
como forma de constituição da família. A Carta Magna de 1988 constitucionalizou o Direito de 
Família, trazendo modificações que alteraram os paradigmas que regulamentam a família como 
base da sociedade, não tendo mais por escopo o patrimônio e sim os seus sujeitos. Passou 
também o afeto a ter valor jurídico, sendo este preponderante e, por outro lado, alguns temas 
até então sedimentados deram lugar a outras formas de compreensão do direito de família, 
temas esses como o fim da categorização dos filhos, da indissolubilidade do casamento, das 
novas conformações familiares e das abissais diferenças entre homens e mulheres. Aliás estes 
considerados os grandes pilares do Direito de Família em nossa Constituição atual. 
O casamento, regulamentado no Código Civil, a partir do artigo 1.511,, traz entre outros 
 
1Advogada na área de Direito de Família e Sucessões. Mestre em Filosofia, Professora de Direito Civil e Mediadora 
Judicial. OAB/RS 24.651, e-mail ana.martins@ucpel.edu.br. 
 
25 
 
tópicos, as causas suspensivas, ou seja, as situações em que o legislador aconselha que não deve 
se realizar o casamento, trazendo como consequência para aqueles que não deixam de casar a 
imposição do regime de separação de bens. A grande questão, sobre a qual o presente trabalho 
pretende se debruçar, é verificar se tais imposições também se aplicam à união estável 
Diante dessa realidade, o trabalho em questão tem por problema de pesquisa analisar se 
a lacuna da lei vem sendo suprida adequadamente pela doutrina e pela jurisprudência, bem 
como se há uma definição sedimentada e se esta traz a segurança jurídica pretendida. 
Desse modo, a fim de elucidar a questão,o presente trabalho foi dividido em três 
momentos. Primeiramente, se faz um apanhado sobre o casamento e a união estável. 
O segundo momento é destinado a verificar quais as causas suspensivas previstas em 
nosso ordenamento jurídico e de que forma são as mesmas regulamentadas, além da sua 
aplicação para além do matrimônio. 
Por fim, serão analisados os julgados mais recentes do Superior Tribunal de Justiça, 
considerando seus posicionamentos favoráveis e desfavoráveis, para após, chegar-se às 
considerações finais. 
Passa-se então à análise proposta. 
 
2 DO CASAMENTO E DA UNIÃO ESTÁVEL 
 
Segundo Rolf Madaleno (2022, p. 93), verbis: 
 
Pode-se definir o casamento como um ato complexo, como ensina Silvio Rodrigues, 
dependente em parte, é verdade, da autonomia privada dos nubentes, mas 
complementado com a adesão dos noivos ao conjunto de regras preordenadas, para 
vigerem a contar da celebração do matrimônio, este como ato privativo do Estado; 
tanto que o artigo 1.514 do Código Civil informa que o casamento civil só se realiza 
depois que o homem e a mulher (ou entre pessoas do mesmo sexo) manifestam 
perante o juiz a sua vontade de estabelecer o vínculo conjugal, e o juiz declara-os 
casados. 
 
O Código Civil Brasileiro, trata o casamento no Livro IV, definindo que o casamento 
estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, 
tratando da capacidade nupcial, impedimentos, causas suspensivas, processo de habilitação para 
o casamento, celebração do matrimônio, provas do casamento, invalidade e eficácia das 
núpcias, dissolução do vínculo conjugal e proteção da pessoa dos filhos (MADALENO, 2022, 
p. 59). 
O casamento está atrelado à categoria de ato jurídico lato sensu, formal e complexo, 
26 
 
enquanto a união estável é um ato-fato jurídico, ou seja, se concretiza a partir do preenchimento 
dos requisitos exigidos por lei para que produza efeitos jurídicos. 
Desta forma a União Estável vem regulada no Código Civil a partir do artigo 1.723 que 
assim estabelece: "Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o 
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida 
com o objetivo de constituição de família." 
Segundo Lobo (2018, p. 167), para a configuração da União Estável: 
 
Não necessita de qualquer manifestação de vontade para que produza seus efeitos 
jurídicos. Basta sua configuração fática, para que haja incidência das normas 
constitucionais e legais cogentes e supletivas e a relação fática converta- se em 
relação jurídica. 
 
A esse ato-fato que reconhece o relacionamento de duas pessoas como entidade familiar, 
configurada na convivência pública, contínua e duradoura, estabelecida com o objetivo de constituir 
família chamamos união estável. Quando os companheiros não dispuserem por escrito a respeito, o 
regime de bens será o da comunhão parcial. 
Importante referir que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por intermédio do 
Provimento nº 141/2023, altera o Provimento nº 37, de 7 de julho de 2014, para atualizá-lo à 
luz da Lei nº 14.382, de 27 de junho de 2022, para tratar do termo declaratório de 
reconhecimento e dissolução de união estável perante o registro civil das pessoas naturais e 
dispor sobre a alteração de regime de bens na união estável e a sua conversão extrajudicial em 
casamento. 
Nesse sentido, fica evidente que ambas formas de constituição de família, que tem sua 
aferição e de modo objetivo a partir dos elementos que a lei traduz como sendo aqueles que vão 
validar juridicamente tanto o casamento como a união estável, impõe que tratemos estes 
institutos de forma diversa, como de fato o são, permitindo inclusive a lei a conversão da união 
estável em casamento, por força do que preceitua o artigo 1.726 do Código Civil assim 
referindo: "a união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos 
companheiros ao juiz e assento no Registro Civil", e ainda nossa Constituição Federal no seu 
artigo 226 § 3º, dispõe que além de proteger a união estável como entidade familiar, 
 
estabelece que deverá "a lei facilitar sua conversão em casamento", e nenhum sentido faria 
converter algo naquilo que já o é. 
Segundo Flávio Tartuce (2022): 
 
A lei 14.382, originária da MP 1.085, de dezembro de 2021, foi promulgada em 28 
de junho de 2022, tratando, entre outros temas, do Sistema Eletrônico dos Registros 
Públicos (SERP). Houve também a facilitação de procedimentos, sobretudo no 
âmbito extrajudicial, como no caso da conversão da união estável em casamento, 
tendo sido incluído um novo art. 70-A na lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos) 
a respeito do tema. 
 
Nesse sentido, Tiago Liberato (2023) esclarece em artigo publicado no sítio do 
Conselho Notarial do Brasil que: 
Em primeiro lugar, por mais que muitos doutrinadores e julgadores busquem, 
incansavelmente, a equiparação total dos dois institutos, união estável e casamento 
jamais representarão a mesma relação jurídica, e jamais se comportarão, tanto social 
quanto economicamente, como fenômenos idênticos. Por razões práticas, a união 
estável não demanda o mesmo formalismo que o casamento, não precisa sequer ser 
declarada e emana da simples realidade dos fatos, sendo verdadeira situação fática 
com efeitos jurídicos. 
 
Ainda, sobre o casamento e a união estável, impende destacar que ambos decorrem 
da comunhão de vida entre os cônjuges ou companheiros, gerando, desta feita, efeitos 
pessoais e patrimoniais. 
Para regular a vida em comum, o Direito de família e sua legislação traçaram 
normas denominadas regime patrimonial de bens. 
Regime de bens, como objetivamente afirma Rolf Madaleno (2022, p. 810): 
 
[…]ingressa o Direito de Família no âmbito do direito patrimonial, derivado das 
relações familiares, que, a par de seus efeitos pessoais, e dos deveres do casamento, 
como o de fidelidade, mútua assistência, alimentos e coabitação, também regula as 
relações econômicas emergentes das questões pecuniárias entre cônjuges e 
conviventes, e deles para com terceiros, pois, como recorda Enrique Varsi 
Rospigliosi, a vida e o desenvolvimento econômico de um povo parte das 
necessidades das pessoas e da família e a família é uma unidade de produção. O 
matrimônio e bem assim a união estável determinam a existência de diversos efeitos 
patrimoniais, tanto em relação aos cônjuges e conviventes como deles para com 
terceiros. 
 
Muito se tem debatido acerca da intervenção do Estado na vida particular. Gisele 
Groeninga (2004) bem pontua que "Com a modificação das fronteiras entre o público e o 
privado, com a maior diversidade nas constituições familiares, os conflitos têm cada vez mais 
ganho o espaço público". E, neste sentido, se faz relevante mencionar que a lei faculta tanto aos 
nubentes, antes do casamento, quanto aos companheiros, quando a união estável se dá por meio 
 
de escritura pública, a escolha do regime patrimonial de bens que melhor atender suas 
expectativas comuns, os quais tem a mais ampla liberdade de estabelecer o que for do interesse 
deles no tocante aos bens. 
O art. 1.640 do Código Civil preceitua “Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou 
ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial”. 
Na união estável de fato, por força do art. 1.725 do nosso diploma civilista, aplica-se às 
relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. 
 
3 CAUSAS SUSPENSIVAS 
 
Em que pese a propalada liberdade e autonomia das partes, em especial no que respeita 
a sua vida privada, em nosso diploma civilista, estão elencadas as causas suspensivas, que nada 
mais são do que recomendações aos pretensos nubentes para que não se casem, em 
determinadas situações que a lei discrimina. A justificativa para tal recomendação é a existência 
de algum fator que deva manter em suspenso o processo de celebração do matrimônio. 
Mas, estas orientaçõesnem sempre são acatadas, como apontado por Maria Berenice 
Dias (2021, p. 484), em Manual de Direito das Famílias: 
 
Quando o amor fala mais alto e as pessoas casam, mesmo desatendendo à 
recomendação legal, sujeitam-se a uma sanção: o casamento não gera efeitos de ordem 
patrimonial. É imposto o regime da separação obrigatória com o intuito de evitar o 
embaralhamento de bens (CC 1.641). 
 
Previstas as causas suspensivas ao casamento a partir do art. 1.523 do Código Civil, 
estão ali elencadas as hipóteses de suspensão do processo de celebração. Mas, como apontado 
por Maria Berenice Dias (2007, p. 149), “nenhum desses impedimentos veda a celebração do 
matrimônio. Desatendidas as restrições legais, o casamento não é nulo nem anulável. As 
sequelas são exclusivamente patrimoniais. A lei impõe o regime de separação de bens”. 
As causas suspensivas se constituem em um impedimento à realização do matrimônio, 
e podem gerar sanções àqueles que optarem por casar. Trata-se de uma irregularidade, e não se 
cogita de nulidade ou mesmo anulabilidade. 
Segundo Barros (2009, p. 435), “as causas suspensivas tem como finalidade evitar, além 
de confusão patrimonial, dubiedade com relação à filiação”. 
Referido artigo do Código Civil, mencionado acima, preceitua que não deve casar: 
 
a. - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário 
dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. Aqui, a preocupação do legislador foi evitar 
a confusão de patrimônios, pois o casamento precedido de inventário poderia dificultar 
a identificação do patrimônio entre o das proles existentes e o das vindouras; 
I. - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, 
até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal. A 
intenção foi evitar a confusão de sangue, a dúvida no caso de a mulher estar grávida, e 
de quem seria o filho; 
II. - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos 
bens do casal. Da mesma forma que no inciso I, a preocupação é quanto a evitar a 
confusão de patrimônios; 
III. - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou 
sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, 
e não estiverem saldadas as respectivas contas. Justifica-se pela possibilidade de o 
tutelado ou curatelado ser compelido a contrair matrimônio, de modo a livrar o 
administrador dos bens da prestação de contas. 
 
Desta forma se percebe que não se trata de proibir o casamento mas sugerir que não venham 
a contrair os nubentes, em razão das causas supracitadas, que trazem como consequência uma 
sanção na esfera patrimonial, que se traduz na obrigatoriedade de que o casamento realizado nestas 
condições tenha como regime patrimonial a separação total de bens. 
A grande questão que tem inquietado significativa parte da doutrina do direito de família, 
e que se mostra como objeto de estudo do presente trabalho, é sobre a aplicação ou não da 
obrigatoriedade da adoção do regime de separação de bens quando estivermos frente à união 
estável. 
Se, considerarmos aplicável à união estável, estaríamos equiparando a mesma ao 
casamento? E, neste caso, qual a razão da previsão de converter a união estável em casamento? 
Se, de outra banda fosse considerada inaplicável, estaríamos relativizando a importância da 
orientação existente para quem vai contrair matrimônio? A união estável estaria a burlar a 
orientação, de forma consentida? E ainda, se não é tão importante a orientação, qual a razão de 
limitar a autonomia de vontade na escolha do regime de bens àqueles que pretendem casar? 
Desse modo, Danúbia Patrícia de Paiva e Daniel Monteiro Neves (2021, p. 106) aduzem 
com irretocável pertinência: 
De acordo com a previsão legal e doutrinária, as normas que tratam do regime de bens da 
união estável foram cunhadas com referência na forma paradigmática do regime de bens 
do casamento. Contudo, pela natureza distinta dos institutos civis do direito de família, a 
adequação é imprescindível para a própria coerência interna e tratamento igualitário 
externo, ou seja, entre o casamento e a união estável deve haver normas que preservem e 
respeitem as diferenças, mas que, ao mesmo tempo, não estabeleçam hierarquias ou 
privilégios. 
 
Pelo trecho constante do Código Civil, mais precisamente nos parágrafos do artigo 1.723, 
percebe-se que de forma distinta aos dispositivos que se referem aos impedimentos, os quais, tanto 
para o casamento como para a união estável tem a mesma previsão, ou seja, impedem de contrair 
casamento ou unir-se estavelmente , no que concerne à união estável o legislador não traz a mesma 
conclusão. Vejamos: 
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a 
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o 
objetivo de constituição de família. 
§ 1 o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não 
se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de 
fato ou judicialmente. 
§ 2 o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união 
estável. 
 
De acordo com Cristiano Chaves de Faria e Nelson Rosenvald (2019, p. 520), tem- se a 
seguinte reflexão: 
Há uma instigante discussão a ser travada em relação ao regime de bens da união estável. 
Discute-se sobre a incidência ou não, das regras limitadoras da escolha do regime de 
bens no casamento, previstas no art. 1.641 da norma codificada. Em linha de princípio, 
há de se concluir pela não incidência na união estável do regime de separação obrigatória 
de bens. A uma, porque não incidem as causas suspensivas na relação convivencial 
(CC/02, art. 1.523). A duas, porque não há necessidade de autorização judicial para 
constituí-la. A três, porque, em se tratando de norma limitadora de direitos, a 
interpretação da lei há de ser, necessariamente, restritiva. 
 
Neste sentido, não se pode reconhecer a existência de uma união estável na presença dos 
impedimentos previstos no artigo 1.521, ressaltando o § 2º que não interferem na configuração da 
convivência como se casados fossem, a presença das causas suspensivas previstas no artigo 1.523, 
uma vez que seu único efeito, em termos matrimoniais, é a adoção compulsória do regime da 
separação total de bens, por força do que preceitua o art. 1.641 do Código Civil. (XAVIER, 2015, 
p. 62). 
Por todos estes argumentos é que Madaleno (2022, p. 1.275) assevera ser inapropriado e 
sem razão que justifique "o tratamento discriminatório atribuído ao casamento pelo legislador no 
§ 2º do artigo 1.723 do Código Civil, ao externar que as causas suspensivas do artigo 1.523 do 
Código Civil não impedirão a caracterização da união estável". 
De notar-se que impor aos cônjuges a adoção obrigatória do regime da total separação de 
bens, pela dicção do art. 1.641, inc. I, e não determinar nenhuma referência ou restrição ou 
recomendação em relação às causas suspensivas na união estável estará ou por 
 
privilegiar um instituto em relação ao outro, ou descuidar dos companheiros em relação 
aos nubente, o que obviamente não pode ser o objetivo do legislador, evidenciando ou a 
imprestabilidade da norma existente ou sua brecha que precisa ser superada. 
Não se olvida que o casamento pressupõe ato complexo, e, tendo às partes liberdade para 
dele não se utilizarem, evitando burocracias e podendo unirem-se estavelmente sem terem 
sequer vontade de registrar essa união junto ao tabelionato, constituindo-se em ato-fato tão 
somente. O que argumentam os doutrinadores é a necessária segurança jurídica das partes 
envolvidas, e mais, dos terceiros que eventualmente venham a sofrer as consequências desta 
escolha seja dos consortes, seja dos companheiros. 
Mas será que as causas suspensivas do casamento, que trazem como consequência 
patrimoniala imposição do regime de separação legal de bens, ao deixar de atribuir aos 
conviventes esta mesma imposição estaria de fato protegendo a sociedade, os terceiros e 
trazendo a propalada segurança jurídica almejada, na medida em que as causas suspensivas 
previstas no artigo 1.523 não impedirão a caracterização da união estável? 
Se por um lado, encontramos justificativas para a manutenção do que hoje consagra nosso 
sistema legislativo, por outro justificativas existem para se restringir a aplicação das causas 
suspensivas à união estável, o que se observa pela redação do artigo 9º-D, § 4º do novo 
Provimento do CNJ em que fica evidente que o regime adotado pelas partes, estará sujeito a 
possível mudança a depender do quadro do casal. 
3
 
Por esta razão não faria qualquer sentido entender que as causas suspensivas são 
aplicáveis por analogia à união estável, pois se assim fosse, qualquer disposição que 
disciplinasse manter um regime patrimonial, já vigorante entre os companheiros seria 
impróprio, desnecessário e inócuo, ou seja se as causas suspensivas realmente se aplicassem à 
união estável, a convivência seria desde o início regida pela separação de bens, e, no ato da 
conversão para o casamento, o regime não seria imposto, mas sim mantido, preservado, 
perpetuado (LIBERATO, 2023). 
 
3 2Art. 9º-D. O regime de bens na conversão da união estável em casamento observará os preceitos da lei civil, 
inclusive quanto à forma exigida para a escolha de regime de bens diverso do legal, nos moldes do art. 1.640, 
parágrafo único, da Lei nº 10.406, de 2002 (Código Civil).§ 1º A conversão da união estável em casamento implica 
a manutenção, para todos os efeitos, do regime de bens que existia no momento dessa conversão, salvo pacto 
antenupcial em sentido contrário§ 2º Quando na conversão for adotado novo regime, será exigida a apresentação 
de pacto antenupcial, salvo se o novo regime for o da comunhão parcial de bens, hipótese em que se exigirá 
declaração expressa e específica dos companheiros nesse sentido.§ 3º Não se aplica o regime da separação legal 
de bens do art. 1.641, inciso II, da Lei nº 10.406, de 2002, se inexistia essa obrigatoriedade na data indicada como 
início da união estável na forma do inciso III do art. 9-C deste Provimento ou se houver decisão judicial em sentido 
contrário.§ 4º Não se impõe o regime de separação 
 
Segundo Silva (2010, p. 52), ao pontuar que a finalidade protetiva da lei é a mesma para 
ambos os casos "não faria qualquer sentido a lei tratar diversamente a pessoa que se casa com 
causa suspensiva submetendo-a obrigatoriamente ao regime da separação de bens, e aquela que 
passa a viver em união estável, nas mesmas circunstâncias". 
 
4 ENTENDIMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
 
Ao buscar o entendimento do Superior Tribunal de Justiça pelas palavras-chave (causas 
e suspensivas e casamento e união estável) no período compreendido entre janeiro de 2022 até 
agosto de 2023 foram encontrados três decisões que serão analisadas na sequência. 
 
4.1 Recurso Especial nº 2060732 da Relatoria do Ministro Humberto Martins, com data 
de publicação no DJ em 19/06/2023 
 
A decisão proferida pelo Ilustre Relator, originária do Tribunal de Justiça do Estado de 
São Paulo, trata de demanda que envolve reconhecimento de união estável post mortem, que ao 
julgar o recurso de apelação, deu parcial provimento a este assim entendendo: 
 
ERRO MATERIAL. Reconhecido erro material quanto ao nome da autora na 
fundamentação da sentença. RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL POST 
MORTEM. PERÍODO ANTERIOR AO CASAMENTO. PETIÇÃO DE 
HERANÇA. Sentença que reconheceu a união estável anterior ao casamento no 
período de julho de 1993 a 13/4/2016, sob regime da comunhão parcial de bens, 
com direito da autora à meação dos bens adquiridos onerosamente nesse período, 
bem como declarou que a autora não concorre com a herança. Casamento pelo 
regime da separação obrigatória de bens, possuindo o falecido descendentes. 
Insurgência das partes. Não comprovação da existência de união estável desde 
1990. 
[…] 
Regime da separação obrigatória de bens. Causa suspensiva. Analogia ao disposto no 
art. 1523, III c. c art. 1641, I, ambos do CC. Casamento que sucedeu a união estável 
celebrado sob o regime da separação obrigatória de bens. Nubente que na época 
contava com 73 anos de idade. Art. 1641, II, do Código Civil. Ônus da autora de 
provar esforço comum na aquisição de bens durante a convivência. Súmula 377 do 
STF. Precedente do STJ. Sentença reformada para julgar parcialmente procedente a 
ação e procedente a reconvenção, para reconhecer o direito da autora à meação dos 
bens adquiridos onerosamente no período da união estável e casamento, desde que 
comprove o esforço comum na sua aquisição. Autora que não concorre como herdeira 
com os descendentes. 
[…] 
Aduz, no mérito, que o acórdão estadual contrariou as disposições contidas nos arts. 
1.523, III, 1.640, 1.641, I e II, 1.723, § 2º, 1.725 e 1.829, I, do Código Civil. 
Sustenta, outrossim, que "a união estável foi iniciada quando os nubentes sequer 
contavam com 60 (sessenta) anos de idade e não havia causa suspensiva ao casamento 
quanto este foi celebrado entre a recorrente e o falecido [...]" (fl. 763). Argumenta, 
ainda, não ser aplicável à união estável as causas suspensivas ao casamento dispostas 
no art. 1.523 do CC, razão pela qual seria equivocado atribuir, com supedâneo no 
art. 1.641, I, do CC, o regime da separação 
 
obrigatória ao casamento da recorrente com o pai dos recorridos. E, não sendo aplicável 
à união estável havida entre a recorrente e o genitor dos recorridos o regime da separação 
obrigatória de bens, a recorrente, por força do regime da comunhão parcial de bens (art. 
1.725 do CC), tem direito à meação dos bens adquiridos onerosamente no período de 
convivência, como reconhecido na sentença. 
Por fim, alega a recorrente que a causa suspensiva ao casamento da recorrente e do 
falecido [...] findou com a partilha decorrente do divórcio por escritura pública celebrado 
em 9/10/2015 por este com sua primeira esposa, antes portanto, do término da própria 
união estável com a recorrente, ou seja, em 13/4/2016. 
[…] 
Passa-se à análise do mérito. 
Cuida-se, na origem, de ação declaratória de reconhecimento de união estável cumulada 
com petição de herança, julgada parcialmente procedente pelo Juízo de primeiro grau, 
para: 
a) reconhecer a união estável entre a autora e "AHK" no período de julho de 1993 a 
13/4/2016, incidindo neste período o regime da comunhão parcial de bens (art.1725 do 
Código Civil); 
b) reconhecer o direito da autora à meação dos bens adquiridos onerosamente no 
período da união estável, cujo rol e partilha deverá ocorrer em ação autônoma ou 
inventário, podendo observar a quota paga no referido período quando se tratar de 
aquisição paulatina (financiamento); 
c) declarar que a autora não concorre na herança, nos termos do artigo 1829, I, do 
Código Civil, porque celebrou matrimônio com o "de cujus" aos 13/4/2016, e pelo regime 
da separação obrigatória de bens (fl.10), sendo que o falecido deixou descendentes. 
O Tribunal de origem, ao dar parcial provimento aos recursos das partes, entendeu pela 
não comprovação da existência de união estável desde 1990, diante das testemunhas 
contraditórias e da inconsistência do depoimento pessoal da autora. Dessa forma, 
concluiu pela comprovação da união estável apenas a partir de 1993. 
[…] 
Contudo, conforme se verifica dos autos, a partilha somente ocorreu em 27/10/2015. 
Diante desse contexto, evidente a ocorrência de causa suspensiva de união estável até a 
data do divórcio. 
[…] 
Não é o que ocorre no caso dos autos, em que a união estável entre a recorrente e o de 
cujus se iniciou antes do divórcio deste, em 27/10/2015, ou seja, na vigência de restrição 
legal prevista no art. 1.523, inciso III, do Código Civil. 
Assim, apenas a partir dessa

Continue navegando